Megadiversidade - Cadeia do Espinhaço

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Volume 4

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dezembro 2008

Megadiversidade

Cadeia do Espinhaço: avaliação do conhecimento científico e prioridades de conservação


Editor Geral José Maria Cardoso da Silva Editores Convidados Adriano Paglia Alexsander Araújo Azevedo Mônica Fonseca Rafael Luís Fonseca Ricardo Bomfim Machado Editores Associados Adrian Garda Guilherme Fraga Dutra Luiz Paulo Pinto Paulo Gustavo Prado Coordenação de Edição e Produção Isabela Santos Conselho Editorial Ana Rodrigues Angelo Machado Anthony Rylands Claude Gascon Francisco Barbosa Gustavo Fonseca Ima Célia Vieira Katrina Brandon Keith Alger Marcelo Tabarelli Roberto Cavalcanti Russell Mittermeier Thomas Lewinsohn Thomas Lacher

Conservação Internacional Av. Getúlio Vargas 1300 – 7º andar 30112-021 Belo Horizonte – MG Tel.: 55 31 3261-3889 e-mail: info@conservacao.org www.conservacao.org

A Conservação Internacional é uma organização privada sem fins lucrativos, fundada em 1987, com o objetivo de conservar o patrimônio natural do planeta – nossa biodiversidade global – e demonstrar que as sociedades humanas são capazes de viver em harmonia com a natureza. Volume 4 | No 1-2 | Dezembro 2008 Fotos da capa: Maíra Figueiredo Goulart / Instituto Biotrópicos Projeto e edição gráfica: Grupo de Design Gráfico Ltda Tiragem: 1.000 exemplares


MegadiversidadE

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Cadeia do Espinhaço: avaliação do conhecimento científico e prioridades de conservação

Sumário 3 5

Editorial

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Uma geografia para a Cadeia do Espinhaço

A flora dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço

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alexsander araújo azevedo & ricardo bomfim machado

Apresentação josé carlos carvalho

Bernardo machado gontijo

Alessandro Rapini, Patrícia Luz Ribeiro, Sabrina Lambert & José Rubens Pirani

25

Diversidade dos campos rupestres ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, MG

Claudia Maria Jacobi & Flávio Fonseca do Carmo

34

Fitofisionomia da Caatinga associada à Cadeia do Espinhaço

Daniela Zappi

39

Relações florísticas entre as fitofisionomias florestais da Cadeia do Espinhaço, Brasil

Luciana Hiromi Yoshino Kamino, Ary Teixeira de Oliveira-Filho & João Renato Stehmann

50

Diversidade e conservação das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço, Brasil

Alexandre Salino & Thaís Elias Almeida

71

Inventário e distribuição geográfica das gramíneas (Poaceae) na Cadeia do Espinhaço, Brasil

Pedro Lage Viana & Tarciso Souza Filgueiras

89

Eriocaulaceae na Cadeia do Espinhaço: riqueza, endemismo e ameaças

Fabiane Nepomuceno Costa, Marcelo Trovó & Paulo Takeo Sano

98

Bromeliaceae da Cadeia do Espinhaço

Leonardo M. Versieux, Tânia Wendt, Rafael Batista Louzada & Maria das Graças Lapa Wanderley

111

Diversidade e endemismo das Cactaceae na Cadeia do Espinhaço

Daniela Zappi & Nigel Taylor


117

Diversidade florística de Leguminosae Adans. em áreas de campos rupestres

Valquíria Ferreira Dutra, Flávia Cristina Pinto Garcia, Haroldo Cavalcante de Lima & Luciano Paganucci de Queiroz

126

Fauna de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia, Brasil): riqueza de espécies, padrões de distribuição e ameaças para conservação

Alexsander Araújo Azevedo, Fernando A. Silveira, Cândida Maria Lima Aguiar & Viviane Silva Pereira

158

Status do conhecimento, endemismo e conservação de anfíbios anuros da Cadeia do Espinhaço, Brasil

Felipe S. F. Leite, Flora A. Juncá & Paula C. Eterovick

177

Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço

Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, Cecília Gontijo Leal, Marcelo Fulgêncio Guedes de Brito & Alexandre Clistenes de Alcântara Santos

197

As aves dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço: diversidade, endemismo e conservação

Marcelo Ferreira de Vasconcelos, Leonardo Esteves Lopes, Caio Graco Machado & Marcos Rodrigues

218

Mamíferos da Cadeia do Espinhaço: riqueza, ameaças e estratégias para conservação

leonardo guimarães lessa, bárbara maria de andrade costa, daniela munhoz rossoni, valéria cunha tavares, Luis gustavo dias, edsel amorim moraes júnior & joaquim de araújo silva

233

Distribuição espacial do esforço de pesquisa biológica na Serra do Cipó, Minas Gerais: subsídios ao manejo das unidades de conservação da região

joão augusto madeira, kátia torres ribeiro, marcelo juliano rabelo oliveira, jaqueline serafim do nascimento & celso do lago paiva

248

Identificação de áreas insubstituíveis para conservação da Cadeia do Espinhaço, estados de Minas Gerais e Bahia, Brasil

Joaquim de Araújo Silva, Ricardo Bomfim Machado, Alexsander Araújo Azevedo, Gláucia Moreira Drumond, Rafael Luis Fonseca, Maíra Figueiredo Goulart, Edsel Amorim Moraes Júnior, Cássio Soares Martins & Mário Barroso Ramos Neto


Editorial As regiões montanhosas representam mundialmente um importante patrimônio geológico e geográfico, testemunhas de eventos ocorridos no passado remoto do nosso planeta. Vários programas internacionais e convenções foram criados para a definição de diretrizes para a conservação desses ambientes, onde os processos evolutivos moldados pela origem, história e o grau de isolamento, encarregaram-se de gerar uma biodiversidade singular, rica em espécies raras e endêmicas. O Brasil é signatário da Convenção sobre Diversidade Biológica desde 2002, mas não há nenhum documento oficial no país que aborde especificamente a biodiversidade das montanhas, que são tratadas como parte de outros domínios biogeográficos. O Brasil possui aproximadamente 17% do seu território ocupado por formações montanhosas e, entre as principais, destaca-se a Cadeia do Espinhaço, que se estende por mais de 1.000 km, desde o centro-sul de Minas Gerais até a Chapada Diamantina na Bahia. Esse imponente maciço tem sido reconhecido como região prioritária para a conservação nos últimos 10 anos, nas esferas estaduais, nacionais e internacionais. A região recebeu grande destaque quando, em 2005, uma imensa porção mineira foi decretada Reserva da Biosfera pelo programa “O Homem e a Biosfera”, da Unesco. A Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço tem como meta a proteção da biodiversidade aliada ao desenvolvimento sustentável e ao conhecimento científico. Neste sentido, foi lançado, em meados de 2005, o Projeto Espinhaço Sempre Vivo, coordenado pelo Instituto Biotrópicos de Pesquisa em Vida Silvestre, com o apoio da Conservação Internacional e a parceria da Fundação Biodiversitas. O Projeto tem como objetivo geral reunir as informações existentes sobre a biodiversidade ao longo de toda a Cadeia do Espinhaço, além de identificar as ameaças e subsidiar a tomada de decisões para a sua conservação. Entre as principais atividades realizadas até o momento, destaca-se o workshop “Diagnóstico do status do conhecimento da biodiversidade e da conservação do Espinhaço” ocorrido em março de 2006, na Serra do Cipó, Minas Gerais. Naquela ocasião foi concebido o ideal desta publicação especial da revista Megadiversidade. A importância do Espinhaço é abordada em 18 artigos neste volume, trazendo a riqueza e a distribuição de espécies da fauna e da flora de diversos grupos biológicos da região, notadamente dos campos rupestres, bem como as ameaças e as estratégias de conservação da biodiversidade do maciço. O primeiro artigo contextualiza o Espinhaço traçando o seu perfil geográfico e apresenta uma revisão de publicações sobre a região. Na sequência, artigos sobre a vegetação abordam os emblemáticos campos rupestres que ocorrem nos topos elevados acima de 900 m de altitude e, de modo particular, os campos rupestres ferruginosos do Quadrilátero Ferrífero. Os aspectos gerais de domínios vegetacionais que circundam o maciço, como a Caatinga, ao norte, e as fitofisionomias florestais também são apresentados, seguidos por artigos que detalham alguns importantes

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elementos da flora regional como as gramíneas, bromélias, pteridófitas, sempre-vivas, cactáceas e leguminosas. Posteriormente, os artigos sobre a fauna trazem a compilação de informações sobre grupos vertebrados e abelhas. Também é apresentado um exemplo de subsídios ao manejo das unidades de conservação a partir de um grande esforço local de compilação e espacialização das pesquisas realizadas na região da Serra do Cipó. Encerrando este volume, um artigo relata os resultados de um exercício inédito obtido durante o workshop citado acima. Este configurou a primeira etapa de planejamento e identificação de áreas prioritárias para a conservação na Cadeia do Espinhaço, utilizando-se ferramentas de Planejamento Sistemático para Conservação, sugeridas no Plano de Trabalho com Áreas Protegidas, elaborado na Sétima Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP7), metodologia considerada mais precisa para definição das áreas prioritárias do que as utilizadas anteriormente no Brasil. O exercício apontou a grande importância de se aumentar significativamente a área atualmente protegida no Espinhaço para que efetivamente sejam conservados os elementos mais importantes da sua fauna e flora. Buscando a efetivação das medidas recomendadas e dando continuidade às atividades que vêm sendo estimuladas para a conservação da região, uma importante iniciativa vem sendo conduzida desde 2007 pelo Instituto Biotrópicos em conjunto com o Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG) e apoio da Conservação Internacional. Trata-se do processo de reconhecimendo e implantação do Mosaico de áreas protegidas do “Espinhaço: Alto Jequitinhonha – Serra do Cabral”, que visa, de forma participativa, integrar e aperfeiçoar as atividades desenvolvidas em unidades de conservação da região e no entorno, contribuindo para a consolidação de processos de manutenção da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. A publicação deste volume representa um importante passo para o conhecimento da biodiversidade e a conservação do Espinhaço, fruto do esforço coletivo de mais de 100 especialistas de várias instituições de pesquisa que contribuíram voluntariamente, por meio de uma consulta ampla, alimentando um banco de dados sobre a biodiversidade do Espinhaço. A eles devemos um agradecimento especial, bem como aos que participaram do workshop, aos organizadores do evento e aos autores dos artigos que compõem este volume especial.

Alexsander Araújo Azevedo Ricardo Bomfim Machado

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Apresentação …o vento principiou entortar o rumo, mais forte – porque o tempo todo das águas estava no se acabar. (...) Estávamos em terras que entestam com a Bahia (...) onde o cãcã canta. Chão que queima, branco. E aqueles cristais pedra-cristal quase sangue... Chegamos até no cabo do mundo. (Guimarães Rosa)1

A Cadeia do Espinhaço é uma das regiões mais belas de Minas que se prolonga pelas terras da Bahia, atravessando os vários sertões de Guimarães Rosa. Conservar a biodiversidade de região tão ampla e tão importante em termos socioambientais e culturais é um desafio que se impõe não só a Minas Gerais – onde estão as regiões mais expressivas desse conjunto – como também a toda a sociedade brasileira. Área de elevado grau de endemismo e de vegetação peculiar que protege importantes nascentes e mananciais de água, o Espinhaço tem merecido do governo mineiro atenção especial: apoio integral ao seu reconhecimento como Reserva da Biosfera pelo Programa Homem e Biosfera da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e a criação e implantação de 17 Unidades de Conservação de Proteção Integral – parques e reservas biológicas – bem como de 36 Unidades de Conservação de Uso Sustentável – áreas de proteção ambiental e reservas particulares de patrimônio natural. Desta forma, 27% da Reserva da Biosfera do Espinhaço se encontram protegidos, mas é preciso avançar cada vez mais no sentido de garantir a preservação do patrimônio natural e cultural da região. Nós que trabalhamos nessa área, sabemos que a ampliação do conhecimento científico e a melhoria da gestão das unidades existentes dependem de ampla divulgação da importância do Espinhaço, de modo a levar, também, outros segmentos públicos e privados a se interessar em compartilhar desses cuidados, que garantem a sua integridade, com iniciativas importantes nas áreas de estudos e pesquisas ou com outras formas efetivas de proteção. Daí reconhecermos a relevância da revista “Megadiversidade” que vem ao encontro dos anseios dos gestores ambientais, dos conservacionistas, dos estudantes de graduação e pós-graduação e do público em geral, ávido de informações que possam consolidar suas posições a favor da segurança ambiental.

Grande Sertão: Veredas. P.304. Ed. Nova Fronteira

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6 | Apresentação

Nos diversos artigos desta revista, os estudiosos encontrarão informações científicas importantes sobre o Espinhaço, suas carências e potencialidades que, certamente, vão se constituir em suporte e referências para as políticas públicas de conservação, voltadas para a sustentabilidade ambiental da região. É pois, com imenso prazer que apresentamos à comunidade nacional a revista “Megadiversidade”, na certeza de que esta iniciativa vai resultar em muitos benefícios para toda a sociedade ambientalista deste país.

José Carlos Carvalho Secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais

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Uma geografia para a Cadeia do Espinhaço bernardo machado gontijo Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. email: gontijobm@yahoo.com.br

Considerações iniciais Numa edição especial que trata da grande biodiversidade da Cadeia do Espinhaço, cabe tentar entender aqui as razões para que tal riqueza de biota seja possível em um ambiente, aparentemente, tão limitante em termos ecológicos. Para além de sua geologia, que possibilita a ocorrência de um conjunto de feições geomorfológicas marcantes na paisagem, a Cadeia do Espinhaço é um grande divisor de biomas e, enquanto tal, tentaremos contextualizá-la geograficamente. Sem nos atermos a uma geografia puramente física, tentaremos conceber uma abordagem ecogeográfica uma vez que o prefixo eco trás em si os elementos do meio físico que possibilitam tamanha diversidade da biota, sem perder de vista as intervenções da espécie humana. Dedicaremos, num primeiro momento, a uma rápida revisão histórica sobre o que já foi pesquisado em termos das bases geológicas da Cadeia do Espinhaço uma vez que consideramos ser a geologia o elemento definidor de seu esqueleto fisiográfico, sobre o qual o clima atuou e atua no sentido de modelar seu relevo e definir sua hidrografia, e em relação aos quais os solos e a biota vêm se interagindo e condicionando-se mutuamente. Não pretendemos, aqui, voltar a discorrer sobre o que especialistas estão mais qualificados a dizer do que nós. A geologia e a geomorfologia da Cadeia do Espinhaço já são bem conhecidas, ainda que os especialistas não tenham entrado em acordo quanto às interpretações relativas aos seus modelos representativos, seja com relação a sua gênese, seja com relação à evolução de seu modelado – tanto em termos de seu passado geológico remoto, como em termos da

modelagem decorrente dos paleoclimas recentes (Quaternário). A geologia da Cadeia do Espinhaço, a propósito, vem despertando o interesse de pesquisadores desde o século XIX, consequência das ocorrências de diamante descobertas no século anterior. Eschwege (1822, 1832 e 1833) e Derby (1881, 1906), traçaram as primeiras considerações de ordem estratigráfica e metalogenética. Na primeira metade do século XX, Moraes (1929, 1932 e 1937), Moraes & Guimarães (1929, 1930, 1931), Freyberg (1932) e Barbosa (1954) avançaram nas investigações sobre a serra. De acordo com Karfunkel et al. (1991), apenas com as pesquisas de Pflug et al. (1969) e Pflug & Renger (1973) iniciou-se uma nova fase de estudos sistemáticos. Este período é descrito por Grossi-Sad et al. (1997) como aquele em que “foram realizados mapeamentos em escala 1:250.000 e, em parte 1:100.000, no setor meridional da serra e parte sul do setor setentrional. Integrações na escala 1:100.000 (mapas inéditos) foram executadas pelo Centro de Geologia Eschwege1. Os resultados mais significativos advindos destes estudos incluem a subdivisão estratigráfica, a correlação entre parte das sequências da Serra do Espinhaço e do Quadrilátero Ferrífero e o reconhecimento da organização estrutural. Na década de 70, o Centro de Geologia Eschwege iniciou um programa de mapeamento geológico em escala 1:25.000, do qual resultaram mapas de 30 quadrículas de 7’30” de lado, incluídas nas folhas 1:100.000 denominadas Diamantina, Presidente Kubitschek, Serro e Conceição do Mato Dentro”

Hoje integrante do Instituto Casa da Glória, pertencente ao Instituto de Geociências da UFMG.

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8 | Uma geografia para a Cadeia do Espinhaço

A evolução dos trabalhos geológicos culminaram com a publicação da excelente edição especial da Revista de Geociências Geonomos de 19952. Nesta publicação podem ser encontrados artigos fundamentais sobre a geologia do Supergrupo Espinhaço (Abreu,1995; Dussin & Dussin, 1995), a evolução dos conhecimentos sobre a “Cordilheira do Espinhaço” (Renger & Knauer), a geomorfologia da Cadeia do Espinhaço (Saadi, 1995) e até mesmo um levantamento bibliográfico sobre tudo que fora publicado até então sobre a “Cordilheira do Espinhaço” (Souza & Martins, 1995). Tais trabalhos constituem-se numa espécie de síntese geral, consequência de uma série de artigos, resumos, dissertações e teses elaboradas ao longo de mais de 25 anos de pesquisa. Em 1997, uma série de 23 mapas cobrindo toda a Cadeia do Espinhaço Mineira, de escala 1:100.000, foi disponibilizada também em formato digital, enquanto produto do grande Projeto Espinhaço (IGC/CSR/COMIG, 1996), sendo que em 2002 foi lançada a segunda edição deste CD-ROM. A Cadeia do Espinhaço baiana ainda não foi mapeada com o mesmo grau de detalhamento que a mineira, cabendo aos geólogos daquele estado a continuidade do trabalho desenvolvido em Minas Gerais, agora no âmbito do PRONAGEO/CPRM. Mais recentemente, Silva et al. (2005) editaram, pela UFVJM, um livro inédito sobre a Cadeia do Espinhaço Meridional no qual convidaram diversos especialistas para discorrer sobre a geologia e a geografia física do Espinhaço, e também para discorrer sobre alguns elementos de sua biota (vegetação, fragmentos de entomo-fauna, anuros e mamíferos não voadores), domínio histórico social e meio ambiente. Neste volume, mais uma vez, são discorridos aspectos da fisiografia do Espinhaço Meridional, e o estudo dos solos aparece em destaque, principalmente em função da participação do autor em diversos diagnósticos e avaliações pedológicas para o plano de manejo de quatro unidades de conservação localizadas na região3. O conhecimento da geomorfologia, e mais recentemente da pedologia, da Cadeia do Espinhaço, ainda longe de abranger toda a sua extensão, têm sido aprofundados a partir do desenvolvimento daquela base geológica inicial. Neste contexto destacam-se os trabalhos de Saadi (1995, op.cit.) e aqueles por ele citados, especialmente

Abreu (1982), Almeida Abreu (1993), Augustin (1994), Saadi (1991, 1993), Saadi & Valadão (1987). Em escala local, uma série de trabalhos foram, e ainda vêm sendo, desenvolvidos na região de Gouveia e adjacências, no âmbito do que poderíamos considerar como sendo um grande programa de estudos da geomorfologia do Espinhaço Meridional desenvolvidos pelos professores e pesquisadores em Geomorfologia do depto. de Geografia da UFMG. A estes trabalhos começam a se somar dissertações na área da pedologia e da climatologia. Percebe-se, a partir desse rápido histórico, que as bases para a compreensão ecogeográfica do Espinhaço encontram-se um tanto desequilibradas: muito se sabe sobre o arcabouço esquelético da paisagem e pouco se aprofundou sobre as implicações deste arcabouço com o tapete de vida que por sobre ele se instalou. É aqui que queremos circunscrever nossa contribuição, procurando uma visão ampla para o que pode ser considerado o Espinhaço no sentido de tentar entender o porquê dele sustentar tamanha biodiversidade (mais de seis mil espécies segundo os estudos que constam nesta publicação). Os elementos geológicos e fisiográficos mais pertinentes a esta abordagem ecogeográfica surgirão à medida em que o texto avançar – almejamos fugir, assim, da armadilha da compartimentação da informação, na qual os diversos temas aparecem como que em gavetas, e buscar um texto o mais coeso possível. Iniciemos por um questionamento básico:

A que Espinhaço nos referimos? Trata-se de uma questão complexa, já que não existe uma unanimidade sobre o assunto e a própria palavra vem sendo cada vez mais utilizada por segmentos não necessariamente comprometidos com seu real significado (o que, por um lado, é bastante satisfatório já que indica uma maior inserção do ambiente “Espinhaço” no contexto do grande público). A palavra Espinhaço remonta ao próprio Barão de Eschwege, que primeiro a cunhou, num artigo publicado em 1822 na Alemanha4. Reproduziremos, então, o primeiro momento em que o termo surge no texto de Eschwege no sentido de perceber, já nesta ocasião, a importância não só geológica, mas também ecológica, da Cadeia do Espinhaço:

Edição Especial da Revista de Geociências Geonomos sobre o Espinhaço - UFMG/IGC/CPMTC. Parques Estaduais do Biribiri, do Rio Preto e do Pico do Itambé e Área de Proteção Ambiental Estadual de Águas Vertentes. 4 “Quadro Geognóstico do Brasil”, impresso em pequena tiragem, traduzido depois para o francês e inglês (1823), resumido para o português (1846) e somente traduzido em sua íntegra para o português, recentemente, (2005) pelo professor F. Renger do IGC/UFMG na revista Geonomos. 2 3

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Gontijo |

“Uma dessas principais cadeias montanhosas, chamada em alguns lugares de Serra da Mantiqueira, encerra os pontos mais altos do Brasil, tais como o Pico do Itacolumi perto de Vila Rica, a Serra do Caraça junto a Catas Altas e o majestoso Pico do Itambé, perto da Vila do Príncipe, e atravessa, pelo norte, as províncias de Minas Gerais e da Bahia seguindo até Pernambuco e para o sul, a de São Paulo até o Rio Grande do Sul. A ela denominei Serra do Espinhaço (“Rückenknochengebirge”), não só porque forma a cordilheira mais alta, mas, além disso, é notável, especialmente para o naturalista, pois forma um importante divisor não somente sob o ponto de vista geognóstico, mas também é de maior importância pelos aspectos da fauna e da flora. (...) As regiões ao leste desta cadeia, até o mar, são cobertas por matas das mais exuberantes. O lado oeste forma um terreno ondulado e apresenta morros despidos e paisagens abertas, revestidas de capim e de árvores retorcidas, ou os campos cujos vales encerram vegetação espessa apenas esporadicamente. O botânico encontra, nas matas virgens, plantas completamente diferentes daquelas dos campos e o zoólogo acha uma outra fauna, especialmente de aves, tão logo passe das matas, pela Serra do Espinhaço, para os campos”5. Para Eschwege, a Cadeia do Espinhaço incluiria todo o prolongamento montanhoso ao sul do Quadrilátero Ferrífero mineiro e se estenderia até o Rio Grande do Sul. Isto se deu, certamente, em função do deficiente conhecimento da geologia brasileira no início do século XIX. Se ele estava certo em relação ao limite norte, o limite sul foi melhor estabelecido por Derby (1906), que “restringiu sua extensão ao segmento entre Ouro Preto e Juazeiro (Bahia), à margem do Rio São Francisco, passando por Minas Gerais, Bahia até o sul de Pernambuco, praticamente coincidindo com a margem oriental da Bacia Sanfranciscana” (Renger, 2005). É o mesmo Renger quem afirma que o limite sul da Cordilheira do Espinhaço corresponde à Serra das Cambotas, perto de Barão de Cocais, “concomitante à distribuição do Supergrupo Espinhaço” (Renger, op.cit.). Se geologicamente a Cadeia do Espinhaço pode ser associada às rochas do Supergrupo Espinhaço, outras delimitações surgem quando se quer enfatizar aspectos específicos a ela relacionados. Geomorfologicamente,

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as variações já surgem na própria maneira em que o Espinhaço é chamado enquanto unidade de relevo – ora como “serra”, ora como “cordilheira”, ora como “orógeno”, ora ainda como “planalto”. Tratam-se mais de questões conceituais específicas da Geomorfologia, que não nos vêm ao caso, apesar da importância intrínseca deste tipo de discussão. Para nós, interessa entender, ou saber, que tratam-se de “terras altas, de direção geral norte-sul e convexidade orientada para oeste” (Saadi, 1995) e, enquanto tal, exercem uma função ecológica sui generis se acrescentarmos, a essa característica, sua posição latitudinal e sua distância em relação ao litoral atlântico – em outras palavras – se nos detivermos a sua Geografia, como será aprofundado mais adiante. Podemos entender a expressão “Serra do Espinhaço”, ainda, como uma espécie de marca de fantasia, o que inclusive cai bem quando consideramos a crescente popularização do termo. Essa idéia parece, no nosso entender, estar na base da recente delimitação do que passou a ser concebido e conhecido como “Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço” (RBSE). De forte apelo de marketing, que lança a Cadeia do Espinhaço enquanto importante patrimônio ecossistêmico a ser olhado e cuidado com o carinho que merece, a RBSE acabou por englobar mais espaços ao Espinhaço mineiro. Este foi, especialmente, o caso de todo o Quadrilátero Ferrífero, o que resgata de alguma forma as idéias originais de Eschwege e Derby. Embora um “pecado geológico”, trata-se mais da materialização espacial de uma, boa, idéia conservacionista – quanto mais áreas estiverem incorporadas a nossa RBSE, mais chances teremos de proteger nossa biota. Lembremos, também, que a grande maioria dos estudos enumerados no item anterior referem-se apenas a uma porção do Espinhaço, notadamente sua porção mineira. Podemos, então, considerar o Espinhaço mineiro como sua porção sul e o Espinhaço baiano como sua porção norte. No entanto, considerando o volume de trabalhos muito maior já desenvolvido no Espinhaço mineiro, este acabou sendo subdividido pelos especialistas também em uma porção meridional e outra setentrional. Segundo Saadi (1995), “em escala regional, a Serra do Espinhaço é subdividível em dois compartimentos de planaltos muito bem diferenciados e nitidamente separados por uma zona deprimida de direção NW-SE, passando por Couto de Magalhães de Minas”, os quais ele denominou de Planalto Meridional e Planalto Setentrional.

ESCHWEGE, W von, “Quadro Geognóstico do Brasil e a provável rocha matriz dos diamantes”. Tradução (2005) de F.E.Renger do original em alemão (1822).

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10 | Uma geografia para a Cadeia do Espinhaço

O Espinhaço enquanto grande fator ecológico De acordo com o Projeto Espinhaço (COMIG, 1997), a Cadeia do Espinhaço “representa um importante acidente geográfico que se estende desde as proximidades de Belo Horizonte até o limite norte do Estado da Bahia com o Estado do Piauí. O relevo da serra é marcadamente acidentado com altitude geralmente superior a 1.000m, alcançando um máximo de 2.002m de altitude no Pico do Itambé, localizado a cerca de 30km a sudeste de Diamantina. Em Minas Gerais a Serra do Espinhaço estende-se por cerca de 550km, com direção aproximadamente N-S e largura variável de até 100km. Ao norte de Diamantina apresenta notável estreitamento, seguindo como faixas descontínuas e de largura reduzida até as proximidades de Terra Branca, onde volta a apresentar relevo abrupto e largura considerável. Este adelgaçamento promove a individualização da serra em dois setores: meridional e setentrional, de características geológicas distintas”. É esta a base geológico-morfológica que dá o “suporte ecológico” à biota da serra, tal como concebido por Tansley (1935, citado por Ab’Saber, 2003). Discorrendo sobre o conceito de ecossistema tal como popularizado por Tansley, Ab’Saber (2003) aponta para a importância de se considerar o estudo integrado de seus três componentes essenciais, quais sejam, “o suporte ecológico (rocha/solo), a biota ali estabelecida através de longos processos genéticos e as condições bioclimáticas que dão sustentabilidade para a vida ali instalada”. Entendemos, aqui, a Cadeia do Espinhaço como um grande fator ecológico em si – neste sentido, poderíamos considerá-la como a base de um bioma, o quarto grande bioma de Minas Gerais. É sabidamente conhecida a interseção, em Minas, de três dos grandes biomas brasileiros (Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga). Os campos rupestres de altitude (que não se restringem somente ao Espinhaço) aparecem como faixas de transição ou refúgios isolados em meio àqueles três domínios maiores. Se tomarmos a escala de Minas, ou da faixa oriental da bacia sanfranciscana que incluiria Minas e Bahia, a cadeia do Espinhaço cresce em importância e, no nosso entender, ganha a dimensão de um bioma (entendendo bioma como a dimensão mais ampla possível de um ecossistema, na concepção Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

Tansleyana do termo). Coutinho (2006), ao discutir sobre o conceito de bioma, considera a definição de Walter (1986) como a mais adequada: “uma área do espaço geográfico com dimensões até superiores a um milhão de quilômetros quadrados, representada por um tipo uniforme de ambiente, identificado e classificado de acordo com o macrolclima, a fitofisionomia (formação), o solo e a altitude, os principais elementos que caracterizam os diversos ambientes continentais”. A essa definição, Coutinho acrescenta a importância do fogo natural enquanto fator ecológico, o que se aplica também para a Cadeia do Espinhaço. Discordamos, no entanto, quanto à rigidez em se definir a área mínima de um bioma como sendo de um milhão de quilômetros quadrados. Ao conceber este limite, Walter tinha a distribuição planetária dos ambientes continentais em mente – nesta escala de análise, qualquer área inferior a um milhão de quilômetros quadrados perde em importância. Se a Cadeia do Espinhaço possui uma importância espacialmente limitada, especialmente se considerarmos as grandes cadeias montanhosas do planeta (inclusive bastante jovens em termos geológicos), para nós brasileiros, mais especificamente para nós mineiros e baianos, isso não corresponde ao que experienciamos na prática. A geografia física de Minas Gerais, para nos atermos somente ao nosso estado, pode até apontar para a importância de nossos três grandes biomas (os já citados Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga), com a Cadeia do Espinhaço sendo, quando muito, uma faixa de transição e um divisor dos mesmos. Mas nossa ecogeografia exige a necessária consideração do conjunto da Cadeia do Espinhaço como um bioma em si – sua antiguidade geológica e sua posição geográfica conferem-lhes um aumento na sua relevância ecológica pois estão na base para tentarmos explicar o grau tão elevado de biodiversidade que comporta. No nosso entender, os campos rupestres de altitude do Espinhaço Mineiro constituem-se num dos quatro grandes biomas do estado, e possuem uma importância que vai muito além de sua mero arranjo florístico / fitofisionômico. Trata-se de uma paisagem grandiosa, profundamente gravada no imaginário mineiro, uma vez que acompanha nosso histórico de conquista mineral, associada que está ao magnífico embasamento quartzítico, seja ele mais silicoso (como no caso do Espinhaço), seja ele mais ferrífero (como no caso do Quadrilátero Ferrífero). A história das “minas gerais” passa necessariamente, pelos seus campos rupestres.


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Mosaico de biomas, mosaico de biodiversidade No mapeamento geológico da Cadeia do Espinhaço realizado a partir do convênio COMIG/IGC (1997), uma pequena introdução à geografia da Cadeia do Espinhaço é apresentada: “A paisagem gerada pelo entalhamento das rochas predominantemente quartzíticas, com a formação de elevações e espigões de formas diversas, é de extrema beleza. O quadro final é dado pelo contraste entre os rochedos e as superfícies mais baixas, que geralmente são cobertas por vegetação singela. Estas superfícies constituem extensos pediplanos onde existem intercalações de litologias mais susceptíveis à decomposição. (...) A Serra do Espinhaço corresponde a um importante divisor de águas para as bacias hidrográficas do Rio São Francisco e dos rios que fluem para leste e desaguam no Oceano Atlântico, tendo como bacias hidrográficas principais as dos rios Jequitinhonha e Doce. (...) A região da Serra do Espinhaço encontra-se na faixa de clima subtropical quente, com micro-climas diversos relacionados à fatores topográficos. A temperatura média anual está em torno de 18 a 19°C. A precipitação anual varia de 850 a 1.400mm, de norte para o sul da serra. As coberturas vegetais na região são representadas por campos rupestres e campos de altitude, cerrado e floresta subcaducifólia principal. A ocorrência de um determinado tipo está fortemente condicionada a condições climáticas e aspectos morfológicos”. A litologia decorrente do embasamento geológico acaba por definir as características pedológicas da região uma vez que fica claro o contraste entre as limitações ecológicas impostas pelos solos arenoquartzosos dos topos de serra (Formações relacionadas ao Supergrupo Espinhaço), e as possibilidades decorrentes dos solos eutrofizados das áreas limítrofes. A cobertura vegetal se revela, então, fortemente marcada pela litologia e se revela na forma dos campos de altitude que serão rupestres na medida em que estiverem associados aos afloramentos rochosos (necessariamente presentes, por serem seus definidores, nos topos da Serra). Tomando

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o exemplo da Serra do Cipó, extremidade meridional do Espinhaço mineiro, Giulietti et al (1987) afirmam que a fisionomia de seus campos rupestres “é bastante uniforme e essa característica se mantém ao longo da cadeia do Espinhaço, sendo a continuidade quebrada pela presença de manchas de cerrado e matas de galeria e de encosta, e também pelos assim chamados capões de matas”. Menezes & Giulietti (2000), destacando a riqueza florística dos campos rupestres da Serra do Cipó, registraram a presença de 1590 espécies (de um total de 149 famílias) em uma área de aproximadamente 200km². Além disso, elas chamam a atenção para o elevado índice de endemismos da flora local, fato já constatado por Joly desde 1970, quando iniciava um estudo exaustivo de levantamento da flora da Serra do Cipó, contando com a colaboração de pesquisadores e pós-graduandos da Universidade de São Paulo, Universidade de Campinas e do Instituto de Botânica de São Paulo. Joly já antevia que “não há na flora brasileira outra associação, com tal índice de endemismos, como a dos campos rupestres, que fala da antiguidade de seu isolamento, restrita como está ao alto das serras isoladas, verdadeiras ilhas no planalto brasileiro, únicos pontos onde se encontram as condições geoclimatológicas, razão de sua existência” (Joly, 1970: 128129). Joly morreu prematuramente mas o levantamento florístico prossegue até hoje (Giulietti et al.,1987). Os botânicos enumeram um grande número de famílias de plantas mas aos olhos dos leigos destacamse na paisagem as “canelas de ema” (Velloziaceae), as “parasitas”6 (Orchidaceae e Bromeliaceae), diversas cactáceas (Cactaceae), e um grande número de “semprevivas” (Xyridaceae, Cyperaceae, Eriocaulaceae) (Menezes & Giulietti, 1986). São exemplares dessas famílias as que mais têm sido coletadas ao longo dos anos por toda a Serra. Enquanto os caules das canelas de ema são coletados para serem usados como combustível; cactos, bromélias e orquídeas são retirados pelo alto valor de mercado que atingem em função da beleza e singularidade de seus aspectos. Já com relação às sempre-vivas, a coleta tem sido sistemática e indiscriminada ao longo de todo o Espinhaço Meridional, onde certas populações já tiveram seu número drasticamente reduzido, e outras já são consideradas como extintas7 (Giulietti et al., 1988).

Na verdade são epífitas, pois não exercem qualquer tipo de relação de parasitismo com o hospedeiro, e muitas vezes encontrando-se diretamente sobre o substrato rochoso. 7 A lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção da flora de Minas Gerais registra 351 espécies ameaçadas no âmbito dos campos rupestres (Mendonça & Lins, 2000:113-148). 6

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Além dos campos rupestres, matas ripárias e capões também foram estudados pelo grupo de São Paulo. Meguro et al. (1996a e 1996b) caracterizaram-nas tanto floristicamente quanto com relação ao seus processos de instalação e dispersão. Enquanto as matas ripárias “ocupam estreitas franjas ao longo dos riachos que drenam os campos rupestres, alargando-se aquém da cota de 1000 m” (Meguro et al., 1996b); os capões “formam pequenas manchas nas proximidades dos topos arredondados e encostas suaves das serras e, à jusante, fundem-se, muitas vezes, com as florestas presentes nas íngremes vertentes dos anfiteatros de erosão e dos vales” (Meguro et al., 1996a). Considerando o aspecto regional, o Espinhaço Meridional surge como um grande divisor de biomas, ele próprio comportando em si um daqueles quatro biomas mais significativos da paisagem mineira. A bacia do rio das Velhas, na encosta ocidental do Espinhaço Meridional, invade o cerrado mineiro, enquanto a encosta oriental do Espinhaço Meridional detém o avanço do “mato dentro” ao longo da bacia do rio Doce, o mesmo “mato dentro” que batizou Conceição, Itabira e Itambé, ali localizadas e todas testemunhas da grande floresta estacional semi-decidual, versão mineira do bioma da Mata Atlântica. Estamos diante de um mosaico fitofisionômico e florístico que imprime na paisagem da serra um de seus grandes fascínios, o que está refletido em suas vertentes ocidental e oriental, que definem, grosso modo, as transições altitudinais, ora entre campos rupestres e cerrados (bacia do São Francisco), ora entre campos rupestres e mata Atlântica (bacias de leste) e ora entre campos rupestres e caatinga (latitudes menores). As interfaces com a Mata Atlântica, a propósito, se dão na medida em que a vegetação mais densa penetra pela encosta oriental, persistente que vai ao longo dos cursos d’água (matas ripárias ou de galeria), e também na medida em que se instala nas depressões geológica e geomorfologicamente favoráveis do altiplano da serra (capões de mata). Já nos afloramentos calcários que ocorrem nas faixas de transição com a depressão Sanfranciscana, sobre rochas calcárias do Grupo Bambuí, dominam manchas de mata seca (floresta estacional decidual). Este mosaico de biomas acaba por produzir um grande mosaico de biodiversidade pois a concentração de ecótones propicia uma profusão de alternativas

ecológicas de adaptação. Some-se a isto a posição geográfica da Cadeia do Espinhaço, qual seja, aquele alinhamento montanhoso norte-sul, relativamente interiorizado em relação ao litoral brasileiro, numa distância curta o suficinte para sofrer os efeitos orográficos da penetração das massas de ar quente e úmidas, tanto de leste como de oeste; e numa distância longa o suficiente para confinar as grandes formações abertas do sertão brasileiro – cerrados e caatingas e todas as gradações que comportam – cujas ecologias são marcadas pela sazonalidade em seus diversos graus de intensidade – desde a regularidade da faixa tropical semi-úmida das latitudes intertropicais até a irregularidade tropical semi-árida do nordeste brasileiro De fisionomia fortemente marcada pelo xeromorfismo oligotrófico, os cerrados sofrem as consequências de uma sazonalidade acentuada, isto é, desenvolvem mecanismos de retenção de água no período de maior deficiência hídrica (final de inverno). De acordo com Ferreira (1980) o cerrado “apresenta gradações baseadas na fisionomia, nos fatores edáficos e na composição florística” e Brandão (2000) chega a considerar os campos rupestres como uma de suas variáveis campestres8. Ribeiro & Walter (1998), por sua vez, propõem os assim chamados cerrados rupestres, traduzindo a transição gradual entre o cerrado e os campos rupestres. É no final do período de maior deficiência hídrica que ocorre um grande número de queimadas na região, o que em grande medida reflete numa série de adaptações morfológicas nas plantas que possibilitam a sobrevivência ao fogo. A grande pressão ecológica do fogo sobre o cerrado, fato já estudado desde Warming (1908) e aprofundado por Coutinho (1976 e 1992), se prolonga para os campos rupestres, definindo inclusive muito de sua composição florística (Giulietti et al., 1987 op.cit.). As queimadas são comuns na serra, não sendo raro o testemunho dos habitantes da região sobre incêndios que duram dias para cobrir grandes áreas de escarpamento quartzítico. As formações florestais, por sua vez, sofrem influência tanto do regime climático como da litologia e da geomorfologia. A presença da água ao longo da grande quantidade de cursos d’água que drenam as vertentes orientais da serra (desde as cabeceiras dos rios Santo Antônio, Suaçui, Araçuai e Jequitinhonha na porção meridional, até as cabeceiras dos rios Pardo, de Contas, Paraguaçu e Jacuipe na porção setentrional) e a

Algo muito mais plausível do que classificar os campos rupestres do Espinhaço como se fossem refúgios vegetacionais no âmbito da adequação ao sistema universal da classificação vegetacional de Veloso (1992).

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proximidade oceânica oferecem níveis de umidade suficiente para sustentar o que originalmente consistiu na grande massa florestal da nossa Mata Atlântica. Revestindo os assim chamados por Ab’Saber de mares de morro, essas florestas cobriam uma extensão mais dilatada no leste mineiro, chegando às encostas da vertente leste do Espinhaço. Quanto às estreitas faixas de oeste de matas secas, estas permanecem exuberantes no verão mas perdem suas folhas no inverno, uma vez que a água penetra no substrato calcário e acaba tornando secas as camadas superficiais do solo, tornando também esta formação altamente vulnerável à ocorrência de incêndios. Em suas faixas de ocorrência, predominam em meio à transição do cerrado para os campos rupestres, capões e galerias, algumas bastante alteradas pela ocupação agrícola.

Um terremoto ambiental? A Cadeia do Espinhaço prossegue ainda desconhecida em grande parte de sua extensão, especialmente se considerarmos seu elevado grau de endemismos. Ou seja, cada um de seus grotões permanece como alvo potencial de investigações mais aprofundadas, especialmente num momento em que os estudos da biodiversidade de Minas Gerais ganham fôlego, incluindo aí os trabalhos da Fundação Biodiversitas (Costa et al., 1998, Mendonça & Lins, 2000; Drummond et al.,2005). Nas duas edições dos atlas para a conservação da biodiversidade em Minas Gerais (Costa et al. 1998; Drummond et al. 2005), a Cadeia do Espinhaço, em sua porção mineira, aparece como uma das áreas prioritárias de conservação, com importância biológica especial e enquanto área que demanda a criação urgente de (mais) Unidades de Conservação. O texto referente à Cadeia do Espinhaço que consta na primeira edição (Costa et al., 1998) é bastante elucidativo e resume bem muito do que aqui foi enfatizado com relação à importância ecológica de todo o conjunto: “A Serra do Espinhaço, de notável relevância, destaca-se no cenário nacional e internacional, pois além de abrigar nascentes de diversos rios que drenam para diferentes bacias, constitui uma área ímpar no contexto mundial, no que se refere à formação geológica e florística. Apresenta extraordinário grau de endemismo de várias famílias de plantas e é considerada o centro de diversidade genética das sempre-vivas. Nela se concentram cerca de 80% de todas as espécies

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de sempre-vivas do país e cerca de 70% das espécies do planeta. A Serra abriga, ainda, 40% das espécies de plantas ameaçadas do Estado. Esses fatores, aliados à sua importância como eixo de migrações pré-históricas, justificam a recomendação de criação de uma Reserva da Biosfera que englobe todo o maciço do Espinhaço. Para viabilizar essa proposta, o Estado deverá requerer ao Programa “Man and Biosphere – MAB”, da UNESCO, a criação da reserva”. Estaria este santuário, especialmente naqueles pontos onde a pressão antrópica tem sido crescente, vulnerável e impotente diante desse rolo compressor de uma economia cada vez mais globalizada? Biólogos e ecologistas em geral tendem a reduzir a questão à criação de Unidades de Conservação, se possível das mais restritivas, e a criar o maior número possível de mecanismos que impeçam os efeitos de uma pressão antrópica crescente. Muitos desses biólogos estiveram, inclusive, na vanguarda do processo de criação das unidades de conservação lá já existentes e suas contribuições para o aprofundamento do conhecimento de diversas facetas da Serra são inquestionáveis. Mas não deveríamos, enquanto pesquisadores, continuar com uma espécie de venda nos olhos e que nos impede que possamos enxergar além do mistério profundo das plantas e animais da Serra. O problema da ocupação desordenada da Cadeia do Espinhaço tem se avolumado e são cada vez mais constantes os conflitos decorrentes dos jogos de interesse contraditórios entre os diversos profissionais que atuam na região. Justamente por estarem sofrendo impactos sistemáticos em sua integridade ambiental e, ao mesmo tempo, serem biodiversos e ricos em endemismos, Cerrado e Mata Atlântica são hoje considerados como hotspots. Os campos de altitude, por seu turno, podem ainda não ser considerados enquanto um hotspot, mas refletem, na sua biodiversidade, muito do que representa sua proximidade com aqueles dois biomas. Se o termo hotspot foi tomado emprestado à Teoria da Tectônica de Placas, fundamental para a explicação de muitos dos fenômenos geológicos (como a própria orogênese da Cadeia do Espinhaço), cabe aqui uma analogia a nossa situação ambiental: Se não tomarmos cuidados quanto à preservação do que ainda resta de biodiversidade na Cadeia do Espinhaço e em seus biomas adjacentes, estaremos na eminência de sofrer um grande “terremoto ambiental” já que estamos, como mostra a geografia de nossa “tectônica ambiental”, localizados bem em cima de seu hipotético epicentro.

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A flora dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço Alessandro Rapini1* Patrícia Luz Ribeiro1 Sabrina Lambert1 José Rubens Pirani2 Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil. Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. * e-mail: rapinibot@yahoo.com.br 1 2

Resumo Da exaltação dos primeiros naturalistas aos estudos mais recentes em variabilidade genética, os campos rupestres continuam surpreendendo a todos que a eles voltam seu olhar mais atentamente. Sua distribuição disjunta ao longo da Cadeia do Espinhaço, as condições ambientais extremas e a grande heterogeneidade espacial parecem ser responsáveis pela enorme diversidade beta que caracteriza essa formação vegetal. O número de espécies é grande, porém ainda mais notável é a alta concentração de espécies com distribuição restrita. Uma grande parcela de sua biodiversidade por isso encontra-se vulnerável e necessita de proteção. Os campos rupestres abrigam um dos maiores patrimômios biológicos brasileiros e sua conservação depende do conhecimento amplo e detalhado de suas espécies e dos mecanismos envolvidos na dinâmica de suas populações. É necessário dar continuidade aos levantamentos florísticos, mas também estimular estudos filogenéticos e ecológicos capazes de estabelecer relações históricas entre espécies e definir fatores limitantes à manutenção de suas populações. Diferente das pedras preciosas que se exauriram rapidamente no século XIX, os campos rupestres constituem uma riqueza natural que pode perdurar indefinidamente se os devidos cuidados forem tomados. Sua proteção deve ser garantida através de unidades de conservação, mas esforços devem ser realizados para assegurar sua integridade também fora dessas unidades. Uma etapa importante nessa direção pode ser a sensibilização da sociedade em torno de sua preservação.

abstract From the excitement of the first naturalists to the recent studies on genetic variation, the campos rupestres remain surprising to everyone who takes a closer look at them. The disjunct distribution along the Espinhaço mountain range, the extreme environmental conditions and the great spatial heterogeneity are responsible for the huge beta diversity found in this vegetation. The number of species is high, but the high concentration of narrow endemics is even more remarkable. Because of this, a large proportion of their biodiversity is vulnerable to extinction and needs to be protected. The campos rupestres cover one of the most important Brazilian biological heritages and their

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conservation depends on the broad and deep knowledge of species and mechanisms involved in the dynamic of their populations. It is necessary to carry on with the floristic inventories, but also to encourage phylogenetic and ecological studies to establish historical relationships among species and to define limitations to the maintenance of their populations. Different from the precious stones which ran out during the 19th century, the flora of the campos rupestres consists of a natural richness that may persist indefinitely if the proper cautions are taken. Its protection must be guaranteed through conservation unities, but efforts must also be done to assure their integrity outside these units. An important step to this goal may be reached by showing the society the importance of its preservation.

Introdução Historicamente, a Cadeia do Espinhaço tem sido uma fonte importante de riquezas minerais, principalmente pedras preciosas durante o período colonial. Várias cidades ali se estabeleceram durante os ciclos do ouro e do diamante, entre os séculos XVII e XIX. Essas cidades controlavam a economia brasileira e serviram de base para os naturalistas que passavam pela região. A beleza da vegetação, especialmente nas regiões campestres onde afloram os maciços rochosos, é motivo de exaltação e, impressionados com a diversidade biológica da região, pesquisadores de várias partes voltaram suas atenções para essas formações, que passaram a ser conhecidas como campos rupestres. Os campos rupestres incluem formações herbáceoarbustivas associadas a solos litólicos, predominantemente quártzicos. Inseridos nos biomas do Cerrado e das Caatingas, são frequentemente entremeados por matas ciliares e eventualmente salpicados de ilhas de capão. Ocorrem em altitudes a partir de 900m, ocupando de maneira disjunta as regiões mais elevadas do Espinhaço, desde o norte da Chapada Diamantina, na Bahia, até a Serra de Ouro Branco, em Minas Gerais. Podem ser encontrados também mais ao sul, nas Serras de São João d’El Rey, da Canastra e de Ibitipoca (Minas Gerais), a oeste, nas Serras dos Cristais e dos Pirineus e na Chapada dos Veadeiros (Goiás), e ao norte, nos Tepuis (norte da América do Sul).

Fitofisionomia dos campos rupestres Em solos oligotróficos e ácidos e sujeita a oscilações diárias de temperatura, exposição ao vento e restrições hídricas, a vegetação nos campos rupestres é tipicamente xeromórfica (e.g., Giulietti et al., 1997), dominada por plantas com grande capacidade de fixação ao substrato e tolerantes à dessecação ou resistentes ao

estresse hídrico. As folhas são geralmente coriáceas e fibrosas, estando reduzidas a espinhos em cactos ou formando tanques de água em bromélias. Os estômatos ficam muitas vezes protegidos e vários grupos apresentam fisiologia especializada como metabolismo C4 e CAM (Metabolismo do Ácido Crassuláceo), mantendo-os fechados durante o dia e realizando as trocas gasosas à noite, quando a transpiração é menor. Nas regiões mais úmidas e com solos mais profundos, existe um grande número de plantas anuais ou com ciclo reprodutivo curto, capazes de se desenvolver nos períodos favoráveis, ou com gemas protegidas na superfície do solo, como em gramíneas. Nos solos mais rasos e pobres, são mais comuns as plantas perenes com desenvolvimento lento e gemas protegidas entre folhas ou em ramos velhos. Nas canelas-de-ema (Vellozia spp., Velloziaceae), por exemplo, as bainhas foliares, persistentes e intercaladas por raízes adventícias, formam um pseudotronco resinoso que protege as gemas do fogo e da insolação. As epífitas, sobretudo orquídeas e bromélias, são pouco diversificadas nessas áreas abertas e os trofóforos parecem se restringir a poucas espécies de velósias. Devido à dominância marcante de alguns grupos de plantas, principalmente monocotiledôneas, e às convergências morfológicas recorrentes entre táxons não relacionados, os campos rupestres compõem uma paisagem de fisionomia aparentemente uniforme (Giulietti et al., 1987). Numa escala mais fina, no entanto, essa fitofisionomia inclui desde campos limpos e sujos, em solos arenosos, mais baixos e com declives suaves, até afloramentos rochosos, em encostas íngremes e topos de morros, passando por solos pedregosos e baixadas brejosas. Extremos, no entanto, ocorrem de maneira contígua, muitas vezes se mesclando. Nos afloramentos, rochas nuas ou cobertas por líquens e plantas rupícolas formam covas com diferentes níveis de sombreamento e umidade e são intercaladas por valas e entremeios (Conceição & Pirani, 2005). Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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A heterogeneidade de substrato, topografia e microclima é refletida na estrutura das comunidades e na composição florística dos campos rupestres, agregando vários microambientes em espaços restritos (Conceição & Giulietti, 2002; Vitta, 2002; Conceição & Pirani, 2005; Conceição et al., 2005). Os solos arenosos e profundos, com menor drenagem e pobres em nutrientes são dominados pelas gramíneas (Poaceae), enquanto os afloramentos rochosos, com solos mais rasos, maior proporção de partículas finas e teores mais elevados de matéria orgânica, são dominados pelas Velloziaceae. São comuns nos campos gerais, outras famílias graminóides, como Cyperaceae, Eriocaulaceae e Xyridaceae, além de alguns gêneros de Gentianaceae e Orchidaceae. Em áreas mais encharcadas, frequentemente associadas a córregos e solos húmicos, são encontradas também saprófitas, como as Burmanniaceae, e plantas carnívoras, como Droseraceae e Lentibulariaceae. A vegetação nos afloramentos é mais arbustiva, destacando-se, além das canelas-de-ema (Velloziaceae), espécies de Amaryllidaceae, Bromeliaceae, Cactaceae, Compositae, Cyperaceae, Ericaceae, Euphorbiaceae, Gutifferae, Melastomataceae, Leguminosae, Malpighiaceae, Rubiaceae e Orchidaceae, além de algumas licófitas e samambaias leptosporangiadas.

Estudos florísticos na Cadeia do Espinhaço Os estudos florísticos nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço se intensificaram a partir da década de 1970 e, na década de 1980, foram publicadas a Flórula de Mucugê (Harley & Simmons, 1986), na Bahia, e a lista de plantas terrestres da Serra do Cipó (Giulietti et al., 1987). Na década de 1990, merece destaque o lançamento da Flora do Pico das Almas (Stannard, 1995), na Bahia, e, na década de 2000, a lista de espécies de Catolés (Zappi et al., 2003), no sul da Chapada Diamantina, e o início da publicação da flora de Grão-Mogol (Pirani et al., 2003), no norte da porção mineira do Espinhaço. Até o momento, foram publicadas monografias para aproximadamente metade das famílias da Serra do Cipó e 75% das famílias de Grão-Mogol. Vários estudos florísticos também têm sido elaborados para grupos particulares, tanto na porção mineira quanto na porção baiana do Espinhaço. Em sua maior parte, eles são temas utilizados para a formação de várias gerações de sistematas e servem de base para estudos em vários campos da biologia. No entanto, ainda são raras as obras que colocam esse conhecimento de maneira simples e

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acessível ao grande público. O livro de Harley & Giulietti (2004), compartilhando com o leitor a experiência obtida pelo casal durante décadas de estudos florísticos na Chapada Diamantina, é uma exceção. Os levantamentos florísticos em áreas de campos rupestres são garantias de novidades taxonômicas. Estimase que um quarto das espécies novas descritas no Brasil entre 1997-2002 seja proveniente dos campos rupestres (Zappi et al., 2002). A Flora de Grão-Mogol, por exemplo, proporcionou o reconhecimento de aproximadamente 60 espécies novas em mais de 20 famílias (Pirani et al., 2003). Em Catolés, foram pelo menos 20 espécies novas, sete em Compositae (Zappi et al., 2003), família que já havia apresentado 42 espécies novas no Pico das Almas (Harley, 1995), apenas 80km de distância de Catolés. A diversidade de Compositae na Chapada Diamantina tem sido tão notável que a discrepância morfológica de algumas espécies tem sido evidenciada através da descrição de gêneros monoespecíficos: Bahianthus, Bishopiella, Catolesia e Semiria. Estudos detalhados em grupos diversificados nos campos rupestres também levam seguramente a novas descobertas taxonômicas. O levantamento das Asclepiadoideae (Apocynaceae) do Espinhaço de Minas Gerais (Rapini et al., 2001), por exemplo, detectou sete espécies novas, algumas delas em áreas relativamente bem coletadas, como o Sul da Cadeia e a Serra do Cipó, e propiciou o reconhecimento de Minaria (Konno et al., 2006; Figura 1), gênero com centro de diversidade no Espinhaço de Minas Gerais, mas até então taxonomicamente críptico, com espécies classificadas em gêneros pouco relacionados. A revisão taxonômica de Richterago (Compositae) é outro exemplo. O gênero está concentrado nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço, e sua revisão taxonômica propiciou o reconhecimento de cinco espécies novas (Roque, 2001), aumentando em quase 50% o número de espécies no gênero.

Diversidade e padrões de distribuição A Cadeia do Espinhaço é o centro de diversidade de vários grupos de plantas e estima-se que sua flora inclua mais de 4.000 espécies (Giulietti et al., 1997). Todavia, essa estimativa ainda parece bastante modesta. Somente a Serra do Cipó, com aproximadamente 200km2, menos que 5% da Cadeia, abriga mais que um terço dessa diversidade (Giulietti et al., 1987). A região, no entanto, continua apresentando espécies e ocorrências novas regularmente (e.g., Rapini et al., 2002) e,


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Figura 1 – Minaria magisteriana (Rapini) T.U.P.Konno & Rapini, touceira em primeiro plano, aparecendo entre rochas, em ambiente típico de campos rupestres. O gênero Minaria foi descrito recentemente (Konno et al., 2006) e possui 19 espécies, das quais 14 são endêmicas de pequenas áreas em campos rupestres; cinco delas eram desconhecidas até 2000. Essa espécie foi descrita somente em 2002 e é endêmica da Serra do Cipó, sendo conhecida por apenas duas pequenas populações, ambas de fácil acesso e fora dos limites do Parque Nacional.

confrontando a lista de Giulietti et al. (1987) com monografias mais recentes para a Serra do Cipó, é possível observar um acréscimo substancial no número de espécies em várias famílias. Elementos de outras formações vegetais, sobretudo dos cerrados, são frequentes na flora dos campos rupestres e alguns representantes são compartilhados com as restingas, ambientes com condições edáficas e climáticas semelhantes às encontradas nas serras do Espinhaço. Uma grande proporção de sua diversidade é exclusiva dos campos rupestres, evetualmente aparecendo de maneira disjunta no Espinhaço, no sul de Minas Gerais, em Goiás e nos Tepuis. A maioria dessas espécies, no entanto, apresenta distribuição restrita e a composição florística dos campos rupestres do Espinhaço é marcada pela alta taxa de endemismos, talvez a maior dentre as formações vegetais brasileiras (Giulietti et al., 1987, 1997; Giulietti & Pirani, 1988; Harley, 1995).

Algumas espécies endêmicas ao Espinhaço ocorrem ao longo de toda a Cadeia (Giulietti et al., 1987), porém várias são microendêmicas. Assim, apenas uma pequena parcela dessas espécies é compartilhada pelas porções mineira e baiana da Cadeia (e.g., Giulietti & Pirani, 1988; Rapini et al., 2002) e a similaridade florística entre áreas do Espinhaço costuma ser surpreendentemente baixa, mesmo em localidades vizinhas (Zappi et al., 2003; Conceição et al., 2005; Azevedo & Berg, 2007). Alguns grupos (e.g., Chamaecrista, em Leguminosae, e Cambessedesia, em Melastomataceae) são igualmente diversos na porção mineira e na baiana, apresentando grande concentração de endemismos em ambas. Outros estão desigualmente distribuídos, com centro de diversidade na porção mineira (e.g. Minaria, em Apocynaceae, Pseudotrimezia, em Iridaceae, Senna, em Leguminosae, Lavoisiera, em Melastomataceae, e Decleuxia, em Rubiaceae) ou na porção baiana (e.g. Marcetia, em Melastomataceae, Calliandra, em Leguminosae, além de gêneros da tribo

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Gyptidinae, Lasiolaena, Agrianthus e Stylotrichium, em Compositae). A disjunção de 300km entre os campos rupestres de Minas Gerais e da Bahia parece representar uma barreira importante à migração de plantas e a diferenciação genética entre populações dessas duas porções tem sido notada também através de inversões na frequência relativa de alelos e através de alelos exclusivos (Borba et al., 2001; Ribeiro et al., 2007). Apesar das diferenças florísticas entre os levantamentos realizados ao longo do Espinhaço (e.g., Giulietti et al., 1987; Stannard, 1995; Pirani et al., 2003 ; Zappi et al., 2003), eles confirmam a grande diversidade e as altas taxas de espécies microendêmicas nos campos rupestres e concordam que existe uma grande diferença amostral entre eles. Discrepâncias no esforço amostral podem distorcer a percepção sobre centros de diversidade e endemismos (Rapini et al., 2002), levando a conclusões equivocadas sobre relações florísticas e definições imprecisas acerca da distribuição das espécies (Gaston, 1994). Esse fenômeno é especialmente influente nos campos rupestres, onde uma parcela significativa da diversidade é composta por espécies pouco frequentes (Conceição et al., 2005), aumentando as chances de falsas ausências. A grande concentração de espécies raras, seja pela distribuição espacialmente restrita ou pela baixa frequência com que aparecem nas comunidades, dificulta o acesso integral da diversidade dos campos rupestres e exige, então, a realização de levantamentos florísticos intensivos e prolongados.

