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O RIO TOCANTINS

NO OLHAR DOS VIAJANTES


PAISAGEM
TERRITÓRIO
ENERGIA ELÉTRICA
O RIO TOCANTINS
NO OLHAR DOS VIAJANTES
PAISAGEM
TERRITÓRIO
ENERGIA ELÉTRICA
Centro da Memória da Eletricidade no Brasil - MEMÓRIA DA ELETRICIDADE

MEMBROS INSTITUIDORES
Eletrobras Holding
Eletrobras Eletronorte
Eletrobras Eletrosul
Eletrobras Chesf
Eletrobras Furnas
Light Serviços de Eletricidade S.A.
Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. (Extinta)
Eletrobras Cepel
Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica - ABCE
Associação de Empresas Distribuidoras de Eletricidade do Norte, Nordeste e Centro-Oeste - Aedenne (Extinta)
Acesa - Associação Nacional das Empresas Estaduais de Energia Elétrica (Extinta)

MEMBROS MANTENEDORES CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO


Eletrobras Holding Presidente | Mario Fernando de Melo Santos
Eletrobras Eletronorte Eletrobras Holding | Miguel Colasuonno (In memoriam)
Eletrobras Eletrosul Eletrobras Eletronorte | Antonio Rodrigues Bayma Júnior
Eletrobras Chesf Eletrobras Eletrosul | Antonio Waldir Vituri
Eletrobras Furnas Eletrobras Chesf | Elizabeth Dubourcq Fonseca Lima
Light Serviços de Eletricidade S.A. Eletrobras Furnas | Ana Cláudia Fernandes Gesteira
Centrais Elétricas de Minas Gerais Light | Paulo Roberto Ribeiro Pinto
Eletrobras Cepel | Jorge da Motta e Silva
ABCE | Alexei Macorin Vivan

CONSELHO CONSULTIVO
Mario Fernando de Melo Santos
Antonio Dias Leite Junior
José Luiz Alquéres
Guy Villela Pascoal
Centro da Memória da Eletricidade no Brasil - MEMÓRIA DA ELETRICIDADE

O RIO TOCANTINS
NO OLHAR DOS VIAJANTES
PAISAGEM
TERRITÓRIO
ENERGIA ELÉTRICA

Rio de Janeiro, 2013


Centro da Memória da Eletricidade no Brasil – MEMÓRIA DA ELETRICIDADE
Copyright © 2013

Presidente | Mario Fernando de Melo Santos


Diretora-Executiva | Liliana Neves Cordeiro de Mello (interina)

Coordenadoria do Centro de Referência | Leila Lobo de Mendonça


Coordenadoria de Pesquisa | Ligia Maria Martins Cabral
Coordenadoria de Comunicação | Liliana Neves Cordeiro de Mello
Coordenadoria de Administração | Rosâna Maria de Almeida Viana

Coordenação e edição | Ligia Maria Martins Cabral

Pesquisa | Ligia Maria Martins Cabral e Maria Macedo Barroso

Textos | Eliane Azevedo (capítulos 6, 7 e 8), Ligia Maria Martins Cabral (capítulos 7 e 8), Maria Macedo Barroso (capítulos 1, 2 e 3)
e Tomas Paoliello Pacheco de Oliveira (capítulos 4 e 5)

Edição complementar | Eliane Azevedo

Estagiário | Diogo Bahia Maceira

Copidesque | Elisabeth Lissovsky

Índices | Leila Lobo de Mendonça

Normatização bibliográfica | Simone Idalgo Machado

Ficha catalográfica | Flávia Lorena Brito Ranna Castainça

Pesquisa iconográfica | Liliana Neves Cordeiro de Mello e Gabriela Mello Barbosa

Digitalização e tratamento de imagens | Liliana Neves Cordeiro de Mello, Leila Lobo de Mendonça e Pedro Ordonez Daniel

Licenciamento de imagens | Gabriela Mello Barbosa e Simone Idalgo Machado

Projeto gráfico, editoração eletrônica e produção gráfica | Liliana Neves Cordeiro de Mello

Catalogação na publicação
Biblioteca Léo Amaral Penna
Imagens de capa: R585
“Vista da Serra das Figuras, no rio Maranhão”, c. 1832.
O rio Tocantins no olhar dos viajantes : paisagem, território, energia
Thomas Ender/Johann Emanuel Pohl/Johann Nepomuk Passini.Água forte e buril fotografada por Sérgio Guerini. elétrica / [coordenação] Ligia Maria Martins Cabral. Rio de Janeiro:
Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil. Coleção Brasiliana - Fundação Estudar. Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, 2013.
436 p. il. color. ; 25 cm.
“Configuração do rio Tocantins, desde a Villa de Cametá do Grão Pará até os Arraiais de Pontal e
Carmo de Minas de Goiáz”, [1795]. Biblioteca Nacional de Portugal ISBN 978-85-85147-87-7
“Obras da usina hidrelétrica de Estreito”. OAS Engenharia
1. Tocantins, Rio - História. 2. Tocantins, Rio – Navegação – História.
3. Energia elétrica – Tocantins, Rio – História. I. Cabral, Ligia Maria Martins.
Foram realizados todos os esforços para obter as autorizações para a reprodução das imagens utilizadas neste II. Centro da Memória da Eletricidade no Brasil.
livro e também para identificá-las corretamente. Em caso de omissão, o editor compromete-se a consignar
os créditos necessários em futuras edições e a reservar os direitos a seus titulares. CDD 918.17
Apresentação

O Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, ao longo de quase três décadas, procurou acompanhar as transformações
registradas no setor de energia elétrica e oferecer uma contribuição qualificada a partir da compreensão de sua rica história.
Durante esse período, o setor foi palco de uma série de mudanças. Na primeira década deste século, o governo brasileiro rede-
finiu o Modelo do Setor Elétrico Nacional, estabelecendo os papéis dos agentes responsáveis por conceder, regular e fiscalizar
os serviços de energia elétrica. Ao mesmo tempo, a composição dos agentes que integram a cadeia produtiva – geradores,
transmissores, distribuidores e comercializadores – foi largamente ampliada e dinamizada, e hoje existem, além de inúmeros
empreendimentos implantados por uma só empresa, muitos outros que são fruto de parcerias entre agentes públicos, priva-
dos, brasileiros, estrangeiros, antigos e novos.
Diante de todo esse movimento, a Memória da Eletricidade não poderia ficar alheia e, estrategicamente, tem desenvol-
vido trabalhos em busca de sintonia com as mais recentes necessidades do setor. A esta altura, a instituição já executou um
amplo programa de trabalho e investigou variados aspectos da história da energia elétrica no país, em atividades de pesquisa
histórica, história oral e preservação de fontes documentais. Com apoio neste sólido lastro, foi possível lançar projetos de maior
envergadura, sobre temas novos e abrangentes, tendo em vista a complexa configuração atual do setor de energia elétrica.
O livro ilustrado O rio Tocantins no olhar dos viajantes: paisagem, território, energia elétrica é o primeiro resultado de nosso
esforço de renovação dos temas da história do setor e da forma de abordá-los, visando a atender, sobretudo, às aspirações de
todos aqueles que se interessam pelo setor de energia elétrica e por sua história. Trata-se de um trabalho pioneiro, porquanto
apresenta um inédito mergulho na história de um curso d’água e de seu entorno, a partir dos relatos deixados pelos diversos
viajantes que percorreram a região, com objetivos os mais variados, desde o período colonial até os dias que correm.
A escolha desta proposição permitiu que voltássemos o olhar para nossas fronteiras elétricas e, ao mesmo tempo, am-
pliássemos nosso ponto de vista, procurando acolher a multiplicidade de agentes que, no passado e no presente, foram e são
responsáveis pela expansão desses limites. As usinas hidrelétricas implantadas no rio Tocantins são um exemplo dessa nova
realidade.
A bacia hidrográfica Tocantins-Araguaia encontra-se exclusivamente no espaço continental brasileiro, ocupando uma área
correspondente a 11% do território do país. O Tocantins constitui o segundo maior rio em extensão do Brasil, ficando atrás
apenas do rio São Francisco. Com cerca de 2,4 mil quilômetros, o Tocantins atravessa dois dos mais importantes biomas bra-
sileiros: o cerrado e a floresta amazônica.
O Tocantins já abriga sete hidrelétricas, produzindo energia limpa e renovável, em mais de 12 mil megawatts instalados,
sem contar a previsão de construção dos projetos das usinas de Ipueiras, Tupiratins, Serra Quebrada e Marabá. Para que esse
feito se realizasse, foi mobilizado um enorme cabedal de conhecimentos sobre a região e acionada toda a competência neces-
sária à concretização de projetos de longa maturação.
Tucuruí, a primeira usina de grande porte da Amazônia, foi erguida em duas etapas pela Eletrobras Eletronorte, a menos
de 400 quilômetros da foz do Tocantins, em território paraense. Atualmente, a hidrelétrica responde sozinha por dois terços da
potência instalada no rio. A segunda maior usina, Serra da Mesa, com pouco mais de 1,2 mil megawatts, encontra-se próxima
à nascente, em Goiás, e foi fruto do esforço do consórcio Serra da Mesa Energia (Semesa), integrado atualmente pela estatal
Eletrobras Furnas e a privada Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL Geração). Entre as duas maiores usinas, estão em pleno
funcionamento mais cinco hidrelétricas no Tocantins.
Obedecendo a ordem de descida do curso do rio, temos, logo depois de Serra da Mesa, as usinas de Cana Brava, com
450 megawatts, e São Salvador, com 243 megawatts, ambas construídas pela empresa de origem belga Tractebel Energia,
vencedora dos leilões de concessão para aproveitamento hidrelétrico efetuados pelo governo brasileiro para as duas usinas.
Na sequência, vem a usina de Peixe Angical, com 452 megawatts instalados, controlada pela empresa privada de origem
lusitana Energias de Portugal (EDP Brasil) em parceria com a Eletrobras Furnas, no consórcio Enerpeixe. Em seguida, a hidrelé-
trica de Lajeado, com 900 megawatts de capacidade, a cargo do consórcio Investco, composto pela EDP e a empresa pública
Companhia Energética de Brasília (CEB).
Ao final, imediatamente antes de Tucuruí, e por enquanto a penúltima usina na cascata do rio Tocantins, está a usina de
Estreito, com 1.087 megawatts, operando sob a responsabilidade do Consórcio Estreito Energia (Ceste), que reúne as empresas
privadas Tractebel Energia, Vale, Alcoa Alumínio e InterCement (pertencente ao grupo Camargo Corrêa).
A narrativa que oferecemos objetiva alcançar o fiel desempenho da missão da Memória da Eletricidade em consonância
com os anseios contemporâneos. Consideramos fundamental investir no conhecimento do passado e, mais além, preservar a
memória do percurso cumprido. Essa tarefa é essencial para a reflexão esclarecida e a prática de ações justas, baseadas em
valores perenes, especialmente importantes no momento em que a alta velocidade das constantes mudanças pode confundir
expectativas. Colocar em perspectiva as interferências humanas no vale de um rio e seus desdobramentos constitui um exce-
lente exercício para compreender o mundo no qual nos movemos e atuar com responsabilidade.
Com certeza este trabalho não poderia vir a público não fosse a decisiva confiança depositada pelas empresas que sus-
tentaram esta iniciativa – Consórcio Estreito Energia (Ceste), Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL Geração), Eletrobras
Eletronorte, Eletrobras Furnas e Tractebel Energia –, a quem gostaríamos de agradecer imensamente. Esperamos continuar
contando com o firme assentimento de nossos apoiadores permanentes para prosseguir com esta vertente de investigação
que estamos apenas inaugurando.

MARIO FERNANDO DE MELO SANTOS


Presidente do Centro da Memória da Eletricidade no Brasil
Sumário

Introdução | 9

Capítulo 1
O olhar dos colonizadores sobre o rio Tocantins (1500-1808) | 17

Capítulo 2
A abertura dos portos e a redescoberta do Brasil (1808-1822) | 53

Capítulo 3
Os viajantes e a construção do território brasileiro (1822-1889) | 85

Capítulo 4
Isolamento em tempos de ordem e progresso no curso do Tocantins (1889-1930) | 127

Capítulo 5
O Tocantins durante o período Vargas: a Marcha para o Oeste (1930-1945) | 173

Capítulo 6
Do aventuroso ao econômico: o setor elétrico desbrava o Tocantins (1945-1984) | 217

Capítulo 7
Investigação do território e projetos hidrelétricos no Tocantins (1984-1997) | 283

Capítulo 8
A energia do Tocantins em novo cenário (1997-2013) | 355

Índices | 405

Referências Bibliográficas | 421


ALTO TOCANTINS MÉDIO TOCANTINS BAIXO TOCANTINS

Serra da Mesa Cana Brava São Salvador Peixe Angical Lajeado Estreito Tucuruí
Semesa Tractebel Tractebel Enerpeixe Investco Ceste Eletronorte

GOIÁS TOCANTINS MARANHÃO PARÁ

Reservatório

Fio d’água
Introdução | 9

Introdução

IMPETUOSO, MAGNÍFICO, VIOLENTO, 2,4 mil quilômetros, atravessando os Para compreender suas variadas
SOBERBO, MAJESTOSO: viajantes de todos estados de Goiás e Tocantins, passando faces, convencionou-se dividir o rio em
os matizes não economizaram adjetivos pelo Maranhão e chegando ao Pará. Sua três porções. O alto Tocantins, com
para descrever e tentar dominar, ao foz fica na baía de Marapatá, perto de início na nascente em Goiás, percorre
menos com palavras, o imponente rio que Belém (PA), e se confunde com a do 1.060 quilômetros até a cachoeira do
nasce no coração do país, batizado como rio Amazonas. O principal afluente é o Lajeado, no estado do Tocantins; o
Tocantins – ao que parece, em referência Araguaia, que deságua a 550 quilômetros médio Tocantins estende-se por 980
a uma tribo indígena moradora de suas da foz – um rio quase irmão, com o qual quilômetros, de Lajeado até Tucuruí, no
margens, da qual não se conservaram forma a mais extensa bacia hidrográfica Pará; e o baixo Tocantins cobre os 360
registros. A origem misteriosa do nome do país, com 918.822 quilômetros quilômetros finais até a foz. Há quem
combina com as lendas criadas a respeito quadrados de área de drenagem, diga que são vários rios em um só.
de uma lagoa dourada, epicentro de ocupando 11% do território brasileiro. Este trabalho sobre o rio Tocantins
terras encantadas cobertas de ouro, um É um rio que, por boa parte do seu foi escrito a partir do olhar de diferentes
sonho que levou homens de diversos trajeto, apresenta perigosas corredeiras, linhagens de viajantes que por ali
cantos do mundo a se embrenharem inúmeras cachoeiras e trechos passaram desde os tempos coloniais.
nos sertões, desbravarem rios e pedregosos, até desembocar em um curso Procurou-se identificar essa comunidade
descobrirem o Brasil para além do litoral. manso em seu trecho final. Suas águas que se deslocou para a região do
O Tocantins, se não se revelou um correm do Sul para o Norte, atravessando Tocantins, participando do processo
eldorado, foi descerrando aos navegantes dois dos mais importantes biomas do histórico de gestão do território nacional
distintas riquezas naturais. Formado Brasil, a floresta amazônica e o cerrado. O e de suas populações, em nome do
pelos rios das Almas e Maranhão, tem Tocantins, por isso, apresenta fisionomias Estado ou de agentes privados.
sua nascente no planalto de Goiás, diferentes, com uma variedade de peixes, O termo viajante foi tomado em
aproximadamente a 250 quilômetros pássaros, mamíferos, vegetação e solos sentido amplo e não apenas referindo-se
ao norte de Brasília , a cerca de mil que fascinam cientistas e pesquisadores aos naturalistas, muitos deles estrangeiros,
metros de altitude, e se estende por há mais de quinhentos anos. que percorreram o Brasil em jornadas de
10 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

inspiração iluminista ou romântica desde avaliar o papel das vias terrestres e fluviais Em seguida, o capítulo 2, A abertura
o final do século XVIII. Assim, foram no período colonial, expondo a importância dos portos e a redescoberta do Brasil
encarados desde os primeiros agentes que do Tocantins. As viagens de bandeirantes (1808-1822), trata do período joanino, com
percorreram o rio, chegando-se até os dias e missionários, empreendidas, sobretudo, a transmigração da família real portuguesa
atuais, quando o Tocantins tornou-se um no século XVII, culminaram, no século para o Brasil, o fim do exclusivismo colonial
importante manancial para a produção de seguinte, com os tratados de limites que e as viagens de naturalistas estrangeiros ao
energia elétrica. O rio conta, atualmente, legitimaram a posse de Portugal sobre a país. Os cientistas que chegaram à região
com sete hidrelétricas em operação, maior parte do território hoje considerado do Tocantins descreveram sua natureza
cuja existência resultou de viagens que brasileiro. Os acordos basearam-se e coletaram espécimes de animais e
deram suporte técnico à implantação no mapeamento mais acurado das plantas, cujas coleções foram enviadas a
de modernas obras de infraestrutura. regiões do interior da colônia, até então museus europeus. Apesar das pretensões
O primeiro capítulo, O olhar dos quase inexistente, empreendimento universalistas desses profissionais, que
colonizadores sobre o rio Tocantins (1500- que também implicou viagens de trabalhavam em nome do interesse
1808), que enfoca o período colonial, cartógrafos que se ocuparam da tarefa. geral da ciência e da humanidade, havia
recuperou a história da chegada ao Além das viagens de bandeirantes, também, com frequência, a preocupação
Tocantins de bandeirantes, missionários missionários e cartógrafos, podem ser com o potencial de desenvolvimento
e autoridades político-administrativas que destacadas, ainda a partir de meados do dos impérios coloniais que apoiavam
representavam a Coroa Portuguesa. Em século XVIII, as jornadas empreendidas por suas pesquisas. Dessa forma, a
um primeiro momento, o rio foi parte autoridades político-administrativas à região construção de conhecimento colocava-
do projeto de expansão de bandeirantes do Tocantins. Esses agentes preocupavam- se a serviço de práticas governamentais
paulistas sobre o território do Centro- se em mapear o território e em formular e de empreendimentos econômicos.
Oeste brasileiro, ainda em disputa pelos projetos para o aproveitamento econômico Os viajantes vinculados ao projeto
reinos de Portugal e Espanha. As principais da colônia. Como resultado, apareceram imperial português, durante o período
finalidades desse movimento eram a os primeiros roteiros e itinerários para tal joanino, deram continuidade à elaboração
descoberta de metais preciosos e o fim, trazendo descrições minuciosas dos de roteiros e itinerários. No caso da
apresamento de mão de obra indígena. espaços percorridos, com informações região do Tocantins, cresceu o interesse,
Além disso, nessa época ocorreram as sobre as populações e sugestões de para além da descrição do espaço físico,
primeiras iniciativas de ação missionária no atividades econômicas promissoras na moderação das relações entre os
entorno do rio, promovidas por jesuítas, no em face da realidade encontrada e de indígenas, que ocupavam grande parte
contexto da competição entre portugueses acordo com a orientação política dos de suas margens, e os colonos, que
e franceses na área setentrional da colônia governantes. A partir do último quartel disputavam territórios e mão de obra. Ainda
brasileira, em plena floresta amazônica. do século XVIII, o trabalho com dados nesse período, o deslocamento do eixo
O estudo desses deslocamentos, estatísticos e geográficos passou econômico – da exploração aurífera para a
associados à expansão e consolidação do a ser valorizado como instrumento criação de gado e o extrativismo vegetal –
domínio do Império Português sobre as de racionalização econômica e de abriu a possibilidade de uso dos rios para
regiões central e norte do Brasil, permite administração de territórios e populações. incrementar o comércio entre as províncias
Introdução | 11

de Goiás, Maranhão e Pará, transportando A independência ensejou também notadamente no caso do Tocantins, à
produtos e indígenas escravizados. uma série de medidas de modernização constituição de companhias de navegação
Na época, as informações veiculadas da infraestrutura de transportes. Surgiram fluvial, incluindo o rio Araguaia. Outros
por naturalistas estrangeiros e por vários planos de construção de ferrovias relatos esclarecem como os governadores
agentes político-administrativos brasileiros e foram adotadas providências de de província nomeados pelo poder central
quanto à geografia do Tocantins e de fomento à navegação marítima e fluvial, desempenhavam suas funções políticas
seu entorno não eram precisas. Havia visando conectar regiões até então nos espaços do sertão, sobretudo no
inúmeras discrepâncias sobre distâncias relativamente isoladas, incluindo a região caso daqueles que não tinham qualquer
e localização de acidentes dentro do rio, do Tocantins. Com essa finalidade, foram ligação anterior com as áreas que
o que levava muitas vezes os viajantes feitas descrições do rio com acuidade iriam administrar. As viagens dessas
a contestarem ou a retificarem as técnica bem maior, já que produzidas autoridades, como verificado desde a
informações de seus predecessores. agora por especialistas, estrangeiros colônia, reuniram ainda importantes
O capítulo 3, Os viajantes e a ou mesmo brasileiros, formados nas informações sobre os indígenas da
construção do território brasileiro (1822- instituições de ensino superior criadas região do Tocantins, gerando trabalhos
1889), ocupa-se da época imperial no aqui a partir da segunda metade do considerados clássicos sobre o tema.
Brasil, na qual as viagens revestiram- século XIX, que traçaram planos a convite Os anos da chamada República Velha,
se de um novo sentido, vinculado do governo central e das províncias compreendida entre a proclamação da
ao projeto de construção da nação ou como contratados por empresas República, em 1889, e o golpe de Estado
brasileira, que procurava consolidar sua interessadas em se instalar no Brasil. de 1930, foram assunto do quarto capítulo,
independência em relação a Portugal. A Naturalistas estrangeiros continuaram Isolamento em tempos de ordem e
partir especialmente de 1822, o escrutínio a viajar pelo país, registrando, em seus progresso no curso do Tocantins (1889-
do espaço e das populações serviu diários, observações sobre a natureza e os 1930). Nesse período, as viagens à região
ao estabelecimento de uma narrativa, habitantes, qualificados como pitorescos, do rio Tocantins tiveram objetivos bem
explicando a origem do país e, ao mesmo isto é, típicos de um determinado local ou diversos entre si. Da estirpe dos naturalistas
tempo, definindo sua identidade. região. Esses relatos, embora tivessem estrangeiros, o geógrafo francês Henri
As viagens científicas, patrocinadas caráter científico, sempre traziam Coudreau, por exemplo, foi contratado pelo
pelo Estado brasileiro, nortearam-se pela informações úteis para empreendimentos governador do Pará para reconhecer e
ideia de integração nacional. A coleta econômicos ou imigração, esta última mapear os obstáculos naturais à navegação
de dados orientou-se para a elaboração encorajada por uma nova legislação em do Tocantins, na altura da cachoeira de
de uma história das diversas regiões favor do fim da escravidão no Brasil a Itaboca. Como alguns predecessores,
que compunham o país, com destaque partir da segunda metade do século XIX. Coudreau envolveu-se em interesses
para a produção de corografias, que Os registros de viagem elaborados geopolíticos e atividades empresariais.
combinavam informações históricas às por autoridades político-administrativas Suas viagens tornaram-se conhecidas
geográficas. No caso do rio Tocantins, demonstravam o interesse pelas pela publicação de relatórios muito exatos
esses trabalhos foram particularmente possibilidades de intervenção econômica. tecnicamente, com descrições da natureza
ricos em descrições do Pará e de Goiás. Em alguns casos, relacionavam-se, e da população dos lugares visitados.
12 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Outra importante explanação sobre das anteriores. Enquanto alguns viajantes elaboradas principalmente por geógrafos e
uma grande área da bacia do Tocantins louvavam a natureza esplendorosa, os engenheiros, além de fornecerem um pilar
foi deixada por um grupo de missionários sanitaristas atentavam para o estado de para o planejamento estatal, reforçavam
dominicanos franceses, cuja área de extrema pobreza e falta de perspectivas o viés nacionalista e davam suporte à
atuação espraiou-se do sul de Goiás ao de grande parte do interior do país. tentativa de superar as principais limitações
sul do Pará e das margens do Araguaia A preocupação com a integração do ao desenvolvimento do país consideradas
ao Maranhão. Apesar de dedicarem-se território nacional pode ser reconhecida à época: a ausência de mercado interno, a
principalmente à localização, atração como um traço comum a todos os falta de integração nacional e as grandes
e catequização da imensa população viajantes considerados no período. desigualdades regionais e sociais.
indígena da região, os dominicanos O governo federal organizou várias Promover o desenvolvimento do
também atendiam aos habitantes locais. comissões com o objetivo de abrir as interior do país tornou-se ponto central
Os religiosos foram destacados viajantes imensas áreas desconhecidas do país a na agenda governamental em todas
e tiveram papel de relevo na organização pesquisas e avaliações da ciência moderna. as escalas e isso pode ser claramente
do espaço, empreendendo a abertura Algumas comissões foram lançadas e percebido na construção de uma nova
de estradas e fundando povoados. conduzidas por agentes militares, mas capital para o estado de Goiás e também
Na esfera político-administrativa, com a participação de naturalistas e em todo o projeto da Marcha para o
houve viajantes designados para especialistas de vários ramos científicos. Oeste. O objetivo estratégico era a
acompanhar projetos de colonização e Essas expedições também contribuíram incorporação dessas vastas regiões, ricas
conhecer o interior, e outros, encarregados para o processo, ainda em fase inicial, em matérias-primas e fontes de energia,
de cuidar da implantação da Estrada de institucionalização das disciplinas através da promoção do povoamento e da
de Ferro do Tocantins, projetada para científicas no Brasil, muitas vezes com construção de infraestrutura básica. Para
ultrapassar os trechos encachoeirados do base nos ideais positivistas e naturalistas tanto, foi criado um possante arcabouço
rio próximos à região hoje ocupada pela reforçados pelo lema ordem e progresso institucional que fortaleceu a máquina
hidrelétrica de Tucuruí. Nos documentos que a nascente República promovia. administrativa estatal e apoiou as novas
produzidos por esses personagens é No Capítulo 5, O Tocantins durante políticas de gestão do território nacional.
comum a reivindicação de recursos e o período Vargas: a Marcha para o Oeste Nos relatos de viagem do período
o protesto pelo abandono, por parte (1930-1945), são narradas viagens são destacados os aspectos negativos
das autoridades centrais, de extensos ocorridas durante o primeiro governo dos espaços visitados, como a pobreza,
espaços que dependeriam apenas de de Getúlio Vargas, caracterizado por um a exploração econômica e o vazio
investimentos e atenção para progredir. crescente autoritarismo centralizador e administrativo. Outra característica desses
Médicos do Instituto Oswaldo Cruz, de nacionalista. Nesse contexto inscrevem- viajantes é uma postura mais responsável,
Manguinhos, na então capital da República, se a viagem do médico Júlio Paternostro a partir de uma visão crítica dos planos
também percorreram o Tocantins no início e a publicação de seu extenso relato, de desenvolvimento anteriores, que
do século XX. O movimento sanitarista no qual se observa a classificação do seriam irrealistas quando confrontados
foi central para a definição e a difusão de espaço em regiões, de acordo com com as condições econômicas e
uma imagem do interior do Brasil diferente critérios econômicos. As regionalizações, políticas concretas dessas regiões.
Introdução | 13

O sexto capítulo, Do aventuroso ao pelo setor elétrico com a finalidade de efetuar um levantamento pormenorizado
econômico: o setor elétrico desbrava efetuar um aproveitamento hidrelétrico do potencial hidrelétrico da região,
o Tocantins (1945-1984), apresenta no Tocantins. No contexto das iniciativas que englobou o trecho paraense do
os viajantes institucionais pioneiros da estatais integracionistas, que culminaram Tocantins. Realizado em 1968 pelo Comitê
segunda metade do século XX e os com a construção de Brasília e a abertura Coordenador dos Estudos Energéticos
primeiros do setor de energia elétrica até da rodovia Belém-Brasília, foi elaborado da Amazônia (Eneram), do Ministério
a inauguração da primeira hidrelétrica pela Centrais Elétricas de Goiás (Celg), das Minas e Energia, o trabalho apontou
erguida no rio, a usina de Tucuruí. A partir empresa estadual de energia elétrica, 17 possibilidades de aproveitamento
de meados dos anos 1940, os relatos o projeto do empreendimento pioneiro, hidrelétrico, somando um total de 7,4 mil
passaram a abordar os usos do Tocantins com 200 megawatts de potência. Após megawatts. No Tocantins, mais uma vez,
de forma mais objetiva. A primeira narrativa uma expedição pelo rio que, ao que sobressaiu-se o potencial de Itaboca.
incluída, a da viagem do engenheiro Aldo consta, custou algumas vidas, os técnicos Holding federal do setor de energia
Andreoni, no final da década, é exemplar da empresa localizaram um trecho no elétrica, a Eletrobras, então com mais
de uma nova visão a respeito do potencial alto Tocantins propício à construção de dez anos de funcionamento, deu
do rio, na qual a geração hidrelétrica logo de uma usina hidrelétrica, batizada continuidade aos levantamentos do
despontaria com o status de protagonista. inicialmente com o nome de São Félix. Eneram, em 1973, encomendando a duas
O engenheiro Andreoni, pertencente Enquanto isso, na esfera federal, o consultoras de engenharia uma avaliação
aos quadros do Instituto de Pesquisas governo criava a Comissão Interestadual detalhada do potencial hidrelétrico
Tecnológicas de São Paulo (IPT), produziu dos Vales do Araguaia e do Tocantins específico do rio Tocantins. Em uma
um relatório sobre as condições de (Civat), inspirada no projeto norte- etapa inicial, foi examinado o trecho do
navegação do Tocantins e desenvolveu americano do Tennessee Valley Authority rio entre as cabeceiras e a confluência
um protótipo de embarcação capaz de (TVA). Foi por determinação da Civat com o rio Araguaia, excluindo-se,
superar os obstáculos do caudaloso curso. que, em 1964, realizou-se um primeiro portanto, a área de Itaboca. Essa avaliação
O instituto paulista havia sido contratado reconhecimento dos recursos hídricos proporcionou a primeira grande viagem
pelo governo de Goiás para a tarefa. da bacia Tocantins-Araguaia, a cargo do de técnicos a serviço do setor elétrico
Na introdução do documento, Andreoni Bureau of Reclamation, órgão ligado ao pelo rio, completada em 1974, quando
advertia que a concepção sulista de um rio Departamento do Interior dos Estados os estudos se estenderam até a foz. Três
aventuroso, alvo de expedições heroicas e Unidos. Esse estudo destacou um aproveitamentos foram escolhidos para
arrojadas, não era mais compatível com o possível aproveitamento hidrelétrico no desenvolvimento de estudos de viabilidade:
papel real desempenhado pelo Tocantins. trecho que compreendia as corredeiras Tucuruí (o novo nome do aproveitamento
Artéria fundamental para o transporte e a de Itaboca, local próximo à construção de Itaboca), Santo Antônio e São Félix.
sobrevivência das populações ribeirinhas, o da futura hidrelétrica de Tucuruí. Em paralelo, e fora do âmbito
rio já estaria em seu período econômico. Com o golpe militar de 1964, o foco do setor elétrico, houve ainda um
A viagem do profissional do IPT da integração nacional deslocou-se do extenso trabalho, cujo resultado
serviria, pouco tempo depois, como Centro-Oeste do país para a Amazônia. trouxe uma riqueza de detalhes inédita
subsídio para o primeiro estudo realizado Surgiu nesse contexto a iniciativa de sobre a bacia do Tocantins. Tratava-
14 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

se de um plano integrado da bacia, A crise econômica que o Brasil privados e consórcios, que passaram
encomendado, em 1973, a uma experimentou no início da década de 1980 a participar da expansão do parque
consultora, pela Superintendência de afetou os planos do governo federal e gerador instalado no Tocantins.
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), atingiu os projetos do setor elétrico. Esse O fio condutor da narrativa foi
órgão governamental criado em 1966. é o cenário no qual tem início o período dado pelos diversos relatórios de
Os estudos de viabilidade dos abordado no capítulo 7, Investigação estudos de inventário, de viabilidade e
aproveitamentos hidrelétricos apontados do território e projetos hidrelétricos no ambientais, que podem ser comparados
como mais oportunos ficaram a cargo Tocantins (1984-1997). As transformações a alguns dos relatos de expedições
da Eletronorte, concessionária federal na sociedade brasileira que levaram ao dos séculos anteriores. O capítulo
criada em 1973 para atuar no Norte e fim do regime militar trouxeram também descreve como foi se constituindo a
parte do Centro-Oeste. Os projetos de novos conceitos sobre o uso compartilhado normatização engendrada no setor
instalação de indústrias de um parque das águas e o aproveitamento integrado elétrico para a execução desses
siderúrgico no Pará e no Maranhão e dos recursos hídricos nacionais. estudos por meio de uma série de
de desenvolvimento da exploração de Nesse capítulo e no seguinte, o manuais de estudos da mesma
minério de ferro em Carajás (PA) fizeram oitavo e último do livro, A energia do natureza daqueles que orientaram as
com que o governo federal privilegiasse Tocantins em novo cenário (1997-2013), viagens filosóficas organizadas por
a construção da usina de Tucuruí, iniciada o papel do setor elétrico na edificação Domenico Vandelli no século XVIII.
em 1975. No desenvolvimento do projeto desse novo paradigma foi fundamental A começar pelo relatório da
da primeira usina hidrelétrica do Tocantins e, no caso do Tocantins, os relatos das Eletronorte com os resultados da
e seus desdobramentos para a região, viagens à região foram adquirindo cada revisão do inventário hidrelétrico do
foi feito um estudo ambiental precursor vez mais profundidade e abrangência, médio Tocantins, cujos 11 volumes
em 1977, a pedido da Eletronorte. conforme as dimensões técnica e foram concluídos em 1987, fica
Com essa finalidade, o ecólogo Robert ambiental exigiam. A transformação do demonstrado que os técnicos do setor
Goodland, consultor do Banco Mundial, rio em fonte estratégica de produção elétrico exerceram com maestria o
viajou durante dez dias pela região. de energia elétrica e o desenvolvimento papel de viajantes modernos. Esse
Enquanto isso, no alto Tocantins, de uma consciência ambiental nos documento, que traz um retrato
desenrolavam-se os estudos da aproveitamentos hidrelétricos contaram minucioso do território tocantinense,
usina de São Félix, assumidos com a contribuição decisiva das considerando seus aspectos naturais
afinal por Furnas Centrais Elétricas concessionárias de energia elétrica. e sociais, foi sucedido por vários
em 1983. Em novas viagens, os Em um primeiro momento, em outros estudos que pouco a pouco
técnicos da empresa atualizaram especial, a Eletronorte, com seu consolidaram a contribuição do setor de
o trabalho da Celg e escolheram extenso inventário do médio energia elétrica para o conhecimento
outros locais para a construção Tocantins, e Furnas, que radiografou dessa área do país. Os capítulos 7 e
do empreendimento, dividindo o os projetos do alto Tocantins, foram 8 detalham, em ordem cronológica,
aproveitamento de São Félix em duas protagonistas desses estudos, as viagens e os estudos relativos a
usinas, Serra da Mesa e Cana Brava. seguidas por novos empreendedores cada uma das usinas construídas:
Introdução | 15

Serra da Mesa, Cana Brava, Lajeado, variedade de fontes, muitas, se não instituições e pessoas: Arquivo
Peixe Angical, São Salvador e Estreito. inéditas, pouco exploradas, de vários Histórico do Exército, Arquivo Histórico
As considerações sobre esses acervos espalhados em bibliotecas e Ultramarino - Portugal, Biblioteca Nacional
empreendimentos hidrelétricos centros de pesquisa do país e do exterior, de Portugal, Boris Kossoy, Ecymonte
basearam-se essencialmente nas em pesquisa remota ou presencial. Conrado, Fundação Biblioteca Nacional
fontes primárias constituídas pelos A pesquisa iconográfica para o - Brasil, Fundação Oswaldo Cruz, Ilana
relatórios de estudos que antecederam livro foi um capítulo à parte e também Maria, Instituto Brasileiro de Geografia e
e acompanharam as obras. Apesar da exigiu um empenho especial. Apenas Estatística, Instituto Histórico-Cultural da
padronização exigida pelos manuais para a localização das quase quinhentas Aeronáutica, José Emídio Albuquerque
técnicos, o material produzido em imagens, que ilustram e complementam e Silva, Mapoteca Histórica no Rio da
cada expedição a campo resultou o texto, foi necessário um enorme Janeiro - Itamaraty, Museu do Índio,
em narrativas únicas, pródigas em esforço, considerando o longo período Museu Paraense Emílio Goeldi, Museu
pormenores exclusivos por se originarem de tempo abordado e o fato de a Nacional, Pinacoteca do Estado de
da privilegiada perspectiva do viajante região Centro-Oeste não ter sido tão São Paulo, Renato de Oliveira Alves,
que não está apenas de passagem, fartamente documentada quanto as Rui Oliveira Santos e Sula Failde.
mas que convive e avalia o que o áreas litorâneas do país. Como resultado
cerca. Como uma coletânea de retratos final alcançou-se um painel visual a
do Tocantins, tomados de múltiplos partir de exemplares selecionados de
ângulos, esses documentos tornaram- um sortimento de tipologias. É possível
se fontes extremamente ricas. perceber as diferentes linguagens
Todo o conhecimento reunido sobre plásticas de representação ao longo do
o rio Tocantins, da época colonial até a tempo e acompanhar a evolução dos
atualidade, representada pelos viajantes recursos tecnológicos disponíveis em
do setor elétrico, vem sendo utilizado cada época para a produção de imagens.
para balizar o planejamento de políticas O modus operandi da pesquisa foi
públicas a cargo de segmentos diversos, facilitado pelo recurso à consulta on-line
sinalizando como se pretende tratar o de parcela de alguns acervos. Foram
rio e seu entorno, diante das grandes inúmeras as coleções e instituições
transformações provocadas pelos pesquisadas no Brasil e também fora
empreendimentos hidrelétricos e pela do país. Em muitos casos, contamos
exploração futura do potencial das águas com a generosidade dos responsáveis
do Tocantins para outras finalidades. pela guarda dos documentos, com a
Mesmo sem a pretensão de esgotar cessão, a título gratuito, do direito de
o assunto, a execução deste trabalho uso das imagens selecionadas para a
demandou uma extensa investigação publicação. Gostaríamos de registrar
documental e o uso de uma grande um agradecimento às seguintes
Capítulo 1
O olhar dos colonizadores
sobre o rio Tocantins

1500-1808
18 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O BRASIL NÃO TROUXE DO BERÇO UM


CONCEITO DE NAÇÃO. A palavra-chave que
sintetizava o projeto da Coroa portuguesa
para a nova colônia era ocupação, e nesse
contexto é que pode ser reconstituído o
olhar dos viajantes do período sobre o rio
Tocantins. Os bandeirantes, os missionários
e os funcionários político-administrativos
que representavam Portugal percorreram
várias regiões do rio, a partir do século
XVI, a bordo de diferentes propostas para
conhecer e tomar posse do território
brasileiro. Tanto bandeirantes quanto
missionários participaram de um mesmo
movimento de interiorização e expansão
do povoamento, utilizando o Tocantins
como via de transporte ou referência
geográfica para os deslocamentos
terrestres. Os funcionários da Coroa,
revestidos de autoridade oficial, tinham
como objetivo mapear a região e propor
atividades econômicas e comerciais.
É bom lembrar que as terras da colônia
portuguesa correspondentes ao Brasil de
hoje estiveram divididas durante a maior
parte do tempo entre duas administrações
diferentes – ambas com jurisdição sobre
trechos do Tocantins. Ao norte, onde
atualmente se localizam os estados do
Pará, Maranhão e Piauí, foi estabelecido, em
1621, o Estado do Maranhão e Grão-Pará,
subordinado diretamente a Lisboa. Em 1751,
passou a se chamar Estado do Grão-Pará
e Maranhão e, em 1772, foi subdividido
em duas unidades: Estado do Grão-Pará e
Rio Negro e Estado do Maranhão e Piauí.
1500-1808 Capítulo 1 | 19

Na página ao lado, “Província do Brasil”, mapa elaborado


por João Teixeira Albernaz que consta do volume factício
Mappas do Reino de Portugal e suas conquistas, colegia-
dos por Diogo Barbosa Machado, [1666]. Fundação Biblio-
teca Nacional - Brasil

“Demonstração do rio Turi athe o Maranham” e “Demons-


tração do Pará athe o rio Turi”, mapas elaborados por João
Teixeira Albernaz que constam do volume factício Mappas
do Reino de Portugal e suas conquistas, colegiados por
Diogo Barbosa Machado, [1666]. Fundação Biblioteca Na-
cional - Brasil
20 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A outra administração vinculava-se a Todas essas ações ocorriam ora


Salvador, na Bahia: era o Estado do Brasil, em aliança, ora em tensão com as
que compreendia as capitanias do litoral autoridades nomeadas pelo rei de
correspondentes às atuais regiões Sul, Portugal no Maranhão e Grão-Pará.
Sudeste e Nordeste, e ao qual foi sendo Partindo de Piratininga, em São Paulo, os
incorporada aos poucos a porção Centro- bandeirantes chegaram pouco a pouco
Oeste do país. Só a partir de 1774 as duas pelo alto e médio Tocantins, em busca
administrações foram unificadas no Vice- de ouro e de mão de obra indígena.
Reino do Brasil, com sede no Rio de Janeiro. Para os jesuítas que percorreram o
Foi pelo norte, no baixo Tocantins, Tocantins em viagens de missão, o rio foi
que os jesuítas começaram a explorar basicamente um caminho em movimento,
o rio. As expedições de captura e enquanto, para os bandeirantes, significava
escravização de nativos visavam transferi- um elemento topográfico de localização de
los de seus locais de origem para roteiros terrestres, já que, do século XVII
reduções, denominação dos aldeamentos até meados do século XVIII, as expedições
organizados e dirigidos pelos religiosos sob dos paulistas foram feitas essencialmente
a égide da administração portuguesa. a pé, sem o recurso a cavalos ou muares.
1500-1808 Capítulo 1 | 21

“Mapa do trecho médio do rio Tocantins”, meados do sé-


culo XVIII. Mapoteca Histórica no Rio de Janeiro - Itamaraty

“Plano projectivo de um novo estabelecimento de Índios


da Nação Caiapó”, 1872. Arquivo Histórico Ultramarino,
Portugal
22 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A utilização de vias fluviais na


história do bandeirantismo só ganhou
expressão com as monções, expedições
que passaram a subir e descer os rios
de São Paulo e Mato Grosso quando as
bandeiras já estavam em declínio. No
caso da região do alto e médio Tocantins,
o início das monções, determinado
pelo descobrimento de minas de ouro
na região de Cuiabá, no Mato Grosso,
precedeu em alguns anos a última
grande empresa bandeirante em Goiás.
As primeiras citações feitas pelos
bandeirantes paulistas sobre o rio
Tocantins ocorreram durante o chamado
ciclo Paraupavas, entre 1580 e 1618,
quando foi iniciada a exploração dos
sertões goianos. A expansão das Fernandes, motivado por disputas pela
“Bandeirantes nas florestas de Matto-Grosso”, gravura
bandeiras paulistas foi um elemento partilha de índios aprisionados durante elaborada por Pinheiro para a obra A Gruta do Inferno na
Província de Mato Grosso junto ao Forte de Coimbra, or-
essencial para a composição da a expedição. O grupo amotinado, que ganizada pelo General João Severiano da Fonseca, 1880.
cartografia colonial portuguesa sobre se separou da bandeira, foi encontrado Coleção João Meirelles Filho

a região central do Brasil, permitindo, morto algum tempo depois, e se supõe


por exemplo, a quebra do mito da que foi massacrado pelos prisioneiros que
existência de uma lagoa dourada no o acompanhavam. O chefe da bandeira e
interior do território, que seria a nascente os homens que permaneceram fiéis a ele
de três grandes rios brasileiros: o São chegaram de volta a São Paulo em 1615.
Francisco, o Amazonas e o Paraguai. Desse período até meados do século
Integrante desse ciclo, a bandeira XVII, praticamente não há registros de
do capitão André Fernandes foi a que outras bandeiras nos sertões goianos.
percorreu de forma mais completa a A bandeira de Bartolomeu Bueno da
região do Tocantins. A expedição saiu de Silva, o Anhanguera, entre 1722 e
São Paulo em 1613 em direção a Goiás 1725, que deu origem ao ciclo do ouro
e margeou o rio até a confluência com goiano, foi considerada a certidão de
o Araguaia, pelo qual seguiu de volta às batismo da capitania de Goiás, por ter
terras paulistas. A bandeira teve um fim justificado seu desmembramento da
trágico: houve um motim contra André capitania de São Paulo em 1749.
1500-1808 Capítulo 1 | 23

Caminhos das bandeiras de André Fernandes e Anhangue-


ra demarcados sobre o “Mappa dos Sertões, que se com-
prehendem de Mar a Mar entre as Capitanias de S. Paulo,
Goyazes, Cuyabá, Mato-Grosso e Pará”, século XVIII. Co-
leção Morgado de Mateus. Fundação Biblioteca Nacional
- Brasil

André Fernandes
Anhanguera
24 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Essa expedição legou o primeiro As bandeiras pregavam, ao menos


“Capivara”, gravura estampada na obra História dos ani-
documento que trata da navegação em tese, objetivos diversos das expedições mais e árvores do Maranhão, de Frei Cristóvão de Lisboa,
presumidamente produzida entre 1624 e 1627 e publica-
do Tocantins pelos bandeirantes religiosas, mas as aventuras vividas pelos da pelo Centro de Estudos Históricos e Ultramarinos em
paulistas, narrado sob o ponto de vista paulistas ao desbravarem o alto Tocantins 1967. Arquivo Histórico Ultramarino, Portugal

do grupo que abandonou o comando são semelhantes às narradas pelos “Beneditinos e Capuchinhos”, aquarela atribuída à Lady
Maria Callcott. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
de Anhanguera e desceu o rio até missionários sobre o baixo. Na verdade,
alcançar Belém. O relato do alferes embora os jesuítas tenham deixado marcas
desertor José Peixoto da Silva Braga, mais duradouras na região, não foram eles
redigido pelo padre Diogo Soares, os primeiros a alcançar o baixo Tocantins,
em 1734, menciona um aspecto mas sim os capuchinhos, vinculados ao
essencial nas circunstâncias da época: movimento de criação da França Equinocial,
o rio como fonte de alimentação, projeto que pretendia fundar uma colônia
pela pesca ou pela caça aos animais francesa na região em torno da linha do
das matas que o margeavam. A Equador, na América do Sul. Instalada
descrição a seguir dá uma ideia da entre 1613 e 1615, contou com o apoio
precariedade das condições técnicas de outros franceses que percorriam a
da navegação e dos obstáculos área dos atuais Maranhão e Pará por conta
naturais encontrados no Tocantins. própria desde o final do século XVI.

“Navegamos adiante, e depois de cinco ou seis


dias avistamos alguns recifes de pedras e não
poucas cachoeiras, que passamos junto à terra
da parte direita, sirgando as canoas por entre
os penedos, mas não com tanta cautela, que
não topasse uma em uma pedra, e se partisse
pelo meio, perdendo nela duas canastras, com
roupas, ouro e prata, tachos, espingardas,
traçados, anzóis, linhas, e outros trastes
necessários no sertão (...). Passando este
perigo, fomos na outra canoa buscar a parte
esquerda por baixo da cachoeira, onde o rio
fazia remanso com uma excelente praia: nela
matamos dois porcos, que nos serviram de
matolotage para a viagem e fizemos de novo
outra canoa com três machados, e duas enxós,
que também nos escaparam, vertendo sangue
as mãos por de tamboril duríssimo o pau de
que a fizemos: gastamos na sua fabricação 12
dias abrigados à sombra daqueles matos (...).”
(Braga, 1734 apud Taunay, 1981: 134-135)
Colocar crianças francesas para viver
entre os índios foi parte dessa estratégia.
Anos depois, essas crianças se juntaram
aos demais intérpretes que dominavam
as línguas indígenas, conhecidos como
truchments. Os truchments teriam sido
os responsáveis pela longa enumeração
de termos indígenas sobre a fauna e a
flora e pela sua tradução para o francês
nos textos de D’Abbeville e D’Evreux.
Os freis capuchinhos Claude Com a tomada de São Luís do
“Os tupinambás levados à França”, gravura de Pierre Fi-
rens, a partir do desenho de Joachim Du Viert, 1913. Itaú D’Abbeville e Yves D’Evreux acompanharam Maranhão pelos portugueses em
- Coleção Brasiliana
a ocupação francesa do Maranhão, liderada 1615, outros capuchinhos, agora sob
“Indígena François Carypyra, originário da tribo dos tabaja- por Daniel de La Touche, o Senhor de a liderança lusitana, chegaram à região
ras”. Ilustração de Leonard Gaulthier para a obra L’Histoire
de la Mission des Pères Capucins en l’Isle de Marag- La Ravardière, e deixaram expressivos do Tocantins. Frei Cristóvão de São
nan et terres circonvoisines do frei capuchinho Claude
D’Abbeville, 1614. Coleção José e Guita Mindlin. Brasiliana escritos de descrição da natureza, onde José fundou o primeiro povoado de
USP
se misturava a informações objetivas o Cametá, em 1620, ali se instalando para
imaginário medieval sobre o maravilhoso. catequizar os índios camutás. Cinco anos
Os índios, principal fonte dos depois, frei Cristóvão de Lisboa realizou
conhecimentos sobre a natureza coligidos uma bandeira apostólica no sertão
pelos dois religiosos, eram percebidos do Tocantins, legando uma obra de
no projeto colonial francês como contribuição à história natural considerada
selvagens convertíveis e foram incluídos pelos especialistas atuais das áreas de
na estratégia de construção de alianças botânica e zoologia como de qualidade
para enfrentar os rivais portugueses. superior a de seus congêneres franceses.
26 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Ilustração de Leonard Gaulthier para a obra L’Histoire de la


Mission des Pères Capucins en l’Isle de Maragnan et ter-
res circonvoisines do frei capuchinho Claude D’Abbeville,
1614. Coleção José e Guita Mindlin. Brasiliana USP

Na outra página, “Configuração do rio Tocantins, desde a


Villa de Cametá do Grão Pará até os Arraiais de Pontal e
Carmo de Minas de Goiáz”, [1795]. Biblioteca Nacional de
Portugal

“Camaleão”, “Mandioca”, “Mutum e Sei-não”, gravuras


estampadas na obra História dos animais e árvores do
Maranhão, de Frei Cristóvão de Lisboa, [1624-1627], publi-
cada pelo Centro de Estudos Históricos e Ultramarinos em
1967. Arquivo Histórico Ultramarino, Portugal
1500-1808 Capítulo 1 | 27

Contudo, a autoria dos trabalhos


de frei Cristóvão de Lisboa vem sendo
contestada pela historiografia mais
recente: considera-se provável que sua
obra seja a tradução de um relatório
encomendado por La Ravardière a Charles
de Vaux, indivíduo com longa experiência
de vida entre os índios e que serviu de
guia na expedição dos franceses ao rio
Amazonas e baixo Tocantins em 1613. Os
escritos dos capuchinhos que estiveram
no Maranhão e no Pará na primeira
metade do século XVII correspondem a
um registro sobre a natureza que pode
ser visto como um antecedente dos
textos produzidos pelos naturalistas a
partir do final do século seguinte.
28 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Em meados do século XVII, os


jesuítas tomaram o lugar dos capuchinhos
na gestão das almas da província do
Maranhão e Grão-Pará. Segundo o mais
“A mais dificultosa missão de todas
famoso deles, padre Antônio Vieira, o
quantas há em todo o Estado parece ser
jesuíta Luiz Figueira, seu antecessor no aquela de S. Francisco Xavier [na serra do
propósito de fixar uma missão naquela Ibiapaba], não porque seja a mais distante,
área, teria aberto as portas do Novo porque são as do rio Amazonas muito
Mundo ao tentar estabelecer relações com mais distantes sem comparação que ela;
mas porque a ela se vai por terra e montes
os índios. Entretanto, a obra de Figueira
altíssimos, a pé, com suma moléstia, por
foi interrompida em 1649, durante um se haver de levar os provimentos e mais
trágico naufrágio nas costas do Pará, em necessários para ela às costas, quando
que ele e outros 11 jesuítas vindos de em mais missões se navega em canoa,
onde se leva sem dificuldade alguma, todo
Lisboa para reforçar a missão faleceram.
o fato e mantimento que se requer.”
Figueira havia realizado uma grande
(Bettendorf apud Cardoso e
viagem aos rios da Amazônia, em 1636, Chambouleyron, 2004: 54)
ocasião em que teve oportunidade de se
encontrar com frei Cristóvão de Lisboa,
no rio Tocantins, firmando um acordo
dos missionários com as autoridades,
Frontispício da obra Arte da Gramática da Língua do Brasil,
por meio do qual algumas concessões composta pelo padre Luiz Figueira e publicada por João
foram feitas aos colonos quanto à Felipe Bettendorf, 1795. Coleção José e Guita Mindlin. Bra-
siliana USP
utilização da mão de obra indígena.
Os deslocamentos dos jesuítas pelo Na outra página, “Padre Antônio Vieira”, litografia de R.
território do Maranhão e Grão-Pará se do A. de Bandeira, 1858. Biblioteca Nacional de Portugal

realizaram tanto por meio de vias fluviais Páginas iniciais do Parecer político que se deo ao Rey D.
João o 4º sobre o aumento do Reino elaborado pelo padre
quanto terrestres. As comparações entre os Antônio Vieira, 1662. Biblioteca Nacional de Portugal
dois meios de locomoção estão presentes
em relatos sobre as viagens dos jesuítas
às missões de Ibiapaba, no interior do
Maranhão, e às do Tocantins, no Pará. Os
percursos terrestres são descritos como
ainda mais penosos que os fluviais. Na
sua crônica sobre as missões dos jesuítas
na Amazônia no século XVII, o padre João
Felipe Bettendorf comenta esse aspecto.
1500-1808 Capítulo 1 | 29

A subida do rio a partir do baixo Na mesma época, escrevia ao


Tocantins, onde o padre Vieira havia Geral da Companhia de Jesus dizendo
organizado sua primeira grande missão que naquela região não havia qualquer
após chegar ao Maranhão e Grão-Pará gênero de cavalgadura. Todos os
em 1642, também não era fácil, pois deslocamentos se faziam pelas águas.
navegar pelos rios da Amazônia significava Essa primeira viagem de Vieira
encontrar obstáculos de todo tipo. Depois ao Tocantins foi feita a convite do
de sua primeira jornada ao Tocantins, em capitão-mor do Pará, Inácio do Rego.
1653, Vieira comenta, em relato ao rei Ainda durante os preparativos para
Dom João IV, as dificuldades da viagem. a viagem, as divergências entre as
autoridades e os religiosos em torno
“(...) estas terras não são como as da Índia ou
da questão da escravização da mão de
Japão, onde os religiosos vão de cidade em
cidade; mas tudo são brenhas sem caminho, obra indígena começaram a aparecer.
cheias de mil perigos, e rios de dificultosíssima Apesar disso, Vieira decidiu não deixar
navegação, pelos quais os missionários não de participar da entrada ao Tocantins,
hão de ir nadando senão em canoas.” para não perder a posse do rio,
(Vieira, 1654 apud Cardoso;
considerado de grande importância
Chambouleyron, 2004: 48)
para os objetivos dos jesuítas.
30 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A expedição partiu de Belém em por contratos, no norte essa atividade


16 canoas, nas quais embarcaram um dependia do suporte dos governantes
capitão e oito oficiais reformados, todos instituídos. A organização do serviço
portugueses; 200 índios a remo e arco; 40 dos índios no Maranhão e Grão-Pará
cavaleiros; e mais 60 pessoas de serviço, dependeu de uma negociação contínua
perfazendo cerca de 300 pessoas. Os entre diversos grupos e poderes; os
padres chegaram primeiro à aldeia de missionários disputavam autoridade com
Mortiguara (atual Vila do Conde), de onde capitães-mores e governadores, câmaras e
se dirigiram a Cametá, local onde seria outras instituições político-administrativas,
instalada dois anos depois a missão dos e também com moradores e os próprios
jesuítas, em substituição à dos carmelitas, índios participantes das expedições fluviais.
responsáveis pela direção espiritual da vila
desde 1643, em lugar dos capuchinhos.
A indignação de Vieira com a
forma violenta como eram tratados os
índios encontrados às margens do rio
Tocantins o levaram a viajar a Lisboa para
descrever a situação ao rei. Essa viagem
resultou na lei de 1655, que garantiu
aos jesuítas amplos poderes sobre a
administração da população indígena.
As inúmeras viagens dos jesuítas
pelo Tocantins, que se seguiram
na segunda metade do século XVII,
inclusive as de Vieira, transformaram a
região em um dos principais cenários
do conflito de opiniões quanto às
comunidades indígenas, envolvendo
missionários, colonos e autoridades.
No entanto, as jornadas dos
missionários ao Tocantins não podiam
prescindir do apoio das autoridades
governamentais. Enquanto no sul da
colônia as expedições de aprisionamento
de índios pelos bandeirantes paulistas
se tornaram negócios privados, regidos
1500-1808 Capítulo 1 | 31

As viagens dos religiosos no Tocantins


Na outra página, “Canot indien”, gravura de Victor Adam
estampada na obra Viagem pitoresca através do Brasil, tinham ainda um forte componente
de Johann Moritz Rugendas, [1835]. Fundação Biblioteca
Nacional - Brasil militar, como se constata pela descrição
de Vieira sobre a expedição do padre
“Canoa de meia coberta”, estampa da obra Viagem filosó-
fica pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso Manoel Nunes, em 1659. Na época, os
e Cuiabá, de Alexandre Rodrigues Ferreira, [1783-1793].
Fundação Biblioteca Nacional - Brasil índios continuavam a ser, como desde a
chegada dos capuchinhos franceses, não
“Soldado português do século XVII”, ilustração do Atlas apenas almas passíveis de conversão,
Histórico Escolar, organizado por José Luiz Tavares, 1960.
Ministério da Educação e Cultura (MEC) - Brasil mas também mão de obra para as
“Lanças indígenas”, estampa da obra Viagem filosófica
atividades econômicas desenvolvidas
pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso
p nos aldeamentos missionários.
e Cuiabá, de Alexandre Rodrigues Ferreira, [1783-1793].
Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
“Foi a esta missão o P. Manoel Nunes (...),
superior da casa e missões do Pará, mui
prático e eloquente na língua geral da terra.
Levou quatrocentos e cinquenta índios de
arco e remo, e quarenta e cinco soldados
portugueses de escolta, com um capitão
de infantaria. A primeira facção em que se
empregou este poder foi em dar guerra ou
castigar certos índios rebelados, de nação dos
inheigaras, que o ano passado, com a morte
de alguns cristãos, tinham impedido a outros
índios da sua vizinhança que se descessem
para a igreja e vassalagem de V. Majestade.
São os inheigaras gente de grande resolução
e valor, e totalmente impacientes de sujeição
e, tendo-se retirado com suas armas
aos lugares mais ocultos e defensáveis
das suas brenhas, em distância de mais
de cinquenta léguas, lá foram buscados,
achados, cercados, rendidos e tomados
quase todos, sem danos mais que de
dois índios nossos levemente feridos.
Ficaram prisioneiros duzentos e quarenta,
os quais conforme as leis da Vossa
Majestade, a título de haverem impedido
a pregação do Evangelho, foram julgados
por escravos e repartidos aos soldados.”
(Vieira, 1659 apud Ferreira, 1977: 205-206)
32 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Ao longo da segunda metade do poquis. No ano seguinte, um grupo


“Prospecto da cidade de Cametá”, estampa da obra Via-
século XVII, houve uma sobreposição das de índios aruaques, com os quais os gem filosófica pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro,
Mato Grosso e Cuiabá, de Alexandre Rodrigues Ferreira,
áreas de influência dos jesuítas e dos religiosos haviam mantido contato, [1783-1793]. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
bandeirantes paulistas no Maranhão e chegou à missão dos jesuítas, em
Grão-Pará. Na região do baixo Tocantins, Cametá, pedindo proteção contra
um episódio exemplar mostra de que sertanistas de São Paulo que os estavam
forma os interesses divergentes dos molestando. Segundo Bettendorf, tinham
dois grupos fizeram a ordem religiosa sido invadidos pelos portugueses do
assumir papel relevante no diálogo Brasil, a quem chamavam paulistas,
com as comunidades indígenas. Como levando cativos índios de 15 aldeias. Os
relatado pelo jesuíta Bettendorf, em choques entre indígenas e bandeirantes
1668, os frades Gaspar Misch e João paulistas na região do Tocantins e do
de Almeida saíram de Belém e subiram Araguaia passou desde então a ser
o Tocantins, penetrando no sertão mediado pelos jesuítas, solicitados
para extinguir uma rebelião dos índios frequentemente a intervir nos conflitos.
1500-1808 Capítulo 1 | 33

“Parte do governo de Sam Paulo e parte dos domínios


da Coroa de Espanha”, mapa que consta da obra Cartas
Sertanistas, [1740]. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil

Detalhe da estampa “Lanças indígenas”, da obra Viagem


filosófica pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato
Grosso e Cuiabá, de Alexandre Rodrigues Ferreira, [1783-
1793]. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil

Além de arena de disputas entre os O conhecimento e os contornos do


diferentes projetos dos colonizadores, o espaço na colônia estiveram associados
Tocantins também foi protagonista na ao princípio do uti possidetis, que
definição das fronteiras entre os domínios permitia às nações europeias invocar
portugueses e espanhóis na Amazônia a efetiva ocupação para reivindicar a
durante o século XVII. A grande expedição posse de territórios recém-descobertos.
de Pedro Teixeira, que subiu o rio Amazonas A descrição de uma área legitimava a
até Quito e voltou de lá para Belém, posse e confirmava o direito ao domínio
depois de ter fixado na confluência dos sobre uma região. Na representação do
rios Aguarico e Napo os limites entre os espaço inscrevia-se o registro de rotas,
territórios de Portugal e Espanha, partiu de que possibilitava refazer percursos antes
Cametá em 1637. Esta viagem foi decisiva inexplorados. Essa atitude obedecia
para a penetração portuguesa na Amazônia à mesma lógica de detalhamento das
daí por diante. Contudo, somente no século rotas marítimas durante as grandes
XVIII os limites entre as duas potências na navegações, em que descrever
região seriam oficialmente reconhecidos. equivalia a ensinar o caminho.
34 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Com essa intenção, em 1719, o Obedecendo à lógica do


governador do Maranhão, Bernardo empreendimento colonial português,
Pereira de Berredo, determinou a navegação pelo Tocantins e pelo
que fosse feita uma descrição do Araguaia desde Belém enquadrava-se
rio Tocantins. Àquela altura, como na perspectiva de submissão do gentio
explicitado no documento, pouco à Igreja e à Coroa, usando-se métodos
se sabia sobre a região do Araguaia suaves ou declarando-lhes guerra. Os
e Tocantins, acreditando-se que o membros da expedição eram obrigados
primeiro desembocasse diretamente a checar a existência de riquezas,
no Peru, e que a região pudesse comprometendo-se, nesse caso, a
ser habitada, além de paulistas, dar notícia imediata às autoridades.
por espanhóis. O regimento dava Para tanto, previa-se a elaboração de
instruções aos membros da mapas e roteiros, bem como a coleta
expedição, com base nessa suposição. de amostras para que se pudesse
examinar a qualidade das descobertas.
“(...) Continuando a sua navegação [pelo
Depois desse movimento inicial
Araguaia] informando-se cuidadosa
e advertidamente dos tapuias do rio
sob a égide do governo do Maranhão,
de que nas margens dele há alguma o território praticamente desconhecido
povoação de gente branca, fará todas sobre o qual os portugueses tentavam
Frontispício da obra Annaes Históricos do Estado do Ma-
as diligências por examiná-la; e achando estender seus domínios foi objeto ranhão, escrita por Bernardo Pereira de Berredo e editada
ultimamente que é de naturais (que serão na Officina de Francisco Luiz Ameno em Lisboa, 1749. Itaú
de atividades voltadas a mapear o - Coleção Brasiliana
sem dúvida das minas de São Paulo ou
da colônia do Sacramento novamente
espaço para a delimitação territorial
incorporada no nosso domínio) procurará dos impérios português e espanhol. Na outra página, “Mapa dos confins do Brazil com as Ter-
ras da Coroa de Espanha na América Meridional”, também
logo avistar-se com o governador, a O instrumento que propiciou o conhecido como Mapa das Cortes, por conter, no verso,
as assinaturas e os selos dos ministros das coroas espa-
quem dará individuais notícias da sua estabelecimento dessas fronteiras foi o nhola e portuguesa, D. Joseph de Carvajal y Lancaster e
viagem, e requererá todo o favor e D. Tomás da Silva Teles, 1749. Fundação Biblioteca Nacio-
Mapa das Cortes, elaborado em 1749 por nal - Brasil
ajuda de que precisamente necessitar
para a volta dela, servindo-lhe de carta
Tossi Colombina, engenheiro militar genovês
de crença este meu regimento, que a serviço da Coroa portuguesa, considerado
poderá mostrar-lhe; porém no caso que o primeiro cartógrafo do Brasil Central.
a dita povoação seja de estrangeiros Esse mapa foi utilizado pela diplomacia de
(porque, segundo as melhores notícias,
Portugal e da Espanha para firmar o Tratado
o rio Araguaia desemboca no reino do
Peru, que é das Índias de Espanha)
de Madri, em 1750, e anular o Tratado de
seguirá as instruções que leva.” Tordesilhas, legitimando as conquistas
(Berredo, 1883: 180) portuguesas em Goiás e Mato Grosso.
36 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Duas décadas depois, os


administradores da capitania de Goiás,
separada de São Paulo desde 1749 como
consequência da descoberta do ouro
goiano, passaram a empreender um
esforço sistemático de conhecimento
dos rios. O período aurífero em Goiás,
apesar de não ter se estendido além da
segunda metade do século XVIII, induziu
à criação das primeiras vilas e povoados
na capitania, entre eles, os primeiros
nas margens do rio Tocantins. Pode ser
destacada, ainda na primeira metade
do século XVIII, a fundação de Sant’Ana
(depois Vila Boa), Barra, Anta, Santa Rita,
Ferreiro, Ouro Fino, Santa Cruz, Meia
Ponte, Água Quente, Natividade, Traíras,
São José do Tocantins, Cachoeira, São
Félix, Jaraguá, Pontal, Porto Real (depois
Porto Imperial e atual Porto Nacional),
Arraias, Cavalcante, Pilar e Cocal.
O início de um levantamento
mais metódico dos rios da capitania
de Goiás ocorreu durante o governo
1500-1808 Capítulo 1 | 37

contrabando do ouro, o governador


organizou uma comissão para verificar
as possibilidades de navegação do rio,
visando fomentar o comércio entre Goiás
e o Pará. O grupo, chefiado por Antonio
Luiz Tavares Lisboa, saiu de Pontal em
1773 e chegou a Belém no mesmo ano,
mas foi mal recebido pelo governador do
Pará, João Pereira Caldas, que impediu
seu retorno a Goiás, em obediência à
proibição vigente, que vigoraria até 1782.
de José de Almeida Vasconcelos Além das medidas de estímulo ao
Na outra página, “Planta de Villa Boa dos Goyases”, 1782.
Original de Manoel Ribeiro Guimarães. Arquivo Histórico Soveral de Carvalho, o barão de comércio com o Pará como meio de
Ultramarino de Lisboa
Mossâmedes, entre 1772 e 1778. minorar a crise advinda da pequena
“Prospecto de Villa Boa”, 1751. Original pertencente à O barão promoveu uma série de produção de ouro que começava a
Casa da Ínsua, em Castendo, Portugal
viagens exploratórias, das quais ele afetar a capitania de Goiás, o governo
“Planta perspectivada da cidade de Belém do Pará em
próprio participou, com a intenção de do barão de Mossâmedes teve uma
meados do século XVII”, reproduzida na Revista Oceanos, mapear a capitania. A primeira delas foi grande preocupação em racionalizar
jan-mar 2000. Original de Algemeen Rijkirchief, Haia (Ho-
landa) registrada no diário da viagem que fez as práticas administrativas. O barão
“Brazão das armas de Belém”, elaborado por Maurice Blái- para tomar posse do governo na capital governou exatamente durante o período
se. Museu de Arte de Belém Vila Boa, a partir do Rio de Janeiro. em que o marquês de Pombal, como
Durante seu governo, estimulou- primeiro-ministro em Portugal (1757-
se a realização de expedições para a 1782), imprimiu uma forte marca
descoberta de ouro e a captura de índios, iluminista à gestão lusitana. Um dos
partindo de várias cidades. Desafiando resultados dessa orientação em Goiás
a proibição de travessia do Tocantins, foi a elaboração do Mapa dos Julgados
estabelecida em 1757 para evitar o – julgado era a unidade administrativa
38 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

da época, correspondente hoje a


município –, concluído em 1778 pelo
major Thomaz de Souza Villa Real.
Outro exemplo da ação das
autoridades portuguesas para o
reconhecimento do espaço territorial
da colônia pode ser encontrado em
um texto anônimo intitulado Roteiro
do Maranhão a Goyas pela Capitania
do Piauhi, produzido, ao que tudo
indica, na década de 1770. Esse texto,
contemporâneo ao Mapa dos Julgados
de Villa Real, explicitava a urgência em
se conhecer o interior do país. A falta
de dados sobre essas áreas contrastava
com a grande quantidade de informações
acumuladas sobre o litoral. No século
XVIII, a palavra sertão já era utilizada em
referência ao interior, com o significado
de um lugar desabitado e deserto,
que podia ser composto por rios,
florestas, caatingas ou cerrados. O que
caracterizava o sertão era o isolamento,
o afastamento da civilização. Ressaltando
a fragilidade das informações relativas
ao interior, o autor anônimo comenta
que não havia consultado qualquer
mapa para estabelecer seu roteiro.

“Devo contudo dizer que em todos


os conhecimentos que descrevo, não
dei atenção a carta alguma porque (...)
as que correm estampadas da nossa
América, não haverá quem ignore que,
em passando das costas para o interior
do país, ou nada dizem, ou são muito
diferentes do que nele se descobre.”
(Roteiro..., 1814: 4-5)
1500-1808 Capítulo 1 | 39

Tocantins, e localizou as nascentes


do Tocantins em Goiás e o percurso
minucioso dos outros dois rios entre
as cidades de Aldeias Altas (atual
Caxias) e Pastos Bons, considerando
as cachoeiras como o elemento que
garantia a correnteza dos rios.

“Cachoeiras são os ressaltos e giros que


impetuosamente formam a corrente dos
rios, quando de repente se precipita de
maior altura, ou acha resistência em alguns
penedos e iminências, que se levantam do
plano do seu leito [e] lhe tiram a igualdade.”
(Roteiro..., 1814: 9-10)
Não é de espantar, assim, que
Na outra página, “Carta da Capitania de Goyas”, também
conhecida como Mapa dos Julgados, produzido pelo Major sejam feitas no documento inúmeras Tratava-se, portanto, de um esforço
Thomaz de Souza Villa Real, 1778. Fundação Biblioteca
Nacional - Brasil correções quanto à localização de em oferecer ao público português
acidentes geográficos descritos em imagens da natureza das terras do
Abertura do texto anônimo “Roteiro do Maranhão a Goyas fontes anteriores. O autor deixa clara, Império distantes da metrópole.
pela Capitania do Piauhi”, publicado em O Patriota, jornal
litterário, politico e mercantil do Rio de Janeiro, 1814. Fun- já na advertência inicial de seu relato, Esse texto é também um exemplo
dação Biblioteca Nacional - Brasil
a imprecisão na contagem das léguas, da influência sobre as elites político-
quase sempre marcadas por algum administrativas de Portugal das ideias
acidente natural. Em desobediência fisiocratas, em que a terra era vista
às medidas usadas judicialmente como a única fonte de riqueza. Há uma
para a demarcação de terras, os valorização de atividades produtivas
habitantes costumavam contar léguas como a criação de gado e a agricultura,
menores que as estabelecidas. consideradas as melhores soluções
Na identificação do interior do para o aproveitamento da fértil região
território da colônia, o reconhecimento do vale dos rios percorridos pelo
dos rios tinha um sentido especial, viajante. Entretanto, a utilização dos
pois era a chave para o descobrimento rios como via de escoamento de
de novos territórios, a grande veia de mercadorias não foi negligenciada
entrada para sua ocupação e colonização. pelo anônimo, que via o fomento do
O roteiro anônimo, partindo de São comércio entre as capitanias como meio
Luís, descreveu a região situada de manutenção da exclusividade das
entre os rios Itapecuru, Parnaíba e trocas entre a colônia e a metrópole.
40 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Mas a navegação fluvial como via de


comércio interior entre Pará, Maranhão
e Goiás só ganharia fôlego a partir de
1782, quando foi suspensa pela Coroa
portuguesa a proibição da navegação no
Araguaia e no Tocantins. Um ano antes,
havia sido atingido um novo limite na
colonização do entorno do Tocantins
a partir do Pará, com a fundação do
posto militar e fiscal de Alcobaça (atual
Tucuruí), a 270 quilômetros de Belém.
Essa unidade, às margens do rio, foi
criada para pôr fim aos ataques dos
índios apinajés, que desciam o curso
d’água à procura de ferramentas.
O roteiro anônimo preocupou-se
ainda com a descrição e a localização das
populações indígenas. Assim como no
baixo Tocantins, as formas de lidar com o
gentio na capitania de Goiás envolviam a
atuação de autoridades civis e religiosas.
Na capitania, os jesuítas haviam criado,
em 1755, os aldeamentos indígenas uma rede de informações sobre o
“Perspectiva da Aldeya de São José de Mossamedes”. Ori-
de São José, São Francisco Xavier do império português. As informações e ginal de Joaquim Cardozo Xavier, 1778. Biblioteca Munici-
pal Mario de Andrade
Duro e São José de Mossâmedes, dos o material coletado por funcionários da
quais se afastaram dois anos depois, administração eram centralizados em
pressionados pela política pombalina que Lisboa. No caso de Goiás, governadores e
incentivava a pacificação dos índios por capitães gerais tiveram um papel central
meio da catequese leiga nos aldeamentos no exercício dessa política, marcada pelo
oficiais. Em 1773, os jesuítas foram viés utilitarista do pensamento iluminista
expulsos formalmente da colônia. luso-brasileiro, que incorporou as práticas
As viagens de autoridades voltadas de medição do território e contagem da
ao conhecimento e ao controle do população às rotinas administrativas.
espaço territorial da colônia a partir da Além das viagens de cunho
segunda metade do século XVIII faziam governamental, no último quartel
parte da política ultramarina de constituir do século XVIII surgiu um novo tipo
1500-1808 Capítulo 1 | 41

de expedição: as chamadas viagens convidado por Pombal a lecionar em


filosóficas. Essas incursões, realizadas Portugal. Vandelli elaborou instruções
por naturalistas viajantes com inspiração pormenorizadas para a realização das
iluminista, pretendiam assumir um viagens filosóficas, incluindo a coleta
caráter universal, não subordinado a de dados sobre a fauna e a flora, e a
interesses específicos de qualquer descrição dos costumes e da organização
império. Essa ambição de universalidade social das comunidades visitadas, com
apoiou-se em grande medida na a finalidade de verificar as possibilidades
utilização do sistema de classificação de desenvolvimento da agricultura e
das espécies proposto por Lineu, em a capacidade produtiva da população.
1735, que criou uma gramática aplicável Embora o trabalho de pesquisa
a todo o reino animal e vegetal. incorporasse os avanços científicos da
Em Portugal, o sistema de Lineu época, para os quais se reivindicava
teve como seu principal disseminador um caráter universal, os levantamentos
o genovês Domenico Vandelli, sábio eram feitos tendo em vista os interesses
coloniais e se prestavam a fundamentar
as intervenções da Coroa sobre os
territórios conquistados. Nesse momento,
assistia-se à gênese das tensões entre
os campos da ciência pura e da ciência
p
aplicada, nomeadas posteriormente
com esses termos.

Estampas da obra “Plantas do Certão do Gram Pará” de


Domenico Vandelli, reproduzidas em O feliz clima do Bra-
sil, de Domingos Alves Branco Muniz Barreto, 2008.
42 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A partir da década de 1770, com


a reforma universitária em Portugal e
a criação da Academia de Ciências de
Lisboa, jovens portugueses e brasileiros
começaram sistematicamente a se dirigir
à Europa para estudar. Toda uma geração
de coimbrões, cientistas graduados na
Universidade de Coimbra, foi formada nas
duas últimas décadas do século XVIII.
Muitos desses estudantes tomaram parte
em expedições científicas, no Brasil e em
outras colônias portuguesas na África e na
Ásia, e se tornaram quadros da burocracia
oficial das colônias portuguesas. A criação
de jardins botânicos desempenhou um
papel estratégico, dando suporte às
políticas iluministas de conhecimento
do meio natural das colônias.

No sentido horário, “Araceae Philodendron”, “Araceae”,


“Lecythidaceae“ e “ Orchidaceae”, estampas da obra Via-
gem filosófica pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro,
Mato Grosso e Cuiabá, de Alexandre Rodrigues Ferreira,
[1783-1793]. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil

Na outra página, “Surubim”, “Pirarara” e “Caitetu”, estam-


pas da obra Viagem filosófica pelas capitanias do Grão
Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, de Alexandre Ro-
drigues Ferreira, [1783-1793]. Fundação Biblioteca Nacio-
nal - Brasil
1500-1808 Capítulo 1 | 43

Portugal mantinha um rígido


controle da circulação dentro da colônia,
impedindo a entrada de estudiosos
estrangeiros e exercendo sem concessões
o privilégio sobre o comércio com o
Brasil. No entanto, o país não se furtou
a participar da rede internacional de
cientistas que se formou no século XVIII,
enfrentando o desafio de implementar
uma política de coleta e divulgação de
informações confiáveis sobre a natureza
e as populações brasileiras e de suas
demais colônias, mesmo com o risco de
franquear às grandes potências europeias
os conhecimentos obtidos. A viagem
O Jardim Botânico de Belém, criado em filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira,
1797 para a aclimatação de plantas, foi entre 1783 e 1792, que passou pelo
um exemplo do interesse na introdução baixo Tocantins, seguindo as instruções
de novas espécies de plantas em de Vandelli, pode ser considerada
diferentes regiões da colônia. um exemplo desse movimento.
44 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Mas a exploração do Tocantins no As principais iniciativas foram as


“Prospecto da Cidade de Santa Maria de Belém do Para”,
final do século XVIII foi marcada mais pelas novas viagens de Thomaz de Souza estampa da obra Viagem filosófica pelas capitanias do
Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, de Alexan-
tentativas de estimular o comércio entre Villa Real, realizadas nos anos de 1792 dre Rodrigues Ferreira, [1783-1793]. Fundação Biblioteca
Goiás e Pará por meio do rio do que pelo e 1793, inaugurando a interligação Nacional - Brasil

espírito das viagens filosóficas. Depois do comercial entre Vila Boa de Goiás e
Na outra página, “Frontaria dos Armazéns da Cia. Geral
ensaio frustrado do barão de Mossâmedes, Belém, com um percurso que incluía do Commércio”, estampa da obra Viagem filosófica pelas
capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá,
ainda na época em que esteve proibida os rios Vermelho, Araguaia e Tocantins.
de Alexandre Rodrigues Ferreira, [1783-1793]. Fundação
a navegação do Tocantins e do Araguaia, Thomaz de Souza deixou registrado Biblioteca Nacional - Brasil

ocorreram, no início da década de 1790, em um diário o roteiro minucioso das


experiências bem mais consistentes, viagens empreendidas nesse trajeto, no
que contaram com o apoio tanto de qual muitas vezes se refere às léguas
comerciantes quanto dos governadores que julgava ter percorrido, dando uma
de Goiás, Tristão da Cunha e Menezes, indicação clara da precariedade da
e do Pará, Francisco de Souza Coutinho, medição das distâncias ainda existente.
criador do Jardim Botânico de Belém. À exceção do trecho final da viagem,
1500-1808 Capítulo 1 | 45

no baixo Tocantins, já bem mais


conhecido e mapeado naquela época,
grande parte dos acidentes geográficos
encontrados ao longo dos rios ainda
permanecia sem nome, sendo indicados
de forma genérica no documento.

