Hoje é uma data muito especial. Estamos na semana do Natal, época festiva na qual se celebra o nascimento de Jesus Cristo. Época de comemoração, de amor e paz. E é com este espírito, e com muita emoção e carinho, que desejo a todos os amigos que acompanham este blog um Natal pleno em alegrias e confraternização.
E para data especial uma orquídea especial. Hoje vou falar de uma planta pouco conhecida no Brasil. Uma planta originária do sudeste asiático e pertencente ao gênero que mais admiro e coleciono. Uma planta vigorosa com flores de formato estrelado e cores deslumbrantes. Enfim, uma planta fantástica que está entre as mais “queridinhas” de minha coleção. Estou falando do Bulbophyllum nymphopolitanum…
… uma obra-prima das Filipinas
Bulbophyllum (abreviatura Bulb.), com certeza é o maior e um dos mais complexos gêneros da família Orchidaceae, com mais de duas mil espécies bem diversificadas, distribuídas pelos trópicos de todos os continentes.
Bulbophyllum – Ocorrência
Imagem retirada da internet – Site: https://www.mooblo.com.br/mapa-mundi.html
Os principais centros de dispersão deste gênero são as regiões sudeste da África e da Ásia, sendo que somente na Nova Guiné podemos encontrar mais de 600 espécies. Algo próximo a 70 orquídeas deste gênero são endêmicas do Brasil, como o Bulbophyllum regnellii e o Bulbophyllum napelli, bem comuns na Mata Atlântica das regiões sudeste e sul.
Bulbophyllum – Principal reduto
Imagem retirada da internet – Site: https://www.guiageo-mapas.com/globos/terra.htm
O gênero Bulbophyllum foi criado em 1822 pelo botânico francês Louis-Marie Aubert du Petit-Thouars (1758 – 1831), quando descreveu a espécie “tipo” do gênero , o Bulbophyllum nutans.
Bulbophyllum nutans (planta “tipo” do gênero)
Imagem retirada da internet – Site: https://orchid.unibas.ch/index.php/en/?option=com_content&view=article&id=3&SearchResultID=1104591.2/Bulbophyllum/nutans/Thouars_Louis_Marie_Aubert_du_Petit/Thouars_Louis_Marie_Aubert_du_Petit&setLang=en-GB
Thouars nasceu numa aristocrática família de Bournois, e durante a Revolução Francesa ficou dois anos preso antes de ser exilado, e se estabelecer em Madagascar. Passou 10 anos estudando e coletando plantas, antes de retornar para a França com mais de 2000 espécies recolhidas nas ilhas de Madagascar, Maurícias e Reunião.
Louis-Marie Aubert du Petit-Thouars
Foto retirada da internet – Site: https://en.wikipedia.org/wiki/Louis-Marie_Aubert_du_Petit-Thouar
Grande parte destas plantas foi para o Muséum de Paris, e Thouars foi eleito membro da Académie des Sciences. Seu grande trunfo foi o livro “Histoire des végétaux recueillis dans les îles de França, de Bourbon et de Madagascar”.
Entre seus enormes legados de grande valor científico, destaque para duas obras:
- Histoire des végétaux recueillis dans les îles de France, de Bourbon et de Madagascar.
- Histoire particulière des plantes orchidées recueillies dans les trois îles australes de France, de Bourbon et de Madagascar.
Muitas plantas foram nomeadas em sua homenagem. Dentre as tantas destaco o Cirrhopetalum thouarsii, nome adotado em 1824 pelo famoso botânico inglês John Lindley para o Bulbophyllum longiflorum, descrito pelo próprio Thouars dois anos antes.
Bulbophyllum longiflorum
Foto retirada da internet – Site: http://www.aos.org/sitf-blog/bulbophyllum-thouarsii-determined-to-be-bulbophyll.aspx
Apesar da grande diversidade que as espécies de Bulbophyllum apresentam, arrisco listar algumas características típicas do gênero:
- São todas plantas que apresentam forma de crescimento simpodial e hábito predominantemente epífita.
- Possuem rizoma longo, ramificado e de crescimento desordenado, com raízes cobertas de tecido velame.
- Apresentam pseudobulbos normalmente de formato ovoide, distribuídos de forma bem espaçada sobre o rizoma.
- Embora não seja regra, geralmente são unifoliados.
- Requerem um bom índice de umidade.