Diversificação e variabilidade populacional A alta diversidade beta dos campos rupestres parece estar relacionada à sua distribuição descontínua ao longo do Espinhaço e às heterogeneidades macroespaciais (altitudinal, topográfica e latitudinal) e microespaciais (edáficas e microclimáticas). Uma das hipóteses para explicar sua diversificação está relacionada às oscilações climáticas durante o Quaternário. Nos períodos interglaciais, os campos rupestres ficariam retraídos às regiões mais elevadas das serras e, nos glaciais, ampliariam sua extensão para as regiões mais baixas. O processo de contrações e expansões sucessivas promoveria a diferenciação entre populações vicariantes durante os períodos mais quentes e úmidos e possibilitaria o fluxo gênico e eventuais hibridações entre elas durante os mais frios e secos (Harley, 1995; Giulietti et al., 1997). Os limites de distribuição dos campos rupestres, no entanto, parecem ser estabelecidos principalmente por fatores edáficos e mudanças climáticas talvez fossem

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insuficientes para promover a expansão dos campos rupestres ou sua invasão por matas ou cerrados. As disjunções entre os campos rupestres, portanto, seriam bem antigas e a distribuição das espécies estaria associada basicamente a sua capacidade de dispersão (Alves & Kolbek, 1994). A íntima associação das espécies endêmicas do Espinhaço com os campos rupestres sugere que seus indivíduos necessitam de condições bastante particulares para sobrevivência ou não são competitivos em outros ambientes (Alves & Kolbek, 1994). Essa especificidade ambiental é muitas vezes hipoteticamente associada à baixa diversidade genética (e.g., Lowry & Lester, 2006, e referências lá citadas). Espécies com distribuição restrita tendem a ser geneticamente menos diversas (Hamrick & Goldt, 1989; Gitzendanner & Soltis, 2000), mas ainda não está claro se a baixa diversidade é a causa ou a consequência. Além disso, essa suposta correlação entre diversidade genética e espécies raras tem sido desmistificada por uma série de exemplos (Gitzendanner & Soltis, 2000), inclusive nos campos rupestres do Espinhaço (Borba et al., 2001; Gomes et al., 2004; Viccini et al., 2004; Franceschinelli et al., 2006; Lambert et al., 2006a; Pereira et al., 2007), onde espécies de distribuição mais ampla apresentam menor diversidade quando comparadas às suas congenéricas mais raras. Assim, outros fatores associados a plantas raras, como a baixa capacidade de dispersão e a idade da linhagem (Gaston, 1994), devem estar influenciando o tamanho da área de ocupação de algumas espécies. Naturalmente fragmentadas por barreiras geográficas e por especificidades relacionadas a microhábitats, as populações dos campos rupestres possuem tamanhos reduzidos, sendo teoricamente mais susceptíveis a endogamia e a flutuações aleatórias das frequências alélicas (deriva genética). A endogamia levaria à redução de heterozigotos e a deriva genética, em última instância, à perda de alelos. Esses fenômenos atuando de maneira combinada contribuiriam para a redução rápida da diversidade genética e para estruturação das populações, podendo culminar com o isolamento reprodutivo e a diferenciação morfológica. Essa estruturação poderia estar acontecendo também numa escala menor, através de um gradiente ambiental proporcionado por fatores edáficos, por exemplo, criando uma situação propícia para diferenciações mesmo em subpopulações espacialmente próximas (Vitta, 2002). A baixa variabilidade e a estruturação genética esperada em populações fragmentadas têm sido observadas


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em espécies endêmicas do Espinhaço (Borba et al., 2001; Franceschinelli et al., 2006; Pereira et al., 2007), porém esse não parece ser o padrão. A maioria das espécies endêmicas estudadas no Espinhaço apresenta níveis elevados de variabilidade genética, alguns deles maiores do que os listados para plantas em Hamrick & Goldt (1989). Estudos em gêneros com espécies representadas no Espinhaço (Borba et al., 2001; Viccini et al., 2004; Cavallari et al., 2006; Azevedo et al., 2007; Ribeiro et al., 2007) sugerem que os níveis de variabilidade genética são característicos de cada grupo e, portanto, possivelmente condicionados por restrições filogenéticas. A hibridação também pode desempenhar um papel importante na diversificação da flora dos campos rupestres. Cerca de um quarto das espécies de plantas são capazes de hibridarem e esse mecanismo parece ser comum em populações pequenas (Rieseberg, 1997; Mallet, 2007). Nos campos rupestres, isso não deve ser diferente e a existência de híbridos naturais tem sido evidenciada em espécies de cactos (Lambert et al., 2006a,b) e orquídeas (Azevedo et al., 2006). Bulbophyllum wedelli (Lindl.) Rchb. f. e B. involutum Borba, Semir, F. Barros (Orchidaceae), duas espécies morfologicamente distintas, mas com alta similaridade genética, parecem hibridar na Serra do Cipó e em Mucugê, apresentando introgressão com um de seus parentais em Mucugê (Azevedo et al., 2006). Esse exemplo sugere que os campos rupestres podem funcionar como uma área de testes para combinações interespecíficas e híbridos não devem ser raros, mas apenas difíceis de serem detectados. A presença de poliplóides nas poucas contagens cromossômicas realizadas em espécies do Espinhaço (Melo et al., 1997; Viccini et al., 2006) reforçam essa possibilidade. Muito pouco se conhece sobre a biologia das espécies do Espinhaço. Ainda assim, estudos na Chapada Diamantina (Conceição, 2006) têm revelado que a polinização nos campos rupestres é predominantemente biótica, realizada por insetos e aves, e a dispersão é predominantemente abiótioca, anemocórica ou autocórica. Tal padrão sugere que a variabilidade genética observada nas populações de várias espécies de campos rupestres pode ser mantida essencialmente pelo fluxo gênico através da polinização, estando fortemente associado ao comportamento dos polinizadores. A dispersão, por outro lado, parece ser limitada e a dificuldade para os diásporos alcançarem ambientes favoráveis disjuntos pode ser a principal razão para distribuição restrita de várias espécies de campos rupestres.

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Conservação O Espinhaço é marcado, em praticamente toda a sua extensão, por uma ocupação humana antiga vinculada à extração de ouro ou diamantes e atividades associadas. No entanto, com o declínio das jazidas no final do século XIX, as cidades perderam importância e várias delas vivem atualmente de sua história, encontrando no turismo sua principal atividade econômica. Outras estão resignadas a atividades em pequena escala, como a agricultura de subsistência e o extrativismo. Devido à topografia irregular e ao solo impróprio para agricultura, os campos rupestres não parecem sofrer pressão antrópica acentuada. No entanto, estão sujeitos a queimadas frequentes. Em alguns pontos, estão sendo substituídos por monoculturas de eucaliptos e pinheiros. Em outros, principalmente próximos aos centros urbanos, o aumento no número de casas de veraneio e pousadas é surpreendente. São comuns também a coleta de toneladas de capítulos de sempre-vivas (principalmente Eriocaulaceae e Xyridaceae) para exportação, a retirada de orquídeas, cactos e bromélias para cultivo e a extração de diferentes espécies de canelas-de-ema (ou candombás) resinosas para combustível (Giulietti et al., 1997). Muitas dessas populações são pequenas e a retirada de indivíduos nesses casos pode reduzir significativamente e de maneira irreversível sua variabilidade (e.g. Cavallari et al., 2006), podendo desencadear um processo que culminará com sua extinção. A interferência humana nas comunidades dos campos rupestres, portanto, não é desprezível e já tem sido notada através da menor variabilidade genética e morfológica em populações de plantas do Espinhaço (e.g., Gomes et al., 2004; Pereira et al., 2007; Ribeiro et al., 2007). O grande número de espécies vegetais exclusivas dos campos rupestres rende à sua flora a condição de insubstituível. Suas espécies microendêmicas são muitas vezes representadas apenas por pequenas populações e estão por isso mais suscetíveis a episódios estocásticos naturais ou provocados pelo homem. Portanto, os campos rupestres são intrinsicamente ricos em espécies vulneráveis e necessitam de proteção especial (Burman, 1991). A consciência de que a flora das serras do Espinhaço deve ser conservada não é recente e tem sido reforçada a cada novo levantamento. Em meados de 1980, foram criados os Parques Nacionais da Serra do Cipó e da Chapada Diamantina. A partir de então, outras unidades de conservação cobrindo áreas importantes de campos rupestres foram estabelecidas, dentre elas o Parque Estadual de Grão-Mogol, em 1998, e o Parque Nacional das Sempre-Vivas, no Planalto de Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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Diamantina. Em 2005, então, a UNESCO decretou a porção mineira do Espinhaço Reserva da Biosfera. Ainda são poucos os estudos capazes de estabelecer prioridades para a conservação da biodiversidade nos campos rupestres. Apesar de importantes, várias unidades de conservação não representam toda a heterogeneidade biológica regional e não possuem uma configuração ideal para conservação e manejo efetivo de sua biodiversidade (Funch & Harley, 2007). Para se proteger os campos rupestres é imprescindível conhecer as espécies que ali ocorrem e como elas estão distribuídas. Essa tarefa vem sendo realizada por várias gerações de pesquisadores e a alta concentração de espécies raras tem justificado a continuidade dos estudos florísticos na região. De posse desses dados, áreas mais ameaçadas e ricas em endemismos podem ser detectadas e sua conservação priorizada. Áreas ricas em endemismos, no entanto, não necessariamente maximizam a diversidade genética ou taxonômica (Reid, 1998). Algumas espécies podem representar linhagens evolutivamente mais isoladas, atrelando a si uma diversidade filogenética que nem sempre é refletida na riqueza taxonômica (Forest et al., 2007). Estudos mais detalhados em espécies do Espinhaço, portanto, são essenciais para a detecção de padrões de diversidade que podem estar passando despercebidos, mas que também precisam ser preservados. A grande heterogeneidade espacial e as condições ambientais extremas nos campos rupestres criam limitações múltiplas de recursos e propiciam a coexistência de um grande número de espécies (Tilman, 1994), o que é refletido na alta diversidade beta que caracteriza essa formação. Cada região possui uma composição florística única, mantendo padrões similares de riqueza em número de espécies e representatividade taxonômica (Conceição & Pirani, 2007). Assim, ao mesmo tempo em que essas regiões são igualmente importantes em termos de diversidade, não são equivalentes em termos de composição florística. Estratégias de conservação da biodiversidade nos campos rupestres não devem, portanto, estar restritas à criação de reservas pontuais (Rapini et al., 2002). São necessárias também estratégias abrangentes, capazes de proteger os campos rupestres em toda sua extensão e de maneira permanente. Espécies raras podem contribuir de maneira significativa para o funcionamento das comunidades e, consequentemente, para a manutenção de sua biodiversidade (Lyons et al., 2005). Isso é especialmente verdadeiro nos campos rupestres, onde uma grande parcela da flora é composta por espécies endêmicas. Trabalhos com espécies raras, no entanto, ainda são

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escassos e dispersos (Bevill & Louda, 1999). Estudos combinando biologia reprodutiva, variabilidade genética, citologia, biogeografia e ecologia com resultados filogenéticos e filogeográficos em grupos representativos dos campos rupestres são fundamentais nesse momento. Eles produzirão informações robustas sobre os padrões evolutivos envolvidos na origem e manutenção de espécies raras e fornecerão dados valiosos para a elaboração de planos de manejo que poderão ser aplicados em todo o Espinhaço, auxiliando na conservação da biodiversidade dos campos rupestres, mesmo fora das unidades de conservação.

Conclusão Durante os séculos XVIII e XIX, a grande fonte de riqueza da Cadeia do Espinhaço esteve baseada na produção de minérios. Atualmente, ela está concentrada em sua biodiversidade. É necessário compreender a origem e manutenção dessa biodiversidade e aplicar o conhecimento científico de modo a garantir sua conservação. A sociedade deve estar ciente da importância desse patrimônio inigualável e contribuir para que sua preservação extrapole os limites estabelecidos pelas unidades de conservação. Os campos rupestres representam uma fonte incalculável de riqueza e, se bem cuidados, poderão ser mantidos indefinidamente.

Agradecimentos Agradecemos nossos colegas Abel A. Conceição, Ana Maria Giulietti-Harley, Luciano P. Queiroz, Eduardo L. Borba, Andréa Karla S. Santos e Silvana C. Ferreira por nos emprestarem um pouco da experiência deles com os campos rupestres do Espinhaço e ao Cássio van den Berg pela revisão do abstract.

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Diversidade dos campos rupestres ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, MG Claudia Maria Jacobi* Flávio Fonseca do Carmo Departamento de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil * e-mail: jacobi@icb.ufmg.br

Resumo Os campos rupestres ferruginosos, conhecidos como vegetação de canga, estão concentrados no Quadrilátero Ferrífero, em áreas associadas a gigantescos depósitos de minério de ferro. É um dos ecossistemas menos estudados de Minas Gerais, embora entre os mais ameaçados, principalmente devido à intensa atividade mineradora associada a seus afloramentos de ferro. Os poucos e recentes levantamentos florísticos restritos a estes afloramentos, que somados não chegam a uma área de 260ha, indicaram uma alta diversidade alfa e beta. Em quatro levantamentos foram identificadas 86 famílias, 250 gêneros e 458 espécies de plantas vasculares, distribuídos nos diversos habitats resultantes de uma evolução geomorfológica muito peculiar. As espécies comuns a esses afloramentos, entretanto, não chegam a 5%. Comparadas com outros afloramentos rochosos, como os de quartzito, as cangas contribuem substancialmente para a diversidade regional da flora. Um dos grupos vegetais mais relevantes para a conservação de regiões metalíferas são as metalófitas, com espécies capazes de crescer na presença de metais tóxicos, podendo oferecer serviços ecológicos como a fitoextração, fitoestabilização e fitoprospecção. O incremento da atividade mineradora, aliado à carência de unidades de conservação que abrigam este ecossistema, constituem as principais ameaças aos campos rupestres ferruginosos.

abstract Rupestrian ferruginous fields, known as canga vegetation, are concentrated in the Iron Quadrangle, in areas associated with massive iron ore deposits. They are one of the least studied ecosystems in Minas Gerais, although they are among the most threatened, mainly because of intense mining activities associated with ironstone outcrops. The few and very recent floristic surveys restricted to these outcrops, carried out in an area smaller than 260ha, indicated high alpha and beta diversities. In four surveys, 86 families, 250 genera and 458 species of vascular plants were identified, distributed among the different habitats that resulted from a very peculiar geomorphologic evolution. The species common to all four outcrops, however, do not reach 5%. Compared to other rock outcrops such as quartzite, ironstone outcrops contribute substantially to the regional plant diversity. One of the plant groups most relevant for the conservation of metalliferous regions are the metallophytes, with species capable of growing in the presence of toxic metals and therefore potentially useful Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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for phytoextraction, phytostabilization and phytoprospection. The increasing mining activities, together with the lack of conservation units that harbor this ecosystem, constitute the main threats to ferruginous fields.

Introdução O Quadrilátero Ferrífero – QF, com uma área de aproximadamente 7.200km2, compõe o extremo sul da Cadeia do Espinhaço, que é considerada uma das regiões de maior diversidade florística da América do Sul (Harley, 1995; Giulietti et al., 1997), com mais de 30% de endemismo em sua flora (Giulietti et al., 1987). Está inserido na zona de transição dos dois hotspots brasileiros: a Mata Atlântica e o Cerrado, e é considerado uma área de ‘importância biológica especial’ (Drummond et al., 2005). Esse status foi proposto devido à presença dos campos ferruginosos, a ocorrência de espécies vegetais restritas à região, e por constituir um ambiente único no estado. Formado por terrenos antigos e geologicamente complexos, com litologias variadas aflorando lado a lado (Alkmim & Marshak, 1998; Klein & Ladeira, 2000), o QF apresenta uma singular heterogeneidade da paisagem, com fitofisionomias integrando um mosaico moldado pela conjunção da topografia, litologia, clima e altitude. Para ilustrar esta multiplicidade, em apenas um km2 da Serra da Moeda (no sudoeste do QF) é possível encontrar floresta estacional semidecidual, matas ripárias, florestas montanas ou “capões de altitude”, campo cerrado, cerrado sensu strictu, campos rupestres quartzíticos, graníticos e campos rupestres ferruginosos. Estes últimos, conhecidos também como vegetação de canga, são encontrados principalmente nesta região e na Serra de Carajás – PA (Silva et al., 1996). No QF os campos ferruginosos estão associados a vários tipos de substratos ricos em ferro. Estes podem se apresentar totalmente fragmentados ou formando uma espessa e sólida couraça. Entre estes dois extremos ocorrem várias fisionomias campestres como campo limpo, campo sujo e os campos rupestres propriamente ditos. Devido à distribuição em áreas restritas, de difícil acesso, e por recobrirem importantes depósitos de minério de ferro, os afloramentos ferruginosos estão entre os ecossistemas mais ameaçados e menos estudados de Minas Gerais. Levantamentos florísticos exclusivamente nestes afloramentos são muito recentes (Mendonça, 2006; Jacobi et al., 2007; Viana & Lombardi, 2007; Stehmann & Oliveira, 2007). Nossos objetivos foram avaliar a Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

diversidade da flora associada aos afloramentos ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, comparar esta com a de campos rupestres quartzíticos e discutir a importância da sua preservação e conhecimento.

Heterogeneidade espacial dos afloramentos ferruginosos

Com uma distribuição descontínua, geralmente restrita aos topos de montanhas, os campos rupestres são reconhecidos mundialmente como centros de diversidade e endemismo de plantas (Alves & Kolbek, 1994; Porembski et al., 1994; Giulietti et al., 1997). No Brasil, os campos rupestres da Serra do Espinhaço são considerados centros de diversidade de famílias como Eriocaulaceae, Xyridaceae e Velloziaceae, com aproximadamente 90% das suas espécies endêmicas dessa região (Giulietti et al., 2005), e de vários gêneros de Melastomataceae, Ericaceae e Asteraceae (Pirani et al., 2003). Nas montanhas formadas pelos gigantescos depósitos de minério de ferro que delimitam o QF estão localizados os conglomerados ferruginosos superficiais, conhecidos como cangas. Estes afloramentos são couraças compostas geralmente por minerais derivados das formações ferríferas bandadas, hematita compacta e fragmentos de itabirito cimentados por limonita (Dorr, 1964), que em alguns locais podem chegar a mais de 30 metros de espessura (Simmons, 1963). Constituem verdadeiras “ilhas de ferro” distribuídas nos topos e encostas de algumas dessas serras, em altitudes que variam de 900 a 1.900m. Na década de 1960, Dorr (1964) estimou que a cobertura total dessas cangas era de aproximadamente 10.000ha, uma área muito limitada quando comparada com a dos campos rupestres quartzíticos, que ocorrem ao longo de toda a Cadeia do Espinhaço, a Serra da Canastra, a Serra de São José e outras. A heterogeneidade topográfica das cangas, resultado de uma evolução geomorfológica muito peculiar (Rosière & Chemale, 2000), reflete-se numa variedade de ambientes, tendo sido identificados recentemente oito habitats associados aos afloramentos, cada um com predominância de diferentes comunidades de


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plantas (Jacobi et al., 2007): paredões e entradas de cavernas, capões, tapetes de monocotiledôneas, fissuras na rocha, fendas e depressões, lagoas temporárias, cavidades alagadas e rocha exposta. A canga fornece assim condições ecológicas que geralmente diferem da paisagem adjacente, ou matriz. Esta heterogeneidade permite que os afloramentos ferruginosos constituam um refúgio para espécies adaptadas a condições xéricas, como a cactácea Arthrocereus glaziovii N.P. Taylor & D.C. Zappi e a condições mésicas, como Staurogyne minarum Kuntze (Acanthaceae) e Juncus sp. (Juncaceae). As plantas de campo rupestre ferruginoso, além das adaptações fisiológicas, morfológicas e reprodutivas típicas de afloramentos rochosos lato sensu, como esclerofilia, reprodução clonal e poiquiloidria, ou seja, a capacidade de resistir a ciclos de dessecação e reidratação (Gaff,1987; Giulietti et al., 1987), ainda possuem adaptações para se estabelecer em um substrato rico em metais pesados (Porto & Silva, 1989; Teixeira & Lemos Filho, 1998).

Diversidades alfa e beta Estudos florísticos de comunidades campestres já foram realizados em áreas metalíferas no QF, porém muitas vezes sem uma clara distinção entre as comunidades associadas aos afloramentos ferruginosos, chamados por Rizzini (1997) de “canga couraçada”, das comunidades associadas a neossolos litólicos e cambissolos, entre outros (IBRAM, 2003), chamados por aquele autor de “canga nodular”. Embora estes dois tipos de substrato são ricos em minerais metálicos, principalmente o ferro, e apresentam uma fisionomia campestre, existem diferenças florísticas entre eles, caracterizando-se o primeiro por sustentar uma comunidade mais adaptada ao ambiente rupícola (Vincent, 2004). Discutiremos aqui os resultados dos levantamentos florísticos realizados somente em afloramentos ferruginosos no QF (Mendonça, 2006; Jacobi et al., 2007; Viana & Lombardi, 2007; Stehmann & Oliveira, 2007). Os quatro levantamentos, agrupados em três regiões (Figura 1), evidenciaram, em uma área total estimada que não ultrapassa 260ha, 86 famílias, 250 gêneros e 458 espécies de plantas vasculares, agrupadas em 11 famílias de pteridófitas com 21 espécies e 75 famílias de angiospermas (representando cerca de 34% das famílias encontradas no Brasil, sensu APG II, 2003) distribuídas em Magnoliídeas, com quatro famílias e 10 espécies; Monocotiledôneas, com 15 famílias e

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114 espécies; e Eudicotiledôneas, com 56 famílias e 313 espécies (Anexo). As 15 famílias de angiospermas com maior riqueza de espécies foram Asteraceae (59 spp.), Poaceae (30 spp.), Orchidaceae e Myrtaceae (28 spp.), Melastomataceae (23 spp.), Fabaceae (18 spp.), Solanaceae (17 spp.), Rubiaceae (16 spp.), Apocynaceae, Cyperaceae e Bromeliaceae (13 spp. cada), Velloziaceae (11 spp.), Malpighiaceae, Euphorbiaceae e Verbenaceae (10 spp. cada). Os dez gêneros com maior riqueza de espécies foram Myrcia (13 spp.), Solanum (11 spp.), Vellozia (8 spp.), Baccharis, Eugenia e Panicum (7 spp. cada), Leandra (6 spp.), Lippia, Miconia e Passiflora (5 spp. cada ). Foram encontradas 34 espécies citadas na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora de Minas Gerais (Mendonça & Lins, 2000). Destas, 18 estão ameaçadas de extinção, como Guatteria sellowiana Schltdl. (Annonaceae), Oncidium warmingii Rchb.f. (Orchidaceae), Ditassa linearis Mart. (Apocynaceae), Hololepis pedunculata D.C. e Senecio pohlii Sch.Bip. ex Baker (Asteraceae), Nematanthus strigillosus (Mart.) H.E. Moore (Gesneriaceae); e 16 espécies estão presumivelmente ameaçadas, entre as quais Senecio adamantinus Banq. e Eremanthus incanus Less. (Asteraceae), Sarcoglottis schwackei Schltr. (Orchidaceae) e Coccoloba acrostichoides Cham. (Polygonaceae). Além da considerável diversidade alfa, relacionada aos tipos de microhabitats, as cangas apresentam uma alta diversidade beta, decorrentes do isolamento, e provavelmente de variações climáticas e mineralógicas do substrato ferruginoso (Vilela et al., 2004). Jacobi et al. (2007) encontraram uma similaridade florística de 27% entre duas cangas distantes entre si apenas 32km e, nos quatro levantamentos florísticos considerados aqui, menos de 5% das espécies foram comuns a todos os afloramentos ferruginosos. Todas essas espécies são típicas de campos rupestres sensu lato, como Vellozia compacta Mart. (Velloziaceae), Tibouchina multiflora Cogn. (Melastomataceae) e as Asteraceae Dasyphyllum candolleanum (Gardner) Cabrera e Lychnophora pinaster Mart., esta última restrita a Minas Gerais (Pirani et al. 2003).

Florística e diversidade de campos rupestres quartzíticos e sobre canga

Quando comparados alguns estudos florísticos de campos rupestres realizados no Espinhaço mineiro, percebe-se que as cangas contribuem substancialmente para a diversidade regional (Tabela 1). Para esta comparação foram considerados estudos de campos rupestres

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Figura 1 – Mapa das reservas de minério de ferro no Quadrilátero Ferrífero, identificando as maiores minas de extração de hematita compacta (círculos) e as regiões onde foram realizados os levantamentos florísticos em campos rupestres ferruginosos mencionados no presente trabalho. Região 1: Barão de Cocais; Região 2: Nova Lima, Serra da Calçada e PE da Serra do Rola Moça; Região 3: Serra da Moeda. Adaptado de Pires (2003).

quartzíticos realizados na Serra do Cipó e em GrãoMogol (Giulietti et al., 1987; Pirani et al., 2003) reconhecidos pelo intenso trabalho de amostragem florística e caracterização fitofisionomica. Analisando as 15 famílias de angiospermas mais ricas, observa-se que a maioria ocorre tanto em cangas quanto em campos rupestres quartzíticos, constituindo de 55% até 67% do total das espécies encontradas nestes estudos (Tabela 2). Entretanto, a sua representatividade varia em alguns casos. Eriocaulaceae e Xyridaceae não são bem representadas em cangas, embora sejam consideradas famílias típicas de campos rupestres (Menezes & Giulietti, 2000). A ausência de solos arenosos alagáveis e com grande quantidade de Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

substâncias húmicas (solos escuros) pode explicar esse fato. Ao contrário, Solanaceae é bem representada nas cangas, e ausente nas comunidades quartzíticas. Provavelmente a presença frequente de capões nestes ambientes permite um número maior de espécies de matas ou ecotonais. Isso pode também explicar a maior proporção de espécies de Rubiaceae e Myrtaceae, e a presença de gêneros como Myrcia, Solanum, Eugenia, Leandra e Miconia, que estão entre os mais ricos em número de espécies nos afloramentos ferruginosos. Bromeliaceae e Orchidaceae são bem representadas tanto em cangas quanto quartzito. Em cangas, estas famílias assumem uma maior proporção, sendo a maioria das espécies de hábito rupícola.


Jacobi & Carmo |

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TABELA1 – Alguns levantamentos florísticos de campos rupestres realizados no Espinhaço mineiro.

LOCALIDADE

ÁREA (ha)

SUBSTRATO

ESPÉCIES

FAMÍLIAS REFERÊNCIA

Serra do Cipó

20.000

quartzito

1590

138

Menezes & Giulietti, 2000

Grão-Mogol

10.000

quartzito

1073

129

Pirani et al., 2003***

Serra de Itabirito

4.000†

quartzito, itabirito

412

83

Brandão et al., 1991**

PE Itacolomi

2.000†

quartzito

300

67

Peron, 1989*

305

55

Brandão & Gavilanes, 1990

Serra da Piedade

800†

quartzito, itabirito, canga

Serra do Ambrósio

700

quartzito

84

40

Pirani et al., 1994

Nova Lima

100†

canga

217

61

Mendonça, 2006

Serra da Calçada

75

canga

246

56 Viana & Lombardi, 2007

Barão de Cocais

35†

canga

119

38 Stehmann & Oliveira, 2007

PE S. Rola Moça

25

canga

138

46

Jacobi et al., 2007

Serra da Moeda

20

canga

160

55

Jacobi et al., 2007

Formações vegetais incluídas no estudo: * mata ripária, floresta estacional semidecidual e campos cerrados. ** cerrado. *** campo limpo, cerrado, carrasco, matas de galeria e mata mesófila. † estimada.

TABELA 2 – As 15 famílias de angiospermas com maior riqueza de espécies encontradas em campos rupestres ferruginosos do Quadrilátero Ferrífero e em campos rupestres quartzíticos da Serra do Cipó e de Grão-Mogol, MG. Os números representam a contribuição percentual de cada família para a riqueza de espécies.

FAMÍLIAS

CANGAS

S. CIPÓ GRÃO-MOGOL

Apocynaceae

2,8

2,4

3,6

Asteraceae

12,9

10,6

7,6

Bignoniaceae

––

––

1,8

Bromeliaceae

2,8

2,3

1,7

Cyperaceae

2,8

2,0

3,2

Eriocaulaceae

––

5,3

2,4

Euphorbiaceae

2,2

1,5

3,1

Fabaceae

3,9

6,7

9,7

Malpighiaceae

2,2

2,6

2,4

Melastomataceae

5,0

5,7

4,0

Myrtaceae

6,1

2,8

3,2

Orchidaceae

6,1

5,0

2,8

Poaceae

6,5

8,2

3,8

Rubiaceae

5,4

2,9

3,9

Solanaceae

3,7

––

––

Velloziaceae

2,4

3,6

1,7

Verbenaceae

2,2

––

––

Xyridaceae

––

2,9

––

Total (%)

67,2

64,4

54,8

Fontes: Giulietti et al. 1987; Pirani et al. 2003; Mendonça, 2006; Jacobi et al., 2007; Viana & Lombardi, 2007; Stehmann & Oliveira, 2007.

Os afloramentos metalíferos em geral concentram espécies metalófilas endêmicas, (Whiting et al., 2004). Considerando o escasso número de levantamentos em canga, ainda é cedo para apontar espécies endêmicas exclusivas de afloramentos ferruginosos no QF. Apesar dos dados insuficientes, algumas espécies endêmicas como a cactácea Arthrocereus glaziovii (Taylor & Zappi, 2004), ou possivelmente endêmicas como as bromélias Dyckia consimilis Mez e Vriesea minarum L.B. Sm. (Versieux, 2005) já foram relatadas, e provavelmente o número de endemismos seja muito maior. Estudos florísticos devem ser realizados em todo o QF, principalmente nas regiões leste e sul, para uma caracterização detalhada da flora e da distribuição geográfica das espécies de campos rupestres sobre canga. Ditassa monocoronata Rapini (Apocynaceae) descoberta em 2001 (Rapini et al., 2002) e Vriesea longistaminea Paula & Leme (Bromeliaceae) descrita em 2004 (Leme & Paula, 2004) exemplificam essa situação. Ambas foram encontradas em regiões restritas e muito próximas a cavas de extração de minério de ferro.

Quadrilátero Ferrífero, uma ecorregião metalífera? O QF é considerado uma das mais importantes províncias minerais do mundo (Spier et al., 2003). O Brasil é o segundo maior produtor mundial de minério de ferro, e cerca de 75% desse minério é extraído no QF, onde

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atualmente mais de 50 minas a céu aberto estão em atividade. A região também é uma grande produtora de alumínio, manganês, ouro e outros tipos de minerais (DNPM, 2006). Uma das comunidades vegetais mais relevantes para a conservação de regiões metalíferas com intensa atividade mineradora são as plantas metalófilas, compreendendo as pseudometalófitas, espécies que toleram solos com altas concentrações de metais, porém comumente encontradas em solos não metálicos; as eumetalófitas, que apresentam mecanismos de resistência e/ou tolerância, com táxons endêmicos de áreas metalíferas; e as hiperacumuladoras, que concentram altos valores de metais pesados nos tecidos (Whiting et al., 2004). Estas comunidades vegetais associadas aos substratos metalíferos podem oferecer serviços ecológicos como a fitoextração, fitoestabilização e fitoprospecção (Ginocchio & Baker, 2004). Atualmente no mundo diversos grupos de pesquisa estão focalizando a conservação e a utilização sustentável dessas comunidades (Cook & Johnson, 2002; Whiting et al., 2002; Reeves, 2003), atendendo a recomendações da Convenção da Diversidade Biológica - CDB – para identificar e conservar as metalófitas. Whiting et al. (2004), por exemplo, sugeriram a inclusão destas recomendações no Sistema de Gestão Ambiental - ISO 14.000. Apesar de existirem no país importantes regiões com afloramentos rochosos ricos em metais, como o próprio QF e a Serra de Carajás (Silva, 1991), a importância biológica das comunidades metalófilas ainda é subestimada no Brasil, em parte devido ao pequeno número de estudos ecológicos, geobotânicos e biogeográficos realizados até o presente. No QF já foram identificadas algumas metalófitas (sensu Whiting et al., 2004) associadas à canga, como Eremanthus erythropappus (DC.) N.F.F. MacLeish e E. glomerulatus Less. (Asteraceae), Microlicia crenulata Mart. e Trembleya laniflora Cogn. (Melastomataceae), que acumulam nas folhas concentrações de Cu, Fe, Mn, e Zn acima do disponível no substrato (Teixeira & Lemos-Filho, 1998), e metalófilas associadas a outros tipos de substratos metalíferos, como Podocarpus sellowii KL. (Podocarpaceae), Schinus terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae), Paepalanthus sp. (Eriocaulaceae) e Vellozia sp. (Velloziaceae), que acumulam nos tecidos concentrações de Cd, Cu, Fe, Mn, Ni e Pb acima da normalidade (Porto & Silva, 1989). No mundo já foram propostos cinco “hotspots metalíferos”, todos eles em ecorregiões florestais ricas em biodiversidade e ameaçadas pelos impactos ambientais relacionados à intensa atividade de mineração. Somente um destes hotspots ocorre na América do Sul,

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representado por áreas localizadas nas Guianas e nos Andes (WWF & IUCN, 1999). O QF, em vista do seu contexto geo-econômico e importância biológica, cumpre com diversos requisitos listados por Dinerstein et al. (1995), para ser identificado como ecorregião.

Desafios para a conservação A maioria dos levantamentos florísticos em cangas no QF são muito recentes. Das quatro mencionadas neste estudo, duas já desapareceram por causa da mineração, e apenas uma está localizada em unidade de conservação, o que infelizmente parece refletir o status regional desse ameaçado ecossistema. Pode-se apenas especular o que já foi perdido com a eliminação histórica de um número considerável de cangas. Esse fato torna-se inquestionável quando se observa o contexto geo-econômico do QF, com uma intensa atividade de mineração gerando uma grande demanda por processos ambientais de licenciamento para pesquisa, concessões minerais e exploração. Somente na Área de Proteção Ambiental Sul da região metropolitana de Belo Horizonte (APA-Sul), os direitos minerários chegam a 77% dos 165.160ha de área desta unidade de conservação (IBRAM, 2003). Entre as maiores ameaças à biodiversidade mundial está a perda de habitat, que nas cangas ocorre pela histórica atividade de mineração, recentemente intensificada pela abertura econômica da China, que gerou em nível mundial uma demanda sem precedentes por minérios, fenômeno conhecida como “efeito China” (DNPM, 2006). Estima-se que em 2010 a produção brasileira anual desse minério deverá atingir 280 milhões de toneladas, representando um aumento de 53% quando comparado com a produção de 1988 (DNPM, 2001). O mapa na Figura 1 indica apenas as minas a céu aberto que extraem hematita compacta, um tipo especial de minério com alto teor de ferro, e não inclui as cavas de extração dos outros tipos de minério de ferro que existem no QF. Ao contrário da maioria dos campos rupestres quartzíticos, que têm uma ampla área de distribuição, alguns localizados em unidades de conservação de dimensões consideráveis, como o Parque Nacional da Serra do Cipó, os campos rupestres ferruginosos no Espinhaço estão numa situação que precisa ser rapidamente revertida (Jacobi & Carmo, 2008). Além da distribuição restrita, concentrada no QF, são pouquíssimas as unidades de conservação que contém essas comunidades, sendo o Parque Estadual da Serra do Rola Moça, próximo de Belo Horizonte, a mais destacada.


Jacobi & Carmo |

O reconhecimento recente do QF como área de ‘importância biológica especial’ (Drummond et al., 2005) é um passo fundamental para promover medidas práticas para a sua conservação.

Agradecimentos À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo financiamento do projeto CRA-89/03; ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e ao Instituto Estadual de Florestas (IEF/MG) pelas licenças concedidas. A Myrian Morato Duarte pelo desenho do mapa. Ao revisor anônimo pelos valiosos comentários. Aos organizadores do workshop “Diagnóstico do Status do Conhecimento da Biodiversidade e de sua Conservação na Cadeia do Espinhaço”, pelo convite para participar de tão importante iniciativa.

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Jacobi & Carmo |

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ANEXO – Lista das famílias de plantas vasculares (com número de gêneros e espécies) presentes em Campos rupestres ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, MG (Mendonça, 2006*; Stehmann & Oliveira, 2007; Jacobi et al. 2007*; Viana & Lombardi, 2007. AMÇ = Ameaçadas; PRE = Presumivelmente ameaçadas (Mendonça & Lins, 2000). N° ESPÉCIES

Família Gêneros Espécies AMÇ Pteridófitas* Aspleniaceae 1 1 Blechnaceae 1 3 Cyatheaceae 1 2 Davallinaceae 1 1 Dryopteridaceae 1 1 Grammitidaceae 1 1 Hymenophyllaceae 1 1 Lomariopsidaceae 1 1 Lycopodiaceae 2 2 Polypodiaceae 4 5 Pteridaceae 2 3 Magnoliídeas Annonaceae 1 2 2 Aristolochiaceae 1 1 Lauraceae 2 4 2 Piperaceae 1 3 Monocotiledôneas Alstroemeriaceae 1 1 Amaryllidaceae 2 2 Araceae 2 4 Bromeliaceae 6 13 Commelinaceae 2 2 Cyperaceae 7 13 Dioscoreaceae 1 1 Eriocaulaceae 2 2 Iridaceae 2 3 Juncaceae 1 1 Orchidaceae 16 28 1 Poaceae 14 30 Smilacaceae 1 2 Velloziaceae 2 11 Xyridaceae 1 1 Eudicotiledôneas Acanthaceae 3 3 Anacardiaceae 1 1 Apiaceae 1 2 Apocynaceae 8 13 2 Aquifoliaceae 1 2 Araliaceae 1 2 Asteraceae 32 59 7 Begoniaceae 1 2 Bignoniaceae 3 3 Boraginaceae 1 1 Cactaceae 1 1 1 Celastraceae

1

1

PRE

1

2

2

9

N° ESPÉCIES

Família Gêneros Espécies AMÇ Campanulaceae Clusiaceae Convolvulaceae Cunoniaceae Ericaceae Erythroxylaceae Euphorbiaceae Fabaceae Gentianaceae Gesneriaceae Humiriaceae Hypericaceae Lamiaceae Loganiaceae Loranthaceae Lythraceae Malpighiaceae Malvaceae Melastomataceae Meliaceae Moraceae Myrsinaceae Myrtaceae Nyctaginaceae Ochnaceae Olacaceae Onagraceae Orobanchaceae Passifloraceae Phyllanthaceae Phytolaccaceae Polygalaceae Polygonaceae Portulaccaceae Rosaceae Rubiaceae Salicaceae Santalaceae Sapindaceae Solanaceae Verbenaceae Violaceae Vitaceae Vochysiaceae Famílias

86

2 2 4 1 2 1 5 12 1 3 1 1 4 1 2 3 5 4 8 1 1 1 10 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 2 1 3 6 3 1 1 1 250

2 2 7 1 3 3 10 18 1 4 2 1 4 9 2 2 5 10 5 23 1 1 3 28 3 1 1 1 1 5 3 1 1 2 2 1 16 3 1 5 17 1 10 1 2 1 458

18

PRE

1

1

16

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................................................................................

Fitofisionomia da Caatinga associada à Cadeia do Espinhaço Daniela Zappi Herbarium, Royal Botanic Gardens, Kew, Grã-Bretanha. email: d.zappi@kew.org

Resumo O bioma caatinga cobre a maior parte semi-árida do Nordeste do Brasil, circundando a Chapada Diamantina na Bahia, e atingindo, ao sul, o estado de Minas Gerais, onde entra em contato com os campos rupestres da Cadeia do Espinhaço. Existe na caatinga um considerável número de endemismos, incluindo várias espécies de Cactaceae, das quais algumas podem ser utilizadas como indicadoras dos limites do bioma. Em termos de riqueza de espécies, a caatinga do centro-sul da Bahia e Norte de Minas Gerais apresenta maior diversidade do que a sua porção setentrional (estados do Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará). Conservação da caatinga associada à Cadeia do Espinhaço é relevante tanto em termos de manutenção das espécies locais do campo rupestre, como de espécies amplamente distribuídas no Bioma Caatinga.

abstract The ‘caatinga’ biome covers most of the semi-arid region of Northeastern Brazil, surrounding the Chapada Diamantina in Bahia, and reaching, to the south, the state of Minas Gerais, where it comes into contact with the ‘campos rupestres’ of the Espinhaço Range. The ‘caatinga’ presents a considerable number of endemic species of Cactaceae, which can be used as indicators of the limits of this biome. Considering species richness, the ‘caatinga’ of Central-Southern Bahia and Northe rn Minas Gerais is more diverse than its northern part (states of Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte and Ceará). The conservation of the ‘caatinga’ associated with the Espinhaço Range highlands is relevant both for the maintenance of the local species from the ‘campo rupestre’ and of species widely distributed within the ‘caatinga’ that are now becoming threatened due to the advanced stage of transformation of this biome into agricultural lands.

Objetivos O intuito do presente trabalho é de compilar informações relativas à estrutura e aos limites do bioma Caatinga, com a finalidade de fornecer dados relativos Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

à fitofisionomia da caatinga associada à Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia), utilizando informações provenientes da família Cactaceae para ilustrar exemplos de distribuição, endemismo e vicariância entre a caatinga e o campo rupestre. Além dessa compilação, utiliza-se


Zappi |

esta oportunidade para ressaltar as possibilidades de conservação desse ecossistema em conjunção com a conservação dos campos rupestres.

Bioma Caatinga O Bioma Caatinga encontra-se na região semi-árida dos estados do Nordeste do Brasil, excetuando o Maranhão, estendendo-se ao Sul até o Norte e o Nordeste do estado de Minas Gerais. Estima-se que a área total coberta por esse bioma esteja entre 800.000 e 935.000km2 (Rodal & Sampaio, 2002; Tabarelli & Silva, 2003). A precipitação anual na região é de menos de 1000 mm/ano, com as chuvas distribuídas irregularmente, com mais de 6 meses com precipitação muito baixa ou inexistente. Por outro lado a radiação solar é extremamente alta, assim como a temperatura média anual, enquanto as taxas de umidade relativa e a nebulosidade são as mais baixas do país (Prado, 2003). No seu limite Norte, nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí, o Bioma Caatinga atinge o nível do mar, mas nos estados da Bahia e de Minas Gerais encontra-se a uma altitude média entre 400-700m, podendo excepcionalmente ultrapassar a cota de 1000m alt., em pontos de contato com as montanhas da Cadeia do Espinhaço (Chapada Diamantina na Bahia e Serra do Espinhaço em Minas Gerais) (Taylor & Zappi, 2004). De modo geral, a caatinga estabelece-se em depressões interplanálticas, porém em certas áreas pode ser encontrada também nos planaltos (ex. Raso da Catarina, Chapadas da Borborema e do Apodi). Em casos excepcionais, a vegetação de caatinga encontra-se ocorrendo na faixa de 1000 m de altitude, como é o caso das ‘caatingas de altitude’ de Morro do Chapéu e do Norte de Minas Gerais (Monte Azul) (Taylor & Zappi, 2004). Normalmente ocorrendo ao longo de pediplanos ondulados expostos a partir de sedimentos do Cretáceo ou Terciário que recobrem o escudo brasileiro datando do Pré-Cambriano (Cole, 1960), a caatinga apresenta solos resultantes da erosão do substrato, por conseguinte pedregosos e rasos, onde a rocha-mãe aparece escassamente decomposta e frequentemente aflorando na superfície (Ab’Saber, 1974). A fisionomia da caatinga é muito variada, com um número elevado de comunidades vegetais (Andrade-Lima, 1981). Encontramos desde áreas de vegetação arbustiva baixa e rala até florestas impenetráveis atingindo facilmente 8m de altura. A presença de espécies micrófilas e decíduas, além de adaptações como espinhos, acúleos, folhas e caules suculentos, e o predomínio de

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ervas anuais, caracterizam esta vegetação. Entre as famílias lenhosas mais típicas encontramos Leguminosae e Euphorbiaceae, além de arbustos e ervas das famílias Malvaceae, Asteraceae, Poaceae, Acanthaceae e Rubiaceae. De modo geral, a caatinga não apresenta uma cobertura graminóide contínua. Em termos de classificação da vegetação, a mais completa foi apresentada por Andrade-Lima (1981), que divide o domínio das caatingas em diferentes unidades, marcadas pela presença e/ou predomínio de grupos de um pequeno número de espécies lenhosas. Na sua maioria, as espécies selecionadas por Andrade-Lima (1981) não são exclusivas da caatinga, porém ocorrem em distintas associações e apresentando relativa dominância dentro desse bioma, sendo possível utilizar a presença de tais associações para definir unidades. Segundo Prado (2003), espécies decíduas comuns amplamente distribuídas na caatinga são: Amburana cearensis (Fr. All.) A. C. Smith (Fabaceae, imburana-decheiro), Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebil (Griseb.) Altschul (Fabaceae, angico), Aspidosperma pyrifolium Mart. (Apocynaceae, pau-pereiro), Caesalpinia pyramidalis Tul. (Fabaceae, catingueira), Cnidoscolus phyllacanthus (Müll. Arg.) Pax & Hoffm. (faveleira, Euphorbiaceae), Commiphora leptophloeos (Mart.) Gillet (Anacardiaceae, imburana) Myracrodruon urundeuva Fr. All. (Anacardiaceae, aroeira), Schinopsis brasiliensis Engler (Anacardiaceae, baraúna), Tabebuia impetiginosa (Mart. ex. A. DC.) Standley (Bignoniaceae, pau-d’arcoroxo), várias espécies de Croton spp. (Euphorbiaceae, marmeleiros, velames) e Mimosa spp. (Fabaceae, juremas), além de algumas perenifólias como Ziziphus joazeiro Mart. (Rhamnaceae, joazeiro), Capparis yco Mart. (Capparaceae – recentemente transferida para as Brassicaceae, icó) e Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore (Arecaceae, carnaúba). No caso das Cactaceae, é possível utilizar espécies endêmicas amplamente distribuídas para indicar a presença do bioma caatinga. Estas são: Tacinga inamoena (K. Schum.) N.P. Taylor & Stuppy (palmatória ou quipá), Tacinga palmadora (Britton & Rose) N.P. Taylor & Stuppy (palmatória), Pilosocereus pachycladus F. Ritter (facheiro), Pilosocereus gounellei (F.A.C. Weber) Byles & G.D. Rowley (xique-xique), Cereus jamacaru DC. (mandacaru), Arrojadoa rhodantha (Gürke) Britton & Rose (rabo de raposa), Arrojadoa penicillata (Gürke) Britton & Rose (rabo de raposa), e Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb. (coroa-de-frade) (Zappi, 1994; Taylor & Zappi, 2004). Devido à situação alarmante de devastação do bioma caatinga (Castelletti et al., 2003), com grande parte de sua área degradada ou transformada para fins

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agro-pastoris, tornou-se difícil estabelecer os limites reais da vegetação. Devido em parte à sua ocorrência sobre substratos rochosos, em parte às suas estratégias de sobrevivência e dispersão extremamente eficientes em ambientes áridos, ou mesmo ao fato de serem percebidas pelo sertanejo como plantas úteis (Andrade et al., 2006), as Cactaceae muitas vezes estão entre as poucas espécies remanescentes após a transformação da caatinga original. Também tratam-se de plantas fáceis de visualizar, especialmente durante a estação seca, sendo possível reconhecer as espécies ao longe. Somados à especificidade das Cactaceae no que concerne ao habitat no qual elas ocorrem, estes fatores fazem com que as Cactaceae estejam entre as melhores espécies indicadoras da vegetação de caatinga.

Riqueza de espécies Segundo Prado (2003), existem 14 gêneros e 183 espécies endêmicos da caatinga, enquanto Giulietti et al. (2002) apresentam 18 gêneros e 318 espécies. De qualquer forma, ambos os autores sublinham que a flora da caatinga apresenta um grau de endemismo importante e suficiente para que a mesma seja reconhecida como uma vegetação distinta. Com base em dados exclusivos da família Cactaceae (Taylor & Zappi, 2004), podemos afirmar que a caatinga da Bahia e Minas Gerais é muito mais rica em termos de espécies do que aquela encontrada nos estados setentrionais, a norte do Rio São Francisco. Devido ao relevo encontrado nos estados da Bahia e Minas Gerais, é possível que a influência da Serra do Espinhaço e da Chapada Diamantina como refúgio durante mudanças climáticas do terciário e quaternário tenha sido crucial, possibilitando ciclos sucessivos de expansão e isolamento de distintas espécies na área em questão. A região setentrional da caatinga (Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Norte do Piauí) não apresenta espécies de Cactaceae endêmicas, e apenas 4 espécies possuem a maioria de sua distribuição geográfica a norte de 7oS (Taylor & Zappi, 2004). Nessa região, o relevo mostrase mais uniforme e plano (depressão sertaneja), com poucas serras atingindo mais de 1.000m acima do nível do mar. É possível sugerir também que essa região do bioma seja mais recente do que a área sul da caatinga – conforme postulado por Taylor & Zappi (2004) e por Prado (2003), ou que as forças de extinção tenham sido mais eficientes (ou mesmo mais uniformes), alcançando grandes populações dispersas numa área mais ampla, do que naquelas áreas cujo relevo mais acidentado

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poderia criar refúgios para as espécies ali ocorrentes. Um exemplo de espécie relictual ocorrendo em duas áreas ou refúgios nas caatingas da Bahia é Espostoopsis dybowskii (Cactaceae).

Caatinga associada à Cadeia do Espinhaço No estado da Bahia, o bioma principal circundando a Chapada Diamantina é a caatinga (Harley, 1995; Zappi et al., 2003), enquanto que a Serra do Espinhaço em Minas Gerais encontra-se mais frequentemente rodeada pelo cerrado (oeste, sudoeste, noroeste), fazendo contato ao sul e ao leste com a mata atlântica sob forma de florestas semi-decíduas ou perenifólias, ao passo que a caatinga aparece de modo menos expressivo, ao norte/noroeste das serras. A extensa zona de contato entre a caatinga e o campo rupestre determina uma forte influência florística da caatinga sobre os campos rupestres da Chapada Diamantina (Harley, 1995; Zappi et al., 2003). Segundo Andrade-Lima (1981), a caatinga que circunda a porção norte da Chapada Diamantina foi classificada como Unidade II (4), Floresta de Caatinga Baixa, caracterizada pela associação de Mimosa, Syagrus (Arecaceae), Spondias (Anacardiaceae, umbu) e Cereus jamacaru (Cactaceae, mandacaru, muito disseminada e comum no Nordeste Brasileiro), ocorrendo sobre rochas cristalinas do Pré-Cambriano. Esse tipo de caatinga é dominado por vegetação baixa e descontínua, e comumente apresenta áreas ecotonais nas encostas ao norte da Chapada Diamantina, às vezes definidas como ‘caatingas de altitude’. Devido à geomorfologia da Chapada Diamantina, as localidades de campo rupestre situadas mais a norte (Morro do Chapéu, Sento Sé, Serra do Mimoso, Jacobina) estão distribuídas sob forma de maciços esparsos e a menores altitudes (até 1.200m) em relação à porção centro-sul (ver abaixo). Nestas localidades, o contraste entre a vegetação de campo rupestre e a caatinga circundante não é muito forte. Espécies de Cactaceae amplamente distribuídas na caatinga, como os típicos Pilosocereus gounellei, Tacinga inamoena, Pilosocereus pachycladus e Cereus jamacaru, ocorrem juntamente com outras mais comuns no campo rupestre, no caso Melocactus paucispinus Heimen & R. J. Paul, M. concinnus Buining & Brederoo, Micranthocereus flaviflorus Buining & Brederoo, M. purpureus (Gürke) F. Ritter. Apenas uma espécie de Pilosocereus é endêmica da ‘caatinga de altitudes’, P. glaucochrous (Werderm.) Byles & G.D. Rowley, ocorrendo de Seabra até Sento Sé.


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Já a caatinga encontrada no Norte de Minas assemelha-se àquela ocorrente na região central da Bahia, classificada por Andrade-Lima (1981) como Unidade I, Floresta de Caatinga Alta, onde as espécies características seriam Cavanillesia umbellata (barriguda), Myracrodruon urundeuva, Tabebuia impetiginosa e Aspidosperma pyrifolium. Tal vegetação ocorre sobre rochas calcáreas ou cristalinas do pré-cambriano, nas áreas com a maior disponibilidade hídrica dentro do bioma caatinga. Esse seria o tipo de caatinga que influência o norte da Serra do Espinhaço (Minas Gerais) e o centro-sul da Chapada Diamantina (BA). Dentre as Cactaceae endêmicas dessa região específica, geralmente associadas a solos quartzíticos ou areníticos encontramos: Pereskia aureiflora Ritter, Pereskia bahiensis Gürke (quiabento), Tacinga funalis Britton & Rose (quipá-voador), Harrisia adscendens (Gürke) Britton & Rose, Leocereus bahiensis Britton & Rose, Cereus albicaulis (Britton & Rose) Luetzelburg, Arrojadoa dinae Buin. & Brederoo, Cipocereus pusilliflorus (Ritter) Zappi & N. P. Taylor, Stephanocereus leucostele (Gürke) Berger, Brasilicereus phaeacanthus (Gürke) Backeberg, Coleocephalocereus goebelianus (Vaupel) Buining, Melocactus ernestii Vaupel, Micranthocereus violaciflorus Buining, Micranthocereus albicephalus (Buining & Brederoo) F. Ritter e Micranthocereus polyanthus (Werderm.) Backeb. Afloramentos calcários do grupo Bambuí, que ocorrem nas proximidades da Cadeia do Espinhaço (e também nas imediações do Rio São Francisco e nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso), em altitudes abaixo de 800 m, apresentam vegetação decídua, espinhosa e várias espécies de suculentas. As espécies de plantas e a fisionomia dessas formações são fundamentalmente distintas daquelas encontradas em solos cristalinos ou areníticos, embora, na Serra do Espinhaço, tais afloramentos estejam muitas vezes adjacentes aos campos rupestres, como é o caso do afloramento próximo a Cardeal Mota, na Serra do Cipó. Algumas espécies de Cactaceae associadas à ocorrência de calcário são: Pereskia stenantha F. Ritter, Quiabentia zehntneri (Britton & Rose) Britton & Rose, Tacinga saxatilis (F. Ritter) N. P. Taylor & Stuppy, Pilosocereus densiareolatus Ritter, P. floccosus Byles & G.D. Rowley ssp. floccosus, Micranthocereus dolichospermaticus (Buining & Brederoo) F. Ritter (cabeça-de-velho), M. levitestatus Buining & Brederoo, Facheiroa cephaliomelana (facheiro). O estabelecimento de áreas (ou manchas) de caatinga nas proximidades da Cadeia do Espinhaço em Minas Gerais pode ser explicado por combinações particulares de tipo de solo e do relevo montanhoso, com

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encostas formando barreiras que impedem a precipitação regular sobre uma determinada área. Vale a pena lembrar que a diversidade das Cactaceae no estado de Minas Gerais deve-se particularmente às espécies associadas com os campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (ver páginas 172-177). Ao Norte da Serra do Espinhaço em Minas Gerais a zona de contato entre a caatinga e o cerrado forma um ecótono denominado ‘carrasco’ (Pirani et al., 2003) ou ‘carrascal’ (Meguro et al., 1994). Este tipo de vegetação intermediário apresenta a fisionomia arbustivo-arbórea baixa (até 4 m alt.), formando blocos impenetráveis de arbustos, frequentemente espinhosos e decíduos na estação seca, separados por ‘veredas’ de solo arenoso, com estrato herbáceo irregular entremeado de líquens terrestres.

Conservação Como já foi sugerido em trabalhos de cunho mais específico (Zappi et al., 2003), a conservação de espécies e habitats de campo rupestre possivelmente depende da preservação da vegetação circundante. Espécies animais, particularmente polinizadores, mas também dispersores e predadores, migram das regiões mais altas e úmidas para as terras baixas durante a estação das chuvas, dependendendo possivelmente de recursos tanto do campo rupestre como dos enclaves de caatinga. Somente nas Cactaceae, Taylor & Zappi (2004) constataram que de 75 táxons ocorrentes na caatinga, existe possível interação de dispersão por diversos animais (morcegos, mamíferos roedores, porcos-domato, diversas aves, lagartos, formigas), contudo estudos conclusivos e até mesmo observações diretas envolvendo essas interações são poucas, havendo apenas certeza com respeito a um estudo envolvendo duas espécies de Melocactus dispersas por lagartos (Taylor, 1991), três observações envolvendo formigas (Discocactus bahiensis, Coleocephalocereus aureus e C. goebelianus), e duas observações de atividade de aves (Cereus jamacaru e Pilosocereus catingicola). Faz-se necessário intensificar os estudos de dispersão e forrageio na Caatinga, envolvendo não somente as Cactaceae, mas outras famílias representativas como as Fabaceae, Bromeliaceae etc., com a finalidade de compreender melhor as interações e interdependências entre espécies de animais e plantas da caatinga e seu relacionamento com áreas adjacentes de campo rupestre.

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Vale ressaltar que o planejamento e/ou incremento das presentes áreas de conservação da Cadeia do Espinhaço, incluindo áreas e espécies da caatinga ou de matas secas, pode ser crucial para a preservação desses sistemas, uma vez que a situação da conservação e do conhecimento a respeito do Bioma Caatinga como um todo é extremamente deficiente (Tabarelli & Silva, 2003), sendo possível que espécies deste bioma, apesar de amplamente distribuídas no Leste do Brasil, não estejam incluídas ainda em áreas de conservação. Taylor & Zappi (2004) apresentam sugestões de prioridades para conservação do Leste do Brasil através de um sistema de pontos atribuídos às espécies ameaçadas conforme as categorias da IUCN. Neste sistema, a região norte da Serra do Espinhaço, incluindo os municípios mineiros de Mato Verde, Monte Azul e Espinosa, assim como Licínio de Almeida, Urandi, Caetité, na Bahia, fica evidenciada como a segunda prioridade em termos de conservação da região estudada. Esta região é caracterizada por enclaves de caatinga, mata seca, cerrado e campo rupestre (em altitudes maiores que 1.000m), e apresenta grande diversidade de substrato e de habitats, apesar de não contar com áreas de preservação e infelizmente encontrar-se sujeita a pressões extrativistas e agrícolas, especialmente o cultivo de algodão e mais recentemente a cultura mecanizada de Eucalyptus. Outra área cuja preservação encontra-se ameaçada é a localidade de Morro do Chapéu, na Bahia, onde encontramos enclaves únicos de caatinga e camporupestre setentrional. Esta região é atualmente foco de um acréscimo acelerado de turismo, e chama-se a atenção para a falta de planejamento no que concerne a conservação da biodiversidade, ironicamente o maior atrativo local. Faz-se necessário o estabelecimento de áreas de preservação e planos de manejo nesta área. Para o estado de Minas Gerais, já dispomos de um Atlas da Biodiversidade (Drummond et al., 2005), o que facilita a sugestão de uma série de ações específicas1. Seria interessante aumentar a representatividade da vegetação de caatinga na região setentrional do estado, através da criação de áreas protegidas (RPPN, APAs etc.) ligando a área 10 (Espinhaço Setentrional) à área 57 (Espinhaço Meridional) especialmente numa tentativa de ampliar e interligar áreas protegidas (Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço; Parque Estadual de Grão Mogol) com importantes bacias hidrográficas a leste do Espinhaço, como aquelas do Alto Jequitinhonha (29), Rio Preto (28), Rio Itacambiruçu (11) e Alto Rio Pardo (12).

Referências bibliográficas Ab’Saber, A.N. 1974. O domínio morfoclimático semi-árido das Caatingas brasileiras. Geomorfologia 43: 1-39. Andrade, C.T.S., J.G.W. Marques & D.C. Zappi. 2006. Utilização de cactáceas por sertanejos baianos. Sitientibus 6: 3-12. Andrade-Lima, D. 1981. The caatinga dominium. Revista Brasileira de Botânica 4: 149-153. Castelletti, C.H.M., A.M.M. Santos, M. Tabarelli & J.M.C. Silva. 2003. Quanto ainda resta da caatinga? Uma estimativa preliminar. In: I.R. Leal, M. Tabarelli, J.M.C. Silva (eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Univ. Federal de Pernambuco, Recife. Pp. 719-734. Cole, M.M. 1960. Cerrado, caatinga and pantanal: the distribution and origin of the savanna vegetation of Brazil. Geographical Journal 126: 168-179. Drummond, G.M., C.S. Martins, A.B.M. Machado, F.A. Sebaio & Y. Antonini (org.). 2005. Biodiversidade de Minas Gerais, um atlas para sua conservação. Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte, 222p. Giulietti, A.M., R.M. Harley, L.P. Queiroz, M.R.V. Barbosa, A.L. Bocage Neta & M.A. Figueiredo. 2002. Espécies endêmicas da caatinga. In: E.V.B. Sampaio, A.M. Giulietti, J. Virgínio & C. Gamarra-Rojas (eds.). Vegetação e Flora da Caatinga. Associação Plantas do Nordeste - APNE & Centro Nordestino de Informação sobre Plantas – CNIP, Recife. Pp. 103-118. Harley, R.M. 1995. Introdução. In: B.L. Stannard (ed.) Flora of the Pico das Almas, Chapada Diamantina, Bahia, Brazil. Royal Botanic Gardens, Kew, pp. 1-78. Meguro, M., J.R. Pirani, R. Mello-Silva & A.M. Giulietti. 1994. Phytophysiognomy and composition of the vegetation of Serra do Ambrósio, Minas Gerais, Brazil. Revista Brasileira de Botânica 17: 149-166. Pirani, J.R., R. Mello-Silva & A.M. Giulietti. 2003. Flora de Grão Mogol, Minas Gerais, Brasil. Boletim de Botânica da Univ. São Paulo 21(1): 1-24. Prado, D.E. 2003. As Caatingas da América do Sul. In: Leal, I.R., Tabarelli, M., Silva, J.M.C. (eds.) Ecologia e Conservação da Caatinga. pp. 3-73. Univ. Federal de Pernambuco, Recife. Rodal, M.J.N. & E.V.S.B. Sampaio. 2002. A vegetação do bioma caatinga. In: E.V.B. Sampaio, A.M. Giulietti, J. Virgínio & C. Gamarra-Rojas (eds.). Vegetação e Flora da Caatinga. pp. 11-24. Associação Plantas do Nordeste - APNE & Centro Nordestino de Informação sobre Plantas – CNIP, Recife. Tabarelli, M. & J.M.C. Silva. 2003. Áreas e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Caatinga. In: I.R. Leal, M. Tabarelli, J.M.C. Silva (eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. pp. 777-796. Univ. Federal de Pernambuco, Recife. Taylor, N. 1991. The genus Melocactus in Central and South America. Bradleya 9: 1-80. Taylor, N. & D. Zappi. 2004. Cacti of Eastern Brazil. Royal Botanic Gardens, Kew. Zappi, D.C. 1994. Pilosocereus (Cactaceae). The genus in Brazil. Succulent Plant Research 3: 1-160. Zappi, D.C., E. Lucas, B.L. Stannard, E. Nic Lughadha, J.R. Pirani, L.P. Queiroz, S. Atkins, D.J.N. Hind, A.M.G. Giulietti, R.M. Harley & A.M. Carvalho. 2003. Lista das Plantas Vasculares de Catolés, Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 21(2): 345-398.

os números utilizados neste parágrafo referem-se àqueles apresentados por Drummond et al. (2005) no mapa das páginas 169–170.