“Quarta feira 16 [de janeiro de 1793] –


Saí pelas seis horas, seguindo sempre
a mesma ilha grande, lago grande à
esquerda, da parte direita outro grande,
barranco de terra à esquerda, ilha redonda
no meio do rio, lago grande à esquerda
coberto de serrão na boca, barranco alto
da mesma parte, forma o rio sua largura,
e fiz pousada: julgo andar oito léguas.”
(Real, 1848: 415)
46 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1500-1808 Capítulo 1 | 47

Ao empreender uma tentativa de Deus de escaparem com vida, salvando-se


Na outra página, “Igarité, ubá e jangada”, estampa da obra
Viagem filosófica pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro, contabilização das distâncias percorridas, em cima de algumas pedras, e nunca jamais
Mato Grosso e Cuiabá, de Alexandre Rodrigues Ferreira, constou serem frequentadas: o primeiro dito
[1783-1793]. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil Thomaz de Souza registrou um total de
dos Mineiros é o melhor canal, e contudo
424 e um quarto entre as cidades de Vila arriscadíssimo, por ser certo que desde a sua
Boa e Belém, fazendo um quadro com entrada até a saída se pode dizer que é uma só
as distâncias parciais entre os pontos de cachoeira, onde gastamos dois dias em puxar
referência ao longo do percurso. Àquela as canoas pelas cachoeiras e entre pedras,
sem jamais descansar em andar com sirga.”
altura, apenas se iniciava o conhecimento
(Real, 1848: 426)
sobre o regime de cheias daqueles
rios e a influência que esses períodos Para o caso específico dessa
podiam ter na duração das viagens. cachoeira, o governador de Goiás
Na correspondência dos Tristão da Cunha e Menezes sugeriu a
governadores de Goiás e do Pará sobre fixação de moradores na região próxima,
as viagens de Souza, verifica-se uma que se encarregariam de socorrer os
exaltação das possibilidades comerciais navegantes, ajudando a transportá-los
da navegação fluvial nos rios Vermelho, por terra quando necessário, tornando
Araguaia e Tocantins. Um dos argumentos essa atividade um negócio lucrativo.
a favor era a garantia de exequibilidade
técnica do percurso, comprovada pelo “Este (...) meio, fácil de se adotar, suavizaria
igualmente a navegação do Tocantins e
sucesso das viagens de Thomaz de
Araguaia na referida cachoeira [de Itaboca].
Souza, apesar dos limitados recursos Qualquer [indivíduo] ali estabelecido, com
técnicos disponíveis e da dificuldade menor perigo de vida pela proximidade da
em determinar com precisão o tempo povoação, sem dependência de tantas forças,
necessário à sua realização. O único tanto para a defesa própria, como para o
pronto socorro dos navegantes, por ser o
trecho considerado realmente de difícil
trânsito de terra duas partes menor, e dar a
transposição era o da cachoeira de dita cachoeira passagem às canoas vazias,
Itaboca, no rio Tocantins. A descrição pode com maior razão fazer mais avultados
de Thomaz de Souza da cachoeira de interesses em um continente, segundo
Itaboca, na qual passou em 17 de abril dizem, bem situado, e beneficiar com grande
utilidade do público e dos particulares todo
de 1792, dava uma ideia precisa do tipo
o comércio do Tocantins e Araguaia.”
de perigo enfrentado pelos viajantes. (Menezes [1792], 1848, p: 439)

“(...) todos os três furos [de Itaboca] são Outro argumento favorável à rota
inavegáveis pela rapidez das suas correntezas
comercial no eixo Araguaia-Tocantins
e deformidades das cachoeiras, porque os
primeiros que tentaram por eles navegar surgiu a partir da comparação dos custos
uns pereceram, e outros deram graças a de outras formas de transporte.
48 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Segundo Tristão da Cunha e Menezes,


seria incomparavelmente mais barato
suprir o comércio da região entre
Pará e Goiás por via fluvial do que por
terra a partir dos portos marítimos
do Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo,
como vinha ocorrendo até então.
O governador do Pará, Dom
Francisco de Souza Coutinho, também
aprovava a utilização do Araguaia e
do Tocantins como via comercial,
concentrando suas preocupações na
constituição de algum tipo de controle
no rio Tocantins, na região da cachoeira
de Itaboca, de forma a evitar ao mesmo
tempo os extravios de ouro, a fuga
de escravos e os ataques dos índios
que povoavam as margens, além de
possibilitar o descanso daqueles que
se empenhavam nessas longas e
trabalhosas viagens. Coutinho sugeria
ainda que fossem doadas terras para
a plantação de roças, de preferência
contíguas, aos que se estabelecessem
na região, para que pudessem se
defender melhor dos índios e suprir os
navegantes com gêneros alimentícios.
Apesar da preocupação com
os ataques dos gentios, nos diários
de viagem de Thomaz de Souza fica
patente o auxílio prestado pelos nativos
aos navegantes, com a indicação das
melhores rotas a serem seguidas na
ultrapassagem de obstáculos fluviais.
1500-1808 Capítulo 1 | 49

“(...) graduei um cordel e pondo-lhe certo


peso em uma das suas extremidades operava
com essa chamada barquinha na forma
seguinte: depois de examinar o fundo em
que me achava, marcava o meu relógio e
vendo o caminho que fazia em um minuto,
que para maior certeza repeti até terceira
vez, tirava o meio proporcional, e fazendo
a analogia ia buscar as léguas segundo as
horas que tinha feito de caminho durante o
A partir de 1798, uma carta da dia, que se vêem à margem apontadas.”
Na outra página, “Praça das Mercês” e “Praça do Pelouri-
nho”, edificações em Belém mandadas fazer por Francisco rainha D. Maria I a Francisco de Souza (Menezes [1800], 1918: 173-174)
de Souza Coutinho. Estampas da obra Viagem filosófica
pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso Coutinho, incentivando ações em prol da
e Cuiabá, de Alexandre Rodrigues Ferreira, [1783-1793]. navegação no Tocantins, fez com que O diário apresenta uma descrição
Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
todos os governos posteriores cuidassem minuciosa do cotidiano da viagem, dos
“Canoa Artilheira”, estampa da obra Viagem filosófica de promovê-la. Nos dois anos seguintes, locais por onde passaram e da forma como
pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso
o governador de Goiás João Manoel de foi possível transpô-los, registrando-se
e Cuiabá, de Alexandre Rodrigues Ferreira, [1783-1793].
Fundação Biblioteca Nacional - Brasil Menezes fez também uma viagem de várias vezes a necessidade de sair das
reconhecimento dos rios Tocantins e águas e percorrer trechos por terra e de
Araguaia. No diário de Menezes, embora a usar varejões e sirgas para navegar. Vários
maior parte das distâncias seja medida pelo episódios de conserto de embarcações são
tempo gasto em percorrê-las, e não pelo mencionados, assim como as dificuldades
espaço transposto, há um esclarecimento para garantir a alimentação e o grande
sobre o método utilizado na expedição número de membros da expedição
para medir as léguas no caminho. que adoeceu, atacado por sezões.
50 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Habitação indígena” e “Índio mura inalando paricá” es-


tampas da obra Viagem filosófica pelas capitanias do Grão
Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, de Alexandre Ro-
drigues Ferreira, [1783-1793]. Fundação Biblioteca Nacio-
nal - Brasil

Em 1804, o sargento-mor da Capitania Esse tipo de sugestão aparece


do Pará, Francisco José Rodrigues Barata, incorporado na expedição ordenada
publicou um documento sobre a região de em 1805 pelo governador de Goiás,
Goiás, indicando a navegação do Araguaia e Dom Francisco de Assis Mascarenhas,
Tocantins como essencial à sua interligação programada para descer o rio Araguaia
comercial aos portos do Pará. Em relação à em direção ao Pará. Foram construídas
questão dos índios que habitavam a região, cinco canoas grandes e duas montarias,
Barata defendeu que os aldeamentos oficiais conduzidas por 62 índios e 27
fossem feitos nas margens dos rios, ou remadores. A essas embarcações se
o mais próximo possível das habitações, juntaram três comerciantes de Crixás
para que os nativos fossem integrados à e Santa Rita com quatro canoas,
extração das drogas do sertão, que tão carregadas com 25 mil quilos de
bem conheciam, e à navegação, quer açúcar, couros, algodão e fumo. As
como remeiros, quer como carregadores, canoas de Crixás eram tripuladas,
suprindo as expedições com a tripulação entre outros, por 14 índios xerentes
necessária, fato que já vinha ocorrendo e 48 caiapós das aldeias de São José
em certa medida há algum tempo. de Mossâmedes e de Pedro II.
1500-1808 Capítulo 1 | 51

A necessidade de a Coroa portuguesa para o interior do Brasil, um instrumento


“O brasão português na bandeira da expedição”, aquarela
de um dos manuscritos da obra Viagem filosófica pelas se apropriar do espaço da colônia brasileira para a gestão de populações, a defesa
capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá,
de Alexandre Rodrigues Ferreira, [1783-1793]. Fundação – ambição para a qual era indispensável o do território ocupado e um meio de
Biblioteca Nacional - Brasil conhecimento e a exploração do território transporte comercial privilegiado para a
– e a conturbada definição de fronteiras dinamização das comunicações internas
entre os impérios espanhol e lusitano entre as capitanias. Um dos caminhos que
perduraram durante o século XVIII e o andam – na expressão consagrada pelo
início do XIX. O papel do Tocantins nesses historiador Sérgio Buarque de Holanda –, o
processos já havia ultrapassado as ações Tocantins se revelava cada vez mais crucial
de catequizar ou escravizar índios – o na construção de um polo de riquezas
rio era fundamental via de penetração no norte e centro-oeste da colônia.
Capítulo 2
A abertura dos portos
e a redescoberta do Brasil

1808-1822
54 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A IMINENTE INVASÃO DE PORTUGAL a metrópole. Pela primeira vez, cientistas


“Embarque do Príncipe Regente D. João VI para o Brasil”,
PELAS TROPAS NAPOLEÔNICAS precipitou estrangeiros puderam realizar missões desenho a nanquim elaborado por Giuseppe Gianni, [1830].
Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
a vinda da Corte para o Brasil em 1808, científicas pelo interior do Brasil. Esse
e a colônia foi alçada à posição de sede fato, aliado à produção luso-brasileira de
do império luso. A família real instalou-se documentos contendo levantamentos de
no Rio de Janeiro, e um dos primeiros informações que permitissem conhecer
atos do rei D. João VI foi abrir os portos e dominar o território colonial levou a
brasileiros às chamadas nações amigas uma espécie de novo descobrimento
de Portugal, determinando o fim da do Brasil, tal o volume de dados
obrigatoriedade do comércio exclusivo com colecionados sobre a natureza do país.
1808-1822 Capítulo 2 | 55

Da chegada da família real até


“Diferentes formas de cabanas” e detalhe de “Potes, ces-
tos e armas ofensivas”, litografias de Charles Etienne Pier- 1822, ano em que o Brasil se tornou
re Motte. Parte de Viagem pitoresca e histórica ao Brasil
(Volume 1), organizada por Jean Baptiste Debret, [1834]. independente, o país continuou a ser
Brasiliana USP administrado segundo a lógica imperial.
Agentes públicos e privados ocupavam-
se da elaboração de relatórios, roteiros,
memórias e compêndios, compilando ou
atualizando dados sobre vários aspectos
das capitanias, tais como modos de
governar, flora, fauna, hidrografia,
vocabulário, agricultura, escravidão de
africanos e ações junto aos indígenas.
Esses escritos inseriam-se nas diretrizes
da política portuguesa de meados do
século XVIII, inspirada pelo marquês de
Pombal, que apontavam o conhecimento
como condição para o desenvolvimento
das potencialidades do império.
56 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Na região do Tocantins, a produção fora empregada no apogeu da extração


de estudos serviu para a delimitação de do minério. No início do século XIX, a
fronteiras – não mais entre os impérios frente pastoril baiana, estabelecida no
luso e espanhol, como no período da centro sul do Maranhão desde meados
colônia, mas entre as capitanias de Goiás, do século XVIII, atingiu as margens do rio
Maranhão e Pará. Buscava-se a marcação Tocantins, determinando a substituição das
dos limites por meio do traçado dos atividades de mineração pela pecuária.
cursos d’água, como o do rio Tocantins. As comunidades indígenas tinham seus
A literatura das viagens de caráter territórios apropriados para a instalação de
político-administrativo ainda refletia as fazendas de criação de gado no norte de
tensões entre diferentes projetos de Goiás e no sul do Maranhão. Eventualmente
ocupação do território e de utilização os indígenas eram escravizados para
da mão de obra indígena. O declínio da trabalhar nas áreas agrícolas da foz do
produção de ouro levou à interrupção Tocantins aos arredores de Belém, que se
da importação de escravos de origem estendiam pelo litoral nordeste do Pará,
africana para a capitania de Goiás e à norte do Maranhão e vale do rio Itapecuru
dispersão de boa parte daquela que até Aldeias Altas (atual Caxias), no Maranhão.

“Habitantes de Goiás”, gravura de Joseph-Louis Leborne.


Parte de Viagem pitoresca através do Brasil organizada por
Johann Moritz Rugendas, [1835]. Fundação Biblioteca Na-
cional - Brasil
1808-1822 Capítulo 2 | 57

Houve também tentativas de


fomento das relações comerciais entre
Goiás, Maranhão e Pará. A ideia era
transportar pelo rio Tocantins produtos
agrícolas e os indígenas aprisionados em
expedições financiadas por fazendeiros
e comerciantes para captar mão de
obra para as regiões produtoras de arroz
e algodão do Pará e do Maranhão.
Ao mesmo tempo, havia necessidade
de se instituir mecanismos de defesa
aos ataques indígenas, garantindo que
a navegação do Tocantins e o percurso
das estradas no seu entorno fossem
feitos com segurança. Nesse cenário,
o relacionamento com os índios era
marcado por inúmeras ambiguidades:
podiam ser vistos como grupos a serem
afastados para a liberação de terras para
a pecuária ou como mão de obra em
potencial para a produção agrícola e a
navegação fluvial, já que os remadores
“Máquina usada no descaroçamento do algodão” e
“Flor do algodão”, gravuras de Inácio José Maria Fi-
das tripulações eram em geral indígenas.
gueiredo, constantes da obra Memória sobre a cultura Um dos primeiros documentos do
dos algodoeiros e sobre o método de escolher e en-
sacar, 1799. Brasiliana USP período a registrar essas preocupações
foi escrito em 1808 por Joaquim Teotônio
Segurado, que, no ano seguinte, assumiria
o cargo de ouvidor da comarca do
norte – para tentar fazer frente à crise
da mineração, a capitania de Goiás foi
dividida naquele ano em duas comarcas:
a do sul, com sede em Vila Boa, e a
do norte, sediada primeiro em São
João das Duas Barras e depois, como a
cidade não conseguiu atrair habitantes,
transferida para Palma, atual Paranã.
58 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Sauvages Goyanas”, litografia de Charles Etienne Pier-


re Motte. Parte de Viagem pitoresca e histórica ao Brasil
(Volume 1), organizada por Jean Baptiste Debret, [1834].
Brasiliana USP
1808-1822 Capítulo 2 | 59

Em seu relato, intitulado Reflexões Ele cobrava ainda ações do governo


“Província do Araguaya segundo projecto de nova divisão
do Império pelo deputado Cruz Machado”, mapa elaborado sobre o melhoramento da capitania central para a melhoria da navegação
por José Ribeiro da Fonseca Silvares, 1875. Fundação Bi-
blioteca Nacional - Brasil de Goiás, Segurado preconizava a no Tocantins. Propôs um projeto
substituição da economia aurífera pela para facilitar a passagem por suas
agrícola, chamava a atenção para a corredeiras com o uso de diversos tipos
fertilidade das terras de Goiás e levantava de aparelhos, argolões e correntes de
a possibilidade de exportar gêneros ferro, chegando a receber do governo
agrícolas para o Pará e a Europa usando do Pará algumas ferramentas para a
os rios da região, entre eles o Tocantins, desobstrução das cachoeiras de Tauiri.
como via de escoamento da produção. Entretanto, seu intento não teve sucesso.

“(...) o projeto não foi avante por motivo


bem singelo. O Ouvidor conheceu a pobreza
da Província [de Goiás] e as grandes
dificuldades que tinha de encontrar; e,
por isso, cuidando de estabelecer boas
fazendas de criar gado perto da vila de São
João da Palma, deixou aos vindouros a
destruição das cachoeiras do Tocantins.”
(Matos, 2004: 358)

Anos depois, em 1821, Segurado


lideraria um movimento político visando
dividir Goiás em duas partes, com
a intenção de sustar a decadência
econômica e o abandono da região
setentrional da capitania. Essa iniciativa
pode ser considerada o primeiro
antecedente da proposição separatista
que, quase dois séculos mais tarde,
daria origem ao atual estado do
Tocantins, desmembrado de Goiás.
60 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Além das empreitadas comandadas


por autoridades do governo para o
reconhecimento do território ao longo
do Tocantins, expedições privadas se ou em 26 de abril de
de 1809 e terminou
colocaram a serviço do Estado, entre as ão das razões que o
1810. Na explicação
quais se destacou a de Sebastião Gomes teriam animado a fazer a jornada, Berford
da Silva Berford, fazendeiro maranhense sustentava a ideia de que o comércio seria
que, em cumprimento de Cartas Régias o único meio de promover a indústria nos
expedidas em março de 1790, se propôs incultos sertões, daí advindo a necessidade
a dar informações ao rei de Portugal e de conhecer boas estradas e caminhos “Colar de sementes composto por três voltas”, adorno xa-
vante confeccionado por sementes de tiririca e terminados
ao governador da capitania do Maranhão fluviais para aproximar pontos remotos. por unha de caetetu. Coleção Maria José N. Sardella. Museu
sobre alguns tópicos considerados Na região do Tocantins, o roteiro de do Índio/Funai - Brasil

estratégicos para a região: a situação do Berford foi o primeiro a dar informações


Na outra página, “Mappa da viagem da cidade de S. Luiz
arraial do Príncipe Regente, no julgado precisas sobre a margem oriental do do Maranhão até a Corte do Rio de Janeiro”, elaborado por
de Pastos Bons; a navegação do rio rio no trecho entre o sul do Maranhão e Sebastião Gomes da Silva Berford, 1810. Brasiliana USP

Itapecuru até lá e as diferentes estradas Goiás. Ele mapeou os trechos por onde
que conduziam ao local e dali seguiam passou, ainda que não tenha alcançado
até o rio Tocantins; a descoberta do maior acuidade na medição das distâncias,
Tocantins na capitania de Maranhão e noticiou com detalhes a chegada
e de sua navegação desde Cametá, ao Tocantins a partir do Maranhão.
no Grão Pará, até Porto Real (depois Financiada com recursos próprios,
Porto Imperial e atual Porto Nacional), a viagem de Berford foi marcada por um
em Goiás; e o caminho que ligava encontro na região entre o Tocantins e
por terra as capitanias do Maranhão, o rio Manoel Alves Grande com índios
Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro. xavantes que haviam fugido da aldeia
Fazendeiro estabelecido às margens Pedro III ou Carretão, em Goiás. Esse
do rio Itapecuru, Berford tinha interesse na encontro, que ocorreu sem maiores
obtenção de cargos, patentes e prestígio conflitos – afinal, a expedição de Berford
junto aos governos locais e à Corte. De contava com 40 soldados – deu ocasião
fato, após a viagem, recebeu a patente ao fazendeiro de expressar no roteiro sua
de coronel. Seu relato foi publicado em opinião sobre a necessidade de defesa
1810 pela Imprensa Régia do Rio de contra os indígenas. Comentando a criação
Janeiro com o título de Roteiro e mapa do arraial do Príncipe Regente, em 1807,
da viagem da cidade de São Luís do onde foi estabelecida uma guarnição de 50
Maranhão até a Corte do Rio de Janeiro. homens, Berford reforçava a oportunidade
A viagem iniciou-se em 29 de setembro de organizar forças com essa finalidade.
62 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“[deve-se montar] expedições contra a acima da foz do rio Manoel Alves Grande.
“Prospecto da casa da residência do engenho de açúcar do
multiplicidade de gentios possuidores Segundo as informações contidas na capitão João Manoel Roriz, situada no rio Araguaia, perto da
daqueles terrenos, que além de inquietaram cidade do Pará”, estampa da obra Viagem filosófica pelas
Memória sobre a descoberta e povoação capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá,
e sacrificarem as fazendas e seus colonos,
de São Pedro de Alcântara, enviada três de Alexandre Rodrigues Ferreira, [1783-1793]. Fundação
tornavam intransitáveis os caminhos e Biblioteca Nacional - Brasil
comunicação desta capitania com a do anos depois por Magalhães ao governador
Pará e Goiás, tão interessantes para a de Goiás, a nova povoação serviria como
prosperidade das ditas capitanias.” ponto de reabastecimento de víveres
(Berford, 1810: 12)
e de descanso para os comerciantes
Na mesma época da viagem de que navegavam pelo Tocantins, além
Berford, foi estabelecida uma linha de de entreposto comercial para atender
correios entre o Rio de Janeiro e Belém, aos habitantes do oeste do julgado de
via Goiás, evitando-se assim a via marítima Pastos Bons, no Maranhão, com as
pela costa brasileira, bem mais demorada, mercadorias que viriam de Belém – sal,
mas até então a única utilizada. O novo tecidos e ferragens –, até então adquiridas
percurso se estendia do Rio de Janeiro até em Caxias. Além disso, Magalhães
São Romão, em Minas Gerais, nas margens pretendia cultivar algodão às margens
do rio São Francisco, de onde foi aberto um do Tocantins para vendê-lo em Belém.
caminho terrestre até Porto Real. De Porto Outro negócio do comerciante
Real chegava-se até Belém, navegando era o aprisionamento de nativos para
o Tocantins. Em 1810, os estafetas já venda em Belém ou para utilização
faziam a linha Rio-Belém, vencendo nas atividades agrícolas planejadas. As
280 léguas por terra e 250 pelo rio. expedições de aprisionamento de índios
Ainda em 1810, registrou-se outra promovidas por Magalhães passaram a
iniciativa para dinamizar a atividade contar com apoio governamental a partir
comercial entre Porto Real, em Goiás, de 1811, ano em que foi expedida uma
e Belém, através do rio Tocantins. O Carta Régia que permitia a escravização
comerciante de fumo e solas Francisco temporária dos índios do Tocantins
José Pinto de Magalhães, natural de Porto e do Araguaia, sob determinadas
Real, estabeleceu naquele ano a povoação condições. O tratamento a ser
de São Pedro de Alcântara (atual Carolina), dispensado às comunidades indígenas
na margem direita do Tocantins, um pouco dependeria da reação de cada uma.
1808-1822 Capítulo 2 | 63

“Plano do Pará”, Início do século XIX. Original manuscrito da


Direção dos Serviços de Engenharia do Gabinete de Estu-
dos Arqueológicos da Engenharia Militar de Lisboa

“Santa Maria de Belém do Gram Para”, gravura de autor


não identificado que ilustra o atlas que acompanha os três
volumes da obra Reise in Brasilien, organizada por Spix e
Martius, (1823-1831). Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
“Rios Tocantins e Araquaya, mapa organizado por ordem do
governador da Capitania de Goyas, Fernando Delgado Freire
de Castilho”, 1813. Arquivo Histórico do Exército

“Cabeças de diferentes castas indígenas”, litografia de


Charles Etienne Pierre Motte. Parte de Viagem pitoresca e
histórica ao Brasil (Volume 1), organizada por Jean Baptiste
Debret, [1834]. Brasiliana USP
1808-1822 Capítulo 2 | 65

“Quanto ao procedimento com os gentios, “(...) a todos os que forem [se] estabelecer
sou servido determinar-vos que, com aquelas nas margens e sertões dos ditos rios
nações que não cometerem hostilidades, [Tocantins, Maranhão e Araguaia] serão
mandeis usar de toda moderação e franqueadas as mesmas graças e privilégios
humanidade, procurando convencê-las da que fui servido conceder aos povos da
utilidade que lhes resultará de se conservarem capitania de Minas Gerais pela minha
em boa inteligência e amizade com seus carta régia de 13 de maio de 1808, (...)
povos, para o que parece conveniente [se] relativamente ao rio Doce, tanto a respeito
empregue algumas dádivas, e até introduzir da isenção dos dízimos de suas culturas
com eles alguns cristãos, que lhes ensinem e dos direitos de entrada dos gêneros de
a agricultura e os ofícios mecânicos mais comércio dessa capitania de Goiás, sendo
necessários.(...) Acontecendo, porém, que navegados pelos mencionados rios, como
este meio não corresponda ao que se também a respeito da moratória concedida
espera, e que a nação carajá continue nas aos devedores de minha real fazenda, e
suas correrias, será indispensável usar contra ao tempo de serviço que poderão haver
ela da força armada; sendo este também daqueles índios, que, não querendo pelos
o meio de que se deve lançar mão, para meios brandos e suaves de que com
conter e repelir as nações apinagé, xavante, eles tenho mandado usar, e que agora
xerente e canoeiro, porquanto, suposto novamente recomendo, viver tranquilos
que os insultos que elas praticam tenham e sujeitos às minhas leis cometerem
origem no rancor que conservam pelos maus hostilidades contra os meus fiéis vassalos.”
tratamentos que experimentaram de parte de (Alencastre, 1865: 75)
alguns comandantes das aldeias, não resta
presentemente outro partido a seguir senão
Frontispício do exemplar de O Patriota, jornal litterário, po- Provavelmente a melhor descrição
litico e mercantil do Rio de Janeiro, no qual foi publicado
intimidá-los, e até destruí-los, se necessário
o documento Memória sobre o Descobrimento, Governo, for, para evitar os danos que causam.” da situação de Goiás no início do período
População, e cousas mais notaveis da Capitania de Goyas, (Alencastre, 1865: 76) joanino foi feita pelo padre Luiz Antonio
escrito pelo padre Luiz Antonio da Silva e Souza, 1814. Bra-
siliana USP da Silva e Souza no documento intitulado
A mesma Carta Régia autorizou a Memória sobre o descobrimento, governo,
criação de uma companhia de comércio população e coisas mais notáveis da
entre o Pará e Goiás, com a utilização capitania de Goiáz, concluído em 1812.
das vias fluviais por 15 anos. Apesar da O trabalho resultou de uma solicitação
concessão de um fundo de 100 contos da câmara de Vila Boa para registrar por
de réis e vários privilégios, o plano não escrito os fatos mais importantes de seu
foi adiante devido ao escasso tráfico tempo, o que foi feito naquele ano por
comercial entre as duas províncias. Silva e Souza, também político e jornalista.
Visando fomentar o povoamento da Esse registro foi elaborado sob
região centro-norte de Goiás, a carta o formato de memória, coligida,
estabelecia uma série de medidas, que segundo seu autor, em pouco mais
mais uma vez incluíam disposições a de dois meses, durante os quais
respeito da utilização do trabalho indígena. não saiu da capital de Goiás.
66 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Além de propor alternativas aos entraves em armas e 12.520 fogos (residências).


“Tipo de embarcação”, gravura da obra Narrativa de uma
ao desenvolvimento, as memórias eram O total de habitantes da capitania seria viagem de Lima ao Pará, organizada por William Smyth e
Frederick Lowe, 1836. Biblioteca Mario de Andrade
produzidas também com o objetivo de 50.365 indivíduos, cabendo notar
de historiar a experiência colonial, a ausência de registro do número de
Na outra página, “Mappa geográfico da capitania do Ma-
compilando informações referentes à indígenas nesse cômputo. Quanto ao rio ranham”, elaborado por Francisco de Paula Ribeiro, 1819.
Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
história da colonização portuguesa. Tocantins, o autor considerava, como a
De acordo com Silva e Souza, a maioria de seus contemporâneos, que seria
Comarca do Norte de Goiás, que abrangia útil fomentar sua navegação como via de
boa parte do rio Tocantins, contava em integração comercial entre as capitanias
1812 com 8.512 pessoas livres, 5.376 de Goiás e do Pará, não se detendo no
escravos, 735 pessoas capazes de pegarem detalhamento de medidas para isso.
1808-1822 Capítulo 2 | 67

Enquanto viajantes oficiais e


privados prosseguiam na identificação
de possíveis atividades econômicas
na região, a Coroa perseguia a difícil
delimitação das fronteiras entre as
capitanias da região. Em agosto de
1813, por um aviso régio, ordenou-
se a demarcação dos limites entre
o sudoeste do Maranhão e o norte
de Goiás. Foi incumbido da tarefa o
português Francisco de Paula Ribeiro,
que desde o fim do século XVIII servia
no Maranhão como comandante das
tropas militares encarregadas de
cuidar dos índios selvagens. Encerrado
o trabalho, ficou estabelecido que
o rio Manoel Alves Grande seria a
fronteira entre as duas capitanias.
Paula Ribeiro redigiu um documento
com os trajetos que percorreu entre as
duas capitanias: o Roteiro da viagem
que fez o Capitão Francisco de Paula
Ribeiro às fronteiras da capitania do
Maranhão e da de Goiás no ano de
1815 em serviço de S. M. Fidelíssima,
abrangendo o percurso entre São Luís,
Caxias, Pastos Bons e São Pedro de
Alcântara, acrescido do Mapa geográfico
da capitania do Maranhão que pode
servir de memória sobre a população,
cultura e coisas mais notáveis da
mesma capitania, concluído em 1819,
no qual parte do rio Tocantins e as
principais povoações situadas em
suas margens estão localizadas.
68 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O roteiro registra a pouca


frequentação do Tocantins. Naquela
época, apenas cinco ou seis embarcações
se encarregavam do comércio entre
o Pará e Goiás anualmente. Os lucros
com essa atividade eram escassos:
devido às dificuldades de navegação,
somente botes de pequeno porte podiam
realizar a viagem. Como era necessário
desembarcar em certos trechos do rio
e levar as cargas por terra, os viajantes
ficavam vulneráveis aos ataques dos
índios. Um ponto favorável à navegação
pelos dois grandes rios de Goiás, o
Tocantins e o Araguaia, era a facilidade
em se obter alimentos durante a viagem.

“(...) o Tocantins como o Araguaia são muito


abundantes de peixe e caça, tanto assim que
o estilo e prática dos navegantes é meter no
Pará, para víveres de viagem, sal, farinha de
pão, aguardente de cana, pólvora, chumbo
e anzóis de pescar os peixes, porque o mais
que lhes é necessário para sustentar-se em
tão longa viagem, que chega a seis meses
indo a Vila Boa pelo Araguaia, e a três ou
quatro meses indo ao Porto Real do Pontal
pelo Tocantins, lhes fornece qualquer destes
dois rios, especialmente o primeiro.”
eiro.”
(Ribeiro,
eiro, 1848: 37-38)
1808-1822 Capítulo 2 | 69

Paula Ribeiro enumerou os principais Como era usual na época, além


Na outra página, “Sementes utilizadas para fazer colares,
plantas para tatuagem e plantas nutritivas” litografia de gêneros comercializados entre as duas da descrição do percurso e dos
Charles Etienne Pierre Motte. Parte de Viagem pitoresca e
histórica ao Brasil (Volume 1), organizada por Jean Baptiste capitanias e caracterizou os negociantes elementos naturais, o roteiro trazia uma
Debret, [1834]. Brasiliana USP que se ocupavam dessa atividade. exposição das opiniões e sugestões
“Haemulon Canna” e “Mesoprion Uninotatus”, estampas de do autor quanto às possibilidades
Johann Baptiste Von Spix. Parte da obra Selecta Genero et
“(...) desde o porto do Pará constam de sal, de desenvolvimento econômico das
Species Piscium, 1829. Itaú - Coleção Brasiliana
importantíssimo artigo, poucos panos e
áreas visitadas. Para Paula Ribeiro, a
líquidos da Europa; retornando [das minas de
“Mercador de tabaco”, detalhe da litogravura de Thierry Frè-
Goiás] na volta para o mesmo porto, algum situação de penúria em Goiás deixaria
res. Parte de Viagem pitoresca e histórica ao Brasil (Volume
2), organizada por Jean Baptiste Debret, [1834]. Fundação pano grosso tecido de algodão, couramas de existir se fossem achadas riquezas
Biblioteca Nacional - Brasil
de boi, solas, legumes e tabaco de fumo, naturais nas regiões inexploradas entre
por cujo tráfico se pode conhecer que os seus rios. No Maranhão, discordava
negociantes metidos nesta negociação tão
da promoção do plantio de algodão
pequena nunca passam de gente pobre, que
se vê obrigada a lançar mão de tão duvidoso em detrimento da agricultura de
e arriscado recurso para poder sustentar-se.” subsistência, o que, segundo ele, tinha
(Ribeiro, 1848: 38) como resultado infalível a fome geral.
70 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Mas seus comentários se possibilidades de aproveitamento racional


centraram na relação entre fazendeiros, das riquezas da região sertaneja; a
comerciantes e povos indígenas. Ribeiro descoberta de vias de navegação e de
estimou em cerca de 90 a 100 mil caminhos terrestres mais apropriados à
indivíduos a população de índios na circulação dentro da capitania e para o
região sudoeste do Maranhão que se contato com as capitanias vizinhas; e a
estendia até o rio Tocantins e criticou descrição ampla de uma variedade de
as estratégias utilizadas pelos colonos produtos dos três reinos da natureza,
para lidar com os nativos. Segundo com a coleta de amostras para serem
ele, se as ordens e decretos do rei de submetidas a exame em São Luís ou
Portugal tivessem sido corretamente na Academia de Ciências de Lisboa.
cumpridos, teria sido fácil ganhar Francisco de Paula Ribeiro faleceu
para o Estado aqueles vassalos. no rio Tocantins no ano de 1823, em
consequência de confrontos com grupos
“(...) não é o interesse de cultivar novas terras, partidários da independência do país.
nem o de defender as cultivadas, o primeiro Ribeiro lutava a mando do governo do
fim que tem feito armar contra os desgraçados Maranhão junto às forças que resistiam
índios esta capitania [de Goiás], porém sim
à independência do Brasil. Logo na
o da ambição de lhes escravizar os filhos,
nunca para os educar nem para os empregar primeira batalha, em frente à cachoeira
utilmente em serviços durante o tempo de Santo Antônio, Ribeiro foi obrigado
que nas circunstâncias acima a lei preserve, a se render, indo para a ilha da Botica,
ou deles formar os homens pretendidos;
próxima a São Pedro de Alcântara, onde
mas para os vender em público mercado
foi morto por um fazendeiro maranhense.
na qualidade de uma escravidão perpétua,
como tantas vezes já têm acontecido.” Além do material contido nos
(Ribeiro, 1848: 77) relatos dos agentes governamentais
e seus aliados, nesse período, a
Paula Ribeiro assumia plenamente produção de literatura de viagem por
a condição de representante da parte de naturalistas estrangeiros
autoridade imperial, contestando as significou a primeira grande abertura
ações dos colonos que considerava do país à exploração de cientistas de
em desacordo com a Coroa. Além das outros países. No caso do Tocantins, a
questões associadas ao estabelecimento principal referência foi Johann Emanuel
de fronteiras entre capitanias, as Pohl, que veio com a Missão Austríaca,
inúmeras viagens que empreendeu preparada e enviada ao Brasil por
pelo Maranhão atenderam a outras ocasião do casamento da princesa
finalidades, como a identificação das Leopoldina com D. Pedro, em 1817.
1808-1822 Capítulo 2 | 71

“Rio Maranhão e serra das Figuras”. Aquarela de Thomas


Ender elaborada a partir de desenho de J. E. Pohl. Academia
de Belas Artes em Viena (Áustria)
72 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Médico formado em Praga, em


1808, Pohl havia sido encarregado
cas.
inicialmente das descrições mineralógicas.
Com o retorno prematuro do botânico
da missão, Johan Christian Mikan, para
a Europa, Pohl ocupou-se também
das coleções de vegetais, assumindo
ainda, por interesse próprio, algumas
rreu
descrições no ramo da zoologia. Percorreu
o rio Tocantins entre Porto Real e Cocal
Grande, em uma jornada de ida e volta
o
que durou 22 dias, em 1819, no âmbito
de uma viagem mais ampla por Goiás.
A Missão Austríaca foi instruída
pelos critérios científicos estabelecidos
por Alexander Von Humboldt, que
orientaram, de resto, o trabalho dos
ro
demais naturalistas viajantes do primeiro
dt
quartel do século XIX no Brasil. Humboldt
so
havia dado novos contornos ao processo
de apreensão do espaço, marcando a
gênese da geografia como ciência.
A partir dessa época, o método
preconizado buscava singularizar os que se encontravam os espécimes naturais
“Physocalymma florida” e “Fraciscea ramosissima”, estam-
territórios coloniais e nacionais a partir coletados e que constituíam as coleções pas e frontispício da obra Plantarum brasiliae, organizada
por Johann Emanuel Pohl, 1827. Itaú - Coleção Brasiliana
da caracterização da natureza que os que enviavam para os museus europeus.
compunha, indo além da mera aplicação Nessa tarefa recorriam não apenas a
Na outra página, “Cidade de Goiás”, desenho em água-forte
do sistema universal de classificação textos escritos, mas também a imagens. e buril de Johann Emanuel Pohl, 1830. Itaú - Coleção Bra-
siliana
científica proposto por Lineu. As partes Na descrição da capitania de Goiás,
eram estudadas para se definir o todo: Pohl apoiou-se em grande medida nos
nenhum elemento descrito deveria ser dados históricos e geográficos contidos
visto fora do panorama maior no qual se no trabalho do padre Silva e Souza. O
encontrava. Os relatos de viagem dos diário de viagem de Pohl, Viagem ao
membros da Missão Austríaca, dentro interior do Brasil, reproduz, por exemplo,
dessa perspectiva, sempre apresentavam toda a história política e econômica da
a preocupação em descrever o cenário em capitania contada por Silva e Souza.
1808-1822 Capítulo 2 | 73
74 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Assim como inúmeros estrangeiros


que visitaram o Brasil no século
XIX, o naturalista atribuiu o fracasso
das iniciativas de agentes privados
e governamentais em promover
a navegação nos rios Araguaia e
Tocantins à indolência inata do povo.
Segundo Pohl, o rio era chamado
de Tocantins apenas pelos habitantes de
Goiás, sendo tratado pelos moradores
do Pará como rio Maranhão. Em seu
relato, portanto, o Tocantins tem esse
nome somente entre a confluência
com o Araguaia e a foz. Todo o trecho
anterior, rio acima, é denominado
de Maranhão. Sobre Porto Real, Pohl
ofereceu uma descrição sumária.

“O arraial de Porto Real é uma das


povoações mais novas do Brasil. Fica
numa eminência, à margem do Maranhão
[Tocantins], de onde se descortina um
belo panorama sobre o rio. Limita-se a margem oposta do Maranhão em 1738 e que,
“Manihot longepetiolata” e “Manihot heterophylla”, estam-
oeste com uma cordilheira que se estende antes, especialmente por causa do ouro, pas da obra Plantarum brasiliae, organizada por Johann Ema-
de sul para norte. Causa incômodo aos era célebre, tendo sido todos os habitantes nuel Pohl, 1827. Itaú - Coleção Brasiliana
habitantes terem de pagar essa bela encontrados no último lugar assassinados
vista com o trabalho que dá a condução pelos índios xavantes; e também Carmo
da água a essa altura. O número de e a Vila de São João das Duas Barras.”
casas sobe a umas trinta, mas poucas (Pohl, 1976: 228)
são cobertas de telhas, sendo a maioria
coberta de palha de palmeira. Entre as
melhores casas estão a que eu tomei
(...) e a casa do comandante. A Igreja
é recém-construída (...). Aqui mora um
comandante (...) encarregado do presídio,
isto é, da proteção contra os índios. Tem de
promover também a ligação entre o correio
do Pará a Porto Real a cada quinzena (...).
A jurisdição desse vilarejo compreende o
arraial de Pontal, que foi fundado (...) na
1808-1822 Capítulo 2 | 75

Quanto às demais localidades que Impressionado com o trabalho de


percorreu às margens do Tocantins, o ambos, Pohl não fez qualquer menção
naturalista se deteve particularmente à escravização dos indígenas pelos dois
no relato da fundação e da história de comerciantes, denunciados por Paula
São Pedro de Alcântara e da aldeia de Ribeiro, destacando antes as habilidades
Cocal Grande, ao norte. No caso de São de Magalhães para negociar com os
Pedro de Alcântara, elogiou o papel, junto craôs e de Carvalho para lidar com os
aos índios, de Francisco José Pinto de apinajés. Estes últimos são descritos por
Magalhães, seu fundador, e de Plácido Pohl como hábeis trabalhadores tanto
Moreira de Carvalho, comerciante oriundo no artesanato quanto na agricultura,
de Meia Ponte, em Goiás, que, depois de além de terem um papel importante
arruinado, teria se juntado a Magalhães na navegação do Tocantins.
na tarefa de civilizar todas as tribos de
“Utensílios indígenas”, litografia de autor não identificado,
“Essa tribo dos apinajés deve ser uma das
[1862]. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil índios das margens do Tocantins.
mais adiantadas. Suas aldeias são muito
povoadas e não lhes são estranhas várias
atividades industriosas. Possuem uma
diversidade de objetos por eles próprios
confeccionados, criam gado e têm emas,
papagaios e outros bichos domesticados.
É notável a habilidade com que fazem
objetos e utensílios; são muito admirados
os seus bastões, cestas, trombetas, pilões
de pau, etc (...). Além disso são pacíficos,
vivem em concórdia, são ativos e laboriosos
e, pela sua diligência, conseguem alguns
lucros de vez em quando. Por exemplo,
prestam auxílio aos navegantes do Maranhão
[Tocantins], ajudando-os a conduzir a
bagagem nas cachoeiras, sobre as pedras.
Uma de suas maiores aldeias fica situada
a cerca de légua e meia do Maranhão
[Tocantins] e da cachoeira Grande.”
(Pohl, 1976: 249)

Os apinajés pareciam cumprir


o sonho de muitos administradores
coloniais, que alimentavam a esperança
de fixar os índios, civilizando-os, às
margens dos rios Araguaia e Tocantins,
para promover o povoamento da “(...) é constante entre eles [os índios], ao O relato da viagem de Pohl na região
região após o refluxo da economia se aproximarem os civilizados, deporem as do Tocantins foi marcado ainda pela
armas quando não têm intenções hostis,
aurífera e, ao mesmo tempo, garantir preocupação com a descrição do pitoresco,
pois sabem, por experiência, que sendo
a assistência necessária à navegação apanhados de armas na mão, via de regra no sentido humboldtiano do relato sobre
fluvial em Goiás. Sem essas condições, são escravizados. Este direito, aliás, legal, é os aspectos típicos que singularizavam
não parecia possível enfrentar os baseado no quase constante estado de guerra uma região. O pitoresco muitas vezes se
obstáculos que frequentemente em que vivem os colonos europeus e demais confundiu com os costumes indígenas,
habitantes civilizados do país em relação às
obrigavam os navegantes a descer de mas incluiu desde as reações da tripulação
tribos selvagens. Mas é com fundamento
seus barcos e puxá-los por cordas, nesse mesmo direito que os (...) habitantes, que o acompanhava até os elementos
carregando por terra as cargas. que ademais têm as vantagens da cultura e característicos da natureza, dentre os quais
O relato de Pohl sobre a viagem da civilização, praticam muitos abusos; e por o próprio rio foi um destaque. A viagem de
interpretação arbitrária e literal aplicação dessa
pelo Tocantins é rico em descrições Pohl foi extremamente bem-sucedida, sem
lei, foram escravizadas multidões de índios
sobre essa situação, como quando inofensivos, cujas armas se destinavam à
registro de acidentes graves no percurso,
cruzou a cachoeira dos Mares. caça e não intentavam hostilizar o próximo.” nem de conflitos com grupos indígenas.
(Pohl, 1976: 236-237)

“Aqui de novo a nossa bagagem teve que ser


levada por terra por dez passos. As canoas,
completamente vazias, foram dirigidas nesse
labirinto de rochedos por um cabo, em
direção circular. Atirada para um lado e para
outro pela correnteza, a embarcação corria o
perigo de despedaçar-se a cada momento.
Tudo transcorreu muito lentamente, exigiu
muito esforço e trabalho e, em vista do
grande calor, foi duplamente fatigante para
os trabalhadores. Há exemplos de canoas
carregadas que aqui tiveram de demorar
até dois dias antes de conseguirem fazer
a travessia para continuarem a viagem.”
(Pohl, 1976: 234)

Durante a viagem, Pohl colheu


vocabulário indígena e registrou
observações sobre a cultura dos
xavantes e de outros grupos jês,
denunciando os abusos cometidos contra
os índios a partir de uma aplicação
tendenciosa da legislação metropolitana.
1808-1822 Capítulo 2 | 77

Como a tripulação era bem disposta e


não foi acometida por doenças durante
o trajeto, Pohl teve oportunidade
de detalhar aspectos estéticos da
paisagem, como o anoitecer no rio.

“Imponente espetáculo nos oferecia o céu


inteiramente rubro pelo reflexo dos campos
em chamas. Quanto mais se cerrava o
crepúsculo, tanto mais grandioso era o
fenômeno. Afinal, acampamos, sob magnífico
luar, num banco de areia na margem oriental,
depois de termos viajado 15 léguas. Em
pouco a noite estendeu sobre nós o seu
manto estrelado. O rio cintilava até longe sob
a luz prateada da lua, em admirável contraste
com o vermelho flamejante do horizonte.”
(Pohl, 1976: 235)

Além de Pohl, outros dois


naturalistas da Missão Austríaca, Johann
Baptist Von Spix e Karl Friedrich Philipp
Von Martius, passaram brevemente por
Na outra página, “Encontro dos índios com os viajantes
Goiás, mas sem alcançar o rio Tocantins.
europeus”, litografia de Johann Moritz Rugendas. Parte de
Viagem pitoresca através do Brasil, [1835]. Fundação Bi- Em seu livro Viagem pelo Brasil, os
blioteca Nacional - Brasil
dois naturalistas, considerados os
Gravura de Joseph Paringer que ilustra a folha de rosto do
principais representantes da perspectiva
atlas que acompanha os três volumes da obra Reise in Bra- humboldtiana no período joanino,
silien, organizada por Spix e Martius, (1823-1831). Funda-
ção Biblioteca Nacional - Brasil explicaram as razões de não terem se
“Retrato do jovem Johann Baptist Von Spix”, gravura de A. detido em Goiás. Além de problemas
Rhomberg, século XIX. Imagem de domínio público burocráticos com as autoridades,
havia uma certa divisão de trabalho
entre os membros da missão.
78 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“(...) como depois soubemos que o nosso Segundo informação que nos deu um
Frontispício do álbum Flora medicinal brasileira, organizado
amigo, Sr. Dr. Pohl, havia escolhido essa navegante prático (...) essa navegação é por Karl Phillipp Von Martius, 1824. Itaú - Coleção Brasilana
província central para especial objeto de particularmente penosa pelas inúmeras
suas investigações, podíamos ficar tranquilos ‘itaipavas’, pelas corredeiras e pequenas “Diversas Raízes”, estampa da obra Flora medicinal bra-
sileira, de Karl Phillipp Von Martius, 1824. Itaú - Coleção
acerca do itinerário previamente escolhido quedas do rio, as quais, em diversos pontos, Brasilana
de nossa viagem [a região amazônica, o como, por exemplo, as cachoeiras de Santo
nordeste e o sudeste do Brasil], embora fosse Antônio, Itaboca e Praia Grande, obrigam a Na outra página, “Armas indígenas”, gravura de de Philipp
doloroso no momento termos de voltar as descarregar parte ou todo o carregamento Schmid. Parte do atlas que acompanha os três volumes
costas à soleira de tão interessante território. em outros sítios como em Repartimento, da obra Reise in Brasilien, organizada por Spix e Martius,
(1823-1831). Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
O que mais lastimávamos, nesse sentido, Água de Saúde, Cajueiro e Tauiri, tornando
era não termos tido antes conhecimento necessário aliviar as canoas. Perigosa torna-
bem exato sobre a navegação do rio se a viagem por causa das doenças, como
Tocantins ao Pará, que, segundo notícias febre intermitente, nervosa ou septicemia e
aqui colhidas, nos parecia muito instrutiva e desinterias, que acometem frequentemente
menos perigosa do que supúnhamos (...). a equipagem, sobretudo ao norte da reunião
[E]speramos interessantes esclarecimentos do Tocantins com o Araguaia, e por causa
do nosso amigo Dr. Pohl, que ele próprio da hostilidade dos índios ali residentes.”
percorreu essa via em grande extensão. (Spix; Martius, 1981, v. 2: 108-109)
1808-1822 Capítulo 2 | 79
80 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

No relato de Spix e Martius há ainda


informações sobre a foz do rio Tocantins,
área percorrida por eles em sua passagem
pela região amazônica, em que fica clara a
dificuldade em caracterizá-la com precisão.

“Prosseguimos a viagem (...) pelo Anapu


abaixo, favorecidos pela vazante e talvez
também pela queda desse último rio, que
estaria separado do Tocantins por uma serra
baixa. A água divide-se agora em diversos
braços, que por entre ilhas baixas, de mata
fechada, inundadas na cheia da maré,
procuram ligação com a foz do Tocantins. A
estes diferentes canais dão também alguns
o nome de rio Abaeté; outros, porém,
chamam assim ao delta muito fragmentado na
margem oriental do Tocantins, e conservam
a denominação de Anapu para o canal mais
meridional, por onde seguíamos. Neste
labirinto de ilhas, às quais o rio dá novos
contornos, ora novos canais, ou que mesmo
desaparecem completamente depois de forte
maré, nada tem denominação permanente, e
as informações dos habitantes a respeito delas
são tão indecisas, como são vagas as regras
pelas quais os navegantes se orientam. (...)
Algumas horas de viagem na direção S e SO
levaram-nos à foz do Anapu na grande bacia,
que se deve considerar como embocadura
do Tocantins, no arquipélago do Pará.”
(Spix; Martius, 1981, v. 3: 108)

Apesar do conhecimento bem


menos extenso sobre Goiás de Spix
e Martius em relação a Pohl, os dois
naturalistas arriscaram uma explicação
bem razoável para a pouca utilização
do Tocantins naquela capitania.
1808-1822 Capítulo 2 | 81

“(...) a província de Goiás, devido à sua


Na outra página, litografia de Wilhelm Ludwig Von Eschwe-
ge, com a topografia de diversos rios brasileiros, incluin-
principal produção, isto é, gado, mais negocia
do o rio Tocantins. Parte do atlas que acompanha os três com a Bahia, Pernambuco e o Rio de Janeiro
volumes da obra Reise in Brasilien, organizada por Spix e do que com o Pará, que é abastecido de
Martius, (1823-1831). Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
gado para corte pela Ilha de Joanes [atual
Marajó], na foz do Amazonas; e na parte a
“Prospecto de Villa de Monforte na Ilha Grande de Joannes”
(Marajó), estampa da obra Viagem filosófica pelas capita-
oeste, em vez de carne de boi costuma-
nias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, de se alimentar o povo com carne de grandes
Alexandre Rodrigues Ferreira, [1783-1793]. Fundação Bi- tartarugas; enquanto isso se dê, a navegação
blioteca Nacional - Brasil
do Tocantins não terá frequência; somente
terá o belo rio a sua plena significação para
a província central do Brasil, quando se
desenvolver ali uma indústria própria.”
(Spix; Martius, 1981, v. 2: 110-111)
Ainda dentro do escopo da Missão
Retrato de Johann Natterer em litografia de autor desco-
Austríaca, o zoólogo Johann Natterer, nhecido, reproduzida na obra Johann Natterer e a missão
austríaca (1817-1836). Arquivo do Museu de História Natural
considerado um dos maiores especialistas de Viena
a ter cruzado a América do Sul na primeira
“Raia da malha grande”, desenho de Johann Natterer repro-
metade do século XIX, esteve brevemente duzido na obra Johann Natterer e a missão austríaca (1817-
1836). Arquivo do Museu de História Natural de Viena
no sul de Goiás, em 1823. Vindo de São
Paulo e Minas Gerais a caminho de Mato
Na outra página, retrato de Auguste Saint-Hilaire em lito-
Grosso, não alcançou o rio Tocantins. grafia de autor desconhecido. Imagem de domínio público

O botânico francês Auguste de “Helicteres sacarolha” e “Echium plantagineum”, gravuras


da obra Plantas Usuais Brasileiras, de autoria de Auguste
Saint-Hilaire, que veio ao Brasil em 1816, Saint-Hilaire, 1824. Itaú - Coleção Brasiliana
acompanhando uma missão cujo objetivo
era resolver o conflito entre Portugal e
França quanto à posse da Guiana, foi
outro naturalista que passou por Goiás,
sem chegar à região do Tocantins. Ele
deixou extenso registro sobre o sul da
província, percorrido em 1819, publicado
na obra Viagem à província de Goiás,
na qual, como Pohl, compilou inúmeras
informações do relato de Silva e Souza.
Esses primeiros trabalhos divulgados
pelas missões científicas estrangeiras
colocaram as regiões Centro-Oeste e
Norte do Brasil no mapa mundial. Ao
longo dos anos seguintes, na esteira
dessas expedições, outros naturalistas
vindos de distantes terras percorreram
o Tocantins, encantaram-se com sua
força e contribuíram com a mística do rio
perigoso e caprichoso. Mas coube aos
habitantes do novo país, no processo de
independência que se seguiu, desbravá-
lo e domá-lo em nome do progresso,
palavra de ordem do século XIX.
1808-1822 Capítulo 2 | 83
Capítulo 3
Os viajantes e a construção do
território brasileiro

1822-1889
86 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

DURANTE O IMPÉRIO, CRESCEU A


PRODUÇÃO DE DOCUMENTOS SOBRE O
RIO TOCANTINS, elaborada por dois tipos
distintos de viajantes. O caminho aberto no
período joanino aos naturalistas estrangeiros
continuou a ser percorrido por estudiosos
europeus, que, apesar de uma anunciada
perspectiva universal, realizavam suas
coletas comprometidos não apenas com
o saber científico, mas também com os
projetos de expansão ultramarina de suas
nações de origem. Já o viajante brasileiro,
depois da independência do país, tinha
ampliado sua missão. Os levantamentos
de dados que visavam primordialmente
o domínio territorial da colônia e suas
fronteiras deram lugar a trabalhos com
o objetivo de balizar a gestão das terras
e populações, buscando a construção
de uma identidade própria e de um
desenho de nação para o Brasil, num
processo liderado pelas elites políticas que Representante desse segundo
“Tangas de barro cozido: Marajó”. Estampa IV, parte da
assumiram o governo a partir de 1822. grupo, o militar de origem portuguesa obra Arquivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, 1876.
Museu Nacional - Brasil
Esses trabalhos se traduziam em Raimundo José da Cunha Matos,
instrumentos político-administrativos nomeado governador de armas da Frontispício original da obra Itinerário do Rio de Janeiro
ao Pará e Maranhão, de autoria de Cunha Matos, 1856.
como mapas, censos e museus, e se província de Goiás em 1823, tinha Reproduzido na edição de 2004 do Instituto Cultural Amil-
car Martins
materializavam sob várias formas: roteiros como missão reorganizar as forças
e itinerários para melhor configurar o locais e enfrentar eventuais resistências
Na outra página, “Mappa das cidades, villas, lugares e fre-
território nacional, corografias – estudos ao novo regime político, e se aplicou guesias das capitanias do Maranhão e Piauí com o número
em geral dos abitantes das ditas capitanias”, 1787. Funda-
geográficos com dados estatísticos em práticas voltadas à imposição da ção Biblioteca Nacional - Brasil
sobre regiões específicas – e coleta ordem. Ao longo do ano seguinte,
de espécimes da natureza e da cultura realizou uma viagem pela província,
material dos habitantes dessas áreas cujo registro resultou na publicação
para formar coleções na Europa ou no Itinerário do Rio de Janeiro ao Pará e
próprio país, como no Museu Nacional, Maranhão pelas províncias de Minas
Museu Paraense e Museu Paulista. Gerais e Goiás, divulgada em 1836.
88 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O itinerário de Cunha Matos apresentava


uma descrição minuciosa do espaço
físico constituído pelos rios Araguaia e
Tocantins e uma história da ocupação
do território da região Centro-Oeste
do país desde o início do período
colonial. As informações baseavam-se
em observações diretas e em relatos
escritos e orais de outros viajantes.
Os percursos e acidentes
geográficos dos dois rios apareciam
nos roteiros de números 49 a 53 do
documento. Ao longo da narrativa,
o governador de armas avaliava as
fontes históricas disponíveis, apontando
inexatidões nas medidas de espaços
e distâncias, analisando os relatos dos
que o haviam antecedido, cotejando
informações e observando as limitações
dos autores e das técnicas utilizadas.
As imprecisões nas descrições
anteriores foram atribuídas à “(...) um país áspero, paludoso, ou mesmo
“Planta do Fortim de Alcântara” elaborada pelo Major A. de
precariedade dos métodos e de campos ásperos, não pode ser medido A. Braga a pedido do Pesidente e Comandante das Armas
a trena ou a cordel com a exatidão que da Província do Maranhão, Luís Alves de Lima e Silva, o du-
instrumentos de mensuração. Embora que de Caxias, [1839-1841]. Arquivo Histórico do Exército
mostra o mapa [atribuído a Pohl]; (...) eu sou
as deficiências técnicas estivessem obrigado a persuadir-me que as medições
presentes desde a época colonial, foram feitas a olho, e os rumos tomados Na outra página, “Geometria prática”, gravura de Ignácio
José Partidista, 1779. Arquivo Histórico Ultramarino, Por-
a partir de então passaram a ser por agulhão. A trabalhar regularmente, tugal
encaradas como um problema de não se podiam fazer as medições diárias
que eu vejo no mapa. Aqueles que
Estado. Isso fica claro na explicação
conhecem como se fazem medições
dada por ele para as discrepâncias entre geodésicas saberão avaliar este roteiro.”
suas próprias observações e um mapa (Matos, 2004: 381-382)
supostamente elaborado por Emanuel
Pohl, em 1819, do trecho entre a foz do
rio Manoel Alves Grande e o arraial de
São Pedro de Alcântara (atual Carolina),
na margem direita do Tocantins.
Segundo Cunha Matos, a pequena
quantidade ou ausência de observações
astronômicas nos locais mais notáveis
dos dois grandes rios de Goiás, como
a confluência entre o Araguaia e o
Tocantins, seria responsável pelas falhas
na definição das latitudes e longitudes
perpassadas pelos rios e pelas diferenças
na localização de determinados pontos
estratégicos. Algumas unidades de
medida usadas para estabelecer distâncias
foram criticadas abertamente.

“(...) são mui suspeitas as distâncias marcadas


em números de braças: quem viaja pelos
sertões não anda medindo o terreno a cadeia
ou a fita graduada; se assim o praticasse,
não mediria uma só légua em cada dia de
viagem; eu apelo para aqueles que estão
acostumados a tomarem medidas geodésicas.”
(Matos, 2004: 394)

Além das divergências em torno


das técnicas de medição, aparecem
também outras relativas à nomenclatura
dos diversos acidentes geográficos. Para
Cunha Matos, afinal, um representante do
Estado brasileiro, as instituições de governo de nomes de fazendas, efetuada por
“A bordo da Fragata Áustria”. Aquarela de Thomas Ender,
seriam as únicas legítimas para a tarefa novos proprietários para homenagear 1817. Reproduzida na obra Johann Natterer e a missão
austríaca (1817-1836). Arquivo do Museu de História Na-
de nomear o território. Isso era essencial santos de devoção; e o uso de nomes
tural de Viena
naquele momento de estruturação da diferentes para os acidentes geográficos
rede administrativa responsável pela por parte de naturalistas estrangeiros, Na outra página, “Carta Corográfica Plana da Província de
implementação da nova ordem política. como Eschwege, que considerava sua Goyas e dos Julgados de Araxá e desemboque da Provín-
cia de Minas Geraes”, organizado por Cunha Matos, 1875.
Cunha Matos defendia a intervenção direta sugestão mais adequada, Spix e Martius, Arquivo Histórico do Exército
do Estado nesse domínio e a eliminação que alteraram nomes de fazendas para
de aspectos subjetivos na nomeação dos homenagear seus hospedeiros, ou Mawe,
lugares. A instabilidade nas denominações que confundiu divisões administrativas,
era atribuída a várias origens: troca tomando fazendas por vilas ou arraiais.
1822-1889 Capítulo 3 | 91

Nessas censuras há uma oposição,


sobretudo, à autoridade dos viajantes
estrangeiros para atribuir nomes a espaços
brasileiros. De acordo com Cunha Matos, a
desordem nessa área perduraria até que o
governo providenciasse a impressão de mapas
gerais, elegendo, enfim, uma denominação
entre as várias versões sugeridas por
naturalistas, comerciantes, fazendeiros e agentes
religiosos. Essa postura exemplifica claramente
a construção da nação pela transformação do
espaço em território e a formação do aparelho
de Estado pela consagração da burocracia
administrativa como seu agente legítimo.
Além do itinerário de Goiás, Cunha
Matos também elaborou uma corografia da
província. Esse trabalho reuniu os números
sobre a população e as atividades econômicas,
sistematizou as informações existentes sobre
os principais aspectos geográficos, descreveu
a divisão das unidades político-administrativas
e recuperou os principais momentos da
história política local. Da mesma forma
que diversos naturalistas estrangeiros, ele
recorreu em grande medida à obra de Silva
e Souza, elaborada no início do século XIX.
A reconstituição da história de Goiás
antecipou um procedimento que seria
promovido alguns anos depois pelo Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB),
criado em 1838. Cunha Matos, aliás, foi um
dos fundadores do instituto, que se ocupou
da produção da historiografia oficial sobre
o Brasil durante o Império. Os trabalhos do
instituto pautaram-se pela preocupação
em definir as origens do país e reunir
informações detalhadas e precisas sobre
seu território, natureza e populações.
Dois anos depois da viagem
empreendida por Cunha Matos, tiveram
início os debates parlamentares sobre a
navegação dos rios do norte do Brasil,
como parte dos esforços para facilitar
a conexão da região amazônica com a
administração central do governo imperial
brasileiro. O trabalho do governador
apontou a necessidade de se destruir
as cachoeiras do rio Tocantins para
incrementar sua navegação e sugeriu o
uso de embarcações a vela, a vapor ou
mesmo com mecanismos de roda de pau.
Quase na mesma época do itinerário
de Cunha Matos, o botânico inglês
William John Burchell viajou pelo Brasil na
condição de integrante da missão inglesa
de reconhecimento da independência
do país. O diário em que descreve sua
expedição, realizada entre 1825 e 1830,
desapareceu, mas foi preservada uma
extensa coleção de desenhos com museus e jardins botânicos e na redação
“Vegetation of raiwed boreder”, desenho de James W.
paisagens de Goiás produzida durante sua de diários de campo. Entretanto, a avaliação Champney. Parte de Travels in the north of Brazil, 1860.
Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
passagem pela província no último ano de de questões políticas do país permeou
estadia no país. Das cidades às margens as observações dos viajantes, sobretudo
do Tocantins, há um registro de Porto daqueles que presenciaram ou ouviram os
Imperial (antiga Porto Real e atual Porto ecos das revoltas populares que sacudiram
Nacional), em que retratou uma oficina o país no Período Regencial (1831-1840).
de produção de embarcações. Daquele O movimento dos Balaios (1838-
arraial, ele seguiu de barco para Belém, 1941), no Maranhão, foi mencionado pelo
retornando em seguida para a Inglaterra. naturalista inglês George Gardner, que esteve
A maioria dos levantamentos feitos no Brasil entre 1836 e 1841 e percorreu
por naturalistas estrangeiros no país Goiás de norte a sul em 1839 e 1840. Seus
baseou-se em manuais de viagens comentários permitem perceber uma faceta
científicas cujo foco estava na coleta e do rio Tocantins até então desconhecida, de
remessa de espécimes da natureza para via estratégica em insurreições populares.
1822-1889 Capítulo 3 | 93

“Para o fim do mês de abril, todo o norte As perturbações políticas originadas no


“Meia Ponte em 1827”, desenho de William Burchell retra-
tando a atual cidade de Pirenópolis (GO), 1827. Imagem da província de Goiás foi lançado em estado Maranhão tiveram influência direta na decisão
de domínio público de alarme, em virtude de informações de Gardner de desistir de sua viagem do
recebidas de São Pedro de Alcântara,
Piauí em direção ao oeste, atingindo o
pequena vila no extremo setentrional da
Tocantins. Ao invés disso, ele decidiu seguir
província, perto das margens do Tocantins,
segundo as quais parte das tropas de para o sul até o Rio de Janeiro atravessando
Raimundo Gomes e do Balaio haviam Goiás e Minas Gerais, mantendo, em
passado de Pastos Bons, na província do Goiás, uma distância segura do rio.
Maranhão, para Alcântara, tomando-a de O inglês também não se furtou a
assalto; embora a maior parte da população fazer uma análise das causas do marasmo
mais respeitável houvesse fugido para
econômico da região – tema que, aliás,
as matas, muitos haviam sido mortos
seria debatido ao longo de quase todo o
e roubados, enquanto outros haviam
aderido aos rebeldes. Chegou a notícia século XIX. Gardner considerava que as
ao mesmo tempo de que todas as canoas dificuldades de transporte eram a principal
que haviam descido das partes centrais da causa do problema, e não a ausência de
província para o Pará (abril é geralmente produtos a serem comercializados, embora
o mês em que partem) foram tomadas, não deixasse de criticar inúmeras vezes
mortos os seus donos e os couros de
a indolência e a falta de iniciativa dos
seu carregamento lançados ao rio. Supôs-
habitantes como um obstáculo ao progresso
se imediatamente que as canoas haviam
sido capturadas para subir o rio a fim de da região. Apesar de o rio Tocantins constituir
devastarem as vilas e aldeias desta zona, tal a única possibilidade de transporte, até
como haviam atacado as da região inferior.” aquela data, só era possível navegá-lo
(Gardner, 1975: 170-171) em barcas de pequena capacidade.
94 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Do mesmo modo que Cunha Matos, “(...) Neste rio as quedas mais fortes são as
Gardner constatou a imprecisão das de Itaboca, Santo Antônio, Lajeado e Mares;
muito difíceis ainda, embora não tanto como
medidas de distância nos sertões de
as mencionadas há pouco, são as de Guariba,
Goiás, mas atribuiu o fato a expedientes Cunava, Salinas, Água da Saúde, Praia Alta,
de negociação de terras na região, Mãe Maria, Três Barras, Santana e Pilões. O
e não a dificuldades técnicas. salto de Itaboca acha-se num braço estreitado
do rio. Num trecho de cerca de duas léguas
de extensão, há três saltos, denominados
“As léguas nestas zonas do país nunca foram
Fortinho, José Correia e Cachoeira Grande. A
medidas e como as terras foram originalmente
última dessas cachoeiras é de todas a mais
compradas por léguas, era do interesse do
difícil, parece impossível que uma embarcação
comprador fazê-las tão longas quanto possível.
possa subir sendo necessário que o viajante
Na província do Piauí encontramos léguas muito
utilize todos os meios que tenha à disposição.
mais compridas que as do Ceará, mas as de
O barco, previamente descarregado, é puxado
Goiás excederam mesmo a estas. É tão patente a
à corda por vinte ou trinta homens, muitos dos
diferença, que são designadas por légua pequena
quais munidos de grandes varejões, destinados a
e légua grande. A légua curta, achei-a sempre
evitar que a embarcação se choque de encontro
suficientemente longa, e, quando tinha de
às pedras. As cordas servem também para dirigi-
percorrer uma das grandes, calculava usualmente
la, o que não impede de ser frequentemente
o tempo necessário para transpor duas das
necessário que os homens se metam na água
curtas – e raro me aconteceu gastar menos.”
para sustentá-la ou fazê-la mudar de direção.”
(Gardner, 1975: 152)
(Castelnau, 2000: 243-244)

Logo depois de Gardner, em 1844,


já durante o Segundo Reinado (1840-
“Poisons”, estampa da obra Expédition dans les parties
1889), o conde Francis de Castelnau, centrales de l’Amerique du Sud, organizada por Francis
Louis Castelnau, 1850. Biblioteca Patrimonial de Gray
naturalista e diplomata francês que havia (França)
feito longas viagens pela América do
Norte e do Sul, percorreu Goiás. Desceu Na outra página, “Chiotay, chefe dos Cherentes” e “Interior
de uma grande cabana de índios”, ilustrações da obra Ex-
o rio Araguaia até o forte de São João pédition dans les parties centrales de l’Amerique du Sud,
das Duas Barras, na confluência com o organizada por Francis Louis Castelnau, 1850. Itaú
- Coleção Brasiliana
Tocantins, e seguiu até Porto Imperial. Seu
percurso no Tocantins foi um pouco maior
que o de Pohl, duas décadas antes.
Castelnau descreveu detalhadamente
aspectos técnicos da navegação no
Tocantins, destacando particularmente os
métodos de navegação a sirga, isto é, com o
uso de cordas, para transpor as cachoeiras.
1822-1889 Capítulo 3 | 95

Devido a essas dificuldades, Para melhorar as condições de


o conde era de opinião que seria navegação no Tocantins, Castelnau sugeriu
mais vantajosa a viagem pelo algumas medidas como a retirada de
Araguaia do que pelo Tocantins. rochas e a instalação de postos de apoio.

“A lista das cachoeiras do Tocantins mostra como “(...) poder-se-ia aproveitar a estação da
este rio é bem mais difícil de navegar do que o seca, quando as águas ficam muito baixas,
Araguaia. Entretanto, como este cai no primeiro, para remover, com o emprego de alavancas
há sempre a necessidade de atravessar algumas ou da pólvora, as rochas formadoras das
das mencionadas corredeiras. Mas ponderando pequenas cachoeiras ou itaipavas, enquanto
que o Tocantins apresenta uma sucessão que nas cachoeiras mais importantes haveria
quase ininterrupta de cascatas, ao passo que o recurso de estabelecer postos fixos com
o Araguaia é livre na maior parte do seu curso, um número de homens bastante para
concluiremos por achar a navegação pelo último auxiliar as embarcações nos embaraços
muito mais vantajosa, mormente tendo presente da passagem, garantindo-se também o
o fato de que aqui, em qualquer época do ano, é fornecimento, a preços cômodos, dos
possível embarcar somente a cinquenta léguas víveres necessários aos viajantes (...).”
da capital. O Tocantins, pelo contrário, só se (Castelnau, 2000: 244)
pode considerar navegável a partir de Porto
Imperial, que fica a trezentas léguas de Goiás,
Considerou ainda a possibilidade de se
em vista das curvas existentes na estrada.”
(Castelnau, 2000: 244)
abrir estradas em torno das cachoeiras para
o transporte de cargas das embarcações
em lombo de burro ou carretas. Segundo
Castelnau, quando a região fosse mais
povoada, também seria viável a construção
de canais laterais ao rio, contornando os
locais obstruídos pelas grandes cachoeiras.
A presença de índios nas margens
do Tocantins foi vista por ele de forma
ambivalente: como um obstáculo, no
caso de atacarem os viajantes, ou
como elemento favorável, quando
prestavam serviços na passagem das
cachoeiras, na remoção de troncos de
árvores e no fornecimento de víveres.
Nesse aspecto, o conde mencionou
especialmente a atuação dos apinajés,
localizados nas cercanias de Boa Vista.
96 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Estes índios são muito trabalhadores e


“Dança dos índios apinajés”, estampa da obra Expédition
são eles que, com suas vastas plantações, dans les parties centrales de l’Amerique du Sud, orga-
alimentam não só o povo de Boa Vista, nizada por Francis Louis Castelnau, 1850. Itaú - Coleção
como ainda o pessoal das embarcações Brasiliana

que navegam pelo Tocantins até o posto


de São João. Gabam-se ainda de ser Na outra página, “Oiseaux”, estampa da obra Expédition
dans les parties centrales de l’Amerique du Sud, organiza-
excelentes remadores, muitos deles tendo da por Francis Louis Castelnau, 1850. Biblioteca Patrimo-
feito a viagem pelo rio até Belém do Pará. nial de Gray (França)
Por esta longa viagem, que dura de seis a
“River Uaiaia”, desenho de James W. Champney, 1860.
oito meses, recebem a título de pagamento Parte de Travels in the north of Brazil, 1860. Fundação
uma espingarda ordinária, de 5 ou 6 francos. Biblioteca Nacional - Brasil
Explica-se deste modo a quantidade de
armas de fogo que se vêem em suas casas,
não obstante o fato de usarem sempre, de
preferência, nas caçadas, arcos e flechas.”
(Castelnau, 2000: 208-209)
1822-1889 Capítulo 3 | 97

Destacou ainda a imprecisão qual o conhecemos, que novamente


perde na parte média de seu curso,
dos mapas sobre o Tocantins e o
para chamar-se Maranhão; finalmente,
Araguaia e a certeza de que sua
de São João para baixo, ele readquire
viagem serviria para corrigi-los. definitivamente o nome de Tocantins.”
(Castelnau, 2000: 246)
“Do ponto de vista geográfico, nossa viagem
terá como resultado retificar o traçado dos
Viajando acompanhado de sua
dois grandes rios de Goiás, traçado que nas
cartas mais acreditadas é extremamente
esposa logo depois do conde de
defeituoso, sem excetuar as de Brué (1843) Castelnau, em 1847, o deputado goiano
e de Arrow Smith (1842). O Araguaia corre, Rufino Teotônio Segurado, filho do antigo
de modo geral, de sul a norte, e o Tocantins, ouvidor Joaquim Teotônio Segurado,
antes de se reunir com ele, forma um enorme
teve em sua tripulação dois integrantes
circuito, que o leva à latitude mais ao norte
do que a do seu ponto de junção. A direção da expedição do francês. Segurado, em
do Tocantins é depois daí francamente para acordo com o presidente da província
oeste, tomando a seguir a de noroeste, que de Goiás, Joaquim Ignácio Ramalho,
ele conserva até sua foz, no rio Amazonas”. tinha como objetivo testar a navegação
(Castelnau, 2000: 246)
comercial entre as províncias do Pará e de
Goiás. Em sua rota, que seguia o curso
Ele chamou ainda a atenção para
do rio Araguaia e, em seguida, o baixo
os problemas de nomenclatura do
Tocantins até Belém, Segurado fez algumas
Tocantins, inseparáveis das imprecisões
sugestões para a melhoria da navegação
geográficas a seu respeito, ainda não
na cachoeira de Itaboca, considerada
resolvidas de forma satisfatória à época.
o maior obstáculo do Tocantins.
“O Tocantins muda muitas vezes de nome; Os dados fornecidos pelo itinerário
suas verdadeiras nascentes formam o de Cunha Matos sobre a província de
rio Uruu; depois ele adquire o nome pelo Goiás foram utilizados como a principal
referência na navegação do Araguaia.
Segurado realizou a viagem de Belém
ao porto de Thomaz de Souza, no rio
Vermelho, em Goiás, entre maio de 1847
e março de 1848, tempo que estimou
como comparável àquele que se gastava
entre a vila de Palma, no rio Tocantins,
e Belém. Embora também defendesse
a navegação pelo Araguaia, apontou
condições para o sucesso das viagens.
98 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Devo (...) advertir que a descida deve ser seis ubás carregadas de mandiocas
cedo, isto é, no mês de fevereiro, e, no mais mansas e bravas, carás, batatas, bananas,
tardar, por todo o mês de março: cada barco de
abacaxis, favas, cana e outros artigos,
negócio deve ter sua igarité de descarrego e
montaria de caçar; a farinha que ficar reservada como redes, fios de algodão e cera.
para a volta em São João do Araguaia não As dificuldades para garantir a
deve ser menos de dois alqueires por cada alimentação das tripulações ao longo
indivíduo; os navegantes devem ter em vista das viagens eram notórias e haviam
a sua posição entre os índios, e agradá-los o
sido também mencionadas por
mais possível, evitando qualquer desavença
por pequena ou particular que seja.” Castelnau. Esse problema podia
(Segurado, 1848: 212) atingir dimensões dramáticas, como
as ameaças de motim enfrentadas
Da mesma forma que Castelnau, por Segurado, que em um episódio
Segurado conseguiu estabelecer um bom chegou a oferecer a própria
relacionamento com os grupos indígenas, vida para resolver o conflito.
percebendo seu papel estratégico
para o suprimento de alimentos e para
a transposição de obstáculos no rio.
Registrou ser um desejo dos carajás
e dos xambioás, com quem manteve
contato pacífico, estabelecer relações
com os forasteiros, prestando suporte
à navegação em troca de ferramentas
e utensílios, ao mesmo tempo em
que se mostravam decididamente
refratários à implantação de presídios
ou de missões religiosas na região.
Alguns viajantes desse período
perceberam a navegação fluvial não só
como uma via para a implementação de
trocas comerciais e para a realização de
explorações científicas, mas também como
cenário para um relacionamento interétnico
colaborativo, até então pouco comum.
Segurado experimentou o suprimento de
alimentos pelos índios, descrevendo em
certo momento ter recebido dos carajás
1822-1889 Capítulo 3 | 99

O deputado legou dados preciosos


sobre os percursos que cumpriu nessa
viagem, registrados em um diário nos
moldes do de Cunha Matos. O documento
incluiu, além de descrições de seu estado
de espírito durante a viagem, informações
sobre a tripulação e os índios com os
quais se relacionou no caminho, definições
de alguns acidentes geográficos fluviais
e explicações sobre as embarcações
utilizadas e a finalidade de cada uma delas.
Enquanto os brasileiros se
preocupavam em avaliar a navegabilidade
do Tocantins, os estrangeiros se
mantinham dentro dos cânones dos
naturalistas. Na mesma época da
expedição de Segurado, o inglês Henry
Bates, que, com seu compatriota Alfred
Russel Wallace, fez extensas viagens
pela Amazônia para coleta de espécimes
destinadas às coleções do Museu de
História Natural de Londres, viajou de
Belém até a cachoeira de Guariba, no
“Dia 5 [de novembro de 1847] – Desde baixo Tocantins. Embora pretendesse subir
Na outra página, “Midas”, estampa da obra Expédition
dans les parties centrales de l’Amerique du Sud, organiza-
que se largou do pouso, entretiveram-
o Araguaia, não conseguiu tripulantes
da por Francis Louis Castelnau, 1850. Biblioteca Patrimo- se os principais remeiros em continuadas
nial de Gray (França) murmurações, mostrando contra mim a maior que se dispusessem a conduzi-lo.
“Ubá”, ilustração da Revista da Exposição Antropológica indisposição, até que às dez horas do dia, Com estilo direto e claro, Bates, que
Brasileira, 1882. Museu Nacional não podendo sofrer mais os seus desaforos, não tinha formação acadêmica formal,
e quase em um estado de desesperação,
fez descrições sintéticas das regiões do
“Estudo da romã”, gravura de Karl Phillip Von Martius, re- lhes disse que podiam livrar-se de todos os
produzida na obra Flora Brasiliensis, [1840-1906]. Itaú - incômodos que lhes causava, dando-me Tocantins que atravessou, entre 1848
Coleção Brasiliana
eles uma morte inevitável com uma das e 1849. Em seu diário, há uma menção
armas de fogo que tinham carregadas na à dificuldade em localizar a foz do rio.
proa. A murmuração cessou, e mudando Segundo o inglês, a desembocadura
eu a medida da ração de farinha, pude
estaria distante 60 quilômetros a sudoeste
conseguir seguir a minha viagem com menos
receios de perigos da parte da tripulação.” de Belém, em linha reta, e a 120
(Segurado, 1848: 203) quilômetros seguindo as curvas do rio.
100 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Não chegou a percorrer pessoalmente “O espírito partidário é muito acentuado em


“The river Amazons”, perfil elaborado por Henry Bates,
as cataratas e corredeiras, cujo início Cametá, não só com relação à política local 1864. Imagem de domínio público
mas também com referência a assuntos de
localizou a 180 quilômetros de Cametá.
interesse geral, como a eleição dos membros
Especialista em entomologia, o Na outra página, “Night adventure with alligator”, de Josiah
do Parlamento Imperial. Essas contendas Wood Whymper e “Turtle fishing and adventure with alliga-
inglês, a exemplo dos demais viajantes políticas são em parte devidas à circunstância tor”, de Johann Baptiste Zwecker, gravuras que ilustram a
obra The naturalist on the river Amazons, de Henry Bates,
naturalistas, anotou, ao lado das de participar o Dr. Ângelo Custódio Correia publicada pela University of California, 1962
descrições científicas, análises de – natural de Cametá – de quase todas as
eleições, como candidato a representante
costumes das populações ribeirinhas,
da província. Acho que aqueles canoeiros,
das suas atividades econômicas, formas homens simples mas sagazes, percebiam a
de habitação e tipos de propriedade insensatez que constituíam essas disputas
da terra. Deu destaque ainda ao locais, originando-se daí a sua inclinação para
satirizá-las; não obstante, tornava-se evidente
cancioneiro popular das tripulações
que eram todos partidários do Dr. Ângelo.
das embarcações, onde o recurso O irmão deste, João Augusto Correia, um
ao improviso permitia a elaboração conceituado negociante, era um ativo cabo
de uma crônica da vida política local. eleitoral. O partido dos Correias era o liberal,
A partir desta fonte, Bates pôde se ou, como é conhecido em todo o Brasil, a
facção de Santa Luzia; o adversário, à frente
inteirar das disputas locais entre
do qual estava um certo Pedro Morais, era
saquaremas (conservadores) e santas o Conservador, ou facção de Saquarema.”
luzias (liberais) na vila de Cametá. (Bates, 1979: 68)
1822-1889 Capítulo 3 | 101
102 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Viajando na primeira década do


Segundo Reinado, Bates se referiu a
repercussões da revolta da Cabanagem
(1835-1840), outra das insurreições
populares do período regencial, cuja
memória ainda era viva, sobretudo em
Cametá, um dos principais focos de
resistência das forças legalistas. Na
época da viagem do inglês, aquela era
a principal cidade da região do baixo
Tocantins. Adepto, como Wallace, das
teorias de Darwin, ele comentou as
questões raciais da região, sendo uma
das primeiras vozes a discordar dos que
consideravam a mestiçagem entre índios
e brancos um fator de degeneração.
O rio Tocantins, como
testemunhado por Bates, era
cruzado apenas por particulares, em
embarcações de pequenos comerciantes
sujeitas a naufrágios, sem regularidade
de tráfego. Devido às difíceis condições
naturais, não havia navegação a vapor.
Essa situação, apesar de relatada
por diferentes viajantes do período,
só foi objeto de atenção do governo
imperial a partir de meados do século
XIX, quando foram nomeadas e
financiadas comissões para conhecer
as possibilidades de navegação
dos rios do interior. O tema esteve
presente em praticamente todos
os relatórios ministeriais desde
então, com destaque para o estudo
de fórmulas para concessão a
companhias de navegação privadas.
1822-1889 Capítulo 3 | 103

Entre essas comissões nomeadas pelo enviou um ofício ao governo paraense,


Na outra página, “Adventure with curl-brested toucans”,
de Josiah Wood Whymper, gravura reproduzida na obra governo, destacaram-se inicialmente em que procurava demonstrar as
The naturalist on the river Amazons, de Henry Bates, pu-
blicada pela University of California, 1962 aquelas voltadas à exploração do rio vantagens econômicas que adviriam do
São Francisco e de seus afluentes, estabelecimento de rotas regulares no
“Acara” e “Acari fish”, gravuras de Josiah Wood Whymper ainda na década de 1850. Araguaia e Tocantins, permitindo a chegada
reproduzidas na obra The naturalist on the river Amazons,
de Henry Bates, publicada pela University of California, No caso do Tocantins, os peritos do de mercadorias pelo porto de Belém. No
1962
Império identificaram tantos obstáculos documento, estimava que as importações
à navegação, que consideraram muito chegariam a Goiás com uma redução de
dispendioso o governo assumir o 30% no custo com relação às que vinham
empreendimento por conta própria. do Rio de Janeiro, por via terrestre.
Entretanto, os governos das províncias No ano anterior, Vicente Ferreira
de Goiás e do Pará, interessados em Gomes, ex-juiz de direito da comarca de
viabilizar o transporte fluvial pelo Tocantins, Palma, publicara um extenso relatório
também providenciaram a nomeação de sobre sua viagem pelo Tocantins em
comissões específicas que viajariam para 1858, quando foi de Palma a Belém.
explorar o rio. Em 1863, José Vieira Couto De acordo com seus cálculos, a
de Magalhães assumiu a presidência da navegação pelo rio seria favorável a
província de Goiás. Naquele mesmo ano, Goiás do ponto de vista econômico.
104 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“A via de comunicação de transporte mais a navegação a vapor em razão da


fácil e vantajoso é a fluvial; um bote pequeno população rarefeita e do baixo nível das
de custo de 55$ carrega mais de seiscentas
atividades econômicas ali desenvolvidas.
arrobas, que é a carga de cem bestas, cujo
custo é 40:000$; a tripulação de um tal bote é Para fazer frente aos ataques de
de dez a doze pessoas, e tantas são precisas indígenas, outro obstáculo à navegação
para guiar as cem bestas de carga; o salário considerado à época, foram fundados
dos remeiros é de 40$ a 50$ e equivale ao presídios militares nas margens do
dos camaradas que conduzem as bestas; o
Araguaia e Tocantins. Entre os objetivos
do piloto do bote é de 200$, equivalente a
do arreeiro das tropas; a diferença que há a almejados para esses estabelecimentos,
favor da viagem de terra é a do tempo; nas estava facilitar as comunicações
viagens redondas de Palma e Porto Imperial entre Pará e Goiás, já que serviriam,
para a Bahia, de Cavalcante para o Rio de
ao mesmo tempo, como portos
Janeiro, gasta-se quatro até seis meses, nas
fluviais de Palma e Porto Imperial para o Pará
intermediários para o reabastecimento
seis a oito meses; porém as viagens de terra das embarcações e como postos de
têm contra si a despesa que se faz com o defesa. Mas também às províncias
milho para os animais e com a substituição faltavam recursos financeiros para
dos que se estropiam e morrem; na viagem
investimentos em navegação. O próprio
de terra um doente grave entorpece-a e
às vezes paralisa-a; na fluvial assim não Couto de Magalhães, ainda presidente de
sucede, porque no bote há abrigo, há Goiás, solicitou ao Ministério da Marinha
cômodo para o doente continuar a viagem.” a compra de um vapor e o pagamento
(Gomes, 1862: 508)
da tripulação; contudo, não foi atendido.
Na mesma época, o presidente do
Como todos os que haviam se Pará Francisco Carlos de Araújo Brusque “Domingos Soares Ferreira Penna”. Retrato elaborado por
autor desconhecido. Museu Paraense Emílio Goeldi
preocupado com a navegação do encomendou ao geógrafo Domingos
Tocantins, Gomes apontou as cachoeiras Soares Ferreira Penna um relatório Na outra página, “Brazil - Estradas de Ferro Provinciaes”,
como principal obstáculo. Para contorná- sobre a navegação no baixo Tocantins. mapa com convenções. Arquivo Histórico do Exército

las, propôs a construção de canais Publicado sob o título O Tocantins e


ou estradas laterais, de preferência o Anapu, o documento de Penna se
ferrovias, e a destruição das pedras baseava em informações coletadas em
que impediam a navegação. Segundo uma viagem realizada nos meses de
sua estimativa, uma vez adotadas dezembro de 1863 a janeiro de 1864.
essas providências, as viagens pelo No relatório, Penna destacava a
Tocantins poderiam ser feitas em metade necessidade de ponderar as diferentes
ou dois terços do tempo do que se condições de navegação nas épocas
gastava até então. Entretanto, Gomes de enchente ou seca, para evitar
reputava difícil que fosse estabelecida erros e conclusões apressadas.
106 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
antes

Segundo ele, dependendo da época, o


rio podia assumir duas fisionomias, com
suas margens se tornando um paraíso
ou uma terra inóspita. Também criticava
os trabalhos de naturalistas estrangeiros,
seguindo a conduta adotada pelo IHGB, de
questionamento sistemático da produção
sobre o Brasil por parte de viajantes de
outros países, atitude bastante frequente
entre a comunidade científica brasileira.