- Em termos de flores uma grande variedade de tamanhos e formas. As inflorescências podem suportar uma única e solitária flor, ou muitas delas dispostas de formas interessantes e atraentes, como em forma de “guarda-chuvas”, “espiga” ou “leque”.
- As flores das espécies deste gênero apresentam labelo móvel.
- Suas flores, quando perfumadas, normalmente apresentam um aroma desagradável, propício para atrair polinizadores como moscas e besouros.
- Apresentam flores de formatos exóticos e de curta duração. Normalmente algo em torno de uma a duas semanas.
Exemplifico alguns dos itens acima citados utilizando uma foto do maravilhoso Bulbophyllum blumei:
Bulbophyllum blumei
Planta de minha coleção
Créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
E agora mais três fotos para mostrar alguns dos tantos e interessantes tipos de inflorescências das diversas espécies do gênero Bulbophyllum:
Inflorescência em forma de “guarda-chuva” – Bulbophyllum eberhardtii
Planta de minha coleção
Créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Inflorescência em forma de “espiga” – Bulbophyllum lilacinum
Planta de minha coleção
Créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Inflorescência em forma de “leque” – Bulbophyllum rothschildianum
Planta de minha coleção
Créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
O nome deste gênero procede da latinização das palavras gregas bolbos, que significa “bulbo”, “tubérculo”, e phyllon, que significa “folha”, numa referência à forma bulbosa das folhas da primeira planta descrita, que tem folhas bastante espessas.
Por ser muito grande, com aproximadamente 2000 espécies, e pela grande diversidade de seus exemplares, o gênero Bulbophyllum foi dividido em aproximadamente 100 seções, obviamente agrupando espécies com determinadas características distintivas. Abaixo mostro tabela que preparei mostrando estas seções, e informando a quantidade de espécies inseridas em cada uma, bem como o nome da planta “tipo” (1*) de cada seção. Visando facilitar a formatação, dividi o conteúdo da tabela em 4 partes:
(1*) Tipo: na botânica a palavra “tipo” é utilizada para designar a planta utilizar para descrever um determinado grupo. Desta forma, temos planta “tipo” para o gênero, que como citado nesta aula no caso do tema de hoje foi o Bulbophyllum nutans, mas existem também as plantas “tipo” para as seções e para as espécies, que foram as plantas utilizadas como base para o trabalho descritivo.
Importante frisar que este, assim como a maior parte dos gêneros da família Orchidaceae, está passando por constantes revisões. Desta forma, dependendo da fonte de pesquisa utilizada, os dados acima citados podem variar muito. Os principais pontos de discórdia estão nas plantas conhecidas como Cirrhopetalum e Megaclinium, que alguns consideram seções de Bulbophyllum, e outros as consideram como sendo gêneros distintos. Enfim, cabe aqui uma discussão extremamente técnica que não me julgo capaz de enfrentar.
Em termos de hibridação existem muitos híbridos intragenéricos (2*), mas raros são os intergenéricos (3*) envolvendo Bulbophyllum. Acredito que o mais conhecido é o Cirrhophyllum, hibrido gerado por cruzamento envolvendo plantas dos gêneros Cirrhopetalum e Bulbophyllum. E provavelmente um dos mais conhecidos no mercado é o Cirrhophyllum Icicles:
(2*) Híbrido intragenérico: nome dado a um híbrido oriundo de cruzamento envolvendo todas plantas do mesmo gênero.
(3*) Híbrido intergenérico: nome dado a um híbrido oriundo de cruzamento(s) envolvendo plantas onde pelo menos uma delas é de gênero distinto.
E para aqueles que desejam se aventurar na arte da hibridação, informo abaixo os gêneros pertencentes à subtribo Dendrobiinae, à qual pertence Bulbophyllum: Cadetia, Cirrhopetalum, Chaseella, Dactylorhynchus, Dendrobium, Diplocaulobium, Drymoda, Epigeneium, Flickingeria, Genyorchis, Jejosephia, Monomeria, Monosepalum, Pedilochilus, Saccoglossum, Sunipia, Trias e seus híbridos. Como exemplo cito o gênero Bulborobium (Bbr.), oriundo do cruzamento de um Bulbophyllum com um Dendrobium.
E finalmente vamos ao estudo da orquídea do dia, o maravilhoso Bulbophyllum nymphopolitanum, descrito em 1916 pelo botânico alemão Friedrich Wilhelm Ludwig Kraenzlin (1847 – 1934).