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Relações florísticas entre as fitofisionomias florestais da Cadeia do Espinhaço, Brasil Luciana Hiromi Yoshino Kamino1 Ary Teixeira de Oliveira-Filho2 João Renato Stehmann1* Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil. * e-mail: stehmann@icb.ufmg.br 1 2

Resumo A Cadeia do Espinhaço é uma formação de montanhas que se estende no sentido norte-sul, da Bahia até Minas Gerais, sob influência fitogeográfica dos domínios da Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. As florestas encontradas nessa formação ocorrem em altitudes acima de 700m, sendo pouco conhecidas floristicamente. O objetivo do presente trabalho foi analisar as relações florísticas entre 18 áreas de floresta baseado na composição de sua flora arbórea, bem como os padrões de distribuição das espécies associados às variáveis geo-climáticas. A listagem totalizou 1.107 espécies. As espécies arbóreas de ampla distribuição no Espinhaço (12 ou mais áreas) representaram apenas 2,6% do total amostrado e as espécies consideradas de ocorrência restrita (uma ou duas áreas) totalizaram 49% desse total. O dendrograma de similaridade florística produzido por análise de agrupamento classificou as áreas em quatro regiões: (a) Quadrilátero Ferrífero, (b) Chapada de São Domingos, (c) Espinhaço Central, em Minas Gerais e Bahia, e (d) Disjunções Setentrionais da Chapada Diamantina. A distinção entre as regiões está provavelmente relacionada com a latitude, a precipitação e a altitude. Foi observada uma considerável riqueza de espécies arbóreas ao longo da Cadeia do Espinhaço, sendo o Quadrilátero Ferrífero e o extremo norte da Chapada Diamantina as regiões mais rica e mais pobre, respectivamente. Há uma carência de dados florísticos para a região compreendida entre o norte de Minas Gerais e o centro-sul da Bahia.

abstract The Espinhaço Range is a mountain chain that stretches from North to South in the Brazilian states of Bahia and Minas Gerais, under the influence of three phytogeographic domains: Atlantic Forest, Cerrado (woody savanna) and Caatinga (thorn woodland). Most forests found throughout the range occur above 700m of altitude, but their species composition is poorly known. The purpose of the present contribution was to analyze the floristic relationships among 18 forest areas based on tree species checklists and the species distribution patterns associated to geo-climatic variables. The number of species in the checklists was 1,107. Species of wide-range distribution (found in 12 or more areas) represented only 2,6% of the total while those with restrict distribution (one or two areas) encompassed 49%. The floristic similarity dendrogram produced Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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by cluster analysis classified the areas into four regions: (a) Quadrilátero Ferrífero, (b) Chapada de São Domingos, (c) Central Espinhaço, in the Minas Gerais and Bahia, and (d) septentrional disjunctions of Chapada Diamantina. The distinction among the four regions is probably related to latitude, rainfall and altitude. It was observed a considerable species richness throughout the Espinhaço Range, although species richness also varied strikingly with the richest and poorest regions at the Quadrilátero Ferrífero and northern Chapada Diamantina, respectively. There is a remarkable scarcity of floristic data for the region extending from northern Minas Gerais to central-southern Bahia.

Introdução A Cadeia do Espinhaço é a segunda mais longa formação de montanhas do Brasil e se estende por mais de mil quilômetros na direção norte-sul, apresentando seu limite setentrional na serra da Jacobina (10o00’S), e meridional na serra do Ouro Branco, próxima de Ouro Preto (21o25’S). Sua extensão longitudinal (40o10’ a 44o30’W) varia aproximadamente entre 50 e 100km e as altitudes, em geral entre 700 e 1.100m, podendo chegar aos 2.000m (Giulietti et al., 1987; Harley, 1995). Sua extensão longitudinal (40o10’ a 44o30’W) varia aproximadamente entre 50 e 100km e as altitudes, em geral variam entre 700 e 1.100m, podendo chegar aos 2.000m (Giulietti et al., 1987; Harley, 1995). Constitui um divisor de águas entre a bacia hidrográfica do rio São Francisco, a oeste, e as bacias dos rios que drenam para o Atlântico, a leste (Vieira et al., 2005). A Cadeia é constituída por dois blocos principais: a serra do Espinhaço, cujos limites ao norte ficam nas elevações isoladas da área do Monte Verde e Montezuma (MG), e a Chapada Diamantina (BA), constituída por terrenos baixos e elevações acima de 1000 m de altitude, que ficam reduzidas e bem afastadas entre si (Harley, 1995; Pirani et al., 2003). O clima da Cadeia do Espinhaço é do tipo mesotérmico com verões brandos e estação chuvosa no verão (Galvão & Nimer, 1965). O índice pluviométrico anual varia consideravelmente, entre 750 e 1.600mm, mas precipitações concentram-se em um período de sete a oito meses com um período seco de três a quatro meses (Magalhães, 1954; Galvão & Nimer, 1965). Os solos da Cadeia do Espinhaço são oriundos da decomposição de quartzitos e arenitos, caracteristicamente pedregosos, pobres, ácidos e arenosos, secos e com baixa capacidade de retenção de água (Ferreira & Magalhães, 1977). A vegetação da Cadeia inclui uma série de estratos altitudinais onde são encontrados, no mais elevado, Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

campos rupestres e matas nebulares; no intermediário, cerrados, campos e florestas semidecíduas e perenifólias; e, no mais baixo, uma variada combinação com as fitofisionomias das terras baixas adjacentes (Harley, 1995). No entanto, a cobertura vegetal dominante na Cadeia do Espinhaço é o campo rupestre (Giulietti et al., 1987), vegetação que cresce sobre pedregulhos ou rochas, em solos rasos ou pedregosos de origem recente, ou ainda em depósitos arenosos (Giulietti & Pirani, 1988). Os campos rupestres geralmente ocupam altitudes acima de 900 m, em conjunto ou entremeando os grandes afloramentos rochosos. A importância dos campos rupestres e da vegetação rupícola na Cadeia do Espinhaço deve-se à sua grande extensão, riqueza de espécies, expressiva diversidade genética e alto grau de endemismo (Giulietti et al., 1987; Harley, 1995; Zappi et al., 2003). O mosaico de fitofisionomias do Espinhaço é encontrado de norte a sul, mas a paisagem e a composição da flora sofrem forte influência dos três grandes domínios fitogeográficos brasileiros percorridos pela Cadeia e que podemos chamar de Setores. O Setor Sul, a sul de Belo Horizonte e ao redor de Ouro Preto, em Minas Gerais, está localizado dentro do domínio da Mata Atlântica; o Setor Central, que inclui a Serra do Cipó e a região de Diamantina, também em Minas Gerais, ocorre no domínio do Cerrado; e o Setor Norte, que compreende toda a Chapada Diamantina, na Bahia, está inserido no domínio da Caatinga (Harley, 1995). A região de Grão Mogol, no norte de Minas Gerais, pode ser considerada como intermediária entre os dois últimos devido à sua posição geográfica. As florestas da Cadeia do Espinhaço variam consideravelmente em composição e estrutura como resposta às condições geo-climáticas, muitas vezes resultando em uma grande heterogeneidade de fitofisionomias em áreas florestais relativamente pequenas (Harley, 1995). Por exemplo, uma floresta de fundo de vale poderá ter caráter perenifólio nas margens do curso d’água


Kamino, Oliveira-Filho & Stehmann |

(floresta ripária) e semidecídua nas encostas adjacentes. Muitas florestas que se apresentam na forma de capões de mata podem ter uma mancha de fitofisionomia paludosa perenifólia circundada por outra semidecídua, nos sítios bem drenados (Rizzini, 1979; Meguro et al, 1996a). Além disso, as matas de vale muitas vezes se fundem aos capões e as transições entre todo este conjunto de fitofisionomias podem ser muito graduais (Giulietti et al., 1987, Zappi et al., 2003). A altitude em que as florestas ocorrem pode variar de 400 a 1.700m e isto se reflete de forma marcante na composição e estrutura das florestas. Florestas nebulares perenifólias, por exemplo, ocorrem nos extremos de altitudes, normalmente acima de 1.100m (Harley, 1995). A profundidade do solo também exerce um papel relevante na transição das florestas para as fitofisionomias campestres, onde ocorre frequentemente uma fitofisionomia particular, densa e de pequena estatura, muitas vezes denominada floresta anã ou nanofloresta montana. No Espinhaço, muitas destas nanoflorestas são monodominantes, com destaque de espécies do gênero Eremanthus, quando recebem a denominação popular de candeal (Oliveira-Filho & Fluminhan-Filho, 1999). Além de toda esta variação, ainda ocorrem manchas de floresta decídua nos afloramentos calcáreos da Cadeia, com composição florística muito particular. Com relação à atual extensão dessas florestas, as da Chapada Diamantina são menores que aquelas encontradas no sul da Serra do Espinhaço. Devido à considerável interferência do homem nessas áreas, não é possível visualizar uma imagem clara dos padrões de diversidade na região. Comparando-se com outras fitofisionomias, Harley (1995) considera as florestas como as mais ameaçadas, as menos estudadas e as mais interessantes em termos de ligações fitogeográficas e da história passada da vegetação no leste da América do Sul. Já existe um número razoável de estudos sobre os padrões florísticos das florestas do Domínio Atlântico, que ocorrem mais ao leste do Brasil (Salis et al., 1995; Oliveira-Filho & Fontes, 2000; Scudeller et al., 2001; Ferraz et al., 2004; OliveiraFilho et al., 2005), mas pouco se conhece sobre as que ocorrem na Cadeia do Espinhaço, apesar do crescente número de estudos. O presente estudo teve como objetivo contribuir para o conhecimento das fitofisionomias florestais da Cadeia do Espinhaço, analisando a composição florística de seu compartimento arbóreo e os padrões de distribuição das espécies associados às variáveis geográficas e climáticas.

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Material e Métodos Levantamentos florísticos e das variáveis geográficas e climáticas Foram compiladas da literatura listagens da flora arbórea de 18 áreas de floresta localizadas ao longo da Cadeia do Espinhaço, totalizando uma lista com 1.107 espécies. A listagem de cada área de floresta em questão inclui todo o mosaico de fitofisionomias ali existentes. Possivelmente, devido às dificuldades impostas pela grande heterogeneidade ambiental, a literatura compilada não discrimina as fitofisionomias. As áreas de floresta estão localizadas: seis na Bahia (Gentio do Ouro, Jacobina, Morro do Chapéu, Catolés, Palmeiras e Mucugê) e as outras doze (Diamantina, Grão Mogol, Santa Bárbara, Serra do Cipó, Catas Altas da Noruega, Congonhas do Campo, Nova Lima, Belo Horizonte, Mariana, Ouro Preto, Chapada de São Domingos e Leme do Prado) em Minas Gerais. A localização geográfica das áreas é indicada na Figura 1; as variáveis ambientais (geográficas e climáticas), número de espécies e as autorias dos estudos são fornecidas nas Tabelas 1 e 2. As médias anuais e as mensais de temperatura e a precipitação foram obtidas junto ao DNMET - Departamento Nacional de Meteorologia do Ministério de Agricultura (1992) ou da Rede Nacional de Agrometeorologia (2004). Para algumas áreas, as médias foram geradas a partir de interpolação entre registros de áreas vizinhas e, ou, aplicação de correção para altitude, seguindo procedimentos descritos por Thornthwaite (1948). As espécies foram classificadas nas famílias reconhecidas pelo Angiosperm Phylogeny Group (APG II 2003). Análises florísticas Para realização das análises florísticas, foram preparados dois bancos de dados contendo informações florísticas e ambientais sobre as 18 áreas de floresta. O banco de dados florísticos consistiu de dados binários de presença/ausência de 1.107 espécies de árvores em cada área. O banco de dados com as variáveis ambientais consistiu de: latitude, longitude, altitude, temperatura média anual, temperaturas médias mensais de julho e de janeiro, diferença térmica entre as médias de julho e de janeiro, precipitação média anual, precipitações médias mensais da estação seca (junhoagosto) e chuvosa (dezembro-fevereiro), distribuição da precipitação (obtida da razão entre as duas médias mensais anteriores) e duração média da estação seca, que foi expressa pelo número de dias de déficit hídrico extraído de um diagrama de Walter (Walter, 1985). Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


42 | Relações florísticas entre as fitofisionomias florestais da Cadeia do Espinhaço, Brasil

Figura 1 – Localização das 18 áreas de fitofisionomias florestais utilizadas nas análises florísticas. As áreas estão classificadas em quatro grupos conforme diagrama gerado pela Análise de Correspondência Canônica (CCA): () Quadrilátero Ferrífero; () Chapada de São Domingos; ()Espinhaço Central em Minas Gerais e Bahia; e () Disjunções Setentrionais da Chapada Diamantina.

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Kamino, Oliveira-Filho & Stehmann |

43

Tabela 1 – Relação das 18 áreas de fitofisionomias florestais localizadas na Cadeia do Espinhaço utilizadas nas análises florísticas. São fornecidos o nome da localidade, o estado da federação, o código de identificação de cada área, as coordenadas geográficas, número de espécies e as referências dos levantamentos florísticos compilados.

Áreas Código Coordenadas

Número de Espécies Referências

Gentio do Ouro, BA

BAgent

11º26’S 42º30’E

101

J.J. Caldas. (dados inéditos)

Jacobina, BA

BAjaco

11º10’S 40º29’E

164

J.J. Caldas. (dados inéditos)

Morro do Chapéu, BA

BAmorr

11º35’S 41º12’E

103

J.J. Caldas. (dados inéditos)

Catolés, BA

BAcato

13º17’S 41º47’E

297

Zappi et al. (2003)

Palmeiras, BA

BApalm

12º27’S 41º27’E

209 Guedes & Orge (1998)

Mucugê, BA

BAmucu

13º00’S 41º22’E

163

Serra do Cipó, MG MGcipo 19º13’S 43º32’E 282

Harley & Simmons (1986) Campos (1995), Meguro et al. (1996a), Meguro et al. (1996b)

Diamantina, MG

MGdiam

18º14’S 43º36’E

248 A.T. Oliveira-Filho (dados inéditos)

Grão Mogol, MG

MGgrao

16º33’S 42º54’E

236

Santa Bárbara, MG MGbarb 19º54’S 43º22’E 189

Pirani et al. (2003), Pirani et al. (2004) CETEC (1989), Oliveira-Filho et al. (2005), Pedralli & Teixeira (1997)

Belo Horizonte, MG

MGbelo

20º02’S 44º00’E

192

Meyer (1999), Meyer et al. (2004)

Catas Altas da Noruega, MG

MGcata

20º36’S 43º33’E

215

Brina & Carvalho (2003)

Congonhas do Campo, MG MGcong 20º30’S 43º44’E 269 M.S. Werneck, W.A.C. Carvalho & S.G. Rezende (dados inéditos) Nova Lima, MG

MGnovl

19º58’S 43º54’E

209

Werneck (2006), Spósito & Stehmann (2006)

Mariana, MG

MGmari

20º22’S 43º23’E

306

Oliveira-Filho et al. (2005)

Ouro Preto, MG

MGouro

20º23’S 43º34’E

242

Pedralli et al. (1997), Werneck et al. (2000)

Chapada de São Domingos, MG

MGchap

17º29’S 43º08’E

213

Oliveira-Filho et al. (2005)

Leme do Prado, MG

MGleme

17º02’S 42º43’E

239

Oliveira-Filho et al. (2005)

Foi realizada uma classificação florística hierárquica das 18 áreas aplicando o algoritmo de médias ponderadas (UPGMA) aos coeficientes de similaridade de Sørensen entre as áreas através do programa PC-ORD para Windows versão 4.14 (McCune & Mefford, 1999). O resultado dessa análise é apresentado na forma de um dendrograma em que se agrupam progressivamente as amostras mais semelhantes, até que se forme um único grupo. Conforme recomendação de Mueller-Dombois & Ellenberg (1974), foi utilizado o nível de corte de 25% no eixo da escala do dendrograma para separar os grupos florísticos. Para investigar as relações entre as variações da composição florística e as variáveis geoclimáticas, foi empregada a análise de correspondência canônica, CCA (ter Braak, 1987), utilizando-se também o PC-ORD. A CCA procura extrair padrões inter-relacionados de estrutura dos dados contidos em duas matrizes, no caso, a matriz das espécies e a matriz ambiental. A matriz de espécies foi extraída da matriz de composição florística após a exclusão das espécies que ocorriam em

apenas uma das 18 áreas, restando 767 espécies na matriz final. A matriz ambiental consistiu de seis variáveis geoclimáticas que apresentaram correlações > 0,6 com pelo menos um dos dois primeiros eixos de ordenação, conforme adotado por Oliveira-Filho et al. (2006), selecionadas entre as 12 originais a partir de CCAs preliminares, que indicaram as mais fortemente relacionadas. O teste de permutação de Monte Carlo (ter Braak, 1995) foi aplicado à CCA final para avaliar a significância das correlações encontradas.

Resultados e Discussão Listagem de espécies Os estudos nas 18 áreas de floresta da Cadeia do Espinhaço registraram um total de 1.107 espécies arbóreas, distribuídas em 89 famílias e 357 gêneros (Anexo em: http://www.conservacao.org/publicacoes/mega4_tab1.pdf). As famílias melhor representadas foram Fabaceae com 14,6% do total de espécies, Myrtaceae (8,9%), Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


44 | Relações florísticas entre as fitofisionomias florestais da Cadeia do Espinhaço, Brasil

Tabela 2 – Relação das 18 áreas de fitofisionomias florestais localizadas na Cadeia do Espinhaço utilizadas nas análises florísticas. São fornecidos os códigos de identificação de cada área, a altitude mediana, as temperaturas médias no ano (T Ano) e nos meses de julho (T jul) e janeiro (T jan), diferença térmica entre as médias de julho e de janeiro (T range), as precipitações médias no ano (P Ano) e mensal entre julho e agosto (P JJA) e entre dezembro e fevereiro (P DJF), a distribuição da precipitação (P Dist) e a duração da estação seca (Seca).

Código

Altitude (m)

T Ano (°C)

T jul (°C)

T jan P Ano (°C) T range (mm)

P JJA (mm)

P DJF (mm) P Dist

Seca (dias)

BAgent

969

22,1

20,0

22,8

3,4

829,8

31,6

103,8

0,30

150

BAjaco

848

22,7

19,9

24,1

4,4

841,1

44,9

99,2

0,45

80

BAmorr

1093

19,7

17,2

21,1

4,0

749,0

29,0

106,0

0,27

120

BAcato

1533

19,1

16,6

20,5

4,2

1299,0

51,8

158,1

0,33

40

BApalm

1043

20,8

18,3

22,2

4,2

1301,55

39,4

174,7

0,23

40

BAmucu

1038

21,0

18,5

22,4

4,2

1155,2

38,4

152,9

0,25

60

MGcipo

1367

17,9

14,6

19,8

5,4

1506,6

14,8

255,9

0,06

120

MGdiam

1279

18,1

15,3

19,8

4,7

1406,0

11,0

231,0

0,05

110

MGgrao

953

21,0

18,3

22,1

4,0

1035,6

9,6

167,8

0,06

140

MGbarb

746

20,5

17,0

22,7

5,9

1364,7

12,8

244,4

0,05

130

MGbelo

1086

21,1

18,1

22,8

5,1

1492,0

14,7

267,7

0,05

140

MGcata

1303

18,3

14,7

20,5

6,1

1310,5

15,7

225,9

0,07

120

MGcong

968

19,5

15,9

21,7

6,1

1297,6

15,6

223,7

0,07

140

MGnovl

963

20,6

17,6

22,3

5,1

1451,5

13,4

260,6

0,05

130

MGmari

791

20,9

17,3

23,3

6,2

1533,1

13,3

282,3

0,05

130

MGouro

1319

17,6

14,6

19,3

5,1

1491,3

14,5

268,0

0,05

120

MGchap

838

22,1

19,2

23,7

4,7

999,2

6,5

172,7

0,04

160

MGleme

738

21,2

18,3

22,7

4,6

934,7

4,1

151,0

0,03

160

Lauraceae (5,7%), Melastomataceae (5,2%), Rubiaceae (4,3%), Asteraceae (3,3%), Euphorbiaceae (3,2%), Annonaceae (2,7%) e Solanaceae (2,4%). Essas famílias representaram conjuntamente mais de 50% do levantamento da flora arbórea para Cadeia do Espinhaço. Os gêneros com maior riqueza florística foram Miconia (com 37 espécies), Myrcia (32), Eugenia (30), Ocotea (30), Solanum (18), Inga (15), Erythroxylum (14), Machaerium (14), Byrsonima, Guatteria e Ilex (13 cada). Esses gêneros, dentre os 357 encontrados, representaram aproximadamente 20% das espécies amostradas. Com base na ocorrência em 12 ou mais áreas, 29 espécies foram consideradas como de ampla distribuição no Espinhaço, o que representa apenas 2,6% do total. Dentre estas, 27 são relacionadas por Oliveira-Filho & Fontes (2000) como generalistas de ampla distribuição no domínio da Mata Atlântica assim como em outros domínios, notadamente o Amazônico, o da Caatinga e o do Cerrado. São elas Alchornea triplinervia, Amaioua guianensis, Anadenanthera colubrina, Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

Blepharocalyx salicifolius, Bowdichia virgilioides, Cabralea canjerana, Casearia sylvestris, Cecropia pachystachya, Copaifera langsdorffii, Eugenia florida, Guapira opposita, Miconia ligustroides, Myrcia amazonica, Myrcia guianensis, Myrcia splendens, Myrcia tomentosa, Myrciaria floribunda, Myrsine umbellata, Pera glabrata, Psychotria vellosiana, Roupala montana, Senna macranthera, Tapirira guianensis, Tapirira obtusa, Terminalia glabrescens, Vochysia tucanorum e Zanthoxylum rhoifolium. Tais espécies são de ocorrência comum em diversas fitofisionomias, pois se adaptam uma ampla escala de condições climáticas e de solo (Pirani et al., 1994). As duas exceções são Cyathea phalerata e Faramea nigrescens. Ambas têm, de fato, uma ampla distribuição nos domínios Atlântico e do Cerrado, embora restritas a habitats florestais específicos (A. Salino e D. Zappi, comunicação pessoal). Em contraponto, destacaram-se 542 arbóreas (49% do total) cuja ocorrência foi registrada em apenas uma ou duas localidades, tendo sido consideradas como de distribuição restrita. O “padrão de distribuição restrito” de


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muitas espécies na Cadeia do Espinhaço provavelmente é consequência das condições ambientais específicas de áreas isoladas nos topos das montanhas (Pirani et al., 1994). Com relação aos endemismos por região, a porção mineira do Espinhaço apresenta um número maior de espécies restritas (397) que a Chapada Diamantina (183). Esses números devem ser analisados com cautela, uma vez que podem não refletir a real distribuição de algumas espécies decorrente da falta de amostragem entre as áreas. Um exemplo disso foram os registros de uma ocorrência no norte da Chapada e de outra no centro ou no sul do Espinhaço para Apeiba tibourbou, Erythroxylum revolutum, Eugenia cerasiflora, Hancornia speciosa e Strychnos nigricans, todas as espécies reconhecidamente de ampla distribuição geográfica nos domínios do Cerrado e/ou Mata Atlântica (Oliveira-Filho, 2006). A despeito da amostragem das florestas do Espinhaço ser ainda pequena, os números já indicam, com segurança, que há um grande número de espécies de distribuição restrita. Padrões semelhantes foram encontrados por Oliveira-Filho et al. (2005) ao comparar a flora arbórea de 16 áreas de floresta semidecídua do domínio Atlântico distribuídas a leste do Espinhaço. Do total de 1.016 espécies, 529 (52,0%) apresentaram distribuição restrita (uma ou duas áreas) e 39 (3,8%) ampla distribuição (12 ou mais áreas).

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Análise florística A Figura 2 apresenta o dendrograma de similaridade florística obtido pela análise de agrupamento (UPGMA) tendo como referência o coeficiente de similaridade de Sorensen. Formaram-se quatro grupos que correspondem às seguintes regiões: (a) Quadrilátero Ferrífero, MG (Santa Bárbara, Belo Horizonte, Catas Altas da Noruega, Congonhas do Campo, Nova Lima, Mariana e Ouro Preto); (b) Chapada de São Domingos (Chapada de São Domingos e Leme do Prado), MG; (c) Espinhaço Central, em Minas Gerais (Serra do Cipó, Diamantina e Grão Mogol) e Bahia (Catolés, Palmeiras, Mucugê); e (d) Disjunções Setentrionais da Chapada Diamantina (Gentio do Ouro, Jacobina e Morro do Chapéu). O dendrograma revela ainda que os grupos correspondentes aos extremos sul e norte apresentaram as diferenças florísticas mais pronunciadas. No entanto, os outros dois grupos, localizados na porção mediana da mesma, apresentaram baixa similaridade entre si (índice de Sorensen < 30%). O Quadrilátero Ferrífero (MG), grupo localizado no extremo sul da Cadeia do Espinhaço, é dominado por montanhas com topografia que varia de suaves colinas, associadas às formações graníticas e gnáissicas, a trechos bastante acidentados, associados aos afloramentos quartzíticos e a cangas hematíticas (Herz, 1978; Vincent, 2004). Nas regiões mais altas (> 1.000m),

                 

Figura 2 – Dendrograma de similaridade florística obtido por uma matriz de presença / ausência, de todas espécies arbóreas presentes em 18 áreas de fitofisionomia florestais da Serra do Espinhaço, utilizando o método de médias ponderadas por grupo (UPGMA) e o coeficiente de Sørensen. As áreas estão classificadas em quatro grupos conforme diagrama gerado pela Análise de Correspondência Canônica (CCA): () Quadrilátero Ferrífero; () Chapada de São Domingos; ()Espinhaço Central em Minas Gerais e Bahia; e () Disjunções Setentrionais da Chapada Diamantina.

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existem campos com florestas ocorrendo nas áreas de drenagem e que preenchem os vales e as encostas erodidas, além de incluir enclaves de cerrado (Fundação Biodiversitas, 1993; Muzzi & Stehmann, 2005). É a região que apresenta maior número de estudos, possivelmente por situar-se próximo dos principais centros de pesquisa do Estado. Ressalta-se a importância da região como manancial aquífero junto às regiões urbanas e por atuar como um divisor de águas das bacias hidrográficas do Rio São Francisco (sub-bacias Rio das Velhas e Rio Paraopeba), a oeste, e Rio Doce, a leste. Cabe destacar a baixa similaridade florística entre Ouro Preto e as demais áreas desse grupo, o que é provavelmente influenciado pela sua maior altitude e temperaturas mais baixas. Spósito & Stehmann (2006) não encontraram correlações significativas entre distância geográfica e similaridade florística entre oito áreas florestais do Quadrilátero Ferrífero. Os autores afirmam que as variações na temperatura, precipitação, altitude, e principalmente o histórico de perturbação são provavelmente os fatores que mais influenciaram as variações florísticas. Dentre estes fatores, merece destaque o histórico de perturbação na região desde o ciclo da mineração no século XVII. O quadro agravou-se a partir da década de 40, com a adoção do corte raso de florestas nativas visando à produção do carvão vegetal para as usinas siderúrgicas instaladas junto às reservas de minério de ferro (Cetec, 1989). Atualmente, as áreas florestais estão sujeitas a fortes pressões de desmatamento, incêndios, expansão urbana, mineração e turismo (Costa et al., 1998; Spósito & Stehmann, 2006). O segundo grupo constitui a região da Chapada de São Domingos, localizada entre os vales dos Rios Araçuaí e Jequitinhonha, cuja vegetação predominante está sob domínio da Mata Atlântica, entremeada por pequenas manchas de cerrado. Essa região corresponde a extensões orientais isoladas da Cadeia do Espinhaço. Nesta região, Vasconcelos & D’Angelo Neto (2007) descrevem relictos de uma densa floresta semidecídua que abrigam espécies endêmicas da avifauna da Mata Atlântica. Os autores salientam que, no entanto, a vegetação vem sofrendo diversas alterações advindas de atividades humanas, como a pecuária, plantação de monoculturas de Eucalyptus e Pinus. As florestas semidecíduas do terceiro grupo, o Espinhaço Central, distribuem-se por uma grande extensão geográfica, entre o norte de Minas Gerais e a Chapada Diamantina, na Bahia. Observando o grupo com mais detalhe, é possível verificar que as regiões da Bahia apresentaram apenas 30% de similaridade florística com as de Minas Gerais. Essa baixa similaridade pode ser resultante das influências que os biomas exercem

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sobre a região: o Cerrado sobre as áreas mineiras e a Caatinga sobre as baianas. Em Minas Gerais, as encostas dessas serras apresentam predominância da vegetação típica dos cerrados, que ocupam quase todas as encostas mais baixas e muitas vezes sobem as vertentes, formando transições que mesclam as floras do cerrado e campos rupestres. Em contraste, a Chapada Diamantina sofre influência de longos períodos de seca e a vegetação circundante é constituída de caatinga (Andrade-Lima, 1981), caracterizada por diversas unidades de vegetação com muitas plantas espinescentes, especialmente de Fabaceae (subfamília Mimosoideae, gênero Mimosa e Acacia), suculentas e urticantes. A caatinga circunda e, às vezes, reveste as vertentes das montanhas, chegando extraordinariamente a 1.000m (Harley, 1995; Zappi et al., 2003). Nas regiões acima de 1.000m de altitude, prevalecem formações campestres crescendo em solos arenosos, pobres em nutrientes e, em sua maioria, de fácil drenagem (Zappi et al., 2003). Outro fator que pode contribuir para a dissimilaridade florística é a existência de terras mais baixas entre a Chapada Diamantina e o norte do Espinhaço mineiro, com aproximadamente de 300km de extensão e altitudes ao redor de 500m, cortada pelos vales dos Rios de Contas, Pardo e Jequitinhonha. Essa região provavelmente incrementa o grau de isolamento ao atuar como barreira migratória para espécies da flora dos campos rupestres (Harley, 1995). Da mesma forma, a barreira poderia estar atuando sobre as espécies florestais. Para a região situada entre Catité, na Chapada Diamantina, e Grão Mogol, em Minas Gerais, há uma grande lacuna de estudos sobre a composição da flora das áreas de florestas. Observa-se a grande similaridade florística entre a flora arbórea de Diamantina e a da Serra do Cipó. É importante ressaltar que a distância da escala do dendrograma é uma função (Wishart, 1969), e não, uma medida de distância simples. A função é uma medida que reflete a perda da informação no procedimento aglomerativo. Em outras palavras, a medida da escala representa a distância entre dois pontos, indicando que quanto menor for esse valor, maior será o nível de similaridade. Conforme dito, há uma grande similaridade entre as duas áreas, entretanto estas podem sofrer influências das variáveis ambientais em diferentes intensidades. O quarto grupo, compreendendo as Disjunções Setentrionais da Chapada Diamantina, apresenta baixa similaridade florística (< 5%) quando comparado com os demais agrupamentos. Essa dissimilaridade pode ser atribuída principalmente à influência da caatinga, que praticamente circunda montanhas muito menores e mais isoladas que o restante da Chapada Diamantina.


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Correlações entre espécies e variáveis ambientais A CCA produziu autovalores intermediários, respectivamente 0,481 e 0,256 para os eixos de ordenação 1 e 2, indicando a existência de gradientes moderados, ou seja, parte das espécies distribui-se por todo o gradiente, e parte é exclusiva de segmentos particulares (ter Braak, 1995). Os dois eixos explicaram apenas 16,5% e 8,8% da variância global (total acumulado de 25,2%), indicado muita variância remanescente não explicada (ruído elevado na estrutura dos dados). No entanto, tal situação é comum em dados de vegetação e não prejudica a significância das relações espécie-ambiente (ter Braak, 1988). Com efeito, a CCA produziu valores muito altos para as correlações espécie-ambiente nos dois eixos (r = 0,988 e r = 0,985). Além disso, os testes de permutação de Monte Carlo indicaram gradientes significativos nos dois primeiros eixos de ordenação (p = 0,01 para os autovalores) e correlações significativas com as variáveis ambientais fornecidas (p = 0,01 para as correlações espécie-ambiente). As variáveis ambientais com correlações internas mais fortes (r > 0,7) com o primeiro eixo foram, em ordem decrescente, latitude (r = – 0,992), distribuição da precipitação (r = 0,843) e diferença térmica entre as médias de julho e janeiro (r = – 0,836). Para o segundo eixo, as variáveis mais fortemente correlacionadas foram altitude (r = 0,867) e temperatura média anual (r = – 0,858). Tais correlações indicam que a distância geográfica, vista como variável espacial, e as condições climáticas, notadamente o regime de precipitação e a temperatura, vinculada à altitude, provavelmente exercem uma forte influência no padrão de distribuição das espécies. Por exemplo, espécies como Drimys brasiliensis, Hedyosmum brasiliense, Podocarpus sellowii e Weinmannia paulliniifolia são encontradas por toda a extensão da Cadeia do Espinhaço certamente favorecidas pelas condições particulares de maior umidade e altitude (Harley, 1995; Funch et al., 2005). A relação entre as variáveis geo-climáticas e a composição de espécies das 18 áreas estão apresentadas na Figura 3. De modo a auxiliar na visualização do diagrama gerado pela CCA, resolveu-se aplicar símbolos diferentes aos quatro grupos gerados pela análise de agrupamentos (Figura 2). A distinção entre as áreas de florestas fica evidente no diagrama, bem como a forte vinculação com a latitude e, secundariamente, com a distribuição da precipitação. Entretanto, a distinção entre grupos não se apresenta concentrada, mas ordenada em gradientes, no sentido sul-norte, isto é, as florestas do sul do Espinhaço estão mais próximas de suas vizinhas do centro e essas estão mais próximas das do norte. Observa-se ainda que ordenação no eixo dois sofre

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Figura 3 – Diagrama gerado pela análise de correspondência canônica (CCA) da presença de 767 espécies arbóreas em 18 áreas de fitofisionomias florestais na Cadeia do Espinhaço e sua correlação com variáveis geoclimáticas (setas). As áreas de Mata Atlântica estão identificadas por seus códigos na Tabela 1. São fornecidos os códigos de identificação de cada área, a latitude, a altitude mediana, as temperaturas médias no ano (T Ano), a diferença térmica entre as médias de julho e de janeiro (T range), as precipitações médias no ano (P Ano) e a distribuição da precipitação (P Dist).

influência significativa da altitude e da temperatura anual. Os padrões gerados pela CCA reforçam a coerência dos quatro grupos florísticos acrescentando a significância das correlações entre estes padrões e variáveis espaciais (geográficas) e ambientais (climáticas). Em suma, observou-se uma considerável riqueza de espécies arbóreas ao longo da Cadeia do Espinhaço e uma distinção florística em quatro regiões dentro de um gradiente latitudinal. A região sul é a mais rica, provavelmente por estar inserida na matriz florestal atlântica. Já a região do extremo norte possui elementos muito distintos das demais regiões, como possível reflexo de sua localização junto à caatinga. A carência de informações para algumas regiões, especialmente aquela situada entre o norte de Minas Gerais e o centro-sul da Bahia, limita um melhor entendimento das relações florísticas sobre as florestas da Cadeia do Espinhaço. Diante do exposto, fica evidente a grande necessidade de se realizarem estudos florísticos na região. Harley (1995) comenta que a história de exploração e formação de assentamentos urbanos foi responsável pela devastação da floresta, cuja madeira foi intensamente utilizada nas construções ou como lenha e a terra para agricultura, enquanto as pastagens avançaram nas

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margens das florestas. Os poucos remanescentes dessa vegetação são geralmente fragmentados e explorados, a tal ponto que fica difícil imaginar o que ali se encontrava, com exceção dos locais muitos remotos, que geralmente ficam situados em grandes altitudes. Este contexto reforça a urgência de expandir o conhecimento sobre a flora dos remanescentes florestais do Espinhaço como base ao fortalecimento das iniciativas voltadas à sua conservação.

Agradecimentos Os autores agradecem à Cinthia Tamara, à Teresa Spósito e ao Márcio de Souza Werneck pelas sugestões e ajuda nas análises dos dados; ao Cássio Soares Martins (Fundação Biodiversitas), pelos auxílios cartográficos, ao revisor anônimo pelas valiosas sugestões.

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Diversidade e conservação das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço, Brasil Alexandre Salino1,2* Thaís Elias Almeida2,3 Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. 3 Mestranda em Biologia Vegetal, Universidade Federal de Minas Gerais/CAPES. * e-mail: salino@icb.ufmg.br 1 2

Resumo Este trabalho apresenta os resultados de um inventário florístico de pteridófitas realizado na Cadeia do Espinhaço, nos estados de Minas Gerais e Bahia. O inventário foi feito com base em coleções obtidas durante expedições para diversas áreas da Cadeia no estado de Minas Gerais, bem como em material proveniente de herbários nacionais e estrangeiros e dados de literatura. A Cadeia do Espinhaço é um maciço que representa a faixa orogênica pré-cambriana mais extensa e contínua do território brasileiro e ocupa aproximadamente 1.000km de extensão e de 50 a 100km de largura, com altitudes variando de 800 a 2.100 metros. O limite sul da Cadeia do Espinhaço corresponde à Serra de Ouro Branco (Minas Gerais), e o limite norte está na região de Jacobina (Bahia). A fisionomia da vegetação da Cadeia do Espinhaço é razoavelmente uniforme, com predomínio de campos rupestres e ambientes associados. Foram registradas 463 espécies e duas variedades, distribuídas em 27 famílias e 88 gêneros, sendo que as famílias mais ricas são: Pteridaceae (66 spp.), Lomariopsidaceae (45 spp.), Polypodiaceae (40 spp.), Thelypteridaceae (33 spp.), Aspleniaceae (32 spp. e duas variedades) e Schizaeaceae (29 spp.). Os gêneros mais representativos são: Elaphoglossum (43 spp.), Thelypteris (33 spp.), Asplenium (28 spp. e cinco variedades), Anemia (25 spp.), Blechnum (18 spp.) e Adiantum (18 spp.). Dos 465 táxons, apenas 18 (3,8%) são exclusivos de formações da Cadeia do Espinhaço. Quinze espécies aqui listadas são citadas pela primeira vez para o estado de Minas Gerais. A riqueza encontrada não está distribuída uniformemente na Cadeia do Espinhaço; na região do Quadrilátero Ferrífero ocorrem 380 espécies e duas variedades; na região da Serra do Cipó 263 espécies; no Planalto de Diamantina, 215; na Serra do Cabral, apenas 43; na região norte da Cadeia do Espinhaço em Minas Gerais (Serra de Grão Mogol e Serras adjacentes), 71 espécies e na região da Chapada Diamantina-BA ocorrem 115 espécies.

abstract This paper presents the results of a pteridophyte inventory accomplished in the Espinhaço Range, in the states of Minas Gerais and Bahia, Brazil. The inventory was taken based in collections obtained during field work carried out in several areas of the Espinhaço Range, Minas Gerais State, as well as in material from national and foreigner herbaria and literature data. The Espinhaço Range is the more extensive and continuous Precambrian orogenic belt of the Brazilian territory and Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Salino & Almeida |

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occupies approximately 1.000 km of extension and 50 to 100 km width, with an altitudinal range of 800-2.100 m. The southern limit of the Espinhaço Range is the Serra de Ouro Branco (Minas Gerais), and the northern limit is in the area of Jacobina (Bahia). The vegetation physiognomy of the Espinhaço Range is reasonably uniform, with prevalence of Campos rupestres and associated environments. Four hundred and sixty-three species and two varieties were registered, distributed in 27 families and 88 genera, and the richest families were: Pteridaceae (66 spp.), Lomariopsidaceae (45 spp.), Polypodiaceae (40 spp.), Thelypteridaceae (33 spp.), Aspleniaceae (32 spp. and two varieties) and Schizaeaceae (29 spp.). The most representative genera are: Elaphoglossum (43 spp.), Thelypteris (33 spp.), Asplenium (31 spp. and two varieties), Anemia (25 spp.), Blechnum (18 spp.) and Adiantum (18 spp.). Out of 465 taxa, only 18 (3,8%) are endemic to Espinhaço Range formations. Fifteen species are recorded for the first time for the state of Minas Gerais. The richness found is not distributed evenly in the Espinhaço Range; in the area of the Quadrilátero Ferrífero occurs 380 species and two varieties; in the area of the Serra do Cipó 263 species; in the Diamantina Plateau, 215; in Serra do Cabral, only 43; in the north area of the Espinhaço Range in Minas Gerais (Serra de Grão Mogol and adjacent mountains), 71 species and in the Chapada Diamantina area, 115 species.

Introdução As pteridófitas constituem as plantas vasculares sem sementes, sendo atualmente classificadas em dois grandes grupos monofiléticos: as licopodiófitas e as monilófitas. Estão incluídas nas licopodiófitas as plantas vasculares com folhas micrófilas, esporângios axilares nas folhas, laterais ao caule e com deiscência completa e distal. O grupo é formado por três famílias, seis gêneros e aproximadamente 1350 espécies. As monilófitas são caracterizadas pelas folhas megáfilas e esporângios variados, mas nunca axilares. Estão incluídas neste grupo as famílias Psilotaceae e Equisetaceae, que previamente estavam arranjadas em divisões separadas. O número de famílias reconhecidas para as monilófitas varia entre os diferentes autores. Nas classificações mais recentes foram reconhecidas para a região Neotropical 26 famílias por Tryon & Tryon (1982), 30 por Kramer & Tryon (1990), 29 por Moran (1995a) e 33 famílias por Smith et al. (2006). As pteridófitas podem ser plantas terrestres, rupícolas, epífitas, hemiepífitas, aquáticas ou trepadeiras. A grande maioria é de porte herbáceo, porém algumas têm porte arborescente, como os representantes das famílias Cyatheaceae e Dicksoniaceae, e algumas Blechnaceae e Dryopteridaceae. As pteridófitas ocorrem em uma extraordinária variedade de ambientes, que vão de situações árticas e alpinas (altas latitudes e altitudes) ao interior de florestas pluviais tropicais e de vegetação arbustiva subdesértica a costões rochosos

e mangues (Page, 1979). No entanto, 80% das espécies ocorrem em áreas tropicais (Roos, 1996), sendo mais comuns em montanhas tropicais e subtropicais úmidas (Tryon & Tryon, 1982). Na América Tropical, um dos centros de diversidade e endemismo de pteridófitas corresponde às regiões Sudeste e Sul do Brasil (Tryon & Tryon, 1982), o que se deve ao fato de parte dessa região apresentar a combinação de clima tropical úmido, montanhas e ecossistemas florestais. Roos (1996) realizou um levantamento bibliográfico e verificou a existência de 10.500 a 11.300 espécies de pteridófitas conhecidas em todo o mundo, mas acredita que o número de espécies possa estar entre 12.000 e 15.000, das quais 10.000 a 12.500 estariam nos paleo e neotrópicos (do Velho e do Novo Mundo). Aproximadamente 75% das espécies ocorrem em duas grandes regiões: uma, de maior riqueza, que compreende o sudeste da Ásia e a Australásia, com cerca de 4.500 espécies, e outra que abrange as Grandes Antilhas, o sudeste do México, a América Central e os Andes do oeste da Venezuela ao sul da Bolívia, onde ocorrem cerca de 2.250 espécies (Tryon & Tryon, 1982). A região Neotropical concentra importantes áreas geográficas para as pteridófitas (Tryon, 1972). Segundo Tryon & Tryon (1982), quatro regiões de alta diversidade reúnem aproximadamente 40% de espécies endêmicas: as Grandes Antilhas, com 900 espécies; o sudeste do México e a América Central, também com cerca de 900 espécies; a região dos Andes, com cerca de 1.500 espécies, e o Sudeste e o Sul do Brasil, com 600 espécies, Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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uma subestimativa, já que dados recentes mostram que somente o estado de São Paulo conta com mais de 550 espécies e Minas Gerais com 700 espécies (Alexandre Salino & Thais Elias Almeida, dados inéditos). Segundo Tryon & Tryon (1982), outras regiões dos trópicos americanos possuem menor diversidade de espécies. Nas Pequenas Antilhas ocorrem cerca de 300 espécies, das quais a maioria possui ampla distribuição e somente 10% são endêmicas. A região do Planalto das Guianas (Roraima, Amazonas, Venezuela, Guiana, extensões do Suriname e leste da Colômbia) possui uma flora pteridofítica de cerca de 450 espécies. Nesta região ocorrem algumas espécies com distribuição disjunta com o Sudeste e Sul do Brasil (Tryon & Tryon, 1982). Na Amazônia brasileira ocorrem cerca de 300 espécies (Tryon & Tryon, 1982). Segundo Moran (1995b), a Amazônia brasileira é a região com menor diversidade de pteridófitas de toda a região Neotropical. Conforme estimativa de Moran (1995a), na América do Sul ocorrem aproximadamente 3.000 espécies de pteridófitas. Tryon (1972) estabeleceu cinco centros de diversidade e endemismo para pteridófitas na América Tropical. Os centros primários são três, o Mexicano (México e sul dos Estados Unidos), o Andino (Andes da Venezuela à Bolívia) e o Brasileiro (sudeste e sul). Estes centros são definidos pelo alto número de espécies e alto endemismo. Os centros secundários são dois, o da América Central e o das Guianas (Planalto das Guianas), cada um com alguma distinção especial, tal como o endemismo relativamente alto das florestas nebulares da América Central e em alguns gêneros nas Guianas. Destes centros o que possui maior afinidade florística com o centro Brasileiro é o Andino (Tryon, 1986). Cada centro regional possui um conjunto de condições mais ou menos distintas com relação a fisiografia, fatores edáficos e climáticos. O centro brasileiro é notável pelo endemismo da Serra do Mar e também pelo endemismo da pteridoflora dos campos rupestres das regiões areníticas de Minas Gerais (Tryon, 1972). De acordo com Moran (1995b), as montanhas promovem alta riqueza de espécies de pteridófitas. Esse efeito pode ser observado em todo o mundo – todos os países ou regiões com mais de 500 espécies de pteridófitas são montanhosos (Tryon, 1986). Em seus exemplos, Moran (1995b) inclui as regiões Sudeste e Sul do Brasil, inclusive comparando-as às terras baixas da Amazônia brasileira. As causas da alta riqueza e endemismo nas montanhas são pouco conhecidas. Presumivelmente, elas resultam da variedade de ambientes criados por diferentes tipos de solos, rochas, elevações, inclinações, exposições à luz e microclimas (Moran, 1995b).

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Estudos das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço Os estudos específicos da flora pteridofïtica da Cadeia do Espinhaço, incluindo as formações vegetacionais do Quadrilátero Ferrífero, são escassos. Os pioneiros foram Lisboa (1954), que elaborou uma listagem para Ouro Preto e região, baseada na coleção do atual Herbário da Universidade Federal de Ouro Preto; e Ferreira et al. (1977), com a publicação de uma lista de plantas vasculares para a região do Maciço do Caraça. Em um estudo mais específico, Badini (1977) trata as espécies de Ophioglossum do muncípio de Ouro Preto. A partir da década de 1980, os estudos florísticos de pteridófitas se concentraram na Cadeia do Espinhaço sensu stricto. Destacam-se os trabalhos com o gênero Anemia (Carvalho, 1982); a publicação de uma lista de espécies de pteridófitas no check-list feito por Giulietti et al. (1987) para a Serra do Cipó; uma dissertação sobre a Família Pteridaceae, Subfamília Cheilanthoideae – Pteridaceae no Espinhaço em Minas Gerais (Prado, 1989); as publicações da Serra do Cipó sobre Cyatheaceae (Windisch & Prado, 1990), família Pteridaceae, subfamília Cheilanthoideae (Prado, 1992), Hymenophyllaceae (Windisch, 1992), Dennstaedtiaceae (Prado & Windisch, 1996) e família Pteridaceae, subfamília Adiantoideae e Taenitidoideae (Prado, 1997); Flora de Grão Mogol (Prado & Labiak, 2003); Flora do Pico das Almas (Prado, 1995); e os levantamentos da região do Morro do Pai Inácio (Barros, 1998), região de Catolés (Prado, 2003) e da Chapada Diamantina (Nonato, 2005). Para o Quadrilátero Ferrífero há um check-list para parte da APA-Sul RMBH (Figueiredo & Salino, 2005) e o tratamento de Polypodiaceae no Parque Estadual do Itacolomi (Rolim & Salino, 2008). Atualmente há levantamentos em andamento na região mineira da Cadeia do Espinhaço sendo realizados pelo grupo de pesquisa de pteridófitas do Laboratório de Sistemática Vegetal (ICB – UFMG), coordenado pelo Prof. Alexandre Salino, porém ainda não publicados. Os levantamentos em áreas específicas estão sendo realizados nas seguintes Unidades de Conservação: Parque Estadual do Itacolomi (Ouro Preto e Mariana), Parque Estadual do Rio Preto (São Gonçalo do Rio Preto), Parque Estadual da Serra do Intendente (Conceição do Mato Dentro) e RPPN Santuário do Caraça (Catas Altas). Além disso, levantamentos preliminares estão sendo realizados em Minas Gerais nas regiões das Serras do Cabral, Grão Mogol, Jaíba e no Planalto de Diamantina. Os objetivos desse trabalho foram inventariar as espécies de pteridófitas ocorrentes na Cadeia do Espinhaço nos estados da Bahia e Minas Gerais, Brasil, bem como efetuar uma avaliação rápida da riqueza, distribuição e conservação das espécies.


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Material e Métodos A Cadeia do Espinhaço é um maciço que representa a faixa orogênica pré-cambriana mais extensa e contínua do território brasileiro. Alonga-se por cerca de 1200km na direção N-S desde a região de Belo Horizonte até os limites norte da Bahia com os Estados de Pernambuco e Piauí. Ao longo de sua extensão as unidades do Supergrupo Espinhaço entram em contato direto com unidades do Supergrupo Minas do Quadrilátero Ferrífero (de idade muito superior ao Supergrupo Espinhaço) e outras. O Quadrilátero Ferrífero, geograficamente colocado em várias publicações botânicas e zoológicas como parte sul da Cadeia do Espinhaço é uma formação muito mais antiga (Almeida-Abreu & Renger, 2002) e geologicamente distinta da Cadeia do Espinhaço sensu stricto. Segundo Giulietti & Pirani (1988), na Cadeia do Espinhaço há muitas regiões elevadas que são conhecidas como serras e possuem nomes individuais, e que são geralmente interrompidas por vales de rios. Em Minas Gerais destacam-se algumas serras, como as da região de Diamantina, Serro e Itambé na parte sul do Vale do Rio Jequitinhonha; a Serra do Cipó, na região de Santana do Riacho; a Serra do Cabral, na região de Joaquim Felício; a Serra da Piedade, na região de Caeté; a Serra do Caraça na região de Catas Altas e finalmente as serras de Ouro Preto que são consideradas o limite sul da Cadeia do Espinhaço. No estado da Bahia destaca-se o maciço da Chapada Diamantina que é formada por várias serras como a Serra do Sincorá, na região de Mucugê, Andaraí e Lençóis, e as serras das regiões de Rio de Contas, Morro do Chapéu e Jacobina. Na Cadeia do Espinhaço podemos encontrar formações vegetacionais dos biomas Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Segundo Giulietti & Pirani (1988), a fisionomia da vegetação na Cadeia do Espinhaço é bastante uniforme, embora a continuidade dos campos rupestres possa ser interrompida por manchas de Cerrado e por matas de galeria ou matas de encosta. Na Bahia, na Chapada Diamantina, a vegetação campestre divide espaço com as florestas deciduais, que é a formação dominante no semi-árido do Nordeste do Brasil. Em Minas Gerais, nas áreas mais baixas com solos mais profundos há predomínio das formações do Cerrado. A análise da ocorrência e da distribuição geográfica das espécies de pteridófitas da Cadeia do Espinhaço foi feita utilizando o nível taxonômico de espécie e os níveis infra-específicos de subespécie e variedade. Para

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a circunscrição dos gêneros e famílias foi utilizado o arranjo taxonômico de Moran (1995a), com exceção das famílias Gleicheniaceae e Vittariaceae, para as quais foram utilizadas as classificações genéricas de Ching (1940) e Crane (1997), respectivamente. As abreviações dos autores dos nomes científicos estão de acordo com Pichi-Sermolli (1996). O levantamento das espécies ocorrentes na Cadeia do Espinhaço foi feito através de pesquisa bibliográfica, compilação de dados de coleções científicas e de coletas realizadas entre os anos de 1999 a 2007. O levantamento bibliográfico foi realizado utilizandose literatura especializada de pteridófitas. Foram consultadas, principalmente, dissertações e teses de trabalhos taxonômicos sobre famílias e gêneros ocorrentes na região, assim como trabalhos de inventários florísticos. As espécies registradas somente através da bibliografia (indicado na coluna “Fonte” do Anexo) foram compiladas das seguintes referências: Alston et al. (1981), Meguro et al. (1996), Nonato (2005) e Tryon (1956). A compilação de dados das coleções foi feita através da análise de todo o material disponível de pteridófitas em importantes herbários brasileiros (BHCB, CEPEC, HB, OUPR, RB, SP, SPF, UB) e em alguns estrangeiros (F, GH, NY, MO, US). As siglas dos herbários listados estão de acordo com Holmgren et al. (1990). As seguintes espécies paleotropicais introduzidas e/ou exóticas subespontâneas no Brasil e ocorrentes na Cadeia do Espinhaço não foram incluídas na análise de dados: Nephrolepis multiflora (Roxb.) Morton, Pteris vitatta L., Macrothelypteris torresiana (Gaudich.) Ching, Thelypteris dentata (Forssk.) E.P. St. John e Diplazium petersenii (Kunze) Christ. Para as formações vegetacionais dos domínios da Mata Atlântica e Caatinga foi utilizado o sistema de Veloso et al. (1991), e para as formações do domínio do Cerrado foi utilizado o sistema de Ribeiro & Walter (1998).

Resultados e Discussão Em uma avaliação rápida da Cadeia do Espinhaço constatamos a ocorrência de pelo menos 463 espécies e cinco variedades (Anexo) de pteridófitas nos estados de Minas Gerais e Bahia. Esse número é elevado, tendo em vista que as estimativas do número de espécies de pteridófitas ocorrentes no Brasil variam de 1.150 (Windisch, 1996) a 1.200-1.300 (Prado, 1998), sendo que grande parte dessa riqueza está nas formações florestais da

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Mata Atlântica, o bioma mais rico do país (Alexandre Salino & Thais Elias Almeida, dados inéditos). Os 468 táxons estão distribuídos em 27 famílias e 89 gêneros, sendo que as famílias mais ricas são: Pteridaceae com 66 espécies, Lomariopsidaceae com 45, Polypodiaceae com 40, Thelypteridaceae com 33, Aspleniaceae com 32 espécies e duas variedades, Schizaeaceae com 29 espécies, Hymenophyllaceae e Lycopodiaceae com 27 espécies cada e Grammitidaceae com 26 espécies. Os gêneros mais representativos são: Elaphoglossum (43 espécies), Thelypteris (33), Asplenium (31 espécies e duas variedades), Anemia (25 espécies), Blechnum e Adiantum (18 espécies cada – Blechnum tem 17 spp. e um híbrido). Desses 465 táxons, apenas 18 (aproximadamente 3,8%) estão restritos a formações da Cadeia do Espinhaço (Tabela 1). O baixo número de espécies restritas, em uma região marcada por endemismos, pode ser explicado pela ampla capacidade de dispersão dos esporos das pteridófitas . Eles são minúsculos, leves, e viajam longas distâncias pela ação do vento (Kato, 1993). Essa facilidade de dispersão dos esporos faz com que os padrões de distribuição geográfica das pteridófitas sejam determinados mais pela disponibilidade de hábitats adequados à sua sobrevivência do que pela capacidade de dispersão e colonização. Smith (1972), comparando a distribuição das pteridófitas com a das angiospermas, observa que a porcentagem de gêneros e espécies endêmicas é bem menor nas pteridófitas do que nas angiospermas, afirmação corroborada pelos dados aqui apresentados. Entretanto, a riqueza encontrada não está distribuída de forma uniforme ao longo da extensão geográfica da Cadeia do Espinhaço; na região do Quadrilátero Ferrífero ocorrem 380 espécies e duas variedades; na região da Serra do Cipó, 263 espécies; no Planalto de Diamantina, 215 espécies; na Serra do Cabral, apenas 43; na região norte da Cadeia do Espinhaço em Minas Gerais (Serra de Grão Mogol e serras adjacentes, ao norte do Planalto de Diamantina), 71 espécies e na região da Chapada Diamantina, parte baiana da Cadeia do espinhaço, ocorrem 115 espécies. É importante ressaltar que tanto a região Norte da Cadeia em Minas Gerais (Serra de Jaíba) e a região da Serra do Cabral são áreas onde foram feitas poucas coletas de pteridófitas. A heterogeneidade da riqueza nas diferentes regiões do Espinhaço está relacionada com a influência dos biomas adjacentes, principalmente nas formações florestais. A Serra do Cabral, por exemplo, está circundada por formações campestres e savânicas do bioma Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

Cerrado; a Chapada Diamantina apresenta influência dos elementos da Caatinga; e o Quadrilátero Ferrífero, a Serra do Cipó e o Planalto de Diamantina apresentam grande influência da Mata Atlântica. Várias das espécies aqui listadas são citadas pela primeira vez para o estado de Minas Gerais. São elas: Cyathea bipinnatifida, antes conhecida somente dos estados do Acre e Roraima; Oleandra articulata, conhecida apenas do norte do país; Culcita coniifolia, citada apenas para os estados de Rio de Janeiro e São Paulo; Lellingeria pumila, antes considerada endêmica do estado do Espírito Santo; Lellingeria schenckii, amplamente distribuída na Mata Atlântica em toda a região sudeste e sul do Brasil; Micropolypodium setosum, espécie amplamente distribuída no domínio da Mata Atlântica nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina; Isoetes gigantea, registrado para a Serra dos Órgãos e para a Cadeia do Espinhaço no município de Rio de Contas, Chapada Diamantina; Lycopodiella benjaminiana, antes conhecida apenas do estado do Mato Grosso; Niphidium rufosquamatum, amplamente distribuída por toda a região sul do Brasil; Eriosorus flexuosus, espécie citada erroneamente por Tryon (1970) para o estado do Espírito Santo, com base em uma coleta de Glaziou (15739) na localidade “Cerro Batatal” (essa localidade na verdade faz parte do complexo da Serra do Caraça, município de Catas Altas, localizado no Quadrilátero Ferrífero). Além disso, no período da referida coleta, Glaziou não esteve no estado do Espírito Santo, e uma coleta recente da RPPN Santuário do Caraça (Salino 9576) identificada como E. flexuosus corrobora a correção da citação de Tryon; Schizaea poeppigiana, espécie citada no Brasil para os estados do Amazonas, Santa Catarina e para o Distrito Federal; e por fim Megalastrum grande, planta conhecida anteriormente apenas das florestas da Serra do Mar, em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Lycopodiella iuliformis, Melpomene xiphopteroides e Microgramma geminata são espécies já registradas na Cadeia do Espinhaço, mas apenas no estado da Bahia (Chapada Diamantina), sendo inéditos os registros em Minas Gerais. De todas as espécies registradas, 42 foram consideradas ameaçadas de extinção na Revisão da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora do Estado de Minas Gerais (Alexandre Salino & Thaís Elias Almeida, dados inéditos). Esse valor representa aproximadamente 10% de todas as espécies que ocorrem na Cadeia do Espinhaço, sem contar as espécies que ocorrem exclusivamente na Chapada Diamantina


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e não têm avaliação quanto ao seu estado de conservação. Apenas 10 espécies consideradas ameaçadas não se encontram em nenhuma Unidade de Conservação na Cadeia do Espinhaço. São elas: Blechnum sampaioanum, Dryopteris patula, Hymenophyllum silveirae, Ophioglossum crotalophoroides, O. ellipticum, Microgramma lycopodioides, Argyrochosma nivea var. flava, Pellaea cymbiformis, P. riedelii e Trachypteris pinnata. Em uma rápida avaliação da eficiência das Unidades de Conservação existentes na Cadeia do Espinhaço com relação às espécies de pteridófitas, encontramos resultados razoavelmente favoráveis. Aproximadamente 75,9% dos táxons (353) listados nesse trabalho estão sob proteção legal em uma ou mais Unidades de Conservação de Proteção Efetiva. As UC’s das quais foram obtidos dados são: Estação Ecológica de Fechos (Nova Lima, MG), Estação Ecológica do Tripuí (Ouro Preto, MG), Parque Estadual do Itacolomi (Ouro Preto e Mariana, MG), Parque Estadual da Serra do Cabral (Buenópolis e Joaquim Felício, MG), Parque Estadual do Biribiri (Diamantina, MG), Parque Estadual do Pico do Itambé (Santo Antônio do Itambé, MG), Parque Estadual do Rio Preto (São Gonçalo do Rio Preto, MG), Parque Estadual da Serra Negra (Itamarandiba, MG), Estação Ecológica de Acauã (Turmalina e Leme do Prado, MG), Parque Nacional da Serra do Cipó (Santana do Riacho e Conceição do Mato Dentro, MG), Parque Estadual da Serra do Intendente (Conceição do Mato Dentro, MG), RPPN Santuário do Caraça (Catas Altas, MG), RPPN Andaime (Rio Acima, MG), RPPN Capitão do Mato (Nova Lima, MG), RPPN Mata do Jambreiro (Nova Lima, MG), RPPN Tumbá (Nova Lima, MG), RPPN Capivari (Santa Bárbara e Itabirito), Parque Estadual do Morro do Chapéu (Morro do Chapéu, BA) e Parque Nacional da Chapada Diamantina (Lençóis, Palmeiras, Andaraí e Mucugê, BA), sendo que os dados dos dois últimos parques são do trabalho de Nonato (2005). Várias das Unidades existentes – especialmente as públicas – estão em fase de implementação ou são muito recentes e têm problemas para proteger efetivamente as espécies. Os principais impactos vêm de criação de gado, posseiros, extrativismo predatório, caça, poluição, etc. dentro de seus limites. Dentro desse quadro, destacam-se as reservas particulares, que muitas vezes contam com mais recursos e pessoal para patrulhar e monitorar os seus limites. Algumas regiões da Cadeia do Espinhaço consideravelmente ricas não estão dentro de nenhuma Unidade de Conservação efetiva. A região do município de Ouro Preto, do ponto de vista biogeográfico, é única,

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apresentando relevo acidentado, altitudes elevadas (chegando a mais de 1.800m), a peculiaridade de possuir um solo ferruginoso e uma forte influência de elementos da Mata Atlântica. Além disso, existem esforços contínuos de coleta nessa localidade há mais de 100 anos. Essa região abriga nove das 19 espécies restritas ao Espinhaço e aproximadamente metade das espécies que não ocorrem em nenhuma Unidade de Conservação, sendo ainda uma das regiões mais ricas da Cadeia. Outras regiões também são dignas de nota, como a região do entorno do Parque Nacional da Serra do Cipó, e a região de Diamantina, especialmente no município de Gouveia e o entorno do Parque Estadual do Rio Preto (APA Felício). Quanto à distribuição geográfica das espécies, podese agrupar as mesmas em cinco situações distintas: 1) Plantas que possuem ampla distribuição geográfica e ocorrem em variados biomas e ecossistemas. Essas plantas possuem maior tolerância a variações ambientais, e normalmente são encontradas em situações ecológicas bem distintas ao longo de sua área de ocorrência, e.g. Dicranopteris flexuosa, Pteridium arachnoideum, Rumohra adiantiformis, Anemia phyllitidis, Equisetum giganteum, etc. 2) Plantas que ocorrem caracteristicamente na Mata Atlântica e acabam colonizando as formações florestais associadas à Cadeia do Espinhaço. É importante ressaltar que a existência dessas florestas torna possível a existência de um número tão alto de espécies na região. As chamadas matas nebulares (Floresta Ombrófila Densa AltoMontana) são exemplos típicos dessa situação, pois nesse ambiente espécies típicas da Floresta Atlântica costeira (Serra do Mar e Serra da Mantiqueira) são capazes de sobreviver, e.g. Megalastrum grande, Alsophila capensis, Polybotrya cylindrica, Thelypteris ireneae, Micropolypodium setosum e Lellingeria wittigiana, sendo que a última espécie é registrada pela primeira vez para a Cadeia do Espinhaço, conhecida anteriormente apenas na Serra da Mantiqueira e na Serra do Mar. 3) Plantas que ocorrem em disjunção com os Andes e/ou as serras do Norte da América do Sul, na Mata Atlântica brasileira e na Cadeia do Espinhaço. A distribuição dessas espécies parece ser restrita aos pontos mais altos das regiões montanhosas. Esses picos equivalem a “ilhas” biogeográficas, apresentando condições ambientais similares, sendo separados por áreas não tão favoráveis ao estabelecimento de certas espécies. As populações de espécies disjuntas chegam a estar separadas por mais de 1.000km de Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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distância. Exemplos podem ser encontrados ao longo de toda a Cadeia, destacando-se certas espécies como Melpomene xiphopteroides, espécie conhecida das serras do norte do país (Labiak & Prado, 2005), da Chapada Diamantina (Nonato, 2005) e como registro inédito do Pico do Itambé, município de Santo Antônio do Itambé, no Planalto de Diamantina, Minas Gerais. Já a espécie Lycopodiella iuliformis, outra que segue o mesmo padrão descrito anteriormente, tem registros para a Amazônia brasileira (Olgaard & Windisch, 1987), para a Chapada Diamantina (Nonato, 2005) e para a Serra de Grão Mogol, região norte da Cadeia do Espinhaço no estado de Minas Gerais. Outro registro interessante é o de Eriosorus flexuosus para a Serra do Caraça. Essa espécie possui distribuição ampla na América do Sul (Andes) e o único registro para o Brasil é do Pico do Inficcionado. Muitos outros exemplos dessas disjunções relacionadas às “ilhas” biogeográficas dos picos da Cadeia do Espinhaço devem existir, sendo desconhecidos até o momento por ausência de informações ou por falta de coletas. 4) Em alguns casos, observam-se grupos de plantas que não são necessariamente exclusivos da Cadeia do Espinhaço, mas apresentam uma riqueza maior nos campos rupestres e formações associadas, e.g. os gêneros Anemia, Pellaea e Cheilanthes. Esses gêneros apresentam espécies endêmicas e uma riqueza significativa em campos rupestres existentes fora da Cadeia do Espinhaço, como no estado de Goiás. Outro exemplo interessante é o gênero Huperzia, que ocorre em todo o Neotrópico. Entretanto, a região que apresenta o maior número de espécies são os Andes, e aproximadamente 70% dessas são endêmicas (Olgaard, 1996). O mesmo autor cita a região Sudeste e Sul do Brasil como a segunda em número de endemismos, apesar do número de espécies que ocorrem nessa região ser bem menor do que na região andina. Alguns dos endemismos brasileiros do gênero estão na Cadeia do Espinhaço (Tabela 1). A espécie Huperzia itambensis, endêmica do estado de Minas Gerais, tem sua distribuição restrita ao Pico do Itambé (Santo Antônio do Itambé) e ao Pico Dois Irmãos (São Gonçalo do Rio Preto), que distam entre si aproximadamente quarenta quilômetros em linha reta. Essa espécie só ocorre acima de 1.500 metros. Já na Serra do Caraça (Quadrilátero Ferrífero), ocorre Huperzia rubra, restrita a essa serra, e somente associada a espécies de Vellozia acima dos 1.700 metros de altitude. Segundo dados de literatura Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

e de herbários (Vasconcelos et al., 2002), H. rubra apresentava uma distribuição mais ampla dentro do Quadrilátero Ferrífero. Sua ocorrência também já foi registrada para a Serra da Piedade (município de Caeté – ano de 1915), Serra do Itacolomi (município de Ouro Preto – ano de 1902), e embora esforços de coleta tenham sido dispendidos recentemente nessas localidades, a única população remanescente atualmente conhecida se localiza na RPPN Santuário do Caraça. O terceiro caso de endemismo é Huperzia mooreana, espécie restrita à Serra do Sincorá, na Bahia (Chapada Diamantina). A existência de áreas na Cadeia do Espinhaço com pouca ou nenhuma amostragem botânica e de áreas muito bem amostradas gera um viés na discussão de riqueza, distribuição e conservação de espécies. Estudos posteriores podem – e devem – alterar os dados acima discutidos. A relação da riqueza de pteridófitas com as regiões serranas é um padrão que emerge dos dados apresentados, corroborando citações da literatura, como de Tryon (1972) e Moran (1995b). Além da riqueza, a Cadeia do Espinhaço apresenta importância extrema do ponto de vista biogeográfico, visto que ela se apresenta como ponte entre a região Sudeste e Sul do Brasil e a região sul dos Andes. Ela serve não só como abrigo para grupos oriundos dos Andes, mas como área de dispersão desse grande centro de diversidade e endemismo para a Mata Atlântica brasileira. A rota inversa também deve ser verdadeira. O alto número de espécies e suas relações biogeográficas mostram quão estratégico é conservar a biodiversidade presente na Cadeia do Espinhaço, conservando não só o patrimônio genético, mas também parte da história das espécies na América do Sul.