“(...) em regiões onde as estações exercem


tão poderosa influência ninguém se pode guiar
pelas descrições de viajantes estrangeiros que
passam ligeiros, sem um estudo profundo e,
sobretudo, sem tomar pelo país esse interesse
real e patriótico que só existe nos nacionais.”
(Penna, 1973, v.1: 82)

Nessa linha, os trabalhos dos


cientistas do país deveriam ser feitos em
nome do império e da nação, forjando-se
uma ciência brasileira considerada a única
plenamente capaz de conhecer o Brasil.
Um dos objetivos dessa nova produção
nacional era dar forma a identidades da criação das principais cidades às
“The rubber gatherer”, desenho de James W. Champney.
regionais, a partir de trabalhos da elite margens do rio Tocantins, em seu trecho Parte de Travels in the north of Brazil, 1860. Fundação
Biblioteca Nacional - Brasil
intelectual do Império, abrigada em paraense, e apresentar dados estatísticos
instituições regionais. No Pará, destacou- sobre população, atividades econômicas
se nesse papel o Museu Paraense – e comerciais. O geógrafo apresentou
Museu Paraense Emílio Goeldi depois de também, em apêndice, uma análise
1930 –, criado pelo governo provincial minuciosa de cada um dos principais
em 1871, tendo como primeiro diretor produtos vegetais extraídos ou plantados
justamente Domingos Ferreira Penna. na região, o que também contribuía para
O relatório feito por Penna sobre o caracterizá-la e distingui-la, entre os quais
rio Tocantins cumpriu exemplarmente o cacau, a castanha, o cravo-da-índia, a
esse desígnio, ao recuperar a história guta-percha e a goma elástica ou seringa.
1822-1889 Capítulo 3 | 107

Na opinião de Penna, compartilhada era uma continuação de procedimentos


por muitos de seus contemporâneos, de inspiração iluminista adotados ainda
a extração da borracha impedia no século XVIII pela administração colonial
o desenvolvimento de atividades pombalina. A ideia de nação que vinha
agrícolas estáveis, pois deslocava uma sendo construída pelas elites intelectuais
importante parcela da mão de obra durante o Império não se assentou
disponível, reduzindo-a a condições sobre uma oposição à antiga metrópole
de vida precárias pelo endividamento portuguesa, mas, pelo contrário, se
com os regatões, mercadores apresentava, em vários aspectos, como
que percorriam os rios de barco e um seguimento da tarefa civilizadora
controlavam o comércio do produto. iniciada pela colonização portuguesa.
O trabalho do geógrafo situava-se a Ao analisar o movimento das
meio caminho entre um estudo de caráter embarcações no baixo Tocantins, Penna
meramente científico, sem objetivos destacou a preferência dos moradores
pragmáticos, e um instrumento para a pela navegação a vela sobre os vapores,
elaboração de políticas de intervenção devido ao preço menor. Como exemplo,
do Estado em uma determinada região citou o caso do cacau, em 1863, cujo
a partir de informações de cunho transporte a vapor constou de 8.948
científico. Os dados sobre a situação da arrobas, e, nas canoas, de 100.734
navegação demonstram essa abordagem, arrobas. Esta última quantidade,
“Rio Maranhão em Tabatinga”, xilogravura colorida a mão configurando práticas racionais e objetivas embora muito maior, foi transportada
elaborada por Th. Weber. Coleção João Meirelles Filho da administração pública na época, o que a preço total inferior ao da primeira.
108 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“O vapor parte de 15 em 15 dias para Cametá, Pouco depois da jornada de Penna,


“Entrada da fazenda Conceição a margem do rio Itapecuru
onde se demora 36 horas, regressando para o capitão-tenente da Armada Francisco (MA)”, desenho em grafite de León Righni, 1866. Funda-
a capital (...). O vapor, nos dois primeiros ção Biblioteca Nacional - Brasil
Parahybuna dos Reis empreendeu
anos de seu estabelecimento, chegou
à vila de Baião; mas a falta de um porto uma viagem ao baixo Tocantins na
Na outra página, “Roteiro figurado da viagem entre o lago
naquela vila e a incúria de seus moradores época da estiagem, entre os meses de Vermelho e a ponta do Piteira no rio Tocantins” perfil le-
vantado pelo capitão-tenente Francisco Parahybuna dos
de então, que não se animavam a trabalhar agosto e outubro de 1864. Com base Reis, 1864. Arquivo Histórico do Exército
de modo a fornecerem sempre cargas ao em suas observações, foi elaborado
vapor, induziu a companhia a suprimir aquela
um relatório enviado a Couto de
viagem. O tráfego de vapor entre Belém e
Cametá está quase reduzido ao transporte Magalhães, que assumira naquele ano
de passageiros, preferindo os proprietários a presidência da província do Pará.
fazer o transporte de seus gêneros em barcos Com uma descrição minuciosa e
próprios ou a fretes em alheios. O número
diária do trajeto fluvial, incluindo os nomes
de embarcações a vela tem crescido nesses
4 últimos anos: não menos de 30 estão em
de todos os acidentes geográficos e a
giro contínuo desde o centro das cachoeiras anotação precisa dos tempos e distâncias
e dos igarapés até à barra do Tocantins, percorridas, o relatório se assemelha aos
tocando em todos os sítios e fazendas, roteiros e itinerários terrestres elaborados
recebendo a granel o cacau, a castanha, a
desde o final do século XVIII sobre a região
borracha e outros gêneros, vindo entregá-los
na capital aos respectivos consignatários.” centro-norte do país. Entretanto, neste
(Penna, 1973, v.1: 86) caso, o roteiro objetivava a proposição de
1822-1889 Capítulo 3 | 109

medidas para melhor navegar o rio, pois, a


essa altura, o baixo Tocantins era bastante
conhecido. Reis identificou os pontos de
obstrução à navegação do rio e apresentou
diversas sugestões para corrigi-los.

“(...) os obstáculos que apresenta à navegação


a seção do rio do Tocantins que tenho
visto são provenientes de pedregais ou
grandes acumulações de pedra no seio do
rio que, obstruindo-o, represam a água no
seu curso natural produzindo assim fortes
correntezas, caprichosas revessas e perigosos
rilheiros d’água em muitos lugares.”
(Reis, 1864: 22)

Ele indicou a extração das cristas para


que, mesmo durante a estiagem, ficassem
pelo menos a oito palmos de profundidade,
e especificou as condições para a
realização do trabalho, a época do ano
mais apropriada – entre junho e dezembro
–, o número e o tipo de profissionais
requeridos e os equipamentos necessários.
Os dispositivos existentes à época no Brasil
eram precários e exigiam grande esforço
físico. No mesmo período, nos Estados
Unidos, já eram utilizadas máquinas com
pilhas galvânicas para destruir pedreiras.
Dois anos depois, o próprio Couto
de Magalhães, ainda presidente do Pará,
foi encarregado de chefiar uma comissão
para encontrar canais que oferecessem
alternativas à transposição das cachoeiras
de Itaboca. A exploração, feita em canoa,
resultou em uma sucessão de desastres,
cuja narrativa apresenta com exatidão
as dificuldades e riscos enfrentados
pelos viajantes naquele trecho.
110 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“(...) quando chegamos por cima das (...) Florentino Marianno do Amaral foi o
cachoeiras é que vimos o ímpeto com que as responsável pelo estabelecimento de
águas se precipitam ao longo das muralhas
da rocha que formam ambas as margens do
uma linha de barcos a vapor, com um
canal; sem ver outra coisa mais do que a contrato subvencionado pela Assembleia
espuma que as cobria totalmente, nenhuma Legislativa paraense. A viagem inaugural
esperança tivemos de salvar-nos, porque na
saiu de Belém em março, com um
altura em que nos achávamos não havia outro
alvitre se não entregarmo-nos à correnteza carregamento de 1.700 arrobas de sal e
que nos arrastava para aqueles abismos com tripulação de trinta pessoas, e chegou à
força superior a de que podíamos dispor. (...) capital goiana em outubro. A expectativa
Os rebojos quando lançam fora os objetos
que correm, fazem uma pequena pausa com
era de que o tempo de viagem diminuísse
que as águas ficam serenas; aproveitamo- de sete para três meses, uma vez
nos desse momento para montarmos todos estabelecida a regularidade da linha.
no calado da canoa, visto não haver tempo
O meio de transporte que marcou,
de desemborcá-la e esgotá-la. Pouco abaixo,
porém, foi ela sorvida pela terceira vez, e porém, a segunda metade do século
surgiu remoinhando com força de modo que XIX no Brasil foi o ferroviário. O Império
sacudiu o grumete Eusébio e o soldado Lívio elaborou uma sucessão de planos de
para o lado direito, a mim e ao patrão da
canoa (...) para cima, ao imediato do vapor
viação com escopo nacional, em que era
e ao prático Thomé para o lado esquerdo, descartada a construção de rodovias e
ficando nela o grumete Abel. (...) Os dois enfatizada a conexão entre vias férreas,
primeiros aproveitando-se de sua posição
fluviais e marítimas para interligar as
nadaram esforçadamente para a direita,
e ao cabo de grandes esforços puderam regiões brasileiras e integrar o território
agarrar-se aos galhos de uma árvore meio nacional. Em 1869, o engenheiro militar
submersa para a qual subiram. Os três Eduardo José de Moraes apresentou
últimos conseguiram apoderar-se de novo Retrato de Couto de Magalhães em litografia de autor des-
da canoa com a qual submergiram pouco
ao governo central o documento conhecido, reproduzida na Revista Brasileira de Geografia,
editada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
depois surgindo tão somente o imediato e o Navegação imperial do Brasil, contendo
1941
prático Thomé. O grumete Abel ali afundou um ambicioso projeto de interligação das
para não mais surgir, nem vivo nem morto”.
principais bacias hidrográficas brasileiras – Na outra página, “Estado de Goyaz”, mapa produzido pela
(Magalhães apud Flores, 2006: 121) Inspetoria Federal das Estradas do Ministério de Viação e
Amazonas, Prata, São Francisco e Parnaíba Obras Públicas, com destaque para as notas sobre as es-
tradas de ferro, 1913. Arquivo Histórico do Exército
Apesar das dificuldades para a –, por meio de uma rede incluindo

navegação, a comunicação entre as navegação fluvial e de cabotagem e


províncias do Pará e de Goiás por meio ferrovias. A junção do sistema fluvial com
do rio Araguaia e do baixo Tocantins a cabotagem seria feita por três grandes
foi alcançada ainda em 1866, graças à estradas de ferro que levariam aos portos
determinação de Couto de Magalhães. do Rio de Janeiro, Salvador e Recife.
112 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

No projeto, que ficou conhecido


como Plano Moraes, o ramal norte
incluía do porto do Travessão à foz do rio
Vermelho e todas as seções do Araguaia
ao Tocantins, a partir do presídio de São
João das Duas Barras até Belém. Segundo
as estimativas do plano, a linha fluvial
em questão atravessaria o interior do
Brasil em uma extensão de 401 léguas,
ou 2.646 quilômetros, sendo 239 léguas
de trechos completamente navegáveis
a vapor durante todo o ano; 118 léguas
navegáveis durante os meses de dezembro
a maio, os de maior cheia; e 44 léguas
obstruídas por pedras, somente navegáveis
por canoas no período das cheias.
Em 1871, uma nova comissão de
exploração dos rios Araguaia e Tocantins foi
constituída para analisar as alternativas de
melhoria da navegação. Por designação do
Ministério da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, o engenheiro Antonio Florêncio
Pereira do Lago chefiou uma expedição
que percorreu a região encachoeirada
entre Alcobaça (atual Tucuruí) e o Seco
de São Miguel. De acordo com Lago,
as soluções técnicas disponíveis, como
a construção de diques e eclusas e a
retirada de pedras do leito, eram caras e
difíceis, só se justificando se as margens
fossem suficientemente povoadas. A
comissão recomendou então o estímulo
ao povoamento, à indústria e à agricultura
em Goiás, pois a implantação de uma rede
de transportes integrando estradas de
ferro e navegação dependeria do sucesso
1822-1889 Capítulo 3 | 113

O ritmo de construção de estradas


Na outra página, “Fortaleza de Nossa Senhora de Nazareth
na povoação de Alcobaça”, [1780]. Arquivo Histórico do de ferro no Brasil foi extremamente
Exército
lento no século XIX, embora as primeiras
leis sobre a construção de ferrovias
“Une boutique au Pará”, xilogravura de Auguste François
Biard, 1862. Coleção José e Guita Mindlin. Brasiliana USP datassem de 1835, época em que
surgiram as primeiras vias férreas na
Inglaterra. Além da pequena extensão,
o sistema brasileiro era cronicamente
deficitário, desiludindo muitos dos
defensores de sua expansão. Para
alguns planejadores da época, da
mesma forma que a navegação fluvial,
o desenvolvimento das ferrovias
dependia de programas de distribuição
de terras e de atração de colonos que
se estabelecessem ao longo das vias.
O funcionamento da Companhia
de Navegação a Vapor do Rio Araguaia,
dirigida por Couto de Magalhães desde
dessas iniciativas. O relatório da comissão
1870, por exemplo, beneficiou-se do
apresentou também um projeto detalhado
povoamento das margens do rio com
para integração viária do país por meio
a instalação de alguns presídios. Esses
de uma rede unindo o Pará a São Paulo.
estabelecimentos serviam de porto
de embarque e entreposto comercial
“(...) esta rede, com o desenvolvimento de
2.221 km, depois de unir a cidade de Belém, na rota entre Leopoldina, em Goiás, e
capital do Pará, ao Taquari, tributário do rio Patos, no Pará, garantindo suprimento
Paraguai, chama a seu tronco principal as aos barcos de carreira e apoio às
cidades de Palma, Porto Imperial, Carolina,
pequenas embarcações. Além disso,
Boa Vista e Vila da Imperatriz ou Santa
também podiam ser pontos de partida
Tereza, que pela facilidade de navegação
nessa parte do Tocantins conduzirão seus para cruzar o território goiano, como no
produtos pelo rio, a fim de tomarem a caso do presídio de Santa Maria, que
estrada de São João do Araguaia. (...) se comunicava por via terrestre com
[D]o Taquari comunica-se o norte do Império
as cidades de Pedro Afonso e Porto
com a Corte por meio da estrada de ferro
que de São Paulo tem de dirigir-se a Mato Imperial, nas margens do Tocantins,
Grosso por Santa Ana do Paranaíba.” e do presídio de Santa Leopoldina,
(Lago apud Flores, 2006: 154) conectado à capital da província.
114 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1822-1889 Capítulo 3 | 115

Em 1878, quando a companhia foi no sertão, fortalecendo a disposição


Na outra página, “The Breves Chanel”, desenho de Ja-
mes W. Champney. Parte de Travels in the north of Brazil, transferida para as mãos do empresário congênita da futura mão de obra do
1860. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
João José Corrêa de Moraes, a empresa país. A participação dos indígenas
Gravura reproduzida na obra The naturalist on the river contava com três vapores, sete botes e na defesa das fronteiras brasileiras
Amazons, escrita por Henry Bates e publicada pela Univer-
várias canoas e igarités, empregando 167 também foi considerada como fator que
sity of California, 1962
pessoas. Mesmo assim, as atividades da impediria os espanhóis de adulterarem
companhia foram suspensas em 1888, os limites estabelecidos no Brasil central,
por terem se tornado antieconômicas. permitindo ainda ligar o governo às
Ao mesmo tempo em que extremidades do Império, sobretudo
comandava a companhia de navegação nas fronteiras do Amapá, Colômbia,
a vapor, Couto de Magalhães foi Venezuela, Bolívia, Peru e Paraguai.
encarregado de dirigir o serviço de A presidência de Couto de Magalhães
catequese da província de Goiás, função em Goiás (1863-1864) e no Pará (1864-
que desempenhou até 1877. Na época, a 1866) ilustra a estratégia do Império
navegação do Araguaia e do Tocantins, a brasileiro de incentivar a circulação de
catequese e o povoamento das margens políticos e administradores por diferentes
dos rios eram atividades estreitamente províncias. Essa prática, corrente desde
relacionadas. No exercício dos cargos o período colonial, resultou em uma
que ocupou, Couto de Magalhães realizou modalidade especial de viagem, na
extensas viagens pelo centro-norte do qual os nomeados se deslocavam para
país e produziu uma vasta obra, em que tomar posse de seus cargos, muitas
defendeu a necessidade de implantação vezes entrando em contato pela primeira
da navegação a vapor e a ideia de que vez com as regiões que iriam governar.
os indígenas deveriam ser integrados à Ao ser indicado para presidir Goiás,
nação, pela via da educação, se tornando contando apenas 24 anos, Couto de
o principal agente de povoamento. Magalhães registrou no livro Viagem
Em sua opinião, concentrados ao Araguaia (1863) sua primeira visão
em colônias militares, os indígenas da província. No relato, a perspectiva
ajudariam a povoar o território nacional racional do administrador encarregado
e seriam os mais aptos a ocupar as de organizar uma área distante do
terras virgens da nação, preparando- controle do poder do Império aparece
as para a futura chegada de imigrantes mesclada a uma certa sensibilidade
estrangeiros. Em um momento posterior, romântica gerada pela descoberta de
índios e imigrantes deveriam se misturar lugares e costumes desconhecidos.
116 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A obra de Couto de Magalhães, em Minas Gerais. A ideia era integrar a via


incluindo Memória sobre as colônias férrea à navegação do rio São Francisco
militares, nacionais e indígenas (1875) e em direção ao nordeste do país.
O selvagem (1876), é exemplo de um tipo Ao longo de 1875, Wells realizou
de estudo que, apoiado no conhecimento uma longa viagem pelo interior do
sobre as províncias, dava significado Brasil, desde o Paraopeba até o norte
à unidade física e administrativa da da província de Goiás, percorrendo o rio
monarquia e à interiorização da civilização, Tocantins entre Pedro Afonso e Carolina.
elementos valorizados pelo IHGB. O Suas observações durante o trajeto
papel dos indígenas na representação do foram publicadas em 1886, no livro
passado coletivo da nação, outro tema Explorando e viajando três mil milhas
caro ao instituto, também aparece de através do Brasil. Da mesma forma que
forma marcante no trabalho do político. outros viajantes ingleses que haviam
O Império fez várias tentativas de estado no Brasil, Wells apresentou, ao
conectar as regiões do país. Houve lado de uma descrição da paisagem, dos
a preocupação em estabelecer uma costumes e de aspectos pitorescos das
ligação por estrada de ferro entre os regiões percorridas, uma investigação
trechos navegáveis das bacias dos rios sobre as possibilidades de sucesso para
Tocantins e São Francisco. Contando a novos empreendimentos econômicos e
partir de 1872 com a participação da absorção de imigrantes. Nessa época,
firma londrina Public Works Construction uma série de condições favoráveis aos
Company, os estudos autorizados pelo negócios foi se estabelecendo, como
governo imperial para linhas férreas e a multiplicação das concessões a
de navegação nos dois rios deveriam brasileiros e estrangeiros para estradas
Frontispício da obra O selvagem, escrita por Couto de Ma-
reconhecer as regiões por onde teriam de ferro e companhias de navegação e galhães e publicada pela Typografia da Reforma, 1876
que passar, incluindo um apanhado de estímulos à vinda de imigrantes após
dados e informações sobre a população, a abolição do tráfico negreiro, além da Na outra página, “Indian woman making pottery” e “Basket
weaver”, desenhos de James W. Champney. Parte de Tra-
cultura e riqueza mineralógica, entre aprovação de diversas leis indicando vels in the north of Brazil, 1860. Fundação Biblioteca Na-
cional - Brasil
outros, nas áreas que seriam diretamente que a escravidão terminaria em breve.
servidas pelas vias projetadas. No relato de sua viagem entre Pedro
Uma comissão, encabeçada pelo Afonso e Carolina pelo rio Tocantins,
engenheiro inglês James Wells, foi Wells faz uma avaliação quanto à mão
encarregada de estudar um itinerário de obra no Brasil, em que a indolência
para o trecho final da Estrada de Ferro das populações do interior explicaria a
D. Pedro II, passando pelos vales dos rios decadência econômica e justificaria a
Paraopeba e São Francisco até Pirapora, vinda de imigrantes, sobretudo ingleses.
1822-1889 Capítulo 3 | 117
118 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“(...) diligência, cooperação e


empreendimento [são coisas de todo
ausentes] da concepção dos matutos,
e assim eles vegetam como as plantas
em volta deles, cada um vivendo por si,
desperdiçando em sono suas vidas, até
que a morte os alivie de sua pesada carga.
No entanto, existe latente um material
bom e sólido nestas pessoas, o que é
indispensável é um século de bom exemplo
e sangue novo europeu, especialmente,
e então estes doze milhões de brasileiros
contribuirão com sua quota adequada para
os estoques do mundo; assim como é, se
uma boa metade deles fosse varrida da
face da terra, esta não sairia perdendo.”
(Wells, 1995, v.2: 181)

Embora tenha elogiado a


hospitalidade característica dos
brasileiros, o inglês observou
inúmeros casos de concubinato, de
padres que raramente respeitavam
o celibato e de pouca educação das
crianças, práticas que classificou de
degradação dos costumes. Durante a
viagem pelo rio Tocantins, percebeu
como um problema crônico no
Como um agravante à situação
país a influência da desigualdade “Cleanning the roots”, desenho de James W. Champney.
de pobreza, Wells apontou o preço Parte de Travels in the north of Brazil, 1860. Fundação
social na aplicação da justiça. Biblioteca Nacional - Brasil
extremamente caro dos meios
de transporte e comunicação
“As leis e a constituição do Brasil são
sem dúvida, no papel, bastante razoáveis disponíveis para a população que vivia
e justas, mas, na prática, a burocracia afastada dos mercados. Quanto às
acaba beneficiando a bolsa mais farta, comunidades indígenas, expressou
especialmente no interior longínquo do país,
opiniões francamente favoráveis,
onde qualquer magnata local pode cometer
com impunidade o mais bárbaro dos crimes,
considerando que necessitavam
desde que seja influente e possa pagar.” apenas de tratamento justo e humano
(Wells, 1995, v.2: 178) para se tornarem úteis ao Império.
1822-1889 Capítulo 3 | 119

O engenheiro esmerou-se na coleta Seu trabalho estimou ainda


“At the costum house”, desenho de James W. Champney.
Parte de Travels in the north of Brazil, 1860. Fundação de informações confiáveis sobre acidentes as perspectivas de prospecção de
Biblioteca Nacional - Brasil
geográficos até então sem registro, e teria minerais em diversas localidades,
corrigido diversos mapas sobre o interior indicou áreas propícias à agricultura
do país. Atendendo a especificações do e à criação de gado e a localização
governo imperial, registrou detidamente das terras mais baratas. Embora mais
medidas de distância e altura, profundidade interessado nas possibilidades de
e gradiente de rios, com especial referência negócios com a construção de ferrovias,
às possibilidades de construção de sua especialidade, preocupou-se em
futuras ferrovias e canais, discriminando apontar as vantagens comerciais
os rios navegáveis e seu respectivo duradouras para a Grã-Bretanha em
potencial de energia hidráulica para a relação ao Brasil, propiciadas pela
movimentação de moinhos, os tipos melhoria nas comunicações. Desse
de embarcação utilizados para navegá- ponto de vista, a navegação do Tocantins
los e os custos do aluguel de barcos, e sua conexão ferroviária com outras
pilotos, remadores e das provisões. bacias fluviais eram estratégicas.
O viajante inglês chegou ao
Tocantins pela região do Jalapão, no
sertão do Piauí. Em seu trabalho,
descreveu a produção de carne e
de couros que era enviada por balsa
pelo rio do Sono até Pedro Afonso, de
onde era transferida para botes que
navegavam o Tocantins até a capital do
Pará. Embora pretendesse ir a Belém,
chegou apenas a Carolina, desistindo
de seguir viagem em razão de notícias
sobre uma epidemia de varíola no baixo
Tocantins. De Carolina prosseguiu,
por terra, até São Luís do Maranhão.
Wells forneceu dados minuciosos
sobre o comércio entre Palma e
Belém, em viagens de bote, entre
os quais incluiu comentários sobre
as qualidades requeridas dos
candidatos a empreendedores.
120 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Doze meses são consumidos em uma


viagem comercial do Pará até a cidade de
Palma no alto Tocantins: dez na subida e
dois na descida do rio. Disseram-me que
se um comerciante consegue fazer duas
viagens bem-sucedidas sem naufrágio, ele
tem o direito de se aposentar com uma
renda. As mercadorias transportadas rio
acima são estampados de algodão, xales,
jóias de Birmingham, bacalhau seco da
Terra Nova, farinha, café, cachaça e diversas
miudezas; estas são permutadas nos
arraiais e aldeias ribeirinhas por couro cru,
pó de ouro, carne-seca, óleo de copaíba,
plantas medicinais, fumo, peles de onça
e outras, feijão, farinha, toucinho, etc.
Se um homem consegue acumular uma
fortuna moderada em dois anos de uma
vida dessas, ele bem a merece, pois é uma
vida árdua, insalubre e cheia de torturas de
insetos; há, além do mais, o grande risco
que ele corre de ver naufragar o trabalho
de todo um ano, o que é mais provável por ele fortemente influenciado, Moraes
“Hammok weaving”, desenho de James W. Champney.
acontecer. Para tornar-se um comerciante
registrou no livro Apontamentos de Parte de Travels in the north of Brazil, 1860. Fundação
bem-sucedido, um homem deve ter capital, Biblioteca Nacional - Brasil
viagem (1883) realidades e costumes
para começar, ser ‘esperto’, no sentido
americano do termo, ser forte e saudável, que antes desconhecia inteiramente.
Na outra página, “Roasting farinha”, desenho de James W.
ter uma constituição de ferro, grande No caminho percorrido para Champney. Parte de Travels in the north of Brazil, 1860.
Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
paciência e ser totalmente familiarizado assumir a presidência da província, ele
com o seu negócio, as pessoas, o rio e,
foi progressivamente se inteirando dos
além disto, ser abençoado pela sorte.”
(Wells, 1995, v.2: 172-173)
círculos de poder de Minas Gerais e de
Goiás, percebendo, do ponto de vista de
A complexa rede regional de conexões representante do governo central, como
políticas que agia em torno desses funcionava o sistema de solidariedade
empreendimentos talvez fosse mais política nos encontros com chefes,
difícil de ser avaliada por um estrangeiro, prefeitos, deputados e fazendeiros.
mas foi objeto de intenso interesse do Longe de constituir apenas uma incursão
advogado e político paulista Joaquim de destinada a impor os desígnios imperiais,
Almeida Leite Moraes, ligado ao Partido a viagem de Moraes apoiou-se em uma
Liberal, que presidiu Goiás em 1882. Do delicada negociação com os poderes locais
mesmo modo que Couto de Magalhães e e as redes de sociabilidade provincial.
1822-1889 Capítulo 3 | 121
122 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O advogado desenvolveu em seus


apontamentos um olhar ao mesmo tempo
romântico e empreendedor sobre sua
viagem: sua escrita caracteriza-se pelo
sentimentalismo e grandiloquência. A
es
menção à saudade das referências familiares
é permanente, produzindo a sensação
de exílio, tema romântico por excelência.
O viés racional, por sua vez, aparece no
exame sistemático de cada povoação
visitada, objetivando a sugestão de obras
e melhoramentos. Ratificando a opinião
de Couto de Magalhães quanto à forma de
remediar a apatia, decadência e ausência
de atividade econômica significativa na
província, Moraes também defendeu a
necessidade de subvenções públicas
para a melhoria da navegação a vapor.
Ele descreveu o contraste entre
o mundo dos homens que viviam
junto à natureza, como os do sertão,
e o mundo dos homens que, como
ele, representavam a civilização. Para
Moraes, o desconhecimento das
regiões interiores do país, por parte de
brasileiros como ele próprio e outros
governantes, historiadores e geógrafos,
era equivalente ao dos estrangeiros.
Em sua visão, o sertão associava-se
à feição primitiva, selvagem e inexplorada
da nação, ao mesmo tempo em que o
próprio autor se identificava com a figura
mítica do bandeirante paulista, herói
desbravador que incorporou ao território
nacional a natureza luxuriante, com
florestas, grandes rios e aldeias indígenas.
1822-1889 Capítulo 3 | 123

para a Itaboca, a famosa Itaboca, o terrível


Na outra página, “On the banks”, desenho de James W.
Champney. Parte de Travels in the north of Brazil, 1860.
Adamastor dos navegantes do Tocantins,
Fundação Biblioteca Nacional - Brasil o túmulo insaciável que guarda em suas
profundidades centenas de cadáveres e
“Artefato indígena”, detalhe de gravura reproduzida na
obra The naturalist on the river Amazons, escrita por dezenas de botes, o caminho, o caminho
Henry Bates e publicada provável para a eternidade, a viagem pelo
pela University of
California, 1962
desconhecido, o presente absorvido pelo
passado; o tempo sem futuro! A Itaboca
é o negro pensamento que, desde o alto
“Climbing Palm”,
gravura de E. W. Araguaia, sombreia a fronte dos mais
Robson, reproduzida na audazes navegantes e os prostra absorvidos
obra The naturalist on the
river Amazons, escrita por
nas sinistras previsões de uma catástrofe.”
Henry Bates e publicada (Moraes, 1995: 255)
pela University of
California, 1962
O rio Tocantins foi um cenário As condições extremamente difíceis
privilegiado para a observação do de navegação do Tocantins também
caráter dos moradores locais que, foram descritas pelo religioso Michel
somada à descrição física dos inúmeros Berthet, a partir de sua viagem de
acidentes geográficos, ajudou Moraes missão a Goiás em 1883, logo após
a compor a identidade regional. Ao a instalação dos dominicanos naquela
terminar seu mandato, ele desceu província, no ano anterior. Na viagem,
o Araguaia e o Tocantins até Belém, Berthet teve a companhia do bispo de
entre dezembro de 1882 e janeiro Goiás, Dom Claudio Gonçalves Ponce
de 1883, retornando a São Paulo de Leão, e de outros dominicanos
pela costa brasileira. Na narração franceses. Para apoiar o trabalho no
dessa viagem, não poupou elogios norte de Goiás, em 1886 foi estabelecido
aos homens que o acompanharam, em Porto Imperial, às margens do
destacando, como tantos outros Tocantins, um convento dominicano.
viajantes, o talento e a habilidade dos Frei Berthet foi o principal responsável
remeiros do Tocantins. A passagem pela obra até 1891 e realizou diversas
por um trecho acidentado, incluindo o jornadas de catequese pela região,
encontro com a cachoeira de Itaboca, acompanhado pelo frei Gil Vilanova.
demonstra claramente as dificuldades A navegação do rio em uma
enfrentadas pelos navegantes. viagem entre Boa Vista e Porto
Imperial foi comparada por Berthet
“Ninguém, absolutamente ninguém,
ao martírio, elemento fundador da
lembra-se do Tauri Grande, em cuja
passagem, desde ontem, gastamos nove
experiência missionária nos mais
horas, e por quê? Porque caminhamos perigosos confins do planeta.
124 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Nossa embarcação se parece com a que nos vezes dessas ocasiões para combater
transportou de Santa Maria a São Vicente, as práticas populares de cura,
quer pela forma, quer pela falta absoluta de realizadas por benzedeiras e diversos
higiene e conforto. Sem desejar o conforto
outros tipos de rezadeiras. Berthet
inglês, poder-se-ia, entretanto, sem faltar à
mortificação nem ao espírito de penitência,
estabeleceu-se em Porto Imperial, onde,
desejar trocar a posição que tomam os índios segundo ele, a ausência da política
pela que tomam os civilizados. Mas nem seria uma qualidade. O dominicano
este pequeno alívio nos é permitido e para destacou ainda a fé dos habitantes
sofrer o martírio não é necessário ir à China, mais ricos e a mesma necessidade
pois aqui mesmo se encontra o suplício. de assistência religiosa verificada
Nosso barco é menor que o primeiro e
em outras povoações da região.
à caravana se juntam o vigário que nos
acompanha com seu inseparável sacristão
e dois meninos que o bispo está levando “A população (...) é a melhor da diocese. Ali,
para estudar no seminário. Como dar lugar nada de partido político. A única política é
a tanta gente? No segundo compartimento, a de promover os interesses da localidade.
que tem por piso apenas alguns piquetes (...). Todos pedem insistentemente ao bispo
de madeira redonda, o bispo se alojou que eu fique com eles. Oferecem uma
com suas malas. Em seguida, o cônego casa a religiosos, e um rico negociante
conseguiu esgueirar-se aí e me convidou a oferece-me também uma de suas casas,
passar um relance de vista nesse pardieiro e com a condição de lecionar para seus filhos.
procurar com os olhos um abrigo. Finalmente Hoje mesmo a casa é doada ao bispo, só
me acomodo aí. Mas em que estado? O faltando os religiosos. Esta população nos
teto é tão baixo que é impossível sentar- deu grandes consolações. Lá e lá somente,
se e o piso está tão atapetado de malas os homens importantes se confessaram.
e de pernas, que não é possível esticar à Abençoamos uns duzentos e tantos
vontade. Os braços vêm pois em auxílio casamentos. A maioria vivia em concubinato
das pernas para manter-se numa posição e as mulheres públicas (prostitutas),
equilibradora e não incomodar os vizinhos sentindo que perseverança seria difícil,
que estão mais ou menos alojados.” corriam para um marido. Foi impossível
(Berthet, 1982: 153) confessar todos os que desejavam, apesar
da assiduidade de quatro padres no
confessionário, durante cinco ou seis dias.”
O frade descreveu a chegada da (Berthet, 1982: 163)
comitiva às diversas vilas e povoações
das margens do Tocantins, em que
eram recebidos por multidões ansiosas
pela presença de religiosos, o que
os obrigava a um trabalho exaustivo
de ministrar missas e oferecer outros
sacramentos, como casamentos e “Trecho de um rio na Amazônia”, gravura de Percy Lau re-
produzida na Revista Brasileira de Geografia editada pelo
batismos, aproveitando-se muitas Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1939
1822-1889 Capítulo 3 | 125

A narrativa prossegue com o relato


da passagem da comitiva por várias outras
localidades do norte de Goiás, encerrando-
se com a descrição da construção de
uma balsa para a travessia de um ribeirão,
em que, mais uma vez, se evidencia a
precariedade das condições de navegação,
quase terminada em naufrágio.

“Para atravessar o ribeirão dos Macacos só


temos uma canoa e em tão péssimo estado
que se fala em construir uma balsa. Cortam
uma árvore no meio da floresta e a dispõem em
forma de círculo à qual atam um pelo de boi. Por
meio de duas cordas, cujas extremidades estão
amarradas nesta primitiva embarcação, dois
homens, alternadamente, tentam lançá-la ao
rio. As tentativas não são exitosas e resolvem
consertar a velha canoa. Um empregado
empresta sua calça. Mas os buracos são tão
numerosos e tão grandes que a calça cai na
água. Faz então uma argamassa. Mas a cada
viagem há que esvaziar de novo a canoa que se
enche de água e se fazem novos remendos.”
(Berthet, 1982: 169)

O registro do dominicano permite


uma leitura mais apurada de como viviam
as populações ribeirinhas do Tocantins
pré-republicano. O Império havia se
empenhado em construir um projeto de
Brasil, no qual buscou incluir, com todas
as dificuldades da época, os rincões
mais afastados da capital e dos centros
econômicos do país. A República se
iniciaria com o mesmo movimento de
percorrer o rio, tentando descobrir uma
maneira de tornar viável a exploração de
suas riquezas e, assim, reafirmar seu papel
na formação da identidade brasileira.
Capítulo 4
Isolamento em tempos de ordem e
progresso no curso do Tocantins

1889-1930
128 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

OS ESFORÇOS DESPENDIDOS DURANTE Quando da entrada do novo regime


“Regatões”, gravura de Percy Lau reproduzida na Revista
O IMPÉRIO PARA MAPEAR E CONHECER de governo, o alto e médio Tocantins Brasileira de Geografia editada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 1953
O TOCANTINS não impediram que o rio apresentavam diversos povoados
permanecesse, de fato, isolado do restante abandonados, retratando o declínio da
do país. Nenhum dos estados banhados mineração e a pobreza e estagnação
por ele, por exemplo, se ligou à rede de econômica que se seguiram. Esta vasta
telégrafos instalada na segunda metade do região era pontuada pela prática da pecuária
século XIX. A proclamação da República, e da agricultura em pequena escala.
efetivada no Rio de Janeiro, não afetou de No baixo Tocantins, o centro urbano de
forma direta a vida política nas longínquas referência era Belém, para onde seguiam
terras banhadas pelo rio, dominadas por as embarcações que transportavam a
chefes locais, os chamados coronéis. produção extrativista e de onde procediam
A organização administrativa de Goiás, os objetos e gêneros necessários à
Maranhão e Pará restringia-se às capitais sobrevivência nas localidades em que o
e a alguns poucos núcleos urbanos. rio era a única ligação com a civilização.
“Caderneta da Missão Cruls”, com notas de Hastímphilo
Moura, encarregado dos diários da missão. Arquivo Públi-
co do Distrito Federal

“Membros da Expedição Cruls”, da esquerda para a direta


(sentados): Dr. P. A. Gouveia, Dr. A. Pimentel, Dr. Louis
Cruls, Dr. J. Lacaille, Dr. A. Cavalcanti, Dr. Celestino Bastos;
(em pé): Dr. T. Fragoso, E. Chartier, Dr. Hussak, F. Souto,
Araújo Costa, Dr. Henrique Morize, Dr. Ule, Dr. A. Gama, Dr.
Hastímphilo Moura, Melo, A. Abrantes, Peres Cuiabá e capi-
tão Pedro Carolino. Museu de Astronomia e Ciências Afins

Se os sucessivos viajantes do Nacional, mencionando a necessidade instalação da futura capital, incluindo a


período imperial acabaram cumprindo inadiável de mudança da capital do país. região das lagoas Formosa, Feia e Mestre
um papel mais exploratório do que de Cinco dias depois, o Ministério dos d’Armas, em Goiás. Todavia, a troca
interligação entre as localidades da região Negócios da Agricultura, Comércio e de presidentes da República colocou o
Centro-Oeste e o distante Sudeste, na Obras Públicas expediu portaria criando a projeto da transferência da capital em
recém-criada República, as expedições Comissão Exploradora do Planalto Central, segundo plano, e a comissão finalizou seus
ganharam a função de viabilizar uma das que ficou conhecida como Missão Cruls, trabalhos já com dificuldades financeiras.
grandes metas do governo: a integração por ter sido chefiada por Louis Ferdinand Na mesma época, outra comissão
nacional. Ainda na última década do Cruls, astrônomo belga, professor da foi instituída pelo governo, subordinada
século XIX, foi criada uma comissão cujo Escola Superior de Guerra e diretor do aos ministérios da Guerra e da Viação,
objetivo era demarcar e fazer os estudos Observatório Astronômico do Rio de para, enfim, construir uma linha de
indispensáveis para a instalação do Janeiro (atual Observatório Nacional). Entre telégrafo no Centro-Oeste. Apenas em
futuro Distrito Federal no centro do país. 1894 e 1895, foi criada pelo Ministério 1900, porém, foram iniciadas as viagens
O projeto, retomado pela Constituição da Indústria, Viação e Obras Públicas a da Comissão Telegráfica do Mato Grosso,
republicana, havia se tornado atual devido Comissão de Estudos da Nova Capital da comandada pelo engenheiro militar
à instabilidade política na capital. Em União, pretendendo aprofundar e finalizar Cândido Rondon. A partir de 1907, ele
12 de maio de 1892, o presidente da os estudos realizados pela equipe de Cruls, estaria à frente da importante Comissão
República, marechal Floriano Peixoto, que havia delimitado uma área de cerca de Linhas Telegráficas Estratégicas do
enviou uma mensagem ao Congresso de 14 mil quilômetros quadrados para a Mato Grosso ao Amazonas (CLTEMTA).
1889-1930 Capítulo 4 | 131

Com objetivos imediatos e pragmáticos Durante os primeiros trinta anos


Na outra página, “Mappa dos itinerários levantados”. Parte
do Atlas des Itineraires, des profils longitudinaux et de de efetivar comunicações, as atividades do século XX, Rondon, chefiando
la zone demarquée, produzido por Louis Ferdinand Cruls,
chefe da Comissão de Exploração do Platô Central do Bra- da chamada Missão Rondon também equipes de militares, protagonizou
sil, 1894. Arquivo Histórico do Exército compreendiam a realização de um uma epopeia pelos sertões, que
inventário científico das riquezas naturais incluiu a administração e conservação
“Grupo da Missão Rondon reunido à frente do porto da Vila
de Gurupá (PA)”, 1929. Arquivo Histórico do Exército da porção norte do território brasileiro, de linhas e estações telegráficas, a
para o qual foram convidados alguns preparação de relatórios sobre as
naturalistas, sobretudo do Museu viagens, a consolidação do Serviço de
Nacional, do Rio de Janeiro, com tarefas Proteção aos Índios e Localização dos
próximas às desempenhadas por alguns Trabalhadores Nacionais (SPILTN), criado
viajantes desde o período imperial. em 1910, e a inspeção de fronteiras.
132 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1889-1930 Capítulo 4 | 133

A finalidade primeira desses Vivia-se o momento inicial de


Na outra página, tábulas desenhadas por F. C. Hoehne
para o “Anexo 5 - História Natural: Leguminosas” do Rela- trabalhos, conduzidos por militares, constituição de uma nova intelectualidade
tório da Commissão de Linhas Telegraphicas Estratégicas
de Matto Grosso ao Amazonas, 1917. Museu Nacional era a integração do território nacional. brasileira, resultante da expansão da
Entretanto, a presença de naturalistas oferta de instituições de ensino superior
“O general Cândido Rondon entre oficiais da Comissão de diversas áreas nas expedições que marcou o último quartel do século
Telegráfica”, responsável pela inspeção dos trabalhos de
reconstrução da parte norte da linha telegráfica do Mato apontava para outro importante XIX. Nesse período, por exemplo,
Grosso ao Amazonas. Destacam-se mulheres e crianças
objetivo: a abertura de imensas nasceram a Escola Politécnica do Rio
nhambiquaras, 1930. Arquivo Histórico do Exército
áreas ainda pouco conhecidas à de Janeiro, a Escola de Minas de Ouro
pesquisa e avaliação de cientistas. Preto, o Instituto Bacteriológico de São
O positivismo e o naturalismo Paulo, a Escola Politécnica de São Paulo,
eram, afinal, o paradigma de uma o Instituto Soroterápico Butantã, em
era de ordem e progresso que a São Paulo, e o Instituto Soroterápico
República pretendia promover. Federal de Manguinhos, no Rio.
1889-1930 Capítulo 4 | 135

Na outra página, “Carta Synthetica da Região Centro Oes-


te do Brasil”, que indica a natureza dos trabalhos realiza-
dos sob a direção do General Rondon. Elaborada por Mario
João Rabello. Arquivo Histórico do Exército

“Cândido Rondon em acampamento não identificado”.


Museu do Índio/Funai - Brasil
136 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A circulação entre a capital do país e os


estados foi uma importante característica
da elite intelectual do período, o que
representou uma maneira de construir
e pensar a unidade nacional através do
conhecimento científico do interior do Brasil.
Os sertões e os sertanejos
deveriam ser integrados científica,
econômica e socialmente aos centros de
desenvolvimento, para a construção de
uma nação. Nesse sentido, a atuação de
Rondon foi fundamental: ele estabeleceu
uma maneira de reconhecer e tratar as
populações indígenas e sertanejas que
influenciou a formação de novas gerações
de cientistas, por intermédio de seu
trabalho no SPILTN, órgão que em 1918
passou a ser denominado apenas de
Serviço de Proteção aos Índios (SPI).

“Serviço de Inspeção de fronteiras” e “Festa comemorati-


va ao sete de setembro em Posto de Redempção Indíge-
na”, fotografias do Relatório do Serviço de Protecção aos
ìndios no Estado de Goyas, relativo ao ano de 1929 (2º
volume). Museu do Índio/Funai - Brasil
1889-1930 Capítulo 4 | 137

A grande presença indígena na


bacia do Tocantins foi um dos maiores
atrativos para outro grupo de viajantes:
os dominicanos franceses, cuja missão
era buscar almas para evangelizar. Boa
parte da história das jornadas desses
religiosos foi recuperada pelo frei José
Maria Audrin nos anos 1940. O apostolado
da ordem no Brasil havia se iniciado
em 1881, na província mais central do
Império, na diocese de Goiás. Cinco anos
mais tarde, foi instalada uma missão
em Porto Imperial (atual Porto Nacional),
objetivando alcançar os pontos extremos
da diocese, isto é, a área que se estendia
entre os rios Tocantins e Araguaia.
Este extenso território foi percorrido
pelos missionários dominicanos em
constantes, longas e perigosas viagens.

“Posto de Redempção Indígena: outro aspecto dos fune-


raes” e “Um recanto no Tocantins”, fotografias do Rela-
tório do Serviço de Protecção aos ìndios no Estado de
Goyas, relativo ao ano de 1929 (2º volume). Museu do
Índio/Funai - Brasil
“Reservando para os meses chuvosos No final daquela década, os
de inverno as visitas às igrejas e dominicanos fundaram uma nova
capelas mais próximas, os missionários missão, às margens do rio Araguaia,
empregavam o período da ´seca´ em
com o apoio do então governador
viagens de desobrigas e missões,
por essas infindas regiões, ao sul e
do Pará, José Paes de Carvalho.
norte, a leste e oeste (...). Iam do Esta nova missão, localizada no
Tocantins até o Araguaia, de um lado. povoado batizado de Conceição do
De outro, percorriam o Jalapão, vasto Araguaia, teve rápido crescimento.
triângulo entre o Tocantins e os limites
de Maranhão, Piauí e Bahia. Era-lhes “(...) decorridos poucos meses, o que
também confiada a zona de São José devia ser um aldeamento reservado aos
do Duro, antigo campo de ação dos caiapós tornou-se uma pequena vila,
jesuítas, que suspeitamos com razão ter com sua igrejinha, sua escola primária,
sido visitado pelo padre Antonio Vieira. seu título de distrito de comarca de
Enfim, no extremo norte do estado Baião, no baixo Tocantins, e enfim sua
[de Goiás], chegavam à confluência incorporação oficial à diocese de Belém
dos dois grandes rios amazônicos do Grã-Pará. (...) Atraídas pela presença
[provavelmente Tocantins e Araguaia], dos missionários e pela miragem de terras
portanto aos limites do Pará.” novas, muitas famílias afluíam sem cessar
(Audrin, 1946: 57) dos sertões de Goiás, Maranhão e Piauí.”
(Audrin, 1946: 81-85)
Frei Domingos Carrérot,
principal personagem de uma Para possibilitar os constantes
das narrativas de Audrin sobre deslocamentos de religiosos pelas
os dominicanos em Goiás, missões do sertão goiano, por
incorporou-se em 1891 à missão, volta de 1900, frei Carrérot abriu
onde desenvolveu, com outros com muita dificuldade uma estrada
religiosos, várias atividades. rudimentar ligando Porto Nacional
– nova denominação de Porto
“Os padres mantinham e dirigiam Imperial após o advento da República
uma escola muito frequentada. [Frei – a Conceição do Araguaia.
Domingos] havia também iniciado
uma pequena catequese para os
filhos dos índios das beiras do “Picada gigantesca do Araguaia até o
Tocantins. (...) Foi o tempo dos seus Tocantins, através de mais de oitenta léguas
primeiros contatos com os índios, brasileiras, isto é, mais de quinhentos
que deviam, tantos anos, ser o objeto quilômetros de campinas desertas e
de seus desvelos e sacrifícios. Os matas fechadas, cortadas por diversos
pequenos xerentes de Piabanha afluentes desses dois grandes rios, e nessa
[foram] educados por ele (...).” época quase totalmente inabitadas.”
(Audrin, 1946: 58) (Audrin, 1946: 71)
1889-1930 Capítulo 4 | 139

O crescimento acelerado de
Conceição do Araguaia vivenciado pelos
missionários dominicanos refletia as
enormes expectativas geradas ao longo
do Tocantins, assim como em toda a
área amazônica, pela exploração das
seringueiras. Na verdade, esse processo
não contava com a simpatia dos
religiosos franceses, que identificavam
as promessas de riquezas abundantes
naquelas vastas terras como uma
forte oposição ao seu projeto de
sociedade, baseado na catequese.

Na outra página, “Tipo de índio caiapó”, fotografia do livro


Entre sertanejos e índios do Norte, 1946.

“Ladeira de Baião”, fotografia que ilustra a obra De Belém


a São João do Araguaia, 1910. Brasiliana USP

“O corte da seringueira”, fotografia que ilustra a obra De


Belém a São João do Araguaia, 1910. Brasiliana USP

“Brazil. Rubber plantations”, [1925]. Library of Congress


Prints and Photographs Division. Washington (EUA)

“Entrada do rio Andirobal”, fotografia que ilustra a obra De


Belém a São João do Araguaia, 1910. Brasiliana USP
140 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“(...) a futura cidade de Marabá ia se território. Afluíam aí numerosas famílias


desenvolvendo com fabulosa rapidez, por ribeirinhas do Tocantins e do Araguaia,
ser um importante empório do comércio outras do interior do Maranhão, junto com
do caucho [borracha] e da castanha, no milhares de seringueiros e de castanheiros
estado do Pará. De simples vilarejo passou do Itacaiúnas. Certos meses de safra, a
em breve a cidade e sede de comarca, população adventícia atingia a mais de quinze
tornando-se muito mais ativa e povoada mil pessoas. (...) Marabá brotara da ganância
do que Conceição [do Araguaia]. (...) A louca do dinheiro; logo totalmente alheia a
importância de Marabá provinha da sua qualquer preocupação religiosa e moral.”
posição geográfica e das riquezas do seu (Audrin, 1946: 155)

“Hevea Brasiliensis” (seringueira), gravura de Ernst Gilg


e Karl Schumann, 1910. Parte da obra Das Dflanzenreich
Hausschatz des Wissens, [1900]

“Mon équipage au repos”, ilustração da obra Voyage au


Tocantins-Araguaya, de Henri Coudreau, 1897. Biblioteca
Digital Curt Nimuendajú
1889-1930 Capítulo 4 | 141

O período de crescimento econômico todo o baixo Tocantins. Em seguida, entre


e o clima de esperança no progresso julho e outubro de 1897, o explorador
da região foram os responsáveis pela francês voltou a percorrer o mesmo
contratação, por parte do governo trecho do rio Tocantins, desta vez, com a
do Pará, do geógrafo francês Henri missão de realizar um estudo geográfico
Anatole Coudreau, com o propósito de detalhado das cachoeiras de Itaboca e
explorar, conhecer e descrever áreas que também de explorar o rio Itacaiúnas.
poderiam ser propícias à produção da O relato dessa segunda viagem, publicado
borracha. Entre 1893 e 1899, Coudreau em 1898, incluiu trinta cartas, todas
realizou uma série de viagens nas partes muito bem executadas, divididas em
paraenses dos rios Tapajós, Xingu, quatro temas, mostrando o rio, suas
Tocantins, Araguaia, Itacaiúnas, Jamundá praias e rochedos, sua profundidade e
e Trombetas, sempre acompanhado as povoações às margens. O geógrafo
de sua mulher, a também geógrafa e também transcreveu carta do missionário
cartógrafa Octavie Coudreau. Todas dominicano frei Gil Vilanova (um dos
essas viagens resultaram em publicações fundadores de Conceição do Araguaia)
patrocinadas pelo estado do Pará. com indicações sobre a região do
“Le Père Gil Villanova”, ilustração da obra Voyage au To- No livro Voyage au Tocantins- Itacaiúnas e orientações coletadas por
cantins-Araguaya, de Henri Coudreau, 1897. Biblioteca Di-
gital Curt Nimuendajú
Araguaya, 31 décembre 1896-23 mai frei Domingos Carrérot e outros religiosos
1897, Coudreau relatou a subida do da ordem ao longo de suas inúmeras
“Amazon rubber boat”, 1890. Library of Congress Prints
and Photographs Division Washington (EUA) Tocantins até o Araguaia, passando por viagens, ou passadas a eles por indígenas.
142 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Na região de Itaboca, Coudreau narrou


ter encontrado inúmeras e estranhas
belezas. A descrição das cachoeiras do
baixo Tocantins mereceu uma seção
da obra. O esforço de mapeamento
do francês, voltado para melhorias na
navegação, trouxe também uma profusão
de termos usados para descrever o
rio e seus elementos, tais como ilhas,
cachoeiras, travessões, pancadas, rebojos,
corredeiras, canais, praias, saranzais
e brechas – precisamente definidos,
embora alguns merecessem do geógrafo
proposta para novas nomenclaturas.
Essa preocupação com a descrição
exata do rio Tocantins tinha, naquele
momento, o objetivo de auxiliar a
regularização da navegação a vapor no seu
baixo curso. Coudreau contou que o vapor
não subia além de Patos. Na viagem de ida,
subiu o rio pelo canal de Itaboca, até então
percorrido por apenas três embarcações,
nenhuma na vazante máxima do rio.

“O canal de Itaboca ficou lá embaixo, atrás


de nós. Canal estreito, ladeado por praias e,
sobretudo, por pedrarias (...). Na verdade, é bem
difícil chegar-se à conclusão de que esse canal
algum dia poderia servir à navegação a vapor,
mesmo para pequenas chalupas e ainda que se
façam nele alguns serviços de correção. Quando
muito, poderia tentar-se estabelecer um serviço
regular durante as cheias; mesmo assim,
seria necessário que se fizessem importantes
trabalhos prévios de melhoramentos (...). Esse
seria o ponto de partida de um serviço hibernal
regular, definitivamente estabelecido, e não,
como até então tem sido, uma verdadeira
façanha, evidentemente admirável, mas inútil.”
(Coudreau, 1980: 32)
1889-1930 Capítulo 4 | 143

O geógrafo mostrava-se favorável ao


estabelecimento da navegação a vapor
no baixo Tocantins, em detrimento
das estradas de ferro. A preferência
pela navegação em relação ao
transporte ferroviário era recorrente
entre os viajantes desse período.
Na opinião do francês, as atividades
econômicas que sustentariam a
implantação da navegação através
de toda a região de Itaboca seriam a
exploração da borracha, extraída do
caucho (árvore da qual se retira um látex
de qualidade inferior ao da seringueira),
e da castanha. Entretanto, Coudreau,
analisando a região do Itacaiúnas,
apontava os castanhais como sendo
a verdadeira riqueza dessa região.
O viajante francês também destacou
as estradas de boi que seguiam na
Na volta, Coudreau optou por se margem direita do Tocantins desde
Na outra página, “Cachoeiras de Itaboca”, carta elaborada Imperatriz. Na altura da praia do
por Henri Coudreau. Reproduzida da obra Viagem a Itaboca arriscar, descendo este trecho do rio
e ao Itacaiúnas, publicada pela Editora da Universidade de Tocantins pelo canal Capitariquara a fim Jacaré, na qual passou Coudreau, o
São Paulo, 1980
de verificar se não se prestaria melhor a caminho atravessava o rio Tocantins e
trabalhos de correção que Itaboca. A partir prosseguia por sua margem esquerda.
“Cachoeira de Capitariquara em Tucuruí”. Instituto Brasilei-
ro de Geografia e Estatística das observações feitas
“Casa de José da Costa à Arrependido (Itaboca)”, ilustra- nessas travessias,
ção da obra Voyage au Tocantins-Araguaya, de Henri Cou- foram várias as
dreau, 1897. Biblioteca Digital Curt Nimuendajú
propostas e sugestões
stões
do francês para
pequenas obras
visando melhorar a
navegação, como
explosões de rochas,
has,
alargamentos,
aprofundamentos,
construção de canais
nais
e pequenas barreiras.
ras.
144 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Castanhais”, gravura de Percy Lau reproduzida na Revista


Brasileira de Geografia, editada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 1943

Na outra página, “Almoço dos tripulantes”, fotografia que


ilustra a obra De Belém a São João do Araguaia, 1910.
Brasiliana USP

“Église de S. João do Araguaya” e “Une rue de S. João


do Araguaya”, ilustrações da obra Voyage au Tocantins-
-Araguaya, de Henri Coudreau, 1897. Biblioteca Digital Curt
Nimuendajú
1889-1930 Capítulo 4 | 145

Ele considerou essas estradas como


parte da geografia natural da região,
da mesma forma que o rio. Essas
rotas, que seriam melhoradas à
medida que fossem utilizadas, nunca
deixariam de ser de domínio público.
O governo paraense também
financiou a publicação do relato
da viagem empreendida pelo
engenheiro civil Ignácio Baptista de
Moura, membro correspondente da
Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro e deputado estadual do Pará,
que partiu de Belém em 4 de março
de 1896 e chegou a São João do
Araguaia, no vale do rio Tocantins, em
14 de abril do mesmo ano. Apesar
de a expedição ter antecedido à de
Coudreau e sua esposa, seu minucioso
relato só foi publicado em 1910.
146 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O objetivo oficial da viagem era


uma visita, na condição de deputado, ao
Burgo Agrícola de Itacaiúna (atual Marabá),
com a intenção de produzir um relatório
sobre esse núcleo para o governo do
estado do Pará. Todavia, o engenheiro
foi muito além dessa incumbência.

“Quando subi o Tocantins, não tinha tenções


de escrevê-lo. Fui ali em comissão quase
alheia à ciência, e só depois de me achar
diante do esplendor daquela natureza
opulentíssima, é que me assaltou a ideia
de trazer ao mundo uma cópia da riqueza
daquela região. Se eu fosse pintor, tiraria
dali quadros divinos e naturalíssimos. Na
impossibilidade de o fazer, trago para este
livro notas ligeiras, para a competência
proveitosa de um sábio melhor escrever.”
(Moura, 1910: 303-304)

O relatório produzido por Moura teve


conteúdo bem diversificado, passando
por temas como o histórico do local,
descrição do terreno, administração do
burgo e concessão de lotes, descoberta
de campos nos arredores, população e
habitações. As atividades econômicas e o
boom da castanha mereceram destaque.

“A ilha de Jutaí é o marco limítrofe inferior da


riquíssima zona de castanhais no Tocantins,
toda compreendida no território do estado
do Pará. A região dos castanhais estende-se
rio acima, começando na margem direita do
Matacurá e na margem esquerda do distrito de
Joanna Peres, seguindo no rumo de S.E. e S.O.,
e assim forma a região privilegiada que confina,
por um lado, com o estado do Maranhão, e pelo
outro com os campos gerais do Araguaia.”
(Moura, 1910: 111)
1889-1930 Capítulo 4 | 147

O deputado concluiu serem boas as Moura também tratou as demandas


Na outra página, “Beleza do Tocantins” e “Casa de roça”,
fotografias que ilustram a obra De Belém a São João do perspectivas para o povoamento da região da navegação como essenciais
Araguaia, 1910. Brasiliana USP
com a instalação do burgo e apresentou para qualquer desenvolvimento
como obstáculos a longa distância de pretendido para a região, não se
“Arara azul’, detalhe de aquarela de Ernesto Lohse, estam-
pada no suplemento ilustrativo da obra Aves do Brazil, or- outras povoações importantes, a pouca eximindo de apontar os instrumentos
ganizada por Emílio Goeldi, 1900-1906. Museu Paraense valorização da terra (com a grande para possíveis melhoramentos.
Emílio Goeldi
extensão de terras devolutas) e o
“Um bote goyano”, fotografia que ilustra a obra De Belém
pequeno valor dos produtos agrícolas, “A alguns passos de distância, apareceu-nos
a São João do Araguaia, 1910. Brasiliana USP
a clareira da beirada, e, sob o ímpeto da luz
confiando, contudo, na presença indígena
que nos fustigou a vista, a serpente indomável
para a resolução dos problemas.
da cascata, que estrugia, como uma bomba
de encontro aos grandes seixos do canal. Um
“Tenho esperanças fundadas no futuro de que tênue vapor claro fazia ondear a corrente com
só esses selvagens trarão vida ao burgo e os respingos d’água. Lá estava em baixo a pedra
nos levarão até à beira encantadora daqueles do João Aires, apenas uns 14 metros cúbicos
campos imensos, pasto de boiadas, que de granito, a zombar da energia humana, como
farão o nosso engrandecimento pastoril e se não estivéssemos no século da dinamite!”
perpetuarão o nome dos ousados viajantes (Moura, 1910: 179)
que sangraram os pés demarcando o
caminho entre a civilização e a catequese.”
(Moura, 1910: 260)
148 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1889-1930 Capítulo 4 | 149

Para o engenheiro, os padrões de provocaria a dispersão de comunidades


Na outra página, “Gaiolas e vaticanos”, gravura de Percy
Lau reproduzida na Revista Brasileira de Geografia editada povoamento sofreriam grande influência nas margens do Tocantins. Portanto,
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1942
da implantação da navegação a vapor. apostar em diferentes modos de transporte
Esse tipo de embarcação, afirmava, significava apoiar diferentes estratégias de
“Arumatheua, rue du Port”, ilustração da obra Voyage au
Tocantins-Araguaya, de Henri Coudreau, 1897. Biblioteca poderia atracar em vários lugares, desenvolvimento e ocupação do território.
Digital Curt Nimuendajú
diminuindo a dependência dos navegantes Ele indicou ainda que os paraenses,
“Rua principal da povoação de Arimatheua”, fotografia que
dos povoados maiores, como era o na verdade, eram minoria no povoamento
ilustra a obra De Belém a São João do Araguaia, 1910.
Brasiliana USP caso de Arumateua, na época ponto da região do baixo Tocantins.
obrigatório de parada durante o percurso,
onde havia pessoal disponível para “(...) entre centenas de indivíduos com
quem tratei na minha longa viagem de
completar as tripulações, carne fresca
Alcobaça para cima, não cheguei a ver
para matalotagem e algum lazer para os mais do que 12 paraenses, sendo o resto
viajantes. Moura afirmava que, se uma desta grande população composta só de
estrada de ferro promovia certo padrão maranhenses e goianos, a quem chamamos
impropriamente mineiros, denominando
de povoamento baseado na localização
eles de parazeiros aos paraenses.”
de suas estações, a navegação a vapor
(Moura, 1910: 164)
Uma das propostas feitas por Moura
para a ocupação da região, adotando a
opinião de Coudreau, foi a atração de
colonos estrangeiros. Outra grande e
constante preocupação do político era
a relação das comunidades com os
povos indígenas, os também chamados
caboclos. Numa longa narrativa, Moura
descreve o que teria sido o primeiro
contato pacífico entre os índios gaviões e
um lavrador – o chefe indígena teria até
entregado os arcos e flechas da tribo. O
deputado chegou a tentar articular uma
visita de três índios gaviões ao governador
do Pará, em Belém, para, como
imaginava, mostrar a beleza do povo às Porém, em muitas passagens, daqueles adãos, talvez tão inocentes como
explicita sua admiração e curiosidade o primeiro pai da humanidade no paraíso.
autoridades e cientistas e, ao mesmo
para com os povos indígenas, Que diferença entre estes homens e os
tempo, apresentar aos representantes civilizados que tínhamos deixado lá em baixo
da tribo o que considerava os confortos como no episódio do encontro com
e os que íamos ainda encontrar rio acima!
um grupo de caboclos gaviões
de uma grande cidade civilizada, para Eram estes sadios e corados; aqueles,
numa praia do rio Tocantins. anêmicos e doentes; estes, vigorosos e
provocar nos indígenas o desejo de
de cabeça erguida; aqueles, enervados e
melhorar suas condições de vida.
“(...) pude com mais vagar examinar os curvados sobre os punhos das redes, o
Ao mesmo tempo em que Moura extraordinários personagens que diante de pasto mais fértil do micróbio da intermitente.
se apresentava como um defensor e nós tínhamos. Eram altos, de talhe bem Tive então o orgulho nativo de apreciar a
admirador dos índios, afirmava que um conformado, sem visos de obesidade, pelo opulência e a pureza do verdadeiro sangue
que o colega italiano que comigo estava brasileiro. Pela primeira vez compreendi
dos fatores da falta de povoamento da
garantiu poderem servir de modelo ao mais que a radiante figura de Peri não foi uma
região era o medo de ataques indígenas. rigoroso estético. Os olhos, negros e vivos, ficção da ardente imaginação de Alencar.”
encobriam o defeito da falta de pestanas (Moura, 1910: 200-201)
“Os únicos castanhais explorados pelos arrancadas em criança; as sobrancelhas,
extratores ou cortadores são os que ficam finas como traços de nanquim, terminavam
a 2 ou 3 quilômetros da normal, à beira para dar começo ao nariz corretíssimo; a
do Tocantins, sobretudo os da margem ausência da barba amenizava as feições, e “Rua Santo Antônio, Belém”, reprodução colorizada de
direita. (...) Notamos que na margem direita deixava mais pronunciados os lábios grossos, cartão-postal que circulou no início da década de 1910.
Coleção Boris Kossoy
se não via uma só cabana de morador; debaixo dos quais se notava uma pequena
disseram-nos que isso provinha do receio cesura, onde cada qual trazia uma rodinha de
de investida dos índios daquela banda.” Castanheira derrubada na abertura do traçado da Estrada
madeira ou de vidro esfumaçado; as mãos e de Ferro Madeira-Marmoré em Rondônia, [1907-1911]. Co-
(Moura, 1910: 111-133) os pés pequenos completavam a compostura leção Ilana Maria
152 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Índios anambés” e “Índios apiacaes”, fotografias que


ilustram a obra De Belém a São João do Araguaia, 1910.
Brasiliana USP

Na outra página, “Saurá”, ilustração de Antônio Carlos


Seabra Martins para o terceiro álbum de colorir da Série
Infantil do Museu Goeldi, tendo como tema as Aves da
Amazônia

“Planta de uma estrada de rodagem de Goyaz ao Coxim”,


1866, de J. R.M. Jardim. Acervo Arquivo Histórico do Exér-
cito

Ainda impressionado com essa A grande representação do progresso


experiência, o deputado criticou a falta de na região nesse período seria a estrada
políticas para a integração dos índios, o de ferro. Alcobaça (mais tarde, Tucuruí,
que abriria espaço para uma já tradicional no Pará) era então a base de operações
ideologia de combate a esses povos. O para construção da única ferrovia às
engenheiro paraense identificava esse margens do Tocantins, mas foi descrita
tratamento com a inevitabilidade do processo com certo tom de ironia por Moura.
de desenvolvimento desencadeado no país.
“Ali se achava erguido, sem estilo algum, o
“O progresso, meus pobres amigos, tem uma casarão coberto de folhas de zinco, todo de
lei inexorável, a qual pisa o mundo, ora com madeira, destinado a servir de escritório e
a pata de ferro de uma locomotiva, ora com o de residência da administração e do pessoal
estilete fino do fio telegráfico. Ninguém tem hoje técnico da estrada de ferro. (...) Oito a nove
o direito de ficar parado: a luta pela existência casas (...) completavam toda a casaria, que
chama a postos todos os homens, vítimas ou formava naquele ano a povoação, destinada
algozes. Todos trabalham, todos necessitam a servir de ponto inicial à maior e mais
e todos se satisfazem. Ah! pobres gaviões, no importante via férrea do Norte da República.”
dia em que o progresso tiver necessidade de (Moura, 1910: 119)
vós ou das vossas terras, iremos ao coração
da vossa pátria, pedir-vos a rendição ou a
morte, e dar-vos a enxada ou a sepultura.”
(Moura, 1910: 227)
1889-1930 Capítulo 4 | 153

A estrada de ferro citada seria das cachoeiras do baixo Tocantins na


construída pela Companhia de Viação década de 1860, durante o Império.
Férrea e Fluvial do Tocantins e Araguaia, Jerônimo Jardim havia sido
organizada em 1891, a partir de uma nomeado, em fevereiro de 1890, pelo
concessão outorgada no ano anterior pelo governo provisório da República recém-
governo federal ao engenheiro militar proclamada, presidente da Comissão Geral
goiano Joaquim Rodrigues de Moraes de Viação, encarregada da elaboração do
Jardim, cujo irmão mais novo, Jerônimo primeiro plano de viação da República.
Rodrigues Moraes Jardim, também O trabalho da comissão buscou traçar
engenheiro militar, já havia realizado uma as linhas de expansão da rede ferroviária
expedição para estudo e reconhecimento em conexão com a navegação fluvial.
154 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A companhia de Joaquim Jardim


tinha o privilégio de explorar a navegação
dos rios Tocantins, Araguaia, das Mortes
e afluentes e também de vias férreas
planejadas para se interporem entre os
trechos francamente navegáveis de cada
um dos dois rios maiores, promovendo,
assim, uma linha mista. Para tanto, a
companhia deveria proceder a obras de
desobstrução dos rios, abrindo canais
no Tocantins até a cidade de Porto
Nacional ou a de Palma. No trecho
encachoeirado abaixo da confluência
com o Araguaia, deveria ser construída
uma estrada de ferro a partir de Alcobaça
até a localidade de Praia da Rainha,
com extensão de 184 quilômetros.
A mesma empresa passou a operar Ainda em 1898, Ignácio Moura
“Barqueiros enfrentando corredeiras”, fotografia tirada du-
em 1893 um serviço de navegação entre comentava ter ouvido diversas críticas rante as expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz
ao interior do Brasil, [1911-1913]. Casa de Oswaldo Cruz
Belém e Alcobaça. Mas a construção da à falta de estudos mais rigorosos para - Fiocruz
seção ferroviária da via mista logo se escolha do traçado da estrada e, na
tornou um grande problema, gerando qualidade de engenheiro e de defensor Na outra página, rota dos expedicionários do Instituto
Oswaldo Cruz, durante a missão científica ao interior do
acusações de favorecimento, falta de da ferrovia, reprovava o que chamava de Brasil entre 1911 e 1913, sobre o “Mappa Geral da Re-
pública dos Estados Unidos do Brasil”, 1908. Fundação
planejamento e não cumprimento do monstruoso corpo daquela concessão. Biblioteca Nacional - Brasil
contrato. Até 1911, só estavam prontos De fato, o contrato previa um amplo
Astrogildo Machado e Antônio Martins (1911)
43 quilômetros da ferrovia, apesar de leque de benefícios para a concessionária: Belisário Penna e Arthur Neiva (1912)
diversas vezes terem sido concedidas entre subvenções anuais, isenção de João P. de Albuquerque e José de Faria (1912)
Adolpho Lutz e Astrogildo Machado (1912)
ampliações do prazo do contrato. impostos, garantias de juros sobre capital
Carlos Chagas, Pacheco Leão e João P. de
Na memória escrita por Jerônimo empregado e preferência na eventual Albuquerque (1912-1913)
Jardim, ele justificou os atrasos com exploração de minas em toda a zona,
os altos custos – incluídos aí os gastos havia ainda a garantia de propriedade
com pessoal, classificado pelo dono plena das terras devolutas marginais
da companhia como numeroso –, a à linha, na média de 10 quilômetros
grande insalubridade, que provocava para cada lado. Essa área totalizaria
epidemias de febres, o isolamento e a aproximadamente 80 mil quilômetros
dificuldade em contratar pessoal técnico. quadrados em propriedade da empresa.
156 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Outro projeto modernizador levaria


mais viajantes ao Tocantins do início
do século XX. Em 1912, a Inspetoria
de Obras Contra as Secas contratou
uma expedição científica ao Instituto
Oswaldo Cruz, então conhecido como
Instituto de Manguinhos, chefiada, desta
vez, pelos destacados médicos Arthur
Neiva e Belisário Penna, figuras centrais
do movimento sanitarista da Primeira
República. Eles percorreram o norte
da Bahia, o sudoeste de Pernambuco,
o sul do Piauí e o estado de Goiás,
subindo o rio Tocantins a partir de Porto
Nacional. Segundo as notas de viagem
que elaboraram e foram publicadas em
1916, incluindo um registro fotográfico,
o objetivo da expedição era realizar
pesquisas de medicina, higiene e história
natural nas áreas atingidas pela seca,
mas o relato acabou se caracterizando
como o retrato de lugarejos isolados
e repletos de doenças, que serviu
de subsídio para a campanha pelo
saneamento rural na Primeira República.
A narrativa concentrava-se na
descrição científica do ambiente físico,
contendo extensas listas de espécimes
encontradas e discutindo as principais
doenças locais. A classificação das regiões
foi baseada em características climáticas,
de vegetação ou da rede hidrográfica. Os
sanitaristas observaram a ação destrutiva
do homem em relação ao ambiente e
enfatizaram a expansão do processo de
diminuição das águas, que, em Goiás, se
manifestava na destruição dos brejos e
dos buritizais, transformados em desertos.
1889-1930 Capítulo 4 | 157

Na outra página, “Série Acampamento”. Na foto superior,


à direita, Arthur Neiva em Caldeirão (PE), 1912. Na foto
inferior, ao centro, Belisário Penna e Arthur Neiva em Bebe
Mijo (PI), 1912. Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz

“Mauritia vinífera” (buriti), desenho de Ferdinand Dennis,


1846. Fundação Biblioteca Nacional

“Mauritia vinífera” (buriti), detalhe da gravura Palmem I,


de Meyers Kont, [1885-1892]. Bibliographiches Institut in
Leipzig (Alemanha)
158 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A ausência de mata em todo


o percurso foi ressaltada pelos
viajantes, que apontaram o problema
das queimadas e propuseram em
substituição a essa prática soluções
múltiplas, como reflorestamentos.
De maneira mais enfática do que
Ignácio Moura ou Henri Coudreau, os
médicos Penna e Neiva foram favoráveis
à política de atração de imigrantes
europeus, pois consideravam que o
progresso no Brasil, em grande parte,
era devido ao estrangeiro. Penna
foi um dos introdutores no Brasil da
teoria da eugenia racial e membro
ativo da Comissão Central Brasileira de
Ao passarem por Porto Nacional, em
Eugenia, da qual se originou a Liga Pró- “Antônio Martins presta atendimento médico a N. Pereira
agosto de 1912, os médicos descreveram Pinto” em Palma (GO), 1911. Casa de Oswaldo Cruz - Fio-
Saneamento, enquanto Neiva defendeu cruz
os principais eixos comerciais que
na Assembleia Nacional Constituinte de
atravessavam a cidade: para Barreiras, na “Église de la Barreira”, ilustração da obra Voyage au Tocan-
1933 a tese, baseada na eugenia racial e tins-Araguaya, de Henri Coudreau, 1897. Biblioteca Digital
Bahia, por meio de tropas; e para Belém, Curt Nimuendajú
no darwinismo social, da necessidade do
através dos batelões e igarités. Os batelões
branqueamento da população brasileira.
desciam o rio até a capital do Pará em trinta
Apesar de suas convicções, os dois
dias, mas voltavam em cinco meses, e
sanitaristas não achavam relevante a
tinham capacidade para até três toneladas
raça como categoria explicativa para
de mercadorias, principalmente gado, couro
a ancilostomose, doença causada por
e cereais. Sua chegada era motivo de festa.
vermes que passou a ser apontada,
a partir dos trabalhos desenvolvidos
por eles, como a principal causa da
baixa produtividade do trabalhador rural
brasileiro. Mais adiante, suas viagens
acabaram fundamentando a oposição a
essa imagem de inferioridade racial dos
brasileiros, principalmente dos mestiços,
por propagar uma visão do sertanejo
em simbiose com seu ambiente.
1889-1930 Capítulo 4 | 159

“Rua principal, à esquerda templo construído pelos fra-


des dominicanos” em Porto Nacional (GO), 1911. Casa de
Oswaldo Cruz - Fiocruz
160 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“A população acorre ao porto em massa


para assistir à atracação das embarcações.
Estas, antes de atracar, param do lado oposto
do rio, onde a marinhagem toma banho e
muda a roupa. Daí trazem a vara os batelões
embandeirados até o porto e durante esse
tempo fazem grande algazarra, e de terras
soltam-se foguetes. Todas as bandeiras que
ornamentam os batelões eram as do Divino.”
(Penna; Neiva, 1916: 210-211)

Depois de receber orientações dos


dominicanos – elogiados pelos sanitaristas
por suas iniciativas civilizatórias e seu
conhecimento da região –, os viajantes
mudaram o rumo, decidindo não ir até
Conceição do Araguaia e seguir na direção
montante do Tocantins, passando por
Descoberto, Amaro Leite e Pilar. Penna
e Neiva constataram uma inquietante
uniformidade de cenário nesse percurso.

“A mesma constituição geológica, idênticos


panoramas, vegetação semelhante; extensas
campinas, vastos chapadões de cerrados,
grandes veredas de buritisais, pequenos “Grupo de doentes da moléstia de Chagas”, Asilo de São
capões de matos à margem dos rios, riachos e Francisco (GO), 1912. Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz
córregos, esses muito abundantes. A mesma
solidão. Em todo o longo percurso, apenas “Barbeiros”, ilustração de Castro Silva reproduzida na obra
três núcleos de população – Descoberto, Nas frestas entre a ciência e a arte: uma série de ilustra-
ções de barbeiros do Instituto Oswaldo Cruz, de Ricardo
Amaro Leite e Pilar, extremamente decadentes, Lourenço de Oliveira e Roberto Conduru, 2004. Casa de
com suas populações, na totalidade Oswaldo Cruz - Fiocruz
constituídas de negros e mestiços, inutilizada
pelo terrível flagelo que é a moléstia de
Chagas, não atingindo nenhuma delas a 400
habitantes. (...) Enfim, a solidão, a miséria,
o analfabetismo universal, o abandono
completo dessa pobre gente, devastada
moralmente pelo obscurantismo, pelas
abusões e feitiçarias, e física e intelectualmente
por terríveis moléstias endêmicas.”
(Penna; Neiva, 1916:220-221)
1889-1930 Capítulo 4 | 161
162 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

No relato da viagem, os sanitaristas Ayres da Silva foi autor de um livro


citaram o encontro com o médico contendo seus diários de três viagens. Na
Francisco Ayres da Silva, em Porto primeira, saiu de Porto Nacional em 1920 e
Nacional. Deputado federal por Goiás desceu, em uma frágil embarcação a remo,
desde 1914 e até 1930, Ayres da o Tocantins. Em 1928, com o objetivo de
Silva teve atuação política em várias estudar o percurso entre Porto Nacional e
comissões do Legislativo, além de Barra (BA), ele partiu a cavalo até Formosa
fundar e manter durante longo tempo (GO) e, numa barca improvisada com duas
o jornal Norte de Goyaz. Ele tratou da canoas e talas de buriti, desceu o rio Preto
expansão do sistema rodoferroviário até Barra, onde tomou um vapor, subindo
nacional e da defesa da pecuária o São Francisco para desembarcar em
como principal fonte de economia Pirapora, com destino ao Rio de Janeiro.
do estado, e concordava com Neiva Finalmente, entre 1928 e 1929, voltou da
e Penna na denúncia das condições capital federal levando para Porto Nacional um
de vida e saúde dos sertanejos. automóvel Chevrolet e um caminhão Ford.
1889-1930 Capítulo 4 | 163

O médico Ayres da Silva escreveu Ayres da Silva fez uma narrativa atenta
Na outra página, “Sede do jornal Norte de Goyaz” em Por-
to Nacional (GO), 1911. Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz um relato bem diferente do relatório dos sobre as ações e comportamentos da
“Pica-pau”, detalhe de aquarela de Ernesto Lohse, estam- sanitaristas Neiva e Penna. Apesar de tripulação durante os trajetos pelo rio,
pada no suplemento ilustrativo da obra Aves do Brazil, or- mencionar a evolução das doenças nos e dedicou espaço a descrições das
ganizada por Emílio Goeldi, 1900-1906. Museu Paraense
Emílio Goeldi lugares por onde passou, seu relato foi diferentes funções do barco principal,
organizado a partir da descrição precisa dos barcos auxiliares, da alimentação,
“A defumação do leite” e “Uma paisagem no Tocantins”,
do itinerário, localizando pontos bem ou seja, de toda a rotina da viagem.
fotografias que ilustram a obra De Belém a São João do
Araguaia, 1910. Brasiliana USP específicos, como sítios, pequenas ilhas Na primeira viagem, descendo
e afluentes, lembrando, nesse aspecto, o Tocantins em 1920, ele constatou
os roteiros de viagem produzidos sobre a decadência da navegação no
a região na época colonial e no início médio curso do grande rio.
do Império. Mediu detalhadamente as
distâncias e a duração dos trajetos, “(...) do crescido número de botes, igarités e
canoas, que se estendia a todas as cidades
e descreveu os procedimentos para
à beira rio, desde Palma a Boa Vista, cidades
a navegação. Como suas paradas de Goiás, restam apenas os botes de Porto,
eram bem curtas, não se deteve no e assim mesmo reduzidos a dois em face
histórico, paisagem e condições de cada dos 30 e tantos de outrora que chegavam
a conduzir cerca de 40 toneladas de
lugarejo, mas achou importante abordar
mercadorias e eram movidos por 24 remos.”
o tempo e a ocorrência de chuvas.
(Silva, 1972: 20-21)
164 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1889-1930 Capítulo 4 | 165

Os motivos dessa decadência Cerca de vinte anos depois da passagem


Na outra página, “Tripulação de gaiola”, [1912-1913]. Casa
de Oswaldo Cruz - Fiocruz apontados pelo deputado não eram de Ignácio Moura, seria a vez de Ayres da
diferentes dos apresentados por viajantes Silva denunciar a inoperância da companhia
“Canteiro de obras de ferrovia, provavelmente da Estrada anteriores: a distância, viagens longas então responsável pela estrada de ferro em
de Ferro Norte do Brasil, em Alcobaça (PA)”, 1912. Casa de
Oswaldo Cruz - Fiocruz e morosas, as condições ruins para a Alcobaça, a Estrada de Ferro Norte do Brasil.
saúde nas embarcações e o abandono Seu diário descreve um cenário parecido
em que estava o rio Tocantins, após com o divulgado pelo engenheiro paraense.
vários anos de tentativas para aperfeiçoar Com atrasos de dois anos nos pagamentos,
a navegação. Depois de fazer a travessia trabalhos paralisados e a linha férrea
da cachoeira de Santo Antonio, Ayres da parada no quilômetro 82, a estrada ainda
Silva lembrou as dificuldades vencidas não existia de fato. Havia duas estações,
pelos navegantes ao longo do tempo. uma em Breu e outra em Tucuruí, o último
ponto onde chegava o trem, que não tinha
“Na cheia ou no verão, com maior ou menor horário regular e viajava ocasionalmente.
dificuldade, nossas toscas embarcações,
O médico acabou se dedicando à
do início do século XVIII, a [cachoeira de
Santo Antônio] vêm transpondo, desde construção de uma estrada carroçável
então até o presente, à revelia, todavia, de Porto Nacional até o estado da Bahia.
do menor esforço dos governos para Em passagem por Marabá, o deputado
melhorá-la, sequer limpando seus canais.”
goiano registrou sua indignação diante
(Silva, 1972: 48)
da estrada de ferro inacabada.