Kraenzlin (abrev.: Kraenzl.), foi um brilhante orquidófilo e seguidor do trabalho de seu renomado compatriota Heinrich Gustav Reichembach. Dedicou boa parte de sua vida ao estudo das orquídeas da região sul da África, com ênfase a gêneros de habitat terrestre, como Disa, Disperis e Habenaria.
Sua fantástica obra Orchidacearum Genera et Species nunca foi terminada, tendo publicado apenas o volume referente aos três gêneros citados.
Orchidacearum Genera et Species
Imagem retirada da internet – Site: https://www.amazon.com/Orchidacearum-genera-species-v-2-Latin/dp/1289597677
O nome desta espécie, nymphopolitanum, é uma homenagem de Kraenzlin a Nymphemburg (cujo nome latinizado é Nymphopolis), nome do bairro onde fica o Jardim Botânico da Universidade de Munique, na Alemanha, local onde ele encontrou esta orquídea oriunda das Filipinas.
Fundado em 1914, em pleno início da 1ª Guerra Mundial, o Botanischer Garten München-Nymphenburg ocupa 22 hectares em uma das mais nobres áreas da cidade, e abriga mais de 15 mil espécies de plantas de todos os continentes, entre as quais algo em torno de 3 mil espécies de orquídeas.
Botanischer Garten München-Nymphenburg
Imagem retirada da internet – Site: commons.wikimedia.org/wiki/File:Flowers_in_the_Botanischer_Garten_München-Nymphenburg_-_DSC07540.JPG
Entrando na área de taxonomia, a planta do dia está inserida na seção Lepidorhiza de Bulbophyllum, que é composta por aproximadamente 28 espécies. Apenas por curiosidade mostro abaixo a classificação completa desta orquídea:
Esta planta é originária das Filipinas, país insular localizado na paradisíaca região sudeste da Ásia, onde vegeta de forma predominantemente epífita, fixada em árvores, sempre em florestas sombrias e úmidas localizadas em altitudes inferiores a mil metros.
Bulbophyllum nymphopolitanum – Ocorrência
Imagem retirada da internet – Site: http://mapas-asia.com/sudeste-politico.htm
Filipinas – Paisagem típica
Imagem retirada da internet – Site: https://https//www.trutravels.com/our-trips/philippines
O principal centro de dispersão do Bulbophyllum nymphopolitanum é a região norte de Luzon, uma das três divisões geográficas das Filipinas, próximo a Manila, a capital do país.
Bulbophyllum nymphopolitanum – Principal reduto
Foto retirada da internet – Site: www.globalsecurity.org/military/world/philippines/maps.htm
A orquídea do dia é uma planta de médio porte, crescimento simpodial e que forma lindas touceiras. Possui rizoma curto, rasteiro e ramificado com aproximadamente 3mm de espessura e com raízes cobertas por tecido velame. Os pseudobulbos são bem definidos, monofoliados e dispostos de forma aglomerada sobre o rizoma. Apresentam formato ovóide, lisos quando novos tornando-se levemente sulcados longitudinalmente com o passar do tempo. Em termos dimensionais, estes bulbos possuem em média 3,5cm de comprimento por 2,4cm de diâmetro.
Bulbophyllum nymphopolitanum – Bulbos
Planta de minha coleção
Créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
As folhas do Bulbophyllum nymphopolitanum surgem do ápice dos pseudobulbos, são carnudas e conduplicadas, coriáceas e de formato elíptico, apresentando uma tonalidade escura de verde, com medidas que podem chegar a 17,0cm de comprimento por 4,2cm de largura.
As inflorescências são fantásticas. Curtas e eretas hastes florais que brotam da base dos pseudobulbos, e que possuem entre 6 e 10cm de comprimento, suportando de 1 a 3 flores em sua extremidade.
Bulbophyllum nymphopolitanum – Estruturas da planta
Planta de minha coleção
Créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
As flores são maravilhosas, possuindo entre 5,0 e 7,0cm de diâmetro. Apresentam o típico formato estrelado, com sépalas maiores do que as pétalas, todas pintadas com uma linda combinação de marrom avermelhado mesclado com amarelo. Um pequeno labelo móvel característico do gênero, e de cor mais forte do mesmo marrom avermelhado complementa o conjunto. Uma verdadeira obra-prima. Na figura abaixo tento mostrar a distribuição destas estruturas florais:
Bulbophyllum nymphopolitanum – Estruturas florais
Planta de minha coleção
Créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Outro importante atributo para as flores desta orquídea é o suave mas agradável perfume adocicado. Aliás, aqui cabe um grande destaque para esta planta, que pertence a um gênero cujas flores são conhecidas por seus odores desagradáveis.