Agradecimentos À Fundação O Boticário de Proteção à Natureza pelo apoio financeiro dado ao projeto “Riqueza, distribuição geográfica e conservação das pteridófitas no Estado de Minas Gerais, Brasil”, que proporcionou gerar muitos dados apresentados neste artigo. Ao colega Gustavo Heringer pela ajuda nos trabalhos de campo e apoio no laboratório. À Biotrópicos, Conservação Internacional e Fundação Biodiversitas pelo convite e apoio. Ao IBAMA e IEF-MG pela concessão de licenças de coleta e pesquisa e pelo apoio nas Unidades de Conservação. Ao revisor do manuscrito pelas sugestões e correções.


Salino & Almeida |

Tabela 1 – Listagem das espécies de pteridófitas que ocorrem exclusivamente na Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia).

TÁXON

FONTE

Aspleniaceae Asplenium serra var. geraense C. Chr.

BHCB

A. schwackei Christ

BHCB

Grammitidaceae Ceradenia warmingii (C. Chr.) Labiak

OUPR

Micropolypodium perpusillum (Maxon) A.R. Sm.

BHCB

Hymenophyllaceae Hymenophyllum silveirae Christ

BHCB

Lomariopsidaceae Elaphoglossum badinii Novelino

UB

E. nanuzae Novelino

BHCB

Lycopodiaceae Huperzia itambensis B. Olg. & P. G. Windisch

BHCB

H. mooreana (Baker) Holub

Bibliografia

H. rubra (Cham. & Schltdl.) Trevis.

BHCB

Polypodiaceae Polypodium minarum (Weath.) Salino

BHCB

Pteridaceae Doryopteris trilobata Prado SPF Eriosorus sellowianus (Kuhn) Copel.

BHCB

Pellaea crenata R.M. Tryon

BHCB

P. cymbiformis Prado SP P. gleichenioides (Gardn.) Christ

BHCB

P. riedelii Baker

BHCB

Schizaeaceae Anemia rutifolia Mart.

BHCB

Referências bibliográficas Almeida-Abreu, P. A. & F.E. Renger. 2002. Serra do Espinhaço: Um orógeno de colisão do mesoproterozóico. Revista Brasileira de Geociências 32(1): 1-14. Badini, J. 1977. Espécies de Ophioglossum em Ouro Preto. Anais do 28o. Congresso Nacional de Botânica, pp. 45-49. Sociedade Botânica do Brasil, Ouro Preto, Brasil. Alston, A.H.G.; A.C. Jermy & J.M. Rankin.1981. The genus Selaginella in tropical South America. Bulletin of the British Museum Natural History, Botany series 9(4): 233-330. Barros, I.C.L. 1998. Pteridófitas. In: M.S. Guedes & M.D.R. Orge (eds.). Check-list das espécies vasculares de Morro do Pai Inácio (Palmeiras) e Serra da Chapadinha (Lençóis). Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Instituto de Biologia – Universidade Federal da Bahia. Salvador, Brasil. Carvalho, I.R. 1982. O gênero Anemia Sw. nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço no estado de Minas Gerais. Dissertação de Mestrado, Instituto de Biociências, Universidade

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Salino & Almeida |

59

anexo – Lista das espécies de pteridófitas ocorrentes na Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia), Brasil. A fonte refere-se à citação de herbário ou de bibliografia. Legenda das regiões: QF = Quadrilátero Ferrífero/MG, SC = Serra do Cipó/MG, PD = Planalto de Diamantina/MG, CA = Serra do Cabral/MG, GM = região de Grão Mogol/MG e CD = Chapada da Diamantina/BA. * registro novo para Minas Gerais; ** espécie ameaçada em Minas Gerais; *** registro novo para Minas Gerais e espécie ameaçada em Minas Gerais.

TÁXON

FONTE

QF

SC

PD

CA GM

CD

Aspleniaceae Antigramma balansae (Baker) L. Sylvestre & P.G. Windisch

BHCB

Asplenium abscissum Willd.

BHCB

A. auriculatum Sw.

BHCB

A. auritum Sw.

BHCB

A. campos-portoi Brade **

BHCB

A. cirrhatum Rich. ex Willd.

BHCB

A. claussenii Hieron.

BHCB

A. cristatum Lam.

BHCB

A. feei Kunze ex Fée

BHCB

A. formosum Willd.

BHCB

A. harpeodes Kunze

BHCB

A. inaequilaterale Willd.

BHCB

A. incurvatum Fée

BHCB

A. kunzeanum Klotzsch ex Rosenst.

BHCB

A. mucronatum C. Presl

BHCB

A. olygophyllum Kaulf.

BHCB

A. otites Link

BHCB

A. pediculariifolium A. St.-Hil.

BHCB

A. praemorsum Sw.

BHCB

A. pseudonitidum Hook.

BHCB

A. pteropus Kaulf.

BHCB

A. pulchellum Raddi

BHCB

A. pumilum Sw. **

BHCB

A. raddianum Gaudich.

BHCB

A. radicans L.

BHCB

A. scandicinum Kaulf.

BHCB

A. schwackei Christ **

BHCB

A. serra Langsd. & Fisch. var. serra

BHCB

A. serra var. geraense C. Chr.

BHCB

A. serratum L.

BHCB

A. stuebelianum Hieron.

BHCB

A. triquetrum Murakami & R.C. Moran

BHCB

A. uniseriale Raddi

BHCB

A. wacketii Rosenst.

BHCB

• •

• •

Blechnaceae Blechnum asplenioides Sw.

BHCB

B. austrobrasilianum de la Sota

BHCB

B. binervatum ssp. acutum (Desv.) R.M. Tryon & Stolze

BHCB

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


60 | Diversidade e conservação das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

PD

B. brasiliense Desv.

BHCB

B. cordatum (Desv.) Hieron.

BHCB

B. divergens (Kunze) Mett.

BHCB

B. glaziovii Christ

BHCB

B. gracile Kaulf.

BHCB

B. lanceola Sw.

BHCB

B. lehmannii Hieron.

BHCB

B. occidentale L.

BHCB

B. polypodioides Raddi

BHCB

B. proliferum Rosenst.

BHCB

B. pteropus (Kunze) Mett.

BHCB

B. sampaioanum Brade **

BHCB

B. schomburgkii (Klotzsch) C. Chr.

BHCB

B. serrulatum Rich.

BHCB

B. x caudatum Cav.

BHCB

Salpichlaena volubilis (Kaulf.) J. Sm.

BHCB

CA GM

CD •

Cyatheaceae Alsophila capensis ssp. polypodioides (Sw.) Conant

BHCB

A. setosa Kaulf.

BHCB

A. sternbergii (Sternb.) Conant

BHCB

Cnemidaria uleana (Samp.) R.M. Tryon var. uleana

BHCB

BHCB

Cyathea axillaris (Fée) Lellinger C. bipinnatifida (Baker) Domin ***

Salino 9955

• •

C. corcovadensis (Raddi) Domin

BHCB

C. delgadii Sternb.

BHCB

C. dichromatolepis (Fée) Domin

BHCB

C. microdonta (Desv.) Domin

BHCB

C. myriotricha (Baker) R.C. Moran & J. Prado

BHCB

C. phalerata Mart.

BHCB

C. poeppigii (Hook.) Domin

BHCB

C. rufa (Fée) Lellinger

BHCB

C. villosa Willd.

BHCB

Sphaeropteris gardneri (Hook.) R.M. Tryon

BHCB

Davalliaceae Nephrolepis cordifolia (L.) C. Presl

BHCB

N. occidentalis Kunze

BHCB

N. pectinata (Willd.) Schott

BHCB

N. pendula (Raddi) J. Sm.

BHCB

N. rivularis (Vahl) Mett. Oleandra articulata (Sw.) C. Presl * O. hirta Brack.

BHCB Salino 8851 BHCB

Dennstaedtiaceae Dennstaedtia cicutaria (Sw.) T. Moore

BHCB

• continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Salino & Almeida |

61

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

PD

CA GM

D. dissecta (Sw.) T. Moore

BHCB

D. globulifera (Poir.) Hieron.

BHCB

Histiopteris incisa (Thunb.) J. Sm.

BHCB

Hypolepis aquilinaris (Fée) Christ

BHCB

H. repens (L.) C. Presl

BHCB

Lindsaea arcuata Kunze

BHCB

L. bifida (Kaulf.) Mett. ex Kuhn

BHCB

L. botrychioides A. St.-Hil.

BHCB

L. divaricata Klotzsch

BHCB

• •

L. guianensis (Aubl.) Dryand.

BHCB

L. lancea (L.) Bedd.

BHCB

L. ovoidea Fée

CD

Bibliografia

L. quadrangularis Raddi

BHCB

L. stricta (Sw.) Dryand.

BHCB

L. virescens Sw.

BHCB

Paesia glandulosa (Sw.) Kuhn

BHCB

Pteridium arachnoideum (Kaulf.) Maxon

BHCB

Saccoloma elegans Kaulf.

BHCB

S. inaequale (Kunze) Mett.

BHCB

Dicksoniaceae Culcita coniifolia (Hook.) Maxon *** Dicksonia sellowiana Hook.

Mota 1469 BHCB

• •

Dryopteridaceae Arachniodes denticulata (Sw.) Ching

BHCB

Cyclodium meniscioides (Willd.) C. Presl var. meniscioides

BHCB

Didymochlaena truncatula (Sw.) J. Sm.

BHCB

Dryopteris patula (Sw.) Underw. **

BHCB

D. wallichiana (Spreng) Hyl. var. wallichiana

BHCB

Olfersia cervina (L.) Kunze

BHCB

Polybotrya cylindrica Kaulf.

BHCB

P. speciosa Schott

BHCB

Polystichum montevidense (Spreng) Rosenst.

BHCB

P. platyphyllum (Willd.) C. Presl

BHCB

Rumohra adiantiformis (G. Forst.) Ching

BHCB

Equisetaceae Equisetum giganteum L.

BHCB

Gleichniaceae Dicranopteris flexuosa (Schrad.) Underw.

BHCB

D. rufinervis (Mart.) Ching

BHCB

Gleichenella pectinata (Willd.) Ching

BHCB

Sticherus bifidus (Willd.) Ching

BHCB

S. ferrugineus (Desv.) J. Gonzales

BHCB

• •

continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


62 | Diversidade e conservação das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

PD

CA GM

S. gracilis (Mart.) Copel.

BHCB

S. lanosus (Christ) J. Gonzales

BHCB

S. lanuginosus (Fée) Nakai

BHCB

S. nigropaleaceus (J. W. Sturm) Prado & Lellinger

BHCB

S. pruinosus (Mart.) Ching

BHCB

CD

• •

Grammitidaceae Ceradenia albidula (Baker) L.E. Bishop

BHCB

C. capillaris (Desv.) L.E. Bishop **

OUPR

C. spixiana (Mart. ex Mett.) L.E. Bishop

BHCB

C. warmingii (C. Chr.) Labiak **

OUPR

Cochlidium pumilum C. Chr. **

OUPR

C. punctatum (Raddi) L.E. Bishop

BHCB

C. serrulatum (Sw.) L.E. Bishop

BHCB

Grammitis fluminensis Fée

BHCB

G. leptopoda (C.H. Wright) Copel. **

BHCB

Lellingeria apiculata (Kunze ex Klotszch) A.R. Sm. & R.C. Moran

BHCB

L. brevistipes (Mett.) A.R. Sm. & R.C. Moran

BHCB

L. depressa (C. Chr.) A.R. Sm. & R.C. Moran **

BHCB

BHCB

L. organensis (Gardner) A.R. Sm. & R.C. Moran

• •

L. pumila Labiak ***

Salino 8379

L. schenckii (Hieron.) A.R. Sm. & R.C. Moran *

Salino 8912

L. wittigiana (Fée & Glaziou) A.R. Sm.

BHCB

Melpomene flabelliformis (Poir.) A.R. Sm. & R.C. Moran

BHCB

M. melanostica (Kunze) A.R. Sm. & R.C. Moran

BHCB

M. pilosissima (M. Martens & Galeotti) A.R. Sm. & R.C. Moran

BHCB

Almeida 611

M. xiphopteroides (Liebm.) A.R. Sm. & R.C. Moran *

Micropolypodium achilleifolium (Kaulf.) Labiak & F.B. Matos

BHCB

M. gradatum (Baker) Labiak & F.B. Matos

BHCB

M. perpusillum (Maxon) A.R. Sm. **

BHCB

M. setosum (Kaulf.) A.R. Sm. *

Almeida 552

Terpsichore chrysleri (Copel.) A.R. Sm.

BHCB

T. reclinata (Brack.) Labiak

BHCB

Hymenophyllaceae Hymenophyllum asplenioides Sw.

BHCB

H. caudiculatum Mart.

BHCB

H. elegans Spreng.

BHCB

H. fendlerianum J.W. Sturm

BHCB

H. fragile (Hedw.) C.V. Morton

BHCB

H. fucoides (Sw.) Sw.

Bibliografia

H. hirsutum (L.) Sw.

BHCB

H. plumosum Kaulf.

BHCB

H. polyanthos Sw.

BHCB

• • • continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Salino & Almeida |

63

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

H. pulchellum Schltdl. & Cham.

BHCB

H. rufum Fée

BHCB

H. sampaioanum Brade & Rosenst. ***

Salino 8861

PD

CA GM

CD

H. silveirae Christ **

BHCB

Trichomanes anadromum Rosenst.

BHCB

T. angustatum Carmich.

BHCB

T. cristatum Kaulf.

BHCB

T. diaphanum Humb. & Bonpl. ex Kunth

BHCB

T. elegans Rich.

BHCB

T. hymenoides Hedw.

BHCB

T. krausii Hook. & Grev.

BHCB

T. pellucens Kunze

BHCB

T. pilosum Raddi

BHCB

T. pinnatum Hedw.

BHCB

T. polypodioides L.

BHCB

T. radicans Sw.

BHCB

T. rigidum Sw.

BHCB

T. rupestre (Raddi) v. d. Bosch

BHCB

Isoetaceae Isoetes gigantea U. Weber * Isoetes sp.

Salino 1503 BHCB

Lomariopsidaceae Elaphoglossum acrocarpum (Mart.) T. Moore

BHCB

E. actinotrichum (Mart.) T. Moore

BHCB

E. badinii Novelino

UB

E. balansae C. Chr.

BHCB

E. burchelii (Baker) C. Chr.

BHCB

E. decoratum (Kunze) T. Moore

BHCB

E. edwalii Rosenst.

BHCB

E. erinaceum (Fée) T. Moore

BHCB

E. ernestii Brade

OUPR

E. eximium (Mett.) Christ

BHCB

E. gardnerianum (Kunze ex Fée) T. Moore

BHCB

E. gayanum (Fée) T. Moore

BHCB

E. glabellum J. Sm.

BHCB

E. glaziovii (Fée) Brade

BHCB

E. horridulum (Kaulf.) J. Sm.

BHCB

E. hymenodiastrum (Fée) Brade

BHCB

E. iguapense Brade

BHCB

E. inaequalifolium (Jenm.) C. Chr. E. itatiayense Rosenst.

NY BHCB

• • continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


64 | Diversidade e conservação das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

E. langsdorffii (Hook. & Grev.) T. Moore

BHCB

E. lindbergii (Mett.) Rosenst.

BHCB

E. lingua (C. Presl) Brack.

BHCB

E. lisboae Rosenst.

BHCB

E. longifolium (Jacq.) J. Sm.

BHCB

E. luridum (Fée) Christ

BHCB

E. macahense (Fée) Rosenst.

BHCB

E. macrophyllum (Mett.) Christ

BHCB

E. minutum (Pohl ex Fée) T. Moore

BHCB

E. nanuzae Novelino

BHCB

E. nigrescens (Hook.) T. Moore

BHCB

E. obliquatum (Fée) Christ

BHCB

E. peltatum (Sw.) Urban **

BHCB

E. petiolatum (Sw.) Urban

PD

CA GM

• •

E. plumosum (Fée) T. Moore

BHCB

E. productum Rosenst.

BHCB

E. scapellum (Kunze ex Fée) T. Moore

BHCB

E. schwackeanum Brade

BHCB

E. spathulatum (Bory) T. Moore

NY •

CD

• •

NY

E. strictum (Raddi) T. Moore

BHCB

E. tamandarei Brade

BHCB

E. tectum (Humb. & Bonpl. ex Willd.) T. Moore

BHCB

E. tenuiculum (Fée) T. Moore

BHCB

E. vagans (Mett.) Hieron.

BHCB

Lomagramma guianensis (Aubl.) C. Presl

BHCB

Lomariopsis marginata (Schrad.) Kuhn

BHCB

Lophosoriaceae Lophosoria quadripinnata (J. F. Gmel.) C. Chr.

BHCB

Lycopodiaceae Huperzia acerosa (Sw.) Holub

Bibliografia

H. biformis (Hook.) Holub

BHCB

H. comans (Nessel) B. Olg. & P. G. Windisch

BHCB

H. flexibilis (Fée) B. Olg.

BHCB

H. fontinaloides (Spring) Trevis.

BHCB

H. heterocarpon (Fée) Holub

BHCB

H. intermedia Trevis.

BHCB

H. itambensis B. Olg. & P. G. Windisch **

BHCB

H. martii (Wawra) Holub **

BHCB

H. mollicoma (Spring) Holub

BHCB

H. mooreana (Baker) Holub H. pungentifolia (Silveira) B. Olg.

• •

SPF BHCB

• continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Salino & Almeida |

65

...continuação do Anexo

TÁXON H. recurvifolia Rolleri

FONTE

QF

SC

PD

CA GM

Bibliografia

H. reflexa (Lam.) Trevis.

BHCB

H. rubra (Cham. & Schlecht) Trevis. **

BHCB

H. sellowiana (Herter) B. Olg.

OUPR

BHCB

Lycopodiella alopecuroides (L.) Cranfill L. benjaminiana P.G. Windisch ***

Salino 9963

CD •

L. camporum B. Olg. & P. G. Windisch

BHCB

L. carnosa (Silveira) B. Olg.

BHCB

L. caroliniana (L.) Pic.-Serm.

BHCB

L. cernua (L.) Pic.-Serm.

BHCB

L. geometra B. Olg. & P. G. Windisch

BHCB

L. iuliformis (Underw. & F.E. Lloyd) B. Olg. *

CFCR 10846 (SPF)

• •

L. pendulina (Hook.) B. Olg.

BHCB

Lycopodium clavatum L.

BHCB

L. thyoides Willd.

BHCB

• •

Marattiaceae Danaea geniculata Raddi

BHCB

D. moritziana C. Presl

BHCB

Marattia cicutifolia Kaulf.

BHCB

Ophioglossaceae Ophioglossum crotalophoroides Wall. **

BHCB

O. ellipticum Hook. & Grev. **

BHCB

O. palmatum L.

BHCB

O. reticulatum L.

BHCB

Osmundaceae Osmundastrum cinnamomeum (L.) C. Presl

BHCB

Osmunda regalis L.

BHCB

Polypodiaceae Campyloneurum acrocarpon Fée C. aglaolepis (Alston) de la Sota C. angustifolium (Sw.) Fée

BHCB

BHCB

Bibliografia

C. austrobrasilianum (Alston) de la Sota

BHCB

C. centrobrasilianum Lellinger

BHCB

C. decurrens (Raddi) C. Presl

BHCB

C. nitidum (Kaulf.) C. Presl

BHCB

C. phyllitidis (L.) C. Presl C. rigidum J. Sm. Microgramma geminata (Schrad.) R.M. Tryon *** M. lycopodioides (L.) Copel. **

• • •

• •

Bibliografia BHCB

Salino 10900

Bibliografia

M. percussa (Cav.) de la Sota

BHCB

M. squamulosa (Kaulf.) de la Sota

BHCB

M. tecta (Kaulf.) Alston var. tecta

BHCB

continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


66 | Diversidade e conservação das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

PD

CA GM

CD

M. vaccinniifolia (Langsd. & Fisch.) Copel.

BHCB

Niphidium crassifolium (L.) Lellinger

BHCB

N. rufosquamatum Lellinger *

Salino 9322

Pecluma camptophyllaria (Fée) M.G. Price

BHCB

P. chnoophora (Kunze) Salino & F.C. Assis

BHCB

P. filicula (Kaulf) M.G. Price

BHCB

P. pectinatiformis (Lindm.) M.G. Price

BHCB

P. pilosa (A.M. Evans) M. Kessler & A.R. Sm.

BHCB

P. plumula (Humb. & Bonpl. ex Willd.) M.G. Price

BHCB

P. recurvata (Kaulf.) M.G. Price

BHCB

P. robusta (Fée) M. Kessler & A.R. Sm.

BHCB

P. truncorum (Lindm.) M.G. Price

BHCB

Phlebodium pseudoaureum (Cav.) Lellinger

BHCB

Pleopeltis astrolepis (Liebm.) Fourn.

BHCB

P. hirsutissima (Raddi) de la Sota

BHCB

P. lepidopteris (Langsd. & Fisch.) de la Sota

Bibliografia

P. macrocarpa (Willd.) Kaulf.

BHCB

P. minarum (Weath.) Salino

BHCB

P. pleopeltifolia (Raddi) Alston

BHCB

P. squalida (Vell.) de la Sota

BHCB

Serpocaulon catharinae (Langsd. & Fisch.) A.R. Sm.

BHCB

S. fraxinifolium (Jacq.) A.R. Sm.

BHCB

S. latipes (Langsd. & Fisch.) A.R. Sm.

BHCB

UC

S. mexiae (Copel.) A.R. Sm.

S. triseriale (Sw.) A.R. Sm.

BHCB

S. vacillans (Link) A.R. Sm.

BHCB

• • • •

Pteridaceae Acrostichum danaeifolium Langsd. & Fisch.

Bibliografia

Adiantopsis chlorophylla (Sw.) Fée

BHCB

A. perfasciculata Sehnem

BHCB

A. radiata (L.) Fée

BHCB

A. regularis (Kunze) T. Moore

BHCB

Adiantum abscissum Schrad.

BHCB

A. concinnum Humb. & Bonpl. ex Willd. **

BHCB

A. deflectens Mart.

BHCB

A. glaucescens Klotzsch

BHCB

A. gracile Fée

BHCB

A. intermedium Sw.

BHCB

A. latifolium Lam.

BHCB

A. lorentzii Hieron.

BHCB

A. pentadactylon Langsd. & Fisch.

BHCB

A. platyphyllum Sw.

BHCB

• •

• •

continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Salino & Almeida |

67

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

PD

CA GM

A. poiretii Wikstr.

BHCB

A. raddianum C. Presl

BHCB

A. rhizophytum Schrad.

BHCB

A. serratodentatum Willd.

BHCB

A. sinuosum Gardn.

BHCB

A. subcordatum Sw.

BHCB

A. terminatum Miq.

BHCB

A. tetraphyllum Willd.

BHCB

Argyrochosma nivea var. flava (Hook.) Ponce **

BHCB

Ceratopteris thalictroides (L.) Brongn.

• •

Bibliografia

Cheilanthes bradei Prado & A.R. Sm.

BHCB

C. eriophora (Fée) Mett.

BHCB

C. flexuosa Kunze

BHCB

C. goyazensis (Taubert) Domin C. pohliana (Kunze) Mett.

BHCB Bibliografia

CD

Doryopteris collina (Raddi) J. Sm.

BHCB

D. concolor (Langsd. & Fisch.) Kuhn

BHCB

D. crenulans (Fée) Christ

BHCB

D. lomariacea Kaulf.

BHCB

D. ornithopus (Hook. & Baker) J. Sm.

BHCB

D. paradoxa (Fée) Christ

BHCB

D. pentagona Raddi

BHCB

Bibliografia

D. rediviva Fée D. sagittifolia (Raddi) J. Sm. D. trilobata Prado D. varians (Raddi) J. Sm. Eriosorus flexuosus (Humb. & Bonpl. ex Kunth) Copel. ***

BHCB

SPF BHCB Salino 9576

BHCB

E. myriophyllus (Sw.) Copel.

BHCB

E. sellowianus (Kuhn) Copel. **

BHCB

Hemionitis tomentosa (Lam.) Trevis.

BHCB

Pellaea crenata R.M. Tryon

BHCB

P. gleichenioides (Gardn.) Christ **

E. insignis (Kuhn) A.F. Tryon **

P. cymbiformis Prado **

SP

BHCB

P. pinnata (Kaulf.) Prantl

BHCB

P. riedelii Baker **

BHCB

Pityrogramma calomelanos (L.) Link

BHCB

P. trifoliata (L.) R.M. Tryon

BHCB

Pteris altissima Poir.

BHCB

P. angustata (Fée) C.V. Morton

BHCB

P. brasiliensis Raddi

BHCB

P. decurrens C. Presl

BHCB

• continua...

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68 | Diversidade e conservação das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

PD

CA GM

P. deflexa Link

BHCB

P. denticulata Sw. var. denticulata

BHCB

P. lechleri Mett.

BHCB

P. leptophylla Sw.

BHCB

P. longifolia L.

BHCB

P. multifida Poir.

BHCB

P. plumula Desv.

BHCB

P. splendens Kaulf.

BHCB

Trachypteris pinnata (Hook.) C. Chr. **

CD

BHCB, SPF

Salviniaceae Azolla filiculoides Lam.

Bibliografia

Salvinia auriculata Aublet

Bibliografia

Schizaeaceae Anemia collina Raddi

BHCB

A. elegans (Gardn.) C. Presl

BHCB

A. ferruginea Humb. & Bonpl. ex Kunth

BHCB

A. flexuosa (Sav.) Sw.

BHCB

A. gardneri Hook.

BHCB

A. glareosa Gardn. **

BHCB

A. hirsuta (L.) Sw.

BHCB

A. humilis (Cav.) Sw.

BHCB

A. imbricata Sturm

BHCB

BHCB

A. lanuginosa Brongn. ex Sturm A. mirabilis Brade

Bibliografia •

A. oblongifolia (Cav.) Sw.

BHCB

A. ouropretana Christ

BHCB

A. pallida Gardn. **

BHCB

A. pastinacaria Prantl

BHCB

A. phyllitidis (L.) Sw.

BHCB

A. presliana Prantl

BHCB

A. raddiana Link

BHCB

A. repens Raddi

BHCB

A. rotundifolia Schrad.

BHCB

A. rutifolia Mart.

BHCB

A. tenera Pohl ex Sturm

BHCB

A. tomentosa Sw.

BHCB

A. villosa Humb. & Bonpl. ex Willd.

BHCB

A. warmingii Prantl **

BHCB

• •

Lygodium venustum Sw.

BHCB

L. volubile Sw.

BHCB

Schizaea elegans (Vahl) Sw.

BHCB

S. poeppigiana Sturm ***

Salino 11200

continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Salino & Almeida |

69

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

PD

CA GM

CD

Selaginellaceae Selaginella contigua Baker

BHCB

S. convoluta (Arnott) Spring

BHCB

S. decomposita Spring

BHCB

S. erectifolia Spring S. erythropus (Mart.) Spring

Bibliografia

• •

• •

• •

BHCB

S. flexuosa Spring

BHCB

S. fragillima Silveira

BHCB

Bibliografia

S. marginata (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Spring

BHCB

S. muscosa Spring

BHCB

S. tenuissima Fée

BHCB

S. jungermannioides (Gaudich.) Spring

S. vestiens Baker

F

Tectaroaceae Ctenitis distans (Brack.) Ching

BHCB

C. falciculata (Raddi) Ching

BHCB

C. submarginalis (Langsd. & Fisch.) Ching

BHCB

Lastreopsis amplissima (C. Presl) Tindale

BHCB

L. effusa (Sw.) Tindale

BHCB

Megalastrum connexum (Kaulf.) A.R. Sm. & R.C. Moran

BHCB

BHCB

M. crenulans (Fée) A.R. Sm. & R.C. Moran

M. grande (C. Presl) A.R. Sm. & R.C. Moran *

Salino 8883

M. umbrinum (C. Chr.) A.R. Sm. & R.C. Moran

BHCB

Tectaria incisa Cav.

BHCB

T. pilosa (Fée) R.C. Moran

BHCB

Thelypteris amambayensis (Christ) Ponce

BHCB

T. burkartii Abbiatti

BHCB

T. cheilanthoides (Kunze) Proctor

BHCB

T. chrysodioides var. goyazensis (Maxon & C.V. Morton) C.V. Morton

BHCB

T. concinna (Willd.) Ching

BHCB

T. conspersa (Schrad.) A.R. Sm.

BHCB

T. gardneriana (Baker) C.F. Reed

BHCB

T. glaziovii (Christ) C.F. Reed

BHCB

T. ptarmica (Mett.) C.F. Reed

BHCB

T. heineri (C. Chr.) C.F. Reed

BHCB

T. hispidula (Decne.) C.F. Reed

BHCB

T. interrupta (Willd.) K. Iwats.

BHCB

T. ireneae (Brade) Lellinger **

Salino 9577

T. jamesonii (Hook.) R.M. Tryon

BHCB

T. leprieurii (Hook.) R.M. Tryon

BHCB

T. longifolia (Desv.) R.M. Tryon

BHCB

Thelypteridaceae •

• •

continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


70 | Diversidade e conservação das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

TÁXON

FONTE

QF

SC

PD

CA GM

CD

T. lugubris (Mett.) R.M. Tryon & A.F. Tryon

BHCB

T. maxoniana A.R. Sm.

BHCB

T. mexiae (Copel.) Ching

BHCB

T. neglecta (Brade) Lellinger

BHCB

T. oligocarpa (Willd.) Ching

BHCB

T. opposita (Vahl) Ching

BHCB

T. pachyrhachis (Kunze ex Mett.) Ching

BHCB

T. patens (Sw.) Small

BHCB

T. raddii (Rosenst.) Ponce

BHCB

T. retusa (Sw.) C.F. Reed

BHCB

T. rioverdensis (C.Chr.) Ponce

BHCB

T. rivularioides (Fée) Abbiatti

BHCB

T. salzmannii (Fée) C.V. Morton

BHCB

T. schwackeana (Christ) Salino

BHCB

T. serrata (Cav.) Alston

BHCB

T. vivipara (Raddi) C.F. Reed

BHCB

• •

Vittariaceae Polytaenium lineatum (Sw.) J.Sm.

BHCB

Radiovittaria gardneriana (Fée) E.H. Crane

OUPR

R. stipitata (Kunze) E.H. Crane

BHCB

Vittaria graminifolia Kaulf.

BHCB

V. lineata (L.) Sm.

BHCB

Woodsiaceae Diplazium asplenioides (Kunze) C. Presl

BHCB

D. celtidifolium Kunze

BHCB

D. cristatum (Desr.) Alston

BHCB

D. leptocarpon Fée

BHCB

D. lindbergii (Mett.) Christ

BHCB

D. mutilum Kunze

BHCB

D. plantaginifolium (L.) Urban.

BHCB

D. rostratum Fée

BHCB

D. turgidum Rosenst.

BHCB

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

• •


................................................................................

Inventário e distribuição geográfica das gramíneas (Poaceae) na Cadeia do Espinhaço, Brasil Pedro Lage Viana1,2* Tarciso Souza Filgueiras2,3 Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Reserva Ecológica do IBGE, Brasília, Brasil. 3 Doutorando em Biologia Vegetal, Universidade Federal de Minas Gerais/CAPES. * e-mail: vianapl@yahoo.com.br 1 2

Resumo As gramíneas estão entre as principais famílias de angiospermas e são componente notável na composição florística de ecossistemas savânicos, florestais e campestres no Brasil. A Cadeia do Espinhaço é marcada por um mosaico de diferentes tipos vegetacionais e, por consequência, abriga expressiva riqueza de Poaceae. O objetivo deste trabalho é realizar um levantamento das espécies de gramíneas da Cadeia do Espinhaço em setores estabelecidos (Quadrilátero Ferrífero, Espinhaço Central e Setor Baiano), assim como especular sobre possíveis influências florísticas de outros domínios fitogeográficos na flora de gramíneas do Espinhaço. Primeiramente, foi realizado o levantamento das espécies ocorrentes na Cadeia, por compilação de dados em literatura disponível. Posteriormente, foi investigado o padrão de distribuição geográfica dessas espécies, baseado na ocorrência em outros domínios fitogeográficos brasileiros. Como resultado, apresenta-se uma lista com 340 espécies de Poaceae, divididas em sete subfamílias e 88 gêneros. Dessas, 212 também ocorrem no domínio do Cerrado, 203 na Mata Atlântica, 86 na Amazônia, 76 no Pampa e 48 na Caatinga. Trinta e seis espécies foram consideradas presumivelmente endêmicas da Cadeia do Espinhaço. A riqueza de Poaceae no Espinhaço, por setor, concentra-se no Espinhaço Central (241 spp.) seguido do Quadrilátero Ferrífero (201 spp) e Setor Baiano (178 spp.). Os padrões observados sugerem forte influência dos domínios do Cerrado e Mata Atlântica na flora agrostológica do Espinhaço.

abstract The Poaceae (Gramineae) are one of the most important groups among flowering plants and is a noteworthy component of plant communities in most ecosystems in Brazil, including savanna vegetation, grasslands and forests. The “Cadeia do Espinhaço” is characterized by a mosaic of different vegetation types and, consequently, by considerable Poaceae diversisty. The aim of this paper is to present a checklist of the Poaceae species in the “Cadeia do Espinhaço”, divided in three regional sectors, and to discuss the relative importance of the adjacent biomes on the composition of the grassy flora of the Espinhaço. The checklist is based on a compilation of available literature, such as floristic inventories, taxonomic revisions and regional floras. A total of 340 Poaceae species included in seven subfamilies and 88 genera were recorded. Of these, 212 also occur on “Cerrado”

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


72 | Inventário e distribuição geográfica das gramíneas (Poaceae) na Cadeia do Espinhaço, Brasil

domain, 203 on “Mata Atlântica”, 86 on “Amazônia”, 76 on “campos” and 48 on “Caatinga”. Thirty-six species were considered probable endemics of the “Cadeia do Espinhaço”. The richness of Gramineae in the Espinhaço is concentrated in the “Espinhaço Central” (241 spp.), followed by the “Quadrilátero Ferrífero” (201 spp.) and “Setor Baiano” (178 spp.). The patterns observed suggest a high floristic influence of “Cerrado” and “Mata Atlântica” on the composition of the Poaceae flora of the Espinhaço.

Introdução Poaceae (Gramineae), representada por capins, bambus e cereais, constitui uma das principais famílias dentre as angiospermas. Pertence à ordem Poales, que engloba outras famílias importantes de monocotiledôneas, como Bromeliaceae, Cyperaceae e Eriocaulaceae (Judd et al., 2002). Inclui cerca de 10000 espécies distribuídas por todos os continentes do planeta (Clayton & Renvoize, 1986; Watson & Dallwitz, 1992). De acordo com Grass Phylogeny Work Group (GPWG 2000), são reconhecidas para Poaceae 12 subfamílias: Anomochlooideae, Pharoideae, Puelioideae, Bambusoideae, Ehrhartoideae, Pooideae, Aristidoideae, Arundinoideae, Chloridoideae, Centothecoideae, Panicoideae e Danthonioideae. As gramíneas representam o componente básico de diversos ecossistemas terrestres, desempenhando papéis ecológicos diversos e contribuindo significativamente com a biodiversidade local. Ecossistemas savânicos tropicais, como o Cerrado brasileiro e a Savana africana, caracterizam-se pelo estrato herbáceo composto por um tapete graminoso, que ocupa biomassa expressiva e é base da cadeia alimentar (Jacobs et al., 1999; Shaw, 2000). Nesses ecossistemas verificase altíssima diversidade de espécies de Poaceae que se destaca como uma das mais importantes famílias na sua composição florística (Haase & Beck, 1989; Davis et al., 1994; Mendonça et al., 1998). Ambientes florestais também abrigam relevante diversidade de Poaceae. A subfamília Bambusoideae, representada pelos bambus, constitui uma importante linhagem que de diversificou em ambientes florestais, onde também se encontram os representantes mais primitivos da família Poaceae, como as pequenas subfamílias Anomochloideae e Pharoideae (Judziewicz et al., 1999). As florestas tropicais nos continentes da Ásia e América do Sul abrigam mais de 1000 espécies de bambus (McClure, 1966; Judziewicz et al., 1999), que são de extrema importância na composição florística nessas regiões. Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

Num estudo sobre a diversidade agrostológica brasileira, Burman (1985) citou 1368 espécies de gramíneas para o Brasil. Este estudo seminal precisa ser atualizado, uma vez que nos últimos 20 anos, táxons novos foram descritos e diversas novas citações foram registradas para o Brasil. Grande parte da diverisidade de gramíneas no Brasil concentra-se nos domínios fitogeográficos do Cerrado, Pampa e Mata Atlântica (Burman, 1985). A Amazônia e a Caatinga carecem de inventários significativos com enfoque à família Poaceae para que se tenha uma noção mais concreta da sua diversidade agrostológica. No domínio da Mata Atlântica, onde se tem uma elevada diversidade de ecossistemas, observa-se também alta riqueza de gramíneas, destacando-se espécies e gêneros endêmicos (Soderstrom et al. 1988; Filgueiras & Santos-Gonçalves, 2004). Este bioma representa um dos centros de diversidade mundiais da subfamília Bambusoideae (Judziewicz et al., 1999), que figura entre os importantes elementos na composição florística e fisionômica dos seus diversos ecossistemas, como florestas ombrófilas, florestas estacionais, campos de altitude e restingas litorâneas. No Brasil, 65% das espécies nativas de Bambusoideae (151 spp.) ocorrem na Mata Atlântica (Filgueiras & Santos-Gonçalves, 2004). No Cerrado, que se caracteriza pela grande diversidade e endemismo vegetal (Myers et al., 2000), Fabaceae s.l., Asteraceae, Orchidaceae e Poaceae destacam-se com o maior número de espécies (Mendonça et al., 1998). Os grupos de Poaceae mais importantes na composição da flora do Cerrado, pertencem às subfamílias Panicoideae (Paspalum L., Panicum L., Axonopus P. Beauv., Andropogon L.), Chloridoideae (Eragrostis Wolf, Sporobolus R.Br.) e Aristidoideae (Aristida L.). A Cadeia do Espinhaço é um complexo montanhoso que atravessa os estados de Minas Gerais e Bahia de norte a sul. Devido ao considerável gradiente altitudinal e longitudinal abrangidos, sua vegetação é bastante heterogênia e composta por um mosaico de tipos vegetacionais. (Giulietti et al., 1997, 2000). Ao longo de


Viana & Filgueiras |

sua extensão, representa o divisor fitogeográfico dos domínios Mata Atlântica a leste, e Cerrado e Caatinga a oeste, recebendo influência de várias regiões fitogeográficas. Como elemento fitofisionômico característico da Cadeia do Espinhaço citam-se os campos rupestres, associados geralmente a afloramentos rochosos quartzíticos. Os campos rupestres possuem fisionomia variada e elementos florísticos característicos, com alto grau de endemismo vegetal. Representam o centro de diversidade de diversos grupos vegetais. Nos campos ruprestes destacam-se as famílias Eriocaulaceae, Velloziaceae, Xyridaceae e vários grupos de Asteraceae, Melastomataceae, Lamiaceae, Verbenaceae (Giulietti et al., 1997, 2000) e até mesmo Poaceae, como o gênero Dichanthelium e Panicum sect. Lorea. Na Cadeia do Espinhaço, são comuns, ao longo dos cursos d’água, faixas de vegetação florestal formando as matas ciliares e matas de galeria (Meguro et al., 1996). São também frequentes florestas mais extensas presentes em vales encaixados e encostas de serra e capões da mata ciscundados por formações campestres. Essas formações florestais ocorrem, com mais frequencia, na vertente leste da Cadeia do Espinhaço. Encraves de cerrado, com seus elementos florísticos típicos, ocorrem com mais frequência na vertente oeste da Cadeia, geralmente em altitudes inferiores a 1000m. Inventários florísticos realizados na Cadeia do Espinhaço que incluem a família Poaceae são relativamente escassos, considerando a longa extensão desta cadeia montanhosa. Dentre os mais expressivos, destacam-se levantamentos florísticos gerais, realizados na Serra do Cipó (Giulietti et al., 1987), Serra do Ambrósio (Pirani et al., 1994), Serra da Calçada (Viana & Lombardi, 2007) e Grão Mogol (Longhi-Wagner & Todeschini, 2004) em Minas Gerais e em Mucugê (Harley & Mayo, 1980), Pico das Almas (Harley, 1995) e Catolés (Zappi et al., 2003) na Bahia. Dos trabalhos específicos sobre gramíneas na Cadeia do Espinhaço citam-se o estudo taxonômico da subfamília Chloridoideae no Espinhaço (Longhi-Wagner, 1986), o levantamento das gramíneas no Parque Estadual do Rio Preto, Minas Gerais (Viana, 2004), o estudo do gênero Paspalum na Serra do Cipó (Sendulsky & Burman 1978, 1980) e o estudo do gênero Ichnanthus na Chapada Diamantina (Oliveira et al., 2003). Estudos florísticos e revisões taxonômicas de grupos que ocorrem no perímetro do Espinhaço são também importantes e informativos, podendo ser citados diversos trabalhos como aqueles realizados por: Black (1963), Boechat (2005); Boechat & Longhi-Wagner

73

(1995, 2001); Burman (1987); Chase (1942); Clark (1992); Clayton (1969); Denham et al. (2002); Filgueiras (1982, 1989); Guglieri et al. (2004, 2006); Longhi-Wagner (1999); Morrone et al. 1993, 2004); Morrone & Zuloaga (1991); Oliveira & Valls (2002); Pensiero (1999); Renvoize & Zuloaga (1983); Sendulsky & Soderstrom (1984); Soderstrom & Zuloaga (1989); Zanin (2001); Zuloaga et al. (1986, 1992, 1993, 1998); Zuloaga & Sendulsky (1988). Merece destaque especial, pela sua importância no conhecimento da Cadeia do Espinhaço, o estudo das gramíneas no estado da Bahia (Renvoize, 1984). Este trabalho inclui descrições morfológicas simplificadas das espécies ocorrentes no estado, além de dados sobre a distribuição geográfica das mesmas e ilustrações diagnósticas. Atualmente, diversos grupos de pesquisadores desenvolvem trabalhos florísticos e taxonômicos em distintas regiões da Serra do Espinhaço. Isto demonstra o contínuo interesse da comunidade científica brasileira sobre essa fascinante região. Este trabalho tem como objetivo fornecer uma listagem preliminar das espécies de gramíneas da Cadeia do Espinhaço, com base na compilação de dados disponíveis na literatura. Objetiva também fornecer uma breve análise de distribuição geográfica das espécies da Cadeia do Espinhaço, indicando as endêmicas, aquelas com distribuição em outros domínios fitogeográficos brasileiros e as de ampla distribuição.

Materiais e Métodos Delimitação da área de estudos Para a análise de distribuição geográfica das espécies, a Cadeia do Espinhaço foi dividida em três setores: Quadrilátero Ferrífero, Espinhaço Central e Setor Baiano. O primeiro setor abrange as serras do complexo geológico do Quadrilátero Ferrífero, com geologia e formações vegetais distintas no contexto da Cadeia do Espinhaço. Inclui a Serra do Caraça, Serra da Moeda, Serra da Piedade, Serra do Itacolomi, Serra de Itabirito e Serra de Ouro Branco. Tem como limite meridional o município de Ouro Branco e setentrional o município de Itabira. Na Serra do Caraça encontram-se os pontos culminantes da Cadeia do Espinhaço, conhecidos como Pico do Sol (2.072m) e Pico do Inficcionado (2.068m). O setor Espinhaço Central inicia-se no município de Jaboticatubas, que delimita sua extremidade sul, até o extremo norte da Cadeia do Espinhaço no estado de Minas Gerais, no município de Montezuma. Neste

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setor encontram-se diversas serras importantes, como a Serra do Cipó, todas as serras do Planalto de Diamantina, Serra do Gavião, Serra da Pedra Menina, Serra do Ambrósio, Serra Negra, Serra de Grão Mogol, Serra do Cabral, entre outras. O ponto culminante deste setor é o Pico do Itambé, com 2.044m. O Setor Baiano corresponde à porção da Cadeia do Espinhaço presente no estado da Bahia. Inclui as serras da Chapada Diamantina e tem como ponto culminante o Pico do Barbado, com 2.033m. Para a delimitação dos domínios fitogeográficos, foi considerado o mapa de biomas do Brasil (IBGE, 2004), com o Pantanal incluído no domínio do Cerrado. Compilação dos dados O levantamento das espécies de Poaceae ocorrentes na Cadeia do Espinhaço foi realizado a partir da compilação de dados disponíveis na literatura. Para tanto, foram consideradas três categorias de trabalhos: 1. revisões taxonômicas de grupos com ocorrência na Cadeia do Espinhaço, das quais foram considerados os registros presentes nos materiais examinados e outras informações sobre a distribuição geográfica (Chase, 1942; Black, 1963; Clayton, 1969; Filgueiras, 1982, 1989; Renvoize & Zuloaga, 1983; Sendulsky & Soderstrom, 1984; Zuloaga et al., 1986, 1992, 1993, 1998; Burman, 1987; Zuloaga & Sendulsky, 1988; Soderstrom & Zuloaga, 1989; Morrone & Zuloaga, 1991; Clark, 1992; Morrone et al., 1993, 2004; Boechat & Longhi-Wagner, 1995, 2001; Longhi-Wagner, 1999; Pensiero, 1999; Zanin, 2001; Denham et al., 2002; Oliveira & Valls, 2002; Guglieri et al., 2004, 2006; Boechat, 2005); 2. floras de áreas que abrangem a Cadeia do Espinhaço, com tratamento taxonômico das espécies, das quais foram considerados os registros presentes nos materiais examinados e outras informações sobre a distribuição geográfica (Renvoize, 1984); 3. listagens florísticas em áreas totalmente inseridas nas abrangências da Cadeia do Espinhaço, das quais foram consideradas todas as espécies confirmadas (Sendulsky & Burman, 1978; Burman & Sendulsky, 1980; Longhi-Wagner, 1990; Meguro et al., 1994; Pirani et al., 1994; Stannard, 1995; Guedes & Orge, 1998; Zappi et al. 2003; Longhi-Wagner & Todeschini, 2004; Viana, 2004; Vincent, 2004). Para complementação da listagem de espécies foi consultada a coleção de Poaceae do herbário BHCB, que concentra registros dos setores Quadrilátero Ferrífero e Espinhaço Central.

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Os registros por domínio fitogeográfico foram extraídos dos dados de distribuição geográfica presentes na literatura consultada. Em alguns casos, foi considerado o conhecimento dos autores sobre esta questão. Espécies com distribuição extra-americana não foram incluídas nesta análise. Táxons infraespecífcos não foram considerados e, quando necessário, foram ajustados problemas de sinonímia. A classificação em subfamílias seguiu GPWG (2000). A classificação ao nível de gênero e as sinonímias seguiram Judziewicz et al. (2000), Peterson et al. (2001), Soreng et al. (2003) e Zuloaga et al. (2003).

Resultados A partir da compilação de dados foi verificada na Cadeia do Espinhaço a ocorrência de 340 espécies de Poaceae, distribuídas em sete subfamílias e 88 gêneros (Anexo). Dentre as subfamílias, destaca-se Panicoideae que inclui a grande maioria das espécies (251 spp.), seguida de Chloridoideae (46), Bambusoideae (23), Aristidoideae (13), Pooideae (três), Ehrhartoideae (três) e Danthonioideae (uma) (Figura 1). Os gêneros de maior destaque em número de espécies foram Paspalum (49 spp.), Panicum (45), Eragrostis (20), Axonopus (19), Andropogon (17) e Dichanthelium (16), todos representantes da subfamília Panicoideae. A análise da distribuição geográfica das espécies ocorrentes na Cadeia do Espinhaço, por domínio fitogeográfico, sugeriu forte influência do Cerrado e da Mata Atlântica na composição da sua flora agrostológica. Excluindo as endêmicas e de distribuição extraamericana, 212 espécies ocorrem também no domínio do Cerrado, 203 no domínio da Mata Atlântica, 48 na Caatinga, 86 na Amazônia e 76 no domínio Pampa (Figura 2). Esta mesma análise, por setor (Figura 3), mostra o Quadrilátero Ferrífero com um maior número de espécies ocorrentes no domínio da Mata Atlântica (144 spp.) do que no Cerrado (131 spp.). Nos outros dois setores, há uma predominância de espécies em comum com o Cerrado (Figura 3). A Caatinga, apesar da baixa contribuição, possui um maior número de espécies em comum com o setor baiano (40 spp.) em relação aos outros setores do Espinhaço (21 spp. no Quadrilátero Ferrífero e 29 spp. no Espinhaço Central). Considerando os três setores delimitados para a Cadeia do Espinhaço, nota-se o seguinte padrão: Espinhaço Central e Quadrilátero Ferrífero concentram uma maior riqueza de espécies, enquanto na parte baiana


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observa-se uma maior proporção de espécies exclusivas de um setor, considerando o contexto Cadeia do Espinhaço. Das 201 espécies encontradas no Quadrilátero Ferrífero, 31 (15,5%) não ocorrem nos outros setores. Das 241 ocorrentes no Espinhaço Central, 44 (18,6%) ocorrem apenas nesse setor. A porção baiana, apesar de menos rica, possui 51 espécies exclusivas, ou 26,8%, de um total de 178 espécies (Figura 4). Trinta e seis espécies, ou 10,6% do total, foram consideradas presumivelmente endêmicas das abrangências da Cadeia do Espinhaço (Tabela 1). O gênero monoespecífico Plagiantha Renvoize, foi o único da família

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considerado provavelmene endêmico desta cadeia montanhosa. Notável é o fato que das 36 espécies endêmicas, a metade (18 spp.) é conhecida apenas para a região da Chapada Diamantina, no estado da Bahia. Seis espécies são endêmicas do Setor Central e apenas três foram consideradas exclusivas do Quadrilátero Ferrífero. Apenas 36 espécies (10,6%) encontradas na Cadeia do Espinhaço, ocorrem além do continente americano, sendo de ampla distribuição geográfica. Grande parte dessas espécies foi registrada nos três setores do Espinhaço (Anexo).

Figura 1 – Riqueza de espécies das subfamílias de Poaceae ocorrentes na Cadeia do Espinhaço.

Figura 3 – Número de espécies de Poaceae em cada setor da Cadeia do Espinhaço e com ocorrência nos domínios do Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Amazônia e Pampa. Espécies com distribuição extra-americana foram desconsideradas.

Figura 2 – Números de espécies de Poaceae registradas para a Cadeia do Espinhaço e que ocorrem nos domínios do Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Amazônia e Pampa. Espécies endêmicas ou com distribuição extra-americana foram desconsideradas.

Figura 4 – Número total de espécies de Poaceae em cada setor da Cadeia do Espinhaço. As faixas azuis com linhas diagonais representam espécies exclusivas de cada setor na Cadeia do Espinhaço e as faixas pretas representam espécies com ditribuição extraamericana.

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Tabela 1 – Listagem das espécies de Poaceae consideradas endêmicas da Cadeia do Espinhaço, com informações detalhadas sobre sua distribuição geográfica.

táxon

Detalhes sobre distribuição geográfica

Andropogon campestris Trin. Conhecida apenas pela coleção-tipo, proveniente da Serra do Cipó (MG). Andropogon durifolius Renvoize Vários registros para a região da Chapada Diamantina (BA) e um registro para a região de Diamantina (MG). Axonopus grandifolius Renvoize Apenas na Chapada Diamantina (BA). Chusquea nutans L. G. Clark Encontrada em todos os setores da Cadeia do Espinhaço, desde a Serra de Ouro Branco (MG) até a Chapada Diamantina (BA). Colanthelia distans (Trin.) McClure Conhecida apenas pela coleção-tipo, proveniente do Parque Estadual do Itacolomi, Ouro Preto (MG). Dichanthelium adenorhachis (Zuloaga & Morrone) Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Dichanthelium assurgens (Renvoize) Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Dichanthelium cabrerae (Zuloaga & Morrone) Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Dichanthelium congestum (Renvoize) Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Dichanthelium cumbucana (Renvoize) Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Dichanthelium heliophilum (Chase ex Zuloaga & Morrone) Freqüente nos campos rupestres dos setores Quadrilátero Ferrífero e Zuloaga Espinhaço Central. Dichanthelium stipiflorum (Renvoize) Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Elionurus bilinguis (Trin.) Hack. Conhecido apenas pelo material-tipo, de G.H. von Langsdorff, com a indicação “in petrosis S. da Chapada”, que provavelmente corresponde à região de Diamantina (MG). Eragrostis sclerophylla Trin. Apenas no Espinhaço Central, nos arredores de Diamantina (MG). Mesosetum gibbosum Renvoize & Filg. Apenas na Chapada Diamantina (BA). Otachyrium aquaticum Send. & Soderstr. Chapada Diamantina (BA), e um registro duvidoso para Minas Gerais. Otachyrium pterygodium (Trin.) Pilg. No Espinhaço Central. Um registro duvidoso para o estado do Amazonas, às margens do rio Negro. Panicum acicularifolium Renvoize & Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Panicum animarum Renvoize Apenas na Chapada Diamantina (BA). Panicum bahiense Renvoize Em topos de morros do Espinhaço Central e Setor Baiano. Panicum brachystachyum Trin. Conhecido apenas de uma localidade no Parque Estadual Serra do Intendente, localizado na região da Serra do Cipó (MG), Panicum cipoense Renvoize & Send. Apesar do epíteto específico “cipoense”, distribui-se da Serra do Cipó até os campos rupestres da região de Diamantina, no Espinhaço Central. Panicum durifolium Renvoize & Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Panicum lagostachyum Renvoize & Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Panicum loreum Trin. Frequentes nos campos rupestres do Quadrilátero Ferrífero e Espinhaço Central Panicum noterophilum Renvoize Apenas na Chapada Diamantina (BA). Panicum poliophyllum Renvoize & Zuloaga Muito freqüente no Quadrilátero Ferrífero e ocasional no Espinhaço Central. Panicum soderstromii Zuloaga & Send. Apenas na Chapada Diamantina (BA). Panicum vaginiviscosum Renvoize & Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA). Paspalum brachytrichum Hack. Provavelmente endêmica de campos rupestres sobre canga, na região do Quadrilátero Ferrífero (MG). Há registros recentes para a Serra de Capanema e Serra da Moeda, além do material tipo, de Glaziou, proveniente de “Campos de Itabira”, que provavelmente corresponde à região do Pico de Itabirito. Paspalum minarum Hack. Encontrada em todos os setores da Cadeia do Espinhaço. Há registros duvidosos fora das abrangências do Espinhaço, no Planalto Central. Paspalum phyllorachis Hack. Apenas Quadrilátero Ferrífero, no município de Belo Horizonte, provavelmente na Serra do Curral (MG). Paspalum rupium Renvoize Apenas na Chapada Diamantina (BA). Paspalum zuloagae Davidse & Filg. Apenas no Quadrilátero Ferrífero e Espinhaço Central, onde é pouco comum. Plagiantha tenella Renvoize Encontrado apenas na região da Chapada Diamantina (BA). Urochloa acuminata (Renvoize) Morrone & Zuloaga Apenas na Chapada Diamantina (BA).