“Em Marabá se encontram alguns empregados


da ‘Norte do Brasil’, estradinha de ferro
marginal direita ao Tocantins, e que há
trinta anos ilude as esperanças desta zona,
sem haver conseguido, sequer, chegar
ao quilômetro cem, ponto a montante da
afamada cachoeira da Itaboca, o grande
pesadelo do Tocantins e Araguaia.”
(Silva, 1972: 53)
166 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Na região próxima a Itaboca,


Ayres da Silva identificou a extração
da castanha como principal atividade
econômica, em detrimento da extração
da borracha. Essa zona continuava
ocupada pelos índios gaviões,
ainda bravios. Com a chegada dos
sertanejos em busca de trabalho na
coleta da castanha, conflitos vinham
crescentemente ocorrendo. Silva relatou
a presença de povoações de índios
xerentes no município de Boa Vista e
em Pilões e Pedro Afonso, na seção do
Tocantins dominada pelos babaçuais,
onde haviam se estabelecido.
A animosidade entre os novos
ocupantes da região e os povos
indígenas nativos fez com que os
dominicanos, ainda influentes em
trechos importantes do Tocantins,
intensificassem o trabalho de
“Templo dominicano” e “Capela do colégio dominicano
catequização. Em 1915, foi criada pelo para meninas” em Porto Nacional (GO), 1911 e 1912. Casa
de Oswaldo Cruz - Fiocruz
Papa Bento XV a diocese de Porto
Nacional, que teve como seu primeiro Na outra página, “Construção do anexo ao templo domi-
bispo frei Domingos Carrérot, designado nicano” em Porto Nacional (GO), 1912. Casa de Oswaldo
Cruz - Fiocruz
apenas em 1919, após a desistência de
outros candidatos. Nessa nova função,
o missionário dominicano empreendeu
longas expedições de catequese.
A narrativa do cronista dos
dominicanos, José Maria Audrin, traz
um precioso retrato da distribuição
espacial indígena nesse momento
ao longo do Tocantins, a partir
das inúmeras viagens de Carrérot
e outros religiosos da ordem.
1889-1930 Capítulo 4 | 167
168 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Descendo de Porto Nacional rumo ao norte


da diocese, pelas margens ou pelo curso do
rio Tocantins, avistava diversos arraiais de
índios xerentes, cujos grupos mais numerosos
continuavam colocados nas vizinhanças de
Piabanha e de Pedro Afonso, outrora centros
ativos da catequese fundada para evangelizá-
los (...) hoje em véspera de completa extinção
(...) e são irmãos legítimos dos xavantes, hoje
retirados na região do rio das Mortes. (...)
São os tão falados e tão temidos xavantes,
rebeldes até hoje a qualquer contato com
civilizados (...). Continuando a descer o rio
Tocantins, dom Domingos encontrava ainda,
nas vizinhanças do rio do Sono e do rio
Manuel Alves, os índios caraós. Estes são uns
remanescentes de um ramo quase extinto
da família caiapó (...). No extremo norte da
diocese, no município e paróquia de Boa
Vista, viviam mais numerosos os apinajés,
pertencentes também ao grupo caiapó
(...). Se, do norte da diocese, nos dirigimos
para o sul-sudeste, encontramos a tribo
totalmente refratária dos canoeiros conhecida
apenas por suas depredações e barbaridades
contra os pobres moradores dos ‘gerais’
do município de Peixe (...). Duas tentativas
pacíficas [de contatar os canoeiros] no tempo
de dom Domingos ficaram sem resultado.”
(Audrin, 1946: 213-219)

A ideia do desaparecimento iminente


dos índios foi divulgada nesse período.
Ainda que se noticiasse sua presença,
havia a ressalva de que estariam se
extinguindo. Essa mesma visão foi
compartilhada pelo etnólogo Curt
Nimuendajú, considerado, à época, a
maior autoridade no campo da etnologia
indígena. Nascido na Alemanha, desde
jovem ele fez viagens para conhecer
diversos grupos indígenas do Brasil.
1889-1930 Capítulo 4 | 169

Na outra página, “índios xerentes, irmãos dos xavantes”,


fotografia que ilustra a obra Entre sertenajos e índios do
Norte, de José Maria Audrin, 1946

“Trois de mes canotiers”, ilustração da obra Voyage au


Tocantins-Araguaya, de Henri Coudreau, 1897. Biblioteca
Digital Curt Nimuendajú

“Marquée de dignités et ornament des caboks du Pará”,


1818. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
170 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Nimuendajú trabalhava para diferentes A necessidade de tornar o rio navegável,


“Catharino e Pacaranty: cayapós”, ilustrações da obra
instituições, como o SPI e diversos já defendida desde o Império, aparece Voyage au Tocantins-Araguaya, de Henri Coudreau, 1897.
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú
museus europeus, oferecendo seus de forma recorrente em todas essas
serviços como etnólogo, indigenista, narrativas, acrescida do conceito
Na outra página, “Rio Tocantins”, 1912. Casa de Oswaldo
linguista, colecionador e etnógrafo. de interligação com outros meios Cruz - Fiocruz

Seu principal interesse era a descrição modernos de transporte. De forma


minuciosa de sociedades específicas, clara, todos retrataram a situação de
coletando exemplares de sua pobreza e abandono da população
cultura material, com o objetivo de, ribeirinha e os dilemas dos povos
segundo dizia, salvar o que fosse indígenas locais. Esse cenário do
possível diante da inevitabilidade Tocantins, desenhado por tantas fontes,
de seu desaparecimento. tornou-se um elemento importante
Curt Nimuendajú viajou na construção do pensamento social
intensamente pela região do rio brasileiro da República Velha, trazendo
Tocantins. Em 1923, demitido do SPI, uma dimensão mais exata de um
associou-se ao Museu de Gotemburgo Brasil que clamava por mudanças.
e conduziu escavações arqueológicas
no Pará. Três anos depois, retomou
as escavações, agora no Tocantins.
Também coletou importante material
dos xerentes e apinajés para o Instituto
de Ciências Sociais da Universidade
da Califórnia. Entre 1928 e 1929,
dirigiu uma expedição de coleta
em Goiás e no Maranhão. Sua obra
teve grande influência na criação da
etnologia como disciplina no Brasil e
na institucionalização do indigenismo
nacional do início do século XX.
Os viajantes dos primeiros anos da
República – geógrafos e missionários
franceses, engenheiros, médicos,
astrônomos, etnólogos e políticos –
fizeram diferentes leituras do imenso
espaço ao longo do Tocantins, das quais
emergem algumas ideias comuns.
1889-1930 Capítulo 4
Capítulo 5
O Tocantins durante o período Vargas:
a Marcha para o Oeste

1930-1945
174 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A REVOLUÇÃO DE 1930 PODE NÃO


TER PROPORCIONADO MUDANÇAS SOCIAIS
imediatas na zona do rio Tocantins, mas,
ao trazer à luz o conceito de integração
nacional que havia impulsionado antes a
própria criação da República, permitiu a
formulação de uma política de ocupação
territorial materializada na campanha da
Marcha para o Oeste. Este movimento
de incentivo à migração para o Centro-
Oeste tinha como objetivo desafogar
os grandes centros populacionais do
país e viabilizar, numa região pouco
habitada e com vastas porções de terra,
uma economia agrícola que servisse de
contraponto à industrialização do Sudeste.
Essa política foi concebida dentro O primeiro relato pós-revolução de
“Grupo de aviadores”, com destaque para Lysias Rodri-
de um projeto político que ganhava um viajante a mostrar o Tocantins do -gues. Fotografia que ilustra a obra Major-Brigadeiro-do-
-Ar Lysias Rodrigues, pioneiro do Correio Aéreo Nacional,
contornos cada vez mais autoritários, ponto de vista do projeto de integração de Manuel Cambeses Júnior. Instituto Histórico-Cultural da
até assumir sua feição ditatorial com a nacional apoiado pelo Estado foi fruto de Aeronáutica

implantação do Estado Novo, em 1937. uma iniciativa privada. Em 1931 o oficial


Na outra página, “Roteiro da viagem de Lysias Rodrigues”
Na região do Tocantins, estratégica aviador Lysias Augusto Rodrigues foi sobre Carta Geographica do Brasil, publicada pelo Clube
para os objetivos integracionistas do de Engenharia, 1930. Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
designado pelos ministérios da Guerra e
governo de Getúlio Vargas (1930-1945), da Viação para acompanhar a comissão
os interventores nomeados para gerir de estudos da companhia aérea comercial
os estados de Goiás e Pará acabaram americana Pan American Airways (Panair),
sendo responsáveis pela renovação que pretendia estabelecer uma nova rota
da política regional. Pedro Ludovico, no trecho Miami-Buenos Aires. A viagem,
que governou Goiás de 1930 a 1937, descrita pelo aviador com detalhes no livro
impulsionou a construção de Goiânia, a Roteiro do Tocantins, aconteceu em duas
nova capital estadual; no Pará, Joaquim etapas. A primeira etapa foi cumprida por
de Magalhães Barata (1930-1934; 1943- via terrestre, com o objetivo de projetar
1945) e José Carneiro da Gama Malcher a construção de pistas de pouso em
(1935-1943) desapropriaram imensas diversas localidades como pontos de
extensões de castanhais próximos ao rio apoio para a nova linha aérea. Na segunda,
Tocantins, favorecendo antigos posseiros. o percurso foi feito por via aérea.
1930-1945 Capítulo 5 | 175

Belém
Cametá
Baião
Tucuruí

Marabá Imperatriz
Tocantinópolis
Carolina

Pedro Afonso
Tocantínia
Porto Nacional

Peixe
Paranã
Cavalcante
Alto Paraíso de Goiás
Formosa
Luziania

Ipameri
Araguari

Uberaba

Ribeirão Preto

São Paulo Rio de Janeiro


PALMA
176 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
Foz de São Geraldo
Foz de Sta. Cecília
Nazareth .
Foz Santiago . Sítio Barreiro

Rio Paranã
O grupo foi formado por Lysias
Rodrigues, Felix Blotner, funcionário Foz do Brejão
graduado da Panair, e seu auxiliar, Arnold Sítio Corrente .
Lorenz. Nos lugares visitados, com o status
de uma comissão federal chefiada por um C laro
oficial do Exército, eram recebidos pelas Rio
autoridades e pessoas abastadas do local.
Seguindo a orientação do Departamento Buriti do Rancho .
de Aeronáutica Civil de que os campos de Foz do Pai Domingos
aviação fossem preparados e conservados
pelas prefeituras, muitas vezes a comissão Barra de Ouro Fino
solicitava a promulgação de lei para a
criação de aeroportos municipais. éliz
R. S. F
Apesar do caráter comercial e oficial
da empreitada, a narrativa de Lysias
Rodrigues abordava assuntos variados, R
io CAVALCANTE
sob a forma de um diário minucioso. Além Pr
eto
de comentários sobre a escolha de locais a
s Claros ann
para a construção de campos de pouso, R. Monte Sant

o relato apresentava informações sobre as Rio
cidades visitadas, incluindo características Ri . Casa de Pedra
ambientais do terreno, atividades
oT
oca
econômicas, infraestrutura e transportes. ntin VEADEIROS
zin
O oficial detalhava ainda, precisamente, a ho Rio Vargem Gra
rotina da viagem, descrevendo a tripulação Formosa, percorrendo cerca de nde
ou comitiva, o meio de transporte utilizado, 400 quilômetros de rodovias
Rio

a paisagem dos caminhos e as dificuldades precárias. Lysias Rodrigues registrou


T
ocan

enfrentadas. O diário também contemplou que nessa cidade estaria o último posto
t
inzin

a coleta de lendas e músicas locais. de telégrafo da região. Seguiram então


ho

A comissão saiu do Rio de Janeiro cavalgando em direção a Cavalcante, R. Pissarão


em 19 de agosto de 1931 e seguiu atravessando a Chapada dos Veadeiros . Tapera abandonada
de trem até São Paulo, passando por numa comitiva com oito cavalos. R.
Pir Foz Pedra de Amolar
Campinas e Ribeirão Preto (SP), Araguari No caminho, encontraram ruínas api Foz do Jatobazinho
ting
(MG) e Ipameri, já em Goiás, onde de cidades que se desenvolveram a
contrataram um automóvel e o melhor com a mineração do ouro durante o
motorista do lugar para prosseguir até período colonial, como São Félix. São João da Aliança
1930-1945 Capítulo 5 | 177

Em Palma, iniciaram a navegação do


rio Paranã numa grande canoa, com uma
tripulação de três remeiros, sob a direção
de Blotner. A partir da confluência com
o rio Palma, o Paranã passa a se chamar
Paranatinga, e logo surgem corredeiras que
se estendem por quatorze quilômetros.
Assim como outros viajantes, Rodrigues
descreveu as corredeiras, o perigo de
atravessá-las, os acidentes naturais –
cachões, repuxos, gorgulhos – e outros
incidentes, tais como a canoa torpedada,
expressão utilizada quando a embarcação
bate nas pedras de uma corredeira.

“A embarcação, parte guiada pelo leme,


e parte graças às forças das remadas, se
mantém no centro do canal, onde passa com
velocidade vertiginosa. Não há tempo para
corrigir os erros, que normalmente redundam
em canoa espatifada nas pedras e mortes. (...)
De repente sentimo-nos atirados de encontro
às pedras do canal. Não tivemos sequer
tempo para levar o susto. (...) Procuramos
saltar com cuidado para não acabar de
virar a canoa. Todos n’água até o pescoço
e com esforço e persistência conseguimos
“Mas, essa [São Félix] morreu. Uma epidemia safar a canoa das pedras, mantendo-a à
“Palma a São João da Aliança”. Traçado que ilustra a obra força flutuando nas águas revoltas.”
Roteiro do Tocantis, reeditada em 2001 pela José Olympio
de bexiga que houve há uns cinquenta
Editora anos matou toda a população. Hoje, por (Rodrigues 2001: 90)
lá, só há mata fechada, que tomou conta
“Cavalcante (GO)”, 1940. Instituto Brasileiro de Geografia de tudo. Não mora ali mais ninguém,
e Estatística naquelas casas de cantaria facetada, de
madeiramento de lei trabalhado. (...) Cerca
de uma légua do local onde foi São Félix
existe uma aldeia de negros descendentes
de escravos. Doentes, degenerados,
sujos, verdadeiros farrapos humanos que
não se sabe como ainda existem.”
(Rodrigues, 2001: 57)
178 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O rio Tocantins foi navegado


pelo grupo desde a confluência do
Paranatinga com o rio Maranhão até
Belém. Em Porto Nacional, os três
viajantes estiveram com os padres
dominicanos e depois seguiram para
Carmo e Pilar. De Piabanha a Pedro
Afonso, a embarcação usada foi a lancha
denominada Bem-vinda. Sinalizando as
diferenças das paisagens nos trechos do
rio Tocantins, Rodrigues descreveu as
peculiaridades da zona dos babaçuais.

“Desde Piabanha, em uma e outra margem


do Tocantins, estendem-se enormes
babaçuais e, ao que informaram, os da
margem esquerda alcançam até o rio
Araguaia. (...) À proporção que navegamos
para o Norte, as barrancas, que em Porto
Nacional tinham de quinze a vinte metros de
altura, aqui vão se abaixando, sendo que à
do Tocantins para negociar alimentos
margem esquerda, mais pronunciadamente.
(...) Navegamos serenamente pelo Tocantins, e outros produtos e, na época, havia
que cada vez mais se alarga e avoluma (...).” muitos conflitos entre eles e colonos
(Rodrigues, 2001: 136) sírios, que tinham sido beneficiados
com a política de desapropriação dos
A presença indígena no Tocantins foi castanhais. No final dos anos 1930,
destaque na narrativa quando a comitiva apenas um quarto dos castanhais era
passou pelo território dos gaviões e de propriedade privada, o que dificultava
urubus, tribos tidas como ferozes que a fixação de população na região.
habitavam a margem direita do rio, Lysias Rodrigues não se furtou a
de Imperatriz até perto de Alcobaça. contar momentos poéticos vividos pela
Lysias Rodrigues registrou que, segundo expedição como quando o grupo, depois
autoridades locais, a catequização dos de realizar de canoa a difícil travessia da
gaviões, grupo que seria composto por cachoeira Sant’Ana, aproveitou a noite
cerca de dez mil pessoas, seria a tarefa enluarada para cantar suas saudades,
mais urgente. Os índios mantinham enquanto navegavam de bubuia, ou
uma rotina anual de descer às margens seja, flutuando ao sabor da correnteza.
1930-1945 Capítulo 5 | 179

De Boa Vista, a comissão navegou cachoeira Mãe Maria. A cidade, conhecida


Na outra página, “Aldeia dos índios urubu no Maranhão”,
fotografia de Heinz Foerthmann, 1949. Museu do Índio/ numa lancha a motor até a cachoeira como rainha do sertão da castanha,
Funai - Brasil
de Santo Antônio, de onde seguiu por era o segundo município em renda
“Brinquedos de nossos índios”, ilustração de Rescála para terra para, logo adiante, arrendar um do Pará. Nos anos 1930, a extração
artigo de Curt Nimuendajú publicado na Revista do Museu
Nacional, 1945. Museu Nacional batelão e continuar a viagem pelo rio. de castanha era o que sustentava
Na cachoeira São Domingos, ocorreu a máquina administrativa paraense,
“Industrialização da castanha no Pará”, [194_]. Instituto
novamente um pequeno acidente e, sendo alvo de intensa produção de leis
Brasileiro de Geografia e Estatística
a partir de Imperatriz (MA), os três e regulamentos. Essa atividade vinha
passaram a navegar em uma canoa amparando a economia do estado desde
com motor de popa adaptado. Em a crise da borracha. Mesmo assim,
Angical (PA), o aviador comentou a não havia estímulo para a ocupação
necessidade de navegar desviando urbana permanente em Marabá e
dos areais, evitando os gorgulhos e não havia sido construído qualquer
esquivando-se das árvores submersas. marco no Tocantins perpetuando sua
O grupo alcançou Marabá em 28 existência. A cidade, contou o oficial,
de setembro, depois de ultrapassar tinha a aparência de um acampamento,
a confluência Tocantins-Araguaia e a com raras casas de alvenaria.
180 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

No início de outubro a comissão paraense, o aviador visitou a residência dos


“Aeronave Waco CSO”, utilizada na missão de 1935. Insti-
chegou perto da cachoeira de Itaboca, Blotner e embarcou de volta ao Rio num tuto Histórico-Cultural da Aeronáutica

considerada a mais terrível do Tocantins. Comodore da Panair em 23 de outubro.


Para ultrapassá-la havia uma estrada de Quatro anos depois Lysias Rodrigues Na outra página, “Mapa do Estado de Goiaz”, reorganiza-
do em 1939 por Reginaldo M. Tournier, já com a planta
rodagem cujo percurso era obrigatório refez, acompanhado apenas de um copiloto, de Goiânia, nova capital do estado. Fundação Biblioteca
Nacional - Brasil
naquela época do ano para transportar a viagem do Rio de Janeiro a Belém,
as cargas no trecho encachoeirado. agora somente por via aérea. A rota pelo
Depois de aportarem em Jacundá, foram Tocantins acabaria implementada pelo
de caminhão conhecer a estrada, toda Correio Aéreo Militar (CAM), que iniciou
na mata, e também aproveitaram para suas operações em 1931 – a Panair não
visitar a garganta principal da cachoeira. chegou a estabelecer a rota projetada. O
longo intervalo entre as duas viagens se
“Fomos espiar o canal do Inferno, uma deveu a uma série de preparativos para a
garganta cavada na rocha, com vários grandes expedição pioneira, como a comunicação
‘gorgulhos’, de paredes altas enegrecidas e a
com os prefeitos, a remessa de gasolina
água do rio, comprimida, enfurecida contra as
pela Panair, a autorização do diretor da
paredes de pedra. A estourar nos recantos das
locas, espadanando água e espuma para cima Aviação Militar e a escolha do avião.
até grande altura. Um espetáculo soberbo e
impressionante. Nesse canal não há passagem
e não consta que alguém tenha podido passar
por ali, mesmo nas cheias. O rio passa na
taboca (sic) por três canais, sendo o do Inferno
o mais acidentado. A passagem normal, nas
águas, é pelo canal central. No canal leste há
muitas pedras soltas, só passando canoas.”
(Rodrigues, 2001: 210)

Patos, na margem direita do Tocantins,


era então o último ponto que os navios
conseguiam alcançar na época de seca. Lá,
eles embarcaram na gaiola Rio Madeira, que
mereceu de Lysias Rodrigues uma descrição
das formas de abastecimento de lenha
para o navio. Antes da chegada em Belém,
em 9 de outubro, passaram por Alcobaça,
Baião e Cametá, conhecida como princesa
do Norte ou Atenas brasileira. Na capital
1930-1945 Capítulo 5 | 181

A viagem começou em 14 de
novembro de 1935 e, como na missão
anterior, Lysias Rodrigues manteve um
diário detalhado da jornada. Já sobrevoando
território goiano, o aviador registrou as
discordâncias entre as cartas da região
que tinha levado para consultar. Ainda na
primeira viagem terrestre pelo Tocantins,
ele havia encontrado diversos erros no
mapa elaborado pelo Clube de Engenharia
– na verdade, só em 1932 seria criado
o Serviço Geográfico do Exército, que
englobou a antiga Comissão da Carta
Geral do Brasil, dando continuidade aos
trabalhos de levantamento geodésico
e topográfico do país. Em 1937, seria
criado o Conselho Nacional de Geografia,
responsável por revisões e atualizações
da Carta do Brasil ao Milionésimo.
Ao chegar a Palma não pôde
aterrissar porque a pista tinha dimensões
muito pequenas. Diante disso, ele
resolveu partir rumo a Porto Nacional.
Nesse percurso fez uma descrição do rio
Paranã e do trecho inicial do Tocantins
– que, vistos de cima, pareciam mais
bucólicos e muito menos perigosos
do que ao serem navegados.

“Logo ao norte de Palma, o rio Paranã


encontra uma série de pequenos morrotes,
de aparência calcária erodida pelas águas e
se desvia nitidamente para oeste, ao mesmo
tempo em que passa a chamar-se Paranatinga.
(...) volve depois para o norte, já com o nome
de Tocantins. Em seguida para nordeste. Do
alto, avistamos seu risco brilhante na planície.
182 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

De longe, (...) avistamos Peixe, florescente


cidadezinha, cercada de plantações viçosas.
Ilhotas, ilhas, corredeiras, estirões e gorgulhos
davam vida à imensidão de água que já
era o Tocantins, fazendo-nos recordar os
difíceis momentos que ele nos custara,
anos atrás. E a facilidade e rapidez com
que agora por via aérea fazíamos o mesmo
percurso, sem canseiras nem perigos.”
(Rodrigues, 2001: 232)

O aviador encontrou alguns


aeroportos bem preparados, outros
impossíveis de serem utilizados, e foi
sempre recebido com grande expectativa
nos locais onde pousou. No baixo
Tocantins teve grande dificuldade de
aterrissagem na pista de Marabá: o
campo de pouso era muito estreito
e cercado das enormes árvores
características da região amazônica. Afonso, Carolina, Porto Franco, Imperatriz,
“Aeronave do Correio Aéreo em pouso na cidade de For-
Lysias Rodrigues não chegou a avistar Marabá, Alcobaça, Baião, Cametá e Abaeté. mosa”. Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica

Alcobaça – chovia forte quando o oficial Assim como outros viajantes que o
sobrevoou a cidade –, mas aterrissou Na outra página, reprodução do traçado “Imperatriz a Ca-
precederam durante a República Velha, rolina”, que ilustra a obra Roteiro do Tocantis, reeditada
em Belém com o dever cumprido. Uma Lysias Rodrigues acreditava que a estrada em 2001 pela José Olympio Editora

nova rota havia sido aberta para o Correio de ferro não tinha sido uma boa estratégia Cartaz “Linhas do Correio Aéreo Militar”, 1935. Instituto
Histórico-Cultural da Aeronáutica
Aéreo Militar e isso configurou o início para o desenvolvimento da região.
de uma nova era no Tocantins: em dois
dias, foi possível atravessar uma imensa “O edifício maior de Alcobaça é o das oficinas
extensão territorial. O trabalho dos da estrada de ferro, que daí parte para procurar
um porto acima da cachoeira da Taboca. Foi
aviadores do CAM era um dos esteios
motivo de altas patifarias, tendo ficado por preço
da Marcha para o Oeste. Em 1942 já fabuloso, sem ter prestado ainda serviço algum.
funcionava, com frequência semanal, uma O combate aos índios na execução da linha
linha entre o Rio de Janeiro e Belém, a custou muitas vidas. Quer nos parecer que esta
solução da ferrovia não é acertada, pelo alto
Norte-Tocantins, que passava por São Paulo,
preço do custo, pela taxa elevada dos transportes
Ribeirão Preto, Uberaba, Araguari, Ipameri, e uma manutenção dispendiosa. O problema
Vianópolis, Goiânia, Santa Luzia, Formosa, da rodovia seria menos caro e mais útil.”
Palma, Peixe, Porto Nacional, Tocantínia, Pedro (Rodrigues, 2001: 213)
ntônio
S. A
Rio

s
s Aire
Bueno
Rio

R. Lajeado
No plano geral de viação nacional,
aprovado pelo governo brasileiro em 1934,
as ferrovias ainda eram tidas como a única
modalidade de transporte que poderia
estabelecer, de forma definitiva, grandes
troncos. Usando as belas paisagens do rio
Tocantins para reforçar seus argumentos,
Lysias Rodrigues defendia em sua
narrativa o papel da aviação como meio de
integração e desenvolvimento da região.

“Depois, olhando aquele rio que o luar


transformava em prata líquida, ficamos
imaginando o que será de toda esta
riquíssima região, no dia em que tiver
transporte fácil pelo rio ou uma boa
rodovia ligando todos esses núcleos de
civilização. Nós, desta comissão somos
inconscientemente batedores da civilização
neste momento, como somos agentes
também da unidade política da pátria, visto
a obra que projetamos ser o melhor veículo
de civilização e o melhor instrumento
de unidade política – a rota aérea!”
(Rodrigues, 2001: 176)
184 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Ilha rochosa no rio Tocantins, entre Pedro Afonso e Mira-


cema”, 1953. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Na outra página, reprodução do traçado do “Esquema do


roteiro da viagem”, que ilustra a obra Viagem ao Tocantins,
de Julio Paternostro, editada em 1945
1930-1945 Capítulo 5 | 185
BELÉM

ESQUEMA DO ROTEIRO
PARÁ

DA VIAGEM

{
GAIOLA No mesmo ano em que Lysias
ALCOBAÇA FLUVIAL
(360 LÉGUAS MOTOR Rodrigues percorreu pelo ar a rota
2.160 Km.)
CANOA do Tocantins, outro viajante realizou

{
MARABÁ CAVALO
uma excursão pela região com um
TERRESTRE
170 LÉGUAS
olhar diferenciado sobre as questões
(260 LÉGUAS

S. ANTÔNIO
1.560 Km.) AUTOMÓVEL
90 LÉGUAS
geopolíticas dessa área. O médico
paulista Júlio Paternostro, então com 27
(DE 27-5-1935 A 24-9-1935)
BOA VISTA
anos, viajou do Rio de Janeiro a Belém
de navio, subiu o Tocantins até Goiás
e retornou à capital federal de trem.
FILADÉLFIA

MARANHÃO
CAROLINA Paternostro trabalhou entre 1934 e 1938
R.

no Serviço de Febre Amarela, entidade


Ma

de cooperação da Divisão Internacional


noel
Alve

de Saúde Pública da Fundação


Gras

Rockefeller com o governo brasileiro.

PIAUÍ
end

PEDRO AFONSO
Nessa condição viajou pelo litoral e
Rio

interior do país. Em 1935, durante os


do S
o no

meses de maio e setembro, navegou


pelo Tocantins com o objetivo de colher
MATO GROSSO

PORTO NACIONAL
material para estudar a distribuição
NATIVIDADE da imunidade da febre amarela entre
os habitantes do Brasil Central.
PALMAS
O relato de Paternostro foi
publicado apenas dez anos depois,
em 1945, na Coleção Brasiliana,
ARRAIAS
um dos mais importantes
projetos editoriais do país.
S. DOMINGOS
O livro Viagem ao Tocantins descreve
BAÍA

POSSE todos os afluentes e povoados


às margens do rio. Assim como
o relatório dos sanitaristas Arthur
FORMOSA Neiva e Belisário Penna, publicado
anos antes, a narrativa de Júlio
GOIÁS Paternostro faz um retrato negativo
ANÁPOLIS das condições de vida nessa enorme
GOIÂNIA porção interior do território nacional.
186 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Família recebe vacina contra a febre amarela em Belém,


[193_]”. Coleção Fred. L. Soper - The National Library of
Medicine Profiles (EUA)

“Soper preparado para uma inspecção no Maranhão,


[1920]”. Coleção Fred. L. Soper - The National Library of
Medicine Profiles (EUA)

Nas palavras do médico e antropólogo visita não traria melhoramentos concretos


Edgard Roquette-Pinto, que assinou o e imediatos. Essa reação por vezes se
prefácio da publicação, Paternostro, como materializava em enfáticas negativas
outros jovens brasileiros modernos, à coleta de sangue ou à realização
desejava conhecer o país sem esconder o de autópsias. Segundo o viajante,
que poderia existir de menos encantador. era muito grande a distância cultural
Embora os estudos do médico no entre o interior e o litoral brasileiros.
Tocantins tenham tido alguma repercussão Seu relato tem como eixo narrativo
científica, ao serem citados pelo americano o espaço geográfico. A parte inicial é
Fred Soper em seu trabalho sobre a febre uma análise ampla do interior do Brasil,
amarela na América do Sul, publicado abordando a dificuldade de penetração
em 1937, o livro de Paternostro sobre a no território por via fluvial no período da
viagem passou quase despercebido. colônia e a influência da geografia no
O médico descreve a decepção das desenvolvimento do país, além de uma
populações locais ao perceberem que sua caracterização geral do Tocantins.
1930-1945 Capítulo 5 | 187
188 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

á
ing BELÉM
An a
A exposição não segue o ordenamento úm
a
cronológico das viagens – pouco antes S um
o médico havia percorrido o sudoeste ri
e o centro de Goiás. As menções às ira apa
a nhe ALCOBAÇA A rar
st rã hei
condições de trabalho e aos problemas Ca Sa ri an

MARANHÃO
relacionados às comunicações e às P
atividades dos barqueiros, remeiros e MARABÁ
outros profissionais locais são frequentes.

PARÁ
S. ANTÔNIO
O título escolhido para cada uma
gu eira
das partes do trabalho demonstra que o rin
autor associou a regionalização a fatores Se BOA VISTA

econômicos. Assim, o baixo Tocantins seria


a região da produção extrativa vegetal; o FILADÉLFIA ba çu
médio Tocantins foi caracterizado como
Ba
espaço da produção extrativa vegetal e
da pecuária; o alto Tocantins, associado à
PEDRO AFONSO

PIAUÍ
pecuária e à produção extrativa mineral; o
do
rra
MATO GROSSO

sudoeste goiano à pecuária, garimpagem Ce


a
e produção agrícola; e o centro de
ating
Goiás à pecuária, produção agrícola Ca
e produção extrativa mineral. Essas PORTO NACIONAL do
erra
regionalizações, realizadas principalmente
C
por geógrafos e engenheiros, forneciam
uma base de conhecimento científico
para o planejamento estatal.
Saindo de Belém, o médico

BAÍA
seguiu em um navio tipo gaiola até GOIÁS ARRAIAL
Alcobaça, trajeto oferecido pela Linha
de Navegação do Estado do Pará desde cal
agosto de 1931. A partir de Alcobaça,
or pi
T
o tipo de embarcação disponível
ata
M
comercialmente era o motor, uma
embarcação movida a óleo diesel.
Segundo dados da Agência Fiscal de FORMOSA
Alcobaça, na safra de 1935 trafegaram GOIÁS
MINAS GERAIS
entre Alcobaça e Marabá 31 motores. ANÁPOLIS
1930-1945 Capítulo 5 | 189

E, no sentido contrário, de Marabá,


subindo o Tocantins, navegaram oito,
pertencentes a vários donos.
O período da safra, também
chamado de tempo das águas ou verde,
abrangia os meses de novembro a
abril, época da colheita da castanha e
de outros produtos vegetais silvestres,
quando aumentava o movimento
de embarcações. Povoados que
se esvaziavam durante a seca se
enchiam durante o verde: a população
marginal do baixo Tocantins, conta
o médico, oscilava nessas duas
estações anuais entre 50% e 200%.
Júlio Paternostro analisou atentamente
os castanhais do baixo Tocantins,
Na outra página “Esquema fitogeográfico”, reprodução do
traçado que ilustra a obra Viagem ao Tocantins, de Júlio abordando sua distribuição, as espécies
Paternostro, 1945
existentes, o mercado, a exportação
e a organização do trabalho. Notou a
“Alagação do Tocantins em Marabá”, [194_]. Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística exploração a que estavam submetidos
“Casas da maré”, ilustração da obra Viagem ao Tocantins,
os trabalhadores da castanha pelos
de Júlio Paternostro, publicada em 1945 arrendatários e aviadores. O médico
também se mostrou preocupado com o
caráter predatório da coleta da castanha.

“Não é raro o apanhador abater o castanheiro


no fim da colheita. Os sertanejos, negligentes
por falta de orientação, explorados pelos
donos dos castanhais, obtêm das amêndoas o
salário, o alimento e um óleo que ilumina sua
palhoça durante a noite; da casca, excelente
estopa para aquecer a comida e da madeira
fazem a canoa em que abandonam o local
onde trabalharam quatro meses. No outro
ano, vão em busca de novos castanhais,
onde repetem a mesma destruição(...).”
(Paternostro, 1945: 86)
1930-1945 Capítulo 5 | 191

O navio do tipo gaiola mereceu Próximo a Itaboca, Paternostro indicou


Na outra página, “Babaçual”, gravura de Percy Lau repro-
duzida na Revista Brasileira de Geografia, editada pelo Ins- do médico uma análise dos aspectos uma mudança na paisagem – as águas
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1944
produtivos, ambientais e sociais de seu cada vez mais agitadas na preparação das
uso. Essa embarcação era movida a lenha, corredeiras – e descreveu a perícia dos
“Embarcação típica do Tocantins”, [195_]. Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística fornecida pelos chamados habitantes da pilotos, que guardavam de memória os
maré – como era conhecida a região sujeita pormenores dos pedregais. Ele passou
ao movimento das marés marítimas no por Marabá, o porto mais movimentado do
Tocantins, que chegavam até Alcobaça, Tocantins, embora fosse menos desenvolvido
a longínquos 250 quilômetros da costa. do que Boa Vista, Carolina ou Porto Nacional,
Já o transporte por trem recebeu de e, ao concluir a travessia do baixo Tocantins,
Paternostro uma avaliação negativa: como queixou-se do ritmo lento da viagem.
a maioria dos viajantes, era mais um
“No trecho do rio que passa por Santo
crítico da Estrada de Ferro do Tocantins.
Antônio, pratica-se o transbordo, devido
aos bancos de pedra. Passageiros e
cargas vão em lombo de burro do porto
de baixo para o porto de cima. Na minha
viagem, o motor vazio gastou um dia inteiro
para transpor os 3 km de corredeira. Os
marinheiros, pândegos e indisciplinados,
constantemente deixavam o barco no meio
do rio e vinham ao povoado para beber
cachaça. No sertão não há pressa.”
(Paternostro, 1945: 118)

Na confluência com o Araguaia –


a cidade de Imperatriz e a povoação
goiana de Santo Antônio –, chamou
a atenção do viajante a ausência de
castanhais. O cenário às margens
do Tocantins já era outro.

“Ali o rio se espraia e as águas batem


numa multidão de cristas e calotas de
pedra que afloram à superfície. Ouve-
se o rumorejar perene como de uma
praia do litoral. Nas margens arenosas a
brisa acaricia continuamente os leques
dos babaçus e as copas dos inajás.”
(Paternostro, 1945: 115)
GAVIÕES
CAIAPÓS 1930-1945 Capítulo 5 | 193
Cocal
Savanzal
Mãe Maria
S. Sebastião Frades
Cupins
Santa Rosa Ponta Grossa Praia Chata
MARABÁ SÃO JOÃO DO
Imbirá
ARAGUAIA
Angical
IMPERATRIZ

Rio Cacao
Lago
Rib
Cor. S. Domingos . Ba
Rib. A nana
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Sto. Antônio
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Rio Sto. Rib.
Poss
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cova .Cle
CÓRREGOS E POVOADOS Rib. Pa men Rib
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tino mpo
Rib. Ale
ATÉ A CIDADE DE Sum gre
aúma
Barreira
“BOA VISTA DO TOCANTINS” Rib.Arraia

Rio Botica Rio L


ajeado
Cor. Bo
nito
Rib. Gra Rib. B
nde ananeir
a
BOA VISTA
PORTO FRANCO
Rib. Mombúca
Rio Su
cupira

Rio Ita
veira

Paternostro delimitou a região dos Na altura de Boa Vista, o médico


Na outra página, “Porto de Marabá”, [195_]. Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística babaçus entre a barra do Araguaia e a lembrou a contradição entre a proximidade
“Porto de Imperatriz”, fotografia de Rubens Moreno Gazzo- cidade maranhense de Carolina, ou a dos grandes rios e a falta de energia
la, [195_]. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística povoação goiana de Cocos. Em toda essa elétrica. Boa Vista e Marabá eram as
extensão, viajando de motor, o autor duas únicas cidades ao longo do rio que
“Córregos e povoados até a cidade de Boa Vista do Tocan-
tins”, reprodução do traçado que ilustra a obra Viagem ao visualizou uma população extremamente possuíam iluminação elétrica, fornecida
Tocantins, de Júlio Paternostro, publicada em 1945
dependente e adaptada ao meio ambiente por locomóveis – pequenos geradores a
local. As moradias, ranchos e palhoças vapor. Ainda em Boa Vista, Paternostro
eram feitos de babaçu, com as paredes, observou o estabelecimento do cultivo
os tetos, as janelas e as cercas vegetais do algodão desde 1931, com uma
se sucedendo nas margens do rio produção de 27 toneladas em 1934 e
como se fossem variações da flora. de 50 toneladas no ano seguinte.
194 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Nos arredores da cidade, ele


visitou uma das três aldeias dos
apinajés e dedicou um grande capítulo
às violentas disputas históricas
entre os brancos e os indígenas.
Apresentou dados sobre a situação
desse grupo e também dos gaviões,
além de notas sobre os xerentes.
A cidade maranhense de
Carolina marcava, para o viajante, o
início do Tocantins como um rio de
planalto. A vegetação, assim como
a fauna, alterava-se radicalmente,
apresentando formações características
do agreste e mesmo da caatinga.
1930-1945 Capítulo 5 | 195

BOM FUTURO ARATEUÁ


NAZARÉ DOS PATOS

ALDEIA
O
NC
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ILHA ITAPIPUCÚ S ITAQUARA
AI
LM BAIXIO
NA
CA

PRAIA QUE DESCOBRE PEDRAS DE ARUBÚ

SERRA DO TROCARÁ E APINAJÉS

De Carolina a Pedro Afonso, a O médico relatou a transformação


Na outra página, “Meninos apinajé da Aldeia Bacaba” e
“Agulhas para furar orelhas e cavilhos auriculares dos api- viagem prosseguiu num batelão ocorrida nos povoados do médio
najé da aldeia Pebilaag”. Fotografias de Curt Nimuendajú.
Celin - Museu Nacional fretado, na falta de uma lancha. Tocantins em relação ao tráfego dos
Paternostro notou que, nessa região, batelões, que iam de Palma a Belém,
“Passagem de Nazaré-Alcobaça”, cópia do original feito os remeiros intercalavam o trabalho levando couros de boi (conhecidos
pelo Comandante Cupertino Lima, do Sta. Maria, reprodu-
zida na obra Viagem ao Tocantins, de Júlio Paternostro, no rio com vaquejadas e que as como esticados) e retornando com sal.
publicada em 1945
lendas comuns aos barqueiros não Cem anos antes, a saída ou a chegada
se baseavam apenas em motivos de um batelão nos povoados era dia
aquáticos, como na Amazônia, de festa, quando pipocavam foguetes,
mas misturavam cenas de rio e de tangiam sinos e todos corriam para
pastoreio. Daí a classificação do a beira do rio. Em sua passagem
médio Tocantins, dentro de seu pela região, porém, ele observou
sistema de regionalização, como um uma tal redução do movimento das
local com predomínio de atividades embarcações que suas manobras já
extrativas vegetais e pecuária. não despertavam qualquer comoção.
196 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1930-1945 Capítulo 5 | 197

Além dos batelões, usavam-se “Quando só o Tocantins era utilizado como


Na outra página, “Balsas”, gravura de Percy Lau reproduzi-
da na Revista Brasileira de Geografia, editada pelo Institu- nesse trecho balsas, descritas como via salária, os povoados adstringiam-se às
to Brasileiro de Geografia e Estatística, 1944 suas margens, alinhavam-se na direção
palhoças ambulantes. A embarcação
norte-sul; agora como outras vias do sal se
era usada pelos comerciantes, dirigem para leste, para o Maranhão ou Bahia,
“Vale Tocantins-Araguaia”, [1950]. Fundação Getúlio Var-
gas - CPDOC principalmente de couros de boi e sal, é nesse rumo que nascem as aglomerações.
e o regime comercial mais comum E, por estes caminhos vêm os costumes para
era o das trocas. A importância do o médio Tocantins. A região compreendida
entre o povoado de Sto. Antônio e a cidade
sal foi destacada por Paternostro, que
de Porto Nacional está transformando-se num
identificou uma mudança da rota do prolongamento do Nordeste quanto aos hábitos
comércio na região central do Brasil. e métodos de vida de seus habitantes.”
(Paternostro, 1945: 182-183)
198 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

B. VISTA DO TOCANTINS

Após a passagem do afluente


Cach. S. Ana
Manuel Alves Grande, o rio Tocantins
passava a correr em território Rib. Sucupira
exclusivamente goiano, não sendo mais
Ri
divisor de estados. O autor lembra Cach. Estreito bI
tau
que, através desse afluente e com Estreito de Cima era
a construção de um canal de vinte
Ilha dos Campos
quilômetros, poderia ser estabelecida
a ligação do Tocantins ao Parnaíba e Rib. Curicaca
Rib. Feio
seria possível manter o tráfego fluvial Cach. Mortandade
do norte de Goiás a Teresina (PI), de Rib
.F
arin
onde, por estrada de ferro, se iria Rib. Mosquito ha
a São Luís (MA) ou, seguindo pelo
Ri Ilha S. José
Parnaíba, se alcançaria o Atlântico. b. d Rib. Pedra Caída
os C
Da mesma maneira, o viajante imaginou, oco
s
através do afluente rio do Sono, a
Coco
união das bacias do São Francisco e do
e
Tocantins, e levantou também um vasto . C orrent as Ilha dos Botes
R i b
. d a s Arrai
histórico de projetos neste sentido. Rib rava
na B
CAROLINA (MA)
s
. Ca moneira
A falta de investimentos
R i b a
em melhorias na navegação do .M Rib. Laje G
Rib ú rande
Tocantins era, para ele, a principal Rib. Pirapec
Rio Ma
causa do povoamento escasso na Rib. Amaro noel Alve
s Grande
região. As margens do Tocantins, Rib. Gen
húmas La ipapo
no trajeto de 240 quilômetros entre Rib. In goa
dos
Carolina e Pedro Afonso, eram Rib. João Aires
Pa
praticamente desabitadas. A vila
Ri

tos
PORTO DO
Rib. Chinela
b. A . Ouro . Tauá

de Pedro Afonso, então com 800 SÍTIO


Ri

lde
b Rib

ia

habitantes, localizada na confluência


do Tocantins com o rio do Sono,
Seco
Pau
Rio M

era antiga área dos índios xerentes, i b .


R
cuja população havia se reduzido
anoel A

PAU SECO
ao longo dos anos. Na época, os
Rib. Cuño
poucos que ainda restavam apareciam
lves P

uma vez ou outra no povoado


CÓRREGOS E POVOADOS ATÉ
equeno

que fora a sua principal aldeia.


O RIO MANOEL ALVES GRANDE
1930-1945 Capítulo 5 | 199

cavalo e acompanhados por uma tropa


de muares com a carga. Os animais da
tropa eram alugados em cada localidade
para atingir a próxima, pois esse era
o costume dos proprietários. A vida
pastoril era predominante nessa zona
do Tocantins, e Paternostro fez em seu
relato uma longa digressão sobre a
criação dos animais, as rotas usadas e
as migrações, além de comentar sobre
o preço das terras e a existência de
áreas de domínio público usadas como
pasto. Os caminhos das tropas ligando
as povoações eram denominados
reais e nada mais eram do que
trilhas. A região foi classificada como
agreste pelo viajante. Em Piabanha,
ele enfrentou um contratempo: os
habitantes se opuseram à coleta de
sangue, supondo que Paternostro
fosse um emissário do anticristo.
O viajante registrou em sua
narrativa que a região era deserta – em
um percurso de quase cem quilômetros,
Era uma área sujeita à malária, ele avistou apenas cinco choupanas,
Na outra página, “Córregos e povoados até o rio Manoel
Alves Grande”, reprodução de ilustração da obra Viagem e o médico contraiu a doença. A extremamente pobres. A ausência de
ao Tocantins, de Júlio Paternostro, publicada em 1945
viagem foi interrompida por quatro médicos era praticamente absoluta.
dias, período durante o qual ele Na época, no norte de Goiás – ou seja,
“Índia xerente na beira do rio Tocantins”, [1953].
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ficou hospedado na choupana de em dois terços da superfície do estado
um sertanejo para se recuperar. –, a única localidade com médico
A ocorrência dessa enfermidade era tão residente era Porto Nacional. Paternostro
alta que, para os barqueiros, a malária discorreu sobre doenças endêmicas,
significava apenas a perda de uma malária, sífilis e epidemias, e citou
hora de trabalho, dia sim, dia não. também a atuação do clínico Ayres
A partir de Pedro Afonso, a viagem da Silva e a excursão dos sanitaristas
prosseguiu não mais pelo rio, mas a Belisário Penna e Arthur Neiva.
200 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Como seus antecessores, Paternostro “Os 180 quilômetros que separam Natividade
impressionou-se com a situação de Palma pela estrada ‘real’ caracterizavam-
se naquele mês de agosto por grande
de insalubridade observada em
falta d’água. Iludiamo-nos ao atribuir aos
certas áreas do Tocantins. brejos o verdor ao longe, pois os buritis,
Dentro de sua análise regionalizante, paus-pombos, landis, angelins, marias-
o médico definiu que, a partir de Porto pretas se erguiam num solo arenoso e
Nacional, rio acima, principiava a área de seco. (...) Encontrei neste percurso onze
palhoças, das quais apenas quatro eram
influência do negro. A região delimitada
habitadas por 18 pessoas. Um deserto de
coincide com o alto Tocantins, caracterizado 1 habitante de 10 em 10 quilômetros.”
pelo autor como local de predomínio (Paternostro, 1945: 245-246)
da pecuária e da produção extrativa
mineral. De Porto Nacional, ele seguiu Ao chegar a Palma que, cem
para Natividade pelo agreste seco, onde anos antes, era o centro mais
mandacarus e piaçabas se alternavam no populoso e movimentado do alto
terreno plano, e apenas vez ou outra a Tocantins, Paternostro destacou que
presença de verdes veredas amenizava a a cidade havia estagnado com o fim
paisagem desolada e deserta, amarelecida dos embarques e desembarques
pelo sol ou enegrecida pela queimada. de batelões que iam até Belém.

“Garimpeiros em viagem no Tocantins: Itupiranga”, [195_].


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

“Buritizal”, gravura de Percy Lau reproduzida na Revista Bra-


sileira de Geografia, 1942. Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística

Na outra página, “Garimpeiros”, gravura de Percy Lau re-


produzida na Revista Brasileira de Geografia, 1942. Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística
202 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“A povoação regrediu e, hoje, vilas que eram


abastecidas por Palma são suas fornecedoras.
As mercadorias, em vez de virem do norte
por via fluvial, vêm de leste em tropas de
muares. Os artigos do Pará desapareceram, e
surgiram os da Bahia.(...) [Palma] há cem anos
possuía 255 casas, atualmente, é um arraial
de 120 habitações velhas ou em ruínas. (...)
A vida parou. (...) Tudo isso é o resultado do
isolamento em que se acham as povoações
do sertão. O estafeta do correio, maltrapilho,
e que anda a pé de uma localidade a outra
(...), representa a área onde trabalha.”
(Paternostro, 1945: 251-252)

A implantação da navegação
a vapor no rio São Francisco,
diferentemente do que havia acontecido
com o Tocantins e seus batelões,
fortaleceu um novo eixo comercial
que atraiu grande parte dos povoados
ribeirinhos e, assim, as cidades do São
Francisco tomaram o lugar de Belém.
Na região chamada de mato grosso
de Goiás, uma selva tropical recobria Em agosto de 1935, o médico deixou
“Tropa de muares”, gravura de Percy Lau, reproduzida na
as margens dos rios formadores do as margens do Tocantins e iniciou a Revista Brasileira de Geografia, 1940. Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística
Tocantins – Paranã e Maranhão –, subida das escarpas da Serra Geral. No
áreas praticamente desabitadas. Assim percurso de 200 quilômetros, encontrou
Na outra página, “Condições de navegabilidade do médio
como nas outras localidades visitadas, somente cinco palhoças. Em Arraias, e baixo Tocantins”. Reprodução do traçado que ilustra a
Revista Brasileira de Geografia, editada pelo Instituto Bra-
o viajante apresentou um histórico Paternostro ainda teve oportunidade sileiro de Geografia e Estatística, 1958
da região e dados sobre os projetos de observar a festa do Divino Espírito
para a extração do níquel, abundante Santo e buscar informações sobre a
em São José do Tocantins (atual passagem da Coluna Prestes, antes da
Niquelândia). Sobre o tempo áureo chegada do carro enviado pelo Serviço
da mineração aurífera, Paternostro de Febre Amarela que o levaria de volta.
lembrou que, no século XVII, dez mil De lá, rumou para Anápolis – cidade
escravos haviam desviado o curso em que um trem havia trafegado pela
do rio Maranhão para extrair ouro. primeira vez naquele mesmo ano.
1930-1945 Capítulo 5 | 203

BELÉM

Se o trabalho de Paternostro, na
CONVENÇÕES
ROTAS AÉREAS
CAMETÁ mesma linha de Arthur Neiva e Belisário
GAIOLAS MOCAJUBA Penna, contribuiu para desconstruir a
BAIÃO
BARCOS A MOTOR literatura que apresentava o interior do
ESTRADA DE FERRO
Brasil de modo romântico, o relatório
apresentado ao Ministério da Viação
e Obras Públicas pelo engenheiro
TUCURUÍ
civil Américo Leonides Barbosa de
Oliveira mostrava um retrato ainda
REMANSÃO
JACUNDÁ
mais desprovido de belezas, de forma
JATOBÁ
crítica, partindo de observações
técnicas e propondo planos viáveis
ITUPIRANGA
S. J. DO ARAGUAIA do ponto de vista financeiro.
MARABÁ IMPERATRIZ O engenheiro estudou o vale
Tocantins-Araguaia e suas possibilidades
econômicas, principalmente em relação
S. ISABEL DO ARAGUAIA
TOCANTINÓPOLIS à navegação fluvial, tendo participado de
PORTO FRANCO
uma excursão pelo Tocantins e também
pelo rio Maranhão em 1938, sob a
orientação do professor Othon Leonardos.
BABAÇULÂNDIA CAROLINA O trabalho que redigiu sobre o assunto foi
concluído em janeiro de 1939, já no Estado
Novo, mas sua publicação pela Imprensa
Nacional aconteceu apenas em 1941.
CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA
O relatório foi dividido em
duas partes, sendo a primeira com
ARAGUACEMA
PEDRO AFONSO considerações gerais, principalmente
TUPIRAMA
sobre as características ambientais e
atividades (ou possibilidades) econômicas.
MIRACEMA DO NORTE TOCANTÍNIA
A segunda parte tratava dos meios
de transporte no Tocantins, iniciando
com uma explanação geral sobre o
planalto central; depois, sobre o vale do
PORTO NACIONAL rio e, em seguida, suas condições de
navegação; e, por fim, uma avaliação do
RIO-S. PAULO seu valor econômico como via fluvial.
204 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Já na primeira parte, o engenheiro Oliveira apontou que a pequena


“Tocador de flauta nasal”, “Menino xerente” e “Cesto oval”.
apresentou críticas a diversos planos quantidade de moradias das áreas Fotografias de Curt Nimuendajú. Celin/Museu Nacional

anteriores de transporte na região. menos povoadas era resultado da fraca


Discordou de Couto de Magalhães e da emigração nordestina. Ele lembrou que Na outra página, “Grupo de índios krahô” e “Índios krahô
se preparando para dança”, 1945. Museu do índio/Funai
Comissão Pereira do Lago – formada em a expansão da ocupação por sertanejos - Brasil

1815, tinha como finalidade propor soluções pecuaristas aconteceu sobre as terras
para a navegação do Araguaia-Tocantins indígenas de maneira violenta. As ações
– por priorizarem a construção de uma de rapto e saque contra os índios ainda
estrada de ferro para atravessar trechos continuavam acontecendo. O engenheiro
de navegação perigosa no Tocantins. Ao relacionou as tribos indígenas ao longo do
mesmo tempo, defendeu, em oposição rio Maranhão – os canoeiros, segregados
a Couto de Magalhães, que fossem feitos da civilização – e do médio Tocantins –
melhoramentos no rio Tocantins e não os xerentes, apinajés, craôs e cricatis,
no rio Araguaia. Essa opção refletiu-se completamente pacificados. No caso
até mesmo no roteiro de sua viagem, dos canoeiros, Oliveira relatou conflitos
que privilegiou o estudo do Tocantins. entre os índios e a população branca.

“(...) devido ao ódio terrível que têm aos


brancos, matam sistematicamente todos
que ousam aproximar-se de suas terras.
Expedições de vingança têm sido organizadas
contra eles, terminando sempre em bárbaros
morticínios, em que não são poupadas
nem as mulheres, nem as crianças, nem
mesmo as casas e as roças. (...) Relataram-
nos uma das últimas incursões em que
os civilizados mataram a tiros dezenas de
silvícolas aldeados e degolaram todos os
animais domésticos que encontraram.”
(Oliveira, 1941: 28)
1930-1945 Capítulo 5 | 205
206 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A questão indígena, no entanto, Nesse sentido, deveria prevalecer


“Grupo de aviadores em Pedro Afonso”. Instituto Brasileiro
não ocupa muito espaço no relatório. o critério geográfico para escolha de Geografia e Estatística

A preocupação de Oliveira em relação do modelo mais adequado.


ao povoamento da região centrava-se Oliveira questionou os planos do Na outra página, “Carreira Comprida no alto Tocantins” e
“Corredeira Croá no médio Tocantins”, esquemas que ilus-
na carência de serviços de transporte, engenheiro Eduardo de Moraes, de 1894, tram a publicação O vale Tocantins-Araguaia, de Américo
Leonides Barbosa de Oliveira, publicado em 1941
educação e saúde. Com suas sugestões que defendia a construção da tão criticada
práticas e passíveis de se concretizar, Estrada de Ferro do Tocantins. Para ele, o
o autor afirmava que, para apressar o crescimento do sistema ferroviário seria
progresso da região, seria necessário inteiramente anacrônico, considerando-
garantir a ordem, reorganizar as se o desenvolvimento extraordinário dos
comunicações, facilitar a iniciativa transportes rodoviário e aeroviário. O
privada e melhorar os transportes. relatório traz um histórico pouco favorável
As possibilidades econômicas à via férrea, mas não deixa de apontar a
sugeridas no relatório para regiões precariedade das rodovias existentes.
específicas do vale do Tocantins
baseavam-se no melhor aproveitamento
de duas das riquezas nativas já exploradas:
o babaçu e a castanha. Além disso, ao
comparar a aptidão agrícola dos campos
do Tocantins com a de outras áreas como
vale do São Francisco, Minas Gerais,
sul de Goiás e Mato Grosso, Oliveira
defendeu a opção pela criação de gado.
Em relação à região do alto Tocantins,
historicamente propícia à mineração, o
engenheiro destacou a exploração das
grandes jazidas de níquel, mas também
advertiu sobre os problemas sociais que
tradicionalmente decorrem do garimpo.
O tema declarado da viagem,
porém, era a viabilização do transporte
– e Oliveira tinha uma posição mais
radical: seria impossível manter a
coexistência de todos os sistemas de
transportes numa mesma região, porque
o volume da circulação era baixo.
1930-1945 Capítulo 5 | 207

CARREIRA COMPRIDA “Em 1914 havia 58 kms construídos (...),


em 1919 tinham sido entregues ao tráfego
82 kms. (...) em 1920 foi declarada a
caducidade do contrato. Foi depois arrendada
ao governo do Pará que fez construir uma
estrada de rodagem da ponta dos trilhos até a
cachoeira de Itaboca (36 kms.). Essa rodovia
foi inaugurada em 1937, porém a ligação
Itaboca-Alcobaça não despertou interesse
comercial e terminou sendo abandonada. Os
exportadores de castanha, já familiarizados
com os rebojos do Tocantins, preferiram
continuar seu transporte pelo rio a entregar sua
carga aos azares de estradas tão precárias.”
(Oliveira, 1941: 81-82)

Segundo Oliveira, nos diversos planos


de viação elaborados até então, não havia
preocupação em condicionar a construção
de uma rede de transportes aos recursos
disponíveis no Tesouro. Portanto, deveriam
ser considerados de forma integrada tanto
as perspectivas econômicas e o nível
de desenvolvimento da região quanto
CORREDEIRA CROÁ os planos de viação. Dessa forma, para
ele, os investimentos em infraestrutura
de transportes necessitavam um lastro
econômico efetivo que o justificasse.
A descrição do Tocantins feita
por Oliveira era basicamente técnica,
apresentando as condições de navegação
e as seções navegáveis. A partir desse
estudo, o relatório propôs um programa
imediato, visando estabelecer a ligação do
sul com o norte do Brasil por meio de ações
que facilitassem a navegação na época
das cheias nas cachoeiras Itaboca, Santo
Antônio, Lajeado e Carreira Comprida, além
da construção de uma estrada de rodagem
ligando Anápolis e Peixe, em Goiás.
208 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1930-1945 Capítulo 5 | 209

por hora). Esse desenho baseava-


se na experiência dos pilotos que
navegavam pelo Tocantins, após
terem vivido inúmeros desastres,
superados com sacrifício e prejuízos.

“O tipo de barco corrente no alto e


médio Tocantins é inteiramente diverso
do existente nos nossos demais rios
navegáveis. Precisa ter pequenas
dimensões e grande potência propulsora,
a fim de manobrar nas corredeiras, e
não pode ter máquina a vapor, devido
ao grande espaço ocupado pela
caldeira e pelo depósito de lenha.”
(Oliveira, 1941: 105)

O engenheiro preocupou-se
também em definir uma série de
termos relativos ao rio empregados
pela população local, entre os quais
travessão (perturbação de pouca
gravidade no curso d’água); cachoeira
(sério obstáculo a vencer); corredeira
Em seguida seria posto em prática um (aceleração da corrente em que há um
Na outra página, “Cidade de Peixe”, fotografia de Tomas
Somlo, 1953. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística programa para facilitar a navegação canal navegável sinuoso e incerto);
de vazante em todas as pequenas rápido (aumento da correnteza sem
“Travessia das corredeiras”, fotografia que ilustra a obra corredeiras e a construção de estradas pedras no canal); pedral (grande número
Viagem ao Tocantins, de Júlio Paternostro, publicada em
1945 de rodagem para contornar as cachoeiras de pedras no leito sem aumento de
de Carreira Comprida e Lajeado. velocidade da correnteza); baixo, banco,
O relatório apresentou também gorgulho ou seco (designação de altos-
um estudo sobre a embarcação mais fundos em leitos de areia, pequenos
adequada para a navegação do Tocantins, seixos densos ou de pedras duras);
que deveria ter as seguintes medidas: canal linheiro (canal retilíneo); banzeiro
comprimento máximo (20 metros), boca ou maresia (vagas ou turbilhões em
(5 metros), caldo cheio (90 centímetros), qualquer rápido ou corredeira); e
deslocamento (40 toneladas), motor pancadas (degraus em que se divide
(80 HPs) e velocidade (10 milhas uma corredeira ou cachoeira).
210 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A partir dessas definições, ele fez


uma minuciosa descrição das cinco
seções de navegação propostas para
o rio Tocantins. No último capítulo
do relatório, o engenheiro discutiu as
possibilidades econômicas de implantação
da via de transporte do Tocantins e
efetuou um estudo das tarifas de frete
comparadas com as de outras bacias
fluviais e outros meios de transporte.
O governo de Goiás subvencionava
desde 1935 uma empresa que executava o
serviço de navegação entre Belém e Baliza,
pelo rio Araguaia, e Belém e Piabanha,
no Tocantins. Entretanto, a população
não estava satisfeita com o serviço,
que era um tanto irregular, nem com as
condições do contrato. Oliveira achava que
o governo deveria manter a todo custo
o funcionamento da navegação fluvial
subvencionada e, em paralelo, organizar
um serviço permanente de estudos e
obras para abrandar as dificuldades dos compra de barcos motorizados, com
“Rio Araguaia”, [1950]. Fundação Getúlio Vargas - CPDOC
navegantes no Tocantins e no Araguaia. equipamento mecânico para os trabalhos
Com esse objetivo, sugeriu modestas de derrocamento, além da contratação
obras fluviais para melhorar o tráfego das de alguns trabalhadores e práticos do
embarcações, a construção de trechos rio. Para esse serviço, seria vantajoso
de estrada de rodagem com finalidades o recrutamento de pessoal entre os
econômicas bem definidas e a suspensão experientes navegadores do Tocantins,
da construção da Estrada de Ferro do além da consulta às plantas e perfis
Tocantins entre Alcobaça e Itaboca, que cuidadosamente levantados em estudos
havia sido reiniciada pelo governo federal. anteriores, como os realizados por Pereira
Em sua conclusão, Oliveira propôs, do Lago, Coudreau e pelo engenheiro
ainda, a criação de uma comissão de Cândido Lucas Gaffrée, que havia chefiado
melhoramentos em caráter permanente, a Comissão de Reconhecimento e Estudos
composta por dois engenheiros, e a dos Rios Tocantins e Araguaia, em 1935.
1930-1945 Capítulo 5 | 211

de viajante. Os resultados de sua


expedição, custeada pelo governo federal,
foram além do aprofundamento do
conhecimento sobre aquela vasta área
do território nacional, pois ofereceram,
de forma sistematizada, subsídios
técnicos para o planejamento estatal.
As propostas do engenheiro
apresentavam uma racionalidade que
começava a se implantar no campo
governamental. De maneira objetiva, o
relatório de Oliveira mostrava a pobreza,
o abandono e a falta de perspectivas da
região, propondo que fossem superados.
Para tanto, não cabia propor planos
custosos de transportes, mas, pelo menos
no planejamento, observar as carências
existentes e considerá-las como prioridade.
A viagem de Oliveira estava afinada,
portanto, com o ideário da campanha
da Marcha para o Oeste, que pretendia
promover o povoamento das regiões
O relatório contém uma planta interiores do país, ricas em matérias-
“Cidade de Goiás, antiga capital do estado de Goiás”. Fun-
dação Getúlio Vargas - CPDOC minuciosa do rio Tocantins, com a primas e fontes de energia. Assim, a
indicação de seus afluentes, povoados industrialização seria incentivada pela
e obstáculos, baseada no levantamento formação de mercado interno, seguida
feito pelo inspetor dos Telégrafos, de sua ampliação e incorporação à
Adolfo Oldebrecht, e completada pela economia nacional. Entre as medidas
Comissão de Estudos Econômicos sugeridas estavam a colonização planejada,
do Vale Tocantins-Araguaia. a migração dirigida e experiências-
Embora o trabalho de Oliveira faça modelo em modernização agrícola.
parte de uma linhagem histórica de Com esse conceito – e também
comissões e técnicos que realizaram no espírito de renovação política em
estudos e produziram relatórios sobre relação à República Velha – aconteceu
o Tocantins, o engenheiro, na verdade, a mudança da capital de estado de
representava uma nova mentalidade Goiás para a nova cidade de Goiânia.
212 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A antiga sede do governo estadual, a


cidade de Goiás, representava o centro
de poder da oligarquia deposta pela
Revolução de 1930. O interventor Pedro
Ludovico foi um dos mais destacados
articuladores da construção de Goiânia,
obra que executou mesmo em meio à
grande oposição interna, por conta dos
custos elevados e da grita dos adversários
políticos. Em 1932, Ludovico começou
as negociações para a construção da
nova capital; em 1935, realizou-se a
mudança provisória da sede do governo;
e, finalmente, em 1942, Goiânia foi
oficialmente inaugurada já com mais de 15
mil habitantes, o dobro da capital anterior,
que somava respeitáveis duzentos anos.
A construção de Goiânia foi um
marco simbólico, que devolveu ao povo do povoamento de áreas das regiões
“Praça cívica na cidade de Goiânia”, [194_]. Celg
goiano a esperança no desenvolvimento, do Brasil Central e Ocidental.
com perspectivas otimistas esquecidas Constituída como instituição de dupla Na outra página, “ Mapa do Brasil, delimitando a expedição
natureza jurídica (pública e privada), a Roncador-Xingú”. Fundação Getúlio Vargas - CPDOC
desde o declínio da mineração. O
surgimento da nova capital propiciou a FBC assumiu os trabalhos da Expedição
abertura de novas estradas, favoreceu Roncador-Xingu, que, também criada
a imigração e o povoamento e criou em 1943, tinha como principal tarefa o
o primeiro centro urbano de relativa estabelecimento de uma rota terrestre,
importância do estado, que oferecia aérea e de radiotelegrafia entre as cidades
diversos tipos de serviços, abrindo, assim, do Rio de Janeiro e Manaus. Ao longo
caminho para a urbanização e o início dessa rota, a expedição deveria instalar
da industrialização no Centro-Oeste. postos de apoio à aviação, dotados
No ano seguinte, o governo Vargas de campo de pouso, instalações de
lançou a iniciativa de mais largo alcance serviço de radiocomunicação e um
para a região: a criação da Fundação conjunto de edificações rústicas, para
Brasil Central (FBC), instituída em abrigar as equipes em serviço. A FBC
1943 e responsável pelos trabalhos incorporou ainda a gestão da controvertida
de penetração do território e alocação Estrada de Ferro do Tocantins.
214 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A Fundação Brasil Central foi uma No mesmo processo de centralização


“Ponte construída pela Fundação Brasil Central”. Fundação
das várias instituições criadas por Getúlio administrativa, o governo federal instituiu Getúlio Vargas - CPDOC

Vargas com o objetivo de promover o dois órgãos importantes para a história


desenvolvimento e fortalecer a máquina do setor elétrico: a Divisão de Águas
administrativa estatal. Além dos já (1933) e o Conselho Nacional de Águas
citados Serviço Geográfico do Exército e e Energia Elétrica (1939). O primeiro
Conselho Nacional de Geografia, surgiram tinha a atribuição de promover o estudo
o Comitê de Fiscalização das Expedições das águas no país e sua aplicação ao
Artísticas e Científicas no Brasil (1933), desenvolvimento da riqueza nacional; o
o Instituto Brasileiro de Geografia e segundo, de atuar na fiscalização e no
Estatística (1934), o Serviço do Patrimônio controle dos serviços de energia elétrica,
Histórico e Artístico Nacional (1937), e em todos os assuntos pertinentes
o Conselho Nacional de Proteção aos ao setor elétrico, desde questões
Índios (1939) e o Departamento Nacional tributárias até a proposição de planos
de Estradas de Rodagem (1937). de interligação de usinas geradoras.
1930-1945 Capítulo 5 | 215

“Aspecto da fábrica de tijolos instalada pela Fundação Bra-


sil Central”. Fundação Getúlio Vargas - CPDOC

Os fundamentos de um planejamento o Centro-Oeste e, mais adiante, para a


central para o desenvolvimento da região Amazônia. O rio Tocantins, porém, ainda
do Tocantins estavam, portanto, sendo necessitava ser avaliado por mais viajantes
estabelecidos, e apresentavam bases mais comprometidos com esse olhar – modernos
sólidas do que as do Estado Novo que os missionários apregoando as boas-novas
engendrara. De fato, serviriam de modelo de que o Brasil havia, enfim, achado o
para as políticas públicas desenhadas para caminho para se aproximar de seu coração.
Capítulo 6
Do aventuroso ao econômico:
o setor elétrico desbrava o Tocantins

1945-1984
218 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A NOÇÃO DE QUE O USO INTEGRADO


E MÚLTIPLO das águas do rio Tocantins
era a chave para o desenvolvimento de
todo o seu entorno e de que ações com
esta finalidade deveriam estar alinhadas a
um planejamento mais amplo para o país
era, em meados dos anos 1940, ainda
ideia de visionários. Apesar dos esforços
do engenheiro Américo Leônidas Barbosa
de Oliveira em engendrar soluções
racionais e factíveis em sua viagem de
1939, o Tocantins permaneceu intocado
durante mais duas décadas, enquanto
o Brasil amadurecia sua concepção de
progresso. Coube ao setor de energia
elétrica, que ganharia, nesse meio-
tempo, maior relevância em um projeto
efetivamente nacional, tomar a frente do
novo processo de desbravamento do rio.
Talvez o último viajante individual
antes de o Tocantins se tornar objeto de
atenção sistemática de grandes equipes
técnicas institucionais tenha sido o do IPT, em sua edição de novembro/ deslumbramento pela beleza selvagem
engenheiro Aldo Andreoni, do Instituto dezembro de 1950. Desde o início, ele que o Tocantins vai revelando a cada
de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São demonstra ser um viajante cujo olhar curva. Ainda no primeiro parágrafo,
Paulo. A encomenda feita pelo governo tinha maior alcance do que o exigido Andreoni adverte que a visão sulista de
do estado de Goiás no final da década por sua tarefa eminentemente técnica. um rio lendário ou aventuroso era, na
de 1940 incluía não apenas examinar as O relato, que inclui fotos, mapas e verdade, um tanto estreita para qualificar
condições de navegação do rio, como diagramas, é repleto de informações uma via aquática importante para o
ainda desenvolver um protótipo de históricas sobre as principais cidades comércio do norte de Goiás e sul do Pará
embarcação especialmente concebida às margens do rio e sobre as aventuras e Maranhão. No primeiro trimestre de
para superar o emaranhado de cachoeiras, de seus antecessores, incluindo 1948, a área de Marabá (PA) registrara
corredeiras, pedregulhos e ilhas. narrativas de trágicos naufrágios. o tráfego de 229 embarcações a motor,
A excursão de Andreoni subindo o Sem perder de vista o objetivo transportando 3.717 toneladas de carga.
Tocantins foi contada em um relatório principal de sua viagem, o engenheiro Para Andreoni, o rio já se encontrava no
publicado pela Revista de Engenharia, fez descrições em que não esconde o que qualificou como período econômico.
ILHA
MARAJÓ

BELÉM

Na outra página, “Localidade de Goiaba: as corredeiras da


Volta da Goiaba”. Fotografia do Relatório de uma viagem
realizada ao baixo e médio Tocantins, de Aldo Andreoni,
1949 BAÍA DO INDEPENDÊNCIA
MARAPATÁ
IC. MIRI
ILHA
UBUSSÚ MOJÚ
“Itinerário de uma viagem ao baixo e médio Tocantins”. CANAL DO
IGARAPÉ MIRÍ
Mapa do Relatório de uma viagem realizada ao baixo e
médio Tocantins, de Aldo Andreoni, 1949
CAMETÁ

“Tucano de bico preto”. Fotografia de Ana Cotta

CARMO

MOCAJUBA

BAIÃO

ITINERÁRIO DE UMA VIAGEM


REALIZADA AO BAIXO E
MÉDIO TOCANTINS
1948
STA. CLARA DO JUTAI

NAZARÉ DOS PATOS

ARATERA

TUCURUÍ
ESCALA 1:1.000.000

TAQUARI

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CORREDEIRA DO INFERNO
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ILHA DO JACUNDÁ
ILHA DO AREIÃO
OU BRUNO JACUNDÁ
ENTRADA DO TAURI GRANDE

COTOVELO
PASSAGEM DO VALENTIN

CORREDEIRA DA
ÁGUA DA SAÚDE
BAGAGEM

CARNEIRO PIXUNA
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RIO
A jornada do engenheiro viajante Ao chegar a Tucuruí (PA), município
“A cidade de Tucuruí”. Fotografia do Relatório de uma via-
começou em Belém (PA), rumo à baía de recém-criado em dezembro de 1947, gem realizada ao baixo e médio Tocantins, de Aldo Andre-
oni, 1949
Marapatá, onde o Tocantins desemboca. Andreoni não se furtou a criticar a escolha
A primeira cidade mencionada no do local para sede de um centro comercial
percurso foi Cametá (PA). Logo a do Tocantins e do rio Araguaia. Segundo
seguir, conta Andreoni, o rio começava ele, a Ilha dos Santos, na entrada da cidade,
a mostrar sua perigosa sedução. atrapalhava a manobra e a atracação de
grandes barcos, e a própria região seria
“Neste trecho, a água tem a cor verde-
insalubre. O fato de Tucuruí ser o ponto
azulada, é límpida e transparente;
quando é pouco profunda, permite ver inicial da Estrada de Ferro Tocantins era,
os peixes e as pedras do fundo. Há ali para Andreoni, um dos fatores do fracasso
muitas ilhas espalhadas pelo rio (...). Os da empreitada ferroviária. Um quilômetro
canais existentes entre as ilhas formam
acima, a navegação se tornava traiçoeira
verdadeiros labirintos e, se não conhecer
bem o itinerário, o navegador neles em um trecho com muitas pedras. Nesse
facilmente se desorienta. Os canais que ponto, o piloto contava apenas com a sua
foram percorridos por Couto de Magalhães visão e a própria perícia, além de uma
estão, hoje, quase abandonados, visto
velocidade favorável das águas para que
terem sido descobertos outros mais
profundos e menos perigosos.” a embarcação não fosse uma das quatro,
(Andreoni, 1950) em média, que afundavam ali a cada ano.
1945-1984 Capítulo 6 | 221

Andreoni foi minucioso no Na divisa com o médio Tocantins,


detalhamento de cada acidente geográfico o engenheiro destacou os castanhais
e cada armadilha do Tocantins, mas se e se mostrou preocupado com sua
deteve nos trechos que considerava os preservação, ameaçada pela invasão
mais arriscados para os barcos, como humana das áreas nas quais os animais
a cachoeira de Itaboca, que tornavam nativos obedeciam à lei natural de
o rio intransponível no período de seca, transportar as sementes das árvores.
até mesmo para canoas. Ele relembrou Subindo o rio na altura da entrada do
a tentativa de Couto de Magalhães de Tauiri Grande, travessão rochoso com
subir as corredeiras do Inferno – que não 70 quilômetros de extensão, Andreoni
permitem a navegação em nenhuma contou em minúcias como os hábeis
“Localidade de Jatobal. Entrada principal do canal do Infer- época do ano – com o navio Pará, pilotos locais conduziam seus barcos
no”. Fotografia do Relatório de uma viagem realizada ao
baixo e médio Tocantins, de Aldo Andreoni, 1949 que afundou sacrificando vidas. na veloz corredeira da Água da Saúde.
222 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“As embarcações entram na corredeira


pela margem direita do canal, com o motor

CORRENTE
funcionando a todo regime. Na altura da
pedra 1, giram de 90° e rumam sobre uma
IV PEDRA 3
‘água revolvida’ (...) até a pedra 2. Aí giram
novamente de 90° e tomam a direção da
pedra 3. Isto tudo passa-se em poucos
segundos. (...) A embarcação deve ter o
motor perfeitamente ajustado e a rotação
controlada. Os pilotos, ao perceberem que
os barcos vencem a correnteza, reduzem a
III
rotação do motor para não ir colidir com a
pedra 3. (...) se, porventura, o motor deixar de II
4
funcionar, a força da água é tal que projetará
o barco desgovernado em qualquer das PEDRA 1 ÁGUA REVOLTA
inúmeras pedras que se encontram no meio
PEDRA 2
e nas margens do rio. Foi isto que sucedeu
em 1938, na corredeira do Carneiro Velho,
com a embarcação Couto de Magalhães, cujo
5
casco afundado até hoje não foi encontrado.”
(Andreoni, 1950)

1
A viagem prosseguiu até Marabá,
onde o Tocantins amansa e oferece
algumas praias. Andreoni estava
interessado no nítido progresso pelo
qual passava o município, para onde
convergiam todos os barcos vindos dos Isso se devia ao colégio de frades
rios Tocantins, Araguaia e Itacaiúnas, e freiras dominicanos, que oferecia
trazendo castanha e babaçu. Mais adiante, educação aos jovens da área desde
passou por Imperatriz, no Maranhão, 1881. O viajante encerrou a jornada em
e encontrou vários obstáculos até a Peixe, na época ainda pertencente a
cachoeira do Lajeado, limite do alto Goiás, e concluiu que o rio, apesar dos
Tocantins, que interrompia o fluxo da percalços, apresentava longos trechos de
navegação. As cargas eram obrigadas navegabilidade, e que as dificuldades não
a baldear em Porto Nacional, então haviam impedido a iniciativa privada de
município de Goiás, que se distinguia dos buscar as riquezas da região, mantendo
demais das margens do Tocantins pelo em movimento essa importante via
bom nível educacional da população. de transporte no centro do país.
1945-1984 Capítulo 6 | 223

Na outra página, “Passagem pela corredeira d´Água da


Saúde”. Ilustração reproduzida do Relatório de uma via-
gem realizada ao baixo e médio Tocantins, de Aldo An-
dreoni, 1949

“Trecho mais alto da praia da Rainha”. Fotografia do Rela-


tório de uma viagem realizada ao baixo e médio Tocantins,
de Aldo Andreoni, 1949

“O motor Rio Tocantins em frente a Ipixuna”. Fotografia


do Relatório de uma viagem realizada ao baixo e médio
Tocantins, de Aldo Andreoni, 1949

O relatório de Andreoni também uma medida de economia para evitar a


incluiu, após a exposição da viagem, uma destruição do equipamento completo
pormenorizada descrição dos tipos de barco em seu embate com as pedras do rio.
que trafegavam no Tocantins: a motor, O objetivo do governador Jerônimo
batelão, montaria (pequena canoa escavada Coimbra Bueno (1947-1950), que havia
em tronco de madeira) e balsa. Ao final, encomendado o estudo ao IPT, era
apresentou o projeto encomendado pelo racionalizar e incrementar o tráfego
governo: um protótipo de embarcação pelo Tocantins. Essa tarefa deveria se
desenvolvido pelo IPT e testado em coadunar com o trabalho da Comissão
um dos mais modernos laboratórios de de Estudos e Obras dos Rios Araguaia e
hidrodinâmica do mundo na época, a Tocantins (Ceorta), criada em 1948 no
Estação Experimental de Construção Naval Departamento Nacional de Portos, Rios e
de Wageningen, na Holanda. Tratava-se Canais para abrir portos e caminhos que
de um barco a motor com 20 metros facilitassem a navegação. O protótipo de
de comprimento e 37 cavalos-vapor de Andreoni não chegou a sair do laboratório,
potência, ao qual se incorporou uma barra mas seu expressivo relato anunciava
vertical de aço atrás da hélice para reforçar a necessidade de se utilizar os demais
a popa, como era usual nas embarcações recursos oferecidos por um dos rios
do Tocantins. Havia ainda a recomendação mais caudalosos do país, em meio a
de que as hélices tivessem pás removíveis, grandes mudanças vividas pela região.
“A embarcação a motor Colomi II em frente a cidade de
Tucuruí”. Fotografia do Relatório de uma viagem realizada
ao baixo e médio Tocantins, de Aldo Andreoni, 1949

“Nações indígenas que Harald Schultz visitou”. Mapa que


ilustra a publicação Hombu: indian life in the Brazilian jun-
gle, 1963

A expansão da fronteira agrícola e a Javahé


Caracas
forte migração rumo às terras goianas, Trinidad Karajá
Kaschináua
fruto da política de intervenção no Krahó
Centro-Oeste executada tanto no final
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Paramaribó
do Estado Novo quanto no segundo
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governo de Getúlio Vargas (1951-1954), Umutina
tornaram o estado um ativo produtor Uruku

de alimentos para o Sudeste em R io N g


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processo acelerado de industrialização. ap u ra
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Goiás, com seu vasto território e Manaus o Am a z Belém São Luís
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baixa densidade populacional, oferecia uá


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condições atraentes para a produção

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extensiva de alimentos e gado. A ação

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da Fundação Brasil Central (FBC) ajudou n


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a povoar áreas até então habitadas
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esparsamente por algumas nações


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indígenas e, mais adiante, o governo


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de Juscelino Kubitschek (1956-1961) Cuiabá o
Brasília
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trouxe para a região, embaladas em seu Goiânia

ambicioso Plano de Metas, a nova capital


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do país e a rodovia BR-10, Rodovia g


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Bernardo Sayão ou Belém-Brasília, uma
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estrada histórica, ligando por terra, o
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São Paulo Rio de Janeiro


enfim, o centro do Brasil à Amazônia. Santos
“A integração nacional necessita da Belém-Brasília”, 1964.
Fundação Getúlio Vargas - CPDOC

“Vista aérea da rodovia Belém-Brasília rasgando a flores-


ta”, 1964. Fundação Getúlio Vargas - CPDOC

O programa do governo JK tinha


como âncora o desenvolvimento industrial
do Brasil, mas também propunha o
fortalecimento do setor agrícola para o
abastecimento interno, como forma de
contribuir para a abolição dos chamados
pontos de estrangulamento da economia.
Com essa finalidade, o Estado proveria
os investimentos em infraestrutura
e estimularia a interiorização, com a
inauguração de Brasília, em 1960.
A construção da rodovia Belém-Brasília,
iniciada em 1958, era um dos pilares
desse projeto. Seu leito, rasgando a selva e
revelando locais inexplorados, foi aberto em
menos de dois anos. A estrada, inaugurada
em 1960, apesar de não totalmente
terminada, comportou um dos grandes
feitos da engenharia nacional: a ponte sobre
o Tocantins, na altura de Estreito (MA),
onde o rio passa de uma largura média
de 600 metros para 130 metros. Seu
vão de 140 metros de viga reta tornou-
se o maior do mundo e a superação
226 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

desse trecho do Tocantins viabilizou a Tanto o Tocantins quanto o


rodovia, permitindo a concretização dos Araguaia, correndo do Sul para o
ideais integracionistas. A Belém-Brasília Norte, iam na direção inversa dos
foi determinante para a unificação do centros mais desenvolvidos do
território goiano, ao ligar o norte do estado, país, e a população ribeirinha foi-
que já tinha sido alvo de uma intensa se transferindo para as margens da
campanha de emancipação dez anos Belém-Brasília, que possibilitava o
antes, e permitir o avanço da fronteira contato com o progresso no agora
agrícola para uma região até então isolada não tão distante Sudeste brasileiro.
e dependente dos rios para se relacionar Ao assumir o governo do estado
economicamente com os estados vizinhos. de Goiás, Mauro Borges (1961-1964)
O gado de corte do norte de Goiás vinha de uma campanha que, alinhada
pôde ser embarcado em carretas e com o ideário dos anos JK, tinha como
despachado para o norte do país ou lema nacionalismo e desenvolvimento.
para o centro-sul, e aos poucos as terras Não por coincidência, o governador
ao longo da via foram sendo ocupadas determinou a elaboração de um
por latifúndios agropecuários; no médio plano de metas estadual, o Plano de
Araguaia, além do gado, expandiram- Desenvolvimento Econômico de Goiás,
se as culturas de arroz e mogno. a cargo da Fundação Getúlio Vargas.

“Criação de gado vacum em Pouso Alto (GO)”. Fundação


Getúlio Vargas - CPDOC

Na outra página, “Vista aérea de residências às margens


da rodovia Belém-Brasília, rasgando a floresta”, 1964.
Fundação Getúlio Vargas - CPDOC

“Casa de madeira às margens da rodovia Belém-Brasília”,


1964. Fundação Getúlio Vargas - CPDOC
228 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O projeto propunha investimentos em


agropecuária, infraestrutura e educação,
promovendo as condições necessárias
para o incremento das atividades primárias
e para a diversificação da economia goiana.
O plano previa também uma extensa
reforma administrativa, com a criação
de várias secretarias e órgãos estaduais,
além da implantação de uma política de
redistribuição de terras e de assistência
rural, fundamental para a resolução dos
conflitos agrários que, desde a década
anterior, haviam se acirrado em Goiás.
Um dos pontos importantes para o
desenvolvimento econômico de Goiás
era o aumento da oferta de energia
– em especial, com a exploração do
potencial hidrelétrico. Em 1958, a potência
instalada em Goiás estava em torno
de 10,9 megawatts – 284 quilowatts
de fontes térmicas e 10,7 megawatts
de fonte hidrelétrica –, e a intenção
do governo Mauro Borges era elevar a
capacidade de geração do estado para
160 megawatts até 1964. Para isso, o
plano reservava o maior contingente dos
recursos: 22,4% do orçamento previsto
para o setor de energia elétrica.
Criada pelo governo estadual em
1956, a Centrais Elétricas de Goiás
(Celg) ficou encarregada de buscar
alternativas para o cumprimento das
metas governamentais. A empresa
já tinha a seu cargo a construção da
usina hidrelétrica de Cachoeira Dourada,
no rio Paranaíba, na divisa de Goiás e
Na outra página, “Octavio Marcondes Ferraz, presidente
da Eletrobras, durante visita às obras da UHE Cachoeira
Dourada”, 1965. Fundação Getúlio Vargas - CPDOC

“Octavio Marcondes Ferraz observa as obras da UHE Ca-


choeira Dourada”, 1965. Fundação Getúlio Vargas - CPDOC

“Exposição do Departamento de Propaganda e Expansão


Econômica do Estado de Goiás, realizada em Goiânia”,
[196_]. Fundação Getúlio Vargas - CPDOC

Minas Gerais, especialmente projetada


para atender Brasília e o centro-sul do
estado. No entanto, os novos contornos
econômicos do norte goiano e as
perspectivas de exploração de minérios
tornavam prioritária a procura de uma
fonte geradora suficientemente poderosa
para alimentar os sonhos e previsões de
riqueza e desenvolvimento da região.
Ainda em 1957, o geólogo P. Barbier
havia feito um reconhecimento preliminar
de um local no alto Tocantins, próximo ao
ribeirão São Félix, que mostrou potencial
para um aproveitamento hidrelétrico. Mas
a conclusão final dependia de estudos
geológicos mais detalhados da área,
retomados em 1960, com a colaboração
do IPT de São Paulo e da Prospec, que
realizou o mapeamento fotogeológico
e aerofotogramétrico da região.
230 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Com a determinação do novo governo


de Goiás, os técnicos da Celg estudaram
durante três anos o alto Tocantins para
definir São Félix, cerca de 250 quilômetros
ao norte de Brasília, como o lugar ideal
– uma missão árdua que, conforme
descrita em relatórios elaborados pela
empresa na primeira metade dos anos
1960, teria, inclusive, custado vidas.
O Tocantins continuava sendo um desafio.
Segundo os relatos da concessionária,
uma expedição organizada pela empresa e
chefiada pelos sertanistas Carmo Bernardes
e Ladislau Campos teve que enfrentar
os riscos de uma difícil viagem de barco
de Porto Nacional até o local escolhido,
levando pesados equipamentos para as
sondagens geológicas e os levantamentos
topográficos, batimétricos e hidrométricos.
O projeto da Celg previa a construção
da usina em duas etapas. A primeira
instalaria 200 megawatts de energia
elétrica – 100 megawatts em 1969 e
outros 100 megawatts em 1970. Na
segunda etapa, São Félix atingiria seu
potencial máximo de 400 megawatts,
mas a empresa recomendava a instalação
da potência adicional apenas quando a
demanda justificasse. Segundo os cálculos
da concessionária, a partir de 1972 a
demanda por energia elétrica alcançaria
55,2 megawatts, em contraposição
aos 4,5 megawatts de 1968. Para esse
aumento, levavam-se em conta as altas
taxas de consumo de energia elétrica para
a exploração do níquel da região, além da
1945-1984 Capítulo 6 | 231

extração nas reservas de calcário, amianto por Américo Leônidas Barbosa de


e grafite. De acordo com a previsão de Oliveira sobre as difíceis condições de
mercado para a primeira etapa do sistema navegação do médio Tocantins, entre
da hidrelétrica de São Félix, seriam as cachoeiras de Lajeado, Santo Antônio
atendidas as comunidades goianas de e Itaboca. A conclusão da consultora
Porangatu, Mutunópolis, Estrela do Norte, era a mesma dos outros viajantes: seria
Amaro Leite, Água Bonita, Araguaçu, necessária uma ação governamental
São Miguel do Araguaia, Niquelândia, para incrementar o transporte pelo
Uruaçu, Crixás, Hidrolina e Pilar de Goiás. rio, que ainda tinha pouca expressão
Em defesa do empreendimento, nacional. Havia, portanto, uma equação
a Celg afirmava que o projeto poderia a ser resolvida – tornar mais eficiente
contribuir para a melhoria das condições a via fluvial, que, por sua geografia, era
de navegação do rio. O trabalho realizado a mais adequada para a região, e, ao
pela consultora SPL para a concessionária mesmo tempo, otimizar os altos recursos
goiana em 1963 lembrava que desde demandados pelas obras que tornariam
o século XVII se tentava navegar pelo essa navegação mais eficiente.
Tocantins, e fazia referência à viagem do Para a Celg, os caminhos eram a
engenheiro Aldo Andreoni. Diversos trechos integração com o transporte rodoviário
do estudo do técnico do IPT são citados e ferroviário e, fundamentalmente, o
nesse relatório, que aceitava a tese de estabelecimento do conceito de uso
Andreoni de que o rio vivia uma transição múltiplo do rio. A construção de uma
entre o aventuroso e o econômico. hidrelétrica permitiria utilizar as mudanças
O trabalho da SPL reproduz provocadas pelo barramento a favor
ainda parte de uma exposição feita da navegação, a um custo único.