Por ser originária de uma diminuta região geográfica, pelo avanço da especulação imobiliária, pela expansão das fronteiras agrícolas, pelas queimadas e, principalmente pela ação predatória do homem com a coleta irregular de exemplares para fins ornamentais e comerciais, Bulbophyllum nymphopolitanum é mais uma das tantas orquídeas pertencentes ao temido rol das plantas com risco de extinção (Apêndice II). Esta lista é gerada pela CITES (inglês: Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora – português: Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção).
CITES – Logotipo
Imagem retirada da internet – Site: https://mondodeirettili.blogspot.com/2012/04/cites-che-cose.html
A seguir relaciono algumas orientações sobre cultivo para quem tiver ou quiser adquirir esta planta:
- Trata-se de uma planta vigorosa que se adapta bem a vários tipos de cultivo. Pode ser cultivada em cascas ou troncos de árvores, ou ainda em vasos plásticos ou caixetas de madeira. Para estes últimos casos recomendo a preparação de um substrato confeccionado com partes iguais de carvão vegetal, casca de pinus e pedra brita, podendo acrescer ainda um pouco de esfagno.
- Vale destacar que a grande maioria dos Bulbophyllum precisa de muita umidade. Por este fato é que sugeri no item anterior a inclusão de esfagno no substrato.
- A periodicidade das regas vai depender de vários fatores, tais como do substrato utilizado, temperatura, umidade ambiente, vento, etc. Porém, se você utilizar o substrato que sugeri no parágrafo acima, então recomendo regas dia sim dia não em períodos quentes, e a cada 4 ou 5 dias em períodos frios.
- Diminua um pouco o volume das regas quando começarem a aparecer as inflorescências para evitar o apodrecimento dos botões florais.
- Procure cultivar esta orquídea em local com boa ventilação. Ambientes fechados e abafados representam um irrecusável convite para pragas como ácaros, cochonilhas, pulgões e percevejos, que perfuram as diversas estruturas da planta abrindo passagem para a entrada de fungos, bactérias e vírus.
- Esta planta aprecia uma boa sombra e não suporta exposição direta a raios solares. Recomendo cultivo com sombreamento em torno de 50 a 60%.
- Em termos de temperatura sugiro cultivo entre 15 e 35 graus. Proteja esta planta nos dias mais rigorosos do inverno.
- Pode ser dividida como quase todas as orquídeas de crescimento simpodial, cortando o rizoma e deixando pelo menos 3 ou 4 bulbos em cada parte da divisão.
- Uma boa adubação também é indispensável. Faça isto periodicamente respeitando as orientações dos fabricantes.
Aqui na região sul do Brasil floresce normalmente no inicio da primavera, e cada floração dura em média duas semanas.
E agora, para finalizar, algumas imagens ilustrativas do exemplar da minha coleção:
Bulbophyllum nymphopolitanum
Propriedade e créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Bulbophyllum nymphopolitanum
Propriedade e créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Bulbophyllum nymphopolitanum
Propriedade e créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Bulbophyllum nymphopolitanum
Propriedade e créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Bulbophyllum nymphopolitanum
Propriedade e créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Bulbophyllum nymphopolitanum
Propriedade e créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Bulbophyllum nymphopolitanum
Propriedade e créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Bulbophyllum nymphopolitanum
Propriedade e créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
Bulbophyllum nymphopolitanum
Propriedade e créditos fotográficos: Juan Pablo Heller (Curitiba – PR)
IMAGENS: fonte pesquisa GOOGLE
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IMAGES: GOOGLE search
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Muito bonitas as flores, show de planta, mais uma que não conheço, parabéns pela aula 👊👍🤜
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Obrigado Adir. Um feliz Natal para você. Abração.
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Mais uma vez o parabenizo pela aula fantástica. A orquídea é simplesmente maravilhosa. Show! Desejo um lindo Natal, abençoado e com muita harmonia.
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Muitíssimo obrigado querida esposa. Feliz Natal.
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