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Discussão Grande parte dos padrões aqui expostos relaciona-se à influência florística dos domínios fitogeográficos adjacentes à Cadeia do Espinhaço na composição da sua flora agrostológica. O alto número de espécies em comum com os domínios do Cerrado e Mata Atlântica indica uma relação biogeográfica do Espinhaço com esses domínios. A presença frequente de encraves de vegetação de Cerrado e Mata Atlântica (matas de galeria, capões florestais) ao longo do Espinhaço contribui expressivamente com a riqueza de gramíneas, o que explicaria, pelo menos em parte, o padrão observado. Espécies típicas de cerrado, como os bambus Filgueirasia cannavieira e Actinocladum verticilaltum (Filgueiras, 1991; Guala, 1995) são frequentemente encontradas em encraves de cerrado ao longo da Cadeia do Espinhaço. Nas matas de galeria e capões de mata, tão comuns no Espinhaço, observam-se elementos típicos de Mata Atlântica (Filgueiras & Santos-Gonçalves, 2004), exemplificados pelos também bambus Aulonemia fimbriatifolia, Chusquea attenuata, Chusquea capituliflora e Merostachys fisheriana. A presença desses encraves na Cadeia do Espinhaço está de alguma forma relacionada ao posicionamento do Espinhaço no contexto fitogeográfico brasileiro, onde representa, ao longo de grande parte de sua extensão, o divisor dos domínios do Cerrado e Mata Atlântica. A predominância da subfamília Panicoideae, assim como os gêneros Paspalum e Panicum, no Espinhaço, vai de acordo com grande parte dos inventários realizados no Cerrado brasileiro (Filgueiras, 1991; Mendonça et al., 1998; Rodrigues-da-Silva & Filgueiras, 2003), o que reforça a forte influência deste bioma na flora de gramíneas do Espinhaço. Em ambientes savânicos tropicais, observa-se alta riqueza de grupos com aparato fotossintético C4 (Shaw, 2000). Este caráter surgiu pelo menos cinco vezes distintas dentro da família (Sinha & Kellogg, 1996) e está notavelmente presente em grupos mais recentes de Poaceae, como as subfamílias Panicoideae, Aristidoideae e Chloridoideae (Kellogg, 2000). Esta característica mostra-se como uma adaptação eficiente às novas características climáticas, mais quentes e secas, que surgiram no final do Mioceno, há aproximadamente cinco milhões de anos (Clark & Sanchez-Ken, 1999). Nesse período, houve expressiva expansão de ecossistemas dominados por gramíneas C4 em várias faixas tropicais do plantea (Jacobs et al., 1999) e consequente diversificação dos grupos taxonômicos com esta característica (Kellogg, 2000). A maior riqueza de espécies verificada nos setores Espinhaço Central e Quadrilátero Ferrífero, respectivamente,

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também pode ser explicada pela influência florística do Cerrado e da Mata Atlântica. Quase toda a porção mineira do encontra-se em contato com os referidos domínios fitogeográficos. A menor riqueza de espécies verificada no Setor Baiano pode estar relacionada à baixa influência da Caatinga na composição florística do Espinhaço. Este bioma está em contato com grande parte da vertente oeste do setor baiano, porém uma série de fatores abióticos distintos, como solo, clima e pluviosidade, conferem um alto grau de especialização da flora da Caatinga, havendo pouca semelhança florística com a Cadeia do Espinhaço. Fato que se deve também considerar é o histórico de investigação científica mais concentrado na parte mineira do Espinhaço. Áreas como arredores de Belo Horizonte, Ouro Preto, Serra do Cipó e Planalto de Diamantina são, há tempos, percorridas por importantes coletores, o que não é verificado da mesma forma na parte baiana da Cadeia do Espinhaço. Nos campos rupestres propriamente ditos, concentra-se a grande maioria das espécies endêmicas, e observa-se grande riqueza de grupos relacionados a maior altitude, como espécies do gênero Dichanthelium e espécies de Panicum sect. Lorea. Das 36 espécies endêmicas do Espinhaço, sete são de Dichanthelium e 10 de Panicum sect. Lorea, que corresponde a quase metade das espécies endêmicas. De acordo com Zuloaga et al. (1993), Dichantelium possui três centros de diversidade: a América do Norte, o Maçico das Guianas e a Cadeia do Espinhaço. Das 16 espécies de Dichanthelium ocorrentes na Cadeia do Espinhaço, sete são endêmicas. Um padrão semelhante é observado em Panicum sect. Lorea, grupo característico na fisionomia dos campos rupestres do Espinhaço, formando peculiares touceiras de folhas pungentes e lembrando, muitas vezes, exemplares de Lagenocarpus Nees (Cyperaceae). A grande maioria das espécies é encontrada na Cadeia do Espinhaço ou no Maciço das Guianas (Renvoize & Zuloaga, 1983). Algumas ocorrem na restinga litorânea brasileira, campos de altitude ou em áreas de campos rupestres fora das abrangências da Cadeia do Espinhaço. Observa-se com frequência interessante disjunção na distribuição de algumas espécies, como por exemplo, Panicum trinii, encontrado na Chapada Diamantina e também em áreas de restinga, no estado da Bahia. Panicum euprepes, comum em grande parte dos campos rupestres do Espinhaço, é também bastante frequente na região da Serra do Ibitipoca (MG), inserida no domínio da Mata Atlântica. Outro padrão notável é o exemplificado por Panicum molinioides, que também ocorre, menos frequentemente, nos campos rupestres do estado de Goiás. Panicum chnoodes ocorre também no Maciço das Guianas.

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Outras espécies de gramíneas do Espinhaço com notável padrão de distribuição geográfica podem ser citadas. Aulonemia effusa, frequente nos campos rupestres dos Quadrilátero Ferrífero até a Chapada Diamantina, na Bahia, também ocorre, de forma disjunta, em campos rupestres na região de São João D’el Rey, Serra de Tiradentes, e Serra da Canastra, ambas localidades mineiras. Andropogon indetonsus, com um único registro no Espinhaço, no Parque Estadual do Rio Preto, também ocorre em áreas serranas no estado do Amazonas, como na Serra do Aracá (Zanin, 2001). Tatianyx arnacites, encontrada em campos rupestres de todos os setores da Cadeia do Espinhaço, é bastante rara nos campos rupestres de Goiás. Nesta região é encontrado, com frequência, Panicum machrisiana que foi recentemente coletada pela primeira vez no Espinhaço, no Parque Estadual do Rio Preto, Minas Gerais (Viana, 2004). Por fim, pode se concluir que as gramíneas são de extrema importância na composição florística da Cadeia do Espinhaço, com um elevado número de espécies. Maiores esforços de investigação em campo e em herbários certamente incrementarão substancialmente a listagem preliminar aqui apresentada. Sugere-se uma forte influência florística do Cerrado e Mata Atlântica na composição da flora agrostológica do Espinhaço, pela semelhança dos grupos taxonômicos dominantes e pelo grande número de espécies em comum com esses domínios fitogeográficos.

Agradecimentos Ao Instituto Biotrópicos de Pesquisa em Vida Silvestre, à Conservação Internacional e à Fundação Biodiversitas. Ao IBAMA e IEF-MG pela concessão de licenças de coleta e pesquisa e ao Departamento de Botânica da Universidade Federal de Minas Gerais. Agradecemos à Dra. Adriana Guglieri pela inestimada colaboração e informações sobre Panicum.

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anexo – Lista das espécies de Poaceae compiladas para as abrangências da Cadeia do Espinhaço. Os nomes em negrito correspondem a espécies presumivelmente endêmicas. Nomes assinalados com um asterisco (*) são espécies com distribuição extra-americana. Na coluna Setor do Espinhaço, QF = Quadrilátero Ferrífero, EC = Espinhaço Central e BA = Setor baiano. Na coluna Domínio Fitogeográfico, cer = Cerrado, mat = Mata Atlântica, caa = Caatinga, am = Amazônia e pam = Pampa.

Setores da cadeia Domínio do espinhaço Fitogeográfico táxon QF EC BA cer mat caa am pam Actinocladum verticillatum (Nees) McClure ex Soderstr. • • • Agenium leptocladum (Hack.) Clayton • • • A. villosum (Nees) Pilg. • • • Andropogon bicornis L. • • • • • • • A. bogotensis (Hack.) A. Zanin & Longhi-Wagner • • • A. brasiliensis A. Zanin & Longhi-Wagner • • • A. campestris Trin. • A. carinatus Nees • • • • A. crucianus Renvoize • A. durifolius Renvoize • • A. fastigiatus Sw.* • • A. gayanus Kunth* • • • A. indetonsus Sohns • • A. ingratus Hack • • • • A. lateralis Nees • • • • • • A. leucostachyus Kunth* • • • A. macrothrix Trin. • • • • A. pohlianus Hack. • • A. selloanus (Hack.) Hack. • • • • • • • A. virgatus Desv. ex Ham. • • • • • • • Anthaenantia lanata (Kunth) Benth. • • • • • • Anthaenantiopsis perforata (Nees) Parodi • • A. trachystachya (Nees) Mez ex Pilg. • • Aristida brasiliensis Longhi-Wagner • • • A. capillacea Lam. • • • • • • A. ekmaniana Henrard • • • • A. flaccida Trin. & Rupr. • • A. gibbosa (Nees) Trin. • • • • • • A. glaziovii Hack. ex Henrard • • • • A. longifolia Trin. • • • • • • A. megapotamica Spreng. • • • • A. pendula Longhi-Wagner • • A. recurvata Kunth • • • • • A. riparia Trin. • • • • • • • A. setifolia Kunth • • • • • • A. torta (Nees) Kunth • • • • • • • Arthropogon villosus Nees • • • Arundinella hispida (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Kuntze • • • • • Aulonemia aristulata (Döll) McClure • • • • • A. effusa (Hack.) McClure • • • A. fimbriatifolia L.G. Clark • •

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Setores da cadeia Domínio do espinhaço Fitogeográfico táxon QF EC BA cer mat caa am pam Axonopus aureus P. Beauv. • • • • • A. brasiliensis (Spreng.) Kuhlm. • • • • • A. canescens (Nees ex Trin.) Pilg. • • • • • A. capillaris (Lam.) Chase • • • • • • • A. chrysoblepharis (Lag.) Chase • • • • • A. chrysostachyus (Schrad.) Pilg. • • • A. comans (Trin. ex Döll) Kuhlm. • • A. compressus (Sw.) P. Beauv. • • • • • A. fastigiatus (Nees ex Trin.) Kuhlm. • • • • A. fissifolius (Raddi) Kuhlm. • • • • • • A. grandifolius Renvoize • A. laxiflorus (Trin.) Chase • • • • A. marginatus (Trin.) Chase • • • • • A. pellitus (Nees ex Trin.) Hitchc. & Chase • • • • • A. polydactylus (Steud.) Dedecca • • • • A. polystachyus G. A. Black • • A. pressus (Nees ex Steud.) Parodi • • • • • A. purpusii (Mez) Chase • • • • • A. siccus (Nees) Kuhlm. • • • • • • Calamagrostis viridiflavescens (Poir.) Steud. • • Cenchrus echinatus L.* • Chloris exilis Renvoize • • • C. orthonoton Döll* • C. pycnothrix Trin.* • • Chusquea anelythra Nees • • C. attenuata (Döll) L.G. Clark • • C. capitata Nees • • C. capituliflora Trin. • • C. nutans L.G. Clark • • • C. pinifolia (Nees) Nees • • • Coelorachis aurita (Steud.) A. Camus • • • Coix lacryma-jobi L.* • Colanthelia distans (Trin.) McClure • Ctenium brevispicatum J.G. Sm. • • • • C. chapadense (Trin.) Döll • • • C. cirrhosum (Nees) Kunth • • • • Dactyloctenium aegyptium (L.) Willd.* • Danthonia secundiflora J. Presl • • • Dichanthelium adenorhachis (Zuloaga & Morrone) Zuloaga • D. aequivaginatum (Swallen) Zuloaga • • D. assurgens (Renvoize) Zuloaga • D. cabrerae (Zuloaga & Morrone) Zuloaga • D. congestum (Renvoize) Zuloaga •

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Setores da cadeia Domínio do espinhaço Fitogeográfico táxon QF EC BA cer mat caa am pam D. cumbucana (Renvoize) Zuloaga • D. hebotes (Trin.) Zuloaga • • D. heliophilum (Chase ex Zuloaga & Morrone) Zuloaga • • D. pycnoclados (Tutin) Davidse • • • D. sabulorum (Lam.) Gould & C.A. Clark • • • D. sciurotis (Trin.) Davidse • • • D. sciurotoides (Zuloaga & Morrone) Davidse • • • • D. stigmosum (Trin.) Zuloaga • • D. stipiflorum (Renvoize) Zuloaga • D. superatum (Hack.) Zuloaga • • D. surrectum (Chase ex Zuloaga & Morrone) Zuloaga • • • • Digitaria ciliaris (Retz.) Koeler* • D. corynotricha (Hack.) Henrard • • • • D. horizontalis Willd.* • D. insularis (L.) Fedde • • • • • • D. mattogrossensis (Pilg.) Henrard • • D. tenuis (Nees) Henrard • • • Echinochloa colona (L.) Link* • • • E. crus-galli (L.) P. Beauv.* • E. crus-pavonis (Kunth) Schult.* • Echinolaena minarum (Nees) Pilg. • • E. inflexa (Poir.) Chase • • • • • • Eleusine indica (L.) Gaertn.* • • • Elionurus bilinguis (Trin.) Hack. • E. muticus (Spreng.) Kuntze • • • Eragrostis articulata (Schrank) Nees • • • • • • • E. bahiensis Schrad. ex Schult. • • • • • E. ciliaris (L.) R. Br.* • E. curvula (Schrad.) Nees* • E. glomerata (Walter) L.H. Dewey • • • • E. hypnoides (Lam.) Britton, Sterns & Poggenb • • • • E. leucosticta Nees ex Döll • • • E. lugens Nees • • • • E. maypurensis (Kunth) Steud. • • • • E. mokensis Pilg.* • E. perennis Döll • • • E. petrensis Renvoize & Longhi-Wagner • • • E. pilosa (L.) P. Beauv.* • • E. polytricha Nees • • • • • • E. rufescens Schrad. ex Schult. • • • • • • • E. sclerophylla Trin. • E. secundiflora J. Presl • • • • • E. seminuda Trin. • • •

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Setores da cadeia Domínio do espinhaço Fitogeográfico táxon QF EC BA cer mat caa am pam E. solida Nees • • • • E. tenuifolia (A. Rich.) Hochst. ex Steud. • • • Eriochloa punctata (L.) Desv. ex Ham. • • • Eriochrysis cayennensis P. Beauv. • • • • • E. holcoides (Nees) Kuhlm. • • • • Filgueirasia cannavieria (Silveira) Guala • • Guadua paniculata Munro • • • • G. tagoara (Nees) Kunth • • Gymnopogon foliosus (Willd.) Nees • • • • • G. spicatus (Spreng.) Kuntze • • • • • Homolepis glutinosa (Sw.) Zuloaga & Soderstr. • • • • • H. isocalycia (G. Mey.) Chase • • • • H. longispicula (Döll) Chase • • • Hymenachne amplexicaulis (Rudge) Nees • • • • H. pernambucensis (Spreng.) Zuloaga • • • • Hyparrhenia bracteata (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Stapf* • H. rufa (Nees) Stapf* • • Ichnanthus bambusiflorus (Trin.) Döll • • • • • • • I. calvescens (Nees ex Trin.) Döll • • • • • • I. dasycoleus Tutin • • • • • • I. hirtus (Raddi) Chase • • • I. inconstans (Trin. ex Nees) Döll • • • • • I. leiocarpus (Spreng.) Kunth • • • I. longiglumis Mez • • • I. nemoralis (Schrad.) Hitchc. & Chase • • • • • I. pallens (Sw.) Munro ex Benth. • • • I. procurrens (Nees ex Trin.) Swallen • • • • • • I. tenuis (J. Presl & C. Presl) Hitchc. & Chase • • • • I. zehntneri Mez • • • Imperata brasiliensis Trin. • • Lasiacis divaricata (L.) Hitchc. • • • L. ligulata Hitchc. & Chase • • • L. sorghoidea (Desv. ex Ham.) Hitchc. & Chase • • • • Leptochloa fusca (L.) Kunth • • • L. virgata (L.) P. Beauv. • • • • • Lithachne horizontalis Chase • • Loudetia flammida (Trin.) C.E. Hubb. • • Loudetiopsis chrysothrix (Nees) Conert • • • • Luziola bahiensis (Steud.) Hitchc. • • • L. brasiliana Moric. • • L. peruviana Juss. ex J.F. Gmel. • • Megathyrsus maximus (Jacq.) B.K. Simon & S.W.L. Jacobs* • • • Melinis minutiflora P. Beauv.* • • •

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Setores da cadeia Domínio do espinhaço Fitogeográfico táxon QF EC BA cer mat caa am pam M. repens (Willd.) Zizka* • • • Merostachys fischeriana Rupr. ex Döll • • • • M. kunthii Rupr. • • Mesosetum arenarium Swallen • • M. exaratum (Trin.) Chase • • M. ferrugineum (Trin.) Chase • • • • • M. gibbosum Renvoize & Filg. • M. loliiforme (Hochst. ex Steud.) Chase • • • • • Microchloa indica (L.f.) P. Beauv.* • Olyra ciliatifolia Raddi • • • • • O. humilis Nees • • • • O. latifolia L.* • O. taquara Swallen • • • Oplismenus hirtellus (L.) P. Beauv.* • • Otachyrium aquaticum Send. & Soderstr. • O. pterygodium (Trin.) Pilg. • Otachyrium versicolor (Döll) Henrard • • • • • Panicum acicularifolium Renvoize & Zuloaga • P. animarum Renvoize • P. aristelum Döll • • • P. auricomum Nees ex Trin. • • P. bahiense Renvoize • • P. brachystachyum Trin. • P. campestre Nees ex Trin. • • • • • P. cervicatum Chase • • • • • P. chapadense Swallen • • • P. chnoodes Trin. • • P. cipoense Renvoize & Send. • P. cordovense E. Fourn. • • • P. cyanescens Nees ex Trin. • • • • • P. durifolium Renvoize & Zuloaga • P. euprepes Renvoize • • • • P. exiguum Mez • • • • P. lagostachyum Renvoize & Zuloaga • P. latissimum Mikan ex Trin. • • • P. ligulare Nees ex Trin. • • • P. loreum Trin. • • P. lutzii Swallen • • P. machrisiana Swallen • • P. molinioides Trin. • • • P. noterophilum Renvoize • P. olyroides Kunth • • • P. pantrichum Hack. • • • • •

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Setores da cadeia Domínio do espinhaço Fitogeográfico táxon QF EC BA cer mat caa am pam P. parvifolium Lam. • • • • • P. peladoense Henrard • • • • P. penicillatum Nees ex Trin. • • • • P. piauiense Swallen • • P. pilosum Sw. • • • • • • • P. poliophyllum Renvoize & Zuloaga • • P. polygonatum Schrad. • • • • P. pseudisachne Mez • • • • • P. quadriglume (Döll) Hitchc. • • • P. rude Nees • • • • P. rupestre Trin. • • P. sacciolepoides Renvoize & Zuloaga • • P. schwackeanum Mez • • • • • P. sellowii Nees • • • • • • P. soderstromii Zuloaga & Send. • P. subulatum Spreng. • • • • P. trinii Kunth • • P. vaginiviscosum Renvoize & Zuloaga • P. wettsteinii Hack. • • • • • Pappophorum mucronulatum Nees • • • Pappophorum pappiferum (Lam.) Kuntze • • Parodiolyra micrantha (Kunth) Davidse & Zuloaga • • • • • Paspalum ammodes Trin. • • • • P. arenarium Schrad. • • • • P. carinatum Humb. & Bonpl. ex Flüggé • • • • • • P. brachytrichum Hack. • P. clavuliferum C. Wright • • • • • P. conjugatum P.J. Bergius • • • • • • P. convexum Humb. & Bonpl. ex Flüggé • • • • P. cordatum Hack. • • • • P. coryphaeum Trin. • • • • • P. decumbens Sw. • • • • P. dedeccae Quarin • • • P. erianthum Nees ex Trin. • • • • • P. eucomum Nees ex Trin. • • • • P. falcatum Nees ex Steud. • • • P. fimbriatum Kunth • • • P. gardnerianum Nees • • • • P. geminiflorum Steud. • • • P. gemmosum Chase ex Renvoize • • P. glaucescens Hack. • • • • P. guttatum Trin. • • • P. hyalinum Nees ex Trin. • • • •

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Setores da cadeia Domínio do espinhaço Fitogeográfico táxon QF EC BA cer mat caa am pam P. intermedium Munro ex Morong & Britton • • • • • • P. lanciflorum Trin. • • P. limbatum Henrard • • • • • P. lineare Trin. • • • • • • P. loefgrenii Ekman • • • P. maculosum Trin. • • • • P. malacophyllum Trin. • • • • • P. mandiocanum Trin. • • • P. minarum Hack. • • • P. multicaule Poir. • • • • • P. notatum Flüggé • • • • P. nutans Lam. • • • • P. paniculatum L. • • • • • • P. parviflorum Rhode ex Flüggé • • • • P. pectinatum Nees ex Trin. • • • • P. phyllorachis Hack. • P. pilosum Lam. • • • • • P. plicatulum Michx. • • • • • • P. polyphyllum Nees ex Trin. • • • • • P. pumilum Nees • • • • P. rojasii Hack. • • • • P. rupium Renvoize • P. scalare Trin. • • • • P. stellatum Humb. & Bonpl. ex Flüggé • • • • • P. trachycoleon Steud. • • P. urvillei Steud.* • • P. usteri Hack. • • • P. zuloagae Davidse & Filg. • • P. clandestinum Hochst. ex Chiov.* • P. purpureum Schumach.* • • P. polystachion (L.) Schult.* • Plagiantha tenella Renvoize • Poidium calotheca (Trin.) Matthei • • • Polypogon elongatus Kunth • • • • Pseudechinolaena polystachya (Kunth) Stapf* • • • Raddiella esenbeckii (Steud.) C.E. Calderón & Soderstr. • • • • • • Rhytachne rottboellioides Desv. ex Ham.* • • • Saccharum asperum (Nees) Steud. • • • • • S. officinarum L.* • • • S. villosum Steud. • • • • • Sacciolepis myuros (Lam.) Chase • • • • S. vilvoides (Trin.) Chase • • • Schizachyrium microstachyum (Desv. ex Ham.) • • • • • Roseng., B.R. Arrill. & Izag.

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88 | Inventário e distribuição geográfica das gramíneas (Poaceae) na Cadeia do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

Setores da cadeia Domínio do espinhaço Fitogeográfico táxon QF EC BA cer mat caa am pam S. sanguineum (Retz.) Alston • • • • • S. tenerum Nees • • • • • Setaria macrostachya Kunth • • • • • • Setaria parviflora (Poir.) Kerguélen • • • • • • • Setaria scabrifolia (Nees) Kunth • • • • • Setaria setosa (Sw.) P. Beauv. • • • Setaria sulcata Raddi • • • • • • Setaria tenacissima Schrad. ex Schult. • • • Setaria tenax (Rich.) Desv. • • • • • • • Setaria vulpiseta (Lam.) Roem. & Schult. • • • • Sorghastrum minarum (Nees) Hitchc. • • • • S. nutans (L.) Nash • • • • Sporobolus acuminatus (Trin.) Hack. • • • S. aeneus (Trin.) Kunth • • • • • S. ciliatus J. Presl • • • • S. cubensis Hitchc. • • • • • • S. indicus (L.) R. Br.* • • • S. metallicola Longhi-Wagner & Boechat • • • S. monandrus Roseng., B.R. Arrill. & Izag. • • • S. pseudairoides Parodi • • • • • S. purpurascens (Sw.) Ham. • • • S. reflexus Boechat & Longhi-Wagner • • • Steinchisma decipiens (Nees ex Trin.) W.V. Br. • • • • • Steinchisma hians (Elliott) Nash • • • • S. laxa (Sw.) Zuloaga • • • • • • S. stenophylla (Hack.) Zuloaga & Morrone • • • Steirachne barbata (Trin.) Renvoize • • • Streptostachys macrantha (Trin.) Zuloaga & Soderstr. • • S. ramosa Zuloaga & Soderstr. • • • Tatianyx arnacites (Trin.) Zuloaga & Soderstr. • • • Thrasya glaziovii A.G. Burm. • • T. petrosa (Trin.) Chase • • • T. thrasyoides (Trin.) Chase • • Thrasyopsis repanda (Nees ex Trin.) Parodi • • Trachypogon macroglossus Trin. • • • • • T. spicatus (L. f.) Kuntze • • • • • • T. vestitus Andersson • • • • Tristachya leiostachya Nees • • • • Urochloa acuminata (Renvoize) Morrone & Zuloaga • U. brizantha (Hochst. ex A. Rich.) R.D. Webster* • U. decumbens (Stapf) R.D. Webster* • •

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Eriocaulaceae na Cadeia do Espinhaço: riqueza, endemismo e ameaças Fabiane Nepomuceno Costa1* Marcelo Trovó2 Paulo Takeo Sano2 Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Brasil. Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. * email: fncosta@hotmail.com 1 2

Resumo Eriocaulaceae se destaca como uma das famílias mais representativas dos campos rupestres do Espinhaço, não só pela grande riqueza específica, mas também pelo elevado número de táxons endêmicos desta formação geológica. O principal centro de diversidade de Eriocaulaceae situa-se no Espinhaço, onde são encontrados representantes de sete gêneros, dentre os 11 descritos para a família. Estimar o número de espécies de Eriocaulaceae que ocorre nesta formação geológica é uma tarefa bastante difícil, devido principalmente ao grande número de espécies, a falta de levantamentos florísticos em boa parte do Espinhaço e a carência de estudos taxonômicos de muitos grupos da família. Este trabalho teve por objetivo compilar todos os dados disponíveis acerca da riqueza e distribuição geográfica das Eriocaulaceae na Cadeia do Espinhaço, visando diagnosticar o atual status de conhecimento da família e as possíveis ameaças à conservação de sua diversidade. Dentre as 548 espécies estimadas para o Brasil, cerca de 70% ocorrem na Cadeia do Espinhaço e, destas, cerca de 85% são endêmicas desta área, algumas com distribuição bastante restrita. A área de ocorrência restrita, associado ao extrativismo de sempre-vivas e à destruição dos habitats, representa séria ameaça à conservação de muitas espécies desta família. Atualmente 54 estão incluídas na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção do estado de Minas Gerais, e sete já são consideradas extintas. A elevada riqueza específica no Espinhaço, o alto nível de endemismo, o uso ornamental de muitas espécies pelas comunidades locais e as lacunas de conhecimento de diversas áreas da Cadeia e de muitos táxons de Eriocaulaceae atestam para a necessidade de estudos visando o conhecimento, a conservação e o desenvolvimento de práticas de manejo com representantes dessa família.

abstract Eriocaulaceae is one of the most representative families of the rocky outcrops from the Espinhaço Range, not only for the great specific richness, but also for raised number of endemic taxa of this geologic formation. The main center of diversity of Eriocaulaceae places in the Espinhaço Range, where are found representatives of seven genera, amongst the 11 described for the family. Estimating the number of species of Eriocaulaceae that occur in this geologic formation is a difficult

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task, mainly because of the great number of species, the lack of flora surveys in a great part of the Espinhaço and also lack of taxonomic studies of many groups of the family. This work had for objective to compile all the available data concerning the richness and distribution of the species of the Eriocaulaceae in Espinhaço Range, aiming to diagnosis the current status of knowledge of family and possible risks to the conservation of its diversity. Amongst the 548 species estimated for Brazil, about 70% occur in the Espinhaço Range, of these, about 85% are endemic of this area, some with very restricted distribution. The restricted area of occurrence, associate to the intensive collecting of everlasting (sempre-vivas) and the destruction of habitats, represents serious risk to the conservation of many species of this family. Currently 54 are enclosed in the red list of species endangered of extinction of the state of Minas Gerais, moreover, seven already are considered extinct. The raised specific richness in the Espinhaço Range, the high level of endemism, the use of many species for the local communities and the gaps of knowledge of diverse areas of the Espinhaço and many taxa of Eriocaulaceae, points out for the necessity of studies aiming at the knowledge, the conservation and the development of handling practices in this family.

Introdução Nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço, uma família de plantas se destaca tanto pela presença significativa de seus representantes quanto pelo fato de apresentar, nesse ambiente, níveis muito altos de endemismo de suas espécies: Eriocaulaceae. Esse grupo, além de ser um dos mais representativos dos campos rupestres, é também uma das famílias diagnósticas desse bioma, juntamente com espécies de outros grupos de monocotiledôneas, pertencentes principalmente a Velloziaceae, Xyridaceae, Poaceae e Cyperaceae. Os representantes de Eriocaulaceae podem ser facilmente reconhecidos pela presença de inflorescências em forma de capítulos. A família compreende aproximadamente 1200 espécies (Giulietti & Hensold, 1990) e 11 gêneros. Destes, apenas Eriocaulon apresenta distribuição pantropical (Giulietti & Hensold, 1990); Syngonanthus e Paepalanthus possuem representantes na África e nas Américas e o gênero Mesanthemum ocorre apenas na África (Giulietti & Hensold, 1990). Lachnocaulon, Leiothrix, Tonina, Rondonanthus, Philodice, Actinocephalus e Blastocaulon são gêneros restritos ao continente americano, mas com diferentes áreas de ocorrência. Excetuando-se Rondonanthus, Lachnocaulon, Tonina e Mesanthemum, todos os outros gêneros são representados na Cadeia do Espinhaço. Eriocaulaceae possui dois centros de diversidade: o principal situa-se nas montanhas da Cadeia do Espinhaço em Minas Gerais e Bahia, e um centro secundário encontra-se localizado nas montanhas da Venezuela e nas Guianas. Além da presença de um

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grande número de espécies no Espinhaço, muitos táxons são endêmicos desta formação geológica, alguns com distribuição bastante restrita, ocorrendo em uma única localidade ou alto de serra. Tanto na porção mineira do Espinhaço, como na Chapada Diamantina, na Bahia, há diversas espécies, pertencentes principalmente ao gênero Syngonanthus, que apresentam importância econômica para as populações locais, onde são conhecidas e comercializadas como “sempre-vivas”. Este trabalho teve como objetivo compilar todos os dados disponíveis acerca da riqueza e distribuição geográfica das Eriocaulaceae na Cadeia do Espinhaço, visando diagnosticar o atual status de conhecimento da família e as ameaças à conservação de sua diversidade.

Estudos com Eriocaulaceae Estimar o número de espécies de Eriocaulaceae que ocorre na Cadeia do Espinhaço é, para alguns táxons, uma tarefa difícil, devido principalmente ao grande número de espécies que ocorre nos campos rupestres, à falta de levantamentos florísticos de grande parte do Espinhaço e à carência de revisões taxonômicas de muitos grupos da família. As pesquisas recentes tratando de táxons brasileiros de Eriocaulaceae englobam principalmente estudos anatômicos e químicos (Andrade et al., 1999; Castro & Menezes, 1995; Coan et al., 2002; Kraus et al., 1996; Mayworm & Salatino, 1993; Oriani et al., 2005; Ricci et al., 1996; Salatino et al., 2000; Santos et al., 1999;


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Scatena & Bouman, 2001; Scatena & Menezes, 1993, 1995; Scatena & Rosa, 2001; Scatena et al., 1996, 1998, 1999; Splett et al., 1993) e estudos taxonômicos de alguns grupos (Giulietti, 1984; Hensold & Giulietti, 1991; Hensold, 1988; Tissot-Squali, 1997; Sano, 1999; Lazzari, 2000; Costa, 2005). Dados sobre biologia reprodutiva (Ramos et al., 2005; Figueira, 1998; Sano, 1996), filogenia e evolução (Giulietti et al. 1995, 2000; Unwin, 2004) ainda são escassos. Levantamentos florísticos em áreas fora da Cadeia do Espinhaço foram efetuados apenas em Santa Catarina (Moldenke & Smith, 1976), Distrito Federal (dados não publicados) e São Paulo (dados não publicados). Em Minas Gerais há dados para o Parque Nacional do Caparaó (Trovó et al. 2006) e encontra-se em andamento o estudo das Eriocaulaceae do Parque Estadual de Ibitipoca. Na Cadeia do Espinhaço, os dados publicados que tratam da riqueza e distribuição geográfica de Eriocaulaceae ainda são restritos a poucas áreas. Na porção mineira, onde se concentra o maior número de espécies da família, alguns táxons já foram estudados em levantamentos efetuados na Serra do Cipó (Giulietti, 1978; Parra, 1998; Hensold, 1998; Sano, 1998a; Costa, 2001) e em Grão-Mogol (dados não publicados). As demais áreas permanecem sem informação sobre a riqueza específica, podendo ser inferida apenas por meio de coleções depositadas nos herbários. Na Bahia, foram estudadas as Eriocaulaceae de Mucugê (Giulietti, 1986), Catolés (Giulietti et al., 2003), Pico das Almas (Giulietti & Parra, 1995), Morro do Pai Inácio e Serra da Chapadinha (Miranda & Giulietti, 2001). Descrições de novas espécies de Eriocaulaceae para a Cadeia do Espinhaço foram publicadas por Hensold (1988), Sano (1998b), Giulietti (1996), Costa (2006) e principalmente por Ruhland (1903) e Silveira (1908, 1928). Estes últimos trabalhos (Ruhland, 1903; Silveira, 1908, 1928) ainda são, para alguns grupos de Eriocaulaceae, as únicas fontes de conhecimento sobre taxonomia, riqueza e área de ocorrência de muitas espécies.

Riqueza e distribuição geográfica Os gêneros de Eriocaulaceae que ocorrem no Espinhaço, o número de espécies já descritas para cada um deles e o número estimado de espécies que ocorrem nesta formação geológica revelam alta riqueza para a região (Tabela 1). Giulietti et al. (1997) estimaram que na Cadeia do Espinhaço ocorrem mais de 4.000 espécies de plantas vasculares, Eriocaulaceae, portanto, corresponderia a quase 10% do total destas espécies.

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Tabela 1 – Relação dos gêneros de Eriocaulaceae que ocorrem na Cadeia do Espinhaço, número de espécies descritas para cada gênero e número estimado de espécies que ocorrem no Espinhaço. Gêneros Número total Estimativa do que ocorrem de espécies número de espécies no Espinhaço por gênero no Espinhaço Actinocephalus Blastocaulon Eriocaulon Leiothrix Paepalanthus Philodice Syngonanthus Total

47

42

05

05

400*

18

42

36

377

217

02

01

200*

70

1073

379

*Segundo Stützel (1998)

Dos gêneros da família, Actinocephalus é o que apresenta a maior quantidade de informações acerca da riqueza e distribuição geográfica das espécies. O gênero é composto basicamente por espécies que pertenciam à Paepalanthus sect. Actinocephalus e P. subsect. Aphorocaulon (Sano, 2004; Costa, 2005); é endêmico do Brasil e conta com 47 espécies, sendo que 42 ocorrem no Espinhaço. Destas, apenas A. bongardii (A. St.-Hil.) Sano, A. polyanthus (Bong.) Sano, A. ramosus (Wikstr.) Sano e A. denudatus (Körn.) Sano ocorrem além dos limites da Cadeia, as outras 38 espécies são restritas ao Espinhaço. O centro de diversidade do gênero situa-se na porção mineira da Cadeia, onde são encontradas 41 espécies, sendo que 18 são endêmicas do Planalto de Diamantina. Na Chapada Diamantina (BA) ocorrem cinco espécies, entre elas A. herzogii (Moldenke) Sano, endêmica desta área. A maioria das espécies de Actinocephalus apresenta distribuição geográfica restrita, algumas são conhecidas por pequenas populações, estando inclusive fora de unidades de conservação, como A. aggregatus F. N. Costa, endêmica da porção norte da Serra do Cipó, nas proximidades de Congonhas do Norte e A. ciliatus (Bong.) Sano, que ocorre nas áreas adjacentes aos municípios de Serro e Diamantina. O gênero Blastocaulon conta com cinco espécies restritas à Cadeia do Espinhaço, a maioria concentrada no Planalto de Diamantina. Apenas B. prostratum (Körn.) Ruhland e B. scirpeum (Mart.) Giul. são encontradas também na Chapada Diamantina (Miranda & Giulietti, 2001). Estima-se, para Eriocaulon, em torno de 400 espécies (Stützel, 1998). É o maior gênero da família e o único com distribuição pantropical (Giulietti & Hensold, 1990). Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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Giulietti (1978) registrou sete espécies na Serra do Cipó. Na Cadeia do Espinhaço, há registros da ocorrência de aproximadamente 20 espécies. Contudo, esse é um gênero com poucos dados publicados e provavelmente a diversidade no Espinhaço é bem maior do que o estimado no presente. O gênero Leiothrix possui 42 espécies restritas à América do Sul e com centro de diversidade nas serras de Minas Gerais (Giulietti & Hensold, 1990). Na Cadeia do Espinhaço ocorrem aproximadamente 36 espécies, sendo que, destas, cerca de 70% são endêmicas de Minas Gerais, distribuídas desde a Serra do Cipó e a Serra do Caraça, ao sul, até a Serra de Grão-Mogol e Itacambira, ao norte. Paepalanthus é o segundo maior gênero da família e o mais complexo do ponto de vista taxonômico. Atualmente conta com aproximadamente 380 espécies distribuídas na África, América Central e do Sul, agrupadas em diferentes categorias infragenéricas (Tabela 2). O centro de diversidade do gênero localiza-se na Cadeia do Espinhaço, com mais de 200 espécies ocorrendo na área. Desse total, aproximadamente 82 % são endêmicas da região. Dos subgêneros de Paepalanthus com representantes no Espinhaço, apenas P. subg. Xeractis e P. subg. Platycaulon tiveram suas revisões taxonômicas já efetuadas.

Dentre as 47 espécies pertencentes a Paepalanthus subg. Platycaulon, 24 estão no Espinhaço. Apenas P. rigidulus Mart. ocorre na Chapada Diamantina; as demais são restritas à porção mineira da Cadeia, ocorrendo desde a Serra do Cipó, onde há várias espécies endêmicas, como P. bromelioides Silveira, até o Planalto de Diamantina. Paepalanthus subg. Xeractis apresenta 28 espécies, todas restritas à porção mineira da Cadeia do Espinhaço, ocorrendo desde o sul desta Cadeia até a Serra do Cabral e Planalto de Diamantina, ao norte. Aproximadamente 60 % das espécies deste subgênero são endêmicas da Serra do Cipó, algumas com área de distribuição bastante restrita, como P. ater Silveira, endêmica do Morro do Breu, situado no trecho central desta Serra. Paepalanthus subg. Thelxinoë conta com apenas duas espécies: P. scleranthus Ruhland e P. leucocephalus Ruhland, ambas restritas ao Espinhaço Meridional. Dentre os subgêneros de Paepalanthus, o de caracterização mais complexa e também o que possui o maior número de espécies é Paepalanthus subg. Paepalanthus (referido por Ruhland (1903) como P. subg. Paepalocephalus), que agrega mais de 250 espécies agrupadas em quatro seções. Paepalanthus distichophylus Mart., única espécie de P. sect. Dyostiche, é endêmica

Tabela 2 – Relação dos táxons infragenéricos reconhecidos atualmente para Paepalanthus Mart. Entre parênteses está o número aproximado de espécies que ocorre na Cadeia do Espinhaço.

Subgêneros

Seções

Subseções

Séries

P. subg. Thelxinoë (2) P. subg. Xeractis (28) P. subg. Monosperma (0) P. subg. Psilandra (1) P. subg. Platycaulon (24)

P. sect. Divisi (17) P. sect. Conferti (7) P. sect. Conodiscus (2) P. sect. Dyostiche (1) P. sect. Diphyomene (7) P. subsect. Polycladus (2) P. subsect. Actinocephaloides (6)

P. subg. Paepalanthus (152)

P. subsect. Dicocladus (1) P. subsect. Polyactis (25) P. sect. Paepalanthus (142)

P. ser. Dimeri (4) P. ser. Leptocephali (12) P. subsect. Paepalanthus (108)

P. ser. Rosulati (4) P. ser. Variabilis (84) P. ser. Vivipari (4)

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da porção mineira do Espinhaço, ocorrendo entre a Serra do Cipó e o Planalto de Diamantina. Paepalanthus sect. Conodiscus possui três espécies, sendo que uma ocorre no estado de Goiás e as outras duas, P. sphaerocephalus Ruhland e P. exiguus (Bong.) Körn., ocorrem nas serras de Minas e da Bahia. Paepalanthus sect. Diphyomene conta com 16 espécies, duas delas, P. flaccidus (Bong.) Kunth e P. giganteus Sano, ocorrem na Serra do Cipó (Costa, 2001) bem como em outras áreas de Minas e do Centro-Oeste. Estima-se que, ao longo do Espinhaço, ocorram de seis a oito espécies pertencentes a este táxon. Paepalanthus sect. Paepalanthus [referido por Ruhland (1903) como P. sect. Eriocaulopsis] é a seção com maior número de espécies, das quais aproximadamente 60% ocorrem na Cadeia do Espinhaço, a maioria concentrada no estado de Minas Gerais. O gênero Paepalanthus é, inquestionavelmente, o mais carente de informações e o que necessita de um maior esforço de pesquisas, inclusive em relação à sua circunscrição, uma vez que se trata de um táxon polifilético (Giulietti et al., 1995; Gilietti et al., 2000; Unwin, 2004). O gênero Philodice conta com apenas duas espécies, das quais uma, P. hoffmannseggii Mart. ocorre na Cadeia do Espinhaço, no Planalto de Diamantina. Syngonanthus possui aproximadamente 200 espécies distribuídas em cinco seções: S. sect. Syngonanthus, S. sect. Carphocephalus, S. sect. Eulepis, S. sect. Thysanocephalus, S. sect. Chalarocaulon. Destas, apenas S. sect. Eulepis foi revisada (Lazzari, 2000). Na Serra do Cipó são encontradas 20 espécies de Syngonanthus (Parra, 1998) e se estima que mais de 70 ocorram na Cadeia do Espinhaço. Muitas espécies do gênero têm importância econômica: mais de 20 espécies, pertencentes principalmente à S. sect. Eulepis, são comercializadas como “sempre-vivas” ao longo da Cadeia, algumas das quais restritas a pequenas áreas, como S. mucugensis, endêmica de Mucugê, na Chapada Diamantina, e S. brasiliana, restrita à Serra do Ambrósio, no município de Rio Vermelho, em Minas Gerais. Giulietti et al. (2005) citam a ocorrência de 548 espécies de Eriocaulaceae no Brasil, portanto, no Espinhaço, ocorreriam aproximadamente 70% das espécies brasileiras, a maioria delas na porção mineira. Na Chapada Diamantina, segundo Giulietti et al. (2005), há registros da ocorrência de 50 espécies novas de Eriocaulaceae ainda por serem descritas. Em Minas Gerais, principalmente no Planalto de Diamantina, onde se localiza o centro de diversidade de muitos táxons da família, provavelmente a riqueza específica seja ainda bem maior do que a estimada atualmente.

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Endemismos Além da grande riqueza de espécies pertencentes a diversas famílias botânicas, uma outra característica marcante dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço é o elevado número de táxons endêmicos desta formação geológica. Dentre as espécies de Eriocaulaceae que ocorrem no Espinhaço, estima-se que aproximadamente 85% sejam endêmicas, a maioria delas restrita a pequenas localidades, sendo inclusive denominadas como “microendêmicas” ou endêmicas restritas. Parte do endemismo decorre de problemas taxonômicos. Existem espécies conhecidas apenas do materialtipo e, portanto, coletadas somente em uma única localidade. Associada a essa realidade existe a lacuna de revisões taxonômicas mais recentes, que permitam avaliar o status real dessas espécies: se de fato são ou não passíveis de serem reconhecidas como tais. Há também a possibilidade de que um certo número de híbridos tenham sido descritos como espécies novas, o que também colabora para o aumento da riqueza e da taxa de endemismo. Outra razão para o elevado número de espécies conhecidas apenas de uma localidade ou de um material diz respeito ao esforço de coleta. Se por um lado existem áreas da Cadeia do Espinhaço que apresentam grande esforço amostral, como é o caso da Serra do Cipó, por exemplo, por outro lado, existem lacunas de conhecimento, sobretudo na porção mais setentrional do Espinhaço mineiro, o que certamente se reflete no número e ocorrência de espécies. Esse é o caso, por exemplo, de Actinocephalus divaricatus (Bong.) Sano, que havia sido referida para Diamantina, Minas Gerais. Coletas intensivas na Bahia ampliaram a área de ocorrência da espécie para o norte, na Chapada Diamantina; e para o sul, na Serra do Cipó, em Minas Gerais. Como característica biológica, a família, de modo geral, coloniza áreas de grande altitude e, portanto, de acesso difícil. A pouca acessibilidade das áreas de ocorrência é outro fator que também está ligado ao número e à ocorrência de registros de espécies de Eriocaulaceae. A ampliação do esforço amostral em número de coletas e de áreas coletadas tem trazido o registro de novas áreas de ocorrência para espécies antes conhecidas de uma única localidade. Porém, é real que essa ampliação tem intensificado também o número de espécies novas descritas (ou a serem descritas), aumentando o registro de novos endemismos. Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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À parte os problemas taxonômicos e as lacunas de coleta, existem inúmeros outros casos de endemismos que, de fato, refletem a história evolutiva da família. São testemunhos ou de uma distribuição mais ampla da espécie e que hoje se encontra mais restrita (paleoendemismo) ou de uma especiação recente cujos indivíduos ainda não colonizaram outras regiões (neoendemismo). O fato é que estudos nessa área do conhecimento são urgentes e necessários para que se possa explicar não somente a história evolutiva de Eriocaulaceae como também o próprio histórico de colonização da Cadeia do Espinhaço por essas plantas.

Extrativismo de sempre-vivas Com o declínio do ciclo do ouro e do diamante, parte da população do Espinhaço encontrou como alternativa de fonte de renda o extrativismo de “sempre-vivas”. Sempre-vivas é o nome popular dado a escapos e inflorescências de plantas que mantêm a aparência de estruturas vivas, mesmo depois de destacadas e secas, sendo empregadas na decoração de interiores (Giulietti et al., 1988). As espécies comercializadas pertencem a diferentes famílias, como Xyridaceae, Cyperaceae, Poaceae e principalmente Eriocaulaceae. A comercialização deste produto teve início nas décadas de 1930 e 1940, e seu auge ocorreu entre os anos de 1970 e 1980, com o aumento da demanda neste período influenciado pelo interesse na exportação para os Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa (Giulietti et al., 1988). A maioria das espécies comercializadas é restrita aos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço. As duas principais áreas de ocorrência destas plantas localizam-se na região do Planalto de Diamantina, em Minas Gerais, e nos arredores de Mucugê, na Bahia, consideradas pólos produtores de sempre-vivas (Lazzari, 2000). Na região de Diamantina, embora 25 espécies de Eriocaulaceae sejam comercializadas como semprevivas (Giulietti et al., 1996), a exploração é mais concentrada em algumas espécies (Giulietti et al., 1988), especialmente S. elegans (Bong.) Ruhland, popularmente conhecida como sempre-viva pé-de-ouro; e S. elegantulus Ruhland e S. dealbatus Silveira, ambas conhecidas pelo nome de brejeira. Há registros que apontam que, somente no ano de 1984, a quantidade de plantas comercializadas de sempre-viva pé-de-ouro e de brejeira somam 60 toneladas

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(Giulietti et al., 1988). Por ser uma das sempre-vivas mais exploradas e que atinge maior valor comercial, S. elegans (Bong.) Ruhland sofreu redução drástica em sua área de ocorrência, tendo desaparecido em muitos locais, fato que a coloca atualmente como uma das espécies ameaçadas de extinção, juntamente com outras 53 espécies da família (Fundação Biodiversitas, 2007). Na Bahia, Syngonanthus mucugensis Giulietti é a principal espécie explorada como sempre-viva, inclusive, seu extrativismo indiscriminado dizimou grande parte de suas populações, o que levou o IBAMA, no início dos anos 1990, a proibir a colheita e, apenas com o estabelecimento do projeto “Sempre Viva” em 1996, a situação apresentou melhoras. Este projeto contou com inúmeras parcerias de instituições políticas, científicas e de representação social e culminou na criação efetiva do Parque Municipal de Mucugê. Com essa iniciativa, empregos e fontes de renda foram gerados para parte da população local, bem como garantida a sobrevivência da espécie (Teixeira & Linsker, 2005). Na comunidade de Galheiros, localizada no município de Diamantina, a atuação de empresas privadas e organizações não-governamentais, como a Terra Brasilis, Mão de Minas e SEBRAE, têm incentivado o uso de sempre-vivas e de outras plantas na confecção de peças artesanais. Tal atividade proporciona o aumento da renda, com a venda desses produtos, em relação à venda obtida do produto não manufaturado. A ação conjunta destes órgãos vem aumentando a consciência da comunidade quanto à necessidade de conservação das sempre-vivas, reduzindo os impactos do extrativismo desordenado. A exploração de sempre-vivas, principalmente em Minas Gerais e Bahia, conduz a uma reflexão sobre diferentes aspectos do extrativismo e conservação destas espécies. Alguns deles merecem especial destaque. O primeiro aspecto é o da real necessidade de conservação destas espécies, uma vez que as populações naturais têm diminuído consideravelmente, refletindo diretamente no número de espécies ameaçadas de extinção. Outro aspecto importante é a relevância de trabalhos em parceria dos órgãos políticos com as Universidades, como o projeto “Sempre Vivas” em Mucugê, que é um modelo premiado neste tipo de trabalho (Teixeira & Linsker, 2005). Por fim, não se pode ignorar o aspecto social envolvido na questão da conservação/exploração de semprevivas. Muitas são as comunidades que contam exclusivamente com o extrativismo como única fonte de renda


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(Giulietti et al., 1988). Muitos são os atravessadores e exportadores envolvidos no comércio de sempre-vivas, assim como grande é a renda gerada para os municípios neste negócio. Diante disso, temos que o problema do extrativismo e da conservação de sempre-vivas precisa ser pensado não só do ponto de vista biológico, mas também sob o aspecto político e social.

Ameaças x Conservação das espécies Representantes de Eriocaulaceae ocorrem, na sua grande maioria, em áreas de campo rupestre, nos campos entre os afloramentos rochosos em meio a uma matriz graminóide. Estas áreas na região da Cadeia do Espinhaço têm sofrido enorme pressão agrícola e pecuária. Grandes e pequenas propriedades têm cada vez mais avançado sobre estas terras na intenção de expandir as pastagens e as áreas de cultivo, inclusive com uso de fogo. Outro problema muito frequente é a atividade de empresas mineradoras. Além do grande impacto que causam no ambiente como um todo, em geral seu modo de operação consiste, de início, justamente na retirada das camadas superficiais do solo, sobre as quais encontram-se instaladas as espécies herbáceas. A distribuição geográfica das espécies, geralmente restrita a pequenas áreas, associada à destruição do habitat (fogo, garimpo, mineração, expansão da agricultura e pecuária) e ao extrativismo de semprevivas, contribuem para que Eriocaulaceae seja uma das famílias mais ameaçadas dos campos rupestres do estado de Minas Gerais. Atualmente, 54 espécies de Eriocaulaceae estão incluídas na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção do estado de Minas Gerais: 23 delas na categoria Criticamente em Perigo, 19 na categoria Em Perigo e 12 espécies na categoria Vulnerável (Fundação Biodiversitas, 2007). Dado mais alarmante ainda é o número de táxons da família considerados extintos: sete. São eles: Actinocephalus cipoensis (Silveira) Sano, Eriocaulon melanolepis Silveira, Leiothrix gomesii Silveira, Leiothrix linearis Silveira, Paepalanthus argenteus var. elatus (Bong.) Hensold, Paepalanthus lepidus Silveira e Paepalanthus perbracchiatus Silveira. Esses números, mais do que motivo de preocupação e alerta, devem servir também como uma chamada de atenção para a necessidade de políticas públicas e de ações sociais voltadas para a preservação desse patrimônio natural que vem sendo perdido ao longo do tempo.

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Considerações finais A Cadeia do Espinhaço configura-se como ambiente único não apenas em termos de paisagem como também no que diz respeito à sua ocupação pelos organismos que ali vivem. Nesse contexto, Eriocaulaceae evidencia-se como uma das famílias que apresentam sua maior diversidade e riqueza nesses locais. A abundância de espécies, o alto nível de endemismo, o caráter do uso dessas espécies pelas comunidades locais atestam para a necessidade do conhecimento, da preservação e do manejo dessa família. À singularidade do ambiente soma-se, portanto, a singularidade da família. Para que se possa identificar a real riqueza e a distribuição geográfica das espécies de Eriocaulaceae na Cadeia do Espinhaço, será necessária uma concentração de esforços para amostrar áreas ainda pouco inventariadas da Cadeia, como por exemplo, as serras situadas na porção setentrional do Espinhaço mineiro e algumas áreas da porção meridional, como Morro do Breu, serras de Congonhas do Norte e Santana de Pirapama, Planalto de Diamantina, Chapada do Couto e Serra do Cabral. Além disso, é imprescindível um maior investimento na formação de especialistas nesta família, uma vez que a falta de estudos de taxonomia e de sistemática em diversos táxons, além da carência de estudos em outras áreas, como biologia reprodutiva e dinâmica das populações, dificultam o estabelecimento de estratégias de conservação e de manejo destas plantas.

Agradecimentos Os autores agradecem ao Alexsander Araújo Azevedo (Alex), do Instituto Biotrópicos de Pesquisa em Vida Silvestre, pelo convite para participar deste volume da Megadiversidade.

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Bromeliaceae da Cadeia do Espinhaço Leonardo M. Versieux 1,2 Tânia Wendt 3 Rafael Batista Louzada 2,4 Maria das Graças Lapa Wanderley 2 Doutorando em Botânica, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. Instituto de Botânica, Seção de Curadoria do Herbário, São Paulo, Brasil. 3 Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 4 Mestrando em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente, Instituto de Botânica, Universidade de Mogi das Cruzes, Mogi das Cruzes, Brasil. * email: lversieux@yahoo.com.br 1 2

Resumo Bromeliaceae é uma família de monocotiledôneas de grande importância ecológica na flora da mata atlântica e dos campos rupestres. No presente trabalho apresenta-se um catálogo dos 26 gêneros e 224 espécies de bromélias da Cadeia do Espinhaço, nos estados da Bahia e Minas Gerais. Esta lista foi preparada a partir do levantamento de 17 coleções de herbários, trabalho em campo e consulta à literatura. Para a Bahia, foram listados 19 gêneros e 106 espécies, enquanto que em Minas Gerais ocorrem 23 gêneros e 141 espécies. Das 224 espécies referidas para a Cadeia do Espinhaço, 111 (49,5%) são endêmicas dessa cadeia de montanhas e apenas 21 (9,5%) ocorrem em ambos os estados, indicando composições florísticas peculiares e ricas em endemismos regionais. A subfamília Bromelioideae é a mais rica em gêneros e espécies e está melhor representada em Minas Gerais, no sul da Cadeia do Espinhaço. As subfamílias Tillandsioideae e Pitcairnioideae também se destacam pelo grande número de espécies e endemismos nos gêneros Vriesea e Dyckia. O trabalho indica que ainda existem áreas pouco exploradas botanicamente ao longo do Espinhaço, sendo que a maior parte das coleções se concentra em menos de dez municípios de cada estado.

abstract Bromeliaceae is a monocot family that has a great ecological importance in the atlantic forest and in campo rupestre vegetation. This paper presents a checklist of the 26 genera and 224 species of Bromeliaceae occurring in the Espinhaço mountain chain that is located in the Brazilian states of Bahia and Minas Gerais. This checklist was based on the survey of 17 herbaria collections, field work and related literature sources. A total of 19 genera and 106 species were inventoried for Bahia, and 23 genera and 141 species are listed for Minas Gerais. Of the total number of species occurring in the Espinhaço, 111 (49,5%) are endemic of this range, and only 21 (9,5%) occur in both states, reflecting the peculiar vegetations that are rich in narrowly ranged species. Among the three Bromeliaceae subfamilies, Bromelioideae is the richest in number of genera and species and is better represented along the southern portion of the Espinhaço Range, at Minas Gerais. Subfamilies Tillandsioideae and Pitcairnioideae also stand out due to Vriesea and Dyckia, both

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of these genera are rich in species and in endemism. The checklist indicates that most of the collections come from less than 10 counties in each state and that there are still undercollected areas along this range.

Introdução O Brasil apresenta uma expressiva riqueza vegetal, abrigando cerca de 19% das 250.000 espécies de angiospermas conhecidas (Giulietti et al., 2005). Bromeliaceae representa um importante componente florístico e fisionômico em diferentes formações vegetais, com representantes de formas de vida terrestre, epífita ou rupícola. Nos Neotrópicos, Bromeliaceae se destaca pela grande diversidade genérica e específica, com cerca de 57 gêneros e 3.086 espécies (Luther, 2006), sendo que uma espécie do gênero Pitcairnia ocorre no oeste do continente africano, em razão de uma dispersão a longa distância recente (Givnish et al., 2004). Bromeliaceae é tradicionalmente dividida em três subfamílias: Pitcairnioideae, Tillandsioideae e Bromelioideae (Smith & Downs, 1974). Porém essa classificação vem passando por grandes transformações a partir dos estudos filogenéticos que empregam caracteres moleculares (Crayn et al., 2004; Givnish et al., 2004). A importância ecológica da família é marcante nos ambientes em que ocorre, pois muitas espécies ampliam a biodiversidade através dos tanques (fitotelmatas) que acumulam a água das chuvas, que, por sua vez, é utilizada por uma vasta gama de seres vivos (Benzing, 2000). Alguns gêneros de Bromeliaceae dos campos rupestres são conhecidos pelas associações com cupinzeiros e formigueiros (Thorne et al., 1996). A família também merece destaque pela importância das espécies ornamentais, que são amplamente cultivadas. Na Cadeia do Espinhaço, que se estende pelos estados da Bahia e de Minas Gerais, destaca-se a vegetação dos campos rupestres, com uma rica flora de angiospermas e padrões de distribuição geográfica peculiares, sendo marcante um elevado grau de endemismo para diferentes famílias (Pirani & Giulietti, 1988). Além dos campos rupestres, observa-se ao longo do Espinhaço um mosaico de formações, envolvendo matas de galeria, “capões” de florestas montanas, floresta estacional semidecidual, campos, vegetação rupícola sobre solo de canga, áreas úmidas e brejosas, cerrado e caatinga, sendo notáveis extensos ecótonos entre essas comunidades (Giulietti & Pirani, 1997; Spósito & Stehmann, 2006; Viana & Lombardi, 2007; Jacobi et al., 2007).

Uma grande concentração das espécies brasileiras de Bromeliaceae ocorre ao longo da Cadeia do Espinhaço, que tem despertado o interesse de naturalistas e botânicos desde expedições históricas, realizadas no século XIX, como as de A. Saint-Hilaire, C.P.F. von Martius e J.E. Pohl. Entre os gêneros de bromélias endêmicos da Cadeia do Espinhaço, descritos com base nas coleções dessas expedições, podem ser citados Eduandrea (Baker) Leme et al., restrito ao sul do Espinhaço (MG) e Sincoraea Ule (= Orthophytum), inicialmente conhecido apenas para a serra do Sincorá, chapada Diamantina (BA). Nas últimas décadas, os estudos florísticos e revisões taxonômicas em Bromeliaceae se ampliaram significativamente, sendo marcante o acréscimo de novas coleções aos herbários e o número de novas espécies descritas. Entre os trabalhos realizados com as bromélias de campo rupestre, destacam-se as floras e listagens regionais (Smith & Downs, 1974; 1977; 1979; Wanderley & Martinelli, 1987; Leme & Funch, 1988; Mayo et al., 1995; Coffani-Nunes, 1997; Forzza & Wanderley, 1998; 2003; Pirani et al., 1994; Marques, 2002; Wanderley & Forzza, 2003; Versieux & Wendt, 2006; Coser, 2008), as revisões (Leme, 1996; 1997; 1999a; Morillo 1996; Forzza, 2005; Faria, 2006; Louzada, 2008), e a descrição de novos táxons (e.g., Leme, 1999b; Wanderley & Conceição, 2006; Versieux & Leme, 2007; Versieux & Wanderley, 2007). O presente trabalho visa reunir informações sobre a diversidade e padrões de endemismo para a família Bromeliaceae na Cadeia do Espinhaço na Bahia e em Minas Gerais.

Materiais e Métodos O levantamento das espécies de Bromeliaceae que ocorrem na Cadeia do Espinhaço foi efetuado com base na relação dos municípios que integram tal formação geomorfológica, conforme a circunscrição adotada pela Fundação Biodiversitas, durante o workshop “Espinhaço Sempre Vivo” (mapas e listagem dos municípios disponíveis em www.biodiversitas.org.br/espinhaco/ mapas/framemapa.htm). Essa listagem de municípios Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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engloba, não somente os campos rupestres, mas também áreas de afloramentos calcários e graníticos (inselbergs), caatinga, cerrado, além de áreas de floresta estacional semidecidual, compreendendo altitudes aproximadamente entre 900 a 2.000 m.s.n.m. Os dados para se estabelecer a ocorrência dos táxons na Cadeia do Espinhaço provêm de três fontes principais: (1) coleções de herbários brasileiros e norte-americanos; (2) trabalho de campo, com diferentes expedições de coleta realizadas pelos autores; (3) consulta à literatura especializada. Foram consultados os seguintes herbários: ALCB, BHCB, BHZB, CESJ, CEPEC, HB, HBR, HUEFS MBM, R, RB, RFA, SEL, SP, SPF, US e VIC (siglas de acordo com Holmgren et al., 1990). Para os táxons que careciam de coleções recentes ou para os quais não foram examinados materiais de herbário, tomou-se como referência a localidade citada na obra original e citou-se, como testemunho, o materialtipo. A listagem completa dos táxons é apresentada no Apêndice, adotando-se a nomenclatura utilizada por Luther (2006), e Brummit & Powell (1992), para a abreviatura dos nomes dos autores dos táxons. Espécies novas em processo de descrição ou táxons duvidosos que demandam por estudos revisionais detalhados, são referidos como morfo-espécies numeradas. Para cada táxon é apresentado um material-testemunho, para Bahia e/ou Minas Gerais, proveniente dos municípios pertencentes ao Espinhaço. Quando há dois materiais-testemunhos (para as espécies que ocorrem em ambos os estados), é citado primeiro o material da Bahia seguido pelo de Minas Gerais. As siglas de herbários destacadas por um asterisco indicam que o registro do táxon para a Cadeia do Espinhaço foi obtido da literatura consultada. Foram tratados como endêmicos apenas os táxons que apresentam distribuição restrita à Cadeia do Espinhaço, adotando-se as seguintes subdivisões em áreas de endemismo: CE = endêmica da cadeia do Espinhaço (BA e/ou MG), CD = endêmica da chapada Diamantina (BA), GM = endêmica de Grão Mogol (MG), PD = endêmica do planalto de Diamantina (MG), QF = endêmica do Quadrilátero Ferrífero (MG), SC = endêmica da serra do Cipó (MG).

Discussão A Cadeia do Espinhaço apresenta 26 gêneros e 224 espécies de Bromeliaceae (Tabela 1). Na Bahia ocorrem 106 espécies subordinadas a 19 gêneros, enquanto que

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em Minas Gerais 141 espécies em 23 gêneros (Tabela 1 e Anexo). Do total de espécies apresentadas, apenas 21 (9,5%) ocorrem em ambos os estados e 111 (49,5%) são endêmicas da Cadeia do Espinhaço (Tabela 1). Bromelioideae apresentou o maior número de táxons (108 espécies /16 gêneros) seguido por Tillandsioideae (59/5) e Pitcairnioideae (57/5) (Tabela 1 e Figura 1). Pode-se destacar o quão rico é o Espinhaço quando se observa que cerca de 46% do total de gêneros (~57) e 7% do total de espécies (~3086) descritos para toda a família Bromeliaceae ocorrem nessa serra. É notável o elevado número de espécies endêmicas da região (49,5%), principalmente em alguns gêneros. Em Bromelioideae os gêneros Eduandrea, Orthophytum, Cryptanthus e Hohenbergia apresentaram elevado grau endemismo, sendo que Eduandrea é restrito à porção sul da Cadeia do Espinhaço em Minas Gerais. Em Tillandsioideae, Alcantarea e Vriesea se destacam pela alta porcentagem de táxons endêmicos. Em Pitcairnioideae, Dyckia representa o gênero com maior número de espécies e espécies endêmicas. Ainda nesta subfamília, se destacam os gêneros Encholirium, com 80% de endemismo e Cottendorfia, gênero monotípico endêmico da porção norte do Espinhaço (BA). Diversos trabalhos apontam para um elevado grau de endemismo de diferentes famílias de plantas ao longo do Espinhaço, e.g., Fabaceae (Simon & Proença, 2000), Apocynaceae (Rapini et al., 2002). Se tomado o estado de Minas Gerais como um todo, 62% das suas espécies endêmicas de Bromeliaceae, estão restritas ao Espinhaço, sendo essa a mais importante área de endemismo para a família no estado (Versieux & Wendt, 2006; 2007). Algumas espécies endêmicas da Cadeia do Espinhaço, tais como, Encholirium subsecundum, Neoregelia bahiana e Vriesea oligantha são típicas da vegetação de campos rupestres e possuem ampla distribuição na Cadeia do Espinhaço. Outras ocorrem em capões de mata associados às vertentes mais úmidas como Wittrockia sp.1, que apesar de apresentar distribuição isolada nesses ambientes, ocorre em ambos os estados. Por outro lado, há espécies que se destacam pela distribuição pontual, sendo restritas a uma única localidade, tidas como micro-endêmicas (e.g., Dyckia glandulosa, Vriesea atropurpurea e Vriesea stricta), contribuindo para que a similaridade florística, mesmo entre áreas ou serras próximas, seja baixa. Outras espécies são, ainda hoje, conhecidas apenas pela coleção-tipo (e.g., Hohenbergia rosea, Vriesea sincorana), apontando para a necessidade de se aprofundar os estudos florísticos e de distribuição geográfica com a família.