Na outra página, “Barco para o rio Tocantins”. Anteprojeto


do engenheiro Aldo Andreoni. Desenho reproduzido no re-
latório Usina hidrelétrica do Tocantins (sobre a barra do rio
São Félix), [1963]. Centrais Elétricas de Goiás e SPL

“Aracuã de sobrancelha”, pássaro da região do Tocantins.


Ilustração de Antônio Martins, reproduzida na obra Brasil
500 pássaros, editada pela Eletronorte em 2000

“Balsa para a travessia de veículos no porto de São Félix,


em Marabá (PA)”, [197_]. Fotografia do Plano de desenvol-
vimento integrado de área da bacia do rio Tocantins, 1973.
Sudam/Hidroservice
232 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“São Félix situa-se no curso superior do


Tocantins (...) e esse empreendimento trará
à economia da região maiores benefícios do
que qualquer outro mais a jusante, devido à
proximidade aos centros populosos de Goiás,
além de influir, secundariamente, sobre a
navegação a jusante, pela regularização da
descarga, mesmo que parcial, e a montante,
pela possibilidade de permitir, no futuro,
navegação na extensão remansada que,
segundo dados disponíveis, é da ordem
de 100 quilômetros para uma altura de
barragem de 70 metros. Por conseguinte, o
grau de utilização do rio Tocantins será antes
consequência da maior ou menor solicitação
da economia e desenvolvimento regional
do que de restrições de ordem técnica.”
(Centrais Elétricas de Goiás; SPL [1963]: 126)

Ainda sob esse conceito, o estudo


afirmava a possibilidade de construção
de outras usinas hidrelétricas ao longo Em vez de concentrar em um único órgão
“Casas alinhadas ao longo do rio Tocantins no estado do
do Tocantins, à medida que surgissem do governo federal a responsabilidade Pará, [1972-1973]. Fotografia do Plano de desenvolvimen-
to integrado de área da bacia do rio Tocantins, 1973. Su-
justificativas econômicas. Destacava-se o de desenvolver economicamente os dam/Hidroservice
potencial das cachoeiras de Lajeado, Santo vales dos dois rios, a Civat representava
Antônio, Três Barras e Itaboca, nas quais um esforço interregional, unindo na
poderiam ser construídas barragens com mesma causa os estados do Mato
eclusas para o tráfego de embarcações. Grosso, Goiás, Pará e Maranhão. No
O empenho da Celg em fazer, enfim, lançamento da Civat, em Goiânia (GO),
a ponte entre o aventuroso e o econômico, o presidente da República afirmou que
viabilizando o aproveitamento hidrelétrico o desafio de realizar o aproveitamento
do Tocantins, seguia em paralelo a ações dos dois grandes rios para navegação e
do governo federal. Em 1962, o presidente produção de energia elétrica havia sido
João Goulart (1961-1964) havia criado lançado pelos pioneiros do passado.
a Comissão Interestadual dos Vales Nessa ocasião, a bacia do Araguaia-
do Araguaia e do Tocantins (Civat), em Tocantins compreendia uma área de 885
substituição à Ceorta que, sem recursos e mil quilômetros quadrados, dos quais
poder político, pouco conseguiu avançar no 49% pertenciam a Goiás, 21% a Mato
desenvolvimento da infraestrutura da região. Grosso, 15% ao Pará, 6% ao Maranhão
1945-1984 Capítulo 6 | 233

conceito de uso múltiplo do rio e se


levou a cabo um projeto então inédito
de promover o desenvolvimento com
um plano integrado de navegação e
produção de energia elétrica e alimentos.
Dotados de forte conteúdo social,
os princípios norteadores das ações
propostas pelo TVA eram o planejamento
regional, a plena utilização dos recursos
naturais, o profundo conhecimento
da realidade e suas vinculações
com a botânica e a geografia.
O ideário do TVA foi uma importante
referência para toda uma geração de
planejadores brasileiros e, também,
para vários engenheiros de empresas
concessionárias de energia elétrica.
Os estudos do TVA haviam sido mais

“Barco de transporte de castanhas, saindo do porto de


e 0,7% ao Distrito Federal. A região, amplamente difundidos no Brasil a
Marabá (PA) em direção a Tucuruí (PA)”, [197_]. Fotografia com cerca de 2,5 milhões de habitantes partir de 1949, durante o governo de
do Plano de desenvolvimento integrado de área da bacia
do rio Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice distribuídos por 177 municípios, tinha Harry Truman, especialmente com a
baixa densidade populacional. A produção criação de um programa de assistência
local de energia elétrica era muito técnica para países subdesenvolvidos.
pequena. Em alguns municípios apenas Desde os anos 1950, a consideração
eram iluminadas as partes centrais das da dimensão regional no planejamento
cidades, e durante poucas horas da noite. governamental brasileiro associou-
A criação da Civat foi claramente se à elaboração de estratégias de
inspirada na experiência do Tennessee desenvolvimento com vistas à superação
Valley Authority (TVA), o famoso das desigualdades entre diferentes
programa empreendido pelo governo espaços geográficos. Essa perspectiva
americano, a partir de 1933, na região introduziu uma série de novos elementos
do vale do rio Tennessee, extremamente como a ultrapassagem do limite político-
afetada pela crise econômica na qual administrativo na demarcação de áreas
os EUA haviam mergulhado depois de planejamento e a necessidade
da quebra da Bolsa de Nova Iorque, de articular aspectos geográficos,
em 1929. Foi ali que se construiu o econômicos e de recursos regionais.
234 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A proposta da Civat, a exemplo do Uma equipe composta por três


que fora realizado pelo TVA, era fazer o técnicos sobrevoou a região e, depois,
aproveitamento das bacias hidrográficas, empreendeu uma inspeção em campo,
com sistemas elétricos interligados. conferindo dados básicos então
A regularização dessas bacias promoveria disponíveis de hidrologia, meteorologia,
melhor navegabilidade, permitiria projetos solos, propriedades, recursos
de irrigação e a formação de indústrias minerais e florestais e projeções de
que beneficiassem as matérias-primas desenvolvimento socioeconômico.
da região como a castanha, o babaçu, No levantamento do potencial
a borracha, o grafite e o amianto. hidrelétrico da bacia, o Bureau of
Dentro desse espírito, uma das Reclamation constatou uma capacidade
medidas da Civat foi providenciar um de geração de energia hidrelétrica da
primeiro reconhecimento dos recursos ordem de 10 mil a 15 mil megawatts.
hídricos da bacia do Tocantins-Araguaia, Os viajantes do Bureau, confirmando
realizado entre julho e setembro de estudos preliminares, destacaram no
1964 pelo Bureau of Reclamation, órgão baixo Tocantins, junto às corredeiras de
ligado ao Departamento do Interior Itaboca, uma queda natural de 20 metros
dos EUA e especializado na construção em 6 quilômetros de percurso, com um “Jatobal: entrada da corredeira de Itaboca, quase seca no
verão”. Fotografia do Relatório de uma viagem realizada ao
de represas, canais e hidrelétricas. potencial estimado em 2,4 mil megawatts; baixo e médio Tocantins, de Aldo Andreoni, 1949
1945-1984 Capítulo 6 | 235

em segundo plano, na cachoeira de climatologia e de vazão. Para a Civat,


Santo Antônio, com uma barragem de São Félix era prioritária por conta da
15 metros de altura, poderia ser explorado previsão de crescimento da extração
um potencial de 150 megawatts; e na mineral no polo de Uruaçu-Niquelândia.
queda de Três Barras, em um barramento A comissão, porém, teve vida curta.
de 30 metros de altura poderiam ser Com a ascensão ao poder dos militares,
instalados 400 megawatts de potência. em 1964, o projeto de intervenção
O relatório apresentado à Civat sugeria federal nos estados, ditado por um
futuras ações integradas em um programa regime centralizador e autoritário, foi
de uso múltiplo da bacia, compreendendo ganhando forma. Em Goiás, apesar de
agricultura, geração de energia elétrica, simpatizante de primeira hora do golpe
navegação e controle dos rios. Entretanto, militar, o governador Mauro Borges foi
diante do potencial estimado pelo destituído ainda em 1964, sob acusações
Bureau of Reclamation, a Civat, em seu de esquerdismo e subversão. Seu plano
plano diretor para o período 1966-1968, de metas desmoronou e demorariam
destacava como mais promissores os alguns anos até que os estudos sobre a
estudos de aproveitamentos hidrelétricos. usina de São Félix fossem retomados.
Os governos estaduais a partir de
“Não restam dúvidas quanto à necessidade 1964, todos eleitos indiretamente com
de conhecimentos detalhados sobre os
o apoio dos militares, favoreceram a
cursos d’água da região e sobre o regime
“Uirapuru vermelho”, pássaro da região do Tocantins. Ilus- dominante na área. Os grandes projetos de concentração de terras para a pecuária
tração de Antônio Martins reproduzida na obra Brasil 500
pássaros, editada pela Eletronorte em 2000 usinas hidrelétricas, aliás, já justificariam e a agricultura de exportação, como a
‘de per si’ um cuidado todo especial em do arroz e a da soja. Em fevereiro de
relação aos estudos hidrológicos, devendo- 1967, a Civat deu lugar à Fundação
se acrescentar a isto a necessidade de dados
Interestadual para o Desenvolvimento dos
substanciais para o planejamento da irrigação,
além dos conhecimentos prévios essenciais às Vales do Tocantins-Araguaia e Paraguai-
grandes decisões sobre o transporte fluvial.” Cuiabá (Firtop), formada pelos mesmos
(Brasil; Civat, [1966]: 44) estados. No entanto, o planejamento
econômico do Centro-Oeste passou
Apesar do entusiasmo do Bureau a ser centralizado, em dezembro do
of Reclamation com a área de Itaboca, mesmo ano, na Superintendência de
a comissão elegeu como prioridade a Desenvolvimento da Região Centro-
complementação e atualização dos estudos Oeste (Sudeco), compreendendo apenas
sobre a usina de São Félix feitos pela Celg. Mato Grosso e Goiás, que assumiu as
Segundo o plano trienal, era necessário funções, o acervo e os empregados da
aprimorar os trabalhos hidrológicos, de antiga Fundação Brasil Central (FBC).
236 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Cabia à superintendência levantar A ocupação do extenso território


“Azulona”, pássaro da região do Tocantins. Ilustração de
o potencial econômico da região e amazônico e a exploração de seus ricos Antônio Martins, reproduzida na obra Brasil 500 pássaros,
editada pela Eletronorte em 2000
incentivar movimentos migratórios recursos naturais foram alvo de diversos
como forma de garantir o povoamento estudos promovidos pelo governo federal à
Na outra página, “Aproveitamentos estudados: mapa geral
e a formação de mão de obra. época. O inventário do Comitê Coordenador de localização”. Mapa que ilustra o Relatório final do Co-
mitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Amazônia,
Um ano antes, em 1966, o primeiro dos Estudos Energéticos da Amazônia 1971. Eletrobras/Ministério das Minas e Energia
governo do regime militar, presidido pelo (Eneram), criado em 1968 no âmbito
marechal Castello Branco (1964-1967), do Ministério das Minas e Energia (MME),
havia criado a Superintendência de foi a primeira ação ordenada do setor
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) elétrico para o levantamento do potencial
que, como a Sudeco, tinha a missão hidrelétrico de alguns rios da região, entre
de estimular o potencial econômico eles, o Tocantins, em seu trecho paraense.
de sua região de atuação. A Amazônia O Eneram constituiu um
ganhou papel relevante no projeto desdobramento dos primeiros estudos
econômico e geopolítico do governo, de inventário do potencial energético
que deu uma dimensão inédita à tão brasileiro e do mercado de energia elétrica.
perseguida meta de integração nacional. Na região Centro-Sul, a pesquisa foi
A estratégia governamental era a de, a realizada entre 1963 e 1966 e, na
partir de um poder central, promover o região Sul, no período 1966-1969.
acelerado crescimento econômico do Esses levantamentos foram executados
Brasil, proporcionando sua modernização, por duas firmas de consultoria
fortalecendo o Estado e tornando o canadenses e uma norte-americana,
país uma referência internacional. com o acompanhamento de técnicos
A partir de 1968, na presidência brasileiros, formando o chamado
do marechal Costa e Silva (1967- consórcio Canambra, em referência às
1969), o país passou a viver uma fase nacionalidades dos agentes envolvidos.
de forte expansão da economia, o Na região Norte, os estudos foram
chamado milagre brasileiro, alimentado realizados com a participação de firmas
pelo farto crédito internacional a juros de consultoria nacionais. O Eneram
baixos, que durou até 1973, quando foi instituído em 31 de dezembro
houve a primeira crise do petróleo. de 1968 pelo Decreto nº 63.952.
Durante esse período, o setor elétrico Subordinado ao MME, na época chefiado
recebeu grande volume de recursos pelo general José Costa Cavalcanti,
do Estado e o crescimento real dos o comitê iniciou efetivamente o
investimentos em energia elétrica reconhecimento do potencial energético
chegou a atingir cerca de 15% ao ano. da bacia hidrográfica amazônica.
1945-1984 Capítulo 6 | 237
238 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1945-1984 Capítulo 6 | 239

O decreto conferiu ao Eneram as aprofundados. Excluídas as alternativas


Na outra página, “Polos Belém e Macapá: parâmetros hi-
drológicos”. Mapa que ilustra o Relatório final do Comitê atribuições de supervisionar os estudos de menor potência, o inventário realizado
Coordenador dos Estudos Energéticos da Amazônia, 1971.
Eletrobras/Ministério das Minas e Energia visando a investigação das possibilidades compreendeu 17 possibilidades de
de aproveitamentos hidrelétricos para aproveitamento hidrelétrico, somando um
suprimento de sistemas elétricos já potencial estimado de 7,4 mil megawatts.
existentes, ou que viessem a ser Atendendo à orientação da Eletrobras,
implantados, nas áreas prioritárias e polos para efeito do estudo, a Amazônia foi
de desenvolvimento criados na Amazônia dividida em quatro áreas geográficas, e
pelo governo federal; deliberar sobre as cada uma das consultoras contratadas
soluções técnicas apresentadas pelos ficou responsável por uma dessas áreas.
consultores, recomendando novos estudos, O rio Tocantins fazia parte do pólo Belém
se julgasse conveniente; apresentar no e Macapá, a cargo da consultora Serete. E
prazo de três anos, a contar da vigência do foi nele que a empresa confirmou o que
decreto (6 de janeiro de 1969), relatório os técnicos do Bureau of Reclamation
final com as conclusões dos estudos. haviam afirmado: no Tocantins estava
Não havia mais lugar para um aproveitamento com potência
românticos viajantes destemidos ou instalável de 2.460 megawatts, o maior
arrojadas expedições contratadas dentre os 17 elencados pelo comitê.
por eventuais governos e interesses
privados. A exploração do Tocantins “(...) Concluíram [os consultores da Serete],
passava a ser, cada vez mais, uma entretanto, que o rio Tocantins, nas corredeiras
atividade contínua e organizada por denominadas de Itaboca, no trecho situado
entre as localidades de Tucuruí e Marabá,
agentes institucionais, com objetivos
onde há um desnível total de cerca de 63
claros e definidos para o uso do rio. metros, apresenta condições promissoras
A Centrais Elétricas Brasileiras para este fim [aproveitamento hidrelétrico].”
(Eletrobras), instituída em 1962 ainda (Brasil; Ministério das Minas e Energia, 1971, v. 1)

no governo João Goulart, era o agente


executivo do Eneram. Para se ter uma Os técnicos da Serete puderam contar
ideia da dimensão da tarefa do comitê, com fotografias aéreas desse trecho e
foram sobrevoados 2 mil quilômetros o respectivo mapeamento, realizados
de rios, e em 1.420 quilômetros foram a partir de 1968 pelo Departamento
inventariados aproveitamentos. No relatório Nacional de Portos e Vias Navegáveis
final, publicado em 1971, dos 52 locais (DNPVN), como parte de um estudo
inicialmente cogitados para a construção geral das vias navegáveis brasileiras.
de usinas, o Eneram indicou apenas Especialistas em geologia e em projeto
21 como adequados a estudos mais e construção de usinas hidrelétricas
240 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

visitaram in situ o local para conhecer Para a definição da construção


as condições de aproveitamento, e dessa usina hidrelétrica, então batizada
corrigiram discrepâncias em um trecho como Itaboca, os estudos da consultora
de 35 quilômetros quadrados em relação levaram em consideração o mercado
aos mapas previamente disponíveis. de energia elétrica do polo Belém e as
Do inventário realizado pela Serete estimativas de crescimento do consumo.
na área de Itaboca resultaram duas Em 1970, a demanda da região era de
alternativas. Uma delas se constituía de dois 67,9 megawatts; segundo as projeções,
aproveitamentos em cascata. O primeiro chegaria a 130 megawatts em 1975,
ficava cerca de 8 quilômetros a montante a 239 megawatts em 1980 e a 418
de Tucuruí e compreendia uma barragem megawatts em 1985. É importante
de 32 metros de altura e potência instalada ressaltar, porém, que essas estimativas
de 925 megawatts. O segundo, localizado não contemplaram fatores que a
“Choca d’água”, pássaro da região do Tocantins. Ilustração
cerca de 50 quilômetros acima do primeiro, consultora achou impossíveis de calcular de Antônio Martins, reproduzida na obra Brasil 500 pássa-
ros, editada pela Eletronorte em 2000
teria uma barragem de 55 metros de altura naquele momento, como o impacto, do
e potência instalada de 1,1 mil megawatts. ponto de vista do consumo industrial,
Na outra página, “Rios Trombetas, Erepecuru e Tocantins:
Esse esquema permitiria o desenvolvimento da exploração do minério de ferro da geologia dos trechos estudados”. Mapa que ilustra o Re-
latório final do Comitê Coordenador dos Estudos Energé-
parcial da potência disponível, uma serra de Carajás (PA), ainda não iniciada, ticos da Amazônia, 1971. Eletrobras/Ministério das Minas
opção interessante para que houvesse embora já houvesse informações sobre e Energia

um aproveitamento futuro do desnível, o enorme potencial das jazidas.


compatível com o aumento de demanda. Também não se projetou o boom de
A segunda alternativa era construir consumo que poderia acontecer se fossem
uma única grande barragem no mesmo desenvolvidas atividades de metalurgia e
local do primeiro barramento da alternativa siderurgia na região, que ainda seria afetada
anterior, com potência de 2.460 com a construção da Transamazônica,
megawatts – um potencial superior ao a rodovia de 4 mil quilômetros ligando
da primeira sugestão, mas que exigiria a Amazônia ao Nordeste, cujas obras
investimentos concentrados em uma haviam sido iniciadas em 1970.
única etapa e para o qual o Eneram não Em resumo, os estudos indicavam
via, na época, mercado consumidor nos que os aproveitamentos hidrelétricos
primeiros anos de operação. Ambas inventariados, em sua quase totalidade,
opções acarretariam a inundação das somente seriam econômicos para o
corredeiras, o que também facilitaria a atendimento a demandas bastante
navegação pelo rio, que, como apontavam superiores às que, segundo as
todos os viajantes, apresentava em projeções de mercado efetuadas,
Itaboca um de seus maiores obstáculos. seriam atingidas somente em 1985.
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242 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
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Tendo esses dados em vista, o comitê conta de projetos de mineração em curso


justificou o encerramento dos trabalhos do e em planejamento. Para a Engevix, na
Eneram sugerindo que fossem retomados época, esse trabalho constituiu um grande
por uma entidade especializada, subsidiária desafio e a empresa aplicou pela primeira
da Eletrobras, a qual, permanentemente vez técnicas novas, ainda experimentais,
integrada na problemática da região, como a utilização de modelos matemáticos
pudesse acompanhar a dinâmica de no estudo de descargas, em uma área de
sua evolução e, assim, fazer os ajustes enorme extensão, na bacia do rio Tocantins.
necessários ao programa de estudos. A área demarcada para o trabalho
A recomendação do comitê foi cumprida abrangia o rio desde suas cabeceiras até a
Na outra página, “Plano e perfil do rio Tocantins”. Mapa com a criação, em 20 de junho de 1973, confluência com o Araguaia. Em dezembro
que ilustra o Relatório final do Comitê Coordenador dos
Estudos Energéticos da Amazônia, 1971. Eletrobras/Minis- da Centrais Elétricas do Norte do Brasil de 1972, foi publicado o relatório sobre a
tério das Minas e Energia
(Eletronorte), uma subsidiária da Eletrobras etapa de reconhecimento, realizada com
inteiramente voltada para pesquisar, estudar, base nos dados coletados até então por
“Choquinha ornada”, pássaro da região do Tocantins. Ilus-
tração de Antônio Martins, reproduzida na obra Brasil 500 projetar, construir e operar usinas hidrelétricas estudos anteriores, complementados
pássaros, editada pela Eletronorte em 2000
nos estados do Pará, Amazonas e Acre, no por sobrevoos da região, em que foram
norte de Goiás e Mato Grosso e nos então percorridos todos os trechos com
territórios de Rondônia, Roraima e Amapá. possibilidades de aproveitamento. Os
Os estudos do setor elétrico sobre o voos foram feitos pelos engenheiros
Tocantins, no entanto, haviam prosseguido das consultoras, acompanhados de um
mesmo antes da criação da Eletronorte. engenheiro da Eletrobras e outro da
O relatório final produzido pelo Eneram foi Celg, durante cinco dias consecutivos,
aprovado pelo então ministro de Minas entre 23 e 28 de outubro de 1972.
e Energia, Antonio Dias Leite, em 1972. A ideia era selecionar trechos a serem
No despacho de aprovação, o ministro inventariados, com uma condição: a de
recomendou a continuação dos estudos que pudessem produzir no mínimo uma
sobre os aproveitamentos hidrelétricos potência firme de 25 megawatts, com ou
da bacia do rio Tocantins, em toda a sem regularização. Segundo o relatório,
sua extensão, a fim de definir projetos o trabalho era orientado para examinar
economicamente viáveis na década seguinte. os trechos básicos dos rios com maiores
Seguindo a orientação do MME, no possibilidades de barramento e completar
mesmo ano, a Eletrobras contratou duas a investigação dos trechos intermediários,
consultoras, Engevix e Ecotec, com a a fim de permitir um planejamento do
intenção de encontrar alternativas para suprir aproveitamento integral da bacia, respeitando
o possível aumento de demanda no Centro- principalmente as limitações impostas pela
Oeste e na própria bacia do Tocantins, por existência de cidades, estradas e pontes.
244 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

As consultoras dividiram o trecho do


rio a ser estudado em cinco regiões. Na
primeira, entre Marabá (PA) e Itaguatins
(GO), não foram localizados aproveitamentos
possíveis; na segunda, entre Itaguatins e
Porto Franco/Tocantinópolis (GO), voltou-se a
destacar o trecho abrangendo as cachoeiras
de Santo Antônio. A terceira região ia de
Porto Franco/Tocantinópolis até Tocantínia/
Miracema (GO) e, nela, foram encontradas
opções ainda envolvendo as cachoeiras de
Santo Antônio, e outras, nos afluentes. Para
a quarta região, entre Tocantínia/Miracema
e o ribeirão São Félix (GO), os técnicos
estimavam um bom potencial na cachoeira
de Lajeado, mas o aproveitamento poderia
acarretar na inundação de Porto Nacional, incentivavam a agropecuária e o cultivo
“Marabá. Vista parcial da cidade e o motor Marechal Deo-
um importante município daquela área, de grãos. A mão de obra era atraída por doro”. Fotografia do Relatório de uma viagem realizada ao
baixo e médio Tocantins, de Aldo Andreoni, 1949
e de parte da rodovia Belém-Brasília. programas de colonização. Na mesma
A quinta região, que ia do ribeirão São época, foi concluído o projeto de estudos
Na outra página, “Plano urbano-rural para colonização de
Félix à confluência dos rios Almas e hidrológicos da bacia do alto Paraguai. rodovias pioneiras”, (INCRA). Reproduzido da obra A selva
amazônica: do inferno verde ao deserto vermelho?, de Ro-
Maranhão, abrangia o local já selecionado Toda essa rede de fomento à bert Goodland e Howard Irwin, 1975
para a usina hidrelétrica de São Félix. agroindústria e à infraestrutura na região
O Centro-Oeste brasileiro era alvo, fazia parte do projeto do governo de
então, de vários programas federais estimular a exportação de produtos
de incentivo ao desenvolvimento, na agropecuários como estratégia de
maioria, patrocinados pela Sudeco. expansão das economias regionais. No
O Programa de Desenvolvimento do entanto, as perspectivas de se criar um
Centro-Oeste (Prodoeste), iniciado em parque industrial no norte do país para
1971, tinha como foco a ampliação da a transformação das jazidas de minério
malha rodoviária; o Programa Especial de de ferro já localizadas nos anos 1960 na
Desenvolvimento do Pantanal, de 1974, serra de Carajás, no Pará, faziam com
privilegiava a pecuária. Outros projetos, que o trecho do baixo Tocantins, mais
como o Programa de Desenvolvimento próximo a essa região, começasse a
dos Cerrados e o Programa Especial de assumir papel preponderante na exploração
Desenvolvimento da Grande Dourados, do potencial hidrelétrico do rio.
1945-1984 Capítulo 6 | 245
246 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Para além dos limites do setor elétrico, e emprego de sua população. O retrato
“Geólogo Breno Santos na serra de Carajás por ocasião
a Sudam promoveu um aprofundado ali traçado impressionava pela variedade das primeiras descobertas de minério na região”. Fotogra-
fia que ilustra a obra Cia. Vale do Rio Doce: 50 anos de
estudo sobre o trecho amazônico do dos recursos naturais, pela vastidão história, 1992
Tocantins. Sob encomenda, a consultora do território e pelo desconhecimento
paulista Hidroservice elaborou o Plano de que, àquela altura, ainda existia sobre Na outra página, “Barracas de comércio ao lado do Merca-
do Municipal em Igarapé-Miri (PA)” e “Comércio na praça
Desenvolvimento Integrado da Área da o modo e as condições de vida das do Mercado em Cametá (PA)”, [197_]. Fotografias do Plano
de desenvolvimento integrado de área da bacia do rio To-
Bacia do Rio Tocantins, no Pará, incluindo populações das cidades amazônicas cantins, 1973. Sudam/Hidroservice
os municípios de Barcarena, Limoeiro do secularmente ligadas ao Tocantins.
Ajuru, Abaetetuba, Igarapé-Miri, Cametá, O mapeamento dos recursos
Macajuba, Baião, Tucuruí, Jacundá, minerais destacava a importância das
Itupiranga, Marabá e São João do Araguaia. jazidas de ferro da serra de Carajás e,
Em seis volumes, publicados em secundariamente, do manganês de
agosto de 1973, o trabalho, que incluiu Sereno, Buritirama e Igarapé Azul; dentre
viagens de reconhecimento e entrevistas os recursos vegetais, a consultora
com moradores e empreendedores da apontava como o principal a castanha-
região, tinha como objetivo balizar o do-pará – existia 1,1 milhão de hectares
planejamento regional, visando promover de castanhais, capazes de produzir
a ocupação do vale do Tocantins de forma em torno de 30 mil toneladas por ano,
orientada, explorar seus recursos naturais seguido do açaí que ocupava 800 mil
e garantir a elevação dos níveis de renda hectares e das madeiras moles e de lei.
248 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1945-1984 Capítulo 6 | 249

de moradores do vale do Tocantins era


estimado, em 1972, em cerca de 288
mil pessoas e praticamente a metade do
território não era habitada. A ocupação
histórica, a partir da foz do rio, gerou
um quadro de distribuição territorial que
se caracterizava pela maior densidade
habitacional no baixo Tocantins, enquanto
no médio Tocantins se dividia entre
algumas cidades e aglomerações rurais.
No entanto, essa dinâmica estava se
modificando: o baixo Tocantins passava por
um movimento de declínio populacional,
enquanto acelerava-se o crescimento
da população no médio Tocantins.

Os recursos pesqueiros, nunca “Com a implantação de grandes rodovias,


Na outra página, “Áreas de maiores densidades dos prin- a partir do final da década de 1950, houve
cipais produtos extrativos vegetais”. Mapa que ilustra o antes levantados, apresentavam, uma progressiva modificação na estrutura
documento Plano de desenvolvimento integrado de área
da bacia do rio Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice segundo a consultora, excelente de ocupação da região, determinada, até
potencial, caso fossem criadas condições então, somente pelo rio. (...) A rodovia
“Abaetetuba (PA). Trapiche principal”, [197_]. Fotografia do Belém-Brasília e sua ligação com Marabá
para uma exploração comercial,
Plano de desenvolvimento integrado de área da bacia do (PA-70) passou a canalizar os fluxos de
rio Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice substituindo as formas rudimentares produtos locais com destino a Belém. Essa
que tornavam a pesca na região uma tendência de integração regional através
mera atividade de subsistência. da rodovia, que tende a se acentuar pela
maior eficiência deste meio de transporte
A agricultura e a pecuária ocupavam em relação ao hidroviário nas condições
posição menor no escopo de atividades específicas da região, vem provocando
econômicas da região, enquanto a a decadência do tráfego do sistema de
transporte pelo rio Tocantins (...). A implantação
indústria e o comércio tinham alguma
da Transamazônica vem possibilitando, por
importância apenas na região de outro lado, a ocupação de uma faixa de terra
Abaetetuba (indústria madeireira) e Belém. até então pouco acessível, trazendo a Marabá
O estudo da população ribeirinha foi uma nova condição de entroncamento das
principais rodovias da região, facilitando
objeto de um volume inteiro do trabalho, também a migração de contingentes
apresentando detalhes sobre os diferentes populacionais de outras regiões do país.”
tipos de comunidade da região. O número (Sudam; Hidroservice 1973, v.1: 19)
250 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Localização atual das tribos e reservas indígenas e da


reserva única proposta”. Mapa que ilustra o documento
Plano de desenvolvimento integrado de área da bacia do
rio Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice
1945-1984 Capítulo 6 | 251

A consultora fez um diagnóstico Além de aprofundar-se na


acurado desse momento de descrição das comunidades tradicionais,
transformação em que a população tipicamente amazônicas, e das outras,
começava a se afastar do rio, deixando denominadas modernas, formadas a partir
de tê-lo como ponto de chegada. da expansão populacional provocada
pelas rodovias, o relatório da consultora
“A população amazônica é portadora, pois, fez uma exposição sobre as histórias
de um modo de vida ‘fluvial’ (...). O rio é o e costumes das nações indígenas do
meio de transporte por excelência (...). Além
vale do Tocantins, em uma abordagem
disso, o rio fornece também água para todas
as necessidades da vida, inclusive os meios crítica às diversas tentativas de afastá-
de subsistência (peixe, camarão etc). (...) las de suas terras ou de transformá-las
Tais elementos dão uma certa uniformidade em grupos de assalariados. O trabalho
ao modo de vida da população do vale. apresenta cada uma das comunidades
(...) Quando, porém, se introduzem novos
– akuáwa-asurini, gaviões de oeste,
processos de ocupação ou colonização, tal
como está ocorrendo na sub-região de Marabá parakanã, djoré-xikrín e suruí-mudjetíre
com a abertura da Transamazônica, nota- – e descreve sua localização e grau de
se uma mudança significativa nos aspectos contato com o restante da sociedade.
morfológicos e mesmo sociais dos núcleos
urbanos. A rodovia faz com que a cidade volte
“Caminhão proveniente de Campinas (SP), chegando a suas costas para o rio (...). A população não
Marabá (PA) pela Transamazônica” e “Ônibus que faz o é mais uniforme na sua composição, altera
trajeto Belém–Marabá, em Marabá(PA)”, [197_]. Fotogra-
fias do Plano de desenvolvimento integrado de área da seus hábitos alimentares e outros mais, suas
bacia do rio Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice aspirações são diferentes – enfim ela adquire
características de maior heterogeneidade.”
(Sudam; Hidroservice, 1973, v.3: 58-59)
252 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O trabalho da Hidroservice reservou


um capítulo para a análise do potencial
energético do Tocantins. Com uma
metodologia diferente daquela utilizada
pelo Eneram, a consultora calculou o
aumento do mercado de consumo de
energia elétrica por habitante urbano do
baixo Tocantins em 10% a 12% ao ano
no período de 1973 a 1985. No médio
Tocantins, esse aumento seria de 10%
a 18% ao ano, no mesmo período.
Para o Projeto Carajás, então sob controle
da Amazônia Mineração, uma associação
entre a empresa americana US Steel e
a estatal brasileira Companhia Vale do
Rio Doce para a exploração de minério
de ferro da serra de Carajás, previa-se
uma demanda de 8,5 megawatts em
1980 e de 13,5 megawatts em 1985.
A construção de uma usina hidrelétrica em
Itaboca mostrava-se, portanto, prioritária.

“A implantação da usina hidrelétrica de


Itaboca se constituiria em um importantíssimo
fator de desenvolvimento regional. Seria
recomendável que se retomassem os estudos
energéticos referentes a esse aproveitamento,
uma vez que novos fatores econômicos
modificaram as condições em relação
aos elementos considerados nos estudos
levados a efeito pelo Comitê Coordenador em toda a extensão do Tocantins,
“A usina piloto em Carajás, já em funcionamento, testa
dos Estudos Energéticos da Amazônia.” desde as nascentes em Goiás até a processos e equipamentos para a operação definitiva”.
Fotografia que ilustra a obra Cia. Vale do Rio Doce: 40
(Sudam; Hidroservice, 1973, v. 4: 89) foz, no Pará. Os trabalhos de inventário anos, 1982
conduzidos pela Eletrobras, por meio
A Eletronorte, por meio do Decreto das consultoras Engevix e Ecotec, foram
nº 74.279, de 11 de julho de estendidos, no mesmo ano, à área do
1974, recebeu a concessão para o baixo Tocantins, até a altura de Tucuruí,
aproveitamento da energia hidrelétrica já sob a coordenação da Eletronorte.
1945-1984 Capítulo 6 | 253

As consultoras passaram a “Houve tempo em que a principal via de


responsabilizar-se também, nos termos transporte da região era representada
pelo rio Tocantins (...). Com o advento da
de um aditivo ao contrato original, pelo
Belém-Brasília, houve o colapso desse meio
estudo de viabilidade técnica e econômica de transporte, que foi substituído pelos
do aproveitamento hidrelétrico de Itaboca, caminhões, ocasionando a inversão do sentido
rebatizado de Tucuruí, além dos de de polarização, que se fixou no sul, em
Santo Antônio e São Félix. O relatório Anápolis (atual pólo dinâmico de toda a bacia
do Tocantins). Essa é a causa da decadência
de inventário hidrelétrico, publicado
de várias cidades ao longo do rio, como Peixe,
em 1975, retratava as mudanças Porto Nacional, Tocantínia, Miracema, Tupirama,
vividas em poucos anos pelas cidades Pedro Afonso e Tupiratins. No momento, as
ribeirinhas que, àquela altura, tinham condições precárias de acesso aos portos
“A cidade ribeirinha de Tucuruí”, [197_]. Fotografia do Pla- e o primarismo dos serviços de navegação
abandonado o rio como meio principal
no de desenvolvimento integrado de área da bacia do rio travam qualquer aspiração mais ambiciosa.”
Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice de locomoção e sobrevivência. (Engevix; Ecotec, 1975: 2.16)
254 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Os estudos dos recursos estatais seriam agentes responsáveis


“Papa formigas barbado”, pássaro da região do Tocantins.
hidrenergéticos, em si, dividiram- pela realização desse projeto, e os Ilustração de Antônio Martins, reproduzida na obra Brasil
500 pássaros, editada pela Eletronorte em 2000
se, desta vez, em três trechos do grandes empreendimentos financiados
Tocantins: dos rios Almas e Maranhão pelo Estado estariam na vanguarda
Na outra página, “Estudo da divisão de quedas do rio To-
até a foz do ribeirão São Félix; deste de toda essa estratégia. Na mesma cantins: Alternativas II (barragem única) e I (barragem du-
pla) do trecho A, entre a confluência dos rios das Almas e
até a cidade de Carolina; e daí até a época, o governo estava construindo, Maranhão e a foz do ribeirão São Félix”. Desenho técnico
que ilustra a obra Usina hidrelétrica Tucuruí: memória téc-
foz. A recomendação dos técnicos por exemplo, as obras da rodovia nica, editada pela Eletronorte em 1989
era a divisão de quedas em seis Transamazônica, da ponte Rio-Niterói e
aproveitamentos – Tucuruí, Santo da maior hidrelétrica do mundo, Itaipu,
Antônio, Carolina Alto, Porto Nacional, no Paraná, em parceria com o Paraguai.
Peixe e São Félix Alto, que somavam de A produção de energia hidrelétrica
6.195 megawatts a 7.839 megawatts, era fundamental para o II PND e para
dependendo dos reservatórios de sua meta de substituir as importações
montante. Dos seis selecionados, três de insumos e bens de capital. Devido à
aproveitamentos foram escolhidos para existência de amplas bacias hidrográficas,
a confecção de estudos de viabilidade: era clara a vocação do país para a
Tucuruí, Santo Antônio e São Félix. exploração dessa fonte de energia.
O rio Tocantins naquele momento Em 1975, a Eletronorte concluiu o
assumia, na verdade, um papel estudo de viabilidade da usina de São
relevante não apenas nos planos Félix. Uma importante mudança foi feita
energéticos, mas na política econômica em relação ao primeiro projeto da Celg:
do governo. A crise do petróleo, ao aprofundarem os estudos, os técnicos
em 1973, provocara a retração das encontraram dificuldades geológicas no
fontes externas de financiamento que local pesquisado pela concessionária
vinham sustentando o crescimento do goiana, e selecionaram outra alternativa,
país desde os anos 1960. O governo na cota de 440 metros, para a qual
Ernesto Geisel (1974-1978) promoveu se estimava uma potência instalada
então uma reformulação da política de 1.328 megawatts. De acordo com
econômica, consolidada no ambicioso os termos do relatório, essa potência
II Plano Nacional de Desenvolvimento poderia ser instalada a custos adicionais
(II PND), lançado em 1974. muito baixos. A construção de um
Segundo a linha-mestra do plano, o grande reservatório nesse local, com a
setor de bens de produção seria o principal interligação da usina aos sistemas do
condutor do desenvolvimento econômico Centro-Oeste e do Sudeste, permitiria
do país, deslocando o setor de bens de também um reforço de emergência
consumo dessa posição. As empresas em ocasiões hidrológicas críticas.
1945-1984 Capítulo 6 | 255
256 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1945-1984 Capítulo 6 | 257

O estudo de viabilidade vislumbrava o


aumento da demanda por energia elétrica
quando fossem exploradas de forma mais
eficiente as conhecidas jazidas de níquel,
manganês, amianto e calcário existentes
nas proximidades da usina. Além do
reforço ao sistema interligado, essa era
a principal justificativa para a construção
de São Félix, já que a área ao redor do
empreendimento era pouco relevante em
termos econômicos. A central hidrelétrica
afetaria quatro municípios goianos: Uruaçu,
Cavalcante, Niquelândia e Barro Alto, que
somavam cerca de 75 mil habitantes,
uma população marcadamente rural.
A densidade demográfica era baixa –
2,35 habitantes por quilômetro quadrado.
Os indicadores de educação e
saúde da bacia do Tocantins – nível de
escolarização de 46% entre 7 e 14 anos e
Com a barragem, previa a Eletronorte,
Na outra página, “Estudo da divisão de quedas do rio To- apenas 44 unidades de saúde instaladas
cantins: Alternativa III do trecho B, entre a foz do ribeirão seria coberta uma área de 1.491
São Félix e a cidade de Carolina”. Desenho técnico que – eram baixos, e os municípios na área
ilustra a obra Usina hidrelétrica Tucuruí: memória técnica, quilômetros quadrados e os impactos
editada pela Eletronorte em 1989 de influência de São Félix não fugiam a
socioambientais inicialmente levantados
esse perfil. A principal atividade econômica
pela concessionária, embora limitados às
“Mapa do DNER mostrando as estradas federais em era a criação livre de gado no cerrado,
1973”. Reproduzido da obra A selva amazônica: do inferno desapropriações, não seriam pequenos.
verde ao deserto vermelho?, de Robert Goodland e Ho- e o estudo alertava para o alto grau de
ward Irwin, 1975
“Os problemas resultantes da inundação desmatamento provocado por essa
apresentam-se nas desapropriações de atividade. As condições de transporte eram
terras, benfeitorias e na relocação de precárias. Por terra, a locomoção era feita
rodovias. Deverão ser relocados pequenos
em estradas de cascalho intransitáveis
trechos das estradas BR-080 e GO-080 e
236, compreendendo uma extensão total nas épocas de chuva; por via fluvial, em
da ordem de dois quilômetros. Deverá precárias balsas. O fornecimento de energia
ser inundada uma área de 54 quilômetros elétrica era praticamente inexistente. Nas
quadrados do Parque Nacional da Chapada visitas à população ribeirinha, a equipe
dos Veadeiros, que representa cerca
de pesquisa de campo detectou que
de 3% da área total dessa reserva.”
(Eletronorte, 1975, v.1: 7.1) a posse da terra não era formalizada.
258 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A grande maioria dos moradores da exemplo, não somavam mais do que


Na outra página, “Escola rural particular no município de
área era constituída por posseiros, sem dois hospitais e dois postos de saúde. Igarapé-Miri (PA)”, “Grupo Escolar Municipal na cidade de
São João do Araguaia (PA)”, “Ambulatório médico e odon-
qualquer documento que pudesse O fornecimento de energia elétrica tológico na cidade de Baião (PA)” e “Posto de saúde no
estabelecer legalmente sua vinculação na região era precário e o transporte, município de São João do Araguaia (PA)”, [197_). Fotogra-
fias do Plano de desenvolvimento integrado de área da
com as propriedades em que viviam. embora ainda pautado pelo Tocantins, bacia do rio Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice

Ainda em 1975, foi publicado o estudo já apresentava um importante fluxo


de viabilidade da usina de Santo Antônio, rodoviário de transporte de cargas. Em
na divisa entre Goiás e Maranhão, 65 termos de vegetação, predominava o
quilômetros a jusante de Tocantinópolis cerrado e a economia era basicamente
(GO) e Porto Franco (MA). A recomendação agropecuária, com resultados
do relatório da Eletronorte, responsável econômicos pouco expressivos.
pelo trabalho, foi a de uma alternativa mais Apesar das boas perspectivas das
simplificada para o desvio do Tocantins, fontes hidrelétricas localizadas no alto e
e a previsão de que fosse instalada uma médio Tocantins, a chegada de investidores
potência de 1.370 megawatts. Esses estrangeiros na região amazônica acelerou
estudos já consideravam a regularização o processo de escolha do local onde seria
do rio proporcionada pelo projeto de São construída a primeira usina hidrelétrica do
Félix e uma futura interligação com Tucuruí. rio. Em 1974, a estatal Companhia Vale do
A barragem de Santo Antônio formaria Rio Doce lançou, em um consórcio que
um lago com 627 quilômetros quadrados agrupava 32 empresas de capital japonês,
de área, que atingiria trechos das estradas o projeto da Alumínio Brasileiro (Albrás), em
GO-126 e BR-010. As áreas de mineração Vila do Conde, no Pará. Seria simplesmente
ficariam fora do alcance da inundação, a maior fábrica de alumínio do mundo,
mas o reservatório afetaria os municípios implantada em plena Amazônia e,
goianos de Itaguatins, Tocantinópolis, obviamente, uma grande consumidora de
Babaçulândia e Filadélfia, e os energia elétrica, em uma região onde esse
maranhenses de Porto Franco, Imperatriz, recurso era vasto apenas em potencial.
Montes Altos e Carolina. Em geral, apontava Naquele momento, construir o projeto da
o estudo, eram áreas de pequena extensão usina de Tucuruí tornou-se urgente para o
e sem aglomeração urbana. A população governo federal. A primeira grande central
das localidades atingidas não chegava hidrelétrica da Amazônia, a maior instalada
a 50 mil pessoas que, como em toda em território brasileiro, nasceria ali, naquele
a região ribeirinha do médio Tocantins, trecho acidentado do Tocantins, que tanto
apresentava baixos níveis de escolaridade havia assombrado, com seu histórico de
e era atendida por poucas unidades de naufrágios e suas traiçoeiras corredeiras,
saúde. Itaguatins e Tocantinópolis, por os viajantes de todas as épocas.
1945-1984 Capítulo 6 | 259
260 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O estudo de viabilidade da usina de 300 quilômetros de Belém e não


de Tucuruí também foi desenvolvido exatamente nos locais indicados
pelo consórcio Engevix-Ecotec. O anos antes pelo Eneram. Os planos
relatório final, publicado em dezembro de investimentos do governo federal
de 1974, previa uma potência instalada previam integrar a navegação fluvial à
de 2,7 mil megawatts e uma área geração elétrica em Tucuruí. Com esta
de inundação de 1.630 quilômetros finalidade e reafirmando propostas dos
quadrados. A essa altura, o projeto já anos 1960, foi projetado um sistema
levava em consideração não apenas o de transposição de nível, com duas
atendimento à demanda crescente de eclusas e um canal intermediário,
Belém, como também do Pará como formando as bases para a construção
um todo, e ainda a interligação de da futura hidrovia Araguaia-Tocantins.
Tucuruí ao sistema da Companhia Hidro O primeiro desvio do rio aconteceu
Elétrica do São Francisco (Chesf), a em 1976, no ano seguinte ao início
concessionária federal encarregada do das obras de Tucuruí. Em 1977, ao se
fornecimento de energia ao Nordeste, encerrar o projeto básico da usina, foi
reforçando o suprimento para a região. necessário refazer os cálculos sobre o
Os dados iniciais apontavam para tamanho do reservatório e a capacidade
um crescimento populacional no Pará, de geração de Tucuruí. Estudos mais
durante as obras, ainda maior do que acurados demonstraram a possibilidade
o vivido com a chegada das rodovias de ampliar o volume do reservatório,
e dos projetos industriais. É bom inundando uma área total de 2.430
ressaltar que, entre 1960 e 1970, o quilômetros quadrados – boa parte
Pará teve uma taxa de crescimento constituída por floresta –, e podendo
anual de 3,54% ao ano – e o vale do afetar os municípios de Bagre, Itupiranga,
Tocantins, de 3,35% ao ano, o mais Jacundá, Marabá, São Domingos do
significativo depois da capital Belém. Capim e Tucuruí, todos no Pará.
E, de fato, o censo demográfico de O desenho de Tucuruí ganhou duas
1980 comprovou o impacto da obra, etapas de implantação – a primeira, já
iniciada em 1975: Tucuruí viveu um oferecendo 4 mil megawatts. O projeto
crescimento, entre 1970 e 1980, de executivo, elaborado a partir de 1977,
nada menos do que 20% ao ano. apresentou modificações mais profundas: “Sabiá do campo”, pássaro da região do Tocantins. Ilus-
tração de Antônio Martins, reproduzida da obra Brasil 500
Foram escolhidos dois eixos, ao se inaugurar a segunda etapa, a usina pássaros, editada pela Eletronorte em 2000

um junto à cidade de Tucuruí e chegaria a um imponente total de 7.330


“UHE Tucuruí: sequência de desvio do rio”. Desenho téc-
outro, 7 quilômetros a montante, megawatts. Era muito mais do que havia nico que ilustra a obra Usina hidrelétrica Tucuruí: memória
colocando o empreendimento a cerca sido projetado poucas décadas antes. técnica, editada pela Eletronorte em 1989
1945-1984 Capítulo 6 | 261
262 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“UHE Tucuruí – Perfil do reservatório”. Desenho técnico


que ilustra a obra Usina hidrelétrica Tucuruí: memória téc-
nica, editada pela Eletronorte em 1989

Na outra página, “Arranjo geral das barragens e diques


componentes da UHE Tucuruí, nas etapas de projeto bási-
co e executivo”. Desenho técnico que ilustra a obra Usina
hidrelétrica Tucuruí: memória técnica, editada pela Eletro-
norte em 1989
264 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Ainda nos anos 1970 entrou


em cena um novo e poderoso fator
de influência na visão da sociedade
sobre o uso dos recursos naturais – a
preocupação com o meio ambiente.
A partir da Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente,
realizada em Estocolmo, na Suécia,
em 1972 – a primeira do gênero no
mundo –, o tema ganhou espaço nas
agendas dos países a ponto de o Banco
Mundial e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) exigirem a
realização de estudos ambientais para a
concessão de empréstimos a projetos
como o de grandes hidrelétricas.
A usina de Tucuruí em construção quanto à minuciosa descrição da natureza
“Grupo de crianças parakanã”. Eletronorte
na Amazônia representava um trabalho e de todas as formas de vida nesse trecho
inédito nesse campo. Para avaliar os do Tocantins. Aliás, a maneira como os
impactos do projeto no meio ambiente, estudiosos pensavam o mundo natural
a Eletronorte contratou, em 1977, o havia se modificado bastante: a ciência
ecólogo norte-americano Robert Goodland, biológica, que se afastara da história natural
então ligado ao Jardim Botânico de baseada na observação, tomou o rumo do
Nova Iorque, mas que havia passado laboratório, passando a se dedicar a uma
alguns anos no Brasil como professor da forma de investigação mais experimental;
Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto e o campo da história natural tradicional foi
Nacional de Pesquisas da Amazônia reconstituído, tomando fôlego e ganhando
(Inpa). Goodland já havia prestado uma nova feição com o surgimento das
consultoria nos estudos ambientais de ciências da ecologia e do ambientalismo.
outras hidrelétricas brasileiras como as A viagem de Goodland – que, a bem
usinas de São Simão (MG), da Cemig, da verdade, passou apenas dez dias em
Sobradinho (BA), da Chesf, e Itaipu (PR). campo – resultou em um raro mergulho
O relatório do ecólogo, entregue à em uma extensa coletânea de dados e
Eletronorte em setembro de 1977, de pesquisas sobre o rio, que trouxe para o
certa forma lembrava as narrativas dos Tocantins uma visão pioneira de como lidar
naturalistas viajantes do século anterior com a interferência humana em seu curso.
1945-1984 Capítulo 6 | 265

O ecólogo recomendava que a


Eletronorte mantivesse uma equipe
de sociólogos capaz de analisar
BELÉM os dados do censo de forma a
atenuar esses conflitos e promover
reassentamentos produtivos, com
Rio

treinamento da população em atividades


X

de pesca e exploração de madeira.


ingú

Em seguida, descreveu as três reservas


ALTAMIRA Anambe indígenas a serem afetadas pelo
reservatório – Parakanã, Pucuruí e
Gavião Amanaye
Mãe Maria – e detalhou as perdas não
apenas em termos de território, mas
Rio T

Asurini
Pucurui de fontes econômicas importantes
ocantins

para as comunidades, como a castanha


Parakanan e a madeira: Goodland estimava que
Gavião
768 castanheiras e cerca de 5 mil
Surui
árvores de mogno, cedro e outras
MARABÁ madeiras nobres ficariam embaixo
IMPERATRIZ das águas do Tocantins. A área dos
índios parakanã, a mais afetada, era
objeto de um plano de ação específico
esboçado pela Eletronorte em 1977.
Seu relato inicia-se alertando para
“Ameridian Reserves Affected”. Reprodução de ilustração
da obra Environmental Assessment of the Tucuruí Hydro- o perigo de maior disseminação de “Acidentes e erros de engenharia
project, de Robert Goodland, editada pela Eletronorte em
1978 doenças tropicais com a construção da podem ser corrigidos, mas a ruptura e o
usina e segue com uma breve análise, desenraizamento de uma sociedade são
positiva, da iniciativa da Eletronorte capazes de destruir de maneira irreversível
culturas antes desconhecidas e únicas.
de promover um censo na região
(...) É, portanto, fortemente recomendado
afetada para identificar e cadastrar os que uma parcela do orçamento do
proprietários e, desta forma, providenciar projeto seja especificamente alocada
as indenizações. Goodland calculava para proteção, desenvolvimento social e
cuidados médicos contínuos de qualquer
em cerca de 15 mil pessoas o número
sociedade indígena afetada de alguma
de moradores atingidos e lembrava o
forma pelo projeto, na medida do desejado
histórico de conflito social pela posse pela própria população atingida.”
da terra existente no sul do Pará. (Goodland, 1978: 53)
266 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1945-1984 Capítulo 6 | 267
PA - BA - 2
Nazaré dos Patos

PA - BA - 3

Tucuruí

PA - BA - 1
Goodland deteve-se nos aspectos existentes ou previstas para a região,
arqueológicos e turísticos da região da mesmo que isso significasse mudanças
usina de Tucuruí. Em uma perspectiva que no projeto, especialmente, no sistema
pode parecer curiosa para um ecologista de transmissão. A área de Tucuruí era
– mas note-se que ele se alinhava a provavelmente a mais conhecida e
correntes defensoras da mitigação de estudada da Amazônia, até então –
Rio T

impactos, e não da luta contra o que se um conhecimento possibilitado pela


convencionava chamar de progresso – conclusão da rodovia Belém-Brasília
ocantin

= Arqueological Site
Goodland identificou mais potencial de na década anterior, e ampliado pela
s

Jacundá
atração de visitantes na própria usina do descoberta de terras cultiváveis, tão
Jatobal
que nas belezas naturais do rio, embora pouco disponíveis no ecossistema
classificasse a floresta como magnífica. amazônico. Portanto, a existência dessas
áreas de preservação seria fundamental
“O trecho a ser represado contém a maior até mesmo para a manutenção de
cachoeira do rio Tocantins – as corredeiras do
atividades econômicas relevantes para a
Itaboca –, que normalmente são inundadas na
época das cheias, tornando-se visíveis apenas região, como a produção de castanha.
nos períodos de baixo fluxo do rio. Mesmo Parte importante do trabalho do
PA - AT - 3
quando visíveis, as corredeiras não são mais ecólogo foi dedicada à fauna e flora,
PA - AT - 2
espetaculares do que tantas outras na região ressaltando o pouco conhecimento
e de nenhuma forma são consideradas uma
acumulado a respeito dos animais que
PA - AT - 4
atração turística especial. Da mesma maneira,
a floresta não tem valor especial do ponto habitavam a região do reservatório
PA - AT - 5 Marabá
PA - AT - 1
de vista de cenário ou recreativo, visto que e recomendando a realização de um
há trechos adequados mais acessíveis aos inventário para balizar uma futura
moradores das cidades em busca desse
operação de salvamento. Quanto
tipo de diversão. (...) O reservatório e os
à floresta, Goodland foi enfático
trabalhos de engenharia vão criar um grande
interesse na região e atrair visitantes de todo quanto à necessidade de que as
Na outra página, “Barco de transporte de castanhas no
porto, da mata para o armazenamento na cidade de Mara-
o Brasil e mesmo de lugares mais distantes. árvores fossem removidas, em um
bá (PA)” e “Rua na cidade de Maiuatá (PA), com passadiço (...) Uma barragem imensa e espetacular processo seletivo, antes da formação
de madeira ligando a entrada das casas”, [197_]. Fotogra- demonstra o domínio humano em uma região
fias do Plano de desenvolvimento integrado de área da do lago. Essas atividades deveriam
bacia do rio Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice onde as pessoas se sentem particularmente
inadequadas quando comparadas com as comportar a análise de fatores como
forças e a vastidão dos sistemas naturais.” saúde pública, pesca, silvicultura e
“Major arqueological sites in the project area”. Reprodu-
ção de ilustração da obra Environmental Assessment of (Goodland, 1978: 61) qualidade da água, para a definição
the Tucuruí Hydroproject, de Robert Goodland, editada
pela Eletronorte em 1978 de um plano de desmatamento que
Goodland não deixou de alertar, permitisse a retirada da madeira
porém, para a necessidade de comercializável e contivesse futuros
preservação de reservas florestais problemas de oxigenação da água.
268 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O relatório abordou ainda questões de proteína animal dessas populações


como o monitoramento da qualidade carentes de uma boa nutrição. Além
da água e do manejo da bacia de recomendar mais um inventário, já
hidrográfica depois de intervenção que também as espécies do Tocantins
tão radical. Várias vezes apontou que naquela área não eram cadastradas,
o empreendimento propiciaria ainda Goodland propôs, para mitigar o impacto
mais mudanças importantes, com o na ictiofauna – segundo ele, o mais
possível aumento da migração para nocivo dentre os que seriam provocados
a região durante e após a conclusão pela usina – a construção de criadouros
das obras, potencializando o risco de e a exploração ao máximo do conceito
desmatamento, erosão de solo e uso do uso múltiplo do reservatório.
de defensivos químicos na agricultura. A pesca comercial e de subsistência
Outro ponto importante levantado eram consideradas compatíveis com o
pelo ecólogo foi a relevância da pesca desenvolvimento da pesca recreativa e
na vida das comunidades do entorno da esportiva, duas atividades que poderiam
usina, sendo o pescado a única fonte conferir ganhos econômicos adicionais. “Pesca do Pirarucu”. Fundação Getúlio Vargas - CPDOC
1945-1984 Capítulo 6 | 269

Na verdade, Goodland mostrou-se para a Amazônia. O desenvolvimento


um entusiasta do projeto hidrelétrico hidrelétrico aumenta a autonomia e diminui
a dependência de insumos e assistência
na Amazônia. Ele via em Tucuruí estrangeiros. É um recurso sustentável
uma solução para o transporte na e pode ser harmonizado com o meio
região, com a construção de eclusas, ambiente, se as recomendações desse
relatório forem implementadas. No entanto,
permitindo a navegabilidade naquele
o tamanho das hidrelétricas é quase
trecho antes pouco transitável. Para exponencialmente relacionado ao impacto
ele, os efeitos mais danosos ao meio ambiental. A Eletronorte planeja outras
ambiente estavam sendo causados barragens monumentais no Tocantins, nos
tributários da margem esquerda (ao norte)
pela construção da Transamazônica, do rio Amazonas, no Xingu e em outros rios.
além dos impactos negativos já A questão deve ser encarada: o Brasil quer
provocados pela Belém-Brasília. todos os tributários da Amazônia represados
ou alguns devem ser preservados como
A usina hidrelétrica, além do mais,
rios correntes? Quanto mais cedo essa
atenderia não apenas ao complexo de questão for resolvida, mais harmonioso se
bauxita e alumínio da Albrás, como tornará o subsequente desenvolvimento.”
(Goodland, 1978: 135)
também ao plano da Companhia Vale do
Rio Doce de construir uma ferrovia de
876 quilômetros ligando Carajás a São As recomendações do relatório
Luís (MA), para o escoamento do minério Goodland não foram seguidas à risca,
de ferro. Ambos os empreendimentos, nem de imediato. De fato, serviram
apontava Goodland, trariam impactos como ponto de partida para ações
ambientais consideráveis a serem mais amplas adotadas pela Eletronorte,
estudados e mitigados antes de principalmente depois da entrada em
vigor da nova legislação ambiental,
sua implementação. Por isso, ele
nos anos 1980. Em Tucuruí, a primeira
considerava que um projeto como o da
consequência do estudo foi a assinatura
Albrás em centros já ambientalmente
de convênios entre a empresa e
comprometidos como Rio e São
diversos órgãos públicos e privados,
Paulo teria efeitos mais nefastos.
como o Inpa, a Fundação Nacional do
“Otimizar o uso dos recursos da Amazônia Índio (Funai), o Museu Emílio Goeldi e o
– e evitar sua destruição – são os principais Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
objetivos desse estudo, e por isso o Florestal (IBDF), entre outros, para
projeto da hidrelétrica de Tucuruí deve
a realização de novas pesquisas e
ser encorajado. Projetos hidrelétricos,
em minha opinião, podem representar de efetivas ações mitigadoras do
o tipo de desenvolvimento apropriado impacto causado pela usina.
270 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Esses convênios, postos em prática partir desses estudos, alguns se tornaram


ao longo da década de 1980, além de referência no setor, como a Operação
promover importantes intervenções no Curupira, que resgatou 282.192 animais
entorno do rio, formaram uma base de antes do enchimento do reservatório,
dados invejável sobre uma região que encaminhados a unidades de preservação,
até pouco tempo antes ainda tinha como e o Programa Parakanã, de atendimento
principal fonte de informação os relatos à comunidade indígena afetada,
dos viajantes e os reconhecimentos especialmente nas áreas de saúde,
aéreos. Enquanto a usina era construída educação, desenvolvimento econômico e
e se enchia o reservatório, técnicos das preservação da cultura. Após embates e
mais variadas formações percorreram o polêmicas, o remanejamento da população
Tocantins analisando suas águas e solo, atingida foi acordado entre a empresa e
sua navegabilidade, o comportamento da os moradores da região que, além das
fauna, flora e dos peixes e as condições indenizações, obtiveram o atendimento “Vista geral das obras da Usina hidrelétrica Tucuruí em
construção”. Eletronorte
de vida da população às suas margens. a reivindicações como a cessão de lotes
Dentre os diversos programas entre 50 e 100 hectares, e ajuda para a
Na outra página, “Barcos da Operação Curupira”. Eletro-
ambientais conduzidos pela Eletronorte a construção de casas e infraestrutura. norte
1945-1984 Capítulo 6 | 271
272 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A Eletronorte assentou 4.407 Além de abastecer Belém Tucuruí também foi fundamental
famílias e três novas cidades e o sistema interligado Norte- para garantir energia ao Projeto
foram criadas: Nova Jacundá, Novo Nordeste, a primeira hidrelétrica Carajás, implementado pelo governo
Repartimento e Novo Breu Branco. do Tocantins se tornou a principal federal a partir de 1980. O incremento
A floresta na área do reservatório, fornecedora do parque de alumínio à exportação de minério de ferro,
porém, apesar da contundente erguido na região, composto a cargo da Companhia Vale do Rio
argumentação de Goodland, acabou pela Albrás, pelo Consórcio de Doce, era uma forma de compensar
sendo praticamente toda submersa: Alumínio do Maranhão (Alumar), a crescente dívida externa.
contratada para remover as árvores, em São Luís, formado pela Alcoa,
a Agropecuária Capemi faliu durante Rio Tinto Alcan e BHP Billiton em
o trabalho e, para não atrasar ainda 1984, e pela Camargo Corrêa
mais as obras, 83 mil hectares do total Metais (CCM), instalada também
de 120 mil hectares de vegetação em 1984 em Breu Branco, então
ficaram embaixo das águas. distrito do município de Tucuruí.
As sucessivas mudanças no
tamanho do reservatório afetaram
o cronograma e a segunda crise
do petróleo, em 1979, provocou a
diminuição dos recursos, em meio a
uma crise econômica agravada pelo
alto grau de endividamento externo
do país. A primeira etapa da usina
hidrelétrica de Tucuruí, enfim, entrou em
operação comercial em 1984, após o
enchimento do reservatório, com 45,5
bilhões de metros cúbicos de água.
No auge das obras, Tucuruí chegou a
empregar 30 mil pessoas em torno
do Tocantins. O vertedouro, com 580
metros de comprimento e descarga
limite de 110 mil metros cúbicos por
segundo, é o maior do mundo. A
segunda fase da usina foi concluída
em 2007, garantindo à usina, afinal, a
potência instalada de 8.370 megawatts.
“Usina hidrelétrica Tucuruí: construção de casas e infraes-
trutura”, [1981-1989]. Eletronorte

“Usina hidrelétrica Tucuruí: obras”, fevereiro de 1981. Ele-


tronorte
1945-1984 Capítulo 6 | 275

dos poderes Executivo, Legislativo e


Judiciário, além de diferentes segmentos
sociais, como empresários, trabalhadores
e organizações não governamentais. A
função do Conama era definir as diretrizes
da PNMA e normatizar sua regulamentação.
Nos anos seguintes, os
empreendimentos do setor elétrico
passaram a ter que cumprir exigências
ambientais específicas para poder operar
– no caso do Tocantins, consolidando e
ampliando os procedimentos iniciados
com a nova perspectiva trazida pelo
relatório Goodland quanto ao uso do rio.
Já foi, portanto, em um cenário
econômico e social bem distinto que se
No entanto, a ideia inicial de escoar o deu o ponto de partida para a segunda
Na outra página, “Construção de ponte da Estrada de Fer-
ro Carajás, sobre o estreito dos Mosquitos, próximo a São minério pela hidrovia Araguaia-Tocantins, que usina hidrelétrica do Tocantins.
Luís (MA)”. Outubro de 1980. Fotografia que ilustra a obra
Cia. Vale do Rio Doce: 50 anos de história, 1992 se tornaria viável com a formação do lago, Em 6 de maio de 1981, o Decreto
não se concretizou. A experiência ferroviária 85.983 outorgou a Furnas Centrais Elétricas,
“Rio Tocantins: trecho entre a foz do rio Preto e a Ilha da Vale e os altos custos de implantação subsidiária da Eletrobras atuante na região
dos Galhos”. Fotografia que ilustra o documento Aprovei-
tamento hidroelétrico de São Félix: usina Cana Brava. Re- da hidrovia fizeram com que o governo Sudeste, a concessão para atuar no alto
latório de impacto ambiental, 1989. Furnas/Iesa Tocantins, depois de alterações nas áreas
tomasse a decisão de construir a estrada
de ferro, em vez de promover a navegação de ação das empresas regionais de energia
do Tocantins. As obras das eclusas não elétrica promovidas no ano anterior. O
foram, portanto, concluídas naquela época. primeiro movimento de Furnas foi reavaliar
A hidrelétrica de Tucuruí começou o projeto da usina de São Félix. O estudo
a ser construída antes da elaboração do de viabilidade conduzido pela empresa,
arcabouço legal para as questões ambientais, publicado em 1983, levou a uma nova
que teve como marco inicial a Lei n° 6.938, alteração na localização da hidrelétrica.
de agosto de 1981. Essa lei instituiu a Segundo o relatório, o local antes escolhido
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), pela Eletronorte, a jusante da foz do rio
delegando ao Estado o papel de condutor Preto, poderia prejudicar a exploração
da defesa do meio ambiente, e criou o de urânio prospectado na região pela
Conselho Nacional do Meio Ambiente Nuclebrás, a estatal então encarregada
(Conama), composto por representantes do programa nuclear brasileiro.
276 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Além disso, os técnicos de Furnas O projeto de Serra da Mesa previa


“Pica pau anão dourado”, pássaro da região do Tocantins.
identificaram o local chamado de Serra uma usina com potência instalada de Ilustração de Antônio Martins, reproduzida na obra Brasil
500 pássaros, editada pela Eletronorte em 2000
da Mesa, 46 quilômetros a montante do 1,2 mil megawatts – Cana Brava teria
original, como a melhor opção para o 450 megawatts – e um reservatório
“Garimpeiros em atividade às margens do rio Tocantins”.
eixo da usina, que foi então rebatizada de 1.784 quilômetros quadrados, Fotografia que ilustra o documento Aproveitamento hidro-
elétrico de São Félix: usina Cana Brava. Relatório de im-
com esse nome. O reservatório seria feito que atingiria áreas dos municípios de pacto ambiental, 1989. Furnas/Iesa
no nível máximo de volume. Um pouco Itapaci, Barro Alto, Niquelândia, Uruaçu,
mais acima, a 36 quilômetros do lugar Campinorte, Cavalcante e Minaçu, todos
anterior, projetou-se para logo em seguida em Goiás. A barragem se localizaria
a construção de outra usina, Cana Brava, entre os municípios de Cavalcante e
otimizando-se os recursos: enquanto o Minaçu, este, sede de uma indústria
reservatório de Serra da Mesa estivesse de amianto. Em Niquelândia, havia
sendo cheio, se faria o desvio do rio e se uma importante instalação industrial
completariam outras obras de Cana Brava. beneficiadora de níquel. No entanto,
As duas comporiam o aproveitamento a usina afetaria apenas a área rural
hidrelétrico de São Félix e permitiriam uma desses municípios. A energia produzida
compatibilização futura com as outras seria destinada ao atendimento do
usinas planejadas para o Tocantins. mercado do Sudeste e Centro-Oeste.
Os estudos iniciais de Furnas “A direção predominantemente sul-norte
“O cerrado na visão de Percy Lau”, gravura que ilustra a
obra Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades apontavam que se tratava de uma do relevo e da drenagem principal, no
paisagísticas, de Aziz Nacib Ab’Sáber, 2005 centro-norte de Goiás, colocou essa área
região de planalto com vegetação de fora da linha de acesso da malha rodoviária.
cerrado, apresentando terras pobres O rio Tocantins e o alinhamento das
para a agricultura e uma fauna já principais serras da região impediram o
acesso e a ocupação do solo pelos fluxos
ameaçada de extinção por práticas
de povoamento criados por Brasília. (...)
predatórias, como o garimpo, a caça Mais tarde, foi a rodovia Anápolis-Uruaçu,
e a queimada de árvores para a completada posteriormente pela Belém-
formação de pastagens. Esse quadro era Brasília, e a navegação do rio Tocantins
que permitiram o povoamento da área,
responsável, segundo o relatório, pelo que é, dessa forma, ocupada por duas
expressivo vazio demográfico da área correntes migratórias. A primeira é oriunda
de influência de Serra da Mesa. Apenas das zonas rurais de Minas Gerais e Goiás,
e atingiu a região através das rodovias.
dois povoados pequenos, Porto Serrinha
A segunda veio do Norte e é composta
e Rosariana, teriam que ser relocados, de maranhenses, que alcançaram a área
apesar do tamanho do reservatório. subindo o Tocantins, penetrando depois
nessa região através do rio Cana Brava.”
(Furnas Centrais Elétricas, 1983, v. 2: 10-11)
278 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O relatório apontava que as duas


correntes faziam diferentes usos
da terra. Os mineiros e goianos se
dedicavam à agricultura, basicamente de
subsistência, enquanto os maranhenses
eram pecuaristas e, por isso, suas áreas
apresentavam uma dispersão populacional
ainda maior. Tratava-se de uma população
de baixa renda econômica e vivendo em
precárias condições de infraestrutura.
As atividades de mineração não
seriam prejudicadas, porque as jazidas
na área do reservatório se encontravam
praticamente esgotadas. A formação do
lago interferiria em um trecho do Parque
Nacional da Chapada dos Veadeiros, mas,
segundo garantia Furnas, a localização
escolhida para a barragem de Serra da
Mesa minimizaria essa interferência.
A empresa previa que a usina hidrelétrica
traria, para uma região então limitada em nasceu em 1981, patrocinado pelo governo
“Amostra de minérios de Carajás”. Fotografia de Magnólia
seu desenvolvimento, benefícios como federal e pela Organização dos Estados Correia que ilustra a obra Cia. Vale do Rio Doce: 50 anos
de história, 1992
um novo contingente populacional de Americanos (OEA), com a cooperação
maior poder aquisitivo, a implantação dos estados do Pará, Maranhão, Mato
de serviços praticamente inexistentes Grosso e Goiás. Entre os objetivos do
na área e a capacidade de atrair Prodiat, além do sempre ambicionado uso
investimentos na agricultura, a partir múltiplo da bacia e da integração regional,
da infraestrutura criada pelo projeto. estavam a colaboração para a melhoria
A construção de Tucuruí e o projeto do balanço de pagamentos do país, por
de Serra da Mesa foram considerados meio da substituição de importações, da
empreendimentos estratégicos por mais geração de energia, e do aumento das
um organismo para o estudo e a promoção exportações de minérios e alimentos.
do desenvolvimento da bacia dos rios Em seu primeiro relatório, divulgado
Araguaia e Tocantins. Sucessor da Civat, em 1982 com um diagnóstico da região,
o Estudo de Desenvolvimento Integrado o Prodiat trazia um retrato já diferente
da Bacia do Araguaia-Tocantins (Prodiat) dos estudos da década anterior.
1945-1984 Capítulo 6 | 279

duplicados, sem degradação ambiental.


Ao todo, poderiam ser incorporados
ao sistema produtivo do país nada
menos que 23 milhões de hectares na
área da bacia do Araguaia-Tocantins.
Cerca de 20 anos depois da
construção da Belém-Brasília e uma
década após o início das obras da
Transamazônica, a urbanização da região
havia se modificado de forma radical.
Além do desenvolvimento de Belém,
cidades menores como Araguaína,
Tocantinópolis, Carolina e Gurupi
tornaram-se centros comerciais da
região, enquanto antigos marcos do rio
Tocantins, como Porto Nacional, perderam
sua importância diante das novas
frentes abertas pela rodovia. No Pará,
Tucuruí vivia um boom populacional e de
A área abrangida pelo programa era de serviços provocado pelas obras da usina;
“Construções do Instituto de Colonização e Reforma Agrá-
ria (Incra), no bairro Amapá, em Marabá (PA)”, [197_]. Fo- quase 940 mil quilômetros quadrados, Marabá, profundamente afetada pelo
tografia do Plano de desenvolvimento integrado de área
da bacia do rio Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice correspondentes a 11% do território Projeto Carajás, sofria com as constantes
nacional, com uma população de 3,3 cheias do Tocantins e um novo núcleo
milhões de habitantes e uma taxa de urbano projetado pelo governo federal
crescimento populacional de 3,7% ao foi implementado, sendo rejeitado por
ano, acima da média nacional, que parte da população. Em toda a região
era de 2,5% ao ano. Esse crescimento da bacia, porém, independentemente
populacional era impulsionado do estágio de desenvolvimento,
basicamente pela migração estimulada os denominadores comuns eram a
pela nova fronteira agrícola, em infraestrutura precária, baixos níveis de
especial, e pela atividade pecuária. Os educação e de atendimento na área
estudos do Prodiat indicavam que as de saúde, urbanização desordenada
áreas cultiváveis podiam ser ampliadas e uso de tecnologias primárias
em até quatro vezes, e os rebanhos, na agricultura e na pecuária.
280 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O potencial hidrelétrico da bacia havia aquém do estimado, com a energia de


se ampliado para 25.320 megawatts, e Tucuruí sendo oferecida à indústria a
as previsões do setor elétrico incluíam preço reduzido. Os militares deixariam
a implantação das usinas de São Félix e oficialmente o poder em 1985, ano
Porto Nacional, no rio Tocantins, e Santa seguinte ao da inauguração da usina.
Isabel, no Araguaia, até 1995. A hidrovia Caberia à sociedade civil, a partir do
Araguaia-Tocantins continuava em pauta processo de redemocratização, lidar
– seriam 2.236 quilômetros ligando a com as modificações provocadas
foz do Tocantins até a confluência com pelo empreendimento e traçar
o Araguaia e, dali, até Baliza (GO). Para novos rumos para o rio Tocantins,
os técnicos do Prodiat, era necessário para sempre transformado.
investir no desenvolvimento não
predatório dos imensos recursos da
região e, por isso, autossustentável, ao
contrário da tendência cada vez maior
para uma exploração danosa ao meio
ambiente e concentradora de renda.
Como no caso da Civat, as ideias
desenvolvidas pela equipe do Prodiat
não chegaram a ser colocadas em
prática. A década de 1980 que se
iniciava seria marcada por uma séria
crise econômica, e a hegemonia política
dos governos militares que haviam
comandado o Brasil nos 20 anos
anteriores já dava sinais de decadência.
A Eletrobras e as empresas do
grupo precisaram contrair dívidas com
bancos internacionais para manter seus
investimentos, entre eles, as obras
de Tucuruí. Com a crise, as projeções
de consumo de energia elétrica não
se concretizaram – o próprio parque
de alumínio da região amazônica ficou
1945-1984 Capítulo 6 | 281

“Rio Tocantins no local de porto dos Paulistas”. Fotografia


que ilustra o documento Aproveitamento hidroelétrico de
São Félix: usina Cana Brava. Relatório de impacto ambien-
tal, 1989. Furnas/Iesa
282 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
O rio Tocantins no olhar dos viajantes | 283

Capítulo 7
Investigação do território
e projetos hidrelétricos no Tocantins

1984-1997
284 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

EM MEADOS DOS ANOS 1980, COM A primeira edição, denominada Manual


A INAUGURAÇÃO DA HIDRELÉTRICA de instruções para estudos de inventário
DE TUCURUÍ, foi concretizada a ideia de bacia hidrográfica para aproveitamento
de aproveitamento do Tocantins, de hidrelétrico, havia sido divulgada em 1977
forma permanente, com o setor de e, por sua vez, descendia diretamente do
energia elétrica tornando-se pioneiro conjunto de instruções e procedimentos
na exploração industrial dos recursos elaborados ainda na década de 1960
hídricos do rio. Mesmo já tendo sido pelos comitês coordenadores de estudos
objeto de interesse de inúmeros energéticos que haviam investigado
viajantes, o curso d’água e seu entorno as bacias hidrelétricas das regiões
continuaram sendo esquadrinhados Sudeste e Sul do país, que ficaram
por novos estudos hidrelétricos. conhecidos como Estudos Canambra.
Inicialmente pela Eletronorte e por A equipe que elaborou o manual
Furnas, subsidiárias da Eletrobras que se de 1984 apresentou de forma mais
dedicaram a aprofundar os conhecimentos desenvolvida os conceitos e as técnicas
necessários à exploração do rio e ao utilizados para a execução desses
detalhamento dos projetos para a estudos de inventário, descrevendo com
construção de unidades produtivas; de minúcias cada uma de suas fases. As
meados dos anos 1990 em diante, com instruções deveriam servir à formação
a participação de vários outros agentes, de técnicos e à avaliação dos métodos
inclusive privados, também interessados adotados. Pretendia-se ainda que o manual
em empreendimentos hidrelétricos. fosse um termo de referência para a
A Eletrobras, encarregada de obtenção de recursos junto a órgãos de
coordenar o planejamento da expansão financiamento nacionais e internacionais.
dos sistemas elétricos do país, trabalhava Durante a fase de inventário do
para aprimorar continuamente os potencial hidrelétrico de uma bacia
instrumentos e metodologias que guiavam hidrográfica eram selecionados os locais
a produção de dados para tomada para a construção das usinas e formulado
de decisões relativas à programação um primeiro esquema de divisão da queda
de obras. O aperfeiçoamento dessas do rio. O manual justamente organizava
ferramentas forjou uma maneira e orientava as atividades, conduzindo
peculiar de dirigir o olhar para os a soluções homogêneas e, sobretudo,
cursos d’água e seu entorno. comparáveis, para o estabelecimento,
Em 1984, a Eletrobras lançou uma mais adiante, do programa de construção
versão atualizada do Manual de inventário das usinas e demais instalações
hidrelétrico de bacias hidrográficas. de transmissão decorrentes.
1984-1997 Capítulo 7 | 285

“Vertedouro da usina hidrelétrica Tucuruí”, [1987-1989].


Eletronorte
286 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Localização da área de estudos”. Reprodução de mapa


constante do documento Estudos Tocantins. Inventário hi-
drelétrico das bacias dos rios Tocantins e baixo Araguaia:
relatório condensado, 1977. Eletronorte/Themag
1984-1997 Capítulo 7 | 287
N
DIVISÃO DE QUEDA DO RIO TOCANTINS
PROPOSTA ORIGINAL NÍVEL INVENTÁRIO

O trabalho dependia da análise de dados


UHE TUCURUÍ
(N.A. MAX. 72) topográficos, geológicos, geotécnicos
e hidrometeorológicos, de caráter local,

aiúnas além de estudos físico-geográficos,


Itac
Rio UHE MARABÁ
(N.A. MAX. 107,7)
socioeconômicos e ambientais, com
UHE STO. ANTÔNIO
(N.A. MAX. 144,6) a escopo regional. Para cada tipo de
inh
Far
Rio
informação, o manual definia as fontes
UHE CAROLINA a serem consultadas e o nível de
(N.A. MAX. 137,5)
profundidade e de detalhe requerido.
No caso das regiões já bem
Rio
do mapeadas, do ponto de vista físico, o
So
no
documento indicava a utilização da maior
s
aia

tin
gu

quantidade possível de informações de


an
Ara

UHE PORTO NACIONAL


Toc
Rio

(N.A. MAX. 237)


natureza bibliográfica e documental,
Rio

recolhidas em entidades governamentais


PARALELO 12º e particulares. Entretanto, quando a região
UHE PEIXE a ser inventariada era pouco conhecida,
lma
(N.A. MAX. 300,3)
Rio
da Pa impunha-se o trabalho de campo. Apesar
da existência de informações já coletadas,
UHE PALMA
o Tocantins continuou recebendo novos
viajantes para o levantamento de dados
“Divisão de queda do rio úteis aos projetos de empreendimentos
Tocantins: proposta origi- UHE SÃO FÉLIX
nal”. Reprodução do traçado (N.A. MAX. 440) hidrelétricos, tanto de profissionais
apresentado no documento
Aproveitamento hidroelétrico UHE PARANÃ I
dos quadros das concessionárias,
Rio Tocantins

de São Félix: usina Cana Brava.


Rio Pa
quanto de técnicos provenientes de
Estudos de viabilidade, 1987. ranã
Furnas/Iesa firmas de engenharia contratadas.
Rio

UHE PARANÃ II
Pre

Os manuais de instruções de estudos


to

do setor elétrico, tanto os de inventário


quanto os de viabilidade de projetos,
UHE TOCANTINZINHO
guardavam uma relação de semelhança
com as instruções de viagem preparadas
Rio

por Domenico Vandelli para os viajantes


To
ca
nt

UHE ALMAS UHE MARANHÃO III


naturalistas do século XVIII. O documento
inz
inh
o

Viagens filosóficas ou dissertação sobre


as

as importantes regras que o filósofo


m
Al

UHE MARANHÃO
da

naturalista nas suas peregrinações deve


Rio

Rio
Ma
ran

o
288 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

principalmente observar também era


um manual preparado no gabinete e
consagrado a orientar o trabalho de
campo daqueles que iam em busca de
conhecer e avaliar recursos naturais.
Como Vandelli, a Eletrobras
expressava em suas normas a
necessidade de direcionar, de forma
racional, os técnicos viajantes de diversas
especialidades em seu percurso pelos
rios brasileiros. Era essencial a obtenção
de dados confiáveis para a organização
de relatórios que retratassem de forma
pormenorizada cada região em seus
elementos naturais e humanos, pois os
projetos de aproveitamento hidrelétrico
tinham sua adequação definida com
base nesse conjunto de informações
sobre as áreas pesquisadas.
Na segunda metade da década
de 1980, os aspectos ambientais da Na mesma época, a legislação
“Vista aérea do rio Tocantins nas proximidades de Tucu-
implantação de projetos hidrelétricos brasileira relativa à preservação do meio ruí”. Eletronorte
vinham sendo crescentemente realçados ambiente também ganhou corpo e
no país. No âmbito do setor de energia reforçou a obrigação de as concessionárias
elétrica, a Eletrobras providenciou um estabelecerem uma relação mais
manual específico quanto ao tema. O ampla e matizada com os rios e bacias
Manual de estudos de efeitos ambientais nos quais interferiam. Aos aspectos
dos sistemas elétricos, com regras operacionais e estritamente econômicos
unificadas para o levantamento das dos empreendimentos, foi agregada
questões ambientais, foi lançado em junho uma gama de questões ecológicas,
de 1986. Elaborado com a participação socioeconômicas e antropológicas.
de várias concessionárias de energia
elétrica, o novo manual, cuja versão
preliminar havia sido divulgada um ano
antes, apresentava o roteiro básico para
o estudo dos efeitos ambientais.
1984-1997 Capítulo 7 | 289

A norma legal que mais exigiu mudança O conjunto EIA-Rima passou a ser
“Localização dos aproveitamento. Trecho B: alternativa 1.
Planta”. Reprodução do traçado que ilustra o documento de atitude em relação ao meio ambiente obrigatório para a obtenção, junto aos
Estudos Tocantins. Inventário hidrelétrico das bacias dos
rios Tocantins e baixo Araguaia: relatório condensado, – e não apenas no setor elétrico – foi a órgãos ambientais, da licença prévia
1977. Eletronorte/Themag Resolução n° 001, de 1986, do Conselho (LP), concedida na fase de planejamento
Nacional do Meio Ambiente (Conama). do empreendimento, e da licença de
A resolução implantou as regras para instalação (LI), que autorizava a execução
o licenciamento ambiental e definiu das obras. Uma última licença, de
que o Estudo de Impacto Ambiental operação (LO), era necessária para que
(EIA) e seu resumo em linguagem pudessem ser iniciadas as atividades
acessível para divulgação à população, o produtivas. A resolução definia ainda
Relatório de Impacto Ambiental (Rima), os empreendimentos para os quais o
deviam trazer um diagnóstico ambiental EIA-Rima seria exigido e determinava
da área de influência de um projeto, que os estudos fossem elaborados
analisar seu impacto, definir medidas por uma equipe multidisciplinar
mitigadoras e propor programas de independente, sem ligações com a
acompanhamento e monitoramento. empresa responsável pelas obras.