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A biologia reprodutiva, incluindo a hibridização, e a dispersão de sementes tem papel-chave na especiação de Bromeliaceae (Holst, 1994; Wendt et al., 2000; 2001). O elevado endemismo observado em alguns gêneros parece estar relacionado à morfologia e ao meio de dispersão das sementes, apesar da reprodução por brotamentos ou crescimento clonal ser uma estratégia frequentemente empregada (Benzing, 2000). O alcance da dispersão da semente irá influenciar no estabelecimento de populações isoladas e poderá promover, ao longo de sucessivas gerações, a especiação. Na subfamília Pitcairnioideae, os gêneros Dyckia e Encholirium destacam-se pela riqueza de espécies e altas porcentagens de endemismo (Tabela 1). Holst (1994) também observou um elevado endemismo para espécies de Pitcairnioideae, ao trabalhar com as bromélias da Venezuela. Para esse autor, a explicação parcial provém do tipo de semente alada apresentada, dispersada por pequenas distâncias. Nesses casos, uma vez estabelecida uma população, longe dos seus parentais, essa permanece geneticamente isolada, o que interfere no processo de especiação. Para Benzing (2000), a ocorrência de Dyckia e Encholirium no sudeste do Brasil constitui uma radiação secundária dentro da subfamília Pitcairnioideae, cujo centro de diversidade é o planalto das Guianas. O mesmo autor destaca que a hibridização dentro desses gêneros é um indicador de processos de especiação recentes, favorecidos por condições especiais de determinados habitats de maior altitude (campo rupestre) e pelas flutuações climáticas do Plio-Pleistoceno, que fragmentaram ou alteraram a distribuição geográfica de diferentes grupos de organismos, promovendo a especiação. Alguns gêneros mostram interessantes distribuições. Hohenbergia, tão prolífero na Bahia, está ausente no setor mineiro. Por outro lado, elementos típicos da floresta atlântica do sudeste do Brasil (e.g. Nidularium, Quesnelia), estão restritos ao extremo sul da Cadeia do Espinhaço, não ocorrendo a oeste do meridiano de 45O. Cinco gêneros de Bromelioideae (Acantostachys, Eduandrea, Nidularium, Portea e Quesnelia), subfamília com centro de diversidade na mata atlântica, não ocorrem no setor baiano, que aparenta receber maior influência da vegetação da caatinga e do cerrado adjacentes. Versieux & Wendt (2007) discutem que a riqueza de espécies de Bromeliaceae em áreas de campo rupestre diminui em direção ao norte e ao oeste de Minas Gerais. Nesse estado observa-se um grande esforço de coleta em áreas ao sul do Espinhaço, entre Diamantina e Ouro Preto, onde ocorrem as mais ricas coleções, resultantes dos estudos científicos e históricos desenvolvidos por botânicos. Estes autores discutem também

101

a afinidade florística e o compartilhamento de táxons que ocorrem na porção sul do Espinhaço mineiro e na mata atlântica s.l. Em Minas Gerais, foram encontrados registros de ocorrência da família para cerca de 50% dos municípios do Espinhaço. Para este estado, conforme pode ser visto na Figura 2, há um aumento significativo das coleções de herbário no município de Santana do Riacho, que abriga o Parque Nacional da Serra do Cipó e onde há um grande esforço de coleta dentro do Projeto “Flora da Serra do Cipó”. No estado da Bahia, apesar, da ampliação dos esforços de coletas nos últimos anos com o desenvolvimento do projeto Flora da Bahia, alguns gêneros ainda estão sub-amostrados e nota-se que oito municípios concentram a maior parte das coleções. O emprego secular dos campos rupestres como pastagens naturais, associado à mineração, às queimadas, ao extrativismo e ao desmatamento das matas de galeria comprometem a sobrevivência de muitas espécies de Bromeliaceae da Bahia e Minas Gerais, algumas delas sequer descritas como novas (e.g., Dyckia sp. 3). Alcantarea hatschbachii, micro-endêmica do planalto de Diamantina é tida como possivelmente extinta, a localidade-tipo sofreu intensas queimadas e extrativismo (G. Hatschbach com. pes.) e buscas recentes no campo não permitiram ainda localizar novas populações. Já Vriesea segadasviannae, micro-endêmica da serra do Cipó, só conhecida de duas coleções, exemplifica que mesmo áreas muito exploradas botanicamente possuem táxons ainda pouco conhecidos ou raros. As espécies formadoras de grandes rosetas, como Alcantarea turgida da serra do Cipó, ou algumas espécies do gênero Orthophytum da Chapada Diamantina que possuem folhas avermelhadas (popularmente conhecidas como raios-de-sol) são retiradas ilegalmente do ambiente natural para serem cultivadas. Infrutescências de várias espécies rupícolas de Vriesea do planalto de Diamantina (MG), são removidas antes de dispersarem as sementes, e empregadas na confecção de arranjos florais desidratados. Versieux & Wendt (2007) demonstram a situação de risco a que muitos táxons de Bromeliaceae do estado de Minas Gerais estão expostos, principalmente aqueles endêmicos do Quadrilátero Ferrífero (sul do Espinhaço). Campos rupestres sobre solos de canga couraçada (carapaças de minério de ferro) são os primeiros a serem explorados para a abertura de cavas de mineração. Tal região abriga espécies endêmicas, muitas ainda pouco conhecidas, mas já ameaçadas (Viana & Lombardi, 2007; Jacobi et al., 2007). É necessário reforçar, ainda, a importância dos estudos sistemáticos dos táxons que ocorrem na Cadeia do

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102 | Bromeliaceae da Cadeia do Espinhaço

Espinhaço. Novas revisões taxonômicas permitirão elaborar listagens mais completas, visto que muitos táxons estão sendo descritos, sinonimizados, ou ainda apresentam difícil circunscrição, como é frequente em espécies de Dyckia, Tillandsia e Vriesea. A situação atual de ameaças a que estão sujeitas as espécies do Espinhaço, tornam urgentes as pesquisas

sobre a taxonomia, a biologia reprodutiva e a ampliação dos esforços de coleta, auxiliando, assim, na obtenção de mapas de distribuição mais exatos e que permitam ampliar as discussões biogeográficas e formular medidas conservacionistas, como a criação de novas unidades de conservação visando a preservação do maior número possível de espécies.

Tabela 1 – Riqueza de espécies e endemismo para cada um dos gêneros das três subfamílias de Bromeliaceae, encontrados nos setores mineiro e baiano da Cadeia do Espinhaço (CE), seguido pelo total de espécies comuns aos dois setores e pela porcentagem de espécies endêmicas para o gênero.

Subfamília e gêneros

Nº de espécies CE (BA + MG) Total

Endêmicas

Nº de espécies CE-BA Total

Endêmicas

Nº de espécies CE-MG Total

Espécies % em comum Endemismo Endêmicas

Bromelioideae Orthophytum

31

25

22

17

9

8

81%

Hohenbergia

15

5

15

5

33%

Billbergia

12

1

6

10

1

3

8%

Cryptanthus

11

8

4

3

7

5

73%

Aechmea

10

2

6

2

5

1

20%

Bromelia

7

3

4

Neoregelia

5

3

2

1

3

1

1

60%

Nidularium

3

1

3

1

33%

Quesnelia

3

0

3

Wittrockia

3

1

1

3

1

33%

Ananas

3

1

2

Acanthostachys

1

1

Eduandrea

1

1

1

1

100%

Neoglaziovia

1

1

1

1

Portea

1

1

Pseudananas Subtotal = 16

1

1

1

108

47

62

28

54

17

7

43,5%

Tillandsioideae Vriesea

37

21

13

8

27

12

Tillandsia

16

13

12

9

Alcantarea

4

3

1

3

3

75%

Racinaea

1

1

1

Catopsis

1

1

59

24

29

8

43

15

12

42%

Subtotal = 5

3

57%

Pitcairnioideae Dyckia

38

27

10

5

30

22

2

71%

Encholirium

15

12

4

2

11

10

80%

Pitcairnia

2

2

Pepinia

1

1

Cottendorfia

1

1

1

1

100%

Subtotal = 5

57

40

15

8

44

32

2

70%

TOTAL = 26

224

111

106

44

141

64

21

49,5%

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Versieux, Wendt, Louzada & Wanderley |

103

Agradecimentos Nosso sincero agradecimento a todos os curadores e funcionários dos herbários visitados e às agências financiadoras que nos apoiaram: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e às instituições norte-americanas: National Science Foundation (NSF DEB-0129446), Marie Selby Botanical Gardens, and Smithsonian Women’s Committee. Ao Instituto Estadual de Florestas (MG) e ao IBAMA, pelas autorizações de coleta.

Referências bibliográficas Figura 1 – Riqueza de gêneros, espécies e espécies endêmicas para as três subfamílias de Bromeliaceae ocorrentes na Cadeia do Espinhaço (BA e MG).

Benzing, D.H. 2000. Bromeliaceae: profile of an adaptive radiation. Cambridge University Press, Cambridge, U.K. Brummit, R.K. & C.E. Powell (eds.). 1992. Authors of plant names. Royal Botanical Gardens, Kew, U.K. Coffani-Nunes, J.V. 1997. Estudo florístico e fenomorfológico de Tillandsioideae – Bromeliaceae na Serra do Cipó, MG. Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. Coser, T.S. 2008. Bromeliaceae Juss. dos Campos Rupestres do Parque Estadual do Itacolomi, Minas Gerais, Brasil: florística e aspectos fenológicos. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Crayn, D.M., K. Winter & A.C. Smith. 2004. Multiple origins of crassulacean acid metabolism and the epiphytic habit in the Neotropical family Bromeliaceae. Proceeding of the National Academy of Science 101: 3703-3708. Faria, A.P.G. 2006. Revisão taxonômica e filogenia de Aechmea Ruiz & Pav. subg. Macrochordion (de Vriese) Baker, Bromelioideae. Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Forzza, R.C. 2005. Revisão taxonômica de Encholirium Mart. ex Schult. & Schult. f. (Pitcairnioideae – Bromeliaceae). Bol. Bot. Univ. São Paulo 23: 1–49. Forzza, R.C. & M.G.L. Wanderley. 1998. Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Bromeliaceae – Pitcairnioideae. Bol. Bot. Univ. São Paulo 17: 255–270. Forzza, R.C. & M.G.L. Wanderley. 2003. Bromeliaceae. In Zappi, D.C. et al. Lista das plantas vasculares de Catolés, Chapada Diamantina, Bahia. pp. 392-393. Bol. Bot. Univ. São Paulo 21: 345-398. Giulietti, A.M. & J.R. Pirani. 1997. Espinhaço range region, eastern Brazil. In Davis, S.D., V.H. Heywood, O. Herrera-MacBryde, J. Villa-Lobos & A.C. Hamilton (eds.). Centres of plant diversity, a guide and strategy for their conservation. v. 3. pp. 397-404. WWF and IUCN, IUCN Publications Unit, Cambridge, U.K.

Figura 2 – Total de coleções por municípios que integram a Cadeia do Espinhaço no estado de Minas Gerais.

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104 | Bromeliaceae da Cadeia do Espinhaço

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Versieux, Wendt, Louzada & Wanderley |

105

anexo – Listagem das Bromeliaceae da Cadeia do Espinhaço com ocorrência indicada por um material-testemunho (sigla do herbário entre parênteses, se precedida por um asterisco = ocorrência obtida da literatura) para cada estado, Bahia (BA) e/ou Minas Gerais (MG), seguida pelo nível de endemismo: CE = Endêmica da Cadeia do Espinhaço (BA e/ou MG), CD = Endêmica da Chapada Diamantina (BA), GM = Endêmica de Grão Mogol (MG), PD = Endêmica do Planalto de Diamantina (MG), QF = Endêmica do Quadrilátero Ferrífero (MG), SC = Endêmica da Serra do Cipó (MG).

Táxon Material-testemunho BA MG 1

Acanthostachys strobilacea (Schult. & Schult. f.)Klotzsch

Versieux 92 (SP)

2

Aechmea alopecurus Mez

Carvalho 7023 (CEPEC)

3

Aechmea aquilega (Salisb.) Griseb.

Guedes 2649 (SPF)

4

Aechmea bahiana L.B. Sm.

Harley 50779 (SPF)

Harley 20721 (SPF) Pereira 1675 (HB, RB)

5 Aechmea bromeliifolia (Rudge) Baker

Nível de Endemismo

CD

5.1

Aechmea bromeliifolia var. albobracteata Philcox

Faria 171 (RFA)

6

Aechmea distichantha Lem. var. distichantha

Stehmann 2445 (BHCB, SEL)

7

Aechmea emmerichiae Leme

Seidel 1048 (HB)

8

Aechmea lamarchei Mez

Salino 3763 (BHCB)

9

Aechmea lingulata (L.) Baker

Arbo 5427 (SPF)

10

Aechmea nudicaulis (L.) Griseb. var. nudicaulis

Siqueira 25 (BHCB)

10.1

Aechmea nudicaulis var. aureorosea (Antoine) L.B.Sm.

Hatschbach 29048 (MBM)

10.2

Aechmea nudicaulis var. cuspidata Baker

Ule 341 (R)

11

Aechmea phanerophlebia Baker

Mota 1852 (BHCB)

12

Alcantarea duarteana (L.B. Sm.) J.R. Grant

CD

Hatschbach 28977 (HB, MBM, US)

PD

13 Alcantarea hatschbachii (L.B. Sm. & Read) Leme

Hatschbach 29085 (MBM, SPF, US, Z)

PD

14

Noblick 3752 (HUEFS, RB)

Alcantarea nahoumii (Leme) J.R. Grant

15

Alcantarea turgida Versieux & Wand.

Wanderley 2488 (SP).

√ SC e QF

16

Ananas ananassoides (Baker) L.B. Sm.

Lombardi 207 (BHCB, US)

17

Ananas bracteatus (Lindl.) Schult. & Schult. f. var. bracteatus

Pirani 5460 (SPF)

18

Ananas nanus (L.B. Sm.) L.B. Sm.

Versieux 153 (RFA)

19

Andrea selloana (Baker) Mez

Versieux 264 (SP)

√ SC e QF

20 Billbergia amoena (G. Lodd.) Lindl. var. amoena

Forzza 1312 (SPF) Anderson 8972 (HB, US)

20.1

Mota 339 (BHCB)

Billbergia amoena var. minor (Antoine & Beer) L.B. Sm.

21

Billbergia distachia (Vell.) Mez var. distachia

Magalhães 1692 (BHCB)

22

Billbergia elegans Mart. ex Schult. & Schult. f.

Versieux 92 (RFA)

23

Billbergia euphemiae E. Morren var. euphemiae

Martens 658 (SPF)

24

Billbergia horrida Regel var. horrida

Tameirão-Neto 3478 (BHCB)

Juchum 73 (CEPEC) Mello-Silva CFCR 8474 (SP, SPF)

25 Billbergia iridifolia (Nees & Mart.) Lindl. var. iridifolia 26

Billbergia morelii Brongn.

Alves 1 (HRB)

27

Billbergia nutans H. Wendl. ex Regel

Vidal s.n. (R 190241).

√ √

28 Billbergia porteana Brongn. ex Beer

Hatschbach 44256 (CEPEC) Hatschbach 31615 (MBM)

29

Ganev 2481 (HUEFS)

Cotias s.n. (ALCB 47419) Vasconcelos s.n. (BHCB 32042)

Billbergia saundersii W. Bull

30 Billbergia vittata Brongn.

_____

QF QF

√ continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


106 | Bromeliaceae da Cadeia do Espinhaço

...continuação do Anexo

Táxon Material-testemunho BA MG

Nível de Endemismo

31

Billbergia zebrina (Herb.) Lindl.

Forzza 659 (SPF)

32

Bromelia antiacantha Bertol.

Wanderley 1562 (SP)

33

Bromelia balansae Mez

Serra II-1084 (US)

34

Bromelia glaziovii Mez

Castellanos 24425 (US)

35

Bromelia gurkeniana var. funchiana E. Pereira & Leme

Leme 516 (HB)

36

Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. & Schult. f.

Queiroz 5865 (HUEFS)

37

Bromelia regnellii Mez

Foster 563 (US)

38

Bromelia serra Griseb.

Hatschbach 27744 (MBM, US)

39

Catopsis berteroniana (Schult. & Schult. f.) Mez

Strandmann 659 (ALCB)

40

Cottendorfia florida Schult. & Schult. f.

Wanderley 1533 (SP)

CE

41

Cryptanthus arelii H. Luther

Luther s.n. (*US 3392313, SEL)

CD

CD

42

Cryptanthus bahianus L.B. Sm.

Foster 98 (*GH)

43

Cryptanthus caracensis Leme & E. Gross

Mota 1870 (BHCB)

QF

44

Cryptanthus diamantinensis Leme

Garcia s.n. (HB)

CD

45

Cryptanthus glaziovii Mez

Magalhães 2693 (BHCB)

QF

46

Cryptanthus leopoldo-horstii Rauh

Hatschbach 29079 (MBM, US)

PD

47

Cryptanthus minarum L.B. Sm.

Matos s.n. (R 46186, US)

48

Cryptanthus schwackeanus Mez

Krieger 21106 (BHCB, CESJ, SPF)

49

Cryptanthus vexatus Leme

Leme 4324 (HB)

50

Cryptanthus warasii E. Pereira

Waras s.n. (HB 66022, US)

51

Cryptanthus warren-loosei Leme

Leme 481 (RB)

52

Dyckia brachyphylla L.B. Sm.

Hatschbach 31702 (MBM, US)

53

Dyckia brachystachya Rauh & E. Gross

Rauh 56443a (*HEID)

54

Dyckia bracteata (Wittm.) Mez

Vasconcelos s.n. (BHCB 49224)

55

Dyckia burchellii Baker

Harley 27810 (CEPEC, K)

56

Dyckia burle-marxii L.B. Sm. & Read

Burle Marx s.n. (HB)

57

Dyckia cinerea Mez

Goldschmidt 42 (SPF, VIC)

58

Dyckia consimilis Mez

Grandi s.n. (BHCB 16908)

QF

59

Dyckia densiflora Schult. & Schult. f.

Vasconcelos s.n. (BHCB 52435)

QF

QF

√ √

PD

CD

PD

CD

√ CD

60 Dyckia dissitiflora Schult. & Schult. f.

Harley 50367 (SP) Castellanos 24294 (HB, US)

61

Dyckia elata Mez

Silveira 2275 (R)

QF

62

Dyckia glandulosa L.B. Sm. & Reitz

Versieux 334 (SP)

PD

63

Dyckia goehringii E. Gross &Rauh

Rauh 67622 (HB)

PD

64

Dyckia granmogulensis Rauh

Rapini 762 (SPF)

√ GM

65

Dyckia hohenbergioides Leme & Esteves

Pereira E-385 (*HB, RB)

CD

66

Dyckia lagoensis Mez

Heringer s.n. (HB 32882, 32887)

67

Dyckia leptostachya Baker

Hombouts s.n. (SP 40644)

68

Dyckia macedoi L.B. Sm.

Arrais CFSC 9170 (RB, SPF)

√ SC

69

Dyckia macropoda L.B. Sm.

Pereira 1622 (RB, US)

70

Dyckia maracasensis Ule

Harley 19222 (CEPEC, K)

71

Dyckia mello-barretoi L.B. Sm.

Versieux 298 (SP)

PD

√ √ SC continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Versieux, Wendt, Louzada & Wanderley |

107

...continuação do Anexo

Táxon Material-testemunho BA MG

Nível de Endemismo

72

Dyckia minarum Mez

Leme 1799 (HB)

73

Dyckia nervata Rauh

Rauh 56443 (HEID)

CD

74

Dyckia rariflora Schult. & Schult. f.

Teixeira s.n. (BHCB 26146)

CE

75

Dyckia remotiflora Otto & A. Dietr.

Martsen 104 (BHCB)

76 Dyckia saxatilis Mez

Harley et al. 27810 (SP) Duarte 2674 (RB, US)

77

Dyckia schwackeana Mez

Tameirão-Neto 3399 (BHCB)

QF

78

Dyckia simulans L.B. Sm.

Grandi s.n. (BHZB 192)

QF

79

Dyckia sordida Baker

Duarte 2106 (RB, US)

√ SC e QF

80 Dyckia sp.1

Marques-Leitão s.n. (BHCB 45741, SPF)

QF

81

Dyckia sp.2

Fiaschi 418 (SPF)

PD

82

Dyckia sp.3

Stehmann s.n. (BHCB 20778)

PD

QF

CD

83

Dyckia sp.4

Paula s.n. (VIC 27394)

84

Dyckia sp.5

Mello-Silva 790 (SPF)

85

Dyckia spinulosa L.B. Sm. & Reitz

Duarte 7409 (HBR RB,US)

CE

86

Dyckia tenebrosa Leme & H. Luther

Leme 2895 (HB)

PD

QF

87

Dyckia trichostachya Baker

Kawasaki 988 (SPF)

88

Dyckia tuberosa (Vell.) Beer

Harley 25697 (*K)

89

Dyckia ursina L.B. Sm.

Mello-Silva 1086 (SPF)

√ SC

90

Encholirium biflorum (Mez) Forzza

Forzza 1466 (BHCB, MBM, SPF)

PD

91

Encholirium brachypodium L.B. Sm. & Read

Forzza 1103 (SPF)

CE

92

Encholirium bradeanum L.B. Sm.

Smith 5652 (US)

PD

93

Encholirium heloisae (L.B. Sm.) Forzza & Wand.

Hatschbach 28785 (HB, MBM, US)

√ SC √ GM

94

Encholirium irwinii L.B. Sm.

Pirani CFCR 13263 (MBM, SPF)

95

Encholirium longiflorum Leme

Andrade-Lima 75-8166 (*IPA)

96

Encholirium luxor L.B. Sm. & Read

Forzza 940 (BHCB, SPF)

97

Encholirium magalhaesii L.B. Sm.

Forzza 1509 (MBM, SPF)

98

Encholirium maximum Forzza & Leme

Aquino s.n. (ALCB 43505)

CE

99

Encholirium pedicellatum (Mez) Rauh

Forzza 1504 (SPF)

PD

100

Encholirium reflexum Forzza & Wand.

Arbo 5145 (SPF, US)

PD

101

Encholirium scrutor (L.B. Sm.) Rauh

Salino 5084 (BHCB)

PD e SC

102

Encholirium spectabile Mart. ex Schult. & Schult. f.

França 2449 (SP)

103

Encholirium subsecundum (Baker) Mez

Forzza 700 (BHCB, SPF)

√ SC

PD

√ CE

104

Encholirium vogelii Rauh

Pereira 1051 (BHCB)

105

Hohenbergia blanchetii (Baker) E. Morren ex Mez

Wanderley 1615 (SP)

106

Hohenbergia catingae Ule var. catingae

Harley 21160 (CEPEC)

107

Hohenbergia conquistenssis Leme

Reis Jr. s.n. (*HB)

CE

108

Hohenbergia edmundoi L.B. Sm. & Read

Costa s.n. (ALCB 276)

CE

109

Hohenbergia humilis L.B. Sm. & Read

Harley 27437 (CEPEC)

110

Hohenbergia lanata E. Pereira & Moutinho

Seidel 1079 (RB)

111

Hohenbergia leopoldo-horstii E. Gross, Rauh & Leme

Colnago s.n. (HB)

√ continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


108 | Bromeliaceae da Cadeia do Espinhaço

...continuação do Anexo

Táxon Material-testemunho BA MG

Nível de Endemismo

112

Hohenbergia pennae E. Pereira

Assis s.n. (ALCB 52007)

113

Hohenbergia ramageana Mez

Harley 18658 (RB)

114

Hohenbergia ridleyi (Baker) Mez

Wanderley s.n. (SP 210086)

115

Hohenbergia rosea L.B. Sm. & Read

Read 3429a. (*CEPEC)

116

Hohenbergia stellata Schult. & Schult. f.

Martius s.n. (*M, B)

117

Hohenbergia undulatifolia Leme & H. Luther

Leme 3685 (*HB, SEL)

118

Hohenbergia utriculosa Ule

Wanderley 2525 (SP)

119

Hohenbergia vestita L.B. Sm.

Irwin 32287 (NY)

120 Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez

Ganev 1169 (SPF) Amante s.n. (SP 81369, SPF)

121 Neoregelia bahiana (Ule) L.B. Sm.

Harley 52013(SP) Versieux 299 (SP)

122

Neoregelia aff. brownii Leme

Anderson 36017 (SEL, US)

123

Neoregelia leprosa L.B. Sm.

Foster 656 (GH, US) SC

124

Neoregelia mucugensis Leme

Cintra s.n. (HB)

125

Neoregelia wilsoniana M.B. Foster

Seidel 1064 (HB)

126 Nidularium bicolor (E. Pereira) Leme

Vasconcelos s.n. (BHCB 52544, CESJ)

127

Leme 1540 (HB)

√ √

Nidularium linehamii Leme

CD

CD CD

CE

CD

QF

128

Nidularium marigoi Leme

Grandi 2366 (BHCB)

129

Orthophytum albopictum Philcox

Wanderley 2364 (SP)

130

Orthophytum alvimii W. Weber

Seidel 867 (HB)

131

Orthophytum amoenum (Ule) L.B. Sm.

Wanderley 2528 (SP)

CD

132

Orthophytum braunii Leme

Pereira E-343 (HB)

CD

133

Orthophytum burle-marxii L.B. Sm & Read

Louzada 11 (SP)

CD

134

Orthophytum conquistense Leme & M. Machado

Leme 6019 (HB)

CE

135

Orthophytum disjunctum L.B. Sm.

Mayo 851 (HB)

136

Orthophytum eddie-estevesii Leme

Leme 4693 (HB)

137

Orthophytum falconii Leme

Leme 4938 (HB)

138

Orthophytum graomogolense Leme & C.C. Paula

Louzada et al. 70 (SP)

139

Orthophytum harleyi Leme & M. Machado

Leme 6173 (HB)

CD

140

Orthophytum hatschbachii Leme

Louzada & Noreira 59 (SP)

CD

141

Orthophytum heleniceae Leme

Wanderley 2244 (SP)

CD

142

Orthophytum humile L.B. Sm.

Semir CFCR 9659 (SPF)

√ GM

143

Orthophytum itambense Versieux & Leme

Louzada 6 (SP)

PD

144

Orthophytum lemei E.Pereira & I.A. Penna

Hatschbach 44220 (CEPEC)

CD

CD

CE

CD

√ GM

145

Orthophytum leprosum (Mez) Mez

Carvalho 433 (BHCB)

146

Orthophytum magalhaesii L.B. Sm.

Burle-Marx s.n. (HB)

147

Orthophytum macroflorum Leme & M. Machado

Leme 6001 (HB)

148

Orthophytum maracasense L.B. Sm.

Wanderley 2378 (SP)

149

Orthophytum mello-barretoi L.B. Sm.

Martinelli 2684 (US)

150

Orthophytum mucugense Wand. & Conceição

151

Orthophytum navioides (L.B. Sm.) L.B. Sm.

CD

CE

Wanderley 2367 (SP)

CD

Louzada 7 (SP)

CD continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Versieux, Wendt, Louzada & Wanderley |

109

...continuação do Anexo

Táxon Material-testemunho BA MG 152

Orthophytum ophiuroides Louzada & Wand.

Louzada et al. 88 (SP)

Nível de Endemismo CD

√ GM

153

Orthophytum piranianum Leme & C.C. Paula

Wanderley 1457 (SP)

154

Orthophytum riocontense Leme

Leme 5787 (HB)

CD

155

Orthophytum rubrum L.B. Sm.

Foster 2444 (US)

CD

156

Orthophytum saxicola (Ule) L.B. Sm.

Harley 27026 (NY, SPF)

157

Orthophytum schulzianum Leme & M. Machado

Leme 5881 (HB)

158

Orthophytum supthutii E. Gross & Barthlott

Menezes 941 (SPF) SC

159

Orthophytum toscanoi Leme

Leme 4920 (HB)

160

Pepinia bradei (Markgr.) G. S.Varad. & Gilmartin

Carvalho 576 (BHCB, US)

161

Pitcairnia curvidens L.B. Sm. & Read

Coffani-Nunes CFSC 14003 (SPF)

162

Pitcairnia lanuginosa Ruiz & Pav.

Versieux 156 (RFA)

163

Portea petropolitana (Wawra) Mez

Baker 7308 (HB)

164 Pseudananas sagenarius (Arruda) Camargo

Vinha 172 (CEPEC) Viana s.n. (BHCB 18392, US)

165

Quesnelia indecora Mez

Mota 219 (BHCB, MBM)

166

Quesnelia liboniana (De Jonghe) Mez

Luther s.n. (HB 87834)

167

Quesnelia strobilispica Wawra

Mello-Barreto 2104 (BHCB)

168 Racinaea aerisincola (Mez) M.A. Spencer & L.B. Sm.

Harley 20722 (CEPEC, K) Mota 1108 (BHCB)

169

Tillandsia arhiza Mez

Versieux 90 (RFA)

170

Tillandsia chapeuensis Rauh

Rauh 56545 (*HEID)

171

Tillandsia gardneri Lindl.

Ganev 2793 (SPF)Paula 83 (BHCB)

172 Tillandsia geminiflora Brongn.

Harley 50326 (K, SPF, SP) Martinelli 5994 (RB)

173

Tillandsia globosa Wawra var. globosa

Ferreira 1224 (HRB)

174

Tillandsia heubergeri Ehlers

Jardim 772 (CEPEC)

175 Tillandsia loliacea Mart. ex Schult. & Schult. f.

Stradmann 660 (CEPEC, ALCB) Brade 12498 (RB)

176 Tillandsia parvispica Baker

Wanderley 2377(SP) Pereira 10740 (HB)

Martinelli 5937 (RB)

178 Tillandsia recurvata (L.) L.

Arrais CFCR 6780 (SPF) Ordones 856 (BHZB)

179

Conceição 41 (SPF)

180 Tillandsia streptocarpa Baker

Wanderley 2376 (SP) Versieux 147 (RFA)

181 Tillandsia stricta Sol. ex Sims

Conceição 843 (SPF) Smith 7064 (R)

182 Tillandsia tenuifolia L. var. tenuifolia

Harley 52508 (SP) Braga s.n. (BHCB 47148, SEL)

177

183

Tillandsia pohliana Mez

Tillandsia sprengeliana Klotzsch ex Mez

Tillandsia tricholepis Baker

Pirani CFSC 1368

184 Tillandsia usneoides (L.) L.

Harley 24537 Pirani 4188 (SPF, SP)

185

Versieux 296 (SPF)

Vriesea atropurpurea Silveira

PD CE

√ SC continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


110 | Bromeliaceae da Cadeia do Espinhaço

...continuação do Anexo

Táxon Material-testemunho BA MG

Nível de Endemismo

186

Vriesea bituminosa Wawra

Mota 327 (BHCB)

187

Vriesea chapadensis Leme

Conceição 408 (SPF)

CD

188

Vriesea clausseniana (Baker) Mez

Ordones 183 (BHZB)

QF

189

Vriesea crassa Mez

Mota 1867 (BHCB, RFA)

190

Vriesea densiflora Mez

Anderson 35757 (US)

PD

191

Vriesea diamantinensis Leme

Vasconcelos s.n. (BHCB 40171)

PD

192

Vriesea ensiformis (Vell.) Beer var. ensiformis

Belingtani s.n. (ALCB 47420)

193

Vriesea exaltata Leme

Forzza 1368 (CEPEC, SPF)

CD

194

Vriesea fabioi Leme

Conceição 602 (SPF)

CD

Atkins CFCR 14742 (SPF) Mota 1866 (BHCB, RFA)

195 Vriesea friburgensis Mez var. friburgensis

196

Vriesea guttata Linden & André

Parra CFSC 12990 (SPF)

197

Vriesea heterostachys (Baker) L.B. Sm.

Matos s.n. (R 46311, US).

198

Vriesea aff. hieroglyphica (Carrière) E. Morren

Seidel 1093 (RB)

199

Vriesea lancifolia (Baker) L.B. Sm.

Pirani 4560 (SPF)

200 Vriesea longicaulis (Baker) Mez

Queiroz 4995 (HUEFS, SP) Vasconcelos 89 (BHCB)

CD

201

Vriesea longistaminea C.C.Paula & Leme

Martens 263 (SPF)

202

Vriesea lubbersii (Baker) E. Morren ex Mez

Mota 344 (BHCB, RFA)

203

Vriesea minarum L.B. Sm.

Versieux 176 (RFA)

204

Vriesea minor (L.B. Sm.) Leme

Leme 1823 (HB)

205

Vriesea monacorum L.B. Sm.

Hensold CFCR 2894 (SPF)

PD e QF PD

206

Vriesea nanuzae Leme

Leme 1820 (HB)

207

Vriesea neoglutinosa Mez

Silva s.n. (SEL 85570)

QF QF

208 Vriesea oligantha (Baker) Mez

Harley 24618 (SPF) Duarte 1982 (RB, US)

209

Vriesea pardalina Mez

Duarte 2233 (RB, US)

210

Vriesea procera var. tenuis L.B. Sm.

Versieux 257 (SP)

211

Vriesea pseudoligantha Philcox

Harley 15692 (CEPEC, K)

CD

212

Vriesea roberto-seidelii W. Weber

Seidel 934 (*HAL)

CD

213

Vriesea sceptrum f. flavobracteata Leme

Seidel 1057 (HB)

CD

214

Vriesea schwackeana Mez

Paula s.n. (VIC 26454)

CE

215

Vriesea segadas-viannae L.B. Sm.

Reitz 7857 (HBR)

√ SC

216

Vriesea simulans Leme

Giulietti CFCR 2430 (RB)

217

Vriesea simplex (Vell.) Beer

Melo 1689 (CEPEC, HUEFS)

218

Vriesea sincorana Mez

Ule 7131 (*B)

CD

219

Vriesea sp. 1

Versieux 330

PD

220

Vriesea stricta L.B. Sm.

Versieux 258 (SP)

√ SC

221

Vriesea vagans (L.B. Sm.) L.B. Sm.

Foster 635 (SP)

222

Wittrockia cyathiformis (Vell.) Leme

Schwacke 10558 (RB)

223

Wittrockia gigantea (Baker) Leme

Foster 609 (SP, US)

224 Wittrockia sp. 1.

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

Harley 52351 (HUEFS, SPF) Wanderley 2620 (SP)

PD

CE


................................................................................

Diversidade e endemismo das Cactaceae na Cadeia do Espinhaço Daniela Zappi1* Nigel Taylor2 Herbarium, Royal Botanic Gardens, Kew, Grã Bretanha. HPE, Royal Botanic Gardens, Kew, Grã Bretanha. * e-mail: d.zappi@kew.org

1 2

Resumo As Cactaceae contam com aproximadamente 1.440 espécies de plantas definidas pela presença de três tipos distintos de ramos (ramos vegetativos, aréolas, pericarpelo), sendo que a subfamília de maior diversidade, Cactoideae, está representada no Leste do Brasil por mais de cinco tribos e 23 gêneros. O endemismo encontrado na Cadeia do Espinhaço é comparável àquele do bioma Caatinga, e exemplos de endemismo e distribuição são apresentados, juntamente com considerações sobre aspectos ecológicos e o estado de conservação das Cactaceae na região.

abstract The Cactaceae count with 1,440 species defined by the presence of three different types of branches (vegetative branches, areoles, pericarpel). The most diverse subfamily, the Cactoideae, are represented in Eastern Brazil by more than 5 tribes and 23 genera. The endemism found in the highlands of the Espinhaço Range is comparable to that found in the Caatinga biome as a whole. Examples of such endemism and other phytogeographical connections, together with comments about the ecology and conservation of the family Cactaceae in this region are presented.

Introdução A família Cactaceae conta com 124 gêneros e aproximadamente 1.440 espécies (Hunt et al., 2006) de distribuição quase exclusivamente neotropical, com apenas uma espécie, Rhipsalis baccifera, ocorrendo nas Américas e atingindo a África, Madagascar e Sri Lanka. Os membros da família Cactaceae são caracterizados através da presença de três tipos de ramos: além dos ramos vegetativos normais, temos as aréolas, que são ramos reduzidos capazes de produzir folhas, espinhos, outros ramos vegetativos e/ou flores, e os ramos floríferos nos

quais o ovário da flor encontra-se imerso formando um hipanto de origem receptacular (Boke, 1964), externamente recoberto por tecidos vegetativos e, comumente dotado de aréolas, também denominado pericarpelo. Dentro da família, podemos observar tendências que não são exclusivas de Cactaceae, nem são manifestadas na totalidade das espécies, como, por exemplo, a presença de caules fotossintetizantes e suculência, a redução das folhas, presença de espinhos e tricomas abundantes, flores com muitos segmentos do perianto gradando de sepalóides até petalóides, ovário ínfero unilocular com muitos óvulos, inúmeros estames. Descrições Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


112 | Diversidade e endemismo das Cactaceae na Cadeia do Espinhaço

completas da família com foco no Brasil podem ser consultadas nos seguintes trabalhos: Zappi & Taylor (1990, 2003); Taylor & Zappi (2004); Zappi et al. (2006). Das quatro subfamílias de Cactaceae (Maihuenioideae, Pereskioideae, Opuntioideae e Cactoideae), as três últimas encontram-se representadas no leste do Brasil, e Taylor & Zappi (2004) aceitam a subdivisão da maior subfamília, Cactoideae, em diversas tribos, de acordo com as propostas de Hunt & Taylor (1986, 1990). Entre as tribos que ocorrem no Leste do Brasil temos: Hylocereeae (Hylocereus, Epiphyllum), Echinocereeae/Leptocereeae (Pseudoacanthocereus), Rhipsalideae (Lepismium, Rhipsalis, Hatiora, Schlumbergera), Cereeae (Brasilicereus, Cereus, Cipocereus, Stephanocereus, Arrojadoa, Pilosocereus, Micranthocereus, Coleocephalocereus, Melocactus), e Trichocereeae (Harrisia, Leocereus, Facheiroa, Espostoopsis, Arthrocereus, Discocactus, Uebelmannia). De acordo com estudos de sistemática molecular envolvendo a subfamília Cactoideae, M. Machado (com. pess.) acredita que a definição dessas tribos e de alguns desses gêneros possa mudar em certos detalhes, sendo que a maioria dos gêneros expressivos em termos de endemismo no leste do Brasil fará parte apenas da tribo Cereeae (incl. Trichocereeae), que terá sua circunscrição dramaticamente ampliada. Os maiores gêneros no Brasil são Rhipsalis (35 espécies brasileiras num total de 37), Pilosocereus (38/48 espécies) e Melocactus (21 espécies) (Hunt et al., 2006).

Endemismo Apesar de inúmeras sugestões de que a ocorrência de Cactaceae no Brasil está associada ao bioma Caatinga, estudos detalhados sobre o endemismo e a distribuição das mesmas indicam que a diversidade encontrada nos campos rupestres é comparável àquela encontrada na caatinga (Taylor & Zappi, 2004, Tabela 1). De um total de 160 Cactaceae ocorrentes no Brasil, 42 espécies, ou seja, 26% da família ocorrem nos campos rupestres, ao passo que 31% estão distribuídas na caatinga (incluindo o ecótono com a Mata Atlântica denominado agreste). Devemos levar em conta que a extensão do Bioma Caatinga é muitas vezes superior àquela dos campos rupestres, aumentando o significado do endemismo encontrado na Cadeia do Espinhaço. Surpreendentemente, o estado de Minas Gerais (36) apresenta maior número de táxons endêmicos de Cactaceae do que a Bahia (33), porém nem todos estes são associados aos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço. Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

Gêneros endêmicos Existem três gêneros cuja ocorrência está restrita ou quase totalmente restrita aos campos rupestres da Serra do Espinhaço de Minas Gerais: Cipocereus (Taylor & Zappi, 2008), Uebelmannia e Arthrocereus. O gênero Cipocereus conta com seis espécies das quais todas são estritamente endêmicas, C. laniflorus N.P. Taylor & Zappi (Serra do Caraça, cf. Rego, 2004), C. crassisepalus (Buining & Brederoo) Zappi & N.P. Taylor (Diamantina e Rio Vermelho), C. bradei (Backeb. & Voll) Zappi & N.P. Taylor (Serra do Cabral), C. pusilliflorus (F. Ritter) Zappi & N.P. Taylor (Monte Azul), C. pteurocarpus Ritter (Serra do Cipó) e uma é amplamente distribuída na Cadeia do Espinhaço (C. minensis (Werderm.) Ritter subsp. minensis e C. minensis subsp. leiocarpus N.P. Taylor & Zappi, ocorrendo ao longo do Espinhaço desde Cocais até Grão Mogol). Tratam-se de cactos colunares arbustivos, com flores tubulosas relativamente curtas e frutos recobertos de cera azulada. Todas as espécies de Uebelmannia possuem distribuição endêmica, ocorrendo na porção central até o norte da Cadeia do Espinhaço. Uebelmannia buiningii Donald ocorre apenas em Itamarandiba, U. gummifera (Backeb. & Voll) Buining cresce nos municípios de Rio Vermelho e Itamarandiba, sobre solo de areias quartzíticas, U. pectinifera Buining possui três subespécies ocorrendo nas proximidades de Diamantina e Bocaiúva. Tratam-se de cactos globosos a subcilíndricos com flores amarelas de tubo curto e frutos vermelhos a rosados (Schulz & Machado, 2000). Pesquisas moleculares recentes (Machado, dados não publicados) sugerem que o gênero seja relictual e basal dentro da tribo Cereeae (sensu lato). Com exceção de Arthrocereus spinosissimus (Buining & Brederoo) F. Ritter, da Chapada dos Guimarães (MT), as espécies de Arthrocereus são endêmicas da Cadeia do Espinhaço, sendo que Arthrocereus glaziovii (K. Schum.) N.P. Taylor & Zappi ocorre sobre canga nos arredores de Belo Horizonte (Serra da Piedade, Serra da Moeda), Arthrocereus rondonianus Backeb. & Voll, uma espécie muito ornamental com pétalas rosa-magenta, é endêmica da área da Serra do Cabral, e Arthrocereus melanurus (K. Schum.) Diers et al. possui três subespécies, a subespécie típica crescendo nao sudoeste de Minas Gerais, A. melanurus subsp. odorus (F. Ritter) N.P. Taylor & Zappi é conhecido das margens do Rio Cipó (Serra do Cipó e Diamantina) e A. melanurus subsp. magnus N.P. Taylor & Zappi, na Serra do Ibitipoca. Esse gênero é caracterizado por plantas colunares geralmente de pequeno porte com ramos de armazenamento subterrâneo, flores tubulosas, longas, de antese noturna, pericarpelo e tubo


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floral cobertos de aréolas espinescentes e tricomatosas e frutos indeiscentes. O gênero Micranthocereus ocorre em Minas Gerais, Bahia e Goiás, sendo que todas as espécies do subgêneros Micranthocereus e Austrocephalocereus são endêmicas da Cadeia do Espinhaço. Na região setentrional da Serra do Espinhaço (MG), M. violaciflorus Buining e M. auriazureus Buining & Brederoo são endêmicos dos arredores de Grão Mogol, ao passo que M. albicephalus (Buining & Brederoo) F. Ritter ocorre no extremo norte de Minas Gerais, em Mato Verde e Monte Azul e também na Bahia (Brejinho das Ametistas). Outras ocorrem apenas na Chapada Diamantina, como o amplamente distribuído M. purpureus (Gürke) F. Ritter, e as mais pontualmente distribuídas M. streckeri Van Heek & Van Criek. (Seabra), M. flaviflorus Buining & Brederoo (Morro do Chapéu) e M. polyanthus (Werderm.) Backeb. (Brejinho das Ametistas). Este gênero é representado por cactos colunares ramificados apenas na base, de pequeno a médio porte, com flores curtas, muitas vezes associadas a um cefálio e numerosos frutos relativamente pequenos (Aona et al., 2006). É interessante notar que existe a possibilidade de ocorrerem híbridos intragenéricos entre Micranthocereus e Arrojadoa (Machado, 2006), como no caso de Micranthocereus hofackerianus (P. Braun & Esteves Pereira) Machado.

Espécies endêmicas Em termos de número de espécies endêmicas, destacamse os seguintes gêneros: Algumas espécies do gênero Pilosocereus, como Pilosocereus fulvilanatus (Buining & Brederoo) F. Ritter de Grão Mogol e Augusto de Lima, e Pilosocereus aurisetus (Werderm.) Byles & G.D. Rowley, cuja subespécie típica ocorre entre a Serra do Cipó e Diamantina, e P. aurisetus subsp. aurilanatus (F. Ritter) Zappi, endêmica da Serra do Cabral. Tratam-se de plantas colunares de médio a grande porte, com frutos dotados de restos do perianto enegrecidos e pendentes, abrindo-se por fendas semicirculares e irregulares, expondo polpa sólida alva a colorida (Zappi, 1994). A metade das espécies de Discocactus, ou seja, Discocactus placentiformis (Lehmann) K. Schum. ocorrendo amplamente na região de Diamantina, e D. pseudoinsignis N.P. Taylor & Zappi e D. horstii Buining & Brederoo, endêmicas de Grão Mogol. São plantas globosas a discóides, com espinhos recurvos, cefálio pouco organizado dotado de tricomas sedosos e cerdas, com flores tubulosas, longas, de antese noturna, sementes com testa

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tuberculada, provavelmente dispersas por formigas. A delimitação e conservação das espécies de Discocactus da Bahia são discutidas em Machado et al. (2005). Apenas D. heptacanthus (Rodrigues) Britton & Rose sensu lato distribui-se fora da área da Cadeia do Espinhaço. Algumas espécies do gênero Arrojadoa, endêmico do Leste do Brasil, são também endêmicas da Cadeia do Espinhaço, como Arrojadoa dinae Buining & Brederoo (Grão Mogol, Monte Azul, Mato Verde, Brejinho das Ametistas, Piatã), e Arrojadoa bahiensis (Braun & Esteves Pereira) N.P. Taylor & Eggli (Pico das Almas, Mucugê).

Conexões florísticas Ligações entre a Chapada Diamantina (BA) e a Serra do Espinhaço (MG) são geralmente representadas por táxons encontrados nas serras ao norte da Serra do Espinhaço (Grão Mogol, Mato Verde, Monte Azul), cuja distribuição prossegue sentido Norte, atingindo outras áreas de campo rupestre e caatinga do Centro-Sul da Chapada Diamantina, como por exemplo Micranthocereus subg. Austrocephalocereus, Melocactus bahiensis (Britton & Rose) Luetzelb., M. concinnus Buining & Brederoo, Pilosocereus pachycladus Ritter, Rhipsalis floccosa SalmDyck ex. Pfeiff. subsp. oreophila N.P. Taylor & Zappi, Leocereus bahiensis Britton & Rose. Uma série de conexões interessantes entre táxons de campo rupestre e outros tipos de vegetação são: • Pares vicariantes de espécies do campo rupestre com a caatinga, como Brasilicereus markgrafii Backeb. & Voll (endêmico de Grão Mogol) e B. phaeacanthus (Gürke) Backeb. agreste-caatinga de Minas Gerais e Leste da Bahia); Stephanocereus luetzelburgii (Vaupel) N.P. Taylor & Eggli (Chapada Diamantina) e S. leucostele (Gürke) A. Berger (caatinga da Bahia). As espécies de Arrojadoa citadas acima são relacionadas com A. pennicillata (Gürke) Britton & Rose e A. rhodantha (Gürke) Britton & Rose, ambas com distribuição ampla na caatinga. • Táxons ocorrendo tanto na restinga como nos campos rupestres, como é o caso de Melocactus violaceus Pfeiff. com várias subespécies ocorrendo na restinga, em campos de altitude próximos do litoral (Uruçuca, Serra da Itabaiana) mas também em localidades de campo rupestre (Jacobina, Jequitinhonha). É importante ressaltar que espécies epifíticas da mata atlântica atingem a Cadeia do Espinhaço, como no caso de Rhipsalis pulchra Loefgr., R. russellii Britton & Rose, R. baccifera (J.S. Muell.) Stearn subsp. hileiabaiana N.P. Taylor & Barthlott, Lepismium houlletianum (Lem.)

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Barthlott, Hatiora salicornioides (Haw.) Britton & Rose e Schlumbergera kautskyi (Horobin & McMillan) N.P. Taylor. A presença de dessas epífitas é mais expressiva no sudeste da Cadeia do Espinhaço e nas suas disjunções ao Sul (Ibitipoca), onde encontramos enclaves de matas nebulares úmidas, propícias para o seu estabelecimento.

Composição de espécies e localidades Nas localidades ao Sul da Cadeia do Espinhaço, encontramos um predomínio de Cactaceae epífitas, como Rhipsalis, Lepismium, Epiphyllum e Hatiora, ou florestais, como Pereskia e Brasiliopuntia sobre as espécies rupícolas ou de campo aberto, no caso pertencentes aos gêneros Arthrocereus, Cipocereus e Pilosocereus. As localidades de campo rupestre em Minas Gerais com maior número de gêneros e espécies campestres em uma área relativamente limitada são localizadas na parte setentrional, tanto a Leste do Espinhaço, como Grão Mogol (Arrojadoa dinae, Melocactus bahiensis ssp. amethystinus (Buining & Brederoo) N.P. Taylor, Tacinga inamoena (K. Schum.) N.P. Taylor & Stuppy, Cipocereus minensis, Discocactus horstii, D. pseudoinsignis, Brasilicereus markgrafii, Micranthocereus auriazureus, Pilosocereus fulvilanatus) ou a Oeste, como na Serra do Cabral (Arthrocereus rondonianus, Cipocereus bradei, C. minensis, Discocactus placentiformis, Pilosocereus aurisetus). No estado da Bahia, há exemplos de localidades no Centro-Sul da Chapada Diamantina, como o Pico das Almas (Taylor & Zappi, 1995), com 10 espécies distribuídas em 8 gêneros, a seguir: Arrojadoa bahiensis (P.J.Braun & Esteves Pereira) N.P. Taylor & Eggli, Leocereus bahiensis Britton & Rose, Melocactus bahiensis (Britton & Rose) Luetzelb., M. concinnus Buining & Brederoo, Melocactus paucispinus Heimen & R. Paul, Micranthocereus purpureus (Gürke) F. Ritter, Tacinga inamoena (K.Schum.) N.P. Taylor & Stuppy, Pilosocereus pachycladus F. Ritter, Rhipsalis floccosa Pfeiff., Stephanocereus luetzelburgii (Vaupel) N.P. Taylor & Eggli. Vale ressaltar que localidades com um número maior do que 10 espécies de Cactaceae são bastante raras no Leste do Brasil, tanto nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço como em ambientes de caatinga.

Ecologia Apesar do número relativamente elevado de espécies de Cactaceae ocorrentes na Cadeia do Espinhaço, muitas vezes é difícil encontrá-las, pois a sua ocorrência é

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determinada pela combinação específica de uma série de fatores abióticos e bióticos (altitude, fácies, substrato, germinação, polinização, dispersão). O exemplo mais extremo de dificuldade de localização é o de Discocactus horstii, uma planta com alto valor ornamental que chegou a ser considerada quase extinta e cujas populações relativamente abundantes nas imediações de Grão Mogol permaneceram desconhecidas apesar de um projeto ativo dedicado ao estudo da flora da região (Pirani et al., 2003; Zappi & Taylor, 2003). D. horstii é uma espécie de pequeno porte, cuja ocorrência está associada à presença de cascalho quartzítico transparente, vivendo semi-enterrada sob tal substrato. Hábitat semelhante é ocupado por espécies de Uebelmannia nas imediações de Rio Vermelho e Pedra Menina (Meguro et al., 1994). Entre as adaptações das Cactaceae ocorrentes em campos rupestres, existe a tendência à redução do hábito, que muitas vezes é ramificado apenas na base, e no caso de espécies globosas, como alguns Discocactus, a parte emersa pode chegar a ser disciforme, provavelmente oferecendo proteção contra a passagem de fogo na vegetação campestre. Semelhante adaptação do formato da planta é encontrada em Melocactus paucispinus na Chapada Diamantina (BA). A incidência de sistemas subterrâneos de armazenamento tanto de natureza radicular (Cipocereus crassisepalus) quanto caulinar (Arthrocereus melanurus, Arrojadoa dinae) foi registrada, e pode estar associada também ao fogo. No caso de Arrojadoa dinae, a parte aérea da planta é formada por ramos bastante finos, que são destruídos periodicamente pela passagem de fogo, sendo que os espécimes rebrotam a partir dos órgãos subterrâneos. A epiderme espessa de muitas espécies encontra-se recoberta de ceras epicuticulares (Maffei et al., 1997) que conferem aspecto acinzentado ou azul-glaucescente aos indivíduos (ex. Pilosocereus fulvilanatus, Melocactus glaucescens, Micranthocereus auriazureus), representando uma adaptação destinada a refletir e/ou filtrar os altos níveis de insolação associados às regiões de altitude. Do mesmo modo, aréolas apresentam configurações variadas, presença de abundantes espinhos radiais dourados e tricomas alvos, conferindo proteção especialmente para as partes apicais e meristemáticas das plantas. A estratégia de multiplicação do número de espinhos radiais e desaparecimento do espinho centralprincipal parece estar também associada à aparição de espinhos mais finos, longos e flexíveis, denominados cerdas, nos quais observamos condensação de neblina, que escorre ao longo dos caules e precipita na base da planta, onde é absorvida pelas raízes. Espécies de


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Micranthocereus apresentam crescimento secundário nas aréolas da parte basal da planta, que também pode estar associada ao estabelecimento e nutrição das plantas (ver abaixo sob germinação). Em termos de germinação, é importante ressaltar que nenhuma espécie de Cactaceae, nem mesmo as rupícolas mais resistentes, germina e cresce diretamente sobre rochas nuas. Em todos os casos notamos que a germinação de sementes e crescimento de plântulas estão associados à presença de fendas de rochas dotadas de vegetação associada, no caso liquens, musgos e pteridófitas e até mesmo outros arbustos, à sombra e sob proteção dos quais as plântulas se estabelecem. Essa associação vegetal com a configuração de ilhas de vegetação recebe a denominação de “nursery plants”, e é de suma importância para a hidratação, sombreamento, proteção física e contra predadores, e pode ter um papel na nutrição das plântulas, através do acúmulo e decomposição de folhas mortas e outros detritos orgânicos que ficam presos nessas ‘ilhas’ de vegetação. Por outro lado, em ambientes perturbados, por exemplo por pastoreio, essa associação vegetal sofre pressão por parte de invasoras (especialmente gramíneas exóticas), e tende a desaparecer, dificultando o re-estabelecimento de populações de Cactaceae rupícolas. Estudos de biologia floral e dispersão existem para os seguintes gêneros: Cipocereus (Rego, 2004), Discocactus (Machado, 2005), Micranthocereus (Aona, 2006), revelando uma ampla gama de polinizadores (morcegos, mariposas, colibris) e possíveis dispersores a curta distância, como formigas e mamíferos roedores, e a longa distância, como pássaros ou mesmo morcegos. Existe necessidade de compreender mais profundamente as relações entre as espécies de Cactaceae e outras espécies animais e vegetais, com intuito de aprimorar as iniciativas de conservação da região (Drummond et al., 2005).

Conservação A totalidade da família Cactaceae, assim como as Orchidaceae, está incluída no apêndice II da legislação internacional denominada CITES (Hunt, 1999), da qual o Brasil participa desde os anos 1980. Esta legislação impede que espécies listadas atravessem fronteiras internacionais sem as permissões de exportação e importação previstas por lei. No Leste do Brasil há relativamente poucos táxons de Cactaceae ameaçados através de coleta indiscriminada de indivíduos ou de sementes (Oldfield, 1997), e entre eles estão todas as espécies de

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Tabela 1 – Lista de Cactaceae dos Campos Rupestres do Espinhaço (Taylor & Zappi, 2004).

categ. gênero espécie subespécie IUCN Arrojadoa Arrojadoa Arrojadoa Arthrocereus Arthrocereus Arthrocereus Arthrocereus Arthrocereus Brasilicereus Cipocereus Cipocereus Cipocereus Cipocereus Cipocereus Cipocereus Discocactus Discocactus Discocactus Discocactus Leocereus Hatiora Melocactus Melocactus Melocactus Melocactus Melocactus Melocactus Melocactus Micranthocereus Micranthocereus Micranthocereus Micranthocereus Micranthocereus Micranthocereus Micranthocereus Pilosocereus Pilosocereus Pilosocereus Pilosocereus Pilosocereus Rhipsalis Stephanocereus Uebelmannia Uebelmannia Uebelmannia Uebelmannia Uebelmannia

bahiensis dinae dinae dinae eriocaulis glaziovii melanurus melanurus melanurus magnus melanurus odorus rondonianus markgrafii bradei crassisepalus laniflorus minensis leiocarpus minensis minensis pusilliflorus horstii placentiformis pseudoinsignis zehntneri boomianus bahiensis salicornioides bahiensis bahiensis bahiensis amethystinus concinnus glaucescens oreas cremnophilus paucispinus violaceus ritteri albicephalus auriazureus flaviflorus polyanthus purpureus streckeri violaciflorus aurisetus aurisetus aurisetus aurilanatus fulvilanatus fulvilanatus fulvilanatus rosae pachycladus pachycladus russellii luetzelburgii buiningii gummifera pectinifera pectinifera pectinifera flavispina pectinifera horrida

VU VU EN EN VU NT VU VU EN EN VU EN LC EN CR EN VU EN VU LC LC LC LC LC CR LC EN CR NT EN LC EN LC CR VU LC EN VU CR LC VU LC CR VU VU VU VU

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Discocactus, Uebelmannia e alguns Melocactus, que foram elevados à categoria de apêndice I da CITES no início dos anos 1990, visando protegê-los das atividades de coletores inescrupulosos. A emissão de licenças de exportação e importação de espécies listadas sob o apêndice I da CITES para fins comerciais não é permitida, de modo a dificultar a exploração extrativista e comercial dessas plantas no mercado internacional. No entanto, a maioria dos casos de ameaça de extinção de espécies de Cactaceae da Cadeia do Espinhaço deve-se à destruição de habitats únicos nos quais encontramos espécies muito restritas. Apesar de serem listadas sob a categoria vulnerável da IUCN (2001), usando o critério VU D2 (populações muito pequenas ou restritas com uma área de ocupação menor que 20km2 e 5 ou menos populações, de modo que o efeito de atividades humanas ou outros eventos repentinos pode rapidamente transformá-las em criticamente ameaçadas ou até mesmo extingui-las em um período de tempo muito curto). No caso da Cadeia do Espinhaço, mineração (ouro, pedras preciosas e semipreciosas, cristais, outros minérios), turismo não planejado, prática de ‘esportes radicais’, construção de estradas, pastoreio e utilização não planejada de recursos hídricos formam uma longa lista de ameaças não só às Cactaceae, mas à biodiversidade impressionante dessa região.

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Diversidade florística de Leguminosae Adans. em áreas de campos rupestres Valquíria Ferreira Dutra1* Flávia Cristina Pinto Garcia1 Haroldo Cavalcante de Lima2 Luciano Paganucci de Queiroz3 Universidade Federal de Viçosa, Brasil. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 3 Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil. * email: valquiria.dutra@bol.com.br 1 2

Resumo Leguminosae apresenta alta plasticidade ecológica, o que permite a sua ocupação nos mais diversos hábitats, inclusive nos campos rupestres. Estes campos ocorrem em altitudes superiores a 1.000 metros, na Cadeia do Espinhaço (MG e BA), em Goiás, no Distrito Federal e na porção sudoeste e sul de Minas Gerais; e apresentam uma vegetação rica em espécies e composta por muitos táxons endêmicos. Neste estudo foi realizada uma comparação entre as espécies de Leguminosae de 18 áreas de campos rupestres no Brasil, sendo 13 áreas em Minas Gerais, quatro na Bahia e uma em Goiás, através do índice de similaridade de Sörensen e a técnica UPGMA. Nas 18 áreas analisadas, Leguminosae foi representada por 343 espécies, destas, 20 encontram-se na lista das espécies ameaçadas de extinção em Minas Gerais. Papilionoideae foi a subfamília mais numerosa, com 154 espécies, Caesalpinioideae apresentou 98 espécies e Mimosoideae, 91. Os gêneros Chamaecrista, Mimosa e Calliandra foram os que mais se destacaram em número de espécies. A análise de agrupamento entre essas áreas mostrou a formação de dois grupos: [1] Chapada Diamantina (BA) e Serra de Grão Mogol (MG), e [2] demais áreas de Minas Gerais, com baixa similaridade entre eles, confirmando a heterogeneidade florística existente nas diferentes áreas de campo rupestre.

abstract Leguminosae presents high ecological plasticity, what allows its occupation in the most several habitats, including the “campos rupestres”. These fields occur in superior altitudes to 1,000 meters, in the “Cadeia do Espinhaço” (MG and BA), in Goiás, in Federal District and in the Southwest and South of Minas Gerais; and present a rich vegetation and composed for many endemic taxa. In this study a comparison was carried out among Leguminosae species from 18 areas of “campos rupestres” in Brazil, being 13 areas in Minas Gerais, four in Bahia and one in Goiás, through the Sörensen’s index of similarity and the technique UPGMA. Leguminosae was represented by 343 species at 18 analyzed areas, of these, 20 are in the list of the threatened species of extinction in Minas Gerais. Papilionoideae was the most numerous subfamily, with 154 species. Ninety eight species were Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


118 | Diversidade florística de Leguminosae Adans. em áreas de campos rupestres

Caesalpinioideae and 91 Mimosoideae. The genus Chamaecrista, Mimosa and Calliandra stood out in terms of species number. The clustering analysis among those areas showed the formation of two groups: [1] “Chapada Diamantina” (BA) and ‘Serra de Grão Mogol” (MG), and [2] other areas of Minas Gerais, with low similarity among them, confirming the floristic heterogeneity existent in the different areas of “campos rupestres”.