TUCURUÍ
Rio Araguaia

LAJEADO
PEIXE

Rio Tocantins

Brasília SANTO ANTÔNIO


CAROLINA

0 50 100 150 Km
USINAS PROJETADAS
LOCALIZAÇÃO DOS APROVEITAMENTOS
TRECHO B - ALTERNATIVA 1 - PLANTA
290 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A essa altura, os estudos e pela execução dos estudos de revisão


projetos hidrelétricos relativos ao rio do inventário do médio Tocantins,
Tocantins estavam repartidos de acordo por exemplo, a Themag preparou,
com a divisão geográfica vigente, ainda em maio de 1985, o documento
desde 1980, entre as concessionárias Escopo dos trabalhos de meio
federais. O baixo e médio Tocantins ambiente do inventário do médio
estavam sob a responsabilidade da Tocantins, no qual apresentava um
Eletronorte, que tinha a região em passo a passo do que era necessário
sua área de atuação. Furnas havia constar nos estudos ambientais.
assumido a responsabilidade pela O documento considerava a
exploração do alto Tocantins, dando integração dos aproveitamentos
início à revisão dos estudos realizados hidrelétricos com os ambientes à
pela Eletronorte sobre esse trecho sua volta bem como a utilização
do rio durante a década de 1970. dos recursos hídricos de modo
A revisão dos estudos de inventário abrangente. A ideia era preservar os
do Tocantins, na porção média do rio, ecossistemas e, ao mesmo tempo,
havia sido contratada pela Eletronorte promover o desenvolvimento regional,
junto à Themag Engenharia em contemplando as variadas formas de
1983. O trabalho, que contribuiria utilização da água do rio. Contemplando
para compatibilizar os possíveis os levantamentos de fauna, flora,
aproveitamentos hidrelétricos nesse ictiofauna, geológicos, cartográficos,
trecho do rio com aqueles previstos demográficos, econômicos e sociais,
no alto e baixo Tocantins, teve início o trabalho incluía, com um registro
com uma viagem de reconhecimento contemporâneo, o estudo dos muitos
aéreo e terrestre da bacia no mês de aspectos que eram abordados também
junho daquele ano e prosseguiria por pelos antigos viajantes naturalistas
mais quatro anos, até dezembro de que haviam passado pelo Tocantins.
1987, quando foi apresentado o relatório Os preceitos dos novos documentos
final dos estudos de inventário, que norteadores do setor de energia
contaram com várias viagens a campo. elétrica foram cuidadosamente
As consultoras de engenharia cumpridos pela Themag, e o relatório
que regularmente prestavam serviços final da consultora, reunido em 11
ao setor, como a Themag, também volumes, constituiu uma profunda
faziam esforços para adaptar-se às avaliação dos recursos hidrelétricos da
orientações dos contratantes. Para região, na qual se incluíam também
esclarecer as equipes responsáveis os aspectos sociais e ambientais.
1984-1997 Capítulo 7 | 291

Todo o trabalho teve como ponto Além de suas instalações em São


“Localização dos aproveitamentos. Trecho B: alternativa 1.
Perfil”. Reprodução do traçado constante no documento de partida o inventário realizado no Paulo e Brasília, a Themag utilizou um
Estudos Tocantins. Inventário hidrelétrico das bacias dos
rios Tocantins e baixo Araguaia: relatório condensado, Tocantins na década de 1970 pelas escritório de campo montado em Porto
1977. Eletronorte/Themag empresas Engevix e Ecotec, contratadas Nacional (GO) para apoiar e coordenar
pela Eletrobras e pela Eletronorte. o desenvolvimento dos trabalhos.
Agora, a área estudada compreendeu O objetivo dos estudos, seguindo
apenas o trecho do Tocantins entre a estratégia geral da Eletrobras, era
as cidades de Imperatriz (MA), limite identificar o conjunto de aproveitamentos
entre os cursos médio e baixo do que produzissem o máximo de energia
rio e confluência com o rio Araguaia, ao menor custo e com o mínimo de
e Peixe (GO), limite sul da área de efeitos sobre o meio ambiente. Segundo
exploração do Tocantins concedida à os executores do estudo, a revisão das
Eletronorte, cobrindo uma extensão de investigações da bacia do Tocantins
aproximadamente mil quilômetros de era especialmente oportuna, tendo em
rios e 182 mil quilômetros quadrados vista suas potencialidades naturais e as
de área de drenagem. No estudo só vantagens locacionais para a interligação
foram considerados aproveitamentos dos aproveitamentos previstos aos
com potência superior a 50 megawatts. sistemas elétricos já existentes.
LAJEADO ALTO
MIRACEMA DO NORTE - TOCANTÍNIA

CAROLINA BAIXO
BREJINHO DE NAZARÉ

SANTO ANTÔNIO
PEIXE

PORTO NACIONAL

PORTO AFONSO - GUARAÍ

SÃO SEBASTIÃO DO TOCANTINS


350 300,30
PEIXE

BABAÇULÂNDIA

PORTO FRANCO
TUPIRATINS

300
237,00
ITAGUATINS

TUCURUÍ
CAROLINA

250
IMPERATRIZ
COTAS (m)

174,60

ITUPIRANGA
200
Rio Paranatinga

140,00

JACUNDÁ
Rio Santa Tereza

Rio Natividade

150
70,00
Rio do Sono

100
Rio M. A. Grande

Rio Farinha

Cach. Santo Antônio

50

0
1950 1850 1750 1650 1550 1450 1350 1250 1150 1050 950 850 750 650 550 450 350 250 Km

DISTÂNCIA DA FOZ (Km)

LOCALIZAÇÃO DOS APROVEITAMENTOS


TRECHO B - ALTERNATIVA 1 - PERFIL
292 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“A localização da bacia estudada – Para levar os estudos a termo, foi


“Rio Tocantins, na altura da travessia entre Imperatriz (MA)
no corredor entre o centro do país necessário esquadrinhar todos os dados e Bela Vista (GO)”. Fotografia do documento Estudos de
e a Amazônia, com derivação para inventário do médio Tocantins: relatório final, 1987. Ele-
disponíveis sobre o médio Tocantins. tronorte/Themag
o Nordeste – a coloca no primeiro
plano da atualidade. O extremo norte Outra fonte relevante foram as campanhas
sofre influência do projeto Carajás e de campo de reconhecimento geológico
ao longo do Tocantins, no trecho aqui e de mapeamento. As viagens mais
analisado, desenvolve-se projeto da longas, porém, ficaram a cargo das
ferrovia Norte-Sul. Do ponto de vista
equipes responsáveis pelo levantamento
do projeto elétrico, o sul da área tem
possibilidades de ser integrado ao socioeconômico da área de estudo, composta
fornecimento do Sudeste, enquanto por 31 municípios: cinco no Maranhão e
os aproveitamentos mais ao norte 26 em Goiás. A primeira foi realizada em
devem dirigir-se naturalmente ao
outubro de 1985 e durou 25 dias; a segunda
Nordeste, dada a proximidade da
ligação Tucuruí-Imperatriz-Nordeste.”
aconteceu um ano depois; e uma terceira
(Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 2) finalizou o trabalho em abril de 1987.
1984-1997 Capítulo 7 | 293

cerrado, com a ocorrência, ao norte,


“Análise da água do reservatório da usina hidrelétrica Tu-
curuí”. Eletronorte de florestas, como prolongamento
da vegetação amazônica, e também
babaçuais (Orbignya oleifera), que
formavam a base de um desenvolvido
extrativismo. Os técnicos da
Themag encontraram um cenário
de significativas alterações da
cobertura vegetal primitiva pela ação
antrópica relacionada ao extrativismo
vegetal e à pecuária extensiva.

“Fatos como desmatamentos e queimadas


para ampliação de pastos ou culturas,
extração de madeiras em toras ou para
lenha e carvão vegetal, e a extração de
babaçu são responsáveis pela diminuição
gradativa das florestas e mesmo pelo
uso predatório das terras dos cerrados.
Paralelamente, ampliam-se os espaços
ocupados por babaçuais, buritizais,
buritirana, etc., que são espécies
caracteristicamente invasoras. Conforma-
se, assim, um panorama de degradação
Inicialmente, o relatório apresenta dos recursos naturais que se intensifica ao
uma descrição da área estudada, longo das rodovias, próximo às margens
dos rios, na área de influência dos centros
incluindo aspectos fisiográficos como
urbanos e também nos municípios de
localização, relevo, clima, hidrologia maior crescimento econômico.”
e qualidade da água, geologia, (Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 69)
geomorfologia e recursos minerais,
solos e aptidão agrícola, vegetação Apesar da dispersão e
e aspectos faunísticos. Em seguida, fragmentação das informações
o documento aborda os aspectos disponíveis sobre a fauna característica
socioeconômicos, considerando do domínio vegetal do cerrado, o
inclusive as comunidades indígenas. relatório reuniu dados suficientes
Como já havia sido registrado para uma descrição mínima dos
em estudos anteriores, tratava-se de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e
uma região predominantemente de invertebrados existentes na região.
294 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“De modo geral, a fauna de mamíferos


do cerrado se caracteriza por espécies
de pequeno porte, sendo grande número
de vida noturna e hábitos fossórios. (...)
Os roedores constituem o grupo mais
diversificado. (...) Os carnívoros são
espécies muito caçadas pelo alto valor de
suas peles, como onças, gatos mouriscos,
maracajás e ariranhas. Os marsupiais
existentes (...), representados pelos
gambás, (...) possuem grande interesse
zoológico por serem verdadeiros fósseis-
vivos, o mesmo ocorrendo com os
edentados como preguiças, tamanduás
e tatus. Os veados e porcos-do-mato
(...) representam os mamíferos de maior
porte, juntamente com a anta.”
(Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 70-72)

“A avifauna na região é muito rica, (...) com


grande predominância dos passeriformes.
(...) A maioria das espécies pode também
ser encontrada em outros domínios e
não existe um grande número de aves
ameaçadas de extinção. Entre as espécies
que correm riscos, pode-se citar (...): gavião
de penacho, falcão do peito vermelho,
ararinha azul, arapaçu de garganta amarela,
galo de campina do cerrado, tié da mata,
de insetos, pássaros e mamíferos que
“Aspecto do cerrado propriamente dito, em meio a aflo-
limpa folha do brejo, tucano de bico preto, se alimentam de folhas, brotos e frutos. ramentos rochosos”. Fotografia do documento Aproveita-
mento hidroelétrico de São Félix: usina Cana Brava. Rela-
tiriba de orelha branca e inhambu-carapé.” Entre os mamíferos, o primata guariba tório de impacto ambiental, 1989. Furnas/Iesa
(Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 73-74) ocorria em abundância, e a paca, os
porcos-do-mato, a queixada e o caititu Na outra página “Guariba ou Bugio-de-mãos-ruivas-de-
-Spix encontrado em Alta Floresta (MT)”. Fotografia de Ric,
A fauna do domínio das florestas tinham grande importância nos hábitos 2006
pluviais teve sua descrição baseada alimentares da população. Devido à caça
“Mutum de Penacho no Mangue das Garças (PA)”. Fotogra-
em trabalhos já realizados em áreas do predatória, as antas e os veados estavam fia de Rui Oliveira Santos, 2012
baixo Tocantins, considerando-se sua tornando-se escassos. A avifauna, muito
proximidade e semelhança ecológica. diversificada, contava com várias espécies
A vida animal nesse tipo de floresta em extinção, entre as quais o piri-piri,
encontrava-se principalmente na copa mutum-pinima, gaviãozinho, gavião pega-
das árvores, com milhares de espécies macaco, gavião-real e gavião-de-penacho.
296 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Os peixes da região também cargas e passageiros tem mais caráter local e


foram caracterizados. A ictiofauna era é realizado por pequenas embarcações do tipo
‘motor’ de até 20 toneladas. Mesmo para essa
menos variada e abundante que a do rio
navegação incipiente, o rio apresenta dificuldades
Araguaia, tendo em vista as diferenças naturais como rápidos, corredeiras e bancos de
de relevo e base geológica entre os dois areia, que, ao lado de obstáculos importantes
rios. As espécies de maior número e como a cachoeira de Lajeado, restringem a
“Ponto de travessia do rio Itacaiúnas, em Marabá”. Foto-
interesse econômico eram o curimatá, navegação, principalmente nas estiagens.”
grafia do Plano de desenvolvimento integrado de área da
(Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 172) bacia do rio Tocantins, 1973. Sudam/Hidroservice
o pacu-manteiga, o fidalgo e a pirapara.
A reprodução da maioria das espécies
ocorria durante o período de cheia, de
janeiro a abril, e a produtividade da atividade
pesqueira relacionava-se fortemente com
o ciclo fluvial de cheias e estiagem.
Apesar de sua importância histórica
para a ocupação das regiões Centro-Oeste
e Norte do país, a navegação do Tocantins
não tinha mais a mesma expressão para
o transporte de passageiros, feito por
pequenas embarcações, e para a atividade
comercial. Apenas nove portos precários
estavam instalados ao longo das margens do
rio, entre Imperatriz, no Maranhão, e Peixe,
em Goiás, e somente uma linha comercial
operava, ligando Imperatriz a Marabá, no
Pará. Com a construção de rodovias, haviam
diminuído bastante os deslocamentos
por meio das águas do Tocantins.

“Atualmente, o principal meio de transporte


regional é a rodovia Belém-Brasília, que se
desenvolve praticamente ao longo do eixo
do rio Tocantins. Contudo, a navegação ainda
preserva parte de sua importância histórica,
funcionando como elemento de transporte
local, principalmente entre Marabá e Imperatriz
e entre Tocantinópolis e Miracema do Norte.
A navegação atual não tem expressão
econômica, sendo que o movimento de
1984-1997 Capítulo 7 | 297

Na ocasião, observava-se um
deslocamento da população em
direção ao novo eixo dinâmico
da economia regional.

“Os municípios que apresentaram altas


taxas de crescimento demográfico
estavam sob a influência direta da Belém-
Brasília, como Imperatriz, Araguaína,
Presidente Kennedy, Gurupi e Peixe.
No sentido oposto, observou-se que
os municípios afastados da rodovia,
ou seja, os das margens do Tocantins
(especialmente os da margem direita
na porção sudeste da bacia) são os que
apresentaram comportamento menos
dinâmico ou mesmo crescimento negativo.”
(Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 80-81)

A base da economia assentava-


se no setor primário, nas atividades
de pecuária extensiva e extração do
babaçu. A agricultura era principalmente
Os aspectos socioeconômicos da de subsistência, e a vocação agrícola
“Feira dominical em Tocantinópolis (GO)”. Fotografia do
documento Estudos de inventário do médio Tocantins: região ocuparam boa parte dos estudos. da região era baixa, por conta da
relatório final, 1987. Eletronorte/Themag erosão dos solos, embora houvesse a
Todos os municípios que teriam seus
territórios afetados por algum dos possíveis possibilidade de bons resultados em
reservatórios, foram objeto de uma mais de 40% da bacia caso fossem
caracterização detalhada. A população, adotados níveis de manejo de alta
estimada em 643 mil pessoas, ocupava tecnologia, incluindo a irrigação.
uma superfície de 167.700 quilômetros
“As poucas terras agriculturáveis, em
quadrados, com uma densidade de 4,7
geral, correspondem às margens dos rios,
habitantes por quilômetro quadrado. O
onde são efetuadas a cultura de vazante e
crescimento populacional, de 4,7% ao ano, a agricultura de roça, importantes para a
superava a média de Goiás (2,8%) e do subsistência das populações ribeirinhas e
Maranhão (2,9%), e pautava-se pelos fluxos até das mais interiorizadas que, em muitos
casos, se deslocam sazonalmente para
migratórios: 45% dos moradores vinham
cultivar áreas fertilizadas pelas cheias.”
de fora da região, ainda que da vizinhança. (Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 85)
1984-1997 Capítulo 7 | 299

Os dados sociais apontavam para instrução. Boa parte dos municípios


Na outra página “Ninho feito com a palha do babaçu” e
“Sabão em pedra de óleo de babaçu”. Sula Failde condições de vida que pouco haviam não dispunha sequer de um centro de
se modificado em relação à década saúde, e o índice de 3,6 leitos por mil
“Tocantinópolis”. Fotografia do documento Estudos de in- anterior. A população economicamente habitantes era enganoso, já que Imperatriz,
ventário do médio Tocantins: relatório final, 1987. Eletro-
norte/Themag ativa (PEA) em 1980 não chegava a 30%, Araguaína, Gurupi e Porto Nacional
empregada nos setores primário (57%) centralizavam 60% dos equipamentos
e terciário (26%), este último por força hospitalares. A maior parte das casas
do segmento de comércio e serviços em que vivia a população não possuía
em Imperatriz, Gurupi e Porto Nacional, qualquer tipo de instalação sanitária, e o
referências urbanas na região. O setor saneamento básico poderia ser qualificado
secundário quase não tinha relevância para como praticamente nulo. O rio Tocantins
a geração de empregos e como atividade abastecia o Maranhão de água, enquanto
econômica. E nada menos do que 60% em Goiás a captação era feita em poços.
da população do médio Tocantins não
tinha auferido rendimentos naquele ano. “No tocante às doenças de notificação
compulsória, (...) só existe um controle efetivo
A escolarização era muito pequena,
no caso da malária. As principais endemias
contabilizando 56% das pessoas acima são: malária, febre amarela, febre tifoide e
de 5 anos com menos de um ano de doença de Chagas. As duas primeiras são
consideradas endêmicas à região e, apesar das
práticas preventivas e do controle existentes,
tem aumentado sua incidência devido,
fundamentalmente, à importação de casos
de Mato Grosso e do sul do Pará (áreas de
garimpo). A doença de Chagas encontra-se
presente em toda a bacia Araguaia-Tocantins.”
(Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 92)

Mesmo com seu grande potencial


energético, o médio Tocantins
caracterizava-se por déficit na produção
de eletricidade e baixo nível de conexão
ao sistema interligado: apenas 11
localidades ligavam-se aos grandes
sistemas de transmissão, e três, a
pequenos sistemas integrados. O
restante do território encontrava-se
isolado da rede de energia elétrica.
300 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1984-1997 Capítulo 7 | 301

por grandes extensões de terra para a


criação de gado, a partir dos anos 1960.
Esse quadro, acrescido pelas disputas
entre os índios e as populações rurais,
propiciou uma série de enfrentamentos,
particularmente agravados no norte goiano.

“A evolução da posse e uso da terra redundou


em uma generalização de conflitos fundiários
na região, cuja intensidade é maior no norte
de Goiás, compreendendo a área conhecida
como ‘Bico do Papagaio’. Aí, (...) acresce-
se a atração que os garimpos próximos,
fora da região, exercem sobre os pequenos
proprietários e posseiros, que muitas vezes
abandonam o campo para ganhar dinheiro
com o minério e, ao retornar, encontram
suas terras ocupadas por outros.”
(Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 88)

O relatório trata da ocupação


do médio Tocantins desde a época
colonial e apresenta a recente divisão
entre os municípios com maior pujança
Na estrutura fundiária da região, econômica à beira da Belém-Brasília, como
Na outra página, “Favelização na periferia de Imperatriz
(MA), às margens do córrego afluente do rio Tocantins”. era grande a incidência de latifúndios Imperatriz, Araguaína e Gurupi, e os ainda
Fotografia do documento Estudos de inventário do médio
Tocantins: relatório final, 1987. Eletronorte/Themag por exploração, o que contribuía dominados pelo Tocantins, esvaziados
especialmente para a baixa produtividade de sua anterior importância, como
“Rua do povoado de Campestre, localizado às margens da do setor primário. O tamanho médio Carolina, Tocantinópolis e Porto Nacional
rodovia Belém-Brasília e formado por lavradores expulsos
de suas posses”. Fotografia do documento Estudos de in- das propriedades era bem superior – que, porém, estavam lentamente
ventário do médio Tocantins: relatório final, 1987. Eletro-
ao da média nacional, com a grande retomando algum espaço regional
norte/Themag
propriedade avançando sobre a pequena. com a implantação de vias asfaltadas
Além do mais, a titulação das terras, ligando essas cidades às rodovias.
que remontava ao século XIX, era muito Como a ocupação do médio Tocantins
precária, sendo comum que uma mesma foi feita desde o início à custa, em
área fosse registrada em nome de mais grande parte, de territórios indígenas,
de um proprietário. A confusão aumentou sua história sempre foi fortemente
com a chegada de fazendeiros afoitos entrelaçada com a desses povos.
302 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O relatório estende-se no exame cerimoniais; as folhas para cobertura das


das populações indígenas da área casas e material de cestaria; e os frutos
de estudo, calculada na época em e raspas de caule para diversos usos.
cerca de 2,4 mil habitantes nas áreas A construção da Belém-Brasília, a
ocupadas pelos xerentes, localizadas no apenas 30 quilômetros de distância das
município de Tocantínia; pelos apinajés, terras dos xerentes – antes acessíveis
em Tocantinópolis e Itaguatins; e, apenas pelo Tocantins e pelo rio do Sono
pelos craôs, em Itacajá e Goiatins. – provocou intensos conflitos entre os
Essas nações, da família Jê, novos proprietários, que chegavam pela
habitaram historicamente diferentes rodovia, e os índios. O mesmo aconteceu
pontos das margens do Tocantins, mas com os apinajés, duramente atingidos
apresentavam semelhanças culturais, pela Transamazônica, que atravessou a
até mesmo por conta das características reserva, sem contar as pressões exercidas
do cerrado, em que a caça é a principal por outras atividades e empreendimentos
fonte de proteínas e a agricultura não é como o garimpo de Serra Pelada e o
muito praticada e é pouco diversificada. Projeto Grande Carajás. Diante dessa
As palmeiras de buriti têm um papel situação, a população indígena estava se
cultural fundamental, sendo amplamente organizando para fazer frente às dificuldades
utilizadas: as toras para atividades em manter íntegras suas terras.

“A abundância da palmeira do Buriti em certos córregos


forma cenários belíssimos, dignos de cartões postais”.
Guia Ecológico de Ernesto Augustus
1984-1997 Capítulo 7 | 303

“Como consequência dos conflitos mais O aprofundamento das questões


“Grupo de jovens da etnia krahô participam da etapa eli-
minatória da corrida de tora na arena dos 11º Jogos dos
recentes, os índios organizaram um ambientais trouxe maior consistência
Povos Indígenas, montada na Ilha de Porto Real, no mu- Conselho Indígena na região do médio
nicípio de Porto Nacional (TO)”.Osterno Parriao. Agência ao argumento utilizado pelas empresas
Tocantins, integrado por representantes
Tocantinense de Notícias de que as usinas hidrelétricas trariam
dos craôs, xerentes, apinajés e xambioás
(este pequeno grupo está à margem direita progresso para as comunidades
do Araguaia), que se reúne regularmente desassistidas. Agora, os documentos
e tem sido uma força de pressão para a produzidos pelas concessionárias
resolução de seus problemas, velhos e
passaram a ser mais cuidadosos ao
novos. Pode-se então concluir que estes
índios não aceitarão mais reduções e apresentar as compensações pelas
interferências em seus territórios sem que intervenções na vida ribeirinha.
sejam discutidas e que eles participem
do processo de tomada de decisões.”
(Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 105)
304 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“(...) não se pode negar que a


implantação de um projeto hidrelétrico
consubstancia uma oportunidade
ímpar de catalisar investimentos e
impulsionar o desenvolvimento local,
entendido não só como o incremento
de alguns índices econômicos, mas
também como a melhoria da condição
de vida de grande parte da população e,
especificamente nesta região, algum tipo
de solução para a questão da terra.”
(Eletronorte; Themag, apêndice D,
v. 1, 1987: 232)

No relatório, a Themag descreve


os possíveis usos múltiplos
para os reservatórios das usinas
projetadas para o médio Tocantins,
divididos pela consultora em três
atividades básicas: irrigação,
navegação e controle das cheias.
A irrigação foi apontada como
o uso mais importante, depois da
produção de energia elétrica, porque os
investimentos em agricultura irrigada
na bacia do Tocantins até então eram
considerados pelos técnicos como
escassos. De acordo com os estudos, a “Os reservatórios criados pelo
“Eclusa da usina hidrelétrica Tucuruí”. Eletronorte
implantação de reservatórios permitiria desenvolvimento hidrelétrico do rio
a irrigação de 2 milhões de hectares Tocantins proporcionarão estirões de
grande profundidade, eliminando boa
– em condições naturais, essa área
parte dos obstáculos naturais, além
caía para cerca de 400 mil hectares. do aumento do calado médio devido à
O sempre tão discutido potencial de regularização de vazões. Portanto, com
navegação do Tocantins aumentaria com a construção das barragens, prepara-
se o rio para uma navegação de grande
a construção das barragens e se tornaria
calado e, consequentemente, de alta
viável apenas com o custo de construção capacidade de transporte, ao custo
de eclusas, caso houvesse demanda que apenas de construção das eclusas.”
justificasse a realização dessas obras. (Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 175)
1984-1997 Capítulo 7 | 305

O terceiro uso destacado, o nos afluentes mencionados. A área


de controle das cheias, teria caráter somada de todos os reservatórios
preventivo, levando-se em conta a hipótese atingiria 7 mil quilômetros quadrados,
de especulação imobiliária às margens ocupando terras com baixa densidade
do rio após a instalação das usinas. populacional e restrita aptidão agrícola,
Das 21 alternativas examinadas, mas forçando a relocação de cerca de
foi selecionada apenas uma, totalizando 53 mil habitantes, dos quais 11 mil de
6.314 megawatts de potência instalada, áreas urbanas e 42 mil de áreas rurais.
em cinco usinas no Tocantins e mais A consideração dos impactos
cinco em afluentes, sendo uma em ambientais provocados pelos projetos,
cada um dos seguintes rios: Manoel e suas vantagens econômicas e
Alves de Natividade, Balsas, Sono, energéticas, trouxe como resultado a
Manoel Alves Grande e Farinha. sugestão de implantação prioritária da
Os estudos ambientais contemplaram usina de Serra Quebrada. Localizada
também cada um dos aproveitamentos a jusante da ilha de Serra Quebrada,
selecionados no médio Tocantins – em Goiás, e a 20 quilômetros de
Serra Quebrada, Estreito, Tupiratins, Imperatriz, no Maranhão, a usina seria
“Rio das Balsas na altura do município de Balsas (MA)”.
Instituto Brasil Solidário Lajeado e Ipueiras – e os localizados de porte médio, com potência instalada
prevista de 1.450 megawatts.
Mesmo sendo apontada como
a opção mais conveniente, para a
formação de seu reservatório, com
370 quilômetros quadrados, seria
necessária a desapropriação de 324
quilômetros quadrados de terras. A sede
municipal de Itaguatins seria inundada
totalmente, assim como o povoado
de São Domingos, e uma pequena
área urbana (5%) de Tocantinópolis. A
população total atingida chegaria a 9
mil pessoas. Outro impacto importante
seria a inundação de 5,5% da reserva
apinajé. Também ficariam embaixo das
águas do Tocantins 4,5 mil hectares
usados em agricultura de subsistência,
além de matas (37% da área inundada).
306 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Atingiria 2,5 quilômetros da rodovia


Belém-Brasília, entre Imperatriz
e Estreito, afetando núcleos
urbanos em desenvolvimento
naquele trecho da estrada.
A conclusão do relatório, indicando
para desenvolvimento de estudo de
viabilidade o aproveitamento de Serra
Quebrada, perto do de Santo Antônio,
modificava a conclusão de trabalhos
anteriores que haviam selecionado Santo
Antônio como a melhor alternativa.
A predileção, segundo a Themag, teve
múltipla motivação, além do menor
índice custo-benefício (19,5 US$/
MWh). Também influíram a proximidade
de Imperatriz, que contava com uma
infraestrutura mais avançada que os
outros municípios próximos, o acesso
facilitado pela rodovia Belém-Brasília,
a oportunidade de integração com
o sistema elétrico Norte-Nordeste e
o fato de ser o projeto com menor
impacto ambiental dentre todos os
estudados. A escolha de Serra Quebrada
significava, portanto, uma ampliação
dos parâmetros, até então basicamente
“(...) recomenda-se dar continuidade aos
de caráter econômico, considerados “Ponte sobre o rio Tocantins, na rodovia Belém-Brasília,
estudos e ações destinadas à integração ligando os estados de Goiás e Maranhão. Ao fundo a sede
mais relevantes para a eleição de dos aproveitamentos escolhidos no municipal de Estreito (MA)”. Fotografia do documento Es-
empreendimentos hidrelétricos. desenvolvimento regional, incluindo tudos de inventário do médio Tocantins: relatório final,
1987. Eletronorte/Themag
A título de recomendação final, o contatos com os órgãos de planejamento
relatório apontava para a necessidade municipais, estaduais e federais que atuam
na região, no sentido de se compatibilizar
de articulação com outros órgãos
planos e programas. Neste contexto, dois
oficiais de planejamento para melhor aspectos merecem destaque: problemas
equacionar as dificuldades que fundiários (...) e problemas indígenas.”
poderiam se interpor aos projetos. (Eletronorte; Themag, v. 1/2, t. 1, 1987: 353-354)
1984-1997 Capítulo 7 | 307

Enquanto era concluído o relatório para estender a navegabilidade do


final da revisão do inventário do médio Tocantins até a área da usina. Mas, para
Tocantins, a Eletronorte, em 1986, além de ações tópicas para corrigir ou
desenvolveu novos estudos do trecho tirar proveito das interferências causadas
do rio entre a cidade de Imperatriz e o por Serra Quebrada, era proposto
remanso de Tucuruí. Como resultado, para o setor de energia elétrica um
foi proposto mais um aproveitamento papel de maior alcance na região.
no Tocantins, denominado Marabá, a
“A inserção regional do aproveitamento
montante da usina já existente de Tucuruí e
inclui medidas de proteção ambiental para
imediatamente a jusante do projeto de Serra minimização de impactos não desejados,
Quebrada. Vários obstáculos interpuseram- e o controle dos impactos provocados por
se à efetivação do empreendimento outras intervenções na bacia hidrográfica.
de Marabá nos anos seguintes e sua Essas ações de terceiros podem vir a afetar
o empreendimento hidrelétrico: por exemplo,
construção ainda não foi iniciada.
o aumento de erosão por manejo agrícola
Em 1988, ano seguinte à divulgação inadequado ou a deterioração da qualidade
do relatório final do inventário do médio da água e da fauna aquática por despejos
Tocantins preparado pela Themag, foi industriais e defensivos agrícolas. Este
controle exige também uma coordenação
concluído mais um documento sobre
interinstitucional, baseada no planejamento
o aproveitamento de usos múltiplos de regional integrado. O setor elétrico visa à
Serra Quebrada, no qual se reiterava ação mais eficaz possível neste contexto
que as cinco usinas previstas no médio intersetorial, podendo assumir a liderança
Tocantins afetariam um número pequeno do processo quando a realidade regional
assim o requerer, como pode ser o caso
de moradores de áreas urbanas, como
do empreendimento de Serra Quebrada.”
resultado de uma divisão de queda (Eletronorte; Themag, 1988: item 4)
que poupava as cidades estabelecidas,
desde muito, na beira do rio. Em meados de 1989, o projeto,
O trabalho, também realizado pela que se encontrava na fase intermediária
Themag para a Eletronorte, avançava nas dos estudos de viabilidade, deu mais
especificações de engenharia do projeto e um passo quando a Themag concluiu
também nas sugestões para minimizar os uma caracterização técnico-econômica
impactos ambientais e socioeconômicos. e ambiental do empreendimento de
Quanto a este último aspecto, eram citados Serra Quebrada, consolidando os
os projetos de irrigação, a inserção dos conhecimentos reunidos até então. Mais
reassentamentos populacionais nos planos uma vez eram ressaltadas as vantagens
governamentais de desenvolvimento do conjunto de empreendimentos
agrícola e a construção de uma eclusa propostos no médio Tocantins.
308 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

APRESENTAÇÃO DO APROVEITAMENTO DE USOS MÚLTIPLOS DE SERRA QUEBRADA


INTERFERÊNCIA COM CENTROS URBANOS
AGUIARNÓPOLIS E ESTREITO

LEGENDA
BR-1 LIS
Ó PO
TIN
3 5

Z AN MAIOR DENSIDADE
OC
P/T MENOR DENSIDADE

ESTRADA
134 CONCENTRAÇÃO DE EQUIPAMENTOS
134
AGUIARNÓPOLIS
134
ÁREA A SER INUNDADA

134 COTA DE DESAPROPRIAÇÃO

ÁREA DE RESERVATÓRIO

134 Rio
Tocantin
s
134

134

ILHA DO ESTREITO

INA
AROL
P/C
134

ESTREITO
BR
BR-1

-01
0
38

“Interferência com centros urbanos: Aguiarnópolis (TO) e


Estreito (MA)”. Reprodução de ilustração constante do do-
cumento Apresentação do aproveitamento de usos múlti-
plos de Serra Quebrada, 1988. Eletronorte/Themag
1984-1997 Capítulo 7 | 309

“As barragens do rio Tocantins, em seu Durante os estudos de viabilidade


trecho médio, têm como característica de Serra Quebrada, confirmada
comum uma queda relativamente baixa,
a divisão de queda escolhida, foi
entre 26 e 30 m, baixa relação ‘área
inundada por MWh gerado’, facilidades recomendado o detalhamento de
de acesso aos locais de implantação, cinco alternativas de eixo para
provocando impactos ambientais de a usina. Os trabalhos para essa
pequena monta em função do porte dos especificação compreenderam
reservatórios a serem formados. Resultam
novas viagens de reconhecimento
em empreendimentos com atraentes índices
custo/benefício e proporcionam um razoável e investigações complementares
escalonamento de investimentos e baixos no local, especialmente quanto
custos financeiros. É possível a obtenção de à geologia e geotecnia.
economia de escala com a padronização dos
No aspecto ambiental, também
“Rio Tocantins em Imperatriz (MA)”. Prefeitura do municí- equipamentos hidro e eletromecânicos.”
pio de Imperatriz (Eletronorte; Themag, 1989: 12)
foram realizados novos levantamentos.
Quanto ao sistema natural, estações
meteorológicas para estudos
climatológicos foram instaladas.
Levantamentos de campo sobre a
ictiofauna e a qualidade da água do
rio e seus afluentes, no trecho entre
Imperatriz e Porto Nacional, foram
executados. Um inventário florestal da
bacia de inundação e campanhas para
caracterização da fauna e inventário
da flora também foram empreendidos.
Do ponto de vista socioeconômico,
além do levantamento de dados em
órgãos da administração pública nas
três esferas do Executivo, foram
realizadas visitas de inspeção de
campo e pesquisas socioeconômicas
na área que seria diretamente atingida
pelo aproveitamento. Os temas saúde
pública, patrimônio histórico, cultural e
arqueológico, além de conhecimento
antropológico, também foram
objeto de campanhas específicas.
310 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Um diagnóstico sobre o implantada como capital em janeiro


aproveitamento dos recursos hídricos do do ano seguinte com a instalação dos
Tocantins também ocupou a equipe da poderes constituídos, substituindo a capital
Themag. Apesar das demandas previstas provisória de Miracema do Tocantins.
serem crescentes, na época, o potencial Os motivos para a constituição do
do rio era considerado subutilizado estado do Tocantins incluíam fatores
para fins energéticos, industriais e de históricos, como as diferenças entre o sul
irrigação de lavouras. O uso das águas de Goiás, que, mais ligado culturalmente
para o lazer da população local, no a São Paulo e Minas Gerais, concentrava
entanto, tinha destaque, sobretudo nos cerca de dois terços da população
balneários que se formavam na estiagem, e respondia por 70% da economia
como as praias fluviais de Itaguatins goiana, e o norte, mais próximo de
e as ilhas a jusante de Imperatriz. Belém e das questões amazônicas e
O relatório final dos estudos de com indicadores de desenvolvimento “Balneário em Imperatriz (MA)”. Prefeitura do município de
viabilidade de Serra Quebrada foi inferiores aos dos sulistas. Imperatriz

concluído dois anos depois, em 1991,


mas, apesar de todos os preparativos,
o aproveitamento hidrelétrico, assim
como os de Tupiratins e Ipueiras, ambos
no médio Tocantins, passariam vários
anos em compasso de espera e até
o momento não foram efetivados.
Ainda ao final dos anos 1980
acabou sendo decidida uma importante
mudança no cenário geográfico e político
da região. A reivindicação separatista do
norte de Goiás foi finalmente atendida em
outubro de 1988 pela nova Constituição
brasileira, vindo essa área a compor o
novo estado do Tocantins. Com 277,7 mil
quilômetros quadrados, o estado cortado
pelos rios Tocantins e Araguaia passou
a ocupar o centro do país e sua capital,
a cidade de Palmas, foi especialmente
planejada e erguida. Fundada em maio
de 1989, Palmas foi definitivamente
Nos anos 1980, algumas mudanças A operação do sistema energético
“Praia de Esperantina na região conhecida como Bico do
Papagaio (TO)”. Agência de Desenvolvimento Turístico do também favoreceram a independência. existente e a distribuição da energia
Estado do Tocantins
Um empresariado emergente, localizado elétrica, que até então cabiam à Celg,
principalmente nos municípios nortistas foram repassadas à recém-criada
de Araguaína, Gurupi, Paraíso e Porto empresa estadual, Companhia de Energia
Nacional, via com bons olhos a separação, Elétrica do Estado do Tocantins (Celtins),
acreditando que, dessa forma, novos encarregada também de ampliar a
investimentos poderiam se concentrar frágil estrutura de atendimento prevista
na região, detentora de 5,5 milhões de para a região a partir da reorganização
hectares de terras agriculturáveis. político-geográfica. Em 1989, a Celtins
A emancipação foi possibilitada foi privatizada, e seu maior acionista
ainda pelo crescimento demográfico a passou a ser o Grupo Rede.
taxas bem acima da média nacional – O redesenho do mapa do país, no
incrementado pela migração regional – que entanto, não alterou o planejamento
permitiu ao novo estado obter quórum do setor elétrico para a exploração da
para a formação de uma Assembleia bacia Tocantins-Araguaia. Enquanto a
Legislativa e para a participação no Eletronorte projetava os aproveitamentos
Congresso Nacional. O estado do no médio Tocantins, inclusive no
Tocantins, que abarcou a problemática território do novo estado, na parte alta
área do Bico do Papagaio, poderia atrair do rio, Furnas dava continuidade aos
programas de incentivo à regularização estudos dos novos aproveitamentos
fundiária e à ocupação legal de terras há e também aos empreendimentos
décadas disputadas de forma violenta. hidrelétricos projetados.
312 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Esse conjunto de atividades foi A escassez de recursos para investimentos


em parte embaraçado por dificuldades obrigou as concessionárias a diminuir o
econômicas que o país enfrentou em ritmo de várias obras, provocando atrasos
meados dos anos 1980. O setor elétrico, em projetos importantes, como a segunda
basicamente estatal, foi atingido pelo etapa de Tucuruí, por exemplo, cuja
refluxo dos financiamentos externos e construção seria retomada somente em
pela contenção tarifária, política adotada 1998. A duplicação da potência da usina
para tentar controlar a inflação na Nova seria totalmente concluída apenas em 2007,
República, como ficou conhecido o período e as duas eclusas para a transposição do
de redemocratização iniciado com o Tocantins, previstas no projeto da primeira “Obras de ampliação da usina hidrelétrica Tucuruí”. Março
de 2002. Eletronorte
governo de José Sarney (1985-1990). etapa, foram inauguradas três anos depois.
1984-1997 Capítulo 7 | 313

No caso da hidrelétrica de Serra da com uma importante modificação:


Mesa, a cargo de Furnas, as obras para em visita à região, técnicos de Furnas
o desvio do rio Tocantins começaram constataram que dois povoados que
em 1986. O projeto básico da usina, seriam totalmente alagados não existiam
cujos estudos foram realizados pela mais. Segundo consta do projeto
Internacional de Engenharia S.A. (Iesa) básico, Rosariana, um aglomerado
e os serviços de campo por Furnas, de quarenta casas ocupadas por
foi publicado em junho do mesmo garimpeiros, havia sido abandonada
ano, com mais detalhes sobre o com a queda da atividade. E Porto
impressionante reservatório que seria Serrinha constituía apenas um ponto
formado. Com volume útil de 43.250 de passagem de pessoas e pequenas
metros cúbicos, o lago funcionaria cargas pelo rio Maranhão, operado
como uma reserva estratégica por um único canoeiro. No total dos
para o sistema elétrico brasileiro, municípios atingidos, seria necessária
justificando a importância da usina a relocação de 4.235 habitantes.
para minimizar o risco anual de déficit O trabalho de Furnas previa
de energia do Sudeste, estimado pela a realização de projetos de
Eletrobras em 15% para 1993. Serra reflorestamento, incentivando o plantio
da Mesa seria uma usina subterrânea, de pequi, jatobá e babaçu, e de proteção
com os mais longos e complexos especial à fauna da mata ciliar, já
circuitos hidráulicos já realizados no ameaçada de extinção. E alertava para a
Brasil, segundo o documento. necessidade, durante o enchimento do
Novas viagens ao Tocantins reservatório, de cuidar para que o boto,
aconteceram nessa etapa dos habitante do médio e baixo Tocantins,
trabalhos, com vistas a investigar não ficasse confinado no reservatório.
in loco a topografia e os aspectos A navegação, praticamente
hidrometeorológicos e ambientais, entre inexistente naquele trecho do rio, só
outros. A caracterização ambiental da se viabilizaria com a realização de
região seguiu as diretrizes dos manuais obras para a transposição do lago – na
da Eletrobras, além de normas da verdade, a concessionária propunha a
Superintendência de Desenvolvimento elaboração posterior de maiores estudos
da Pesca (Sudepe) e do Dnaee, órgão para o aproveitamento múltiplo desse
encarregado de aprovar o projeto básico. reservatório ímpar, apenas apontando
Os estudos ambientais traçaram um no projeto básico o papel que a usina
cenário local semelhante ao desenhado de Serra da Mesa desempenharia na
no estudo de viabilidade, de 1983, vida daquele trecho do Tocantins.
314 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“A construção da usina de Serra da Mesa inundaria 10% da área destinada à


envolverá um volume de recursos de tal comunidade indígena. A negociação entre
grandeza que não será possível deixar
Furnas e Funai resultou na assinatura de um
de integrar o projeto como um todo ao
desenvolvimento da região. Por si só o projeto convênio, em 1986, pelo qual a entidade
representará uma série de modificações se comprometia a atrair os índios para fora
significativas tanto no espaço físico como da área de influência de Serra da Mesa, em
no comportamento social e econômico de troca de recursos materiais e transporte,
sua população, as quais persistirão após a
providenciados pela empresa. De fato, o
sua conclusão. Será necessário tirar todos
os benefícios possíveis dos investimentos posto indígena foi transferido para uma
que deverão convergir para a região e distância de 35 quilômetros das obras – mas,
consubstanciá-los em projetos ligados ao ainda assim, as terras dos avá-canoeiros
aproveitamento dos recursos hídricos, à
continuavam sendo afetadas, tanto pelo
exploração mineral, à implantação de novos
núcleos, à ampliação da rede viária, ao
reservatório como pela construção de
aproveitamento agropecuário e à melhoria uma estrada ligando Minaçu a Colinas, via
das condições de vida da população.” Serra da Mesa, o que provocou reações
(Furnas, 1986, v. 1: 70) de organizações defensoras dos direitos “Posto indígena avá canoeiro, da Fundação Nacional do
dos povos indígenas e de ambientalistas. Índio (Funai), na região de Serra da Mesa”. Furnas
Outro aspecto importante com relação
ao projeto de Serra da Mesa era como lidar
com as interferências do empreendimento
no grupo indígena avá-canoeiro, localizado
nas imediações no início dos anos 1980.
Na época, a Funai tentava contatar esse
povo, pois suspeitava da existência de
remanescentes dos índios que haviam
habitado a região muito tempo antes. Em
1985, uma área de 38 mil hectares às
margens do Tocantins, entre os municípios
goianos de Minaçu e Colinas do Sul, foi
interditada pela Funai para abrigar os quatro
indivíduos que haviam sido encontrados –
um homem e três mulheres – e proteger
uma cultura que se considerava extinta.
O posto indígena da Funai ficava a
apenas cinco quilômetros do canteiro de
obras de Serra da Mesa, e o reservatório
1984-1997 Capítulo 7 | 315

Localizado no Planalto Central


brasileiro, o sítio do aproveitamento
foi caracterizado quanto aos aspectos
geomorfológicos, mostrando uma
paisagem em que o Tocantins era
um dos principais elementos.

“O rio Tocantins, principal responsável


pela drenagem na região, apresenta-
se ainda em estágio jovem, com vários
trechos encachoeirados, (...). Seus
afluentes mais importantes são os rios
Bagagem e Tocantizinho, ambos pela
margem direita. O trecho entre a foz do
Traíras até o local do eixo da barragem é
montanhoso, com relevo muito forte em
inúmeras elevações, que o rio Tocantins
contorna sinuosamente, destacando-se
o granito formador da Serra da Mesa.
Dando continuidade aos estudos de No caso específico de Serra da Mesa,
“Gruta da Lapa em Niquelândia, Goiás”. Fotografia de Re-
as altitudes chegam a atingir valores
nato de Oliveira Alves, 2008 Serra da Mesa, em agosto de 1987 foi
superiores a mil metros, sendo que as
concluído o Rima do empreendimento,
colinas intermontanhas apresentam cotas
tendo em vista a obtenção da licença oscilando entre 400 e 600 metros (...).”
prévia. O diagnóstico ambiental (Furnas; Iesa, ago. 1987: 4.2-4.3)
delimitou como área de influência do
reservatório aquela correspondente à A vegetação da área fazia parte
dos sete municípios que teriam parte do domínio dos cerrados, em que
de suas terras inundadas: Barro Alto, as árvores são esgalhadas com
Campinaçu, Campinorte, Cavalcante, troncos retorcidos e casca grossa.
Minaçu, Niquelândia e Uruaçu. Entre as formações típicas desse
Para a região, foram aprofundadas ambiente havia a predominância
as descrições das características dos do cerrado aberto, observando-se
meios físico, incluindo geologia e também mata de galeria, floresta
geomorfologia, solos, recursos hídricos semidecídua e veredas. Na época, a
e clima; biológico, principalmente cobertura vegetal original continuava
vegetação e fauna; socioeconômico e sofrendo crescente redução, como
cultural, como demografia, atividades resultado da atividade humana,
econômicas e infraestrutura regional. inclusive o efeito de incêndios.
316 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO DE SÃO FÉLIX: USINA SERRA DA MESA


LOCALIZAÇÃO REGIONAL

50º 49º 48º 47º 46º

12º PEIXE 12º


LEGENDA
1. UHE Serra da Mesa
Rio Palma 2. UHE Cana Brava

Rio T
o ca n Rede hidrográfica principal

s
PALMEIRÓPOLIS Rio São Domingo Área de reservatório
tins

ARRAIAS
13º 13º Sedes municipais
rra
B e ze CAMPOS BELOS
Rio
Limite da bacia do alto Tocantins
MONTE ALEGRE DE GOIÁS
Limite da área de influência
2
PORANGATU

Rio
MINAÇU

Par
REFERÊNCIA

a

SANTA TEREZA CAMPINAÇU Base Cartográfica apoiada nas folhas
CAVALCANTE
DE GOIÁS 1 50-22 a 50-23 do Brasil ao milionésimo
NOVA ROMA
Rio P
r e to

14º 14º
POSSE
ho
zin
ti n

SÃO LUÍS
an

DO TOCANTINS
oc

ALVORADA
oT

NIQUELÂNDIA
Ri

URUAÇU DO NORTE
Rio T

SÃO JOÃO
as

raíra

DA ALIANÇA
Alm

s
d as

Rio Paranã
Rio

15º 15º

RUBIATABA BARRO ALTO

CERES GOIANÉSIA
Rio

PLANALTINA
FORMOSA
do
Pe
ix

ITAPURANGA
e

Ur u
Rio JARAGUÁ DISTRITO FEDERAL

16º 16º

ANÁPOLIS

0 20 40 60 80 100 Km

50º 49º 48º 47º 46º


ESCALA ORIGINAL: 1: 1.000.000
1984-1997 Capítulo 7 | 317

“A fauna aquática do alto Tocantins e


tributários não foi ainda inventariada,
representando o presente trabalho esforço
pioneiro neste sentido. Difere ela da fauna
dos cursos médio e baixo por mostrar-se
pouco diversificada, em termos relativos,
considerando representar a mesma um
prolongamento meridional da rica fauna
amazônica. (...) A ictiofauna da área de
influência mereceu mais esforço de
coleta do que todos os demais grupos
pesquisados, considerando a relevância dos
peixes como recurso natural de importância
econômica, além do importante papel que
desempenham na cadeia biológica aquática.”
(Furnas; Iesa, ago. 1987: 4.19)

Do ponto de vista das atividades


econômicas desenvolvidas na área
“Dentro das áreas de cerrado, o cerradão é de influência do reservatório, o
Na outra página, “Localização regional”. Reprodução de
mapa do documento Aproveitamento hidroelétrico de São
a formação vegetal mais atingida, em sua predomínio era da pecuária e da
Félix: usina Serra da Mesa. Relatório de impactos ambien- distribuição, pelo efeito do fogo e retirada agricultura. No setor secundário, o
tais, 1987. Furnas/Iesa seletiva de componentes arbóreos, cedendo
destaque era da mineração e do
espaço, por isto, às formações campestres.
“Impactos ambientais da pecuária na Amazônia Legal”. O fogo é considerado um elemento
beneficiamento de amianto e níquel.
Agência Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-
tado de São Paulo
importante dentro do ecossistema dos
cerrados. Em períodos de seca, os cerrados “A atividade mais produtiva no setor de
sofrem incêndios de origem natural e, mais mineração é a exploração de amianto.
frequentemente, provocados por mãos Situada no município de Minaçu, a Sama
humanas. (...) A atividade pecuária também (Sociedade Anônima de Mineração de
tem importante papel no ecossistema Amianto), vinculada ao grupo Eternit (Saint-
como modificadora do ambiente, (...). Gobain-Pont-a-Mouson) é a maior empresa
Embora o cerrado se regenere com relativa da região, com 1.700 empregados. A Cia.
facilidade, já se observa sensível mudança Níquel Tocantins emprega atualmente
no aspecto fisionômico da paisagem.” 2.000 pessoas. (...) Com um investimento
(Furnas; Iesa, ago. 1987: 4.14) de quase US$ 100 milhões, a Codemin
concluiu em 1979 a construção da
usina pirometalúrgica, no município de
Especialmente com relação
Niquelândia, para a produção de níquel
à fauna aquática, o diagnóstico contido na liga Fe-Ni. O número atual
ambiental trouxe uma contribuição de empregados é de 1.200 pessoas.”
relevante ao seu conhecimento. (Furnas; Iesa, ago. 1987: 4.25)
Os locais que seriam atingidos pela belas praias na época seca, um ponto de
Na outra página “Minaçu: vista da cava a céu aberto”,
inundação, utilizados pela população interesse histórico relacionado à ocupação 2009. Milton Brigolini. SAMA - Sociedade Anônima de Mi-
neração de Amianto
para recreação e lazer, foram alvo de um do território do alto Tocantins foi ressaltado.
levantamento específico. No município
Na outra página, “Identificação de pontos críticos”. Re-
de Barro Alto, havia a cachoeira do “Outro ponto a destacar é o existente na produção de mapa do documento Aproveitamento hidro-
fazenda São João, também no município elétrico de São Félix: usina Serra da Mesa. Relatório de
Machadinho, usada para banhos e pesca impactos ambientais, 1987. Furnas/Iesa
de Niquelândia. Trata-se de túneis e
esportiva. Em Uruaçu, na localidade de ilha ruínas de edificações construídas pelos
da Fama, formava-se uma pequena praia bandeirantes para a exploração de ouro
frequentada pela população da região. Em na região e datadas do século XVIII,
Niquelândia, além do local conhecido como compondo interessante vestígio da época.”
(Furnas; Iesa, ago. 1987: 4.29)
Estreito, excelente local para pesca e com
1984-1997 Capítulo 7 | 319

APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO DE SÃO FÉLIX: USINA SERRA DA MESA


IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS CRÍTICOS

690.000 710.000 730.000 750.000 770.000 790.000 810.000 830.000


3.490.000
LEGENDA
Rede hidrográfica

Núcleos populacionais

Campinaçu Possibilidade de inundação parcial


3.470.000
Possibilidade de expansão
urbana desordenada

Área dos reservatórios

Sistema viário principal

Interrupção de vias
3.450.000
Novo Oriente
Indústrias principais
Palmeirinha
Ocorrência de calcário

Pontos de contaminação potencial


Colinas
Pontos de interesse paisagístico
3.430.000 que ficarão submersos
Codeminas
Pontos de interesse arqueológico
São Luís do Tocantins
que ficarão submersos
Campinorte Indainópolis
Pontos de interesse histórico
que ficarão submersos
3.410.000
Usina de
Geriaçu Níquel
REFERÊNCIAS
Base cartográfica: folhas 50-22-x-O, 50-22-2-B a
Niquelândia
50-223-V, e 50-23-Y na escala 1.250.000 do IBGE
Área do reservatório na cota 480,00 m
3.390.000
Uruaçu

3.370.000

+ + + + +

3.350.000
49,00º 48,45º 48,30º 48,15º 48,00º

0 5 10 15 20 25 Km

ESCALA ORIGINAL: 1: 1.250.000


320 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A avaliação das consequências A localização do empreendimento


“Afloramentos rochosos no leito do rio Tocantins”. Foto-
decorrentes da implantação e operação tirava partido das singularidades grafia do documento Aproveitamento hidroelétrico de São
Félix: usina Cana Brava. Relatório de impacto ambiental,
da usina, considerada a parte de maior do sinuoso Tocantins. 1989. Furnas/Iesa
relevância do documento, possibilitava
que fossem definidas as medidas “A usina Cana Brava situa-se em um
mitigadoras para atenuar os impactos trecho onde o rio Tocantins forma um
prováveis, classificados quanto à meandro de 15 quilômetros. O início do
meandro a montante está caracterizado
magnitude, importância, temporalidade
por uma brusca mudança de 180 graus
e duração, e seus respectivos na direção do escoamento fluvial,
programas de acompanhamento ou onde o curso do rio é desviado do
monitoramento. Nesse caso, talvez norte para o sul, retomando a seguir
a sua direção primitiva, contornando
a única alteração ambiental positiva,
um corpo de rochas básicas e ultra-
advinda da formação do lago e do relevo
básicas. Esse alinhamento configura
da área, seria o surgimento de ilhas, uma garganta bastante aberta que
que preservariam as características poderia ter sido o curso natural do rio.”
originais da flora e da fauna regionais. (Furnas; Iesa, dez. 1987, v.1: 1.2)

Como havia sido programado


anteriormente, durante o enchimento
do reservatório de Serra da Mesa, que
levaria em torno de dois anos para se
completar, Furnas pretendia construir
a usina complementar de Cana Brava.
Os estudos de viabilidade dessa usina,
iniciados em novembro de 1986, também
foram feitos por Furnas em conjunto com
a Iesa. A preparação do relatório, publicado
em dezembro de 1987, envolveu uma série
de prospecções, visitas e trabalhos de
campo e de laboratório. As investigações
sobre o meio ambiente físico, biológico,
socioeconômico e cultural tiveram uma
ênfase especial, com a realização inclusive
de uma pesquisa de campo nos municípios
de Minaçu e Cavalcante, para a coleta
de dados socioeconômicos e culturais a
partir de questionários e entrevistas.
1984-1997 Capítulo 7 | 321

Segundo o estudo, o trecho do no Tocantins que impediam a navegação


Tocantins abrangido pelo reservatório de no trecho a montante desse ponto.
Cana Brava teria 92 quilômetros, limitando- Também não existia transporte ferroviário
se a montante por Serra da Mesa e a e linhas regulares de aviação.
jusante pelo futuro remanso do reservatório Os estudos ambientais seguiram
da usina de Peixe, então, ainda um projeto a linha geral dos realizados para Serra
para o futuro. Como Serra da Mesa, Cana da Mesa, já que as usinas seriam muito
Brava ficaria entre os municípios goianos próximas, distando apenas 50 quilômetros
de Minaçu e Cavalcante, e a área inundada uma da outra. O trabalho contou com
totalizaria 139 quilômetros quadrados. a presença de técnicos com diferentes
A rede viária da região era servida formações no local, que viajaram pelo
principalmente por rodovias, sendo Tocantins desde o eixo da barragem de
a mais importante a BR-153 (Belém- Serra da Mesa até o de Cana Brava. O
Brasília), totalmente asfaltada. Só havia documento apresentou uma descrição
“Balsa do porto do Garimpo”. Fotografia do documento transporte fluvial a jusante de Porto detalhada da área, do ponto de vista
Aproveitamento hidroelétrico de São Félix: usina Cana
Brava. Relatório de impacto ambiental, 1989. Furnas/Iesa Nacional, devido aos muitos acidentes geomorfológico e do meio ambiente físico.

“A paisagem da região (...) caracteriza-se


por conter um estreito vale do rio Tocantins
margeado pelas serras da Mesa, de Cana
Brava, da Bibiana e Branca, em cotas que
variam de 400 a 1.100 metros de altitude. A
área de entorno da usina de Cana Brava pode
ser diferenciada em dois compartimentos.
Do eixo da barragem até as proximidades do
porto do Garimpo as altitudes são baixas,
com predomínio de relevo suavemente
ondulado, constituindo a área de ocorrência
da depressão do Tocantins. Este trecho
corresponde ao de maior área a ser
inundada. Do Porto do Garimpo até a usina
de Serra da Mesa o relevo é movimentado e
dominam as elevadas altitudes pertencentes
ao planalto do alto Tocantins. Neste trecho
encaixado do rio, o reservatório inundará
apenas alguns metros da planície aluvial.”
(Furnas; Iesa, dez. 1987, v. 3: 1.2)
322 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Quanto à flora e à fauna, Alguns pontos críticos quanto aos


“Mineração de ouro no rio do Carmo”. Fotografia do docu-
foram feitas pesquisas de campo impactos no meio ambiente foram mento Aproveitamento hidroelétrico de São Félix: usina
Cana Brava. Relatório de impacto ambiental, 1989. Fur-
em diferentes épocas do ano, estudados, tendo sido apontados, nas/Iesa
correspondentes às estações seca entre outros, a inundação de áreas
e chuvosa, tendo em vista observar de mineração aurífera localizadas às “Localização regional: rede viária”. Reprodução do traçado
de mapa do documento Aproveitamento hidroelétrico de
a variação de comportamento das margens do Tocantins e a transferência, São Félix: usina Cana Brava. Relatório de impacto ambien-
espécies vegetais e animais em após o enchimento do reservatório, tal, 1989. Furnas/Iesa

cada período. Para a identificação das atividades agropecuárias que


da vegetação e de parte da fauna ocorriam em sua porção noroeste
estudadas, a equipe contou com a para o sopé da serra da Cana Brava, o
ajuda do herbário e dos departamentos que provocaria danos às encostas.
de Botânica, Entomologia, Invertebrados
e Vertebrados do Museu Nacional.
Nesse aspecto, os estudiosos seguiram
a prática consagrada pelos antigos
naturalistas, recolhendo nas instituições
científicas o material coletado em
campo para pesquisa posterior.

“Durante as pesquisas de campo, foi


feita observação e coleta do material em
flor, para posterior identificação. (...) As
amostras foram colhidas ao longo do curso
do rio Tocantins e nas principais formações
botânicas da área do entorno. Foram
registradas também as espécies comuns
na região, que embora não estivessem
férteis eram passíveis de reconhecimento.
(...) Foram observadas as macrófitas
aquáticas encontradas nos cursos d’água
percorridos, com identificação in loco. (...)
O levantamento dos vertebrados superiores
(aves e mamíferos) foi complementado
através de observações de campo.
O levantamento entomológico (insetos)
e herpetológico (répteis e anfíbios) foi
complementado por coletas representativas
nas diferentes formações vegetais.”
(Furnas; Iesa, dez. 1987, v. 3: 3.9)
1984-1997 Capítulo 7 | 323

APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO DE SÃO FÉLIX: USINA CANA BRAVA


LOCALIZAÇÃO REGIONAL - REDE VIÁRIA

50º 49º 48º 47º 46º

12º PEIXE 12º


LEGENDA
1. UHE Serra da Mesa

2. UHE Cana Brava

PARANÃ

Rio T
Limite interestadual

o ca n Limite da área de influência direta


tins
PALMEIRÓPOLIS ARRAIAS
Limite dos reservatórios
13º 13º
CAMPOS BELOS
Sedes dos municípios

MONTE
T ALEGRE DE GOIÁS Ferrovia projetada
2
PORANGATU
AT Rodovias principais
MINAÇU
Rodovias secundárias
SANTA
A TEREZA
CAMPINAÇU
BAHIA
DE GOIÁS CAVALCANTE
1
GOIÁS NOVA ROMA REFERÊNCIAS
14º
Base cartográfica apoiada nas folhas 50-22
14º
POSSE a 50-23 do Brasil ao milionésimo - IBGE e
no mapa do Instituto de Desenvolvimento
ALTO PARAÍSO DE GOIÁS
Urbano e Regional - INDUR
SÃO LUÍS
DO TOCANTINS
ALVORADA
URUAÇU NIQUELÂNDIA DO NORTE

SÃO JOÃO
DA ALIANÇA

15º 15º

RUBIATABA
B BARRO ALTO

CERES GOIANÉSIA
A
PLANALTINA
MINAS
FORMOSA
GERAIS
ITAPURANGA
U

JARAGUÁ

DISTRITO FEDERAL
16º 16º

ANÁPOLIS

GOIÁS
0 20 40 60 80 100 Km

50º 49º 48º 47º 46º


ESCALA ORIGINAL: 1: 1.000.000
324 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Entre as formações vegetais se de 545 pessoas, que habitavam


“Porco do mato ou Queixada”. Ilustração de Ecymonte
existentes na área de influência direta, esparsamente a região, em condições de Conrado
encontrava-se um ambiente especial, vida – como já se tinha constatado nos
a vereda, que ocorre nas cabeceiras primeiros levantamentos – muito precárias “Área de influência direta: formações vegetais”. Reprodu-
ção do traçado de mapa do documento Aproveitamento
de rios e nascentes em depressões e sem acesso aos serviços públicos hidroelétrico de São Félix: usina Cana Brava. Relatório de
impacto ambiental, 1989. Furnas/Iesa
e vales, onde o solo é saturado fundamentais. A atividade econômica era
permanentemente de água. A preservação a criação de poucas cabeças de gado e
das áreas de vereda era importante para alguma lavoura, ambas de subsistência,
a manutenção dos mananciais hídricos, e a comunicação entre as margens
especialmente aqueles ligados à bacia direita e esquerda do Tocantins, naquele
de alimentação do rio Tocantins.Os trecho, se fazia por balsas, tornando-
componentes da vegetação são em geral se intermitente na época de chuvas.
especializados para viver nesse meio.

“[Na vereda] há poucos elementos de


porte arbóreo, sendo alguns típicos, como
o buriti (Mauritia flexuosa) e a buritirana
(Mauritia aculeata), e outros elementos
comuns à mata ciliar que lhe é contígua.
Neste caso, podemos citar para a região a
sete-galhas (Hirtella sp.) e duas espécies
de Clusia, como bastante frequentes.”
(Furnas; Iesa, dez. 1987, v. 3: 5.4)

Com relação ao ecossistema terrestre,


o desaparecimento das formações
vegetais reduziria a oferta de alimentos
para os animais e destruiria seus habitats.
A ictiofauna também seria afetada, com
a supressão de algumas espécies que
não se adaptariam às novas condições
do meio aquático. Entretanto, o lago
poderia ser povoado com outras espécies
regionais, o que ensejaria um programa
de incentivo à pesca junto à comunidade.
A população diretamente afetada
pelo surgimento do lago compunha-
1984-1997 Capítulo 7 | 325

APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO DE SÃO FÉLIX: USINA CANA BRAVA


ÁREA DE INFLUÊNCIA DIRETA: FORMAÇÕES VEGETAIS
700.000 720.000 740.000 760.000 780.000 800.000 820.000 180.000 200.000 220.000 240.000
3.560.000
Mudança
de fuso
SA
RE

Rio Tocantins
TE
A.
ST
RIO

UHE CANA
BRAVA
3.540.000

PORANGATU
o
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Rio Sant

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Rio C MINAÇU
3.520.000

Félix
Rio São

FORMOSO

3.500.000 SANTA TERESA


DE GOIÁS
UHE SERRA
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ns
CAMPINAÇU Rio

nti
Pr

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eto
CAVALCANTE
To
Rio
Rio Claro
ESTRELA DO NORTE
3.480.000

3.460.000
Rio Bagage

s COLINAS
tin
an ALTO PARAÍSO
oc
m

T DE GOIÁS
Rio Rio
To
ca
nt
inz
inh
o
3.440.000

0 5 10 15 20 25 Km

ESCALA ORIGINAL: 1: 1.250.000


3.420.000

LEGENDA REFERÊNCIAS
Cerradão 1. Base cartográfica: folhas SD-22-X-D, SD-22-Z-B, SD-23-V-C,
Rede hidrográfica
Cerrado aberto SD-22-Y-A, na escala 1.250.000 do IBGE.
Área dos reservatórios
Campo cerrado 2. Área do reservatório na EL 230,00 m. obtida por redução das folhas
Sistema viário principal do serviço cartográfico da Geofoto na UHE-SFE-C-002/75, na escala
Área de pastagem
Núcleos populacionais 1:25.000.
Área de cultivo
326 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes BELÉM

Turé/Mariquita II
Turé/Mariquita
Mapacaxi

O futuro reservatório também na economia do país, como demonstrava Tembé


Amanayé Anambé
afetaria uma parte da reserva dos o estudo de viabilidade de Cana Brava. Sarauá
Barreirinha
índios avá-canoeiros, pois uma estrada Quase a metade (49%) da população Trocará

TUCURUÍ
ligando Minaçu a Colinas, via Serra economicamente ocupada do Centro- Amanaye

da Mesa, seria construída por Furnas, Oeste tinha renda inferior a dois salários
atravessando o território indígena. mínimos, o que a classificava como pobre. Nova Jacundá

Além disso, a explosão de rochas, Os estudos de Furnas para Cana Parakanã Mãe Maria

necessária à construção de Serra da Brava prosseguiram com a publicação, MARABÁ


IMPERATRIZ
Mesa, poderia representar um risco em janeiro de 1989, do Rima do Tuwa
Sororó Krikate
para os indígenas que se encontrassem empreendimento, elaborado pela Iesa Apekuwokawera
Apinayé
PARAUPEBAS

ntins
na área de influência de Cana Brava. com a mesma linha metodológica Apinayé II

Rio Toca
O trabalho da Iesa mostrava ainda adotada no estudo de viabilidade.
Xambioá
dois importantes impactos da usina de
ARAGUAÍNA BALSAS
Cana Brava. Um era o fim da praia do
Las Casas
Porto Um, no Tocantins, um ponto de
REDENÇÃO
encontro da população de Minaçu nos CONCEIÇÃO
DO ARAGUAIA Kraolândia
fins de semana de sol. A consultora Maranduba

ia
propunha que fossem criadas áreas Karajá Santana

ua
do Araguaia

ag
de lazer ao longo do reservatório para

Ar
Rio
substituir esse programa tão integrado à Xerente
Lago Grande
cultura ribeirinha. O outro impacto era a
PALMAS
inundação das ruínas do antigo arraial de
“Terras Indígenas nas imediações dos rios To- Tapirapé Karajá

São Félix, do século XVII, próximo à foz do cantins e Araguaia: situação fundiária”. 2012.
Inawé Bohona PORTO
Fundação Nacional do Índio (Funai - Brasil) NACIONAL
ribeirão que, desde o início, havia batizado Krerenhé Krahô Canela

o aproveitamento. A recomendação da Em fase de estudos ou com Portaria de Parque do


Araguaia GURUPI
restrição de uso Cacique
Iesa era que fosse feito o salvamento Fontoura
Taego_awa
Com relatório antropológico e limites
arqueológico desse patrimônio. aprovados pela Funai
Javaé
Canoanã
Wahuri

As obras do aproveitamento
Com relatório antropológico e limites
hidrelétrico de São Félix – Serra da reconhecidos pelo Ministério da Jus-
tiça
Mesa e Cana Brava – tinham como
Com demarcação aprovada pela Presi-
pano de fundo regional a necessidade dência da República
MINAÇU

de desenvolvimento do Centro-Oeste Avá-Canoeiro


Adquirida ou em processo de aquisição URAÇU
brasileiro. Apesar dos diversos programas
Com registro no cartório de registro de
governamentais em curso na região desde imóveis e na Secretaria do Patrimônio
Carretão II
a década de 1940, perdurava o quadro da União Carretão I

de pobreza e baixa inserção da população Coordenação Regional da Funai


BRASÍLIA
1984-1997 Capítulo 7 | 327

Além da área diretamente afetada, “[A cidade de Minaçu] Surgiu em função da


“Área urbana de Minaçu”, fotografia do documento Apro-
veitamento hidroelétrico de São Félix: usina Cana Brava. correspondente ao necessário à instalação em 1965 da Sama (Sociedade
Relatório de impacto ambiental, 1989. Furnas/Iesa Anônima de Mineração de Amianto). Criado
implantação das obras e à formação do
o distrito em 1965, emancipou-se como
reservatório na parte urbana de Minaçu, município em 1976, tendo sido seu território
também foram consideradas, para fins desmembrado de Uruaçu. Além do núcleo
analíticos, as áreas de entorno e de urbano em franco processo de crescimento
influência direta e indireta. Começando- e da rarefeita população na zona rural
dedicada ao cultivo de grãos e pecuária
se pela área diretamente afetada, a
extensiva, o município vem tendo algumas
superfície de território de cada uma localidades gradativamente povoadas em
delas era crescente, uma estando virtude do surgimento de garimpos que
contida na seguinte, mas o nível de se mantém em função de sua produção.
O município de Cavalcante, criado em
profundidade da análise era decrescente.
1931, vem mantendo sua estrutura secular,
Com relação à cidade de Minaçu com inexpressivo desenvolvimento
e ao município de Cavalcante, o Rima urbano e apresentando um quadro
apresentava um histórico da fundação rural similar ao de Minaçu.”
e uma caracterização sumária. (Furnas; Iesa, 1989, v. 1: 3.2)
328 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A população na área diretamente das encostas, de desenvolvimento agrícola


“Viveiro de germinação na área de estudos da usina hi-
afetada tinha uma distribuição dispersa, na área do entorno, de salvamento de drelétrica Serra da Mesa”. Fotografia de Rodrigo Fellipo.
Furnas
compondo-se por um contingente de espécimes de fauna (inclusive ictiofauna)
jovens, com tempo médio de residência e flora, complementado pela criação
Na outra página “Gambá” e “Gato do mato”, habitantes do
na região de dez anos. As condições de uma estação ecológica e outra entorno da usina hidrelétrica Serra da Mesa. Fotografia de
Hamilton Garboggini. Furnas
de saneamento e higiene não eram de piscicultura em Serra da Mesa.
satisfatórias, mas as moradias eram Quanto aos impactos no meio
descritas como construções aceitáveis. socioeconômico e cultural, também
seriam estabelecidos programas e ações
“O estado geral e de conservação de para minimizar os efeitos deletérios do
seus domicílios [da população] é razoável,
empreendimento. O remanejamento da
predominando as habitações de alvenaria
com telha de barro, embora exista um população, com apoio da comunicação
número considerável de habitações de social, era a ação proposta para diminuir os
pau-a-pique e cobertura de sapê (...).” transtornos decorrentes do deslocamento
(Furnas; Iesa, 1989, v. 1:3.24) compulsório dos residentes na área.

Segundo o documento, a maior


parte dos impactos nos meios físico e
biológico seria resultado do enchimento
do reservatório. Já no aspecto
socioeconômico, também as obras e
serviços de apoio às usinas, tanto Serra
da Mesa quanto Cana Brava, causariam
interferências. A recomendação era que
fossem implementadas todas as ações
ambientais sugeridas, para reverter
parcela dos impactos negativos.
Entre os programas propostos, com o
objetivo de atenuar os impactos nos meios
físico e biológico, encontravam-se os
dedicados à minimização das alterações na
paisagem, que incluíam o reflorestamento
da faixa ciliar e a recomposição das áreas
degradadas. Havia ainda programas de
controle e monitoramento da qualidade da
água, de acompanhamento da estabilidade
330 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Mesmo o impacto altamente danoso sobre ocorreu em julho de 1996. Entretanto,


“Identificação dos pontos críticos: meio socioeconômico
a estrutura da cidade de Minaçu, com o as obras somente seriam iniciadas e cultural”. Reprodução do traçado de mapa do documen-
to Aproveitamento hidroelétrico de São Félix: usina Cana
expressivo crescimento populacional durante três anos depois. A programação das Brava. Relatório de impacto ambiental, 1989. Furnas/Iesa
a construção das usinas de Serra da Mesa demais usinas previstas para o Tocantins
e Cana Brava e com a proximidade das também foi bastante alterada e, em
margens do lago, poderia ser revertido. vários casos, até mesmo suspensa.
No início de 1990, ao assumir como
“Após a implementação das ações primeiro presidente eleito de forma
ambientais, que se fundem como as dos
direta após o ciclo de governos militares,
programas que atenderão à comunidade
urbana, quando a cidade margeada pelo lago Fernando Collor de Mello (1990-1992) deu
contar com as melhorias na infraestrutura início a uma série de reformas de cunho
urbana e na rede de serviços públicos, liberal, incluindo propostas abrangentes
com as medidas de controle de uso e de privatização e de abertura da economia
ocupação do solo, e com uma maior
brasileira. Com o objetivo prioritário de
oferta de áreas de recreação e lazer, o
impacto poderá tornar-se positivo.” conter a alta da inflação, que atingira o
(Furnas; Iesa, 1989, v. 1: 5.9) patamar de 80% ao mês, foi adotada
uma inédita redução compulsória do
Apesar dos esforços das dinheiro circulante. Contudo, o conjunto de
concessionárias em prosseguir seus medidas adotadas na ocasião, conhecidas
estudos sobre os empreendimentos como Plano Collor, não foi capaz de
no Tocantins, o agravamento da crise resolver os problemas econômicos,
econômica e institucional no país e, por e a inflação voltou a elevar-se.
extensão, no setor de energia elétrica, No ano seguinte, o Plano Collor 2,
resultou na paralisação quase total de que teve curta duração, entre outras
muitas obras. A construção de Serra providências, instituiu um novo
da Mesa, por exemplo, foi praticamente congelamento de preços e salários.
interrompida em 1989. O projeto de Embora a inflação tenha cedido, estava
Cana Brava, por sua vez, teve sua longe de estar controlada, e o quadro
licença prévia expedida em nome de recessivo aprofundou-se. Em meio
Furnas pela Fundação Estadual de Meio a esse cenário de dificuldades, em
Ambiente de Goiás (Femago) em 1990, outubro de 1991, com o leilão da Usinas
após aprovação do EIA e respectivo Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas),
Rima, que haviam sido entregues em foi iniciado o Programa Nacional de
novembro do ano anterior. O relatório Desestatização (PND), gerido pelo
final do Projeto Básico foi concluído Banco Nacional de Desenvolvimento
em 1995, e sua aprovação pelo Dnaee Econômico e Social (BNDES).
1984-1997 Capítulo 7 | 331

APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO DE SÃO FÉLIX: USINA CANA BRAVA


PONTOS CRÍTICOS - MEIO SOCIOECONÔMICO E CULTURAL

780.000 790.000 800.000 820.000 830.000 840.000 850.000

UHE CANA OSSADA


BRAVA ARQUEOLÓGICA
LEGENDA
RUÍNA Rede hidrográfica
DO CARMO
São José do Paraíso Núcleos populacionais
OLARIA
Garimpo
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do Carmo Rio do Ca

Limite da área do entorno


PORTO 3 - BALNEÁRIOS
SERRARIA
Povoados
Paz Fortaleza
PORTO DOS PAULISTAS
PORTO 1- BALNEÁRIOS nio Pontos críticos
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CAVERNA Rio S
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Rio C Buriti
PORTO DO BURITI RUÍNAS DE
SÃO FÉLIX Ri
oS Manufaturas
Minaçu ão
MATADOURO Fé Travessias feitas com canoas
MUNICIPAL lix
Balsas
De interesse histórico

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Paz Água Branca PORTO DO GARIMPO De interesse paisagístico

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De interesse arqueológico

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CACHOEIRA Corrutela do Divino
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Corrutela do Bigode
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REFERÊNCIAS
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1. Base cartográfica: folhas 50-22-X-D-III,


50-22-X-D-IV, a 50-22-X-C-I e 50-22-V-C-
IV na escala 1.250.000 do IBGE.
Rio Pret

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serviço cartográfico da Geofoto na UHE
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SPE-C-002/75 na escala 1:25.000.


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ESCALA ORIGINAL: 1: 1.000.000


332 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Aos difíceis problemas de caráter concluído em junho de 1994, foi o


econômico por que passava o país, acesso por parte das empresas a novos
somou-se uma grave crise política e mecanismos de captação de recursos para
institucional provocada por denúncias financiamento no mercado de capitais.
de corrupção no governo, culminando Paralelamente ao saneamento
com o afastamento do presidente Collor financeiro do setor, o governo procurou
em outubro de 1992. Com a abertura atrair a participação de agentes privados
do processo de impeachment de para a expansão dos sistemas elétricos
Collor, o vice-presidente Itamar Franco do país. Com o objetivo de viabilizar a
assumiu a Presidência da República, retomada de obras ou projetos paralisados
permanecendo no cargo até 1994. pelas empresas estatais por falta de
No âmbito das empresas de energia recursos, o Decreto nº 915, de setembro
elétrica, após vários anos com poucos de 1993, autorizou a formação de
investimentos durante a década de 1980, consórcios entre concessionárias públicas
as metas previstas nos planos de expansão e autoprodutores para a exploração
já estavam totalmente comprometidas. de aproveitamentos hidrelétricos.
Do ponto de vista institucional, o setor de Quase ao final da gestão de Itamar
energia elétrica também experimentava Franco, o governo obteve finalmente
uma crise sem precedentes, materializada a estabilização econômica, a partir do
numa cadeia de inadimplências envolvendo estabelecimento do Plano Real, em 1994.
as concessionárias públicas estaduais, as Com a inflação domada e a eleição do
empresas supridoras federais, a Eletrobras novo presidente da República. Fernando
e até mesmo a Itaipu Binacional. Em Henrique Cardoso (1995-1998), uma
1992, as dívidas das concessionárias série de novas decisões foi tomada
estaduais acumuladas pelo não pagamento para reformar o setor produtivo estatal.
da energia comprada para distribuição A orientação geral era implantar um
atingiram a marca de 5 bilhões de dólares. modelo de mercado e transferir para
O impasse entre as empresas o capital privado a responsabilidade
começou a ser resolvido com a edição pela expansão dos sistemas.
da Lei nº 8.631, sancionada em março O ponto de partida para as reformas
de 1993. Entre as medidas adotadas pretendidas foi a promulgação, em 1995,
por esse instrumento legal estava a das leis n° 8.987 e n° 9.074, sobre a
promoção de um acerto de contas entre concessão de serviços públicos em geral,
as companhias, restabelecendo o fluxo a primeira, e especificamente sobre
financeiro. Um dos efeitos positivos da os serviços públicos de eletricidade,
efetivação desse encontro de contas, a segunda. As mudanças no quadro
1984-1997 Capítulo 7 | 333

de aproveitamentos hidrelétricos, num


total de 19 mil megawatts de capacidade
estimada em todo o país. Nessa ocasião,
a Eletronorte teve canceladas as seguintes
concessões para aproveitamentos
projetados no rio Tocantins: Marabá, Serra
Quebrada, Estreito, Tupiratins, Lajeado
e Ipueiras. Furnas, por sua vez, deixou
de ser responsável pelas concessões
de Cana Brava e Peixe, no mesmo rio.
Entretanto, atendendo a reivindicação
de empresas federais e estaduais, abriu-
se a possibilidade de prorrogar por vinte
anos as concessões vencidas e vincendas,
desde que atendidas certas condições.
As concessões de geração com obras
paralisadas ou não iniciadas poderiam
ser estendidas se pelo menos um terço
do capital necessário à finalização do
empreendimento fosse privado. Em
novembro de 1995, foram definidos
os procedimentos para a prorrogação
regulador estabeleceram regras para as de concessões nessa situação.
“Praia do Tucunaré em Marabá”. Prefeitura do Município
de Marabá licitações das concessões, reconheceram Como não poderia deixar de ser, o
a figura do produtor independente de novo modelo institucional do setor de
energia elétrica, quebrando o virtual energia elétrica interferiu diretamente
monopólio das empresas estatais na no desenvolvimento do conjunto de
geração e abrindo as portas para a projetos hidrelétricos do rio Tocantins
participação da iniciativa privada no setor. e, com exceção de Serra da Mesa,
Como consequência, foram todos esses aproveitamentos foram
declaradas inválidas as concessões sendo sucessivamente licitados e
outorgadas sem licitação, na vigência assumidos por vários agentes, muitos da
da Constituição de 1988 e antes de sua iniciativa privada, que se encarregaram
promulgação, quando as obras e serviços de dar prosseguimento aos estudos
não tivessem sido iniciados. O governo e projetos e também executar a
decretou a extinção de 33 concessões construção das hidrelétricas.
334 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

No caso de Serra da Mesa, Furnas participação em Serra da Mesa para sua


manteve a concessão do aproveitamento, controlada, a Companhia Paulista de
cujas obras preliminares já tinham Força e Luz (CPFL Geração), atualmente
sido iniciadas. Com base no que detentora de 51% do empreendimento.
dispunha o Decreto nº 915 sobre a Serra da Mesa protagonizou
associação entre empresas públicas e ainda outro fato inédito: foi autorizada
autoprodutores, ainda em 1994, por meio pelo Congresso Nacional, em 1996,
de uma iniciativa inovadora, a empresa a interferir em uma área de reserva
estabeleceu um termo de compromisso indígena, a dos avá-canoeiros. Desde a
com a Nacional Energética, subsidiária Constituição de 1988, as interferências
criada pelo Banco Nacional. Pelos em terras indígenas teriam que ser
“Obras da usina hidrelétrica Serra da Mesa”. CPFL
termos do acordo, a estatal continuaria previamente aprovadas pelo Congresso.
responsável pela construção e pela
operação da usina de Serra da Mesa, e
o grupo privado aportaria os recursos
necessários à continuidade das obras,
tendo direito a 54% do empreendimento
e da energia que viesse a ser produzida.
O acordo foi homologado em 1995, com
a formação do consórcio Energisa.
Nesse mesmo ano, porém, o
Banco Nacional sofreu intervenção do
Banco Central, e a Nacional Energética
passou às mãos da Dynamis Energética,
empresa criada pelo BNDES para sucedê-
la na associação com Furnas. A obra
então prosseguiu com financiamento do
próprio BNDES. Em 1997, a Dynamis,
depois denominada Serra da Mesa
Energia (Semesa), foi vendida ao grupo
VBC Energia, formado pela Votorantim,
Bradesco e Camargo Corrêa. A usina,
afinal, entrou em operação em 1998,
completando em outubro a potência
instalada total de 1.275 megawatts.
Três anos depois, a VBC transferiu sua
1984-1997 Capítulo 7 | 335

Ao longo dos anos em que a


“Índio Iawí na área do escritório de Furnas”. Fotografia do
documento Aproveitamento hidroelétrico de São Félix: construção esteve paralisada, o projeto
usina Cana Brava. Relatório de impacto ambiental, 1989.
Furnas/Iesa do extenso reservatório foi revisto,
de forma que o Parque Nacional da
Chapada dos Veadeiros não fosse
afetado. O parque, criado em janeiro de
1961 com o nome de Parque Nacional
do Tocantins, já havia tido muito de
sua área original reduzida, em julho
de 1981, pelo Decreto nº 86.173.
Mais da metade de sua área de 60 mil
hectares localizava-se no município de
Cavalcante, incluindo grande parte do
alto curso do rio Preto, um dos principais
formadores do futuro reservatório de
Cana Brava. O reservatório de Serra da
Mesa, o maior em volume da América
Latina, com capacidade para armazenar
54 bilhões de metros cúbicos de
água, tornou-se estratégico para a
operação do sistema interligado Sul/
Em contrapartida, Furnas criou o Sudeste/Centro-Oeste e para as usinas
Programa Avá-canoeiro do Tocantins localizadas a jusante no rio Tocantins.
(Pacto), para atender ao pequeno Já a concessão para o
grupo sobrevivente desses índios – um aproveitamento de Cana Brava foi objeto,
homem, três mulheres e um casal de em março de 1998, de um dos primeiros
jovens irmãos. Pelo programa, a empresa leilões conduzidos pela Agência Nacional
comprometeu-se a oferecer assistência de Energia Elétrica (Aneel). Essa agência,
médica, ensino bilíngue e ajuda para instalada no ano anterior, havia sido
atividades agrícolas. As terras afetadas criada como uma autarquia vinculada ao
pelo reservatório foram repostas numa Ministério de Minas e Energia (MME), mas
área contígua à reserva. A concessionária com autonomia decisória com relação ao
providenciou também a regularização Executivo. Sucessor do Departamento
fundiária das terras dos avá-canoeiros Nacional de Águas e Energia Elétrica
e mantém na sede da usina um centro (Dnaee), o novo órgão regulador e
histórico sobre a cultura da comunidade. fiscalizador das atividades de energia
336 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1984-1997 Capítulo 7 | 337

elétrica do país, tinha como funções Os aproveitamentos hidrelétricos


Na outra página, “Aspecto do meio ambiente no reserva-
tório da usina hidrelétrica Serra da Mesa”. Furnas principais promover a licitação de localizados no médio Tocantins,
novas concessões, aprovar os estudos anteriormente sob a responsabilidade
de viabilidade dos empreendimentos, da Eletronorte, também tiveram
fixar as tarifas de energia elétrica, suas concessões licitadas a partir
fiscalizar o cumprimento dos contratos da segunda metade da década de
de concessão e aplicar as penalidades 1990. No caso de Lajeado, a Celtins
regulamentares e contratuais. obtivera autorização do Dnaee para dar
O certame foi vencido pelo grupo continuidade aos estudos necessários
belga Tractebel e, para a construção ao desenvolvimento do projeto ainda
da usina, foi criada uma subsidiária, a em junho de 1995, mas sem nenhum
Companhia Energética Mercosul (CEM), direito assegurado de obtenção da
atual Companhia Energética Meridional, concessão. O relatório final dos estudos
com a mesma sigla. A licença de deveria ser apresentado no prazo de 18
instalação do empreendimento foi meses, prorrogável por mais um ano.
expedida pela Femago em setembro de Executados pela Themag, em
1998, após a apresentação pela CEM de conjunto com a Celtins, os estudos de
algumas atualizações de dados do EIA viabilidade e de impacto ambiental,
e do Projeto Básico Ambiental (PBA). assim como o relatório de impacto
A construção teve início no ano ambiental de Lajeado, foram publicados
seguinte, e as três unidades em novembro de 1996. Esses estudos
geradoras da hidrelétrica, com 150 basearam-se no trabalho de revisão
MW cada, entraram em operação do inventário do Tocantins, executado
entre maio e setembro de 2002. em meados da década anterior pela
Cana Brava foi o primeiro projeto de mesma consultora, contratada na
Produção Independente de Energia época pela Eletronorte. Os resultados
(PIE) realizado na modalidade de dessa revisão do inventário haviam
project finance no país. O BNDES sido aprovados pelo Dnaee em abril de
e o Banco Interamericano de 1992, redefinindo o local da usina de
Desenvolvimento (BID) financiaram Lajeado em relação ao que havia sido
parcelas correspondentes a 29% e sugerido nos primeiros levantamentos
40% do custo do empreendimento, hidrenergéticos da década de 1970
estimado em 369 milhões de e indicando o aproveitamento como
dólares. A energia assegurada de interesse para a continuidade dos
de Cana Brava foi integralmente estudos, em termos de viabilidade,
contratada com a Tractebel. junto com o de Serra Quebrada.
338 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

USINA HIDRELÉTRICA LAJEADO - MONTANTE


REGIÃO DE INSERÇÃO

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NATIVIDADE

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PONTE ALTA
NOVO
ACORDO
1984-1997 Capítulo 7 | 339

O empreendimento, localizado entre Em termos mercadológicos, Lajeado


Na outra página, “Usina hidrelétrica de Lajeado - Montante.
Região de inserção”. Reprodução de traçado constante a nova capital do Tocantins, Palmas, e tinha relevância por sua futura conexão
do documento Apresentação do aproveitamento de usos
múltiplos de Lajeado, 1988. Eletronorte Miracema do Tocantins, era considerado aos sistemas elétricos Norte/Nordeste
um dos mais atraentes do ponto de e Sul/Centro-Oeste por intermédio da
“Índios xerentes na estrada que liga Tocantínia a Novo vista da relação custo-benefício, e os planejada Linha Norte-Sul. Esse ambicioso
Acordo, com pequeno carregamento de milho”. Fotografia
do documento Estudos de inventário do médio Tocantins: impactos ambientais e socioeconômicos projeto de linhas de interligação, cobrindo
relatório final, 1987. Eletronorte/Themag
previstos eram tidos como controláveis. cerca de 1,2 mil quilômetros, desde
A potência instalada prevista era de Imperatriz, no Maranhão, até Samambaia,
950 megawatts, com a instalação de em Brasília, seria inaugurado em 1999.
seis unidades geradoras. O reservatório Entre setembro de 1995 e novembro
resultante do barramento do Tocantins de 1996, os técnicos da Themag
integrava o planejamento urbanístico novamente viajaram pela região para a
original de Palmas, afetando uma área realização de pesquisas, investigações
de 750 quilômetros quadrados, da qual e estudos complementares aos dados
a população residente teria que ser existentes. O acesso ao local podia ser feito
remanejada. A reserva indígena xerente, a partir da rodovia Belém-Brasília (BR-153),
embora situada na margem direita paralela à margem esquerda do Tocantins,
do rio e contida na área de influência ou, por via aérea, em voos regulares
direta da usina, não seria alagada. ligando os maiores centros urbanos
do país a Porto Nacional ou Palmas.
O relatório ressaltava a diversidade
da vegetação local, onde predominava o
cerrado. Segundo os técnicos, as diferentes
fisionomias do cerrado estavam todas
presentes na área de influência de Lajeado,
formando um mosaico de vegetação,
ora mais aberta, ora mais fechada,
apresentando arbustos em alguns trechos
e florestas nas margens dos cursos d’água.
A região propiciava ainda nos terrenos
de baixo relevo a formação de lagoas, e
a serra do Lajeado, com altitudes de até
600 metros, favorecia o surgimento de
riachos que desaguavam no rio Tocantins e
funcionavam como fontes de água potável
para as cidades vizinhas, como Palmas.
340 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Daí a variedade de espécies “As formações florestais dos tributários, que


“Perfil esquemático da vegetação desde a serra do La-
vegetais encontrada pela Themag e, se iniciam nas encostas da serra do Lajeado, jeado até as margens do rio Tocantins”. Reprodução de
penetram na Área Diretamente Afetada e ilustração do documento Usina hidrelétrica de Lajeado: re-
no caso das aquáticas e de brejos, latório de impacto sobre o meio ambiente,1996. Celtins/
têm continuidade com as florestas do rio
em boa parte pouco conhecidas dos Themag
Tocantins que, por sua vez, estendem-
cientistas e incomuns nas áreas mais se por todo o curso d’água, formando um
“Serra de Lajeado”. Agência de Desenvolvimento Turístico
secas e mais típicas do cerrado. Pela corredor de matas que se liga às florestas do Estado do Tocantins
descrição dos técnicos, essa vegetação amazônicas. Há, portanto, uma continuidade
entre as matas da área a ser alagada, situada
formava tapetes floridos, com suas
em região caracterizada pelo cerrado, com
raízes entrelaçadas por baixo nas lagoas as florestas amazônicas. Por esta razão,
rasas. Além disso, na área diretamente algumas espécies vegetais da Amazônia
afetada pelo reservatório, em que também podem ser encontradas nas
margens do Tocantins, na área a ser alagada.”
os ambientes eram mais úmidos, o
(Celtins; Themag. UHE Lajeado - Estudos
cenário adquiria traços amazônicos. de viabilidade..., 1996, v. 1: 116)

1
2

4 4 4
2

1 3 5
6 7

1. CAMPO CERRADO
2. FORMAÇÕES FLORESTAIS - encosta
3. CAMPO SUJO
4. FORMAÇÕES FLORESTAIS - de galeria
5. CERRADO
6. CAMPO ANTRÓPICO
7. ÁREA ÚMIDA

PERFIL ESQUEMÁTICO DA VEGETAÇÃO DESDE A SERRA DO LAJEADO ATÉ AS MARGENS DO RIO TOCANTINS
(baseado em Montavini et ali, s.d.)
342 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Os técnicos alertavam para o fato


de que a pecuária praticada na região
alterava esse cenário, com queimadas
para o manejo de pastos, e, como
caracterizado pelo estudo, com o uso de
gramíneas exóticas, ou seja, não nativas.
As características peculiares do
ecossistema da região de Lajeado
refletiam-se diretamente na fauna local.

“O mosaico de vegetação (...) propicia


uma maior variedade de habitats e, devido
às variações de período de floração e de
frutificação das diferentes plantas, uma
maior disponibilidade alimentar para a
fauna. (...) Há também maior possibilidade
de movimentos dos animais que se
deslocam de um ambiente ao outro em suas
atividades de alimentação ou reprodutivas.”
(Celtins; Themag. UHE Lajeado - Estudos
de viabilidade..., 1996, v. 1: 118)

Nas áreas de acesso mais


difícil, com menos interferência do
homem, como a serra recoberta por duas-cabeças, por exemplo, tinha tido
“Vegetação aquática do reservatório da usina hidrelétrica
matas, buritizais ou cerrados, eram um único exemplar coletado até então, de Lajeado”. Fotografia do documento Usina hidrelétrica
de Lajeado: relatório de impacto sobre o meio ambiente,
encontradas inúmeras espécies de décadas antes, em Pedro Afonso. No rio 1996. Celtins/Themag
grande porte e raras em outras regiões, Tocantins, além do boto amazônico, causou
como anta, lobo-guará, onça e arara- surpresa aos pesquisadores a presença do
azul, a maior da América do Sul. jacaré-açu, espécie rara fora da Amazônia
Assim como a vegetação, o conjunto e também ameaçada de extinção. Outras
de animais da área diretamente afetada espécies de jacarés e tartarugas também
pelo projeto de Lajeado era pouco se destacavam, apesar de a caça ilegal,
conhecido, especialmente os pequenos intensa até pouco tempo antes, ter
vertebrados como os anfíbios (rãs, reduzido a população desses animais.
pererecas e sapos), répteis (lagartos, Quanto à ictiofauna, foram feitas
cobras etc.) e mamíferos como roedores coletas em diferentes épocas, e os peixes
(ratos do mato) e morcegos. A cobra-de- recolhidos foram analisados no laboratório
1984-1997 Capítulo 7 | 343

de apoio estabelecido em Porto Nacional. Todos esses municípios pertenciam


“Jaú”, de Alexander Von Humboldt, 1821. Ilustração repro-
duzida no livro 40 peixes do Brasil: Cesp 40 anos, editado Após análise de mais de 5 mil exemplares, ao chamado Grande Entorno de Palmas,
pela Doiis em 2006
foram identificadas cerca de 170 espécies ocupado historicamente em função
de peixes, inclusive algumas migradoras. da extração de ouro e diamantes, da
pecuária extensiva e do transporte fluvial
“Dentre as espécies migradoras de pelo rio Tocantins. Com a construção
longas distâncias, identificadas na região,
da Belém-Brasília surgiram outros
destacam-se: o surubim, o jaú, o barbado,
o bacu, o curimatá, o jaraqui e a uburana. núcleos urbanos nos locais dos antigos
Estas espécies, pelo fato de migrarem acampamentos da obra da rodovia. Nos
longas distâncias para a reprodução e/ou anos 1980, com a implantação de Palmas
alimentação, são, normalmente, as mais na margem direita do rio, o espaço
prejudicadas com a construção de barragens,
regional mudou de forma substancial,
principalmente naquelas onde não há
dispositivos para a transposição de peixes.” e o Tocantins chegou a viver um boom
(Celtins; Themag. UHE Lajeado - Estudos imobiliário. Cidades como Miracema do
de viabilidade..., 1996, v. 1: 125) Tocantins, capital estadual provisória
até a conclusão de Palmas, e Porto
Nacional atraíram grandes contingentes
de trabalhadores de outros estados.

Ao se debruçar sobre os aspectos


socioeconômicos, os estudos enfocaram
a área de influência, composta pelos
municípios com terras a serem inundadas
pelo reservatório como Lajeado, Miracema
do Tocantins, Palmas, Brejinho de Nazaré
e Porto Nacional (ao longo do trabalho,
Ipueiras se separou de Porto Nacional e se
tornou município), e também Tocantínia,
que, embora não fosse ser alagada,
sofreria a influência do canteiro de obras.
344 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1984-1997 Capítulo 7 | 345

A equipe que participou dos estudos a pecuária extensiva e as lavouras


“Jacaré Açu”, ilustração de Ecymonte Conrado. 2002
encontrou, em meados da década de tradicionais de subsistência.
1990, uma situação bem diferente do A infraestrutura dos municípios era
prognóstico positivo anunciado quando razoável do ponto de vista da rede viária,
da criação do estado de Tocantins. As mas insuficiente nos setores de energia
dificuldades econômicas enfrentadas pelo e telecomunicações. O rio Tocantins
país no início dos anos 1990 atingiram apresentava naquele trecho dois pontos
em cheio o novo estado, extremamente de transposição: a ponte rodoviária em
dependente de investimentos públicos. Porto Nacional e o sistema de balsas
A iniciativa privada, apoiada em um em Miracema do Tocantins e Palmas.
primeiro momento no lucro fácil, conteve Em Porto Nacional, Palmas e Miracema
sua participação. Houve grande evasão do Tocantins, o rio era um atrativo a
da população urbana, desemprego mais no período de estiagem, a partir
crescente, e os preços dos imóveis e de junho, quando surgiam praias muito
das terras começaram a cair, tendendo frequentadas pela população das cidades.
a se estabilizar em níveis mais razoáveis, A população total da área de
após o período de intensa especulação. influência somava pouco mais de 131
mil habitantes, 13% do total estadual.
“Essa região é ainda bastante frágil do A grande maioria dos chefes de família
ponto de vista de sua organização espacial,
ganhava até três salários mínimos, e
refletindo na sua estrutura socioeconômica.
Abarca população de várias partes do país mais de 70% da população urbana era
com raízes culturais distintas, sendo que as alfabetizada. A área diretamente afetada,
pessoas naturais da região hoje são uma que seria inundada, abrigava 6.483
minoria. É dentro desse cenário que se habitantes, em áreas urbanas e rurais.
insere a implantação da UHE Lajeado. É um
empreendimento de porte que, por sua vez,
“Dentro da área de inundação foram
tenderá a consolidar o estado em formação e
identificados três aglomerados urbanos que
acarretará alterações a curto prazo na região.”
serão totalmente inundados, Lajeadinho em
(Celtins; Themag. UHE Lajeado - Estudos
Miracema do Tocantins, Vila Canela em Palmas
de viabilidade..., 1996, v. 1: 127)
e Vila Graciosa em Porto Nacional. A localidade
de Pinheirópolis e a sede municipal de Porto
Como em todo o médio Tocantins, Nacional serão parcialmente atingidas.”
a estrutura fundiária da área de (Celtins; Themag. UHE Lajeado - Estudos
de viabilidade..., 1996, v. 1: 139)
influência de Lajeado se caracterizava
pela forte concentração de terras,
com um solo de baixa qualidade. As
atividades econômicas principais eram
346 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A faixa de renda das famílias causadas pela construção de estradas


rurais que seriam atingidas estava no território da reserva. Além disso, havia
abaixo de três salários mínimos. a perspectiva de que as lavouras de
Essa população vivia de pequenas vazante mantidas pelos índios a jusante
lavouras, da criação de gado com baixa da barragem também fossem afetadas
produtividade e da extração de areia pela alteração do fluxo do Tocantins.
e argila para olarias de pequeno porte O EIA de Lajeado, concluído
da região. O remanejamento dessas em novembro de 1996, incluiu um
pessoas era considerado pela Themag diagnóstico ambiental, executado
o impacto ambiental mais relevante durante cerca de um ano a partir do
de Lajeado, ao lado dos transtornos segundo semestre de 1995. A equipe
advindos do significativo aumento da multidisciplinar que realizou o trabalho
população, com a vinda de pessoas foi composta por engenheiros civis e de
atraídas pelo empreendimento. recursos hídricos, geólogos, geógrafos,
Os estudos de viabilidade de engenheiros agrônomos e florestais,
Lajeado abordaram ainda a questão do biólogos especializados em vegetação,
uso múltiplo do reservatório. Previa-se, aves e peixes, economistas, advogados e “Rio Tocantins avança sobre os ribeirinhos em Lajeado”.
Fotografia do documento Estudos de inventário do médio
por exemplo, que a navegação seria sociólogos, arqueólogos e antropólogos. Tocantins: relatório final, 1987. Eletronorte/Themag

facilitada pela submersão definitiva das


corredeiras que atrapalhavam os barcos
comerciais, como a do Rebojo. Os projetos
de irrigação poderiam ser incentivados
com a ampliação da oferta de energia e a
extensão da orla banhada pelo Tocantins,
e novas praias permanentes poderiam
ser implantadas, substituindo as que
desapareceriam com o lago de Lajeado.
Outro ponto de atenção era
representado pela atração exercida pelos
canteiros de obras sobre a comunidade
dos índios xerentes que, em busca de
trabalho nas obras, afastava-se cada vez
mais de suas atividades tradicionais. A
tensão presente nas relações entre os
índios e o governo do Tocantins vinha
se acirrando com as interferências
1984-1997 Capítulo 7 | 347

O núcleo da equipe viajou ao Tocantins herborização e secagem e foi encaminhado


“Hygrophilla humistrata Rizzini”, “Dipladenia gardneriana
DC.” e “Macrosiphonia martii“. Isótipos: Brasil, Goiás. Ins- para fazer o reconhecimento da região e em seguida para identificação e
tituto de Botânica de São Paulo
também para efetuar levantamentos de incorporação ao acervo do instituto
campo, em particular na área diretamente paulista. As duplicatas foram destinadas a
afetada pelo empreendimento, que integrar a coleção do herbário da Fundação
incluía a área do futuro reservatório e Universidade do Tocantins (Unitins).
uma faixa de dois a dez quilômetros em As pesquisas pioneiras sobre a
seu entorno, além dos locais onde se vegetação das áreas de cerrado no Brasil
desenvolveriam as obras civis da usina e haviam sido feitas ainda no século XIX,
as atividades de apoio correspondentes. por Auguste Saint-Hilaire, Von Martius e
O trabalho sobre a vegetação os dinamarqueses Peter Wilhelm Lund
contemplou a coleta de material botânico e Johannes Eugenius Bülow Warming.
com o auxílio de um consultor do Instituto Mesmo assim, vastas extensões, como
de Botânica de São Paulo. Todo o material a região do rio Tocantins, permaneciam
coletado passou pelo processo habitual de com escassa documentação científica.
348 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Quanto à fauna, o EIA de Lajeado depositada no Museu de Ecologia e


“Área diretamente afetada e entornos - reservatório”. Re-
direcionou as atividades de campo Sistemática Animal da Unitins, em produção de traçado constante no documento Usina hi-
drelétrica de Lajeado: relatório de impacto sobre o meio
para a montagem de uma amostragem Porto Nacional. Alguns exemplares, ambiente, 1996. Celtins/Themag
da ornitofauna. A grande diversidade especialmente coletados para esse
das aves e a facilidade de observação fim, foram encaminhados também
favoreciam a obtenção de uma extensa para o laboratório da Companhia de
lista de espécies em curto prazo. A análise Tecnologia de Saneamento Ambiental
das características ecológicas desse (Cetesb), em São Paulo, para que fosse
grupo permitia, por sua vez, uma boa verificada a presença de mercúrio.
aproximação do quadro faunístico da área. Entre as quatro espécies analisadas,
o surubim (Pseudoplastystoma
“(...) foi realizada, após o reconhecimento de
fasciatum) apresentou o nível de
campo inicial, uma campanha para amostragem
da avifauna, (...). O estudo de campo foi contaminação por mercúrio mais
desenvolvido através de caminhamentos elevado, equivalente ao limite máximo
ao longo da área de estudo, amostrando- permitido para o consumo humano pela
se as distintas fisionomias do cerrado, as
Organização Mundial de Saúde (OMS).
diferentes tipologias vegetais presentes,
O diagnóstico ambiental no que se
bem como os ambientes antrópicos, através
de observações com uso de binóculos (...). refere aos aspectos socioeconômicos
A lista das espécies de aves observadas foi dedicou um razoável espaço ao
confrontada e complementada com a lista estudo da situação da área xerente,
de aves registradas por J. Hidasi através
considerando os impactos que seriam
de observações sistemáticas em realização
desde 1994 em Porto Nacional. Paralelamente exercidos sobre a comunidade pelo
foram realizadas entrevistas com moradores grande contingente de trabalhadores
locais, principalmente sobre a presença de que se estabeleceria na região
mamíferos de médio e grande portes e de para a construção da usina.
ofídios peçonhentos. Para a obtenção de
O primeiro passo foi investigar
dados sobre botos foram realizadas, além de
entrevistas com pescadores, observações o histórico da comunidade xerente
in loco no rio Tocantins, em localidades de e o processo de implantação de
visualização mais frequente destes mamíferos.” suas reservas para melhor entender
(Celtins; Themag. UHE Lajeado - Estudo
sua relação com a região, o rio e a
de impacto..., 1996, v. 1, tomo A: 27)
população não indígena. Os xerentes,
A ictiofauna foi objeto de três tradicionalmente, eram caçadores-
campanhas de coleta de peixes. Os coletores e possivelmente viviam nos
exemplares de cada uma das espécies cerrados do Brasil Central há mais de
recolhida foram separados para a três mil anos, constituindo sociedades
formação de uma coleção de referência, social e culturalmente requintadas.
1984-1997 Capítulo 7 | 349

USINA HIDRELÉTRICA DE LAJEADO: ESTUDOS DE VIABILIDADE


ÁREA DIRETAMENTE AFETADA E ENTORNOS - RESERVATÓRIO

ALIANÇA DO TOCANTINS
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CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS LEGENDA BASE CARTOGRÁFICA


Cidades e Povoados Rio 1. Cartas Topográficas 1:100.000
Limites intermunicipais Fátima - SC-22-Z-B-V DSG 1978
Área de inundação permanente (5.000 m3/s)
Estradas sem pavimentação Porto Nacional - SC-22-Z-B-IV DSG 1978
Área de inundação nas cheias (10.000 m3/s)
Estradas pavimentadas Brejinho de Nazaré - SC-22-Z-B-II DSG 1978
3
Drenagem principal Área de inundação nas cheias excepcionais (24.000 m /s) Santa Rosa - SC-22-Z-B-III DSG 1978
Limite da área diretamete afetada e entornos Ilhas no reservatório nas cheias excepcionais 2. Imagens de satélite TM-LANDSAT
350 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1984-1997 Capítulo 7 | 351

Antes do contato com os europeus, no do rio Tocantins, a partir da utilização


“Ave do Paraíso”, símbolo do Tocantins. Ilustração de Ecy-
monte Conrado. 2007 final do século XVII, havia aldeias circulares das rodovias que cruzavam a reserva
ou semicirculares com 2 a 3 mil habitantes. indígena. Essa política não considerava
“Tradição xerente é passada às crianças no dia do índio”. Ao longo do tempo, a comunidade que os séculos de antagonismo entre
Secretaria do Trabalho e Assistência Social do Estado do
Tocantins vivenciou inúmeros conflitos internos os índios e a sociedade em torno
e externos até a demarcação da Área resultaram em relações baseadas no
Indígena Xerente, em 1973 – negociada conflito e no preconceito de lado a lado.
por agentes governamentais em troca da Composta, na época, por 1.572
abertura de estradas no território indígena. pessoas, a comunidade xerente vivia
A construção de Palmas, a cerca de então um processo de desagregação,
100 quilômetros do território indígena, dividida entre aldeias que apoiavam os
intensificou a animosidade dos xerentes projetos de desenvolvimento do governo
em relação à sociedade regional. estadual e outras que defendiam os
A localização da nova capital, erguida fora valores tradicionais da cultura xerente.
do eixo da Belém-Brasília, tinha como Novos aldeamentos foram criados ao
objetivo estimular o desenvolvimento longo das estradas, e seus habitantes
dos municípios da margem direita passaram a viver em função das cidades.
352 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Qualquer plano de desenvolvimento cobriam desde a relocação da população


em municípios vizinhos a áreas indígenas e o acompanhamento dos projetos de
afeta essas populações. Em geral, assentamento até a adequação das
quanto mais crescimento regional, mais atividades econômicas para a nova
interferências acontecem nas áreas dos realidade local – contemplando os que
índios. Entretanto, essa evidência histórica teriam que abandonar a extração de
não era vista pelos empreendedores areia e argila –, a reurbanização de áreas
como impeditiva à coparticipação e a pesquisa de flora, fauna e peixes. “Ponte e lago de Palmas”. Câmara Municipal de Palmas

desses povos no progresso.

“É perfeitamente possível contrabalançar


ou mesmo transformar os efeitos negativos
imediatos em benefícios, desde que os
dirigentes e responsáveis pelas políticas
de desenvolvimento regional busquem um
diálogo aberto, franco e honesto com os
povos indígenas visando o estabelecimento
de programas compensatórios de médio e
longo prazos que levem em consideração
suas necessidades e vocações enquanto
povos diferenciados da população regional.
(...) No presente caso, espera-se ter
demonstrado que os xerentes estão inseridos
no ambiente regional não de modo passivo,
mas reagindo a ele (...). O caráter desta
reação tem variado ao longo da história,
vimos, com o modo sob o qual os agentes
daquele ambiente regional se apresentaram
ou se impuseram aos índios (...).”
(Celtins; Themag. UHE Lajeado - Estudo de
impacto..., 1996, v. 1, tomo C: 248)

A perda de habitats naturais de


espécies vegetais e animais, alterações
na ictiofauna, o fim de praias no
Tocantins e a queda da exploração de
areia e argila eram outros impactos
importantes destacados pela consultora,
que propôs 29 programas de mitigação
e compensação. Esses programas
1984-1997 Capítulo 7 | 353

A cidade de Palmas, capital do Tocantins, organizações não governamentais (ONGs),


seria beneficiada com vários programas que defendiam diversos interesses em
ambientais, incluindo pesquisas de fauna relação ao rio e à população do médio
e flora e recomposição de infraestrutura. Tocantins. O consórcio criou um setor
Seguindo as determinações da específico para cuidar das questões
legislação de concessões, Lajeado teve sua ambientais e, ao final do processo,
licitação realizada em novembro de 1997, dedicou 15% do orçamento da usina a 34
ainda pelo Dnaee, pouco antes da extinção programas socioambientais – um deles,
do órgão. O consórcio Investco, composto dedicado aos índios xerentes. Batizada em
na época pela Celtins, a Eletricidade de 2000 como usina hidrelétrica Luiz Eduardo
Portugal (EDP), a Companhia Energética Magalhães, Lajeado, como é conhecida,
de Brasília (CEB), a Empresa Eletricidade entrou em operação comercial em 2001,
Vale do Paranapanema (EEVP) e a completando a capacidade instalada
Companhia Paulista de Energia Elétrica total, que afinal foi estabelecida em
(CPEE), ganhou o leilão e concluiu, em 900 MW, em novembro do ano seguinte.
abril de 1998, o Plano Básico Ambiental Atualmente, o consórcio Investco
da usina. Nesse mesmo ano, a Eletrobras reúne apenas a mesma empresa de
entrou como sócia do empreendimento, origem lusitana EDP, denominada
e as obras de Lajeado tiveram início. agora Energias de Portugal, e a
Durante o processo de análise concessionária pública CEB.
do licenciamento, a própria Eletrobras
chegou a recomendar a revisão dos
custos previstos para reassentamento
populacional, alertando que os valores
estimados estavam abaixo dos praticados
pelo setor elétrico e certamente ainda
seriam afetados pela especulação local
em relação às terras. A empresa apontou
a necessidade de inclusão da questão
indígena nos programas socioambientais.
O Ministério Público e o órgão ambiental
do estado do Tocantins, a Naturatins,
também solicitaram ao consórcio Investco
mais medidas compensatórias.
Os empreendedores abriram diálogo
com as autoridades e com cerca de oitenta
354 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
O rio Tocantins no olhar dos viajantes | 355

Capítulo 8
A energia do Tocantins
em novo cenário

1997-2013
356 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

ENQUANTO OS ESTUDOS RELATIVOS hidrelétricos, independentemente de


“Vista geral a montante da usina hidrelétrica Lajeado”,
À HIDRELÉTRICA DE LAJEADO sua natureza pública, privada ou mista. 2003. Grupo Rede Energia

desenrolavam-se, o governo Fernando A abordagem dos aspectos


Henrique Cardoso, ainda em seu primeiro socioambientais foi ampliada e
mandato (1995-1998), instituiu, pela Lei aprofundada, equiparando-a em
nº 9.433, de janeiro de 1997, a Política importância aos pontos de vista da
Nacional de Recursos Hídricos, cujo engenharia e da economia na escolha
objetivo principal era garantir a utilização dos aproveitamentos e na determinação
racional e integrada desses recursos. A da localização mais vantajosa para as
nova legislação e seus desdobramentos barragens. Os estudos de inventário
ainda demorariam alguns anos para tinham especial relevância para o processo
serem postos em prática, mas o decisório, pois nessa etapa podia ser
Conselho Nacional do Meio Ambiente dimensionado o comprometimento
(Conama) publicou, em dezembro de ambiental da bacia hidrográfica pelo
1997, a Resolução nº 237, que reviu aproveitamento, e identificados e
e complementou os procedimentos e analisados os efeitos cumulativos
critérios para o licenciamento ambiental, dos impactos, em confronto com os
estabelecendo maior rigor para as estudos energéticos e de engenharia.
autorizações de obras de grande porte, Durante o segundo mandato do
como os projetos de hidrelétricas. governo Fernando Henrique Cardoso
No âmbito do setor de energia (1999-2002), as reformas institucionais
elétrica, uma nova edição do manual no setor de energia elétrica continuaram,
de inventário hidrelétrico de bacias abrangendo agora as atividades de
hidrográficas foi finalizada em novembro planejamento da expansão dos sistemas
de 1997. A intenção do documento era elétricos. Uma das medidas foi a criação
adequar-se às mudanças em curso, que do Comitê Coordenador do Planejamento
afetavam diretamente a execução dos da Expansão (CCPE), em maio de 1999.
empreendimentos. Essa versão consistiu O novo órgão, que passou a funcionar
em uma revisão da anterior, de 1984, e no âmbito do Ministério de Minas e
foi realizada por um grupo composto, em Energia, substituiu o Grupo Coordenador
maio de 1994, por técnicos da Eletrobras, do Planejamento dos Sistemas Elétricos
do Dnaee e de empresas do setor de (GCPS), órgão colegiado coordenado pela
energia elétrica, com a participação do Eletrobras, responsável desde 1982 pela
Cepel e de outros consultores. A esta produção dos documentos que balizavam
altura, as instruções visavam guiar os toda a programação de obras do setor.
diversos agentes interessados em projetos Ao CCPE foram atribuídas as tarefas de
1997-2013 Capítulo 8 | 357

formulação dos planos de expansão entorno, para fins de aproveitamento


da geração (a título indicativo) e da energético. Os trabalhos para mais uma
transmissão de energia elétrica (em caráter usina, a de Peixe, permaneceram sob a
determinativo), prevendo-se a extinção responsabilidade de Furnas, pois, mesmo
do GCPS após o término dos trabalhos de tendo perdido, em 1995, a concessão
elaboração do Plano Decenal 2000-2009. para efetuar o aproveitamento, a
No Tocantins, os estudos preparatórios empresa manteve a autorização do poder
para a construção de hidrelétricas concedente para executar os estudos de
prosseguiam, com mais viajantes viabilidade, permissão sucessivamente
registrando a paisagem do rio e seu renovada até o final da década de 1990.
358 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

No primeiro inventário, ainda dos anos significativamente a área alagada e


“Usina hidrelétrica Peixe Angical: localização e rede viária”.
1970, feito pela Eletronorte e atualizado possibilitava o uso múltiplo das águas. Traçado do reservatório da usina hidrelétrica Peixe Angical
sobre segmento do Mapa Rodoviário do Tocantins, produ-
na década seguinte por Furnas, havia Em maio de 2000, os zido pelo Departamento de Infraestrutura de Transportes
sido proposta uma localização para os aproveitamentos hidrelétricos de Peixe e do Ministério dos Transportes. 2002

barramentos que inundaria uma área de São Salvador, além dos de Serra Quebrada
1.170 quilômetros quadrados, incluindo e Estreito, todos no rio Tocantins, foram
as cidades de São Salvador do Tocantins incluídos no Programa Nacional de
e Paranã e a localidade de Retiro, todas Desestatização (PND), tendo em vista a
em território do estado do Tocantins, licitação das respectivas concessões.
além das pontes sobre os rios Paranã, Seis meses depois, a Aneel aprovou
Palma e Tocantins integrantes da estrada a reavaliação da divisão de queda do rio
Natividade-Palmeirópolis e de mais de 110 Tocantins, no trecho entre Cana Brava
mil hectares dos municípios de Paranã, e Lajeado, apresentada pelas empresas
Peixe, São Salvador e Palmeirópolis. Furnas, Energias de Portugal (EDP Brasil),
Mas com as crescentes exigências para Engevix Engenharia e Celtins, conjunto
que os empreendimentos hidrelétricos de companhias que passou a deter o
provocassem menor dano ao meio registro ativo na Aneel para a execução
ambiente e também em conformidade dos estudos de viabilidade e de meio
com as instruções atualizadas dos ambiente. A redivisão de queda proposta
manuais de estudos da Eletrobras, pelo consórcio apontava na mesma
essa sugestão foi reconsiderada. direção das conclusões imediatamente
Em setembro de 1999, foram anteriores de Furnas, com a substituição
divulgados os resultados preliminares de do único aproveitamento de Peixe pelos
novos estudos elaborados por Furnas quatro seguintes: no rio Tocantins, Peixe,
em conjunto com a Engevix, sugerindo com o reservatório 24 metros abaixo
importantes alterações no que até então da última cota estabelecida, e São
havia sido projetado para o aproveitamento Salvador, logo a montante do primeiro;
energético do alto Tocantins. Furnas nos afluentes Palma e Paranã, Barra do
propôs outra localização para a usina Palma e Paranã, respectivamente. Essa
de Peixe e a efetivação de mais um solução implicou ainda no rebaixamento
aproveitamento, denominado São Salvador, da cota do aproveitamento de Ipueiras,
a montante de Peixe e a jusante de Cana previsto no Tocantins, entre Peixe e
Brava. Além de ser compatível com Lajeado. No total, as usinas afetariam
os demais aproveitamentos previstos em torno da metade da área prevista
para o rio e seus afluentes, também até então, mantendo-se praticamente
levados em conta, a proposição reduzia inalterada a produção de energia.
1997-2013 Capítulo 8 | 359

USINA HIDRELÉTRICA DE PEIXE ANGICAL


LOCALIZAÇÃO E REDE VIÁRIA

-48º46’ -48º35' -48º24' -48º13' -47º54' -47º43'


-11º46'

Natividade

Rio
Toca NORTE
Vila Quixaba Bonfim
ntin

-11º57'
s

Príncipe
São Valério da Natividade
Sucupira

Peixe
-12º08’

BR 010

UHE PEIXE
ANGICAL
BR 242
-12º19'

Vila do Retiro
-12º30'
Rio
Para
n ã

Paranã
Jaú do Tocantins

-12º41'
LEGENDA
São Salvador do Tocantins
Rodovia estadual em leito natural

Rodovia estadual pavimentada

Rodovia federal pavimentada


0 2 4 6 8 10 Km
Rodovia federal implantada

ESCALA ORIGINAL: 1: 1.000.000 Rodovia planejada


-12º52'
360 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Nos estudos de viabilidade da regional, um centro agroindustrial e


hidrelétrica de Peixe foi feita uma avaliação de comercialização de gado. A energia
das alternativas de localização do eixo gerada pela usina poderia ser introduzida
da barragem, tendo sido escolhido tanto no sistema Sul/Sudeste/Centro-
um logo a montante da confluência do Oeste quanto no Norte/Nordeste.
rio das Almas, denominado Foz das Os estudos e levantamentos
Almas, opção que combinava vantagens necessários ao diagnóstico ambiental
de ordem energética e ambiental. foram realizados durante o ano 2000
O EIA-Rima de Peixe, integrante e contaram com novas tecnologias
dos estudos de viabilidade do de mapeamento, como fotografias
aproveitamento, foi elaborado pela aéreas digitais e imagens geradas por
Themag e publicado entre novembro sensoriamento remoto por satélite, sem
e dezembro de 2000. Dessa vez, a dispensar o tradicional levantamento
equipe multidisciplinar, com biólogos, de campo. Nesse caso, além das
engenheiros florestais e agrônomos, instruções elaboradas pela Eletrobras,
entre outros profissionais, viajou pelo os empreendedores também levaram
alto Tocantins utilizando pequenas e em conta as diretrizes de um Termo de
velozes voadeiras – barulhentas lanchas, Referência da Naturatins, órgão estadual
comuns no transporte da região. As responsável pelo licenciamento ambiental.
investigações relativas à flora e à
fauna contaram com a participação de
instituições universitárias de pesquisa
como o Herbário do Instituto de Botânica
de São Paulo, o Museu de Zoologia e o
Departamento de Biologia do Instituto de
Biociências da Universidade de São Paulo
e o Laboratório de Ictiofauna da Unitins.
A usina ficaria entre os municípios
de Peixe e São Salvador do Tocantins, e o
reservatório afetaria, além deles, áreas de
Paranã e Palmeirópolis, todos no estado
do Tocantins. Peixe era considerada
estratégica por sua proximidade com
a importante subestação de Gurupi,
integrante da Linha Norte-Sul e
“Belezas do Tocantins”. Agência de Desenvolvimento Tu-
localizada nesse município de relevância rístico do Estado do Tocantins
1997-2013 Capítulo 8 | 361
362 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Como de praxe, os estudos do meio manejadas e os restantes 37% com


“Ponte sobre córrego na fazenda Pedra Riscada”. Foto-
físico abrangeram clima, recursos hídricos, intensa utilização. Na área estudada, os grafia do documento Rio Tocantins - estudos hidrelétricos
do Peixe: cadastro de propriedades rurais, 2001. Aerosul
geologia, geomorfologia, pedologia, buritizais eram pouco comuns, mas nas
incluindo, neste último caso, a sugestão de estreitas florestas de galeria havia espécies
Na outra página, “O fruto da Aroeira”. Fotografia de B. Na-
áreas para um eventual reassentamento consideradas ameaçadas de extinção ves. 25 de maio de 2006

rural das famílias residentes na área que pela legislação brasileira, como a aroeira
seria inundada. A aptidão agrícola das (Myracrodruon urundeuva). Os impactos
terras também foi objeto de avaliação, à vegetação, previstos pelos técnicos,
apresentada em um capítulo específico. seriam mais importantes justamente
Na área diretamente afetada, as terras, nas florestas de galeria, consideradas a
com baixo potencial agrícola, eram mais formação vegetal mais singular da região.
usadas para a pecuária extensiva.

“Os resultados da classificação da aptidão


agrícola das terras do aproveitamento de
Peixe evidenciaram uma clara vocação da
área para usos menos intensivos, sobretudo
com pastagens plantadas ou naturais.
(...) Esse padrão de utilização, de muito
baixa intensidade, tem sua origem na
ocorrência simultânea de muitas limitações
permanentes das condições agrícolas
das terras (...). Prevalece o isolamento da
área, caracterizado pela baixa densidade
demográfica, estradas muito cascalhentas
e pontes deficientes, mal conservadas,
que dificultam o trânsito e prejudicam a
comunicação com outras regiões do estado.
Todos os fatores mencionados parecem
desestimular maiores iniciativas, no que se
relaciona com uma agricultura mais intensiva
voltada para a produção de culturas.”
(Themag, 2000, v.2: 7-30 e 7-31)

Do ponto de vista físico, a vegetação


predominante era característica do bioma
cerrado. Na época, estimava-se que esse
bioma tinha apenas 7% de sua extensa
área sem nenhuma interferência antrópica,
56% composta por paisagens naturais
1997-2013 Capítulo 8 | 363
364 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Sem dúvida, a maior parte das florestas observadas em campo, complementada


Na outra página, “Flor de Rosa do Cerrado (Kielmeyera
de dique (florestas de galeria propriamente por informações sobre hábito, formação rubiflora)” e “Flor de Jatobá do Cerrado (Hymenaea stigo-
ditas) e a quase totalidade das florestas nocarpa)”. Fotografia de Denis Conrado. 24 de dezembro
vegetal e características, além de de 2009 e 8 de janeiro de 2010
paludosas, ao longo dos maiores rios, serão
seriamente prejudicadas com a construção nome popular, quando conhecido.
da barragem e respectivo reservatório,
devendo ter-se especial atenção com “De maneira geral, comparando-se os
relação à sua preservação e ao resgate resultados com os trabalhos desenvolvidos
de material genético de espécies destas na região de Lajeado-Porto Nacional, além
formações. Igual atenção deve ser dada de uma grande diversidade, verifica-se a
à flora das lagoas e campos úmidos. Os presença maciça de espécies de cerrado, ou
cerrados regionais oferecem ainda uma oreádicas, e espécies típicas de florestas de
infinidade de espécies com utilização para domínio amazônico e atlântico. No entanto,
o homem, na alimentação e na medicina, fica claro o desaparecimento de algumas
além do grande potencial ornamental, entre espécies amazônicas características das
outros usos. Assim, apesar de menos florestas estacionais ou de transição como a
afetados pelo lago do aproveitamento bacaba (Oenocarpus distichus) e a sororoca
hidrelétrico de Peixe, devem ser objeto (Phenakosperma sp.) (...), assim como a
de estudo e proteção no entorno.” diminuição das áreas marginais aos cursos
(Themag, 2000, v.3: 4-42 e 4-43) d’água ou nas planícies de inundação com
favorecimento de cerrados menos densos e
mais abertos. A grande presença de espécies
Para a elaboração do diagnóstico
decíduas [que soltam folhas, por exemplo,
da vegetação, além de consultas em uma estação específica ou em certa
a imagens de satélite e material fase do desenvolvimento] também pode ser
cartográfico de apoio, foi feito elencada como uma das características da
flora regional, incluindo alguns elementos
reconhecimento de campo, por meio
da caatinga, como a coroa-de-frade
de caminhamentos nas vias de acesso (Melocactus), o cansanção (Cnidoscolus spp.)
e de sobrevoos. Duas campanhas de e a catingueira (Caesalpinia bracteosa).”
campo, para coleta geral de material (Themag, 2000, v.3: 4-14)

botânico e formação de amostras de


florestas, foram realizadas. Para a área
considerada havia poucas pesquisas
florísticas e estudos que abordassem
as comunidades vegetais e suas
relações com o meio (fitossociologia).
Na área diretamente afetada, definida
como aquela necessária à implantação do
empreendimento, foi feita uma listagem
florística geral das espécies coletadas ou
366

Com relação à fauna de vertebrados, Já os mamíferos foram abordados


a equipe responsável pelo EIA de Peixe com base na visualização dos animais
realizou amostragens zoológicas nas e, de maneira indireta, por meio de
diversas formações vegetais da área entrevistas com moradores locais
diretamente afetada, acompanhando as na presença de pegadas ou outros
duas campanhas de campo organizadas indícios. Para a apreensão de pequenos
para investigar a flora. A coleta de mamíferos foram utilizadas armadilhas.
anfíbios foi feita através de armadilhas Os estudos constataram a existência
de queda e do método clássico de de uma série de animais ameaçados
procura ativa e coleta manual. Para de extinção, como o tamanduá-
auxiliar a avaliação da biodiversidade bandeira, o tatu-canastra, o lobo-
da área e a identificação precisa das guará, a jaguatirica, a onça parda e a “Lobo Guará”. Fotografia de Andrew Ives. 25 de agosto
de 2009
espécies que não diferem muito do ponto pintada, a lontra e o veado-galheiro.
de vista da morfologia externa, foram
realizadas preparações citogenéticas
de 191 espécies, além de amostras
de tecidos desses exemplares.
O inventário da avifauna foi feito
por captura em redes de neblina,
contato visual e auditivo. A necessidade
de proteção das aves foi destacada,
considerando inclusive a presença de
pelo menos uma espécie sob ameaça
de extinção, a arara-azul-grande.

“Cerca de 70% da avifauna do cerrado


é dependente ou semi-dependente de
formações florestais. Este contexto, e
levando em conta que estas formações
correspondem a apenas 15% do
total da área do domínio do cerrado,
conclui-se que alterações neste tipo
de ambiente apresentam um grande
impacto para a avifauna e deve ser levado
em consideração em futuros planos
de manejo, constituindo ambientes
prioritários em termos de conservação.”
(Themag, 2000, v.3: 5-30)
O relatório não recomendava o Quanto à ictiofauna, ao lado de
“Surubim pintado (Pseudoplatystoma corruscans)”. Agên-
cia Embrapa de Informação Tecnológica (Ageitec) resgate e transporte da fauna para espécies identificadas ainda no século
áreas adjacentes como estratégia XIX por naturalistas viajantes como Spix e
para minimizar os impactos causados Castelnau, constatou-se um grande número
pela construção da barragem, pois de outras, de pequenas dimensões, com
a competição com as populações status taxonômico incerto. Capturadas em
residentes também ocasionava regiões marginais, praias e mananciais de
mortalidade de indivíduos. Além pequeno porte, tais espécies necessitavam
disso, indicava como critério para de estudos sistemáticos mais detalhados.
a escolha de futuras áreas de A área considerada como de influência
conservação a diversidade de espécies indireta do empreendimento de Peixe
e a representatividade de habitats englobava parcela dos municípios que
fluviais e sua fauna característica. seriam inundados como Palmeirópolis,
Peixe, Paranã e São Salvador do Tocantins,
“O eixo da barragem deve ser instalado
além da sede urbana de São Valério da
em um ponto situado mais a montante
possível, de forma que os habitats úmidos Natividade, que sofreria o impacto causado
que ocorrem próximos à cidade de Peixe com um possível aumento populacional
(...) sejam mais preservados. Sugere- em função da obra. Além de dados
se que áreas que abriguem ambientes coligidos junto a órgãos oficiais federais
diversos, como áreas florestais, áreas de
e estaduais, a equipe que conduziu os
cerrado e áreas mais úmidas, como as
veredas, sejam preservadas, pois o conjunto trabalhos de diagnóstico socioambiental
destes ambientes permite uma maior também realizou levantamentos de campo.
representatividade da fauna que ocorre Toda a região de influência havia
nas regiões amostradas, principalmente as
permanecido relativamente isolada desde
áreas florestais, que são os ambientes mais
ricos em espécies e serão mais afetados.” a época colonial, mantendo como única
(Themag, 2000, v.3: 5-44 e 5-45) atividade econômica expressiva a pecuária.
368 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O quadro urbano era composto por Salvador e Vila do Retiro. Contabilizados


uma rarefeita rede de cidades, com os dados, revelou-se que o reservatório
pouca renda e infraestrutura precária. de Peixe afetaria 204 estabelecimentos
Apenas São Valério apresentava algum rurais, concentrados em Paranã e São
crescimento urbano por conta da Salvador do Tocantins, e 131 propriedades
atividade recente de mineração. O centro urbanas, além de 20 edificações
urbano polarizador da área era Gurupi, institucionais. Como consequência,
às margens da Belém-Brasília (BR-153), foi previsto o reassentamento de 223
que contava inclusive com um campus famílias nas áreas rurais e 56 nas “Praia da Tartaruga”. Agência de Desenvolvimento Turísti-
co do Estado do Tocantins
avançado da Unitins. A atividade turística urbanas, totalizando 1.106 pessoas.
proporcionada pelas praias fluviais
representava uma importante fonte
de renda local durante a temporada.

“No município de Peixe, a praia preferida


da população local é a Praia do Peixe,
com 3 quilômetros quadrados de areia
branca, cuja exploração, na temporada de
julho de 2000, foi privatizada. Pode-se aí
praticar pesca e canoagem, além de ser
propícia para acampamento. Ainda em
Peixe, voltada para o ecoturismo, existe
a Praia da Tartaruga, (...) local privilegiado
de desova das tartarugas. Tem destaque
ainda, o Arquipélago do Tropeço, formado
por 366 ilhas no rio Tocantins.”
(Themag, 2000, v.4: 2-18)

Os estudos socioeconômicos sobre


a área que seria diretamente afetada pelo
aproveitamento de Peixe pretendiam
identificar e caracterizar a população
urbana e rural, os estabelecimentos
rurais e institucionais, além das atividades
econômicas desenvolvidas. Para tanto
foi feito um levantamento censitário de
todas as propriedades, tanto na área rural
quanto nas áreas urbanas de Paranã, São
1997-2013 Capítulo 8 | 369

O EIA de Peixe traz ainda, com os com vestígios de povos caçadores-


destaque, uma análise do patrimônio coletores de dez mil anos atrás até
arqueológico, histórico e cultural da os com peças de cerâmica típicas de
área a ser alagada pelo reservatório, 2.400 anos, marcando o período de
tendo reservado um capítulo inteiro transição entre a caça e a agricultura.
para apresentar as informações Em localidades às margens do rio, havia
sobre esse assunto. Os profissionais blocos de rochas com arte rupestre,
contratados pela Themag passaram desenhadas com círculos, traços,
um mês percorrendo o rio e chegaram meias-luas e figuras mais complexas,
a usar canoas no deslocamento como animais e árvores, possivelmente
para lugares quase inacessíveis, praticada por grupos ceramistas.
cobertos de mata virgem e de difícil O trabalho, desenvolvido em pouco
prospecção arqueológica. Segundo os tempo e com o objetivo bem definido de
arqueólogos, a dificuldade de acesso trazer um diagnóstico arqueológico dentro
era mesmo uma condição positiva, do escopo do EIA, não se aprofundou
pois favorecia a proteção dos sítios. nas hipóteses de ocupação humana da
região desde a pré-história, mas defendia
“Se por um lado certamente a pesquisa a ideia de que o material ali recolhido
arqueológica se torna mais custosa nesta
poderia alimentar as pesquisas sobre os
região, as condições de preservação
ambiental que a área oferece também caminhos percorridos pelos primeiros
implicam em sítios arqueológicos muito bem habitantes ao longo do Tocantins.
conservados e, por vezes, quase intactos,
situação que de um modo geral não mais “Os dados levantados na pesquisa
se observa a jusante no rio Tocantins de campo confirmam plenamente a
(como nos trechos abrangidos pelas existência, nesta região do alto/médio rio
UHEs Lajeado e Serra Quebrada). Assim, Tocantins, de um significativo patrimônio
a realização de pesquisas sistemáticas arqueológico pré-colonial e histórico, de
neste trecho poderá fornecer informações grande importância para a compreensão dos
de alta qualidade que poderão contribuir, processos de povoamento do Brasil Central.
inclusive, para a compreensão e discussão Sua importância deriva não apenas das
de contextos arqueológicos mais distantes.” características dos materiais encontrados,
(Themag, 2000, v.4: 4.4) como também da situação geográfica da
área, situada na confluência dos planaltos
abertos, onde o rio Tocantins pode ter
O levantamento de campo confirmou
atuado como eixo de penetração pelo
a importância do patrimônio arqueológico
planalto brasileiro no sentido norte-sul, com
existente na área do aproveitamento a zona serrana que se estende pelo norte
de Peixe. Ao final, a equipe registrou de Goiás e a leste por Minas Gerais (...).”
15 sítios de diversos períodos – desde (Themag, 2000, v.4: 4.22)
1997-2013 Capítulo 8 | 371

Após a identificação e qualificação etc. A mesma lei estabeleceu que


“Inscrições rupestres do Sítio Arqueológico de Canudo, no
Parque Estadual do Lajeado”. Prefeitura do Município de dos impactos ambientais decorrentes caberia à Aneel fazer uma reserva
Lajeado
da implantação do empreendimento de disponibilidade hídrica, que se
hidrelétrico de Peixe, foram considerados transformaria em outorga de direito de
como mais importantes: a alteração uso para o empreendedor que recebesse
e redução da vegetação e da fauna; a da própria Aneel a concessão ou
atração de contingentes populacionais autorização para exploração de potencial.
em busca de trabalho; e o deslocamento Entretanto, uma grave crise de
compulsório de população rural e fornecimento de energia elétrica abateu-
urbana. Para atenuar ou compensar se sobre quase todo o país, provocando
os impactos identificados foram um racionamento que, iniciado em
propostos 25 programas ambientais, junho de 2001, estendeu-se por nove
que teriam ainda o papel de contribuir meses. Esse fato teve consequências
para o desenvolvimento da região. práticas para o licenciamento de
Enquanto os estudos ambientais novos empreendimentos. Visando
de Peixe estavam sendo desenvolvidos, agilizar a outorga de concessões, a
ocorreram mudanças institucionais Aneel passou a realizar as licitações
quanto à gestão dos recursos hídricos de empreendimentos sem licença
brasileiros, com a indicação de um novo prévia. Dessa forma, os vencedores
agente controlador. Por meio da Lei nº dos leilões arcavam com o risco
9.984, de julho de 2000, foi constituída de obter concessões antes que
a Agência Nacional de Águas (ANA), os órgãos ambientais tivessem
entidade federal vinculada ao Ministério autorizado o início das obras.
do Meio Ambiente, incumbida de autorizar No caso de Peixe, os estudos de
o uso dos recursos hídricos nos corpos viabilidade do empreendimento haviam
d’água de domínio da União. A ANA sido aprovados pela Aneel em março
tinha ainda a função de implementar a de 2001, mas a efetivação do ato ficou
Política Nacional de Recursos Hídricos condicionada à apresentação da licença
e de coordenar o Sistema Nacional de prévia ambiental, concedida, por sua
Gerenciamento de Recursos Hídricos. vez, pela Naturatins, em julho do mesmo
A partir da adoção dessa medida, a ano, com condicionantes. Três meses
utilização das águas para a produção de depois, o consórcio Enerpeixe, formado
energia elétrica passou a ter que ser feita pela Eletricidade de Portugal (EDP) e pelo
de forma integrada com outros propósitos grupo Rede, adquiriu a concessão para
como navegação comercial, irrigação, construção e exploração da hidrelétrica
pesca, abastecimento das populações em leilão promovido pela Aneel.
372 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Em março de 2002, o consórcio A maior parte da energia assegurada


“Usina hidrelétrica de São Salvador: localização e rede vi-
recebeu autorização de instalação pela usina (95%) havia sido contratada ária”. Reprodução do traçado de mapa que ilustra o do-
cumento Licenciamento ambiental de empreendimentos
para o canteiro das obras, que foram com as empresas distribuidoras do grupo hidrelétricos no Brasil: uma contribuição para o debate,
iniciadas no mês seguinte, com a EDP, atuantes nos estados de São Paulo, 2008. Escritório do Banco Mundial no Brasil

aprovação do projeto básico da usina Espírito Santo e Mato Grosso do Sul.


pela Aneel e a expedição da licença Aos estudos de Peixe Angical
de instalação pelo Ibama. Todavia, seguiram-se os da usina de São
os trabalhos foram interrompidos Salvador, também a cargo do grupo de
no final de 2002 e recomeçados empresas formado pelo Grupo Rede,
somente cerca de um ano depois. EDP, Furnas e Engevix, autorizado
As dificuldades para obtenção de pela Aneel a realizar os trabalhos,
financiamento, que ameaçavam a conduzidos pela própria Engevix.
continuidade da construção, foram O relatório final dos estudos de
contornadas apenas em outubro viabilidade técnica e econômica da
de 2003, quando Furnas fechou usina e o EIA-Rima do empreendimento
acordo com o grupo português para foram concluídos em junho de 2001,
a retomada das obras da hidrelétrica, seis meses depois dos de Peixe.
assumindo 40% de participação no Localizada a 12 quilômetros do
empreendimento e selando uma município de São Salvador do Tocantins
parceria entre os setores público (TO), entre os aproveitamentos de
e privado. Ao mesmo tempo, Cana Brava e Peixe, a usina teria
com a saída do Grupo Rede do potência instalada de 240 megawatts
consórcio, a EDP ficou com 60% do e um reservatório de 104 quilômetros
capital societário da Enerpeixe. quadrados. A área de influência indireta
As três unidades geradoras da do empreendimento, somando mais
usina, somando 452 MW de potência de 25 mil quilômetros quadrados,
instalada, entraram em operação abrangia o território de cinco municípios:
entre junho e setembro de 2006. São Salvador do Tocantins, Paranã e
A hidrelétrica foi batizada com o Palmeirópolis, em Tocantins, e Minaçu
nome de Peixe Angical, referente ao e Cavalcante, goianos. A rodovia
município de Peixe e aos angicos, Belém-Brasília era o principal eixo de
árvore encontrada na região. ligação entre os dois estados. Minaçu
O reservatório da usina ocupou possuía um aeroporto municipal com
área de 318 quilômetros quadrados, pista pavimentada, equipado para
acumulando volume total de 2,7 voos noturnos, recebendo diariamente
bilhões de metros cúbicos de água. aviões de Goiânia e Brasília.
1997-2013 Capítulo 8 | 373

USINA HIDRELÉTRICA DE SÃO SALVADOR


LOCALIZAÇÃO E REDE VIÁRIA

-12º

Rio To
Peixe
TOCANTINS

cantin
s
NORTE

TO -
UHE PEIXE
ANGICAL

050
Rio Palma
(em construção)
LT 500
NO
RT V
BR -

E-S
153

UL

Paranã

UHE SÃO
SALVADOR São Salvador
(projetado)

TOCANTINS
a
Teres
a
Brav

-13º
anta

Palmeirópolis Rio
a na

Pa
Rio S

ra
Rio C

n ã
Ferrovia Norte-Sul
Projetada

UHE CANA
TO -387

BRAVA
Porangatu

GOIÁS
Minaçu

Santa Teresa
de Goiás Formoso
Cavalcante

GOIÁS UHE SERRA LEGENDA


DA MESA Rodovia estadual

Rodovia federal
-14º
Ferrovia projetada
BR-010

Reservatórios

Sede municipal

-49º -48º
374 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Durante os estudos, foram necessárias “Da encosta da serra das Caldas, no município
mais viagens à região para a execução de de Paranã, há uma fonte de águas termais que
brota da fenda de uma rocha, formando duas
levantamentos de campo. O objetivo era
piscinas de águas quentes, com temperatura
obter novos dados aerofotogramétricos, de 40 graus centígrados. Essas piscinas
topobatimétricos, hidrometeorológicos, são permanentes tanto em volume d’água
geológico-geotécnicos e ambientais. quanto em homogeneidade, constituindo-
Os documentos produzidos se no principal atrativo da região. Num
percurso de 10 metros, as águas caem no
apresentaram uma avaliação dos usos
rio Ventura, que corta a serra com a sua água
do rio Tocantins, incluindo navegação, fria e esverdeada, formando ali um lago. O
agricultura e irrigação, consumo humano local abriga penhascos íngremes, cobertos
e dessedentação de animais, pesca, por uma vegetação densa que circunda a
“Serra das Caldas, em Paranã, uma das áreas indicadas
nascente. O acesso ao atrativo se dá por
inclusive de espécies ornamentais, e lazer em estudo do governo do estado para criação de unidade
uma estrada de rodagem até Paranã. Daí de conservação”. Fotografias do Relatório da 4ª expedição
e turismo, não tendo sido constatado segue-se por uma estrada vicinal por onde só em campo para realização dos estudos de criação de Uni-
na ocasião qualquer conflito quanto à dade de Conservação (UC) no município de Paranã, 2012.
trafegam carros de tração nas quatro rodas.” Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Susten-
utilização da água, recurso largamente (Engevix, Aproveitamento..., 2001, vol 1: 102) tável (TO)

disponível. Previa-se, entretanto, que


algumas atividades seriam modificadas
com a formação do reservatório, devendo
ser ajustadas ao novo desenho do rio.
A necessidade de adaptação seria maior
na navegação e nas atividades de lazer.
Quanto a esta última utilização, além
das praias de areias brancas e águas
claras, destacava-se em Paranã, uma
piscina de águas quentes, que não seria
afetada pela formação do lago da usina.
1997-2013 Capítulo 8 | 375

No diagnóstico ambiental dos preservada. (...) O cerrado típico ocupa a


“Codorna (Taoniscus nano)”, reprodução de aquarela de
Jean Gabriel Prête. 1838. Fundação Biblioteca Nacional - meios físico e biótico foi enfocado um maior parte da área, apresentando-se hoje
Brasil muito fragmentado. As maiores extensões
trecho de 3.521 quilômetros quadrados
encontram-se a sudoeste da área, nas
da bacia hidrográfica. A descrição feita nascentes do rio Cana Brava. Caracteriza-se
pelos técnicos da Engevix sobre o por apresentar árvores baixas, inclinadas
rio e seus arredores na altura de São e tortuosas com ramificações irregulares
Salvador é, como se pode imaginar, e evidências de queimadas. (...) Nas áreas
próximas ao rio Tocantins essa formação
muito semelhante à de Peixe Angical e
vem sendo substituída gradativamente por
mesmo de Cana Brava, mais abaixo. pastagens, sofrendo queimadas anuais.”
(Engevix, Grupo Rede, EDP, Furnas.
“A vegetação original predominante na AHE São Salvador - Meio ambiente:
área faz parte do bioma cerrado. (...) Na Estudo..., 2001, parte A: 146-147)
área de estudo, as partes mais planas
tiveram a sua vegetação alterada em
Mesmo circunscritas a um cenário
função das melhores condições para
ocupação. As áreas com relevo mais relativamente conhecido, as viagens
movimentado têm vegetação mais deram acesso a novos detalhes quanto
à composição da avifauna da região.

“A maior parte da área de influência


apresenta-se, já, degradada, sendo
ocupada por uma avifauna essencialmente
oportunista, relacionada às áreas abertas
brasileiras. Nesse sentido, muitas espécies
típicas de cerrado adaptam-se também,
facilmente, a práticas agropecuárias, como é
o caso das já mencionadas emas, codornas,
inhambus-chororós, seriemas, corujas-
buraqueiras e urubus-caçadores. A garça-
vaqueira (Bubulcus ibis) pode ser observada
em toda a região e possui caráter exótico.
Essa espécie parece ter colonizado a região
em anos recentes, tendo suas populações
sido provenientes do continente africano.”
(Engevix, Grupo Rede, EDP, Furnas.
AHE São Salvador - Meio ambiente:
Estudo..., 2001, parte A: 117)
376 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Os pesquisadores de campo quilômetros, mas o acesso, por meio de


“Gavião de Penacho”, pássaro da região do Tocantins.
ressaltaram no relatório não terem estradas sem pavimentação, era difícil, Ilustração de Antônio Martins, reproduzida da obra Brasil
500 pássaros, editada pela Eletronorte em 2000
observado espécies de araras e de principalmente no período das chuvas.
gaviões de grande porte que deveriam Os municípios que seriam atingidos
“Mulheres quebradeiras de coco babaçu enfrentaram di-
ser encontrados de acordo com o apresentavam nas áreas urbanas um ficuldades para garantir o livre acesso aos babaçuais das
propriedades privadas do Tocantins”. Fotografia de Sula
histórico da área. Conclui-se que, relevante crescimento populacional, Failde. Fevereiro de 2010
como a região continuava a fornecer que se devia muito mais à crise do
os recursos alimentares necessários a setor rural e consequente migração,
esses pássaros, a ausência das aves do que a um crescimento da rede de
explicava-se pela captura ilegal para serviços ou do comércio e da indústria.
venda, no caso das araras, e para A área de influência direta do projeto,
caça, no caso dos gaviões, tidos como totalizando 86 quilômetros quadrados,
bons troféus pela população local. continha parte dos municípios de São
Com relação à ictiofauna, a área Salvador, Paranã, Palmeirópolis, Minaçu e
estudada caracterizava-se pela grande Cavalcante, para os quais foi apresentada
riqueza de espécies, muitas com uma descrição minuciosa, abrangendo
comportamento migratório associado histórico, estrutura urbana, equipamentos
à reprodução. Algumas espécies ainda urbanos, sistemas de abastecimento de
não conhecidas foram descritas pelos água e esgotamento sanitário, limpeza
profissionais encarregados do EIA. pública e energia elétrica. Além disso,
Os aspectos socioeconômicos e foi feita uma pesquisa socioeconômica
culturais da área do empreendimento com a finalidade de caracterizar as
foram bastante esmiuçados. Segundo comunidades que seriam afetadas.
o documento, a vida no meio rural em O levantamento das propriedades
todo o Centro-Oeste era marcada pela existentes foi feito com equipamento de
presença de diferentes atores sociais, posicionamento por satélite (GPS). Nas
desde o vaqueiro assalariado até a massa 90 propriedades rurais, utilizadas
sertaneja chamada de sobrante. A área como unidade de pesquisa, foram
específica descrita era composta por realizadas 175 entrevistas,
grandes fazendas de pecuária bovina em com integrantes das famílias
pastos plantados, fato que determinava residentes na área que
a organização e a ocupação do espaço, a seria afetada, fossem
distribuição da população, a paisagem e de proprietários,
até mesmo as características culturais. arrendatários,
As distâncias entre as sedes parceiros/meeiros,
municipais não ultrapassava 80 ocupantes/agregados ou empregados.
1997-2013 Capítulo 8 | 377
378 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes
1997-2013 Capítulo 8 | 379

A equipe identificou uma à distância das margens aos locais de


Na outra página, “Propriedade à beira de um igarapé”. Ilus-
tração de Ecymonte Conrado concentração maior de moradores em residência ou estradas de interligação. Tal
distância faz com que o percurso de barco
Escumeiro, no município de Palmeirópolis,
exija ainda uma complementação extensa
“Habitação de madeira na fazenda Pedra Riscada”. Foto- na Fazenda Custódio e no povoado de
grafia do documento Rio Tocantins - estudos hidrelétricos por via terrestre, não compensando em
do Peixe: cadastro de propriedades rurais, 2001. Aerosul Rosário, em Paranã. Eram locais com termos de custos, redução do tempo de
grandes propriedades de criação de viagem ou facilidades de transporte.”
(Engevix, Grupo Rede, EDP, Furnas.
gado nelore, nas quais havia famílias
AHE São Salvador - Meio ambiente:
de empregados permanentes, que
Estudo..., 2001, parte A: 187)
moravam distantes do rio Tocantins e
mais próximas aos acessos às estradas.
Na conversa com os pesquisadores,
os habitantes da região puderam falar
“A circulação na área é feita através de
estradas de fazendas, que fazem a conexão de sua relação com o rio, que embora
entre estradas vicinais e, daí, aos núcleos não fosse mais importante como fonte
urbanos municipais. (...) O rio Tocantins é principal de alimentação e transporte,
pouco usado enquanto via de transporte, ainda se mantinha como uma referência
em face da existência de alguns trechos
básica de identificação cultural para
mais perigosos, mas, principalmente, devido
quem vivia às suas margens.

“O rio Tocantins, ainda em boa parte


das propriedades visitadas, é conhecido
como rio Maranhão, denominação que é
própria na maior parte do trecho goiano
que dá origem ao rio Tocantins. Cerca de
40% dos 175 entrevistados não utiliza
o rio. Mas sua presença é geralmente
destacada, sendo fonte de referência,
de valorização do local, mesmo para as
famílias que não se utilizam diretamente
de suas águas. Dentre os usos do rio,
destacam-se a dessedentação de animais,
informada por 52 entrevistados, atividades
de lazer, lavagem de roupas e utensílios.
Aproximadamente 10% dos entrevistados
declarou utilizar as águas para consumo
próprio e cerca de 7% para a pesca”.
(Engevix, Grupo Rede, EDP, Furnas.
AHE São Salvador - Meio ambiente:
Estudo..., 2001, parte A: 195)
380 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

A pesquisa demonstrou que a


renda dessas famílias estava entre um
e dois salários mínimos, embora fosse
substancialmente maior – chegando
a ultrapassar cinco salários mínimos –
entre os proprietários. Para 60% dos
entrevistados, a propriedade era a única
fonte de renda. A maioria dos chefes de
família (70%) era originária do próprio
local, o que explica um grande apego
à região, valorizada pela tranquilidade,
pelo convívio comunitário e pela
disponibilidade de recursos naturais.
As moradias da área, descritas
pelo trabalho, foram consideradas
razoáveis. No entanto, do ponto de vista
sanitário, as condições eram precárias.

“O padrão construtivo das habitações no


interior das propriedades atingidas pode
ser considerado médio, sendo as paredes
construídas em alvenaria, em cerca de
40% das habitações, e taipa, em 18%. O
tipo de piso registrou valores iguais para
cimento e terra batida (49%). A cobertura
predominante constitui-se em telhas de
barro (53%), seguida por palha (40%),
tradicionalmente utilizada na região. Quanto
às instalações sanitárias, a maior parte das
habitações (40%) não possui qualquer tipo
de instalação, registrando-se em cerca de
22% das unidades, fossas rudimentares.”
(Engevix, Grupo Rede, EDP, Furnas.
AHE São Salvador - Meio ambiente:
Estudo..., 2001, parte A: 195)
1997-2013 Capítulo 8 | 381

previstas em Lajeado permitiria a navegação


pelo rio de forma contínua por um longo
trecho, aumentaria a capacidade de
tráfego e tornaria possível a integração a
uma grande malha hidroviária amazônica,
interligando o complexo portuário
exportador de Belém e a ferrovia de Carajás.
O governo do estado do Tocantins
também tinha projetos para o
desenvolvimento de atividades turísticas na
região, a partir das atrativas praias fluviais.
O isolamento histórico do norte de Goiás,
transformado no Tocantins, dificultou o
desenvolvimento econômico, mas permitiu
a manutenção de um patrimônio natural
que, utilizado de maneira sustentada, abria
perspectivas concretas para o crescimento
do estado. A ideia era que as atividades
de lazer e turismo fossem ampliadas e
Completando a pesquisa incentivadas no lago de São Salvador,
Na outra página, “Habitações de pau-a-pique e de alvena-
ria na fazenda Pedra Riscada”. Fotografias do documento socioeconômica, foi avaliada a situação como já acontecia em Serra da Mesa.
Rio Tocantins - estudos hidrelétricos do Peixe: cadastro de
propriedades rurais, 2001. Aerosul da educação, com uma caracterização do Além disso, a região do
setor educacional; da saúde, a partir do empreendimento tinha bastante importância
“Técnicos do governo federal visitam a comunidade qui- levantamento dos programas e serviços de para estudos históricos por conta das
lombola de Kalunga (GO)”, 2010. Secretaria de Políticas de
Promoção e Igualdade Racial do governo do Brasil saúde pública e do perfil epidemiológico; antigas minas de ouro do século XVIII e dos
e, por fim, do setor de segurança pública. grupos descendentes de quilombolas que
Outro ponto sobre o qual o estudo ainda viviam na região. Do ponto de vista
para São Salvador se debruçou com mais do patrimônio arqueológico, destacava-se a
vagar foi o uso múltiplo das águas. Entre as possibilidade de realização de investigações
vantagens do reservatório da hidrelétrica de de natureza etnoarqueológica, abordando
São Salvador era mencionada a ampliação questões de continuidade cultural, dada a
da navegabilidade do rio Tocantins, desde variedade de grupos indígenas contatados
a barragem até a casa de força de Cana durante o período colonial. Os estudos
Brava, bastando a construção de uma ambientais destacavam a contribuição
eclusa para viabilizar a transposição. que São Salvador poderia dar para a
Adicionalmente, a construção das eclusas continuidade da pesquisa arqueológica.
382 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Com a criação do estado do Tocantins e a


crescente demanda por usinas hidrelétricas,
a região tornou a ser objeto de estudo,
possibilitando o conhecimento de novas
áreas com potencial arqueológico nos
estados de Goiás e Tocantins, fomentando o
desenvolvimento de pesquisas acadêmicas.
(...) A cultura material deixada pelos antigos
habitantes desta região inclui, ainda, a arte
rupestre, em especial os petroglifos, como
por exemplo, no sítio Grotão da Caieira, em
Minaçu. Os sítios arqueológicos existentes na
área estudada são, portanto, de alta relevância
para o estudo da dinâmica cultural desta
região e, consequentemente, fundamentais
para o entendimento da pré-história brasileira.”
(Engevix, Grupo Rede, EDP, Furnas: São
Salvador - Relatório..., 2001: 15-17)

O Rima de São Salvador elencou


33 impactos ao meio ambiente. Entre os
problemas em consequência direta da
obra estavam a ocorrência de processos
erosivos no solo, a alteração da qualidade Com o objetivo de mitigar ou
“Levantamento, salvamento e artefatos arqueológicos do
da água do rio, perda de vegetação, compensar as interferências ambientais, projeto Saltovia BR-242, entre os municípios de Peixe e
Taguatinga”. Núcleo Tocantinense de Arqueologia da Uni-
habitats e fauna terrestre, interferências na foram propostos 19 programas, como versidade do Tocantins - Unitins
fauna aquática e o comprometimento de ações de monitoramento climatológico,
suas rotas migratórias. Do ponto de vista do lençol freático, sismológico, limnológico
socioeconômico, a usina traria mudanças e da qualidade da água, socioeconômico
nos padrões de uso e ocupação do e cultural e da fauna, incluindo cetáceos
solo, prejudicaria o potencial turístico da e ictiofauna. Foram previstos ainda
região, além de implicar a transferência programas de recuperação de áreas
compulsória das 135 famílias residentes no degradadas, de acompanhamento das
conjunto de propriedades que poderiam ser interferências minerárias, de limpeza
atingidas. Alguns impactos foram avaliados da bacia de acumulação, de resgate
como positivos, como a melhoria dos da fauna, de consolidação de unidade
acessos próximos ao empreendimento, de conservação, de salvamento do
a expansão da oferta de energia elétrica patrimônio arqueológico, histórico e
e o surgimento de movimentos sociais. cultural, de comunicação social, de
1997-2013 Capítulo 8 | 383

remanejamento da população, de saúde A subsidiária da Tractebel Companhia


e de recomposição da infraestrutura. Energética São Salvador assinou o contrato
A Aneel aprovou o estudo de de concessão de São Salvador em
viabilidade do aproveitamento de São abril de 2002, ficando responsável pela
Salvador em julho de 2001 e o EIA-Rima construção. No entanto, a licença prévia do
foi entregue ao Ibama por Furnas no empreendimento somente seria concedida
mês seguinte. Nessa ocasião, o órgão pelo Ibama em agosto de 2004, com a
licenciador concluiu que alguns aspectos aprovação de uma revisão do EIA-Rima,
relevantes para a análise do licenciamento agora com 26 programas ambientais,
ambiental tinham tido tratamento apresentada pela detentora da concessão
insuficiente ou mesmo não haviam sido seis meses antes. A licença de instalação,
objeto do documento. Mesmo assim, o por sua vez, foi expedida em julho de
leilão da concessão foi realizado pela Aneel 2005, atrasando o início das obras. A
em novembro de 2001, saindo vencedora usina começou a operar em fevereiro
a empresa Tractebel Energia, controlada de 2009, três meses após a habilitação
“Vertedouro da usina hidrelétrica São Salvador”. Tractebel
Energia pelo grupo franco-belga GDF Suez. pelo Ibama da licença de operação.
384 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Localizada no trecho médio do rio ambiental da hidrelétrica, desenvolvidos


“Áreas de Influência do Meio Sócioeconômico”. Reprodu-
e prevista desde os anos 1980, a última ao longo de 2001. Os resultados desse ção de mapa do Relatório de impacto ambiental da usina
hidrelétrica Estreito, 2001. CNEC
hidrelétrica erguida no Tocantins foi a trabalho foram divulgados em dezembro do
usina de Estreito, entre os estados do mesmo ano, poucos meses depois dos da Tocantins Maranhão

Maranhão e do Tocantins. O aproveitamento, hidrelétrica de São Salvador. A consultora 1 Aguiarnópolis 57 Alto Parnaíba
2 Ananás 58 Amarante do Maranhão
localizado inicialmente na cota de 158 executante foi a CNEC Engenharia, 3 Angico 59 Balsas

metros, compunha a divisão de queda contratada pelo grupo empreendedor


4 Aragominas 60 Buritirana
5 Araguacema 61 Campestre do Maranhão

proposta pela Eletronorte nos estudos autorizado pela Aneel a efetuar os estudos, 6
7
Araguaína
Araguanã
62
63
Carolina
Davinópolis

de inventário do médio Tocantins, formado pela Companhia Vale do Rio 8


9
Arapoema
Babaçulândia
64
65
Estreito
Feira Nova do Maranhão
aprovados em 1992 pelo Dnaee. Conforme Doce, Alcoa Alumínio, Billiton Metais e 10 Bandeirantes do Tocantins 66 Fortaleza dos Nogueiras
11 Barra do Ouro 67 Governador Edison Lobão
mencionado anteriormente, apesar de ser Camargo Corrêa Energia, produtores 12 Bernardo Sayão 68 Imperatriz
13 Bom Jesus do Tocantins 69 João Lisboa
a responsável pelos estudos, em 1995 independentes de energia interessados 14 Brasilândia do Tocantins 70 Lajeado Novo
15 Campos Lindos 71 Loreto
a Eletronorte perdeu a concessão para em levar a cabo o projeto. A usina se 16 Carmolândia 72 Montes Altos
17 Centenário 73 Nova Colinas
efetuar o empreendimento. Cinco anos localizaria entre os municípios de Estreito 18 Colinas do Tocantins 74 Porto Franco
19 Colméia 75 Riachão
depois, Estreito foi objeto de uma avaliação (MA) e Aguiarnópolis (TO), com potência 20 Couto de Magalhães 76 Ribamar Fiquene

ambiental por parte do Cepel, e, no mesmo estimada de 1.087 megawatts.


21 Darcinópolis 77 Sambaíba
22 Dois Irmãos do Tocantins 78 São Félix de Balsas

ano, foi incluído no programa governamental Os diagnósticos ambientais, nas áreas 23


24
Filadélfia
Fortaleza do Tabocão
79
80
São João do Paraíso
São Pedro dos Crentes

de desestatização com vistas à sua de influência indireta e direta, abarcaram 25


26
Goianorte
Goiatins
81
82
São Raimundo das Mangabeiras
Senador la Rocque
licitação. Em seguida, novo estudo de a área de inundação prevista inicialmente 27 Guaraí 83 Tasso Fragoso
28 Itacajá
inventário reavaliou a divisão de queda do para a cota de 158 metros. A área de 29 Itaguatins Fonte : Geplan-MA, 2001
30 Itapiratins
Tocantins no trecho Lajeado-Estreito e foi influência indireta do empreendimento 31 Itaporã do Tocantins
32 Juarina
aprovado pela Aneel em nome do consórcio continha uma superfície de 47 mil 33 Luzinópolis
34 Maurilândia do Tocantins
Investco em maio de 2001. Desta feita, o quilômetros quadrados, correspondente 35 Miranorte
36 Muricilândia
aproveitamento de Estreito foi reposicionado ao território em que os impactos diretos 37 Nazaré

na cota de 156 metros, dois metros abaixo poderiam repercutir. Desse perímetro
38 Nova Olinda
39 Palmeirante

da original, tendo em vista as vantagens fazia parte um total de 22 municípios, 40


41
Palmeiras do Tocantins
Pau d’Arco

energéticas, econômicas e ambientais. incluindo os dois já mencionados e mais 42


43
Pedro Afonso
Pequizeiro
A essa altura, o rio Tocantins havia se Carolina e Imperatriz, no Maranhão, 44 Piraquê
45 Presidente Kennedy
tornado vital para a produção de energia e Araguaína, Babaçulândia, Barra do 46 Recursolândia
47 Riachinho
elétrica. Em contrapartida, aumentara Ouro, Bom Jesus do Tocantins, Colinas 48 Rio dos Bois
49 Santa Fé do Araguaia
bastante a exigência de que fosse do Tocantins, Darcinópolis, Filadélfia, 50 Santa Maria do Tocantins
51 Santa Terezinha do Tocantins
mantido em condições de ser aproveitado Goiatins, Guaraí, Itapiratins, Palmeirante, 52 Tocantinópolis
53 Tupirama
também por animais, plantas e homens Palmeiras do Tocantins, Pedro Afonso, 54 Tupiratins

às suas margens. Mais viagens foram Santa Maria do Tocantins, Tocantinópolis,


55 Wanderlândia
56 Xambioá

necessárias para a execução dos estudos Tupirama, Tupiratins e Wanderlândia, Fonte : Seplan-TO, 2001

de viabilidade técnica, econômica e todos no estado do Tocantins.