Introdução A Cadeia do Espinhaço ou Serra Geral compreende um grupo de serras entre os limites 20°35’ e 11°11’S (Giulietti et al., 1987), constituindo o divisor de águas entre a Bacia do Rio São Francisco e o Oceano Atlântico (Derby, 1906). Abrange uma região com cerca de 50 a 100km de extensão longitudinal e 1.000km de extensão latitudinal, e elevação média acima de 1.000m, desde a Serra de Ouro Branco (MG) até a Bahia, onde recebe a denominação de Chapada Diamantina (Giulietti et al., 1997). Recentemente foi declarada Reserva da Biosfera pela UNESCO, por representar uma unidade biogeográfica de alta a extrema importância biológica (Drummond et al. 2005). Segundo Giulietti & Pirani (1988), suas características climáticas, de relevo e solo, oferecem condições para o desenvolvimento de uma flora típica encontrada em poucas regiões do Brasil: os campos rupestres. Os campos rupestres ocorrem também, como ilhas florísticas isoladas, em Goiás, no Distrito Federal, na porção sudoeste e sul de Minas Gerais (Romero, 2002), em Roraima (Benites, 2001), na Chapada dos Parecis, em Rondônia (Harley, 1995) e na Serra do Cachimbo, no Pará (Pires & Prance, 1985). Ocorrem sobre grandes extensões de afloramentos rochosos do Pré-Cambriano, com relevo bastante íngreme e montanhoso, baixa disponibilidade de água, intensa radiação solar, solos pouco profundos, litólicos, arenosos ou cascalhosos, ácidos, pobres em nutrientes e derivados de vários substratos rochosos, predominando os quartzitos, xistos, filitos e itacolomitos (Moreira, 1965; Giulietti et al., 1987; Brandão et al., 1994; Menezes & Giulietti, 2000). Portanto, são formações vegetais influenciadas decisivamente por fatores abióticos, que interagindo, de formas variadas conduzem à formação de uma vegetação heterogênea, representada por um mosaico de comunidades relacionadas (Giulietti & Pirani, 1988; Vitta, 1995). A flora é muito rica em espécies e composta por muitos elementos endêmicos (Harley, 1995), contando com Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

cerca de 3.000 espécies de plantas vasculares (Giulietti et al., 2000). De acordo com Romero (2002), as famílias mais características dessas áreas são: Asteraceae, Bromeliaceae, Cyperaceae, Eriocaulaceae, Iridaceae, Lamiaceae, Lythraceae, Melastomataceae, Myrtaceae, Orchidaceae, Poaceae, Rubiaceae, Velloziaceae, Vochysiaceae, Xyridaceae e Leguminosae. Leguminosae é considerada uma das três maiores famílias de Angiospermae, com 730 gêneros e 19.400 espécies (Lewis et al., 2005), subordinadas a três subfamílias, Caesalpinioideae, Mimosoideae e Papilionoideae, muito distintas entre si e distribuídas por todos os hábitats terrestres (Polhill et al., 1981; Lewis et al., 2005). A ocorrência da família, no Brasil, é muito significativa, sendo representada, segundo Lima (2000), por cerca de 188 gêneros e 2.100 espécies nativas, encontradas em todos os biomas brasileiros. É uma família de grande importância econômica (Okigbo, 1977), sendo utilizada na alimentação, forrageamento, marcenaria, como medicinal, combustível, pesticida, corante, goma, óleo ou ornamental (Date, 1977; Polhill et al., 1981; Brandão, 1992). Ecologicamente, possui grande valor devido à capacidade de fixar nitrogênio, associando-se ao Rhizobium e ao Bradyrhizobium, formando nódulos nas raízes que propiciam diversas estratégias para o aumento do fornecimento de nutrientes, tornando-as pioneiras em solos pouco férteis (Lopes, 1963). Considerando a importância biológica dos campos rupestres, e a ecológica e econômica de Leguminosae, esse estudo teve como objetivo verificar a diversidade florística dessa família nos campos rupestres da Bahia, Minas Gerais e Goiás; e indicar as espécies em risco de extinção.

Material e métodos As espécies de Leguminosae, de 18 levantamentos florísticos realizados em áreas de campo rupestre da Bahia, Minas Gerais e Goiás (Tabela 1), foram comparadas,


Dutra, Garcia, Lima & Queiroz |

119

Tabela 1 – Levantamentos florísticos realizados em diversas áreas de campo rupestre de Minas Gerais, Bahia e Goiás, fatores físicos considerados, e número de gêneros e espécies de Leguminosae encontrados. Gen. = gêneros; Spp. = espécies; Caes. = Caesalpinioideae; Mim. = Mimosoideae; Pap. = Papilionoideae.

total total espécies

Localidade REF. bibliográfica

Substrato Coordenadas

Barão de Cocais, MG

Laterita ferruginosa

Brandão & Silva Filho (1993)

Gen.

Spp. Caes. Mim.

Pap.

19°54’S 43°28’W

11

16

3

1

12

Catolés, BA Zappi et al. (2003) Quartzito

13°13’/13°25’S 41°37’/41°59’W

21

69

21

26

22

Chapada dos Veadeiros, GO

Munhoz & Proença (1998) –––

47°30’S 13°46’W

12

24

5

6

13

Diamantina, MG

Brandão et al. (1995)

Quartzito

18º14’S 43º36’W

14

60

18

8

34

Morro do Chapéu, BA

L.P. Queiroz (comunicação pessoal)

–––

11º33’S 41º09’W

9

12

3

4

5

Mucugê, BA

Harley & Simmons (1986) –––

–––

13

41

10

19

12

Pico das Almas, BA Lewis (1995)

Quartzito e arenito

13°32’/13°34’S 41°57’/41°58’W

18

41

11

16

14

Poço Bonito, MG Gavilanes & Brandão (1991)

Quartzito e micaxisto

21°19’S 44°59W

9

16

5

1

10

Serra da Canastra, MG Nakajima Quartzito e (dados não publicados) micaxisto Garcia et al. (2000) Filardi et al. (2007)

20°00’/20º30’S 46°15’/47°00’W

28

60

34

24

41

Serra da Piedade, MG Brandão & Gavilanes (1990)

Quartzito e laterita ferruginosa

19º50’S

12

28

6

4

18

Serra de Antônio Pereira, MG Roschel (2000)

Laterita ferruginosa

20º12’S 43º50’W

10

14

4

1

9

Serra de Grão-Mogol, MG Queiroz (2004)

Quartzito e arenito

16°20’/16°38’S 43°00’/42°49’W

21

47

16

7

15

Serra de Ouro Branco, MG Dutra et al. (2008)

Quartzito

–––

13

25

8

4

13

Serra de São José, MG Gavilanes et al. (1995)

Quartzito e queluzito

21º05’S

10

17

7

0

10

Serra do Ambrósio, MG Pirani et al. (1994) Quartzito

18°03’/17°10’S 43°00’/43°06’W

12

14

3

0

11

Serra do Cipó, MG Giulietti et al. (1987) Quartzito

19°12’/19°20’S 43°30’/43°40’W

39

104

34

24

46

Serra do Itabirito, MG

Quartzito e itabirito

20°16’S 43°51’W

14

38

13

3

22

Quartzito, filito e laterita ferruginosa

20º22’/ 20º30’S 43º32’/43º22’W

24

52

13

11

28

Brandão et al. (1989; 1991)

Serra do Itacolomi, MG Dutra (2005) Dutra et al. (2008)

mediante uma matriz de presença/ausência, pelo índice de similaridade de Sörensen e a técnica de ligação da média de grupo (UPGMA) usando o programa MVSP 3.1 (Kovach Computing Services, 2004). A validade dos nomes das espécies foi verificada consultando o ILDIS (2005) e as revisões taxonômicas

para as espécies estudadas; e para gênero, adotou-se o sistema de classificação de Lewis et al. (2005). O status da conservação das espécies foi verificado através da Lista Vermelhas das Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora de Minas Gerais (Mendonça & Lins, 2000; Fundação Biodiversitas, 2007). Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


120 | Diversidade florística de Leguminosae Adans. em áreas de campos rupestres

Resultados e Discussão Nas dezoito áreas analisadas, Leguminosae foi representada por 343 espécies e 50 gêneros (Tabela 2). A subfamília Papilionoideae apresentou 154 espécies e 31 gêneros, sendo a mais representativa. O gênero Crotalaria destacou-se em número de espécies, 15 no total. Caesalpinioideae foi a segunda maior subfamília, com 98 espécies e sete gêneros, sendo Chamaecrista o gênero mais numeroso, com 69 espécies. Mimosoideae foi representada por 91 espécies e 11 gêneros, sendo Mimosa o gênero mais bem representado em número de espécies (44 spp.). Essa grande representatividade da família Leguminosae e dos gêneros Chamaecrista, Mimosa e Calliandra nos campos rupestres, constatada no presente estudo, já havia sido registrada por L.P. de Queiroz, que citou para esse tipo de vegetação 311 espécies (Giulietti et al., 2000). Entre as espécies listadas, cerca de 15% ocorrem em áreas de distribuição restrita e em populações pequenas e isoladas, e destas 20 estão citadas como ameaçadas de extinção (Mendonça & Lins, 2000; Fundação Biodiversitas, 2007). Na categoria de vulnerável estão: Chamaecrista aristata (Benth.) H.S. Irwin & Barneby, C. linearifolia (G. Don) H.S. Irwin & Barneby, C. stillifera (H.S. Irwin & Barneby) H.S. Irwin & Barneby, C. tephrosiifolia (Benth.) H.S. Irwin & Barneby, C. ulmea H.S. Irwin & Barneby, Harpalyce lanata L.P. Queiroz e H. parvifolia H.S. Irwin & Arroyo. Na categoria em perigo constam: Chamaecrista choriophylla (Vogel) H.S. Irwin & Barneby, C. dentata (Vogel) H.S. Irwin & Barneby, C. semaphora (H.S.Irwin & Barneby) H.S.Irwin & Barneby, Lupinus coriaceus Benth., L. decurrens Gardner, L. ovalifolius Benth., Mimosa barretoi Hoehne, M. macedoana Burkart, M. montis-carasae Barneby e M. paucifolia Benth. Criticamente em perigo está: Chamaecrista cipoana (H.S. Irwin & Barneby) H.S. Irwin & Barneby; enquanto as presumivelmente ameaçadas são: Chamaecrista multinervea (Benth.) H.S. Irwin & Barneby e Zornia pardina Mohlenbr. Comparando o número de espécies em cada área (Tabela 1), a Serra do Cipó foi a área mais diversa, com 104 espécies, seguida por Catolés (69 spp.) e pela Serra da Canastra (60 spp.). Morro do Chapéu, na Bahia, foi a área que apresentou o menor número de espécies (12 spp.). Essa diferença encontrada, na riqueza de espécies de Leguminosae, pode ser consequëncia do tamanho da área amostrada em cada localidade, duração e periodicidade das coletas, como abordado por Nakajima & Semir (2001) e Romero & Martins (2002). Mas corrobora com Barreto (1949), Harley (1995) e Giulietti Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

et al. (1997) que citam a porção central da Cadeia do Espinhaço, que inclui a Serra do Cipó e Diamantina, como a que exibe maior diversidade florística. Nenhuma espécie está distribuída em todas as áreas, sendo as de maior ocorrência: Periandra mediterranea (Vell.) Taub., em 16 áreas; Stylosanthes guianensis (Aubl.) Sw., em 14; Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip e Camptosema scarlatinum (Mart. ex Benth.) Burkart, em 11 áreas. Mais da metade das espécies (60,7%) ocorre em apenas uma área, evidenciando a singularidade da composição florística de cada área o que ocasiona a heterogeneidade da flora dos campos rupestres, onde muitas espécies e gêneros encontram-se em populações disjuntas, geralmente restritas a algumas serras (Giulietti & Pirani, 1988; Giulietti et al., 2000). A análise de agrupamento das 18 áreas de campo rupestre (Figura 1) reuniu nitidamente as áreas de campo rupestre da Bahia e Minas Gerais, separando-as da Chapada dos Veadeiros (CVD), em Goiás, que, apresentou a composição de espécies de Leguminosae bastante distinta das demais áreas. Dois grandes grupos se formaram: o grupo A, formado por três áreas de campo rupestre da Chapada Diamantina, na Bahia e a Serra de Grão-Mogol, no norte de Minas; e o grupo B, que reuniu as demais áreas de campo rupestre de Minas Gerais. Segundo Harley (1995), essa dissimilaridade encontrada é devido à presença de vales, como os do Rio de Contas, Rio Pardo e Rio Jequitinhonha, que funcionam como uma barreira de migração da flora do norte da Cadeia do Espinhaço para o sul, e vice-versa. Além disso, esse mesmo autor ressalta uma maior disponibilidade hídrica na porção sul do Espinhaço, que na Bahia, onde figuram médias pluviométricas mais baixas. Essa diferença no regime de precipitação subdivide a Cadeia do Espinhaço em três setores (Harley, 1995): [1] setor sul, que compreende as proximidades de Ouro Preto até Belo Horizonte, em Minas Gerais, onde os campos rupestres estão circundados por florestas estacionais semideciduais e estão restritos às áreas altas e isoladas; [2] setor central, que inclui a Serra do Cipó e Diamantina, em Minas Gerais, áreas cercadas pelo cerrado, onde os campos rupestres ocorrem em áreas extensas, exibindo grande diversidade florística; e [3] setor norte, na Chapada Diamantina, Bahia, que extende-se pela zona semi-árida, com os campos rupestres localizados nos domínios da caatinga. Em um segundo nível de similaridade, o grupo A (Figura 1) desmembrou-se, formando o grupo A1, composto pelos campos rupestres da Bahia, que separou da Serra de Grão-Mogol, localizada no norte de Minas


Dutra, Garcia, Lima & Queiroz |

121

Tabela 2 – Gêneros e número de espécies de Leguminosae ocorrentes nas 18 áreas de campo rupestre de Minas Gerais, Bahia e Goiás. BCC = Barão de Cocais/MG, CAT = Catolés/BA, CVD = Chapada dos Veadeiros/GO, DMT = Diamantina/MG, MCG = Mucugê/BA, MCP = Morro do Chapéu/BA, PAM = Pico das Almas/BA, PBN = Poço Bonito/MG, PEI = Parque Estadual do Itacolomi/MG, SAB = Serra do Ambrósio/MG, SAP = Serra de Antônio Pereira/MG, SCN = Serra da Canastra/MG, SCP = Serra do Cipó/MG, SGM = Serra de Grão-Mogol/MG, SIB = Serra de Itabirito/MG, SOB = Serra de Ouro Branco/MG, SPD = Serra da Piedade/MG e SSJ = Serra de São José/MG.

Subfamília/Gênero

Número de espécies BCC CAT CVD DMT MCG MCP PAM PBN PEI SAB SAP SCN SCP SGM SIB SOB SPD SSJ

Caesalpinioideae Bauhinia L.

0

2

0

0

0

2

1

0

1

0

1

0

3

1

2

0

1

0

Chamaecrista Moench

1

13

4

17

6

1

5

3

9

1

3

15

21

14

6

6

5

3

Copaifera L.

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

1

0

0

0

0

0

Hymenaea L.

0

1

0

0

1

0

1

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

Moldenhawera Schrad.

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

Tachigali Aubl.

0

1

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

2

0

0

0

0

0

Senna Mill.

2

2

1

1

2

0

2

2

3

1

0

3

6

2

5

2

0

4

Mimosoideae Abarema Pittier

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

1

0

0

0

0

0

0

Acacia Mill.

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

3

1

0

0

0

0

Anadenanthera Speg.

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

1

0

0

0

0

Calliandra Benth.

0

19

1

2

16

1

7

0

0

0

0

1

3

2

0

0

0

0

Enterolobium Mart.

0

1

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

Inga Mill.

0

0

0

0

0

0

0

0

2

0

0

2

2

1

0

1

0

0

Mimosa L.

1

6

4

7

3

3

6

1

8

0

1

7

12

5

2

3

4

0

Piptadenia Benth.

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

Plathymenia Benth.

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

Stryphnodendron Mart.

0

0

1

0

0

0

1

0

0

0

0

1

0

0

1

0

0

0

Papilionoideae Acosmium Schott

0

1

0

0

0

0

0

0

0

1

0

1

1

1

0

0

0

0

Aeschynomene L.

0

4

2

2

3

0

0

0

1

1

1

0

3

1

3

1

4

0

Andira Juss.

0

0

0

0

0

0

0

1

1

1

0

3

2

0

0

0

0

0

Bowdichia Kunth

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

1

1

0

0

0

0

0

Calopogonium Desv.

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

Camptosema Hook. & Arn.

1

3

0

3

2

2

3

0

1

2

0

1

3

1

1

1

2

1

Centrosema (DC.) Benth.

2

1

0

1

0

1

1

0

2

1

1

2

3

3

0

0

2

0

Clitoria L.

1

0

0

0

0

0

0

1

1

0

0

1

1

1

0

0

0

1

Collaea DC.

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

2

1

0

1

0

0

1

Crotalaria L.

1

2

3

0

0

0

3

0

3

0

0

2

4

2

4

1

1

2

Dalbergia L. f.

0

0

0

0

0

0

0

0

2

1

0

1

1

0

0

0

0

0

Desmodium Desv.

2

0

0

0

0

0

1

1

5

0

1

1

2

0

3

2

0

0

Dioclea Kunth

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

Eriosema (DC.) Desv.

1

1

1

4

0

0

0

2

0

0

0

3

1

1

0

1

1

2

Galactia P. Browne

0

2

3

2

1

0

0

0

0

0

1

5

1

1

0

0

1

1

Harpalyce Sessé & Moc. ex DC.

0

1

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

1

1

1

0

0

0

Indigofera L.

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

Lupinus L.

0

1

0

7

0

0

1

0

0

0

0

2

1

0

0

0

0

0

continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


122 | Diversidade florística de Leguminosae Adans. em áreas de campos rupestres

...continuação da Tabela 2

Número de espécies Subfamília/Gênero BCC CAT CVD DMT MCG MCP PAM PBN PEI SAB SAP SCN SCP SGM SIB SOB SPD SSJ Machaerium Pers.

0

0

0

0

0

0

1

0

2

0

0

1

3

0

0

0

0

1

Macroptilium (Benth.) Urb.

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

Oryxis A. Delgado & G.P. Lewis

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

Periandra Mart. ex Benth.

1

2

0

1

1

1

1

0

1

1

1

2

1

1

2

1

1

1

Platycyamus Benth.

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

1

0

0

0

0

0

Platypodium Vogel

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

0

Poiretia Vent.

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

3

0

0

0

0

0

Pterogyne Tul.

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

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Rhynchosia Lour.

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Sesbania Scop.

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Stylosanthes Sw.

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Vigna Savi

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Zornia J.F. Gmel.

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Figura 1 – Similaridade florística entre 18 levantamentos realizados em campos rupestres de Minas Gerais, Bahia e Goiás. BCC = Barão de Cocais/MG, CAT = Catolés/BA, CVD = Chapada dos Veadeiros/GO, DMT = Diamantina/MG, MCG = Mucugê/BA, MCP = Morro do Chapéu/BA, PAM = Pico das Almas/BA, PBN = Poço Bonito/MG, PEI = Parque Estadual do Itacolomi/MG, SAB = Serra do Ambrósio/MG, SAP = Serra de Antônio Pereira/MG, SCN = Serra da Canastra/MG, SCP = Serra do Cipó/MG, SGM = Serra de Grão-Mogol/MG, SIB = Serra de Itabirito/MG, SOB = Serra de Ouro Branco/MG, SPD = Serra da Piedade/MG e SSJ = Serra de São José/MG.

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Dutra, Garcia, Lima & Queiroz |

Gerais, com 76,2% de dissimilaridade, havendo diferença significativa na composição florística da Bahia (Harley, 1995). Em A1, a maior similaridade foi entre Catolés e Mucugê, que apresentaram 26 espécies em comum e similaridade de 48,6%. As áreas que compõem o grupo B formaram dois subgrupos (Figura 1): B1, constituído pela Serra do Cipó, Diamantina e Serra da Canastra, que apresentaram em comum as espécies: Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip, C. ochnacea (Vogel) H.S. Irwin & Barneby, Calliandra dysantha Benth., Camptosema scarlatinum (Mart. ex Benth.) Burkart, Lupinus coriaceus Benth. e Periandra mediterranea (Vell.) Taub., e apresentam os solos derivados basicamente do quartzito; e B2, que reuniu áreas do Quadrilátero Ferrífero, Serra do Ambrósio, Serra de São José e Poço Bonito, que possuem solos derivados, além do quartzito, de filitos, itabiritos, micaxistos e lateritas ferruginosas (Tabela 1). Estas variações no tipo de substrato influenciam diretamente na composição florística, já que levam a diferenciação na composição química do terreno, permeabilidade, porosidade e tipo de solo (Brandão et al., 1994) que, segundo Barreto (1949), é o principal fator que determina a riqueza de espécies. Dentro do grupo B2, destacou-se B2’ (Figura 1), formado pelos campos rupestres da Serra do Ambrósio e do Quadrilátero Ferrífero, área de cerca de 7.000km2 que tem como limite sul a Serra de Ouro Branco e, ao norte, a Serra do Curral (Dorr, 1969), marcada pela ação antrópica, como desmatamento, expansão urbana, mineração e turismo (Vicent et al., 2002). Esse grupo apresentou 95 espécies, sendo que metade delas ocorreu em mais de uma serra, sendo comuns às serras da região, como constatado por Dutra et al. (2005), com as Papilionoideae de campos ferruginosos; e 59,6%, são de ampla distribuição geográfica, indicando um grupo sustentado, principalmente, por espécies generalistas. Além disso, caracteriza-se por não apresentar elementos endêmicos e pela ausência dos gêneros Lupinus e Calliandra, citados por Giulietti et al. (1997), como gêneros que possuem seu máximo de diversidade nos campos rupestres. A Serra de Itabirito e Serra da Piedade, se agruparam com 48,5% de similaridade, apresentando 16 espécies em comum. O Parque do Itacolomi e a Serra de Ouro Branco uniram-se com 44,2% de similaridade, com 15 espécies em comum. A maior similaridade entre essas áreas pode ser devido à proximidade entre elas e ao tipo de solo, já que a latitude e a composição dos substratos têm papel fundamental na distribuição específica (Brandão et al., 1994).

123

A singularidade florística encontrada nas diferentes áreas de campos rupestres (Giulietti & Pirani, 1988), como observada para Leguminosae no presente estudo, já havia sido mencionada por Nakajima & Semir (2001) e Romero & Martins (2002), com as famílias Asteraceae e Melastomataceae, respectivamente. Essa singularidade, segundo Brandão et al. (1994), deve-se à temperatura, à diversidade de substratos e à latitude, aos quais estão associados à radiação solar incidente e a movimentação de grandes massas de ar e, consequentemente, aos aspectos climáticos locais, como evapotranspiração, nebulosidade e disponibilidade de água, este último, um importante fator físico que controla o estabelecimento, sobrevivência e distribuição espacial da vegetação (Zappi et al., 2003). Além disso, a presença de espécies e gêneros endêmicos e de distribuição restrita, devese, também, aos períodos de flutuações climáticas, que ocorreram no Quaternário, e que resultaram na irregularidade no fluxo gênico entre as populações e na evolução de espécies novas, geralmente de distribuição limitada (Giulietti et al., 1997). A degradação que os campos rupestres vêm sofrendo, durante séculos, devido principalmente: a intensa atividade mineradora, a construção de estradas e loteamentos, a coleta indiscriminada de espécies de interesse econômico e às queimadas constantes, muitas provocadas para implantação de pastagens, vem alterando a heterogeneidade e riqueza da flora destes campos (Menezes & Giulietti, 2000). E a manutenção desta flora, especialmente de Leguminosae, muitas delas, de distribuição restrita a uma ou algumas serras, e ocorrendo em populações pequenas e isoladas, depende da preservação dos hábitats ocupados por elas e de medidas de conservação que realmente protejam as diversas serras que compõem a Cadeia do Espinhaço e suas áreas disjuntas.

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124 | Diversidade florística de Leguminosae Adans. em áreas de campos rupestres

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Fauna de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia, Brasil): riqueza de espécies, padrões de distribuição e ameaças para conservação Alexsander Araújo Azevedo1,2 * Fernando A. Silveira1 Cândida Maria Lima Aguiar3 Viviane Silva Pereira4 Departamento de Zoologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Biotrópicos – Instituto de Pesquisa em Vida Silvestre & Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. 3 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil. 4 Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. * e-mail: alex@biotropicos.org.br 1 2

Resumo O objetivo deste trabalho foi caracterizar a fauna de abelhas dos campos rupestres nas áreas de altitude da Cadeia do Espinhaço quanto à riqueza e à distribuição geográfica de suas espécies e à ocorrência de endemismos. Além disso, também foram apresentadas as principais ameaças para a conservação da fauna de abelhas nativas na região. Os dados foram obtidos a partir de fontes secundárias (informações associadas a espécimes depositados em coleções taxonômicas e registros na literatura) e por meio de coleta de dados primários (expedições de coleta realizadas em várias localidades da cadeia entre outubro de 2004 e maio de 2006). Ao todo foram coletados 2.959 indivíduos pertencentes a cerca de 360 espécies. Somando estas informações aos dados secundários foram registradas pelo menos 516 espécies de abelhas, entre elas um mínimo de 13 espécies não descritas. Os totais são imprecisos devido ao grande número de espécies não identificadas nos resultados de levantamentos faunísticos publicados, principalmente de grupos que carecem de revisões taxonômicas. Os resultados das análises apontam para uma riqueza superior a 600 espécies e a necessidade de um esforço de coleta maior para se obter uma amostra que represente uma parcela substancial das faunas locais/regionais. As espécies de abelhas registradas no Espinhaço apresentam diferentes padrões de distribuição geográfica já identificados na literatura para as serras do sudeste brasileiro. Entre os grupos de espécies apontados, destacam-se aqueles representados pelas abelhas endêmicas das serranias do leste brasileiro, com compartilhamento de elementos da fauna entre o Espinhaço e outros maciços como as Serras da Canastra, Mantiqueira e do Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Azevedo, Silveira, Aguiar & Pereira |

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Caparaó, e aquele cujas espécies são comuns às áreas de altitude do sudeste e do planalto central. Embora existam registros de espécies potencialmente endêmicas do Espinhaço, ainda faltam informações para a determinação precisa sobre suas distribuições geográficas.

abstract This work attempts to characterize the wild-bee fauna of the rocky fields in the high altitudes of the Espinhaço mountain chain in respect to its species richness and geographic distribution and to presence of endemic species. The main threats to the conservation of the native bees in the region are also pointed out. Data were obtained from secondary sources (specimens in taxonomic collections and literature) and through collecting expeditions to several localities in the chain, between October 2004 and May 2006. A total of 2,959 specimens belonging to 360 species were collected. Adding the information from secondary sources to that obtained in the field, at least 516 species were recorded, among which at least 13 are undescribed ones. Imprecision in these figures are due to the large number of unidentified species listed in published faunistic surveys, especially in groups lacking recent taxonomic reviews. Analyzes of the data suggest that more than 600 species occur in the Espinhaço chain and that additional collecting effort is needed for a good representation of the local/regional faunas. Geographic-distribution patterns of bee species recorded in the Espinhaço are those previously identified in the literature for the southeastern Brazilian mountains. Among them, are those bees endemic to these mountains, which occur in the Espinhaço chain and other mountain ranges in the region, as the Canastra, Mantiqueira and Caparaó, and those common to this region and the Brazilian Central Plateau. Although there are some records of bee species potentially endemic to the Espinhaço chain, more information is needed for the precise determination of their geographic ranges.

Introdução Os campos rupestres representam formações campestres herbáceo-arbustivas associadas a solos litólicos, predominantemente quartzíticos com afloramentos rochosos, e são marcados por uma grande diversidade biológica e pela ocorrência de endemismos, sobretudo de espécies vegetais (Giulietti & Pirani, 1988; Rapini et al., neste volume). Eles ocorrem de forma disjunta em algumas regiões do Brasil, como a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e a Serra da Canastra, em Minas Gerais. Eles se distribuem principalmente, entretanto, ao longo das porções mais elevadas da Cadeia do Espinhaço, em altitudes superiores a 900 metros, desde o norte da Chapada Diamantina, na Bahia, até a Serra de Ouro Branco, em Minas Gerais (Giulietti & Pirani, 1988; Rapini et al., neste volume). O Espinhaço se estende por cerca de mil quilômetros e representa, em Minas Gerais, um divisor natural de dois importantes domínios da vegetação brasileira, os quais também são considerados hotspots mundiais em biodiversidade, o Cerrado e a Mata Atlântica (Myers et al., 2000). Além disso, o Espinhaço também mantém contato com a Caatinga no norte de Minas Gerais e, principalmente, na Chapada Diamantina. Recentemente, a quase totalidade da porção mineira do maciço recebeu o título de Reserva da Biosfera pela Unesco, em reconhecimento à sua imensa riqueza biológica.

Entretanto, a Cadeia do Espinhaço representa, ainda, uma grande lacuna de conhecimento para muitos grupos biológicos, entre eles, as abelhas. Silveira & Cure (1993) foram os primeiros a investigar a fauna de abelhas de altitude nas cadeias montanhosas do sudeste brasileiro. Eles notaram que as abelhas encontradas acima de 1.200m – 1.400m de altitude podiam ser divididas em três grupos principais, de acordo com sua distribuição geográfica: 1) abelhas que se encontram tanto em baixas altitudes nas regiões circunvizinhas, quanto no alto das serras; 2) espécies de abelhas amplamente distribuídas ao sul do paralelo 24oS e que estão ausentes nas áreas baixas ao norte do estado do Paraná, reaparecendo em áreas de altitude acima de cerca de 1.300m nas serras do norte de São Paulo, no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Elas teriam expandido sua distribuição em direção ao norte, acompanhando o avanço de domínios vegetacionais subtropicais durante períodos glaciais, possivelmente no Pleistoceno, e seriam representadas por populações relictuais nas serras do sudeste; 3) abelhas endêmicas das serras do sudeste brasileiro, cujas populações são isoladas em altitudes superiores a cerca de 1.300m de altitude, não ocorrendo nas áreas mais baixas entre elas. Estas espécies teriam se originado e evoluído nas montanhas do leste brasileiro. Além desses, aqueles autores chamam atenção para um quarto grupo de abelhas Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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que ocorreriam nas áreas campestres das serranias do sudeste e no Planalto Central brasileiro. A associação entre essas duas regiões geográficas não é clara. O conhecimento sobre a fauna de abelhas nas diversas regiões e fitofisionomias brasileiras deriva, em grande parte, de inventários realizados em áreas restritas e/ou periféricas, muitas vezes caracterizadas por baixo grau de conservação (revistos por Pinheiro-Machado et al., 2002). Esses levantamentos sistemáticos privilegiam a padronização da amostragem para permitir a comparação de abundâncias e riquezas relativas. Neles, o sítio amostral é limitado a uma área restrita (geralmente, 1-2ha) e o tempo amostral é fixado, sendo a coleta de abelhas feita durante caminhada ininterrupta, em que o coletor não permanece mais tempo em áreas ricas em abelhas do que em áreas pobres. Vantagens e desvantagens deste método são discutidas, por exemplo, por Sakagami et al. (1967) e Silveira & Godinez (1996). Adotando uma estratégia diferente dos levantamentos acima, o objetivo principal deste trabalho foi conhecer a fauna de abelhas dos campos rupestres nas áreas de altitude da Cadeia do Espinhaço, buscando caracterizála quanto à riqueza e à distribuição geográfica de suas espécies e à ocorrência de endemismos.

Material e Métodos Coleta de dados Duas estratégias foram empregadas para obtenção dos dados avaliados neste trabalho – a) busca de dados secundários (informações associadas a espécimes depositados em coleções taxonômicas e registros na literatura) e b) levantamentos de dados primários (expedições de coleta em campo). Informações disponíveis na literatura – Trabalhos taxonômicos e de inventários faunísticos constituíram a principal bibliografia consultada para compor a lista de espécies de abelhas da Cadeia do Espinhaço (Anexo). Os trabalhos taxonômicos fornecem uma quantidade de registros relativamente reduzida, uma vez que não lidam especificamente com a fauna da Cadeia do Espinhaço. Por outro lado, fornecem dados de alta qualidade, já que as identificações das espécies são feitas por especialistas, freqüentemente no âmbito de revisões amplas, sendo, nesses casos, muito confiáveis. Além disto, apresentam dados relativamente completos sobre as distribuições geográficas de muitas espécies, já que, normalmente, examinam grandes amostras pertencentes aos acervos de diversas coleções, oriundas das mais diversas regiões.

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Para Minas Gerais, onde se estende a maior porção dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço, foram publicados, até o momento, os resultados de apenas alguns poucos inventários faunísticos, em sua maioria concentrados na porção mais ao sul do maciço, em áreas situadas nos municípios de Santana do Riacho (Faria, 1994), Ouro Preto (Faria-Mucci et al., 2003; Araújo et al., 2006) e Ouro Branco (Araújo et al., 2006). A única amostragem fora desta região, realizada mais ao norte do estado, em São Gonçalo do Rio Preto (Nemésio & Faria-Jr., 2004), se restringiu a um grupo específico de abelhas (Euglossina – Apidae). Igualmente incipiente é o conhecimento disponível sobre a fauna de abelhas dos campos rupestres da porção baiana do Espinhaço (Chapada Diamantina), que se baseia em apenas dois inventários realizados em áreas muito próximas, no município de Palmeiras (Almeida & Gimenes, 2002; Silva-Pereira & Santos, 2006). Considerando que o alvo principal deste trabalho foi compilar as informações sobre as abelhas dos campos rupestres nas áreas mais elevadas do Espinhaço, não foram considerados em nossas análises os dados obtidos em áreas abaixo de 800m de altitude e/ou em que os campos rupestres não fossem a vegetação predominante. Por isto, não foram computados os dados de uma das áreas de estudo de Almeida & Gimenes (2002), situada abaixo de 800m de altitude, e os obtidos por Martins (1994) e Aguiar et al. (2005) (todos obtidos na Chapada Diamantina) e parte dos dados apresentados por Nemésio & Faria Jr. (2004), por terem sido coletados em ambientes outros que não os campos rupestres. Ressalta-se, porém, que os registros apresentados para a área da Serra de Sincorá (Morro do Pai Inácio) por Aguiar et al. (2005) e discutidos aqui correspondem aos publicados previamente por Almeida & Gimenes (2002). Além destes casos, também não foram utilizados aqui os registros da fauna de abelhas conhecidas popularmente como “indígenas sem ferrão” (Apidae: Meliponina) apresentados por Antonini (2005), pois além de existir erros de identificação de espécies, são apresentados, em sua maioria, dados secundários citados por nós diretamente das fontes originais. Informações disponíveis em coleções científicas – Foram examinados exemplares de abelhas provenientes de localidades do Espinhaço, principalmente de sua porção sul, em três coleções científicas. A maioria desses exemplares encontra-se na Coleção Entomológica das Coleções Taxonômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Eles foram obtidos em levantamentos de fauna realizados por Silveira e colaboradores nas serranias da Zona Metalúrgica de Minas Gerais


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(Serras do Curral, da Calçada, da Moeda, do Cachimbo e do Caraça), localizadas nos municípios de Belo Horizonte, Brumadinho, Moeda, Nova Lima e Catas Altas. Estes dados de ocorrência são apresentados aqui pela primeira vez. Outras coleções visitadas foram as do Museu de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e do Museu de Zoologia da USP (MZUSP). As coleções da UFMG, da UFV e do MZUSP foram examinadas cuidadosamente e as informações de procedência de todos os exemplares coletados em localidades situadas indubitavelmente nos campos rupestres do Espinhaço foram registradas. Além destas coleções também foram examinados uma pequena amostra da Coleção Entomológica do Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (MZUEFS), referente a abelhas da Chapada Diamantina. Adicionalmente, vários registros nos foram cedidos por G.A.R. Melo, de abelhas coletadas por ele e que se encontram, hoje, depositadas na Coleção Entomológica “Padre Jesus Santiago Moure” do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (DZUP). Expedições de coleta – As áreas amostradas neste estudo foram escolhidas de forma a garantir amostragens bem distribuídas e em locais considerados lacunas de conhecimento. Procurou-se selecionar, ainda, áreas cuja vegetação nativa estivesse em bom estado de conservação, representando quatro grandes maciços da Cadeia do Espinhaço, que são separados uns dos outros por áreas situadas em altitudes inferiores a 800m, chamados aqui de “Médio Espinhaço,” “Serra do Cabral,” “Norte de Minas” e “Chapada Diamantina” (Figura 1). Um quinto maciço, o “Quadrilátero Ferrífero,” situado no extremo sul da cadeia e cujas áreas acima de 800m são contínuas com as do Médio Espinhaço, foi tratado separadamente por apresentar características muito distintas dos demais maciços. No Quadrilátero Ferrífero, a vegetação de altitude desenvolve-se sobre a “canga” (concreções ferruginosas couraçadas e nodulares), constituindo campos estrutural e floristicamente distintos daqueles que se desenvolvem sobre areia nos afloramentos quartzíticos do restante da Cadeia do Espinhaço (Rizzini, 1976 e 1979). Apesar das coletas terem sido direcionadas ao conhecimento da fauna nos campos rupestres situados nas porções mais elevadas (geralmente acima de 1.000m de altitude), foram amostradas, também, zonas de transição com o cerrado (entre 800m e 1.200m) em algumas localidades (Figura 1). As amostragens foram efetuadas entre outubro de 2004 e maio de 2006 e foram categorizadas em coletas oportunísticas ou intensivas, de acordo com o esforço

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de coleta despendido em cada área de estudo (Tabela 1). As coletas foram feitas por dois ou mais coletores, com emprego de redes entomológicas. As abelhas foram capturadas sempre que avistadas, principalmente enquanto forrageavam nas flores. Os espécimes coletados durante este projeto estão depositados nas coleções entomológicas da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade Estadual de Feira de Santana. A heterogeneidade ambiental encontrada nos campos rupestres exige a amostragem de um grande número de pontos, já que as abelhas podem apresentar especializações quanto ao uso de recursos florais com padrão de distribuição agregado, e substratos de nidificação. Portanto, para maximizar o número de espécies registradas, não foi adotado o método habitualmente utilizado nos levantamentos sistemáticos de faunas locais de abelhas efetuados no Brasil. Para isto, os coletores percorriam extensas áreas em cada local de coleta, buscando ambientes diversos e permanecendo mais tempo em áreas onde a coleta produzia amostras mais abundantes e diversificadas de abelhas. Espécies facilmente identificáveis no campo foram coletadas apenas esporadicamente de forma a se obterem exemplares testemunhos de cada espécie para todas as localidades e todas as épocas de amostragem. Análise de dados A obtenção do número total de espécies registradas na Cadeia do Espinhaço é dificultada pelo grande número de espécies não identificadas listadas nos vários inventários de faunas locais e nas amostras obtidas durante a execução do presente projeto, principalmente em determinados táxons que carecem de revisão taxonômica (por exemplo, os gêneros Tetrapedia, Ceratina, Augochlora e Augochloropsis). Por isto, a riqueza total de espécies compiladas neste trabalho foi expressa através de uma estimativa do número mínimo de espécies registradas. Para se fazer esta estimativa, comparou-se, para cada gênero, o número de espécies identificadas com o maior número de espécies encontrado em um único lugar (incluindo espécies não identificadas). O maior número nestas comparações foi tomado como o número mínimo de espécies para cada gênero no Espinhaço. Espécies não identificadas só foram somadas às espécies identificadas quando puderam ser examinadas por um dos autores e claramente distinguidas das demais espécies incluídas em nossa listagem. A soma dos números mínimos de espécies obtidos para todos os gêneros é o número mínimo de espécies de abelhas registrado no Espinhaço – certamente, uma subestimativa da riqueza em espécies de abelhas desta Cadeia.

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Figura 1 - Distribuição das localidades nos maciços (elipses) onde há registros da fauna de abelhas ao longo da Cadeia do Espinhaço. Dados primários (), obtidos nas coletas de campo (2004-2006) realizadas durante este projeto e dados secundários (), obtidos a partir de coleções científicas e/ou literatura. Abreviações: ParNa = Parque Nacional; Pq. E. = Parque Estadual; S. = Serra. Minas Gerais: 1. S. de Ouro Branco (Ouro Branco); 2. Lavras Novas (Ouro Preto); 3. Pq. E. do Itacolomi (Ouro Preto); 4. Ouro Preto; 5. S. do Caraça (Catas Altas); 6. S. da Moeda (S. da Calçada - Brumadinho, Moeda); 7. Pq. E. da S. do Rola Moça (Belo Horizonte, Brumadinho, Ibirité, Nova Lima – inclui a S. do Cachimbo); 8. S. do Curral (Pq. das Mangabeiras - Belo Horizonte, Nova Lima); 9-10. S. do Cipó (Santana do Riacho); 11. Pq. E. Pico do Itambé (Serro); 12. Pq. E. do Rio Preto (São Gonçalo do Rio Preto); 13. Pq. E. Biribiri (Diamantina); 14. S. do Ambrósio (Itamarandiba); 15. Curimataí (Buenópolis); 16-19. S. do Cabral (Buenópolis, Francisco Dumont, Joaquim Felício, Lassance); 20. Itacambira; 21. Botumirim (Campina do Bananal); 22. Pq. E. de Grão Mogol (Grão Mogol); 23. S. do Talhado (Serranópolis de Minas); Bahia: 24. Pico das Almas (Rio de Contas); 25. S. do Esbarrancado (ParNa Chapada Diamantina - Mucugê); 26. S. do Sincorá (Morro do Pai Inácio) e S. dos Brejões (Palmeiras).

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A avaliação da representatividade da amostra da fauna de abelhas obtida nas várias áreas da Cadeia do Espinhaço foi feita através do índice de correlação não paramétrica de Spearman entre o número de indivíduos coletados e o número de espécies obtido em cada área. Apenas as localidades amostradas no âmbito deste projeto foram utilizadas nesta análise por terem empregado mesma metodologia de coleta e esforço amostral comparável (Tabela 1). Partiu-se do pressuposto que, se todas as áreas estivessem bem amostradas, obterse-ia uma baixa correlação (o número de indivíduos obtidos em cada área seria suficientemente grande para que grande parte das espécies existentes estivesse representada na amostra, independente do tamanho desta). Por outro lado, uma correlação significativa indicaria que muitas das áreas com amostra pequena estariam ainda subamostradas. Para avaliar a representatividade da amostra obtida para toda a Cadeia do Espinhaço, foi construída uma “curva do coletor” através de análise de Jacknife com 50 simulações aleatórias, utilizando o software EstimateS (http://viceroy.eeb.uconn.edu/estimates), incluindo todos os pontos de literatura e dados primários. Para esta análise, dados primários e secundários para uma mesma área/município foram aglutinados. Por outro lado, foram considerados apenas aqueles táxons identificados até espécie e as morfo-espécies que foram individualizadas nos gêneros. Com isto, evitou-se que a mesma espécie não identificada fosse contada como táxon diferente em cada local em que ocorresse. O mesmo procedimento de Jacknife foi utilizado para estimar a riqueza de espécies.

Resultados e Discussão A lista de espécies de abelhas registradas na Cadeia do Espinhaço, com indicação das localidades e principais serras e/ou unidades de conservação nas quais elas foram encontradas, bem como as fontes de informação (coleções/publicações científicas) encontram-se no Anexo. A Tabela 1 mostra o número de espécies registrado e o tipo de amostragem (categorizado de acordo com o esforço de coleta despendido) em cada localidade. Riqueza de espécies Durante as expedições realizadas no âmbito deste projeto, foram coletados 2.959 indivíduos pertencentes a cerca de 360 espécies. Somando a estas informações os dados obtidos nas fontes secundárias, o número mínimo de espécies de abelhas registradas para a Cadeia do Espinhaço totaliza 516 (Anexo). Foi encontrada uma forte correlação entre o número de espécies e o esforço de coleta em cada localidade

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amostrada nas expedições deste projeto [medido pelo número de exemplares capturados (rs = 0,98; p < 0,0001; Figura 2a) ou pelo número de horas de amostragem (rs = 0,89; p = 0,0001; Figura 2b)]. Isto sugere que é preciso um esforço de coleta maior do que o empregado na maioria das áreas para se obter uma amostra que represente uma parcela substancial das faunas locais/regionais. A análise de Jacknife, conduzida com base em 414 espécies cuja individualidade foi possível definir, estimou que a fauna de abelhas da Cadeia do Espinhaço seria composta por 584 espécies. A curva obtida (Figura 3) parece próxima da estabilização, sugerindo que a maior parte das espécies que ocorrem na Cadeia tenha sido registrada. Entretanto, alguns fatos sobre esta estimativa têm de ser avaliados. Em primeiro lugar, ela considerou apenas as espécies identificáveis. Se todas as espécies presentes nas várias amostras (inclusive as que não puderam ser identificadas até espécie – um mínimo de 516, em vez das 414 avaliadas) tivessem sido incluídas na análise, o número total estimado de espécies seria maior e o comportamento da curva poderia ter sido diferente. Em segundo lugar, ao se compor a curva com as várias localidades amostradas, presume-se que cada uma dessas localidades tenha sido convenientemente amostrada, o que não é verdade, com foi discutido acima. Com base nisto tudo, não seria exagero supor que a fauna de abelhas de todo a área de campo rupestre na Cadeia do Espinhaço ultrapasse, possivelmente bastante, 600 espécies. Fauna de altitude e espécies endêmicas Foram registradas espécies de abelhas representantes de todos os quatro grupos apresentados por Silveira & Cure (1993) com relação à sua distribuição nas cadeias montanhosas do sudeste brasileiro. As espécies do primeiro grupo (ocorrem em toda a região, independente da altitude) fazem parte da matriz faunística de grande parte do Brasil e constituem a maior parte da amostra obtida no Espinhaço. Alguns exemplos seriam, entre outros, Oxaea flavescens, Bombus morio, Eulaema nigrita, Nannotrigona testaceicornis e Centris aenea. Do segundo grupo (abelhas amplamente distribuídas na região subtropical e, no sudeste, restritas a altitudes elevadas), foram registradas algumas espécies no Espinhaço. Exemplos mais óbvios seriam Anthophora paranensis, Augochloropsis iris, Bombus brasiliensis, Exomalopsis sp.n., Pseudagapostemon anasimus e P. pruinosus). Um exemplo deste grupo descoberto mais recentemente (Stehmann & Semir, 2001) é Hexantheda missionica, única espécie de visitante floral e única polinizadora conhecida de Calibrachoa elegans (Solanaceae), espécie considerada ameaçada de extinção (Mendonça & Lins, 2000 – citada Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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como Petunia elegans). O número de espécies representantes do terceiro grupo, abelhas endêmicas das serranias do leste brasileiro, é mais restrito. Em nossa amostra, há pelo menos cinco exemplos potenciais – Centris (Trachina) rupestris, C. (Xanthemisia) sp.n., Eufriesea nigrohirta, Melitoma sp.n. e Halictanthrena malpi hiacearum que ocorrem tanto na Cadeia do Espinhaço quanto em outras áreas de altitude nesta região, como as Serras da Canastra, Mantiqueira e do Caparaó. Finalmente, do quarto grupo (espécies comuns às áreas de altitude do sudeste e do planalto central), podemos citar apenas Megachile iheringi e Xylocopa truxali. Uma determinação mais precisa das espécies endêmicas de áreas de altitude ou, especialmente, endêmicas da Cadeia do Espinhaço, é dificultada pela deficiência no conhecimento taxonômico (evidenciada pelo grande número de espécies não identificadas) e sobre a distribuição geográfica das abelhas em geral. Além disso, entre as espécies apontadas como novas neste trabalho, há algumas que poderiam ser potencialmente endêmicas do Espinhaço. Porém, os registros são baseados em muito poucos exemplares (Callonichium, Protomeliturga, Caupolicana, Nomiocolletes etc), o que dificulta a determinação de sua distribuição. Caso semelhante é o de algumas espécies previamente descritas a partir de um pequeno número de exemplares restritos a uma única localidade do Espinhaço (Anthrenoides lavrensis – Lavras Novas; Austrostelis silveirai – Serra do Curral; Gaesischia caracicola – Serra do Caraça; Gaesischia cipoana e Larocanthidium spinosum – Serra do Cipó). Destas, apenas as duas últimas foram registradas, neste trabalho, em outras localidades aumentando as distribuições da porção sul do maciço Médio Espinhaço ao maciço Norte de Minas (Figura 1). A análise das distribuições geográficas das espécies de meliponíneos, não corrobora a existência de espécies de Meliponina endêmicas dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço, como havia sido sugerido anteriormente por Antonini (2005), mesmo quando se consideram os seus contrafortes em altitudes inferiores a 800m. Melipona rufiventris, citada como exemplo de espécie endêmica do Espinhaço, distribui-se amplamente pelos cerrados de Minas Gerais ao sul do rio Paracatu, extravasando as fronteiras estaduais a oeste e ao sul (Melo, 2003). Além disto, aparentemente, ela jamais foi registrada acima de 800m de altitude no estado. Principais ameaças Entre as pressões antrópicas indicadas para a Cadeia do Espinhaço (Costa et al., 1998), a mineração, as queimadas, a expansão imobiliária, a agropecuária e os reflorestamentos representam ameaças à sobrevivência da fauna nativa de abelhas. A ocupação antrópica é Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

responsável pela destruição de substratos e sítios de nidificação (solo e vegetação) e pela eliminação de fontes de alimento e de materiais que as abelhas utilizam para construir seus ninhos (plantas floríferas). O turismo desordenado pode também contribuir para a degradação, devido ao pisoteamento de áreas de nidificação e de fontes de alimento (plantas herbáceas) e aumento da incidência de queimadas, além de criar novas rotas para a erosão do solo, com a abertura de trilhas em encostas íngremes. Um fator específico a se considerar seria o avanço da apicultura comercial com o uso da espécie exótica e invasora Apis mellifera (Apidae). Esta espécie foi observada em todas as áreas amostradas ao longo da Cadeia do Espinhaço. Embora os efeitos desta abelha sobre as comunidades nativas das várias regiões onde ela foi introduzida ainda sejam motivo de controvérsia (e.g. Butz Huryn, 1997; Moritz et al., 2005), evidências têm sido apresentadas de que ela pode afetar direta ou indiretamente as abelhas nativas. Recentemente, vários trabalhos têm mostrado que colônias ferais e cultivadas de A. mellifera podem reduzir a fecundidade de outras abelhas (e.g. Paini & Roberts, 2005) e diminuir a abundância e até extinguir as espécies nativas (Kato et al., 1999). Isto pode se dar pela simples redução da quantidade de recursos disponível nas flores ou pela interação, agressiva ou não, com outros insetos nas flores (e.g. Gross & Makay, 1998; Cairns et al., 2005). Esses riscos parecem ser maiores onde as populações de A. mellifera tornam-se muito grandes devido à instalação de apiários comerciais, quando o impacto sobre a disponibilidade de alimentos para outras espécies pode se tornar especialmente crítica (Forup & Memmott, 2005; Paini & Roberts, 2005). Este fato é aceito até por autores, como Moritz et al. (2005), que minimizam o impacto da introdução de A. mellifera sobre as abelhas nativas. Outros efeitos potenciais preocupantes desta espécie sobre os campos rupestres seriam na facilitação da disseminação de plantas exóticas invasoras (e.g. Hanley & Goulson, 2003; Goulson & Derwent, 2004) e a diminuição do sucesso reprodutivo de plantas nativas (e.g. Gross & Makay, 1998; Hansen et al., 2002; Kato & Kawakita, 2004). Um caso específico deste último efeito foi registrado em uma planta nativa da Cadeia do Espinhaço, Clusia arrudae (Clusiaceae). Carmo et al. (2004) demonstraram que as operárias da abelha melífera retiram praticamente todo o pólen das flores masculinas desta planta, impedindo que a espécie polinizadora (Eufriesea nigrohirta) polinize efetivamente as flores femininas. Isto causaria uma redução do sucesso reprodutivo da planta, que produziria menos sementes por fruto quando as flores masculinas estão sendo intensamente visitadas pelas operárias de Apis. Além do impacto direto sobre outras


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abelhas não polinizadoras que utilizam o pólen de C. arrudae como alimento, a A. mellifera poderia, a longo prazo, reduzir a população da planta que, além de fonte de pólen para várias espécies nativas, é fonte de resina (material de construção de ninho) para sua polinizadora, E. nigrohirta.

Considerações Finais A fauna de abelhas dos campos rupestres do Espinhaço, bem como de outras formações campestres altimontanas, é representada por uma baixa abundância das populações e elevado número de espécies raras. Por isto, embora a vegetação campestre ofereça maior facilidade à amostragem, em relação a ambientes florestais, grandes esforços de coleta ainda serão necessários para que sua fauna de abelhas seja bem caracterizada e distinguida daquelas dos ambientes vizinhos (Mata Atlântica, Cerrado e a Caatinga). As faunas de abelhas, nos domínios da Mata Atlântica (e.g. Cure et al., 1992, 1993) e Cerrado (e.g. Silveira & Campos, 1995; Carvalho & Bego, 1996; Azevedo, 2002) são relativamente homogêneas, apresentando, ainda, muitos elementos em comum, pelo menos até altitudes entre 800 m e 1000 m (Silveira & Cure, 1993). Assim, nesta faixa mais baixa, não se espera encontrar nenhum elemento característico ou endêmico da Cadeia do Espinhaço. Pode ser que a composição da fauna de abelhas do Espinhaço no Norte de Minas e Chapada Diamantina seja influenciada, ainda, pela Caatinga, que, porém, tem sua fauna ainda pouco estudada (Zanella, 2000; Martins, 2002). Mas, mesmo em áreas mais elevadas, muitas espécies podem utilizar os campos rupestres apenas como sítio complementar de forrageamento. Assim, por exemplo, Bombus brasiliensis normalmente nidifica sob a serrapilheira das matas (Laroca, 1972). Nas áreas altas do Espinhaço e de outras serras do sudeste brasileiro, provavelmente nidifica nas estreitas matas de galeria que sobem as ravinas, acompanhando os cursos de água, sendo encontrada, entretanto, coletando pólen e néctar nas flores dos campos rupestres. Ressalta-se, assim, a necessidade de se conhecer os hábitos de vida (locais de nidificação e fontes alimentares) das espécies em geral para determinar quais espécies seriam encontradas exclusivamente nos campos rupestres. Faltam dados, entretanto, para uma análise mais precisa desta questão. A coleta criteriosa de dados sobre os ambientes em que cada abelha for registrada poderá nos possibilitar fazer associações mais precisas entre características ambientais e a presença de cada espécie.

Figura 2 – Efeito do esforço amostral estimado (a - como o número de indivíduos capturados; b - como número de horas de coleta) sobre o número de espécies registrado na fauna local de várias localidades na Cadeia do Espinhaço.

Figura 3 - Curva para as riquezas esperadas de espécies de abelhas a partir das amostras obtidas em várias localidades na Cadeia do Espinhaço (obtida pelo método de Jacknife).

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Tabela 1 – Localidades ao longo da Cadeia do Espinhaço com registros da fauna local de abelhas. NE = número de espécies; NI = número de espécimes coletados nas expedições deste projeto e em outros trabalhos de levantamento faunístico; A = tipo de amostragem [O – oportunística (coletas casuais, < 40 horas e/ou de duração restrita a um curto período de tempo no ano); I - intensiva (pequeno número de amostragens mas, pelo menos, duas coletas, uma na estação seca e outra na chuvosa, com 40 ou mais horas de coleta); S – sistemática (coleta efetuada com periodicidade quinzenal ou mensal ao longo de pelo menos um ano em área restrita)]; Fonte = 1. Dados esparsos na literatura (levantamentos faunísticos estão indicados com a referência dos trabalhos); 2. Coleções. A localização e outras informações sobre os pontos de amostragem encontram-se na legenda da Figura 1.

LOCALIDADES

Estado

NEa

NIa

Serra do Cipó

MG

171

––

Parque Estadual do Rio Preto

MG

147

A Od

Fontes 1, 2

511 I Este trabalho

Serra do Curral

MG

141

–– S

1, 2

Serra do Caraça

MG

125

–– S

1, 2

–– S

1, 2

Serra da Moeda

MG

118

Itacambira

MG

120

560 I Este trabalho

Serra do Cipó MG

119e 107

–– 632

O S

Parque Estadual da Serra do Rola-Moça

MG

115

406

O Este trabalho

Serra do Cabral

MG

111

369 I Este trabalho

Faria, 1994

Lavras Novas MG

90e 71

–– O 572 S

Parque Estadual de Grão Mogol

88

267 I Este trabalho

MG

Faria-Mucci, 2003

Pico das Almas

BA

80

337 I Este trabalho

Serra de Ouro Branco

MG

65

352 S Araújo et al., 2006 222

Serra do Esbarrancado

BA

51

Serra do Cachimbo

MG

50

O Este trabalho

–– S

2

Parque Estadual Biribiri

MG

49

113

Ouro Preto

MG

45

325 S Araújo et al., 2006

Serra dos Brejões

BA

38

413 Sb

Parque Estadual do Itacolomi

MG

32

83

Serra do Sincorá

BA

19

70 Ic

Curimataí

MG

23

56

O Este trabalho

Diamantina

MG

19

––

O

O Este trabalho Silva -Pereira & Santos, 2006

O Este trabalho Almeida & Gimenes, 2002 1, 2

Serra do Ambrósio

MG

16

––

O

2

Parque Estadual Pico do Itambé

MG

13

––

O

2

Serra do Talhado

MG

13

15

O Este trabalho

Botumirim

MG

11

20

O Este trabalho

Apis mellifera, espécie exótica e invasora, não foi considerada. Coleta sistemática, porém, desenvolvida durante apenas oito meses. c Coleta intensiva, porém, desenvolvida apenas na estação seca. d Agrupamento de amostragens oportunísticas, em várias épocas do ano, sem computação do tempo de coleta. e Incluindo espécies das coletas sistemáticas e coletas oportunísticas. a b

Agradecimentos À Conservação Internacional (CI-Brasil), pelo financiamento do projeto. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG-CRA-1263/05) pelo financiamento de viagens técnicas às coleções Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

científicas. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de doutorado concedida ao primeiro autor. Ao Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG) pela concessão de licenças de coletas (Números: 015-018/04; 19-20/05; 044-06) e apoio logístico nas Unidades de Conservação em Minas Gerais e


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ao IBAMA pela licença de coleta no Parque Nacional da Chapada Diamantina (Número: 044/2005). À Universidade Federal de Minas Gerais, à Universidade Estadual de Feira de Santana, e à Prefeitura de Grão Mogol pelo apoio logístico. Ao Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre da UFMG, pelo apoio conferido nas coletas realizadas no Pq. E. da Serra do Rola-Moça. Ao Cássio Soares (Biodiversitas) pela elaboração do mapa. Aos curadores Lúcio A. O. Campos (UFV) e Carlos Roberto F. Brandão (MZUSP). Aos especialistas da Universidade Federal do Paraná, Danuncia Urban, Gabriel A. R. Melo, Antônio J. C. Aguiar e Felipe Vivallo, pelo auxílio na identificação de alguns grupos de abelhas. Aos amigos do Laboratório de Sistemática e Ecologia de Abelhas (UFMG) pela colaboração na etiquetagem (Andrezza B. N. Oliveira) e identificação de parte de material (Leandro M. Santos – Megalopta; André Nemésio – Euglossina; Rafael Ferrari – Colletes) e ao Eduardo A. B. Almeida pela compilação de parte dos dados secundários. Aos pesquisadores Maíra F. Goulart, Roderic B. Martines, Carolina F. C. Yasbeck, Danny Vélez, Patrícia L. O. Rebouças e Miriam Gimenes, pelo inestimável auxílio nas coletas de campo.

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anexo – Espécies de abelhas e localidades onde foram registradas na Cadeia do Espinhaço. As fontes dos registros de ocorrência encontram-se entre parênteses após cada localidade. Coleções científicas: DZUP (Coleção Entomológica “Padre J. S. Moure”, Universidade Federal do Paraná); MZUEFS (Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Feira de Santana); MZUSP (Museu de Zoologia da USP); UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); e UFV (Museu de Entomologia, Universidade Federal de Viçosa); Literatura: número e referência citada ao pé da tabela; A ausência destas referências significa que todos os registros foram obtidos na coleção da UFMG. Expedições a campo: tratam-se das coletas de dados primários obtidos durante este projeto entre outubro de 2004 e maio de 2006. As localidades da Bahia estão representadas por nomes de municípios (Mucugê, Morro do Chapéu), serras (Brejões, Esbarrancado, Sincorá) e região geográfica (Pico das Almas), e em Minas Gerais estão representadas por municípios (Botumirim, Diamantina, Itacambira, Ouro Preto), distritos (Lavras Novas – Ouro Preto; Curimataí – Buenópolis), serras (Ambrósio, Cabral, Cachimbo, Caraça, Cipó, Curral, Moeda, Ouro Branco, Talhado) e Parques Estaduais (Bibibiri, Grão Mogol, Itacolomi, Pico do Itambé, Rio Preto, Serra do Rola Moça). A localização e outras informações sobre os pontos de amostragem encontram-se na Figura 1. Para construir a tabela abaixo, os exemplares obtidos de várias localidades e depositados na UFMG foram comparados com os exemplares obtidos nas campanhas de coleta do projeto, de forma a homogeneizar as suas identificações. O número total de espécies não identificadas em cada gênero foi estimado subtraindo-se o número de espécies identificadas no gênero do maior número de espécies não identificadas encontrado em uma única localidade. Em muitos casos esses valores devem subestimar a riqueza em espécies desses gêneros na Cadeia do Espinhaço.

REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO ANDRENIDAE Oxaeinae 1 Oxaea flavescens (Klug, 1807) Curral, Cipó, Ouro Preto (3), Biribiri, Itacambira, Sincorá (MZUEFS) Esbarrancado, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 2 Oxaea schwarzi (Moure & Seabra, 1962) Itacambira Panurginae Calliopsini 3 Acamptopoeum prinii (Holmberg, 1884) Caraça, Lavras Novas (10, UFV), Itacolomi, Rola Moça Moeda 4 Callonichium sp. n. 01 Pico das Almas 5 Callonichium sp. n. 02 Diamantina (DZUP) Rio Preto Protandrenini 6 Antrenoides alfkeni Ducke, 1907 Ouro Preto (3) 7 Anthrenoides lavrensis (Urban, 2007) Lavras Novas (10, como Anthrenoides sp.; 23; DZUP) 8 Anthrenoides pinhalensis Urban, 2005 Curral 9 Anthrenoides sp. 01 Itacambira 10 Anthrenoides sp. 02 Rio Preto 11 Anthrenoides sp. 03 Caraça Rola Moça 12 Chaeturginus alexanderi (Ruz & Melo, 1999) Curral 13 Parapsaenythia serripes (Ducke, 1908) Caraça 14 Psaenythia capito (Gerstaecker, 1868) Caraça 15 Psaenythia sp. 01 Lavras Novas (10, UFV; DZUP) 16 Psaenythia sp. 02 Moeda 17 Psaenythia sp. 03 Itacambira 18 Psaenythia sp. 04 Biribiri 19 Psaenythia sp. 05 Pico das Almas continua...