1997-2013 Capítulo 8 | 385

RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL: USINA HIDRELÉTRICA DE ESTREITO


ÁREAS DE INFLUÊNCIA DO MEIO SÓCIOECONÔMICO

50o W 48o W 46o W

N
LEGENDA
Limite estadual

Limite municipal

Área do reservatório

Área de influência direta


69
58
Área de influência indireta
IMPERATRIZ
82
68
63 60
67
29
72
76
34 6o S

70
MARANHÃO
33 52
61
2 TOCANTINÓPOLIS
AGUIARNÓPOLIS
37
74
3 51 79
47 1 ESTREITO
PALMEIRAS DO 56
TOCANTINS 40
DARCINÓPOLIS 21
7
44 64 80
4
36 55
16 66
65 81
49 78
9 BABAÇULÂNDIA
ARAGUAÍNA 73
71
CAROLINA
6 FILADÉLFIA 62

41 23
38 BARRA DO 11 75 77
8 OURO
GOIATINS

PALMEIRANTE
10
12 39

PARÁ COLINAS DO 8o S
18 59
32 TOCANTINS
26
15
14 30
43 54
20 TUPIRATINS ITAPIRATINS 83
31
45
BOM JESUS
DO TOCANTINS
28 SANTA MARIA
GUARAÍ 27 46
DO TOCANTINS
25 19 53
5 50
TUPIRAMA
13 17
24
PEDRO
48 AFONSO 42
22

35

57
TOCANTINS

10o S
ESCALA GRÁFICA

50 05 0 100 km
386 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Já a área de influência direta, com 612 das terras para que os técnicos
Na outra página, “Vista aérea do rio Tocantins”. Eletronorte
quilômetros quadrados, considerou a obtivessem autorização para fazer as
área de incidência dos impactos diretos, investigações de campo. Em seguida,
abrangendo o espaço do reservatório houve um primeiro reconhecimento
a ser formado, com 590 quilômetros de campo, ao longo das estradas e
quadrados, e mais uma faixa de 7 caminhos na área do sítio e, de barco,
quilômetros em seu entorno a partir das ao longo da calha do rio Tocantins. Ao
margens, deixando de fora os municípios final, foi feito um sobrevoo no rio.
de Imperatriz, Araguaína, Colinas do Assim como em várias partes ao
Tocantins, Tocantinópolis e Wanderlândia. longo do Tocantins no Centro-Oeste do
A avaliação dos impactos e o país, a região onde seria construída a
estabelecimento dos programas usina era revestida por diversos tipos
ambientais consideraram a nova de cerrados (formações savânicas),
cota, de 156 metros, que atingiria utilizados como pastagens, intercalados
uma área menor ainda, da qual foram por formações florestais. O rio Tocantins
excluídos os municípios de Bom Jesus não apresentava vegetação ciliar
do Tocantins, Guaraí, Pedro Afonso, significativa, pois as matas tinham
Santa Maria do Tocantins e Tupirama. sido descaracterizadas pela ocupação
Para os estudos de Estreito, humana. Esse tipo de vegetação era mais
foi providenciada uma série de presente nos rios e ribeirões afluentes.
levantamentos de campo, realizados Para melhor conhecer as formações
entre dezembro de 2000 e agosto vegetais da região de influência do
do ano seguinte, envolvendo aproveitamento e estimar seu grau
cartografia, topografia e topobatimetria, de conservação, a equipe contratada
investigações geológicas, hidrometria, realizou um estudo fitossociológico
custos para a área de engenharia, além que permitiu caracterizar os diferentes
dos levantamentos multidisciplinares vegetais. Essas informações foram
para os estudos ambientais, que se complementadas por um inventário
somaram aos dados já existentes florestal, com um levantamento das
para o encaminhamento do árvores com madeiras aproveitáveis.
licenciamento ambiental do projeto. No total foi amostrada uma área de
Para os levantamentos geológico- 15 hectares, na qual foram localizadas
geotécnicos, foi feita uma primeira visita algumas espécies não identificadas.
de inspeção ao local, ocasião em que
foram identificados os proprietários
1997-2013 Capítulo 8 | 387
388 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Foram coletados dados de 9.040 árvores, observados exemplares de gambá de


pertencentes a 254 espécies de 83 orelha branca, macaco-prego, irara,
famílias botânicas. Do total de espécies,
furão, mão-pelada, coati, morcegos,
28 permaneceram indeterminadas, 79
tatus, capivaras, guariba-preto e sagui,
foram identificadas até o nível de gênero
e 28 até a família botânica. (...) A elevada os dois últimos integrantes da lista de
riqueza de espécies encontrada na região animais ameaçados de extinção.
deve-se, principalmente, à mistura da No ambiente aquático, os
vegetação amazônica com espécies das mamíferos presentes eram os botos,
florestas que perdem folhas e dos cerrados
rosa e cinza, que desempenhavam
e ao elevado grau de modificação da região,
importante papel cultural na região.
que proporciona a presença de vegetação
secundária com diferentes idades.”
(Consórcio Nacional de Engenheiros “Estes mamíferos (...) possuem hábitos
Consultores. Relatório..., 2001: 40) exclusivamente aquáticos e podem variar de
cor em decorrência dos hábitos alimentares
e do habitat. (...) São característicos do rio
O estudo da fauna da região não
Orenoco e da bacia amazônica. (...) Sob o
contou com a coleta de exemplares ponto de vista étnico-cultural, os botos têm
vivos nem com a formação de coleções lugar de destaque regionalmente. Algumas
zoológicas, pois os animais viviam sob partes destes cetáceos são tidas como
forte pressão da ocupação humana. Todos amuletos de sorte, implicando na predação
dos indivíduos para obtenção destes itens. Em
os registros de mamíferos, aves, répteis
função disto e da alteração de seus habitats,
e anfíbios foram analisados de acordo
sua população sofre progressiva redução.”
com a sua distribuição pelas formações (Consórcio Nacional de Engenheiros
vegetais existentes, num percurso total de Consultores. Relatório..., 2001, v. 4: 190)
1.353 quilômetros de estradas e trilhas.
Os levantamentos faunísticos Com relação à avifauna, foram
indicaram que os mamíferos habitavam detectadas 164 diferentes espécies,
principalmente as áreas de savana inclusive a arara-azul-grande, ave de
arborizada e as matas ciliares dos grande porte ameaçada de extinção,
rios. O grupo mais representativo da observada em uma assembleia de 20 a 25
região era pertencente à ordem dos exemplares voando rumo a Palmeirante. O
carnívoros e ocorria na savana arborizada, grupo com maior diversidade de espécies
como o cachorro-do-mato comum e a entre as aves era o de pássaros, altamente
raposa-do-campo. Nas matas ciliares resistente à degradação da vegetação.
foi encontrado o maior número de
exemplares de mamíferos, tendo sido
1997-2013 Capítulo 8 | 389

Outro grupo numeroso era composto “O rio Tocantins na área de influência do


por gaviões e falcões, associado à volumosa empreendimento apresenta formação de
praias no período de vazante; tem um fluxo
população de roedores, que lhe servia de
extremamente rápido e corredeiras; e maior
alimento. Quanto aos répteis e anfíbios,
escoamento das águas em relação a outras
contatou-se nos levantamentos de campo regiões. Assim sendo, neste trecho, o rio
21 e 38 espécies, respectivamente, Tocantins pode ser considerado um corredor
não tendo sido encontradas espécies migratório da ictiofauna. A diversidade de peixes
ameaçadas de extinção. já foi muito grande e seus recursos pesqueiros
A ictiofauna naquele trecho do muito importantes para a região Centro-Oeste
do Brasil, contando, principalmente, com
Tocantins já apresentava alterações
curimatás, pacu-manteiga, caranhas, grandes
No sentido anti-horário, “Pacu-manteiga”, “Dourada”, importantes por conta da influência das
bagres, filhotes e douradas. Com o fechamento
“Curimatá” e “Bagre”. Fotografias de Waishington Luis de barragens das usinas de Tucuruí e de Serra
Oliveira reproduzidas do livro Os peixes e a pesca no baixo da barragem de Tucuruí, há mais de quinze
rio Tocantins: vinte anos depois da UHE Tucuruí, editado da Mesa no fluxo do rio, como constataram anos, e a recente entrada em operação da
pela Eletronorte em 2004
os técnicos em viagens de campo. hidrelétrica de Serra da Mesa, o fluxo do rio
Tocantins e o movimento natural dos cardumes
de peixes foram completamente alterados.
O antigo curso do rio, com os alagados em
comunicação com o leito principal, através dos
quais os cardumes migravam regularmente,
permitia a reprodução natural de diversas
espécies de peixes. As matrizes foram
impedidas de subir o rio e realizar a migração
reprodutiva na região amazônica. Atualmente,
o rio Tocantins possui uma menor diversidade
de espécies e um menor número de peixes,
que são de menor porte e mais residentes.”
(Consórcio Nacional de Engenheiros
Consultores. Relatório..., 2001: 51)
390 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Os peixes remanescentes se século XX, a ocupação da região foi


“Padrão de ocupação do centro antigo de Estreito (MA)”.
adaptaram ao novo ritmo do Tocantins esparsa. Quase todos os municípios Fotografia do Relatório de impacto ambiental da usina hi-
drelétrica Estreito, 2001. CNEC
– mais do que isso, a pesca se adaptou: que seriam impactados estavam
os pescadores começaram a usar inseridos em uma área sem dinamismo
equipamentos e técnicas mais adequadas econômico, assim como outras
aos acarás, piabas e pescadas, localidades que margeavam o Tocantins.
principais espécies encontradas depois O município de Estreito fugia um
que aquelas migradoras passaram pouco a esse perfil, por apresentar
a não chegar naquele ponto. alguma pujança econômica em função
Com relação aos aspectos de sua localização – na confluência
socioeconômicos, além da consulta entre a Belém-Brasília e o rio Tocantins
às fontes secundárias de informação, –, que permitiu o desenvolvimento de
a equipe responsável efetuou uma atividades de apoio ao tráfego rodoviário,
série de levantamentos ao longo de além de uma produção agropecuária
todo o primeiro semestre de 2001. mais moderna e de maior rentabilidade.
A área de influência mais ampla do
empreendimento compreendia todo
o norte do Tocantins, localização da
confluência dos rios Araguaia e Tocantins,
grande parcela do leste do território
tocantinense, fronteiriça ao sul do
Maranhão, e ainda uma parte do Pará.
A estrutura fundiária da região
era bastante concentrada, com
predomínio quase absoluto das grandes
propriedades, apesar do elevado
número de pequenos estabelecimentos.
A pecuária era a atividade produtiva
mais disseminada, sendo que 70%
do rebanho do Tocantins era criado
na área de influência indireta do
aproveitamento de Estreito.
As atividades urbanas na área de
influência de Estreito não tinham maior
expressão, pois, até a construção da
rodovia Belém-Brasília, em meados do
1997-2013 Capítulo 8 | 391

“A água do rio utilizada para consumo,


muitas vezes sem quaisquer tipos de
tratamento, sistema de esgoto inexistente,
destino inadequado do lixo, casas na maioria
de taipa, e muitas mal construídas, sem
conforto interno, combinam para retratar
condições inadequadas de habitabilidade
dos moradores. Condições essas que têm
um rebatimento direto nos níveis de saúde
e na qualidade de vida dos moradores.”
(Consórcio Nacional de Engenheiros
Consultores. Relatório..., 2001, v. 5: 175)

No campo, as habitações,
descritas em detalhe, eram mais
precárias que as das cidades.

“As casas são de materiais simples, obtidos


no próprio imóvel, como a taipa (55%), a
palha (27%) e a madeira (7%). As construções
de alvenaria representam apenas 10% do
total. A quase totalidade dos domicílios
(95%), não conta com eletricidade, o mesmo
ocorrendo com as linhas telefônicas. No
Outra exceção era Carolina, que geral, o esgoto ‘corre a céu aberto’, da
“Lago do Tocantins em Carolina (MA)”. Fotografia do portal
Carolina, Maranhão, a rainha d’água de José Emídio Albu- havia atravessado a primeira metade do mesma forma como o lixo doméstico
querque e Silva, 2011 não é armazenado adequadamente, e
século XX como um polo comercial e
o seu destino final mostra-se variado –
político importante para o médio Tocantins queimado, enterrado, jogado no mato.”
e vivido outros 50 anos de decadência (Consórcio Nacional de Engenheiros
desde a construção da Belém-Brasília. A Consultores. Relatório..., 2001: 61)

entrada no novo século, no entanto, havia


sido auspiciosa: projetos de investimento A área que seria diretamente afetada
no sistema rodoviário regional estavam pelo empreendimento foi alvo de dois
alavancando o renascimento da cidade. levantamentos de campo junto à sua
A população residente, especialmente população para obtenção de dados
a do meio rural, tinha condições de vida primários. Foram abordadas as famílias
precárias, apesar da melhoria de alguns rurais residentes ao longo do rio Tocantins
indicadores sociais como as taxas de e seus afluentes entre Tupiratins, no
mortalidade infantil e de analfabetismo. Tocantins, e Estreito, no Maranhão.
392 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Em um trecho com cerca de 300 Entre os trabalhadores, a maioria


quilômetros foram coletadas informações desempenhava atividades ligadas a
em uma amostra com 204 famílias, serviços gerais, que exigiam pouca
número correspondente a mais de 30% qualificação, e sobreviviam com renda
do total. A amostra da área urbana inferior a meio salário mínimo.
totalizou 379 famílias nas cidades de Em termos de patrimônio histórico,
Babaçulândia e bairro Palmatuba, Barra a cidade de Pedro Afonso abrigava
do Ouro, Filadélfia e distrito de Cana algumas construções de maior interesse,
Brava, e Palmeirante, no Tocantins, com três imóveis inventariados pela
além de Carolina, no Maranhão, Secretaria de Cultura tocantinense. No
núcleos que sofreriam interferências Maranhão, o centro histórico da cidade
“Casarão do século XIX, na esquina da rua Diógenes Gon-
diretas do empreendimento. de Carolina, tombado desde 1993 çalves com a rua Duque de Caxias em Carolina (MA)”. Fo-
Nos núcleos urbanos, quase todos pela Secretaria de Cultura estadual, tografia do portal Carolina, Maranhão, a rainha d’água de
José Emídio Albuquerque e Silva, 2013
de pequeno porte e pouco estruturados, abrangia cerca de 500 imóveis do
a população enfrentava falta de empregos século XIX. As demais localidades à Na outra página, “Inscrições rupestres no Morro das Fi-
guras, em Carolina (MA)”. Fotografia do portal Carolina,
e baixos salários, e tinha poucas beira do rio Tocantins na região não Maranhão, a rainha d’água de José Emídio Albuquerque
perspectivas de melhoria futura. dispunham de conjuntos arquitetônicos e Silva, 2013
1997-2013 Capítulo 8 | 393

ou mesmo exemplares de edificações


representativas de épocas passadas
ou de interesse cultural, apesar da
importância histórica de diversos núcleos
que retratavam ciclos econômicos
regionais em que a navegação do
Tocantins era o elo comum.
Assim como em vários outros
pontos ao longo do curso do Tocantins,
o principal valor paisagístico existente
na área de influência de Estreito
relacionava-se ao próprio rio.

“O principal bem paisagístico da região é o


próprio rio Tocantins, que é utilizado como
balneário no período das vazantes – que
ocorrem nos meses de junho, julho e agosto,
quando surgem as regionalmente tradicionais
praias de Filadélfia, de Babaçulândia e de
Imperatriz entre outras de frequência mais
local.(...) Em termos de interesse paisagístico
destacam-se as formações de relevo que
ocorrem no território dos municípios de
Carolina, Filadélfia e Babaçulândia, que
além da beleza natural, compreendem
cachoeiras, cavernas e grutas.”
(Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores.
Relatório..., 2001, v. 3: 115-116)

Ainda na área do aproveitamento


de Estreito, havia registro de quase
200 sítios arqueológicos pré-coloniais,
a maioria pré-cerâmicos, indicando
um ambiente favorável às atividades
de comunidades caçadoras-coletoras.
Um levantamento de campo na
região também identificou algumas
ocorrências arqueológicas.
394 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Os dados reunidos sobre a área da usina de “As aldeias craôs seguem o padrão timbira. As
“Monumento Natural das àrvores Fossilizadas”. Instituto
Estreito comprovaram um grande potencial casas (kré) são dispostas em círculo com um
Natureza do Tocantins
pátio central circular e limpo (càà). Ligando as
para a pesquisa arqueológica. Os prejuízos
casas entre si, tem-se um caminho sempre
a esse patrimônio, advindos da inundação, mantido limpo (kricapé) e desse caminho,
“Craolândia nos anos 1962-1963”. Reprodução do traçado
que ilustra a obra Índios e Criadores, de Julio Cézar Melatti,
poderiam ser mitigados com prospecções em frente de cada casa, sai outro, mais 1967

intensivas para resgate arqueológico estreito (prycarã) até o pátio central. Vistas
amostral, antes do enchimento do lago. do alto lembram uma roda de bicicleta (...).”
(Consórcio Nacional de Engenheiros
Também as áreas legalmente
Consultores. Relatório..., 2001, v. 3: 207)
protegidas foram alvo de interesse dos
estudos que antecederam a construção
da hidrelétrica de Estreito. O lago da usina
alagaria 0,5% do Monumento Natural
das Árvores Fossilizadas, uma unidade
de conservação com mais de 32 mil
hectares, localizada em Filadélfia e criada
em 2000 pelo estado do Tocantins para
proteger diversidades paleontológicas.
O trecho que seria inundado,
porém, não apresentava, segundo a
consultora, material paleontológico.
Localizava-se na área de influência
indireta de Estreito, a montante do
empreendimento, a Terra Indígena Craô
ou Craolândia, a reserva com 302 mil
hectares. A área indígena, demarcada
entre os rios Manuel Alves Pequeno e
Vermelho, nos municípios de Goiatins
e Itacajá, teve sua homologação
efetivada em março de 1990. No último
censo, feito pela Fundação Nacional
da Saúde (Funasa) em 1999, havia
uma população de 1.790 indivíduos.
As aldeias geralmente circulares ou
semicirculares, com um pátio central,
dispunham desse local para a realização
de rituais e reuniões políticas.
1997-2013 Capítulo 8 | 395

Craolândia
(ex-Santa Maria)
CRAOLÂNDIA Os córregos existentes na

++
ANOS 1962-1963 área da reserva eram rasos,
podendo ser atravessados a vau.
Os índios não tinham nem usavam

Rio Vermelho
canoas regularmente. Com um
J osé
oS
ão padrão ecológico de adaptação
e irã
Rib ao cerrado e às matas de galeria,
o
zinh esse povo tem sua principal fonte
Rio
Rio
de proteína na caça e utiliza as
margens dos cursos d’água dentro

nte
Posto Indígena +++

Ribeirão Água Corre


Antônio Estigarríbia
de seu território para a prática da
Aldeia do Posto
los agricultura de pequeno porte.
va
Ca
os
od “Suas roças são consorciadas, tendo a
e irã
Rib mandioca e o arroz lugar de destaque
Fazenda
Maravilha como alimentação básica. Além da
ITACAJÁ
Aldeia do agricultura, os craôs praticam a coleta, a
Abóbora pesca e a caça. As mulheres costumam
ho coletar frutas silvestres como o buriti,
o Riozin
Rio Manoel Alves Grande

Aldeia de Aldeia de Ribeirã a bacaba, o pequi, o bacuri, o oiti e


Pedra Branca Boa União
outras frutas nativas da região e os
homens coletam mel. (...) Na seca, as
Rio Xupé
caçadas são realizadas principalmente
nas matas e, nas chuvas, a preferência
é pelo cerrado, cuja vegetação, úmida
Aldeia
Fazenda e verde nesta época, atrai os animais
do Xupé em busca de alimento. Caçam tatu,
de Serrinha
Ri
oS

ra

Rio tamanduá, raposa, cotia, quati, macaco,


pa
er
rin

Ga
a

veado, e mais raramente a ema, o


çu

me
ha

Su

lei
ra caititu e o porco queixada, estes quase
Rio

extintos na região. Na verdade, a caça


Aldeia do 0 4 8 12 Km escasseia em toda a região do médio
Morro do Boi Tocantins, perseguida pelos regionais
LEGENDA durante todo o período da colonização.
Além de ser uma necessidade alimentar,
Aldeia Indígena
principal fonte protéica, o consumo
Posto indígena
de carne por todos os habitantes
Fazenda do SPI das aldeias é obrigatório em todos
Rib e Vila os cerimoniais, que são muitos.”
irão
Cac
h o e ir +++ Sede Municipal (Consórcio Nacional de Engenheiros
a
Consultores. Relatório..., 2001, v. 3: 212)
396 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Como estava situada a cerca de informações desencontradas vindas dos


“Unidades de conservação propostas”. Reprodução do
150 quilômetros ao sul do local da povoados atingidos por outras hidrelétricas, traçado de mapa do Relatório de impacto ambiental da
usina hidrelétrica Estreito, 2001. CNEC
barragem e a quase 40 quilômetros do temia as mudanças provocadas pelo
ponto mais próximo do rio Tocantins, barramento do Tocantins, do qual tiravam
portanto em área relativamente distante, o sustento e o lazer gratuito e acessível
as terras craô sofreriam interferências de suas praias. Na avaliação dos técnicos,
indiretas do empreendimento. Entre os as duas vertentes de expectativas se
problemas antevistos estavam o risco justificavam, e caberia ao empreendedor
de alteração do estoque de peixes encontrar o ponto de equilíbrio possível
na reserva, a ampliação da área de entre os impactos negativos e os
desmatamento na região e uma pressão benefícios para os habitantes.
maior sobre a área da reserva indígena
por invasão de posseiros migrantes “(...) considerando o conjunto de impactos
que serão causados pelo empreendimento,
ou fazendeiros especuladores.
depreende-se que as transformações
A partir dos estudos desenvolvidos, decorrentes afetam apenas aspectos parciais
foi prevista a ocorrência de uma série da estrutura produtiva, sociedade e paisagens.
de impactos ambientais nos meios Em contrapartida, um determinado modo
físico, biótico e socioeconômico, de vida, típico das populações ribeirinhas e
que tem no Tocantins seu principal alicerce,
com a implantação da hidrelétrica de
se verá comprometido, face à sucessão
Estreito, incluindo o remanejamento de represas que poderá transformar o rio
de cerca de 1.290 famílias urbanas e Tocantins em imenso lago. Vinculado a
ruais, somando mais de 6 mil pessoas. este modo de vida, está a perda das praias
Em contrapartida, foram elencados fluviais, que também afetará a economia
de subsistência das populações ribeirinhas,
cerca de três dezenas de programas
pois é na temporada de praia, entre junho e
ambientais visando à mitigação dos agosto, que mais se mobiliza essa economia,
efeitos perniciosos, cuja implementação com a presença de grande número de
ficaria a cargo do empreendedor turistas. Por outro lado, apesar de acarretar
danos irreversíveis e não mitigáveis para as
responsável pela construção.
populações diretamente afetadas, do ponto
A convivência com as usinas de vista socioeconômico e ambiental, para o
instaladas no Tocantins havia trazido conjunto da população dos municípios da área
para a população ribeirinha uma de influência, mesmo de seus segmentos mais
perspectiva diferente sobre o uso deprimidos, podem ser previstas melhorias.”
(Consórcio Nacional de Engenheiros
do rio. Parte esperava que um novo
Consultores. Relatório..., 2001: 259 e 260)
empreendimento criasse uma porta
de saída para a estagnação econômica
da região; outra parte, influenciada por
1997-2013 Capítulo 8 | 397

RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL: USINA HIDRELÉTRICA DE ESTREITO


UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PROPOSTAS

ITO
RE
EST
N

R. Fa
r inha

S
IN
NT
CA
TO
RIO

LEGENDA

Monumento Natural da Árvores Fossilizadas


/230
Mesa de Babaçulândia (proposta)
BR-010

BABAÇULÂNDIA Mesa de Carolina (proposta)

TO
FILADÉLFIA CAROLINA

RIAC
H ÃO
2
-22
TO

AR
MA
AG
UA
ÍN
A

BIELÂNDIA

ESCALA 1:500.000

0 5 10 Km
O estudo de viabilidade de Estreito instalação, obtida em dezembro de
“Obras da usina hidrelétrica de Estreito”. OAS Engenharia
foi aprovado pela Aneel em março de 2006. As obras civis foram finalmente
2002 e o aproveitamento, licitado, pela iniciadas em junho de 2007 e a usina
mesma agência, quatro meses depois, entrou em operação em abril de 2011.
enquanto, paralelamente, estava em curso Atualmente, Estreito perfaz 1.087 MW de
o processo de licenciamento ambiental potência instalada, e seu reservatório,
pelo Ibama. O vencedor da licitação foi 400 quilômetros quadrados de área.
o Consórcio Estreito Energia (Ceste), As usinas de Peixe Angical, São
formado atualmente pelas empresas Salvador e Estreito, os últimos projetos
Tractebel Energia, Vale, Alcoa Alumínio e hidrelétricos levados a cabo no rio
InterCement (do grupo Camargo Corrêa). Tocantins, foram sendo viabilizados em
A licença prévia de Estreito foi meio a mais uma reforma institucional
expedida somente em abril de 2005, mas no setor elétrico, empreendida desta
com uma série de 44 condicionantes. vez pelo primeiro governo de Luiz Inácio
Além das condições impostas pelo Lula da Silva (2003-2006). Promulgadas
órgão ambiental, ações públicas em 2004, as novas leis revitalizaram
movidas pelo Ministério Público Federal a presença do Estado nas atividades
atrasaram a concessão da licença de de planejamento e regulação do setor
1997-2013 Capítulo 8 | 399

e o papel das empresas públicas na pública vinculada ao MME, que assumiu


“Reservatório da usina hidrelétrica de Serra da Mesa”.
CPFL expansão do sistema elétrico. O novo o encargo de elaborar os estudos de
modelo, ao mesmo tempo em que planejamento integrado de recursos
centralizava as decisões de planejamento energéticos, os planos de expansão do
no âmbito governamental, mantinha a livre setor elétrico, assim como promover os
concorrência nos mercados de geração estudos de potencial energético e de
e transmissão, por meio de regras viabilidade de novas usinas, incluindo
para a comercialização de energia por a obtenção de licença prévia para os
licitações segmentadas (energia nova e já aproveitamentos hidrelétricos. Parte dessas
existente) a serem realizadas pela Aneel. tarefas, anteriormente, era da alçada do
Um dos pontos mais importantes GCPS, que as realizava sob a coordenação
da reforma foi a retomada, pelo governo da Eletrobras. Em 2006, depois de um
federal, das rédeas do planejamento lapso de sete anos, a EPE divulgou o Plano
setorial. A Lei nº 10.847, de março de Decenal de Expansão de Energia Elétrica
2004, autorizou a criação da Empresa 2006-2010 e, no ano seguinte, o Plano
de Pesquisa Energética (EPE), entidade Nacional de Energia 2030 (PNE 30).
A obtenção da declaração Em 2007, durante o segundo
“Vertedouro da usina hidrelétrica Tucuruí”. Eletronorte
de disponibilidade hídrica dos mandato do presidente Lula (2007-2010),
aproveitamentos hidrelétricos, expedida foi divulgada uma nova versão, revista,
pela ANA desde 2003, e a realização do manual de estudos de inventário para
do EIA de novas centrais hidrelétricas aproveitamentos hidrelétricos. O trabalho,
passaram à responsabilidade da iniciado em 2004 com a supervisão
EPE – segundo o novo modelo, os do MME, contou com a participação
empreendimentos só deviam ser do Cepel, contratado para coordenar
licitados com licença prévia. e consolidar os resultados, e o apoio
Para a licença de instalação, tornou- do Banco Mundial, por meio do projeto
se necessária a elaboração de um Plano Energy Sector Technical Assistance
Básico Ambiental (PBA), conjugado Loan. A ideia era fazer uma atualização,
com o projeto básico da usina. considerando as mudanças ocorridas
A cargo do empreendedor, o PBA devia nas áreas de legislação, meio ambiente,
detalhar os programas previstos no recursos hídricos e institucionais e
EIA-Rima e atender às condicionantes incorporando os avanços conceituais,
impostas pelos órgãos ambientais metodológicos e técnicos no campo
durante o processo de licenciamento. da avaliação dos recursos hidrelétricos,
1997-2013 Capítulo 8 | 401

dentro e fora do país, nos dez anos suficiente para envolver o conjunto dos
“Barragem da usina hidrelétrica Peixe Angical”. Enerpeixe
que haviam transcorrido desde a última projetos de uma mesma bacia hidrográfica,
edição do manual feita pela Eletrobras. abrangência típica, aliás, dos estudos de
Entre as inovações do documento inventário no ciclo do planejamento.
estavam uma nova concepção de estudo, O foco da AAI era a situação
a Avaliação Ambiental Integrada (AAI), ambiental da bacia hidrográfica em
exigida pelo conceito de desenvolvimento consequência da implantação do
sustentável, e a consideração dos conjunto de aproveitamentos existentes
usos múltiplos das águas, seguindo o ou planejados, avaliando os efeitos
Plano Nacional de Recursos Hídricos cumulativos e sinérgicos relativos a
(PNRH). A experiência acumulada pelas esse conjunto de aproveitamentos em
empresas do setor de energia elétrica diferentes cenários de desenvolvimento da
havia deixado clara a necessidade de bacia, em função dos prazos estimados
estudos socioambientais com abrangência para implantação de cada projeto.
402 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

O novo manual recuperou e elétrico que as viagens resultaram na


“Vista a jusante da usina hidrelétrica de Lajeado”. 24 de
atualizou a tradição das instruções elaboração de retratos minuciosos, janeiro de 2003. Investco/Grupo Rede Energia

de viagem, agora investidas de valor até então inéditos, sobre a vida no


legal, pois as prescrições destinavam- rio e em torno dele. A massa crítica
se à elaboração de estudos e também produzida por viajantes do passado –
à sua aprovação para a construção remoto e recente –, e contemporâneos,
dos projetos hidrelétricos como seu permitiu que, atualmente, órgãos do
desdobramento efetivo. Até mesmo governo e instituições de pesquisa
a feitura dos inventários deveria tenham à disposição informações
obedecer a uma série de procedimentos primárias valiosas, apesar de ainda
institucionais e legais para ser validada. serem organizadas novas expedições ao
Ao longo do século XX, o volume Tocantins sempre que novos aspectos
de dados reunidos sobre o rio Tocantins e abordagens se façam necessários.
passou a ser trabalhado de maneira No início da segunda década do
institucional, com o objetivo de embasar século XXI, o rio Tocantins abriga sete
políticas públicas. Mas foi no setor usinas hidrelétricas em operação: Tucuruí
1997-2013 Capítulo 8 | 403

(incluindo a segunda etapa), Serra da caminho para reflexões aprofundadas


“Usina hidrelétrica Cana Brava”. Tractebel Energia
Mesa, Cana Brava, Lajeado, Peixe Angical, sobre o Tocantins, a essa altura já
São Salvador e Estreito. Outros quatro manejável, até obediente em alguns
aproveitamentos estão em projeto – trechos. Além disso, o rio adquiriu uma
Marabá, Serra Quebrada, Tupiratins e função estratégica, não apenas na geração
Ipueiras –, com seu papel já definido pelo de energia elétrica para o país e no
planejamento setorial do governo federal. desenvolvimento econômico do Centro-
O conhecimento alcançado por tantas Oeste, e também tornou-se expressão
viagens e por viajantes tão diversos abriu do uso sustentável dos rios brasileiros.
404 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

“Rio Tocantins no balneário da Ceorta, em


Tocantinópolis”. Fotografia de Cesar Barros.
26 de julho de 2011
Índice onomástico

A BASTOS, Celestino Alves 129 CAROLINO, Pedro


BATES, Henry Walter 99, 100, 102, 103, 115, 123 ver ALMEIDA, Pedro Carolino Pinto de

ABBEVILLE, Claude D’ 25, 26 BERFORD, Sebastião Gomes da Silva 60, 62 CARRÉROT, Domingos 138, 141, 166, 168

ABRANTES, Alfredo José 129 BERNARDES, Carmo CARVALHO, José de Almeida Vasconcelos

ADAM, Victor 31 ver COSTA, Carmo Bernardes Soveral de 36, 37, 44

ALBERNAZ, João Teixeira 19 BERREDO, Bernardo Pereira de CARVALHO, José Paes 138

ALBUQUERQUE, Antônio Cavalcanti 129 ver CASTRO, Bernardo Pereira de Berredo e CARVALHO, Plácido Moreira de 75

ALBUQUERQUE, João P. de 154 BERTHET, Michel 123-125 CARYPYRA, François 25

ALENCASTRE, José Martins Pereira de 65 BETTENDORF, João Felipe 28, 32 CASTELLO BRANCO, Humberto de Alencar 236

ALMEIDA, João de 32 BIARD, Auguste François 113 CASTELNAU, Francis Louis 94-99, 367

ALMEIDA, Pedro Carolino Pinto de 129 BLÁISE, Maurice 37 CASTILHO, Fernando Delgado Freire de 64

ALVES, Renato de Oliveira 15, 315 BLOTNER, Felix 176, 177, 180 CASTRO, Bernardo Pereira de Berredo e 34

AMARAL, Florentino Marianno 110 BORGES, Mauro CAVALCANTI

AMENO, Francisco Luiz 34 ver TEIXEIRA, Mauro Borges de ver ALBUQUERQUE, Antônio Cavalcanti

ANDREONI, Aldo 13, 218-224 BRAGA, A. de A. 88 CAVALCANTI, José Costa 236

ANHANGUERA BRAGA, José Peixoto da Silva 24 CAXIAS, Duque

ver SILVA, Bartolomeu Bueno da BRIGOLINI, Milton 318 ver SILVA, Luís Alves de Lima e

AUDRIN, José Maria 137, 138, 140, 166, 168, 169 BRUSQUE, Francisco Carlos de Araújo 104 CHAGAS, Carlos 154

AUGUSTUS, Ernesto 302 BUENO, Jerônimo Coimbra 223 CHAMBOULEYRON, Rafael Ivan 28, 29
BURCHELL, Willian John 92, 93 CHAMPNEY, James W. 92, 96, 106,

B 115, 116, 118-120, 123


C CHARTIER, Eduardo 129

BANDEIRA, R. do A. 28 CHIESA, Giacomo della 166

BARATA, Francisco José Rodrigues 50 CALDAS, João Pereira 37 COLLOR

BARATA, Joaquim de Magalhães 174 CALLCOT, Maria Dundas Graham 24 ver MELLO, Fernando Affonso Collor de

BARBIER, P. 229 CAMBESES JÚNIOR, Manuel 174 COLOMBINA, Francesco Tossi 34

BARRETO, Domingos Alves Branco Muniz 41 CAMPOS, Ladislau 230 CONDURU, Roberto 160

BARRETO, Inácio do Rego 29 CARDOSO, Alírio Carvalho 28, 29 CONRADO, Denis 364

BARROS, César 404 CARDOSO, Fernando Henrique 356 CONRADO, Ecymonte 15, 324, 345, 351, 379
406 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

CORREIA, Ângelo Custódio 100 FIGUEIREDO, Inácio José Maria 57 I


CORREIA, João Augusto 100 FIRENS, Pierre 25
CORREIA, Magnólia 278 FLORES, Katia Maia 110, 113 IRWIN, Howard 244, 257
COSTA E SILVA, Arthur da 236 FOERTHMANN, Heinz 179 IVES, Andrew 366
COSTA, Antônio Jacinto de Araújo 129 FONSECA, João Severiano da 22
COSTA, Carmo Bernardes 230 FRAGOSO, Augusto Tasso 129 J
COSTA, José 143 FRANCO, Itamar Augusto Cautiero 332
COSTA, José Ribamar Ferreira de Araújo 312 FRÈRES, Thierry 69 JANGO
COTTA, Ana 219 ver GOULART, João Belchior Marques
COUDREAU, Henri Anatoli 11, 140, 141-145, G JARDIM, Jerônimo Rodrigues de Moraes 153, 154
149, 150, 158, 169, 170, 210 JARDIM, Joaquim Rodrigues de Moraes 153
COUDREAU, Octavie 141 GAFFRÉE, Cândido Lucas 210 JK
COUTINHO, Francisco José de Sousa 44, 48, 49 GAMA, Alípio 129 ver OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de
CRULS, Louis Ferdinand 129, 131 GARBOGGINI, Hamilton 328 JOÃO IV 29
CUIABÁ, João de Azevedo Peres 129 GARDNER, George 92-94 JOÃO VI 54
GAULTHIER, Leonard 25, 26
D GAZZOLA, Rubens Moreno 193 K
GEISEL, Ernesto Beckmann 254
DARWIN, Charles Robert 102 GIANNI, Giuseppe 54 KONT, Meyers 157
DEBRET, Jean Baptiste 55, 58, 64, 69 GILG, Ernst 140 KOSSOY, Boris 15, 150
DENNIS, Ferdinand 157 GOELDI, Emílio 147, 152, 163 KUBITSCHEK, Juscelino
GOMES, Vicente Ferreira 103, 104 ver OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de
E GOODLAND, Robert 14, 244, 257, 264, 265,
267-269, 272 L
ENDER, Thomas 71, 90 GOULART, João Belchior Marques 232, 239
ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig Von 81, 90 GOUVEIA, Pedro A. 129 LACAILLE, Julião de Oliveira 129
EVREUX, Yves D’ 25 GUIMARÃES, Manoel Ribeiro 37 LAGO, Antônio Florêncio Pereira do 112, 113, 120
LANCASTER, Joseph de Carvajal y 34
F H LAU, Percy 124, 128, 144, 149, 191, 197, 200, 202
LEÃO, Claudio Gonçalves Ponce de 123
FAILDE, Sula 15, 299, 376 HABSBURGO-LORENA, Carolina Josefa Leopoldina LEÃO, Pacheco 154
FARIA, José de 154 Francisca Fernanda Beatriz de 70 LEBORNE, Joseph-Louis 56
FELLIPO, Rodrigo 328 HIDASI, José 348 LEITE Júnior, Antonio Dias 234
FERNANDES, André 22, 23 HOEHNE, Friedrich C. 133 LEOPOLINA, Maria
FERREIRA, Alexandre Rodrigues 31-33, 42-44, HOLANDA, Sérgio Buarque de 51 ver HABSBURGO-LORENA, Carolina Josefa
47, 49-51, 62, 81 HUMBOLDT, Alexander Von 72, 343 Leopoldina Francisca Fernanda Beatriz de
FERREIRA, Manoel Rodrigues 31 HUSSAK, Eugênio 129 LEONARDOS, Othon 203
FIGUEIRA, Luiz 28 LIMA, Cupertino 195
Índice Onomástico | 407

LINEU, Carlos 41, 72 MIKAN, Johan Christian 72 PARTIDISTA, Ignácio José 88


LINNAEUS, Carolus MISCH, Gaspar 32 PATERNOSTRO, Júlio 12, 184-186, 189, 191,
ver Carlos Lineu MORAES, Eduardo José de 110, 206 193, 195, 197, 199, 200, 202, 203, 209
LISBOA, Antônio Luiz Tavares 37 MORAES, João José Corrêa de 115 PEDRO I 70
LISBOA, Cristóvão de 24, 25, 26, 27, 28 MORAES, Joaquim de Almeida Leite 120, 122, 123 PEIXOTO, Floriano Vieira 129
LOHSE, Ernesto 147, 163 MORIZE, Henrique Carlos 129 PENNA, Belisário 154, 156-158, 160, 162, 163
LORENZ, Arnold 176 MOSSÂMEDES, BARÃO de PENNA, Domingos Soares Ferreira 104, 106-108
LUDOVICO, Pedro ver CARVALHO, José de Almeida PIMENTEL, Antônio Martins de Azevedo 129
ver TEIXEIRA, Pedro Ludovico Vasconcelos Soveral de PINTO, N. Pereira 158
LUND, Peter Wilhelm 347 MOTTE, Charles Etienne Pierre 55, 58, 64, 69 POHL, Johann Emanuel 71, 72, 74, 75, 76, 77,
LUTZ, Adolpho 154 MOURA, Hastímphilo de 129 78, 80, 82, 88, 94
MOURA, Ignácio Baptista de 145-147, 149, 150, POMBAL, Marquês de
M 152, 154, 165 ver MELO, Sebastião José de Carvalho e
PRÊTE, Jean Gabriel 375
MACHADO, Antônio Cândido da Cruz 59 N
MACHADO, Astrogildo 154 R
MACHADO, Diogo Barbosa 19 NATTERER, Johann 82, 90
MAGALHÃES, Francisco José Pinto de 62, 75 NAVES, B. 362 RABELLO, Mario João 135
MAGALHÃES, José Vieira Couto de 103,104, 108- NEIVA, Arthur 154, 156-158, 160, 162, 163 RAMALHO, Joaquim Ignácio 97
110, 113, 115, 116, 120, 122, 204, 220, 222 NIMUENDAJÚ, Curt 140, 141, 143, 144, REAL, Thomaz de Souza Villa 37-39, 44, 45,
MALCHER, José Carneiro da Gama 174 149, 168-170, 179, 195, 204 47, 48, 97
MARIA I 49 NUNES, Manoel 31 REGO, Inácio do
MARIA, Ilana 15, 150 ver BARRETO, Inácio do Rego
MARTINS, Antônio 154, 158 O REIS, Francisco Parahybuna dos 108, 109
MARTINS, Antônio 231, 235, 236, 240, 243, 254, RHOMBERG, A. 77
260, 276, 367 OLDEBRECHT, Adolfo 211 RIBEIRO, Francisco de Paula 66, 67-70, 75
MARTIUS, Karl Friedrich Phillip Von 63, 77, 78, 80, OLIVEIRA, Américo Leônidas Barbosa de 203, RIC 294
81, 90, 99, 347 204, 206, 207, 209, 210, 218, 231 RIGHNI, León 108
MASCARENHAS, Francisco de Assis 50 OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de 225 RIJKIRCHIEF, Algemeen 37
MATOS, Raimundo José da Cunha 59, 86, 88, 90, OLIVEIRA, Ricardo Lourenço de 160 ROBSON, E. W. 123
91, 92, 94, 97, 99 OLIVEIRA, Waishington Luis de 389 RODRIGUES, Lysias Augusto 174, 176-178,
MAWE, John 90 180-183, 185
MELATTI, Julio Cézar 394 P RONDON, Cândido Mariano da Silva 129, 131,
MELLO, Fernando Affonso Collor de 330, 332 133, 135, 136
MELO, José Paulo 129 PAPA Bento XV ROQUETTE-PINTO, Edgard 186
MELO, Sebastião José de Carvalho e 37, 41, 55 ver CHIESA, Giacomo della RORIZ, João Manoel 62
MENEZES, João Manoel 49 PARINGER, Joseph 77 RUGENDAS, Johann Moritz 31, 56, 77
MENEZES, Tristão da Cunha 44, 47, 48, 49 PARRIAO, Osterno 303
408 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

S TEIXEIRA, Mauro Borges de 226, 228, 235


TEIXEIRA, Pedro Ludovico 33, 174

SÁBER, Aziz Nacib Ab’ 277 TELES, Tomás da Silva 34

SAINT-HILLARE, Auguste 82 TOUCHE, Daniel de La 25

SANTOS, Breno 246 TOURNIER, Reginaldo M. 180

SANTOS, Rui Oliveira 15, 294 TRUMAN, Harry S. 233

SÃO JOSÉ, Cristóvão de 25


SARNEY, José U
ver COSTA, José Ribamar Ferreira de Araújo
SCHMID, Phillip 78 ULE, Ernesto 129

SCHULTZ, Harald 224


SCHUMANN, Karl 140 V
SEGURADO, Joaquim Teotônio 57, 59, 97
SEGURADO, Rufino Teotônio 97, 98, 99 VANDELLI, Domenico Agostino 14, 41, 43,

SENHOR DE LA RAVARDIÈRE 287, 288

ver TOUCHE, Daniel de La VARGAS, Getúlio Dornelles 12, 174, 212, 214, 224

SILVA, Bartolomeu Bueno da 22-24 VAUX, Charles de 27

SILVA, Castro 160 VIEIRA, Antônio 28, 29, 30, 31, 138

SILVA, Francisco Ayres da 162, 163, 165, 166, 199 VIERT, Joachin Du 25

SILVA, José Emídio Albuquerque e 15, 391, 392 VILANOVA, Gil 123, 141

SILVA, Luís Alves de Lima e 88


SILVA, Luiz Inácio Lula da 398, 400 W
SILVARES, José Ribeiro da Fonseca 59
SMYTH, William 66 WALLACE, Alfred Russel 99, 102

SOARES, Diogo 24 WARMING, Johannes Eugenius Bülow 347

SOMLO, Tomas 209 WEBER, Th. 107

SOPER, Frederick Lowe 66, 186 WELLS, James 116, 118-120

SOUTO, Francisco 129 WHYMPER, Josiah Wood 100, 103

SOUZA, Luiz Antonio da Silva e 65, 66, 72, 82, 91


SOUZA, Thomaz de X
ver REAL, Thomaz de Sousa Villa
SPIX, Johann Baptiste Von 63, 69, 77, 78, 80, XAVIER, Joaquim Cardozo 40

81, 90, 367


Z
T
ZWECKER, Johann Baptiste 100

TAUNAY, Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle 24


TAVARES, José Luiz 31
Índice intitulativo

A Amazônia Mineração 252 BNDES


ANA ver Banco Nacional de Desenvolvimento

Academia de Belas Artes (Viena, Áustria) 71 ver Agência Nacional de Águas (ANA) Econômico e Social (BNDES)

Academia de Ciências, Portugal 42, 70 Aneel Bradesco 334

Adtur-TO ver Agência Nacional de Bureau of Reclamation do Departamento do

ver Agência de Desenvolvimento Turístico Energia Elétrica (Aneel) Interior dos EUA 13, 234, 235, 239

do Estado do Tocantins (Adtur-TO) Arquivo Histórico do Exército 15, 64, 88, 90,

Aerosul 362, 379, 381 104, 108, 110, 113, 131, 133, 135, 152 C
Ageitec Arquivo Histórico Ultramarino, Portugal 15,

ver Agência Embrapa de Informação 21, 24, 26, 37, 88 CAM

Tecnológica (Ageitec) Arquivo Público do Distrito Federal 129 ver Correio Aéreo Nacional (CAM)

Agência de Desenvolvimento Turístico do Estado do Câmara Municipal de Palmas 352

Tocantins (Adtur-TO) 311, 341, 360, 368 B Camargo Corrêa 334, 398

Agência Embrapa de Informação Camargo Corrêa Energia 384

Tecnológica (Ageitec) 367 Banco Central 334 Camargo Corrêa Metais (CCM) 272

Agência Fapesp Banco Interamericano de Desenvolvimento CAN

ver Fundação de Amparo à Pesquisa (BID) 337, 264 ver Correio Aéreo Nacional (CAN)

do Estado de São Paulo Banco Mundial 14, 264, 372, 400 Canambra 236, 284

Agência Fiscal de Alcobaça 188 Banco Nacional 334 Casa de Oswaldo Cruz

Agência Nacional de Águas (ANA) 371 Banco Nacional de Desenvolvimento ver Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) 335 Econômico e Social (BNDES) 330 CCM

Agência Tocantinense de Notícias 303 BHP Billiton Metais 272 ver Camargo Corrêa Metais (CCM)

Agropecuária Capemi 272 Biblioteca Digital Curt Nimuendajú 140, 143, CCPE

Albrás 144, 149, 158, 169, 170 ver Comitê Coordenador do

ver Alumínio Brasileiro (Albrás) Biblioteca Nacional, Portugal 15, 26, 28 Planejamento da Expansão (CCPE)

Alcoa Alumínio SA 272, 384, 398 Biblioteca Patrimonial de Gray, França 94, 96, 99 CEB

Alumar BID ver Companhia Energética de Brasília (CEB)

ver Consórcio de Alumínio ver Banco Interamericano de Celg

Maranhão (Alumar) 272 Desenvolvimento (BID) ver Centrais Elétricas de Goiás (Celg)

Alumínio Brasileiro (Albrás) 258, 269, 272


410 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Celtins Cetesb Comitê de Fiscalização das Expedições


ver Companhia de Energia Elétrica do ver Companhia de Tecnologia de Artísticas e Científicas no Brasil 214
Estado do Tocantins (CELTINS) Saneamento Ambiental (Cetesb) Companhia de Energia Elétrica do Estado do
CEM Chesf Tocantins (CELTINS) 311, 337, 340,
ver Companhia Energética Mercosul (CEM) ver Companhia Hidro Elétrica 342, 343, 345, 348, 352, 353, 358
e Companhia Energética Meridional (CEM) do São Francisco (Chesf) Companhia de Jesus 29
Cemig Civat Companhia de Tecnologia de Saneamento
ver Companhia Energética de ver Comissão Interestadual dos Vales Ambiental (Cetesb) 348
Minas Gerais (Cemig) do Araguaia e do Tocantins (Civat) Companhia de Viação Férrea e Fluvial do
Centrais Elétricas Brasileira SA (Eletrobrás) 13, 229, CLTEMTA Tocantins e Araguaia 153
236, 239, 243, 252, 275, 280, 284, 288, 291, ver Comissão de Linhas Telegráficas Companhia Energética de Brasília (CEB) 353
313, 332, 353, 355, 356, 358, 360, 399, 401 Estratégicas do Mato Grossso (CLTEMTA) Companhia Energética de Minas
Centrais Elétricas de Goiás (Celg) 13, 14, 212, Clube de Engenharia 174, 181 Gerais (Cemig) 264
228, 230-232, 235, 243, 254, 311 Cnaee Companhia Energética de São Paulo (Cesp) 343
Centrais Elétricas do Norte do Brasil SA (Eletronorte) ver Conselho Nacional de Companhia Energética Mercosul (CEM)
14, 231, 235, 236, 240, 243, 252, 254, 257, Águas e Energia (Cnaee) ver Companhia Energética Meridional (CEM)
258, 260, 262, 264-267, 269, 270, 272, CNEC Engenharia 384, 390, 396 Companhia Energética Meridional (CEM) 337
273, 275, 276, 284, 288-294, 296, 297, Comissão Central Brasileira de Eugenia 158 Companhia Energética São Salvador 383
299, 301, 303, 304, 306-309, 312, 333, Comissão da Carta Geral do Brasil 181 Companhia Hidro Elétrica do São
337, 339, 346, 376, 385, 386, 389, 400 Comissão de Estudos da Nova Francisco (Chesf) 260, 264
Centro da Memória da Eletricidade no Brasil 5, 6 Capital da União 129 Companhia Paulista de Energia Elétrica (CPEE) 353
Centro de Pesquisa e Documentação de História Comissão de Estudos e Obras dos Rios Araguaia Companhia Paulista de Força e Luz
Contemporânea do Brasil (CPDOC) 197, e Tocantins (Ceorta) 223, 232 (CPFL Geração) 334, 399
210-212, 214, 215, 225, 226, 229, 268 Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas do Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)
Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) Mato Grosso ao Amazonas (CLTEMTA) 129 ver Vale
356, 384, 400 Comissão de Reconhecimento e Estudos Conama
Ceorta dos Rios Tocantins e Araguaia 210 ver Conselho Nacional do Meio
ver Comissão de Estudos e Obras dos Comissão Exploradora do Planalto Central 129 Ambiente (Conama)
Rios Araguaia e Tocantins (Ceorta) Comissão Geral de Viação 153 Congresso Nacional 129, 311, 334
Cepel Comissão Interestadual dos Vales do Araguaia e do Conselho Nacional de Águas e Energia
ver Centro de Pesquisas de Tocantins (Civat) 13, 232-235, 278, 280 Elétrica (Cnaee) 214
Energia Elétrica (Cepel) Comissão Pereira Lago 204 Conselho Nacional de Geografia 181, 214
Cesp Comissão Telegráfica do Mato Grosso 129, 133 Conselho Nacional de Proteção aos Índios 131, 214
ver Companhia Energética de São Paulo (Cesp) Comitê Coordenador do Planejamento Conselho Nacional do Meio Ambiente
Ceste da Expansão (CCPE) 356 (Conama) 275, 289, 356
ver Consórcio Estreito Energia (Ceste) Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos Consórcio de Alumínio Maranhão (Alumar) 272
da Amazônia (Eneram) 13, 236, Consórcio Estreito Energia (Ceste) 398
239, 240, 243, 252, 260
Índice intitulativo | 411

Consórcio Nacional de Engenheiros Divisão Internacional de Saúde Pública da Eneram


Construtores (CNEC) Fundação Rockefeller 185 ver Comitê Coordenador dos Estudos
ver CNEC Engenharia Dnaee Energéticos da Amazônia (Eneram)
Correio Aéreo Militar (CAM) 180, 182 ver Departamento Nacional de Águas Energias de Portugal (EDP) 353, 358, 371,
Correio Aéreo Nacional (CAN) 174 e Energia Elétrica (Dnaee) 372, 375, 379, 380, 382
CPDOC DNER Energisa, consórcio 334
ver Centro de Pesquisa e Documentação de ver Departamento Nacional de Enerpeixe SA 401
História Contemporânea do Brasil (CPDOC) Estradas e Rodagem (DNER) Enerpeixe, consórcio 371, 372
CPEE DNPVN Engevix Engenharia 243, 252, 253, 291, 358,
ver Companhia Paulista de ver Departamento Nacional de Portos 372, 374, 375, 379, 380, 382
Energia Elétrica (CPEE) e Vias Navegáveis (DNPVN) Engevix-Ecotec, consórcio 260
CPFL Geração Dynamis Energética EPE
ver Companhia Paulista de Força ver Serra da Mesa Energia SA (Semesa) ver Empresa de Pesquisa Energética (EPE)
e Luz (CPFL Geração) Escola de Minas de Ouro Preto 133
CVRD E Escola Politécnica de São Paulo 133
ver Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) Escola Politécnica do Rio de Janeiro 133
Ecotec Escola Superior de Guerra 129
D ver Ecotec Projetos e Conservação de Energia Estação Experimental de Construção Naval
Ecotec Projetos e Conservação de de Wageningen, Holanda 223
Departamento de Aeronáutica Civil 176 Energia 243, 252, 253, 260, 291 Estrada de Ferro D Pedro II 116
Departamento de Biologia do Instituto EDP Energias do Brasil 243, 252, 253, 260, 291, Estrada de Ferro Carajás 275, 381
de Bio Ciências da USP 360 374, 375, 379, 380 Estrada de Ferro do Norte do Brasil 165
Departamento de Botânica do Museu Nacional 322 EDP Estrada de Ferro do Tocantins 12,191,
Departamento de Entomologia do ver Energias de Portugal (EDP) 206, 210, 212, 220
Museu Nacional 322 EEVP Estrada de Ferro Madeira-Mamoré 150
Departamento de Infraestrutura de ver Empresa Eletricidade Vale Exército Brasileiro 176, 181, 214
Transportes do Mato Grosso 358 do Paranapanema (EEVP)
Departamento de Invertebrados e Vertebrados Eletricidade de Portugal F
do Museu Nacional 322 ver Energias de Portugal (EDP)
Departamento do Interior dos Estados Unidos 13 Eletrobras Fapesp
Departamento Nacional de Estradas ver Centrais Elétricas Brasileira SA (Eletrobras) ver Fundação de Amparo à Pesquisa
e Rodagem (DNER) 253 Eletronorte do Estado de São Paulo (Fapesp)
Departamento Nacional de Portos e Vias ver Centrais Elétricas do Norte FBC
Navegáveis (DNPVN) 239 do Brasil SA (Eletronorte) ver Fundação Brasil Central (FBC)
Departamento Nacional de Portos, Rios e Empresa de Pesquisa Energética (EPE) 399, 400 Femago
Canais 223 Empresa Eletricidade Vale do ver Fundação Estadual do Meio
Divisão de Águas 214 Paranapanema (EEVP) 353 Ambiente de Goiás (Femago)
412 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

FGV Grupo Coordenador do Planejamento dos Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


ver Fundação Getúlio Vargas (FGV) Sistemas Elétricos (GCPS) 356, 357, 399 (IBGE) 15, 110, 124, 128, 143, 144,
Fiocruz Grupo Rede Energia 311, 356, 371, 372, 375, 149, 177, 179, 184, 191, 193, 197,
ver Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) 379, 380, 382, 402 199, 200, 202, 206, 209, 214
Funai Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
ver Fundação Nacional do Índio (Funai) H Naturais Renováveis (Ibama) 372, 383, 398
Funasa Instituto de Biociências da USP 360
ver Fundação Nacional da Saúde (Funasa) Hidroservice 231, 232, 246, 248, 250, 252, 253, Instituto de Botânica de São Paulo 347, 360
Fundação Biblioteca Nacional, Brasil 15, 19, 258, 267, 279 Instituto de Ciências Sociais da
23, 24, 28, 32-34, 39, 42, 44, 47, Universidade da Califórnia 170
49-51, 154, 157, 169, 174, 180, 375 I Instituto de Colonização e Reforma
Fundação Brasil Central (FBC) 212, 214, Agrária (Incra) 279
215, 224, 235 Ibama Instituto de Manguinhos
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado ver Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e ver Instituto Soroterápico
de São Paulo (Fapesp) 317 dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) Federal de Manguinhos
Fundação Estadual do Meio Ambiente IBDF Instituto de Pesquisas Tecnológicas de
de Goiás (Femago) 330 ver Instituto Brasileiro de São Paulo (IPT) 13, 218
Fundação Getúlio Vargas (FGV) 197, Desenvolvimento Florestal (IBDF) Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
210-212, 214, 225, 226, 229, 268 IBGE (IHGB) 91, 106, 116
Fundação Nacional da Saúde (Funasa) 394 ver Instituto Brasileiro de Geografia Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica
Fundação Nacional do Índio (Funai) 269, 314, 326 e Estatística (IBGE) 15, 174, 180, 182
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) 15, 154, Iesa Instituto Nacional de Pesquisas da
157, 158, 160, 164-166, 170 ver Internacional Engenharia SA (Iesa) Amazônia (Inpa) 264, 269
Fundação Rockefeller 185 IHGB Instituto Natureza do Tocantins
Fundação Universidade do Tocantins ver Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Naturatins) 353, 360, 371, 394
(Unitins) 348, 360, 368, 374, 382 Imprensa Nacional 203 Instituto Oswaldo Cruz
Furnas Centrais Elétricas 14, 275-278, 281, 284, Imprensa Régia 60 ver Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
287, 290, 294, 311, 313-315, 317, 318, Incra Instituto Soroterápico Butantã 133
320-322, 324, 326-328, 330, 333-335, ver Instituto de Colonização e Instituto Soroterápico Federal de Manguinhos 133
337, 358, 372, 375, 379, 380, 382, 383 Reforma Agrária (Incra) Internacional Engenharia SA (Iesa) 275,
Inpa 276, 281, 287, 294, 313, 315, 317, 318,
G ver Instituto Nacional de Pesquisas 320-322, 324, 326-328, 330, 335
da Amazônia (Inpa) InterCement 398
GCPS Inspetoria de Obras Contra as Secas 156 Investco, consórcio 353, 384, 402
ver Grupo Coordenador do Planejamento Instituto Bacteriológico de São Paulo 133 IPT
dos Sistemas Elétricos (GCPS) Instituto Brasil Solidário 305 ver Instituto de Pesquisas
GDF Suez 383 Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológicas de São Paulo (IPT)
Florestal (IBDF) 269
Índice intitulativo | 413

Itaipu Binacional 332 Ministério dos Negócios da Agricultura, P


Itaú 25, 34, 69, 71, 72, 74, 78, 82, 94, 96, 99 Comércio e Obras Públicas 129
Ministério dos Transportes (MT) 358 Pan American Airways (Panair) 174
J Ministério Público Federal 353, 398 Panair
MME ver Pan American Airways (Panair)
Jardim Botânico, Nova Iorque (EUA) 264 ver Ministério de Minas e Energia (MME) Parque Estadual de Serra das Caldas 374
Jardim Botânico, Belém (PA) 43, 44 MT Parque Estadual do Lajeado (TO) 371
ver Ministério dos Transportes (MT) Parque Nacional da Chapada dos
L Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast) 129 Veadeiros (TO) 257, 278, 335
Museu de Ecologia e Sistemática Animal da Parque Nacional do Tocantins (TO) 335
Laboratório de Ictiofauna da Fundação Universidade do Tocantins 348 Pinacoteca do Estado de São Paulo 15
Universidade do Tocantins (Unitins) 360 Museu de Gotemburgo 170 Prefeitura do Município de Caldas Novas (GO) 374
LG Engenharia 362, 379, 381 Museu de História Natural, Londres (Inglaterra) 99 Prefeitura do Município de Lajeado (TO) 371
Library of Congress, Washington (EUA) 139 Museu de História Natural, Viena (Áustria) 82 Prefeitura Municipal de Imperatriz (MA) 309, 310
Liga Pró-Saneamento 158 Museu de Zoologia da USP 360 Prefeitura Municipal de Marabá (PA) 333
Linha de Navegação do Estado do Pará 188 Museu do Índio 15, 60, 135-137, 179 Prospec Engenharia 229
Museu Paraense Emílio Goeldi 15, 104, Public Works Construction Company 116
M 106, 147, 152, 163, 269
Museu Nacional 15, 133, 179, 195, 204, 322 R
Mapoteca Histórica no Rio de Janeiro,
Itamaraty 15, 21 N Rio Tinto Alcan 272
Mast
ver Museu de Astronomia e Nacional Energética 334 S
Ciências Afins (Mast) Naturatins
MEC ver Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) Sama
ver Ministério da Educação e Cultura (MEC) Núcleo Tocantinense de Arqueologia da ver Sociedade Anônima de
Memória da Eletricidade Universidade do Tocantins 382 Mineração de Amianto (Sama)
ver Centro da Memória da Eletricidade no Brasil Secretaria de Cultura (MA) 392
Ministério da Educação e Cultura (MEC) 31 O Secretaria de Cultura (TO) 392
Ministério da Guerra 129, 174 Secretaria de Políticas de Promoção e
Ministério da Indústria, Viação e OAS Engenharia 398 Igualdade Racial (SEPPIR) 381
Obras Públicas 129 Observatório Astronômico do Rio de Janeiro Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento
Ministério da Viação e Obras Públicas 110, ver Observatório Nacional (RJ) Sustentável (TO) 374
174, 203 Observatório Nacional (RJ) 129 Secretaria do Trabalho e Assistência
Ministério das Minas e Energia OEA Social (TO) 351
ver Ministério de Minas e Energia ver Organização dos Estados Semesa
Ministério de Minas e Energia (MME) 13, 236, Americanos (OEA) ver Serra da Mesa Energia SA (Semesa)
239, 240, 243, 335, 356 Organização dos Estados Americanos (OEA) 278
414 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

SEPPIR T
ver Secretaria de Políticas de Promoção
e Igualdade Racial (SEPPIR) Tennessee Valley Authority (TVA) 13, 233
Serete Engenharia 239, 240 Themag Engenharia 290-294, 296, 297, 299, 301,
Serra da Mesa Energia SA (Semesa) 334 303, 304, 306-310, 337, 339, 340, 342, 343,
Serviço de Febre Amarela 185, 202 345, 346, 348, 352, 360, 362, 364, 366-369
Serviço de Proteção ao Índio (SPI) 136, 137 Tractebel Energia 337, 383, 398, 403
Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos TVA
Trabalhadores Nacionais (SPILTN) 131 ver Tennessee Valley Authority (TVA)
Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional 214 U
Serviço Geográfico do Exército 181, 214
Sociedade Anônima de Mineração de UNB
Amianto (Sama) 317, 318, 327 ver Universidade de Brasília (UNB)
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro 145 Unitins
SPI ver Fundação Universidade
ver Serviço de Proteção ao Índio (SPI) do Tocantins (Unitins)
SPILTN Universidade da Califórnia, Califórnia
ver Serviço de Proteção aos Índios (EUA) 100, 103, 115, 123, 170
e Localização dos Trabalhadores Universidade de Brasília (UNB) 264
Nacionais (SPILTN) Universidade de Coimbra 42
Sudam Universidade de São Paulo (USP) 143, 360
ver Superintendência de Desenvolvimento University of California
da Amazônia (Sudam) ver Universidade da Califórnia, Califórnia (EUA)
Sudeco US Steel 252
ver Superintendência do Desenvolvimento Usiminas
da Região Centro-Oeste (Sudeco) ver Usinas Siderúrgicas de
Sudepe Minas Gerais (Usiminas)
ver Superintendência de Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais
Desenvolvimento da Pesca (Sudepe) (Usiminas) 330
Superintendência de Desenvolvimento da USP
Amazônia (Sudam) 14, 231, 232, ver Universidade de São Paulo (USP)
236, 246, 249-253, 258, 267, 279
Superintendência de Desenvolvimento V
da Pesca (Sudepe) 313
Superintendência do Desenvolvimento da Região VBC Energia 334
Centro-Oeste (Sudeco) 235, 236, 244 Vale 211, 246, 252, 258, 269, 272,
275, 278, 384, 398
Índice toponímico

A América do Norte 94 B
América do Sul 24, 82, 94, 186, 342

Abaeté América Latina 335 Babaçulândia (TO) 258, 284, 392, 393
ver Abaetetuba (PA) América Meridional 34 Bacia Amazônica
Abaetetuba (PA) 182, 246, 249 Anápolis (GO) 202, 207, 253 ver Bacia do rio Amazonas
Acre 143 Angical (PA) 179 Bacia Araguaia-Tocantins
África 42 Anta (GO) 36 ver Bacia Tocantins-Araguaia
Água Bonita (GO) 231 Araguaçu (GO) 231 Bacia do rio Amazonas 110, 236, 388
Água de Saúde (PA) 78 Araguaia, província 59 Bacia do rio da Prata 110
Água Quente (GO) 36 Araguaia, campos gerais 146 Bacia do rio Parnaíba 110
Aguiarnópolis (TO) 308, 384 Araguaína (TO) 279, 297, 299, 301, 311, 384, 386 Bacia do rio São Francisco 110, 198
Alcobaça Araguari (MG) 176, 182 Bacia do rio Tocantins
ver Tucuruí (PA) Araxá (MG) 90 ver rio Tocantins
Aldeia Bacaba (PA) 195 Arimatheua Bacia Tocantins-Araguaia 13, 140, 141, 143,
Aldeia de Mortiguara ver Arumateua (PA) 149, 158, 169, 170, 197, 203, 204, 211,
ver Vila do Conde (PA) Arumatheua 232, 234, 260, 275, 279, 280, 299, 311
Aldeia de Pedro II (GO) 50 ver Arumateua (PA) Bagre (PA) 260
Aldeia de Pedro III Arraial Carmo de Minas (GO) 26 Bahia 20, 48, 81, 104, 138, 156, 158, 197, 202
ver Carretão (GO) 60 Arraial de Pontal (GO) 26, 74 Baía de Marapatá (PA) 9, 220
Aldeia de São Francisco Xavier do Duro (GO) 40 Arraial de Porto Real Baião (PA) 108, 138, 139, 180, 182, 246, 258
Aldeia de São José (GO) 40 ver Porto Nacional (TO) Baliza (GO) 210, 280
Aldeia São José de Mossâmedes (GO) 40, 50 Arraial de São Félix Balneário da Ceorta (TO) 403
Aldeias Altas ver São Félix (GO) Balsas (MA) 305
ver Caxias (MA) Arraial do Príncipe Regente (MA) 60 Barcarena (PA) 246
Amapá 115, 243 Arraias (TO) 36, 202 Barra (BA) 162
Amaro Leite (GO) 160, 231 Arrependido 143 Barra (GO) 36
Amazonas 115, 133, 243 Arumateua (PA) 149 Barra do Ouro (TO) 384, 392
Amazônia 13, 28, 29, 33, 99, 124, 152, Ásia 42 Barreiras (BA) 158
195, 215, 224, 236, 239, 240, 258, Áustria 71 Barro Alto (GO) 257, 276, 315, 318
264, 267, 269, 317, 340, 342 Bebe Mijo (PI) 157
416 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Belém (PA) 9, 30, 32-34, 37, 40, 44, 47, 49, 123, 142, 143, 166, 180, 182, Chapada dos Veadeiros (GO) 176
56, 62, 63, 92, 96, 97, 99, 103, 108, 112, 207, 221, 231, 232, 235, 240 China 124
113, 119, 123, 128, 138, 139, 144, 145, Cachoeira do Lajeado 9, 94, 207, Cocal (GO) 36
147, 150, 154, 158, 178, 180, 182, 185, 209, 222, 231, 232, 296 Cocal Grande (MA) 72, 75
186, 188, 195, 200, 202, 210, 219, 239, Cachoeira do Machadinho 218 Cocos (GO) 193
240, 249, 251, 260, 272, 279, 310, 381 Cachoeira dos Mares 76, 94 Colinas
Bico do Papagaio (TO) 301, 311 Cachoeira Grande 75, 94 ver Colinas do Sul (GO)
Birmingham, Inglaterra 120 Cachoeira Mãe Maria 94, 179 Colinas do Tocantins (TO) 384, 386
Boa Vista (TO) 95, 96, 113, 123, 163, Cachoeira Praia Grande 13, 78 Colinas do Sul (GO) 314, 326
166, 168, 178, 191, 193 Cachoeira Sant’Ana 94, 179 Colômbia 115
Bolívia 115 Cachoeira Santo Antonio 70, 78, 94, 165, Conceição do Araguaia (PA) 138-141, 160
Bom Jesus (TO) 384, 386 179, 207, 231, 232, 235, 244 Corredeira de Água da Saúde 221, 223
Brasil 9-12, 15, 18-20, 22, 28, 31, 32, 34, 41-43, Cachoeira São Domingos 179 Corredeira de Itaboca 234
51, 54, 55, 58, 63, 64, 69, 70, 72, 74, 77, Cachoeiras de Tauiri 59, 123, 221 Corredeira do Carneiro Velho 222
78, 81, 82, 86, 91, 92, 96, 100, 106, 109, Cachoeiras de Três Barras 94, 232, 235 Corredeira do Rebojo 346
112, 115, 116, 118, 119, 125, 135-137, 147, Cajueiro (PA) 78 Corredeiras da Volta da Goiaba 219
158, 165, 170, 174, 185, 197, 203, 207, 212, Caldeirão (PE) 157 Crixás (GO) 50, 56, 231
215, 218, 224, 225, 233, 243, 260, 264, Cametá (PA) 25, 26, 30, 32, 33, 60, 100, Cuiabá (MT) 22, 23, 31-33, 42,
267, 269, 277, 280, 313, 347, 347, 369, 389 102, 108, 180, 182, 220, 246 44, 47, 49-51, 62, 81
Brasília (DF) 9, 13, 129, 225, 229, Campestre (MA) 301
230, 233, 277, 291, 339, 372 Campinaçu (GO) 315 D
Brejinho de Nazaré (TO) 343 Campinas (SP) 176, 251
Breu Campinorte (GO) 276, 315 Darcinópolis (TO) 384
ver Novo Breu Branco (PA) Canal Capitariquara 143 Descoberto
Breu Branco Canal de Itaboca 142 ver Santo Antônio do Descoberto (GO)
ver Novo Breu Branco (PA) Canal do Inferno 180, 221 Distrito Federal
Buenos Aires, Argentina 174 Carajás (PA) 14 ver Brasília (DF)
Burgo Agrícola de Itacaiúna Carmo (TO) 74, 178
Carolina (MA) 62, 67, 70, 75, 88, 93, 113,
ver Marabá (PA) 116, 119, 182, 191, 193-195, 198, E
Buritirama (PA) 246 254, 257, 258, 301, 384, 391-393 Equador 24
Carreira Comprida 207, 209 Espanha 10, 33, 34
C Carretão (GO) 60 Espírito Santo 372
Castendo, Portugal 37 Estados Unidos da América 109, 233, 234
Cachoeira (GO) 36 Cavalcante (GO) 36, 104, 176, 177, 257, 276, Estocolmo, Suécia 264
Cachoeira Capitariquara 143 315, 320, 321, 327, 335, 372, 376 Estrada Natividade-Palmeirópolis 358
Cachoeira de Guariba 94, 99 Caxias (MA) 39, 56, 62, 67 Estreito (MA) 225, 306, 308, 318, 384, 390, 391
Cachoeira de Itaboca 47, 78, 94, 97, Ceará 94 Estrela do Norte (GO) 231
Índice toponímico | 417

EUA I Jatobal (PA) 221


ver Estados Unidos da América Joanna Peres (PA) 146
Europa 42, 59, 69, 72, 86 Ibiapaba (MA) 28
Igarapé-Azul (PA) 246 L
F Igarapé-Miri (PA) 246, 258
Ilha da Botica 70 Lago Varmelho 108
Ferreiro (GO) 36 Ilha da Fama 318 Lagoa Feia 129
Filadélfia (TO) 258, 384, 392, 393 Ilha de Ilha de Jutaí 146 Lagoa Formosa 129
Formosa (GO) 162, 176, 182 Ilha de Joannes Lagoa Mestre d’Armas 129
França 82, 94, 99 ver Ilha de Marajó Lajeado (TO) 9, 364

Ilha de Porto Real 302 Leopoldina (GO) 113


G Ilha de Serra Quebrada 305 Lima, Peru 66

Ilha do Marajó 81, 86 Limoeiro do Ajuru (PA) 246


Goiânia (GO) 174, 182, 211, 212, 229, 232, 372 Ilha dos Galhos 275 Lisboa, Portugal 18, 28, 30, 34, 40
Goiás (GO) 36, 37, 44, 47, 57, 65, Ilha dos Santos 220 Londres, Inglaterra 99
68, 211, 212, 218, 222 Ilha Grande de Joannes
Goiás 9, 11-13, 22, 23, 34, 36-40, 44, 47-50, ver Ilha de Marajó M
56, 57, 59, 60, 62, 64-70, 72,75-77, 80-82, Imperatriz (MA) 113, 178, 179, 182, 191, 193,
86, 90-94, 97, 103, 104, 110, 112, 115, 116, 222, 258, 291, 296, 297, 299, 301, 305- Macajuba (PA) 246
120, 123, 125, 128, 136-138, 156, 162, 163, 307, 309, 310, 339, 384, 386, 393 Macapá (AP) 239
170, 174, 185, 188, 198, 199, 202, 2066, Índia 29 Maluatá (PA) 267
207, 210, 222, 224, 226, 228, 230, 232, Inglaterra 92 Manaus (AM) 212
235, 243, 252, 258, 277, 278, 292, 297, 299, Ipameri (GO) 176, 182 Mangue das Garças (PA) 294
301, 305, 306, 310, 347, 369, 381, 382 Ipixuna (PA) 223 Marabá (PA) 140, 146, 165, 179, 182, 188, 189,
Goiatins (TO) 302, 384, 394 Ipueiras (TO) 343 191, 193, 218, 222, 231, 233, 239, 244, 246,
Grã-Bretanha 119 Itaboca (PA) 207, 210 249, 251, 260, 267, 279, 296, 307, 333
Grão Pará e Maranhão 18 Itacajá (TO) 302, 394 Maranhão e Grão Pará 18, 20, 28, 29, 30, 32
Grão-Pará 18, 26, 31-33, 41, 42, 44, Itaguatins (GO) 244, 258, 302, 310 Maranhão 9, 11, 12, 14, 18, 24, 25, 27, 28, 34,
47, 49-51, 60, 62, 63, 81 Itapaci (GO) 276 39, 40, 56, 57, 60, 62, 66, 67, 69, 70, 86,
Guaraí (TO) 384, 386 Itapiratins (TO) 384 88, 92, 93, 97, 119, 128, 138, 140, 146, 170,
Guiana 82 Itupiranga (PA) 200, 246, 260 186, 197, 218, 222, 232, 233, 244, 254, 258,
Gurupi (TO) 279, 297, 299, 301, 311, 368 278, 292, 296, 299, 306, 339, 384, 390-392

J Mato Grosso do Sul 372


H Mato Grosso 22, 23, 31-34, 42, 44, 47,

Jacundá (PA) 180, 246, 260 49, 50, 51, 62, 81, 82, 113, 133, 206,
Haia, Holanda 37 Jalapão (TO) 119, 138 232, 233, 235, 243, 278, 299
Hidrolina (GO) 231 Japão 29 Meia Ponte (GO) 36, 75
Holanda 37, 223 Jaraguá (GO) 36 Miami, EUA 174
418 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

Minaçu (GO) 276, 314, 315, 317, 318, 320, Pará 9, 11, 12, 14, 18, 19, 23, 24, 27-29, 31, Porto Imperial
321, 326, 327, 330, 372, 376, 382 37, 40, 44, 47, 48, 50, 56, 57, 59, 62, 63, ver Porto Nacional (TO)
Minas Gerais 60, 62, 65, 82, 86, 90, 93, 65, 66, 68, 69, 74, 78, 80, 86, 93, 96, 103, Porto Nacional (TO) 36, 37, 60, 62, 68, 72,
116, 120, 206, 229, 277, 310, 369 104, 106, 109, 110, 113, 115, 128, 138, 74, 92, 94, 104, 113, 123, 124, 137, 138,
Miracema (TO) 184, 244, 253, 296, 140, 141, 145, 146, 152, 158, 170, 174, 154, 156, 158, 159, 162, 163, 166, 168,
310, 339, 343, 345 179, 202, 207, 218, 232, 243, 244, 246, 178, 181, 182, 191, 197, 199, 200, 222,
Miracema do Norte 252, 260, 265, 278, 279, 296, 299, 390 230, 244, 253, 279, 291, 299, 301, 302,
ver Miracema (TO) Paraguai 115, 254 309, 311, 321, 339, 343, 345, 348, 364
Miracema do Tocantins Paraíso (TO) 311 Porto Real
ver Miracema (TO) Paranã (TO) 57, 59, 74, 94, 97, 103, 104, 112, 113, ver Porto Nacional (TO)
Montes Altos (MA) 258 119, 120, 154, 158, 163, 177, 181, 182, 195, Porto Real do Pontal
Mutunópolis (GO) 231 200, 202, 358, 367, 372, 374, 376, 379 ver Porto Nacional (TO)
Paraná 254 Porto Serrinha (GO) 277, 313
N Pastos Bons (MA) 39, 60, 62, 67, 93 Portugal 10, 11, 18- 21, 28, 33, 34, 37,
Patos (PA) 113, 142, 180 39, 41, 42, 54, 60, 70, 82, 88
Natividade (TO) 36, 200 Pedro Afonso (TO) 113, 116, 119, 178, 182, 184, Pouso Alto (GO) 226
Nazaré dos Patos (PA) 195 195, 198, 199, 253, 340, 384, 386, 392 Praga, República Tcheca 72
Niquelândia (GO) 202, 231, 235, Peixe (TO) 168, 182, 207, 222, 253, 291, 296, Praia da Esperantina 311
257, 276, 315, 317, 318 297, 358, 360, 367, 368, 372, 382 Praia da Rainha 154, 223
Nova Iorque, EUA 233, 264 Pernambuco 81, 156 Praia da Tartaruga 368
Nova Jacundá (PA) 272 Peru 34, 115 Praia do Jacaré 143
Novo Acordo (TO) 339 Piabanha (TO) 138, 168, 178, 199, 210 Praia do Peixe 368
Novo Breu Branco (PA) 165, 272 Piauí 18, 38, 39, 86, 93, 94, 119, 138, 156 Praia do Porto Um 326
Novo Repartimento (PA) 272 Pilar (GO) 36, 160, 231 Praia do Tucunaré 333
Pilões (TO) 166 Presidente Kennedy (TO) 297
O Pinheirópolis (TO) 345
Pirapora (MG) 116, 162 Q
Oceano Atlântico 198 Piratininga (SP) 20
Ouro Fino (GO) 36 Pirenópolis (GO) 92, 93 Queda de Água da Saúde 78
Ponta do Piteira (PA) 108 Queda de Cunava 94
P Pontal ver Porto Nacional (TO) Queda de Guariba
Ponte Rio-Niterói (RJ) 254 ver Cachoeira de Guariba
Palma Porangatu (GO) 231 Queda de Itaboca
ver Paranã (TO) Porto do Garimpo 321 ver Cachoeira de Itaboca
Palmas (TO) 310, 339, 343, 345, 351, 353 Porto do Travessão 112 Queda de Lajeado
Palmeirante (TO) 384, 388, 392 Porto dos Paulistas 281 ver Cachoeira do Lajeado
Palmeiras do Tocantins (TO) 384 Porto Franco (MA) 182, 244, 258 Queda de Salinas 94
Palmeirópolis (TO) 358, 360, 367, 372, 376, 379
Índice toponímico | 419

Queda de Santo Antônio Rio das Balsas 305 64, 66-68, 70, 72, 74-78, 80-82, 86, 88,90,
ver Cachoeira de Santo Antônio Rio das Mortes 154, 168 92-97, 99, 102-104, 106-110, 112, 113,
Queda Fortinho 94 Rio de Janeiro 48, 60, 81, 93, 103 115, 116, 118-120, 123-125, 128, 137-143,
Queda José Correia 94 Rio de Janeiro (RJ) 20, 37, 54, 60, 62, 81, 104, 145-147, 149, 152-154, 156, 158, 160, 162,
Queda de Mãe Maria 110, 128, 131, 162, 176, 180, 182, 185, 212 163, 165, 166, 168-170, 174, 178-186, 188,
ver Cachoeira de Mãe Maria Rio do Carmo 322 189, 191, 193, 194, 195, 197-200, 202-204,
Queda Mares Rio do Sono 119, 168, 198, 302, 305 206, 207, 209-211, 215, 218-226, 229-236,
ver Cachoeira dos Mares Rio Doce 65 239, 240, 243, 244, 246, 248-254, 257,
Queda Pilões 94 Rio Erepecuru 240 258, 260, 264, 265, 267, 268, 270, 272,
Queda Praia Alta 94 Rio Farinha 305 275-281, 284, 286-292, 294, 296, 297,
Queda Santana Rio Itacaiúnas 140, 141, 143, 222, 296 299, 301-307, 309-315, 317, 318, 320-322,
ver Cachoeira de Sant’Ana Rio Itapecuru 39, 56, 60, 108 324, 326, 330, 333, 335, 337, 339, 340,
Queda Três Barras Rio Jamundá 141 342, 343, 345-348, 351-353, 355, 357, 358,
ver Cachoeira de Três Barras Rio Manoel Alves de Natividade 305 360, 368, 369,374, 375, 379, 381, 384,
Quito, Equador 33 Rio Manoel Alves Grande 60, 62, 67, 386, 389-393, 395, 396, 398, 402-404
88, 168, 198, 199, 305 Rio Tocantinzinho 315
R Rio Manoel Alves Pequeno 394 Rio Traíras 315
Rio Maranhão 9, 19, 65, 71, 74, 75, 107, Rio Trombetas 141, 240
Recife (PE) 110 178, 202-204, 254, 313, 379 Rio Turi 19
Repartimento (PA) 78 Rio Matacurá 146 Rio Uruu
Ribeirão de São Félix 229, 244, 254, 257 Rio Napo 33 ver Rio Maranhão
Ribeirão dos Macacos 125 Rio Negro, capitania 18, 31-33, 42, Rio Ventura 374
Ribeirão Preto (SP) 176, 182 44, 47, 49, 50, 51, 62, 81 Rio Vermelho 44, 47, 97, 112, 394
Rio Abaeté 80 Rio Orenoco 388 Rio Xingu 141, 269
Rio Aguarico 33 Rio Palma 177 Rodovia Anápolis-Uruaçu 277
Rio Amazonas 9, 22, 27, 28, 33, Rio Paraguai 22, 113 Rodovia Belém-Brasília 13, 224-226, 244,
81, 97, 100, 103, 269 Rio Paranã 177, 181 249, 253, 258, 267, 269, 277, 279,
Rio Anapu 80, 104 Rio Paranaíba 228 296, 297, 301, 302, 306, 321, 339,
Rio Andirobal 139 Rio Paranatinga 177, 178 343, 351, 368, 372, 390, 391
Rio Araguaia 9, 11, 12, 13, 22, 32, 34, 40, 44, Rio Paraopeba 116 Rodovia Bernardo Sayão
47-50, 62, 64, 65, 68, 74, 75, 78, 90, 94, 95, Rio Parnaíba 39, 198 ver Rodovia Belém-Brasília
97-99, 103, 104, 110, 112, 115, 123, 137, Rio Preto 162, 275, 335 Rodovia Transamazônica 240, 249,
138, 140, 141, 154, 165, 178, 179, 191, 193, Rio São Francisco 22, 62, 103, 251, 254, 267, 269, 279, 302
204, 210, 220, 222, 226, 243, 278, 280, 286, 116, 162, 202, 206 Rondônia 243
289, 291, 296, 302, 303, 310, 326, 390 Rio Tapajós 141 Roraima 243
Rio Bagagem 315 Rio Tennesse, EUA 233 Rosariana (GO) 277, 313
Rio Cana Brava 277, 375 Rio Tocantins 9-15,18, 20-22, 24-34, 36, 37, 39,
Rio das Almas 9, 244, 254, 360 40, 43-45, 47-49, 51, 56, 57, 59, 60, 62,
420 | O rio Tocantins no olhar dos viajantes

S São Pedro de Alcântara U


ver Carolina (MA)

Sacramento, colônia 34 São Romão (MG) 62 Uberaba (MG) 182


Salvador (BA) 20, 110 São Salvador do Tocantins (TO) 358, Uruaçu (GO) 231, 235, 257, 276, 315, 318, 327
Samambaia (DF) 339 360, 367, 368, 372, 376

Sant’Ana São Valério da Natividade (TO) 367, 368 V


ver Goiás (GO) São Vicente

Santa Ana do Paranaíba 113 ver São Paulo Vale do Araguaia-Tocantins


Santa Cruz (GO) 36 Seco de São Miguel (PA) 112 ver Bacia Tocantins-Araguaia
Santa Leopoldina (GO) 113 Sereno (PA) 246 Vale do Rio São Francisco
Santa Luzia (GO) 182 Serra Branca 321 ver Rio São Francisco
Santa Maria 124 Serra da Ibiapaba 28 Vale do Tocantins-Araguaia
Santa Maria do Tocantins (TO) 384, 386 Serra da Mesa 276, 277, 321, 326 ver Bacia Tocantins-Araguaia
Santa Maria de Belém do Pará Serra das Caldas 374 Venezuela 115
ver Belém (PA) Serra das Figuras 71, 392 Vianópolis (GO) 182
Santa Rita (GO) 36, 50 Serra de Cana Brava 321, 322 Viena (Áustria) 71
Santo Antônio (TO) 191, 197 Serra de Carajás 240, 244, 246, 252 Vila da Imperatriz
Santo Antônio do Descoberto (GO) 160 Serra do Lajeado 339, 340 ver Imperatriz (MA)
São Domingos do Capim (PA) 260 Serra Geral 202 Vila de Gurupá (PA) 131
São Domingos (TO) 305 Serra Pelada 302 Vila de Monforte (PA) 81
São Félix (GO) 36, 176, 177, 231 , 326 Vila de São João da Palma
São João da Aliança (GO) 177 T ver Paranã (TO)
São João da Palma Vila de São João das Duas Barras
ver Paranã (TO) Tauiry Grande ver Paranã (TO)
São João das Duas Barras ver Cachoeiras de Tauiri Vila do Conde (PA) 30, 258
ver Paranã (TO) Traíras (GO) 36 Vila do Retiro (TO) 368
São João do Araguaia (PA) 98, 113, Tucuruí (PA) 9, 40, 112, 113, 149, 152, 154, 165, Vila Boa
139, 144, 147, 149, 246, 258 178, 180, 182, 188, 191, 195, 207, 210, 220, ver Goiás (GO)
São José do Duro (TO) 138 224, 233, 239, 240, 246, 260, 272, 279

São José do Tocantins Tocantínia (TO) 182, 244, 253, 302, 339, 343 W
ver Niquelândia (GO) Terezina (PI) 198

São Luís (MA) 25, 39, 60, 67, 70, Taguatinga (TO) 283 Wanderlândia (TO) 384, 386
119, 269, 272, 275 Tocantinópolis (TO) 244, 258, 279, Washington, EUA 139, 141
São Miguel do Araguaia (GO) 231 297, 299, 301, 302, 305, 384

São Paulo 20, 22, 23, 32- 34, 36, Tocantins 9, 10, 310, 311, 346, 347, 351, 353,

48, 82, 113, 124, 210, 372 360, 376, 381, 382, 384, 386, 392, 394, 404

São Paulo (SP) 13, 123, 133, 176, 182, Tupirantins (TO) 253, 384, 386

218, 229, 269, 291, 348 Tupirama (TO) 253, 384, 386
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2013.
Em novembro de 2013, a Zit Gráfica e Editora imprimiu
1.000 exemplares deste livro, com capa forrada e
miolo em papel Couché Reflex Matte L2, 150 g/m2 e
guarda em papel Color Plus New York, 180 gm2.
O RIO TOCANTINS NO OLHAR DOS VIAJANTES:
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