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...continuação do Anexo

REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 20 Rhophitulus anomalus (Moure & Oliveira, 1962) 21 Rhophitulus friesei (Ducke, 1907) Curral 22 e 23 Rophitulus spp. (2 espécies) Curral Protomeliturgini 24 Protomeliturga sp. n. Itacambira APIDAE Apinae Anthophorini 25 Anthophora (Mystacanthophora) paranensis Caraça (DZUP), (Holmberg, 1903) Ouro Preto (3; UFV) Apini Bombina 26 Bombus (Fervidobombus) atratus Curral, Caraça (11; UFMG), Cipó Botumirim, Biribiri, Grão (Franklin, 1913) (9; UFMG), Cachimbo, Ouro Branco Mogol, Itacambira, Nota: é possível que entre o material (3), Lavras Novas (10, UFV); Esbarrancado, Itacolomi, examinado da Bahia, existam exemplares Ouro Preto (UFMG; 3), Ambrósio, Pico das Almas, Rola Moça, de B. brevivillus (a distribuição geográfica Pico do Itambé, Moeda, Sincorá Rio Preto, Cabral, Talhado sobrepõe e é de difícil separação). (2, como Bombus sp.) 27 Bombus (Fervidobombus) brasiliensis Caraça (MZUSP, UFMG), Itacolomi, Rola (Lepeletier, 1836) Ouro Preto (3), Moeda Moça, Rio Preto 28 Bombus (Fervidobombus) brevivillus Sincorá (2), Brejões (16) (Franklin, 1913) 29 Bombus (Fervidobombus) morio Curral, Caraça (11; UFMG), Cipó Grão Mogol, Itacambira, (Swederus, 1787) (9; UFMG), Cachimbo, Ouro Branco Pico das Almas, Rola Moça, (3), Lavras Novas (10, UFV); Rio Preto, Cabral Ouro Preto (3; UFMG), Moeda Euglossina 30 Eufriesea nigrohirta (Friese, 1899) Curral, Caraça (MZUSP; UFMG), Grão Mogol, Esbarrancado, Cipó (9, como Euplusia nigrohirta; Pico das Almas, Rola Moça, UFMG), Lavras Novas (10, UFV), Rio Preto Sincorá (2), Brejões (16), Pico do Itambé, Moeda 31 Eufriesea violacea (Blanchard, 1840) Cabral 32 e 33 Eufriesea spp. (2 espécies) Cipó (9, como auriceps e Grão Mogol, Esbarrancado, como sp. n), Brejões (16) Pico das Almas, Rio Preto 34 Euglossa (Euglossa) cordata Brejões (af., 16) (Linnaeus, 1758) 35 Euglossa (Euglossa) fimbriata Caraça, Rio Preto (13) (Rebêlo & Moure, 1995) 36 Euglossa (Euglossa) leucotricha Caraça, Cipó Grão Mogol, Itacambira, (Rebêlo & Moure, 1996) Esbarrancado, Pico das Almas, Talhado, Cabral 37 Euglossa (Euglossa) melanotricha Caraça, Cipó (9; UFMG), Itacambira, Esbarrancado, (Moure, 1967) Rio Preto (13), Moeda Pico das Almas, Rola Moça, Cabral continua...

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...continuação do Anexo

REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO ? Euglossa (Euglossa) modestior Lavras Novas (10, UFV) (Dressler, 1982) Nota: Deve tratar-se de um erro de identificação, pois é uma espécie de distribuição amazônica. 38 Euglossa (Euglossa) securigera Caraça, Cipó (9) (Dressler, 1982) 39 Euglossa (Euglossa) truncata Caraça, Rio Preto (13) (Rebêlo & Moure, 1996) 40 Euglossa (Glossura) annectans Caraça Cabral (Dressler, 1982) 41 Euglossa (Glossura) imperialis Rio Preto (13) (Cockerell, 1922) ? Euglossa sp. Sincorá (2), Ouro Branco (3) 42 Eulaema (Apeulaema) cingulata Caraça Esbarrancado (Fabricius, 1804) 43 Eulaema (Apeulaema) nigrita Curral, Caraça (MZUSP, UFMG), Grão Mogol, Esbarrancado, (Lepeletier, 1841) Cipó (9; UFMG), Ouro Branco (3), Pico das Almas, Rola Moça, Ouro Preto (UFV; 3), Brejões (16), Rio Preto, Cabral Rio Preto (13) ? Eulaema sp. Brejões (16) Meliponina 44 Cephalotrigona capitata (Smith, 1854) Curral, Caraça Rola Moça 45 Friesella schrottkyi (Friese, 1900) Curral, Caraça Itacambira, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 46 Frieseomelitta doederleini (Friese, 1900) Cipó (9, como cf. flavicornis; UFMG) Rio Preto, Cabral 47 Frieseomelitta francoi (Moure, 1946) Sincorá (2), Brejões (16) Esbarrancado 48 Frieseomelitta languida Moure, 1990 Rio Preto 49 Frieseomelitta varia (Lepeletier, 1836) Cipó (9) Curimataí, Rio Preto, Cabral 50 Geotrigona subterranea (Friese, 1901) Curral, Caraça (UFMG; DZUP; 6), Biribiri, Itacambira, Cipó (6; UFMG), Cachimbo, Lavras Esbarrancado, Itacolomi, Novas (10, UFV), Ouro Preto, Pico das Almas, Rola Moça, (UFMG; 6), Brejões (16), Moeda Rio Preto, Cabral ? Geotrigona sp. Cipó (9, como sp.n.), Ouro Branco (3) 51 Leurotrigona muelleri (Friese, 1900) Curral, Caraça, Cipó (9), Cachimbo Grão Mogol, Pico das Almas, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 52 Melipona (Eomelipona) bicolor Curral, Caraça (UFMG; MZUSP, (Lepeletier, 1836) como M. nigra), Ouro Branco (3) 53 Melipona (Melikerria) quinquefasciata Cipó (9, UFV; UFMG), Diamantina Grão Mogol, Itacambira, (Lepeletier, 1836) (14), Cachimbo, Ouro Branco (3), Pico das Almas, Rola Moça, Lavras Novas (10, UFV), Ouro Rio Preto, Cabral Preto (3), Moeda 54 Melipona (Melipona) quadrifasciata Caraça, Cipó (9), Cachimbo, Itacambira, Pico das Almas, (Lepeletier, 1836) Lavras Novas (10, UFV), Ouro Rio Preto, Cabral Preto (UFMG; 3), Brejões (16), Ambrósio, Pico do Itambé continua...

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...continuação do Anexo

REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 55 Melipona (Michmelia) scutellaris Brejões (16) (Latreille, 1811) 56 Nannotrigona testaceicornis Curral Grão Mogol, Itacambira, (Lepeletier, 1836) Rio Preto, Cabral 57 Oxytrigona tataira (Smith, 1863) Grão Mogol, Rio Preto, Cabral 58 Paratrigona lineata (Lepeletier, 1836) Curral, Cipó (5; 9; UFMG), Curimataí, Biribiri, Cachimbo, Ouro Branco (3), Grão Mogol, Itacambira, Lavras Novas (10, UFV), Rola Moça, Rio Preto, Ouro Preto (3), Moeda Talhado, Cabral 59 Paratrigona subnuda (Moure, 1947) Curral, Caraça, Cachimbo, Ouro Itacolomi, Rola Moça Branco (3), Ouro Preto (UFMG; 3; 5), Ambrósio, Pico do Itambé 60 Partamona criptica (Pedro & Camargo, 2003) Caraça (MZUSP) 61 e 62 Partamona spp. (pelo menos 2 espécies) Caraça Grão Mogol, Itacambira, Rio Preto, Cabral 63 Plebeia droryana (Friese, 1900) Curral, Cipó, Cachimbo, Pico Rola Moça do Itambé, Moeda 64 Plebeia remota (Holmberg, 1903) Caraça (DZUP, UFMG) 65 Plebeia sp. 01 Grão Mogol, Itacambira, Pico das Almas 66 Plebeia sp. 02 Grão Mogol, Cabral 67 Plebeia sp. 03 Itacolomi ? Plebeia sp. Brejões (16) 68 Scaptotrigona bipunctata (Lepeletier, 1836) Caraça Itacambira, Rio Preto, Cabral 69 Scaptotrigona xanthotricha (Moure, 1950) Caraça, Cipó, Moeda 70 Scaura atlantica (Melo, 2004) Talhado 71 Schwarziana quadripunctata Caraça, Cipó (9) Itacolomi, Cabral (Lepeletier, 1836) 72 Schwarzula timida (Silvestri, 1902) Curimataí 73 Tetragona clavipes (Fabricius, 1804) Moeda Rola Moça, Rio Preto, Cabral 74 Tetragonisca angustula (Latreille, 1811) Curral, Ouro Preto (3) Grão Mogol, Itacambira, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 75 Trigona fulviventris (Guérin, 1835) Curral, Caraça, Ouro Preto (3), Itacolomi, Rola Moça, Pico do Itambé Rio Preto 76 Trigona fuscipennis (Friese, 1900) Botumirim, Cabral, Itacambira 77 Trigona hyalinata (Lepeletier, 1836) Caraça (DZUP), Cipó, Ouro Branco Rola Moça, Rio Preto, (3), Lavras Novas (10, UFV); Ouro Cabral, Talhado Preto (UFMG; 3), Pico do Itambé 78 Trigona recursa Smith, 1863 Grão Mogol, Cabral 79 Trigona spinipes (Fabricius, 1793) Curral, Caraça, Cipó (9; UFV), Biribiri, Grão Mogol, Cachimbo, Ouro Branco (3), Lavras Itacambira, Itacolomi, Novas (10, UFV), Ouro Preto (3), Pico das Almas, Rola Moça, Sincorá (2), Brejões (16) Rio Preto, Cabral, Talhado continua...

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142 | Fauna de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais, Brasil):...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 80 Trigona truculenta (Almeida, 1984) Cipó Cabral ? Trigona sp. Ouro Branco (3) 81 Trigonisca intermedia (Moure, 1990) Curimataí, Pico das Almas, Rio Preto, Cabral Centridini 82 Centris (Centris) aenea (Lepeletier, 1841) Curral, Cipó (9; UFMG), Mucugê Curimataí, Biribiri, Grão (MZUSP), Ouro Branco (3), Ouro Mogol, Itacambira, Pico Preto (3), Brejões (16), Moeda das Almas, Rola Moça, Rio Preto, Cabral, 83 Centris (Centris) caxiensis (Ducke, 1907) Grão Mogol, Esbarrancado, Talhado, Cabral 84 Centris (Centris) flavifrons (Fabricius, 1775) Mucugê (MZUSP) Pico das Almas 85 Centris (Centris) nitens (Lepeletier, 1841) Diamantina (UFV), Cipó (9; UFMG), Curimataí, Biribiri, Moeda Grão Mogol, Itacambira, Esbarrancado, Rio Preto, Cabral 86 Centris (Centris) obscurior Moeda Curimataí, Grão Mogol, (Michener, 1954) Itacambira, Esbarrancado, Pico das Almas, Rio Preto, Cabral 87 Centris (Centris) spilopoda (Moure, 1969) Cipó (9), Sincorá (2) Curimataí, Itacambira, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 88 Centris (Centris) varia (Erichson, 1848) Curral, Caraça, Cipó, Ouro Branco Grão Mogol, Itacolomi, (3), Ouro Preto (3), Moeda Rola Moça, Rio Preto 89 Centris (Centris) sp. 01 Itacambira, Rola Moça, Rio Preto 90 Centris (Centris) sp. 02 Curral ? Centris (Centris) sp. Cipó Rio Preto 91 Centris (Hemisiella) tarsata (Smith, 1874) Curral, Caraça (MZUSP; UFMG), Botumirim, Curimataí, Cipó (9; UFMG), Cachimbo, Biribiri, Grão Mogol, Ouro Branco (3), Ouro Preto (3), Itacambira, Esbarrancado, Brejões (16), Moeda, Sincorá Pico das Almas, Rola Moça, (MZUEFS) Rio Preto, Cabral, Talhado 92 Centris (Hemisiella) trigonoides Curral, Cipó, Moeda Botumirim, Curimataí, (Lepeletier, 1841) Grão Mogol, Itacambira, Rio Preto, Talhado 93 Centris (Hemisiella) vittata (Lepeletier, 1841) Curral 94 Centris (Hemisiella) sp. 01 Moeda 95 Centris (Hemisiella) sp. 02 Rio Preto 96 Centris (Heterocentris) analis Cachimbo, Moeda Curimataí, Grão Mogol, (Fabricius, 1804) Rola Moça, Rio Preto, Cabral 97 Centris (Heterocentris) sp. n. Curral 98 Centris (Melacentris) collaris Curral, Moeda (Lepeletier, 1841) 99 Centris (Melacentris) confusa (Moure, 1960) Curral, Cachimbo, Moeda continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 100 Centris (Melacentris) conspersa Caraça, Moeda (Mocsáry, 1899) 101 Centris (Melacentris) dimidiata (Olivier, 1789) Caraça 102 Centris (Melacentris) dorsata Caraça (MZUSP), Cipó (9) Biribiri (Lepeletier, 1841) 103 Centris (Melacentris) fluviatilis (Friese, 1904) Cipó Grão Mogol 104 e 105 Centris (Melacentris) lateritia (Friese, 1899) Biribiri, Grão Mogol, Nota: provavelmente trata-se de 2 espécies Itacambira, Cabral 106 Centris (Melacentris) obsoleta Pico das Almas (Lepeletier, 1841) 107 Centris (Melacentris) violacea Curral, Cachimbo, Itacambira, Rio Preto (Lepeletier, 1841) Cipó (9; UFMG; UFV), Moeda 108 Centris (Melacentris) xanthocnemis Curral Grão Mogol, Pico das Almas (Perty, 1833) 109 Centris (Paracentris) burgdorfi (Friese, 1900) Curral, Cipó Biribiri, Rio Preto, Cabral 110 Centris (Paracentris) klugii (Friese, 1899) Caraça, Cipó (9; UFMG), Itacambira, Esbarrancado, Diamantina (UFV), Ouro Branco Itacolomi, Pico das Almas, (3), Moeda Rio Preto 111 Centris (Paracentris) xanthomelaena Botumirim (Moure & Castro, 2001) 112 Centris (Ptilotopus) atra (Friese, 1900) Cipó Cabral 113 Centris (Ptilotopus) denudans Cipó (Lepeletier, 1841) 114 Centris (Ptilotopus) moerens (Perty, 1833) Cipó 115 Centris (Ptilotopus) scopipes (Friese, 1899) Curral, Ouro Branco (3), Moeda Itacambira, Rola Moça 116 Centris (Ptilotopus) sponsa (Smith, 1854) Mucugê (MZUSP) Pico das Almas 117 Centris (Trachina) spp. grupo fuscata Curral, Cipó (9; UFMG), Biribiri, Grão Mogol, (Lepeletier, 1841) Ouro Branco (3), Sincorá (2), Itacambira, Esbarrancado, Brejões (16), Moeda Pico das Almas, Rola Moça, Rio Preto, Cabral, Talhado 118 Centris (Trachina) longimana Talhado (Fabricius, 1804) 119 Centris (Trachina) machadoi Rio Preto (4) Esbarrancado, Itacambira (Azevedo & Silveira, 2005) 120 Centris (Trachina) rupestris Cipó (4), Moeda (DZUP; Biribiri, Grão Mogol, (Azevedo & Silveira, 2005) UFMG; 4), Rio Preto (4), Cabral , Itacambira Morro do Chapéu (DZUP) 121 Centris (Trachina) similis (Fabricius, 1804) Cipó ? Centris (Trachina) sp. Cipó (UFMG; 9, como Centris sp.1), Lavras Novas (10, UFV, como Centris sp.1) 122 Centris (Xanthemisia) bicolor Caraça (MZUSP); Cipó, Ouro Biribiri, Grão Mogol, (Lepeletier, 1841) Branco (3), Ouro Preto (3), Itacambira, Rola Moça, Brejões (16), Moeda Rio Preto, Cabral continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 123 Centris (Xanthemisia) lutea (Friese, 1899) Caraça (MZUSP), Cipó (af, 9), Grão Mogol, Rola Moça, Moeda Cabral 124 Centris (Xanthemisia) sp. n. Curral, Cipó, Ouro Branco (3), Biribiri, Itacambira, Moeda Esbarrancado, Pico das Almas, Rola Moça, Cabral ? Centris spp. Ouro Branco (3), Ouro Preto (3) 125 Epicharis (Anepicharis) dejeanii Cipó, Diamantina (UFV), Ouro Itacambira (Lepeletier, 1841) Branco (3), Ambrósio, Moeda 126 Epicharis (Cyphepicharis) sp. Ouro Branco (3) 127 Epicharis (Epicharana) flava (Friese, 1900) Curral, Cipó, Ouro Branco (3), Grão Mogol, Pico das Almas, Brejões (16) Rola Moça, Cabral 128 Epicharis (Epicharis) bicolor (Smith, 1854) Cipó, Brejões (16) Biribiri, Grão Mogol, Itacolomi, Pico das Almas, Rio Preto, Cabral 129 Epicharis (Epicharitides) cockerelli Curral, Diamantina (UFV) Rola Moça (Friese, 1900) 130 Epicharis (Epicharitides) iheringi Cipó (UFMG; 9), Diamantina (UFV), Biribiri, Itacambira, Cabral (Friese, 1899) Lavras Novas (10, UFV) 131 Epicharis (Epicharoides) picta Cipó, Ouro Branco Rio Preto (Smith, 1874) (3, como grandior) 132 Epicharis (Epicharoides) xanthogastra Grão Mogol (Moure & Seabra, 1959) 133 Epicharis (Epicharoides) sp. Cipó Itacambira, Rio Preto 134 Epicharis (Triepicharis) analis (Friese, 1899) Cipó (9, como schrottkyi;UFMG), Itacambira, Pico das Almas, Ouro Branco (3, como schrottkyi) Cabral ? Epicharis spp. Ouro Preto (3) Emphorini 135 Ancyloscelis apiformis (Fabricius, 1793) Cipó 136 Ancyloscelis sp. 01 Caraça 137 Ancyloscelis sp. 02 Cachimbo, Moeda 138 Melitoma segmentaria (Fabricius, 1804) Caraça (DZUP, UFMG), Cipó, Itacambira, Itacolomi, Ouro Branco (3), Moeda Rio Preto 139 Melitoma sp. n. Caraça (DZUP; UFMG), Moeda (UFMG) Itacolomi 140 Melitoma sp. (pelo menos uma espécie) Cipó (9) Rio Preto Ericrocidini 141 Acanthopus excellens (Schrottky, 1902) Itacambira, Rola Moça 142 Ctenioschelus goryi (Romand, 1840) Cipó Grão Mogol, Pico das Almas, Rio Preto 143 Cyphomelissa diabolica (Friese, 1900) Cachimbo 144 Eurytis funereus Smith, 1874 Cipó (9, como Hopliphora funereus), Biribiri, Pico das Almas, Lavras Novas (10, UFV) Cabral 145 Mesocheira bicolor (Fabricius, 1804) Cipó, Moeda Curimataí, Biribiri, Rola Moça, Rio Preto 146 Mesonychium asteria (Smith, 1854) Curimataí, Grão Mogol, Itacambira, Cabral continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 147 Mesonychium caerulescens Cipó (9; UFMG) Biribiri, Itacambira, (Lepeletier & Serville, 1825) Rio Preto, Cabral 148 Mesonychium littoreum (Moure, 1944) Cipó (9) 149 Mesonichium sp. Biribiri, Cabral 150 Mesoplia (Eomelissa) friesei (Ducke, 1902) Cipó Rio Preto 151 Mesoplia (Mesoplia) regalis (Smith, 1854) Grão Mogol 152 Mesoplia (Mesoplia) rufipes (Perty, 1833) Cipó Biribiri, Itacambira, Esbarrancado, Pico das Almas, Rola Moça, Cabral Eucerini 153 Florilegus (Euflorilegus) fulvipes Itacambira (Smith, 1854) 154 Florilegus (Floriraptor) melectoides Itacambira, Cabral (Smith, 1879) 155 Gaesischia anthidioides (Urban, 1968) Moeda (DZUP) 156 Gaesischia caracicola (Urban, 2007) Caraça (UFMG; 24) 157 Gaesischia cipoana (Urban, 2007) Cipó (UFMG; 24) Itacambira 158 Gaesischia flavoclypeata Curral, Caraça (Michener, LaBerge & Moure, 1955) 159 Gaesischia nigra (Moure) (in Urban, 1968) Cipó (9) Rola Moça 160 Gaesischia patellicornis (Ducke, 1910) Itacambira 161 Melissodes (Ecplectica) nigroaenea Moeda, Ouro Preto (3) (Smith, 1854) 162 Melissodes (Ecplectica) sexcincta Curral, Caraça, Moeda (Lepeletier, 1841) 163 Melissoptila aureocincta (Urban, 1968) Caraça Pico das Almas 164 Melissoptila cnecomola (Moure, 1944) Ouro Preto (3) 165 Melissoptila paranaensis (Urban, 1998) Ouro Preto (20) 166 Melissoptila pubescens (Smith, 1879) Curral 167 Melissoptila richardiae Itacambira (Bertoni & Schrottky, 1910) 168 Melissoptila tandilensis (Holmberg, 1884) Lavras Novas (10, UFV) 169 Melissoptila vulpecula Curral Rola Moça (Bertoni & Schrottky, 1910) 170 Melissoptila sp. (pelo menos uma espécie) Sincorá (2) Rio Preto 171 Santiago mourei (Urban, 1989) Rio Preto 172 Thygater (Thygater) analis Cipó, Ouro Branco (3), Moeda Grão Mogol, Itacambira, (Lepeletier, 1841) Esbarrancado, Pico das Almas, Rola Moça, Cabral ? Thygater sp. Ouro Branco (3) Exomalopsini 173 Exomalopsis (Exomalopsis) analis Curral, Caraça (MZUSP, UFMG), Itacambira, Esbarrancado, (Spinola, 1853) Cipó, Moeda, Sincorá (MZUEFS) Rola Moça, Rio Preto continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 174 Exomalopsis (Exomalopsis) auropilosa Curral, Cipó, Cachimbo, Curimataí, Itacambira, (Spinola, 1853) Ouro Branco (3), Lavras Novas Rola Moça, Rio Preto (10, UFV), Moeda 175 Exomalopsis (Exomalopsis) campestris Cabral (Silveira, 1996) 176 Exomalopsis (Exomalopsis) fernandoi Pico das Almas (Moure, 1990) 177 Exomalopsis (Exomalopsis) fulvofasciata Grão Mogol, Itacambira, (Smith, 1879) Rola Moça, Rio Preto, Cabral 178 Exomalopsis (Exomalopsis) cf. subtilis Curral (Timberlake, 1980) 179 Exomalopsis (Exomalopsis) cf. tomentosa Cachimbo (Friese, 1899) 180 Exomalopsis (Exomalopsis) ypirangensis Cabral (Schrottky, 1910) ? Exomalopsis (Exomalopsis) sp. Cipó (9) Cabral 181 Exomalopsis (Phanomalopsis) sp. n. Caraça Itacambira ? Exomalopsis spp. Ouro Branco (3), Ouro Preto (3) Isepeolini 182 Isepeolus viperinus (Holmberg, 1886) Itacambira Osirini 183 Osirinus rufricus (Melo & Zanella, 2003) Lavras Novas (10, DZUP) 184 Osirinus sp. Itacambira 185 Osiris variegatus (Smith, 1854) Caraça (15, MZUSP) 186 a 188 Osiris spp. (pelo menos 3 espécies) Curral 189 Parepeolus sp. Curral 190 Protosiris caligneus (Shanks, 1986) Caraça (15, como Osiris caligneus, MZUSP) Rhathymini 191 Rhathymus sp. Grão Mogol Tapinotaspidini 192 Arhyzoceble dichroopoda (Moure, 1948) Curral Rola Moça 193 Arhyzoceble sp. Curral, Cipó (9, como cf. huberi), Itacambira, Pico das Almas, Cachimbo, Ouro Branco (3), Rola Moça, Rio Preto Lavras Novas (10, UFV, como dichroopoda), Moeda 194 Chalepogenus sp. Cachimbo 195 Lophopedia nigrispinis (Vachal,1909) Pico das Almas 196 Lophopedia pygmaea (Schrottky, 1902) Curral, Caraça, Ambrósio Rola Moça 197 Lophopedia sp. (pelo menos 1 espécie) Curral, Cipó (9), Lavras Novas Rola Moça, Rio Preto (10, UFV) 198 Monoeca pluricincta (Vachal, 1909) Lavras Novas (10, UFV), Moeda Itacambira continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 199 Monoeca sp. 01 Cipó 200 Monoeca sp. 02 Moeda 201 Monoeca sp. 03 Cipó Rola Moça, Rio Preto 202 Monoeca sp. 04 Itacambira 203 Monoeca sp. 05 Rola Moça 204 Monoeca sp. 06 Curimataí, Biribiri, Itacambira 205 Monoeca sp. 07 Cipó, Moeda Rio Preto 206 Monoeca sp. 08 Rio Preto 207 Monoeca sp. 09 Curral 208 Monoeca sp. 10 Caraça (MZUSP) 209 Monoeca sp. 11 Caraça (MZUSP) 210 Monoeca sp. 12 Cipó (af. brasiliensis, DZUP) ? Monoeca sp. Ouro Branco (3), Lavras Novas (10, UFV) 211 Paratetrapedia fervida (Smith, 1879) Curral, Caraça (MZUSP) 212 Paratetrapedia lugubris (Cresson, 1878) Rola Moça 213 Paratetrapedia volatilis (Smith, 1879) Curral, Caraça (MZUSP; UFMG) Itacolomi 214 Paratetrapedia sp. n. Curral, Caraça (MZUSP), Curimataí, Itacambira, Cachimbo, Moeda Esbarrancado, Pico das Almas, Rola Moça, Cabral 215 Paratetrapedia sp. Ouro Branco (3), Lavras Novas (10, UFV), Ouro Preto (3) 216 Tapinotaspoides serraticornis (Friese, 1899) Cipó (UFMG; DZUP), Biribiri, Grão Mogol, Diamantina (DZUP) Itacambira, Rio Preto, Cabral 217 Tapinotaspoides sp. Ouro Branco (3) 218 Trigonopedia glaberrima (Friese, 1899) Lavras Novas (10, UFV) 219 Trigonopedia oligotricha Moure, 1941 Cipó (9) 220 Trigonopedia spp. (pelo menos 3 espécies) Curral, Caraça (MZUSP; UFMG), Curimataí, Grão Mogol, Cipó, Cachimbo, Moeda Pico das Almas, Rola Moça, Rio Preto 221 Tropidopedia caracicola Caraça (UFMG; 1) (Aguiar & Melo, 2007) 222 Tropidopedia carinata Cachimbo, Moeda, Rio Preto (Aguiar & Melo, 2007) Lavras Novas (1) 223 Tropidopedia flavolineata Rio Preto (Aguiar & Melo, 2007) 224 Tropidopedia nigrita (Aguiar & Melo, 2007) Caraça (1), Cipó (1) 225 Tropidopedia nigrocarinata Rola Moça (Aguiar & Melo, 2007) 226 Tropidopedia punctifrons (Smith, 1879) Cipó Pico das Almas, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 227 Xanthopedia iheringii (Friese, 1899) Caraça (MZUSP), Lavras Novas Rola Moça, Rio Preto (af. tricolor 10, UFV), Moeda continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 228 Xanthopedia larocai (Moure, 1995) Rola Moça 229 Xanthopedia sp. 01 Curral, Caraça (MZUSP; UFMG), Itacambira, Grão Mogol, Cipó, Cachimbo, Moeda Esbarrancado, Pico das Almas, Rola Moça, Rio Preto 230 Xanthopedia sp. 02 Curral, Caraça, Cipó, ] Cachimbo, Moeda ? Xanthopedia sp. Cipó (9), Lavras Novas (10, UFV) 231 Gênero n. Cipó (DZUP) Rio Preto Tetrapedini 232 Coelioxyoides sp. Caraça 233 a 240 Tetrapedia spp. (pelo menos 8 espécies) Curral, Caraça, Cipó (9; UFMG), Biribiri, Grão Mogol, Ouro Branco (3), Lavras Novas Itacambira, Pico das Almas, (10, UFV), Pico do Itambé, Moeda Rola Moça, Rio Preto, Cabral Nomadinae Epeolini 241 Triepeolus nobilis (Friese, 1908) Caraça (MZUSP) Nomadini 242 Nomada cf. polybioides (Ducke, 1908) Curral 243 Nomada sp. Curral Xylocopinae Ceratinini 244 Ceratina (Ceratinula) mulleri (Friese, 1910) Cipó (9) 245 Ceratina (Ceratinula) oxalidis Cipó (cf., 9) (Schrottky, 1907) 246 a 250 Ceratina (Ceratinula) spp. Cipó (9), Lavras Novas (10, UFV), Grão Mogol, Itacambira, (pelo menos 5 espécies) Ouro Branco (3), Ambrósio Esbarrancado, Pico das Almas, Rola Moça 251 Ceratina (Crewella) asuncionis (Strand, 1910) Cipó (9) 252 Ceratina (Crewella) gossypii (Schrottky, 1907) Cipó (9) 253 Ceratina (Crewella) paraguayensis Cipó (9) (Schrottky, 1907) 254 Ceratina (Crewella) sericea (Friese, 1910) Moeda 255 a 267 Ceratina (Crewella) spp. Caraça, Cipó, Ambrósio, Moeda Botumirim, Biribiri, Grão (pelo menos 13 espécies) Mogol, Itacambira, Esbarrancado, Itacolomi, Pico das Almas, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 268 a 271 Ceratina (Rhysoceratina) spp. Caraça, Moeda Itacambira, Pico das Almas, (pelo menos 4 espécies) Rola Moça, Rio Preto ? Ceratina spp. Cipó (9), Ouro Branco (3), Lavras Novas (10, UFV), Ouro Preto (3), Sincorá (2), Brejões (16) continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO Xylocopini 272 Xylocopa (Cyrroxylocopa) vestita Cipó, Brejões (16) Biribiri, Grão Mogol, (Hurd & Moure, 1963) Pico das Almas 273 Xylocopa (Dasyxylocopa) bimaculata Caraça, Cipó Grão Mogol, Itacolomi, (Friese, 1903) Rio Preto ? Xylocopa (Dasyxylocopa) sp. Ouro Branco (3) 274 Xylocopa (Diaxylocopa) truxali Cipó, Cachimbo, Lavras Novas Grão Mogol, Rola Moça, (Hurd & Moure, 1963) (10, UFV), Moeda Rio Preto 275 Xylocopa (Monoxylocopa) abbreviata Curral, Cipó (9; UFMG), Cachimbo, Grão Mogol, Pico das Almas, (Hurd & Moure, 1963) Moeda Rola Moça, Rio Preto, Cabral 276 Xylocopa (Nanoxylocopa) sp. n. Cipó Botumirim, Esbarrancado, Pico das Almas, Rio Preto 277 Xylocopa (Neoxylocopa) brasilianorum Curral, Caraça, Cachimbo, Lavras Itacolomi, Rola Moça (Linnaeus, 1767) Novas (10, UFV), Pico do Itambé 278 Xylocopa (Neoxylocopa) cearensis Curral Grão Mogol, Esbarrancado, (Ducke, 1910) Rio Preto, Cabral 279 Xylocopa (Neoxylocopa) frontalis Curral, Diamantina Cabral (Olivier, 1789) 280 Xylocopa (Neoxylocopa) grisescens Curral, Cipó, Brejões (16) Curimataí, Itacambira, (Lepeletier, 1841) Grão Mogol, Pico das Almas, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 281 Xylocopa (Neoxylocopa) cf. hirsutissima Curral, Cipó (9; UFMG), Moeda Biribiri, Grão Mogol, (Maidl, 1912) Itacambira, Rio Preto, Cabral 282 Xylocopa (Neoxylocopa) nigrocincta Rio Preto (Smith, 1854) 283 Xylocopa (Neoxylocopa) cf. ordinaria Grão Mogol, Itacambira, (Smith, 1874) Rio Preto 284 Xylocopa (Neoxylocopa) suspecta Curral, Cipó Rola Moça (Moure & Camargo, 1988) 285 Xylocopa (Neoxylocopa) sp. Rio Preto, Cabral ? Xylocopa (Neoxylocopa) sp. Ouro Preto (3) Esbarrancado 286 Xylocopa (Schonnherria) macrops Cipó (9; UFMG), Cachimbo, Ouro Rola Moça, Rio Preto, Cabral (Lepeletier, 1841) Preto (UFMG); Ambrósio, Moeda 287 Xylocopa (Schonnherria) muscaria Caraça (Fabricius, 1775) 288 Xylocopa (Schonnherria) subcyanea Curral, Cipó (9; UFMG), Biribiri, Grão Mogol, (Pérez, 1901) Cachimbo, Moeda Itacambira, Pico das Almas, Rola Moça, Cabral 289 Xylocopa (Schonnherria) subzonata Caraça, Cipó Grão Mogol, Cabral (Moure, 1949) ? Xylocopa (Schonnherria) sp. Lavras Novas (10, UFV), Ouro Preto (3) 290 Xylocopa (Stenoxylocopa) sp. n. Ambrósio (17, como artifex), Grão Mogol Cipó, Moeda (17, como artifex) continua...

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150 | Fauna de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais, Brasil):...

...continuação do Anexo

REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 291 Xylocopa (Stenoxylocopa) sp. Ouro Branco (3), Moeda Cabral 292 Xylocopa (Xylocopoda) cf. madida Caraça, Pico do Itambé (Friese, 1925) 293 Xylocopa (Xylocopsis) cf. funesta Cabral (Maidl, 1912) ? Xylocopa sp. Cipó (9), Ouro Branco (3), Ouro Preto (3) COLLETIDAE Colletinae 294 Colletes extensicornis (Vachal, 1909) Caraça (MZUSP), Moeda Rio Preto 295 Colletes meridionalis (Schrottky, 1902) Cipó (9) 296 Colletes rufipes (Smith, 1879) Caraça , Curral, Cipó (UFMG; 9), Rola Moça Lavras Novas (10, UFV) 297 Colletes rugicollis (Friese, 1900) Curral Pico das Almas 298 Colletes sp. 01 Caraça (MZUSP), Cipó Itacambira, Rio Preto, (9, como sp.n.), Moeda Rola Moça 299 Colletes sp. 02 Rio Preto 300 Colletes sp. 03 Curral, Caraça (MZUSP) 301 Rhynchocolletes albicinctus (Moure, 1943) Caraça (DZUP) Diphaglossinae Caupolicanini 302 Caupolicana sp. n. Cipó (9) 303 Ptiloglossa hemileuca (Moure, 1944) Lavras Novas (10, UFV) Rio Preto, Cabral 304 Ptiloglossa matutina (Schrottky, 1904) Cipó (UFMG; MZUSP) 305 Ptiloglossa sp. (pelo menos 1 espécie) Cipó (9), Lavras Novas (10, UFV) Rola Moça, Rio Preto Hylaeinae 306 Hylaeus (Cephylaeus) sp. 01 Pico das Almas 307 Hylaeus (Cephylaeus) sp. 02 Caraça 308 Hylaeus (Hylaeana) spp. Caraça, Moeda (pelo menos 1 espécie) 309 Hylaeus (Hylaeopsis) tricolor Lavras Novas (10, UFV) (Schrottky, 1906) 310 Hylaeus (Hylaeopsis) spp. Caraça, Cachimbo Itacolomi (pelo menos 1 espécie) 311 Hylaeus sp. Lavras Novas (10, UFV), Brejões (16) Paracolletinae 312 Halictanthrena malpighiacearum Caraça (DZUP), (Ducke, 1907) Cachimbo (cf. UFMG) 313 Hexantheda missionica (Ogloblin, 1948) Moeda Rola Moça 314 Nomiocolletes sp. n. 01 Cipó (UFMG) 315 Nomiocolletes sp. n. 02 Itacambira continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 316 Perditomorpha iheringi (Schrottky, 1910) Curral 317 Perditomorpha leaena (Vachal, 1909) Curral (UFMG; UFV), Caraça, Moeda 318 Perditomorpha sp. 01 Curral 319 Perditomorpha sp. 02 Rio Preto 320 Protodiscelis sp. Itacambira 321 Tetraglossula cf. anthracina (Michener, 1989) Cipó ? Tetraglossula sp. Ouro Branco (3) Xeromelissinae 322 Chilicola (Oediscelis) sp. 01 Cipó [9 - como Oediscelis (Oedicelisca) sp.n.], Moeda 323 Chilicola (Oediscelis) sp. 02 Cachimbo 324 Chilicola (Oediscelis) sp. 03 Grão Mogol 325 e 326 Chilicola (Prosopoides) sp. Curral, Cipó (9), Grão Mogol (pelo menos 2 espécies) Lavras Novas (10, UFV) HALICTIDAE Halictinae Augochlorini 327 Ariphanarthra cf. palpalis (Moure, 1951) Curral, Cachimbo 328 Augochlora (Augochlora) amphitrite Caraça (MZUSP) (Schrottky, 1909) 329 Augochlora (Augochlora) esox (Vachal, 1911) Curral, Moeda 330 Augochlora (Augochlora) foxiana Caraça, Cachimbo (Cockerell, 1900) 331 Augochlora (Augochlora) tantilla Curral (Moure, 1943) 332 a 339 Augochlora (Augochlora) spp. Caraça, Cipó Grão Mogol, Esbarrancado, (pelo menos 8 espécies) Rio Preto, Rola Moça 340 Augochlora (Oxystoglossella) morrae Curral, Cachimbo, Moeda Rola Moça (Strand, 1910) 341 Augochlora (Oxystoglossella) semiramis Cipó (9) (Schrotkky, 1910) 342 Augochlora (Oxystoglossella) thalia Smith, 1879 Curral, Moeda 343 Augochlora (Oxystoglossella) sp. Caraça 344 Augochlora spp. Lavras Novas (10, UFV), Sincorá (2), Brejões (16), Ambrósio 345 Augochlorella acarinata Coelho, 2004 Ouro Preto (UFV, 8) 346 Augochlorella ephyra (Schrottky, 1910) Cipó (UFMG, 7; 9, como Augochlorella. sp.) 347 Augochlorella tredecim (Vachal, 1911) Diamantina (7) Grão Mogol 348 Augochlorella una (Coelho, 2004) Moeda (UFMG, 8) 349 Augochlorella urania (Smith, 1853) Curral (UFMG, 7), Caraça (7) 350 Augochlorella sp. 01 Cachimbo continua...

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152 | Fauna de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais, Brasil):...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 351 Augochlorella sp. 02 Itacambira 352 Augochlorella sp. 03 Rio Preto ? Augochlorella spp. Lavras Novas (10, UFV) 353 Augochloropsis bertonii (Schrottky, 1909) Caraça (MZUSP) 354 Augochloropsis brachycephala Moure, 1943 Cachimbo 355 Augochloropsis callichroa (Cockerell, 1900) Cipó (9) 356 Augochloropsis cf. cleopatra Curral, Caraça (MZUSP, UFMG), Grão Mogol, Rio Preto, Cabral (Schrottky, 1902) Cipó (9; UFV), Diamantina (UFV), Lavras Novas (10, UFV), Moeda 357 Augochloropsis cupreola (Cockerell, 1900) Diamantina (UFV) 358 Augochloropsis iris (Schrottky, 1902) Cachimbo, Caraça (MZUSP), Itacolomi, Rola Moça Ouro Preto (UFV), Moeda 359 Augochloropsis cf. melanochaeta Curral, Cipó, Cachimbo, Moeda (Moure, 1950) 360 Augochloropsis multiplex (Vachal, 1903) Curral, Cipó (UFMG; 9, como af. multiplex), Cachimbo, Moeda 361 Augochloropsis patens (Vachal, 1903) Curral, Moeda Cabral 362 Augochloropsis cf. smithiana Curimataí, Grão Mogol, (Cockerell, 1900) Itacambira, Rio Preto, Cabral 363 Augochloropsis cf. sparsilis (Vachal, 1903) Caraça (MZUSP; UFMG), Ouro Preto (UFV; UFMG) 364 Augochloropsis prognatha (Moure, 1944) Curral 365 Augochloropsis cf. wallacei (Cockerell, 1900) Rio Preto 366 a 385 Augochloropsis spp. Curral, Caraça, Cipó (9; UFMG), Botumirim, Biribiri, Grão (pelo menos 20 espécies) Cachimbo, Ouro Branco (3), Lavras Mogol, Itacambira, Novas (10, UFV), Ouro Preto (3), Esbarrancado, Itacolomi, Sincorá (2), Brejões (16), Pico das Almas, Rola Moça, Ambrósio, Moeda Rio Preto, Cabral, Talhado 386 a 388 Ceratalictus spp. (pelo menos 3 espécies) Caraça, Cipó (9; UFMG), Cachimbo, Itacambira, Pico das Lavras Novas (10, UFV) Almas, Rola Moça 389 Megalopta aegis (Vachal, 1904) Cipó Rio Preto 390 Megalopta amoena (Spinola, 1853) Esbarrancado 391 Megalopta sodalis (Vachal, 1904) Cipó 392 Neocorynura oiospermi (Schrottky, 1909) Curral, Caraça 393 Neocorynura sp. 01 Curral 394 Neocorynura sp. 02 Caraça 395 Neocorynura sp. 03 Ambrósio Itacambira 396 Neocorynura sp. 04 Itacolomi 397 Neocorynura sp. 05 Itacolomi 398 Neocorynura sp. 06 Sincorá (MZUEFS) Esbarrancado ? Neocorynura sp. Brejões (16) continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 399 Paroxystoglossa jocasta (Schrottky, 1910) Caraça, Cipó (9; UFMG), Biribiri, Itacambira, Rola Diamantina (UFV), Moeda Moça, Rio Preto, Cabral ? Paroxystoglossa sp. Lavras Novas (10, UFV) 400 e 401 Pereirapis spp. (2 espécies) Grão Mogol, Rola Moça 402 e 403 Pseudaugochlora grupo graminea Curral, Caraça (MZUSP; UFMG), Grão Mogol, Esbarrancado, (Fabricius, 1804) Cipó, Ouro Branco (3), Lavras Itacolomi, Rola Moça (pelo menos 2 espécies) Novas (10, UFV),Ouro Preto (3), Moeda, Sincorá(MZUEFS) 404 Pseudaugochlora pandora (Smith, 1853) Rio Preto 405 e 406 Pseudaugochlora spp. Ouro Branco (3) Grão Mogol, Itacambira, (pelo menos 2 espécies) Esbarrancado, Rio Preto, Cabral 407 Rhectomia mourei (Eickwort, 1969) Curral, Caraça 408 Thectochlora alaris (Vachal, 1904) Caraça (DZUP); Lavras Novas Itacambira, Rola Moça, (10, UFV), Moeda Rio Preto, Cabral Halictini 409 Agapostemon chapadensis (Cockerell, 1900) Caraça (MZUSP), Cachimbo, Itacambira, Rola Moça Lavras Novas (10, UFV), Moeda 410 Agapostemon semimelleus (Cockerell, 1900) Caraça, Moeda 411 Caenohalictus incertus (Schrottky, 1902) Caraça (MZUSP) 412 Caenohalictus tesselatus (Moure, 1940) Caraça, Lavras Novas (10, UFV) Esbarrancado, Pico das Almas, Rola Moça ? Caenohalictus spp. Brejões (16) Itacolomi 413 Dialictus osmioides (Ducke, 1902) Cipó (9) 414 Dialictus nanus (Smith, 1879) Curral (MZUSP) 415 Dialictus pabulator (Schrottky, 1910) Diamantina (cf., UFV), Cipó (9) 416 a 426 Dialictus spp. (pelo menos 11 espécies) Curral, Caraça, Cipó (9; UFMG), Biribiri, Grão Mogol, Ouro Branco (3), Lavras Novas Itacambira, Esbarrancado, (10, UFV), Brejões (16), Itacolomi, Pico das Almas, Ambrósio, Moeda Rola Moça, Rio Preto, Cabral 427 Habralictus sp. Caraça (MZUSP; UFMG) 428 Halictus (Seladonia) sp. Cabral 429 Oragapostemon sp. Itacolomi 430 Pseudagapostemon (Brasilagapostemon) Moeda Rola Moça fluminensis (Schrottky, 1911) 431 Pseudagapostemon (Brasilagapostemon) sp. Rola Moça 432 Pseudagapostemon (Pseudagapostemon) Cipó (9) anasimus Cure, 1989 433 Pseudagapostemon (Pseudagapostemon) Cipó (9), Diamantina (DZUP) ochromerus (Vachal, 1904) 434 Pseudagapostemon (Pseudagapostemon) Ouro Branco (3, como brasiliensis) pissisi (Vachal, 1903) continua...

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154 | Fauna de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais, Brasil):...

...continuação do Anexo

REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 435 Pseudagapostemon (Pseudagapostemon) Lavras Novas (10, UFV), Moeda Itacambira, Rio Preto, pruinosus (Moure & Sakagami, 1984) Rola Moça 436 Pseudagapostemon (Pseudagapostemon) Caraça sp. 01 437 Pseudagapostemon (Pseudagapostemon) Cabral, Itacambira, sp. 02 Rio Preto 438 Pseudagapostemon (Pseudagapostemon) Rola Moça sp. 03 ? Pseudagapostemon sp. Ouro Branco (3) 439 Sphecodes sp. 01 Caraça 440 Sphecodes sp. 02 Itacambira ? Sphecodes sp. Lavras Novas (10, UFV) ? Halictini n. det Lavras Novas (10, UFV) MEGACHILIDAE Lithurginae Lithurgini 441 Lithurgus huberi (Ducke, 1907) Cipó (9, como Lithurge) Megachilinae Anthidini 442 Anthidium latum (Schrottky, 1902) Curral, Cipó (12) 443 Anthidium sertanicola (Moure & Urban, 1964) Curral (12; UFMG), Caraça (DZUP), Itacambira Cipó (9), Moeda, Sincorá (2, como Anthidium sp.) 444 Anthodioctes megachiloides Curral, Moeda Rola Moça (Holmberg, 1903) 445 Austrostelis silveirai (Urban, 2006) Curral (22) 446 Dicranthidium aliceae (Urban, 2002) Cipó (21) Rio Preto 447 Dicranthidium gregarium (Schrottky, 1905) Curral, Cipó (9), Cachimbo, Moeda Itacambira, Rio Preto, Cabral 448 Epanthidium aureocinctum (Urban, 1995) Cipó, Diamantina (18) Biribiri, Rio Preto, Cabral 449 Epanthidium tigrinum (Schrottky, 1905) Curral Curimataí, Grão Mogol, Rio Preto ? Epanthidium sp. Cipó (9, como sp.n Urban MS) 450 Hypanthidium foveolatum (Alfken, 1930) Curral 451 Hypanthidium nigritulum (Urban, 1998) Curral (UFMG; DZUP) Rio Preto 452 Larocanthidium bilobatum (Urban, 1997) Curral, Cipó (19), Cachimbo, Itacambira, Rio Preto Brejões (16) 453 Larocanthidium emarginatum (Urban, 1997) Grão Mogol 454 Larocanthidium ornatum (Urban, 1997) Curral Curimataí, Itacambira 455 Larocanthidium spinosum (Urban, 1997) Cipó (UFMG; 19) Botumirim, Itacambira 456 Moureanthidium subarenarium Caraça (DZUP; UFMG) (Schwarz, 1933) continua...

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REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO ? Dianthidiini gên. n. Cipó (9) ? Anthidiini n. det Lavras Novas (10, UFV) Megachilini 457 Coelioxys (Acrocoelioxys) cf. laevigata Curral (Smith, 1854) 458 Coelioxys (Acrocoelioxys) cf. tolteca Caraça (MZUSP, como C. pirata), (Cresson, 1878) Moeda 459 Coelioxys (Acrocoelioxys) sp. 01 Rio Preto 460 Coelioxys (Acrocoelioxys) sp. 02 Grão Mogol, Rio Preto 461 Coelioxys (Acrocoelioxys) sp. 03 Rola Moça 462 Coelioxys (Acrocoelioxys) sp. 04 Caraça (MZUSP, como aculeata) 463 Coelioxys (Cyrtocoelioxys) sp. 01 Itacambira 464 Coelioxys (Cyrtocoelioxys) sp. 02 Itacambira 465 Coelioxys (Cyrtocoelioxys) sp. 03 Itacambira 466 Coelioxys (Cyrtocoelioxys) sp. 04 Moeda 467 Coelioxys (Glytocoelioxys) sp. Esbarrancado 468 Coelioxys (Haplocoelioxys) sp. Biribiri, Rola Moça 469 Coelioxys (Neocoelioxys) sp. Esbarrancado 470 Coelioxys (Rhinocoelioxys) cf. clypeata Curral (Smith, 1879) 471 Coelioxys (Rhinocoelioxys) sp. Cabral ? Coelioxys spp. Cipó (9) 472 Megachile (Acentron) eburneipes Curral, Caraça, Moeda (Vachal, 1904) 473 Megachile (Acentron) tupinaquina Caraça, Cipó, Diamantina (UFV) (Schrottky, 1913) 474 a 476 Megachile (Acentron) spp. Cipó (9; UFMG), Diamantina Itacambira, Cabral (pelo menos 3 espécies) 477 Megachile (Austromegachile) antiqua Curral (Mitchell, 1930) 478 Megachile (Austromegachile) fascialis Curral, Moeda (Vachal, 1909) 479 Megachile (Austromegachile) susurrans Curral Itacolomi (Haliday, 1836) 480 Megachile (Austromegachile) sp. Cipó 481 Megachile (Austrosarus) diasi (Raw, 2003) Cachimbo, Moeda Itacambira, Rola Moça 482 Megachile (Austrosarus) sp. af diasi Curral, Caraça Rio Preto (Raw, 2003) 483 Megachile (Austrosarus) frankieana Cipó, Moeda Biribiri, Itacambira (Raw, 2003) 484 Megachile (Austrosarus) sp. Cachimbo, Moeda Biribiri, Itacambira, Cabral continua...

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156 | Fauna de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais, Brasil):...

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TÁXON

REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS E LITERATURA

EXPEDIÇÕES A CAMPO

485 Megachile cf. (Austrosarus) sp. Grão Mogol

486 Megachile (Chrysosarus) guaranitica (Schrottky, 1908)

Cipó (9)

Cabral

487 Megachile (Chrysosarus) pseudanthidioides Curral Rio Preto (Moure, 1943) 488 Megachile (Chrysosarus) tuberculifera (Schrottky, 1913)

Caraça (MZUSP)

Cipó (9)

? Megachile (Chrysosarus) sp.

489 Megachile (Chrysosarus/Dactylomegachile) sp. Caraça, Cipó, Moeda Biribiri, Botumirim, Grão Mogol, Esbarrancado, Itacambira, Pico das Almas, Rio Preto, Cabral, Rola Moça 490 Megachile (Cressoniella) cf. rava Curral, Cipó, Moeda Grão Mogol, Itacambira, (Vachal, 1908) Pico das Almas, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 4 91 a 493 Megachile (Dactylomegachile) spp. Curral, Sincorá (2), Moeda Esbarrancado, Itacolomi, (pelo menos 3 espécies) Pico das Almas, Rola Moça 494 Megachile (Leptorachina) laeta Curral, Caraça, Moeda Esbarrancado, Rio Preto, (Smith, 1853) Cabral 495 Megachile (Leptorachis) aetheria Ambrósio, Moeda (Mitchell, 1930) 496 Megachile (Leptorachis) aureiventris Curral, Cachimbo, Moeda Itacambira, Rola Moça, (Schrottky, 1902) Cabral 497 Megachile (Leptorachis) friesei (Schrottky, 1902)

Curral

4 98 a 500 Megachile (Leptorachis) spp. (pelo menos 3 espécies)

Ouro Preto (3), Moeda

Biribiri, Itacambira

501 Megachile (Melanosarus) nigripennis Itacambira, Cabral (Spinola, 1841) 502 Megachile (Moureapis) maculata Caraça (UFMG, MZUSP), Cipó, Itacambira, Pico das Almas, (Smith, 1853) Ambrósio, Pico do Itambé Rio Preto

503 Megachile (Moureapis) sp. 01

Moeda Itacambira

504 Megachile (Moureapis) sp. 02

Caraça, Cipó Rio Preto

505 Megachile (Neochelynia) brethesi (Schrottky, 1909)

Cipó

Ouro Branco (3)

? Megachile (Neochelynia) sp.

Curimataí, Rola Moça

506 Megachile (Pseudocentron) botucatuna Cipó, Moeda Grão Mogol, Itacambira, (Schrottky, 1913) Rola Moça, Rio Preto, Cabral 507 Megachile (Pseudocentron) curvipes (Smith, 1853)

Cipó (9)

508 Megachile (Pseudocentron) inscita (Mitchell, 1930)

Cipó (9)

Cabral

continua...

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...continuação do Anexo

REGISTROS OBTIDOS EM COLEÇÕES CIENTÍFICAS TÁXON E LITERATURA EXPEDIÇÕES A CAMPO 509 Megachile (Pseudocentron) terrestris Curral, Caraça, Cipó (9; UFMG), Biribiri, Grão Mogol, (Schrottky, 1902) Pico do Itambé, Moeda Itacambira, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 510 Megachile (Pseudocentron) sp. 01 Biribiri, Grão Mogol, Rola Moça, Rio Preto, Cabral 511 a 513 Megachile (Pseudocentron) spp. Curral, Cipó (9; UFMG), (pelo menos 3 espécies) Ouro Preto (3), Moeda 514 Megachile (Trichurochile) gracilis Curral Grão Mogol, Itacolomi (Schrottky, 1902) 515 Megachile (Tylomegachile) orba Cipó Curimataí, Biribiri (Schrottky, 1913) 516 Megachile iheringi (Schrottky, 1913) Cipó, Sincorá, Moeda, Pico das Itacambira, Pico das Almas, Almas (DZUP), Caraça (DZUP) Rio Preto, Cabral ? Megachile spp. Cipó (9), Ouro Branco (3), Lavras Novas (10, UFV), Ouro Preto (3), Brejões (16) 1. Aguiar & Melo (2007); 2. Almeida & Gimenes (2002); 3. Araújo et al. (2006); 4. Azevedo & Silveira (2005); 5. Camargo & Moure (1994); 6. Camargo & Moure (1996); 7. Coelho (2001); 8. Coelho (2004); 9. Faria (1994); 10. Faria-Mucci et al. (2003); 11. Moure & Sakagami (1962); 12. Moure & Urban (1964); 13. Nemésio & Faria Jr. (2004); 14. Schwarz (1932); 15. Shanks (1986); 16. Silva-Pereira & Santos (2006); 17. Silveira (2002); 18. Urban (1992); 19. Urban (1997); 20. Urban (1998); 21. Urban (2002); 22. Urban (2006); 23. Urban (2007a); 24. Urban (2007b). Notas: Caraça pertenceu ao município de Santa Bárbara (Shanks, 1986) e Cipó ao de Lagoa Santa (Urban, 1997), pertencendo, hoje, aos municípios de Catas Altas e Santana do Riacho, respectivamente.

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Status do conhecimento, endemismo e conservação de anfíbios anuros da Cadeia do Espinhaço, Brasil Felipe S. F. Leite1,3* Flora A. Juncá2 Paula C. Eterovick1 Programa de Pós Graduação em Zoologia de Vertebrados, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil. 3 Classe Meio Ambiente, Belo Horizonte, Brasil. * e-mail: fsfleite@gmail.com 1 2

Resumo A Serra do Espinhaço representa uma região de grande importância nos contextos geológico, ecológico e biogeográfico no Brasil, devido às suas formações características, alta riqueza de espécies e endemismos e padrões de distribuição que sugerem eventos passados de especiação por vicariância ou isolamento. Os anfíbios anuros constituem um grupo representativo da biodiversidade e endemismos da Serra do Espinhaço, porém os dados existentes sobre sua distribuição e até mesmo inventariamentos são escassos para grandes extensões da cadeia. As principais dificuldades enfrentadas para a conservação do grupo se devem a esta falta de informação e à necessidade de intensificação de estudos taxonômicos na região, tendo em vista o grande número de espécies novas que vêm sendo descobertas. No presente trabalho apresentamos uma revisão do conhecimento existente sobre a distribuição de anfíbios anuros na Serra do Espinhaço, indicando as principais lacunas que devem ser preenchidas por estudos futuros. À medida que tais problemas forem solucionados, será possível contar com uma base de dados mais representativa para a determinação de áreas prioritárias para a conservação dos anfíbios, além de se poder determinar com mais segurança o grau de ameaça sofrido pelas espécies presentes na região.

ABSTRACT The Espinhaço mountain range (Serra do Espinhaço) represents a region of great geological, ecological and biogeographical importance in Brazil, due to its characteristic formations, high species richness and endemism levels, and distribution patterns suggestive of past events of vicariance and isolated speciation. Anuran amphibians constitute a representative group regarding biodiversity and endemisms in the Serra do Espinhaço, nevertheless data on their distribution and even species inventories are rare for great extensions of the mountain chain. The main chalenges for amphibian Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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conservation in the region are this lack of information and the need of more intensive taxonomic studies, since many new species are still being found. In the present study we present an overview of the available information on anuran species distribution at the Serra do Espinhaço and point to major gaps in data availability, which should be addressed in future studies. When the current problems are solved, it will be possible to count on a representative data set to determine priority areas for conservation, as well as to determine the conservation status of species present in the region with more accuracy.

Introdução A Serra do Espinhaço, termo introduzido por Eschwege (1822), vem atraindo o interesse de naturalistas desde o século XIX (Chur et al., 1981; Spix & Martius, 1981; SaintHilaire, 2004). A contribuição de tais naturalistas para o conhecimento científico da biota dessas terras altas do leste brasileiro foi inestimável. Contudo, a sua anurofauna permaneceu praticamente desconhecida até meados da década de 50. A maioria do conhecimento sobre os anfíbios dos campos rupestres vem dos trabalhos de W. Bokermann, I. Sazima e colaboradores, que publicaram vários artigos descrevendo novas espécies da Serra do Cipó, no sul do Espinhaço, em Minas Gerais, revelando a sua notável riqueza de formas endêmicas (Bokermann, 1956; Bokermann, 1964; Bokermann, 1967a; Bokermann, 1967b; Bokermann & Sazima, 1973a; Bokermann & Sazima, 1973b; Bokermann & Sazima, 1978; Caramaschi & Sazima, 1984; Caramaschi & Sazima,1985; Sazima & Bokermann, 1978; Sazima & Bokermann, 1982). A partir da década de 90, estudos sobre a anurofauna do Espinhaço têm sido mais constantes e com objetivos diversificados. Destacam-se, entre esses, os estudos de ecologia evolutiva e taxonomia desenvolvidos por P. C. Eterovick e colaboradores, também na Serra do Cipó (Eterovick, 2003; Eterovick & Barros, 2003; Eterovick & Brandão, 2001; Eterovick & Fernandes, 2001; Eterovick & Fernandes, 2002; Eterovick & Sazima, 1998; Eterovick & Sazima,1999; Eterovick & Sazima, 2000a; Eterovick & Sazima, 2000b; Eterovick & Sazima, 2004; Eterovick et al., 2002). Nascimento et al. (2005b) apresentaram a primeira compilação de estudos sobre anuros de uma região da porção mineira da Serra do Espinhaço, compreendida entre os municípios de Ouro Branco, no seu extremo sul, e Olhos D’Água ao norte do município de Diamantina, estado de Minas Gerais. Juncá (2005), em estudo que inventariou algumas áreas da porção norte do Espinhaço, no estado da Bahia, conhecida como Chapada Diamantina, apresentou uma

listagem de espécie para a região e ressaltou a carência de conhecimento sobre a anurofauna desta vasta e pouco explorada porção setentrional da cadeia. Devido ao difícil acesso, o que dificultou a sua exploração, a região do Espinhaço ainda preserva considerável parte de sua biota original. Destacam-se ainda a sua considerável riqueza de espécies endêmicas, muitas vezes restritas a determinadas unidades de relevo (ver Giulietti & Pirani, 1988 para diversidade de plantas) e a sua inserção geográfica em uma área que contempla três diferentes biomas brasileiros (Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica). Essas características fazem do Espinhaço uma importante área para a conservação da biodiversidade brasileira (MMA, 1999; MMA, 2000a; MMA 2000b; MMA, 2003). O presente estudo tem como principal objetivo sintetizar o atual status do conhecimento sobre a ocorrência e distribuição geográfica dos anuros na Serra do Espinhaço. Espera-se que sirva de estímulo e subsídio para o planejamento de futuros estudos e medidas conservacionistas na região.

Material e Métodos Área de estudo A Serra do Espinhaço representa a faixa orogênica pré-cambriana mais extensa e contínua do território brasileiro (Almeida-Abreu & Renger, 2002). Constituída por grupos de serras, se estende por cerca de 1.000km, do centro-sul de Minas Gerais em direção ao norte, até a região central da Bahia (Derby, 1906) (Figura 1). Além de atuar como uma barreira geográfica entre a Mata Atlântica e as formações abertas do Brasil central (Cerrado/Caatinga), a cadeia do Espinhaço constitui o divisor de águas entre a bacia do rio São Francisco e as bacias costeiras do Oceano Atlântico (e. g. Rios Doce, Jequitinhonha, Mucuri, Pardo, de Contas e Paraguaçu). A complexidade de suas relações (ecológicas e históricas) com os domínios morfoclimáticos brasileiros (sensu Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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Figura 1 – Riqueza de espécies de anfíbios anuros por quadrícula (75 x 75km) em áreas inseridas na Serra do Espinhaço, Minas Gerais e Bahia, Brasil.

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Ab’Saber, 1977), aliada a sua grande heterogeneidade ambiental, propiciou condições diversas para o estabelecimento de uma grande variedade de fitofisionomias (e.g. campos rupestres, matas de galeria, matas nebulares, cerrados, veredas). Entre estas, os campos rupestres, que predominam nas maiores altitudes, constituem uma das vegetações brasileiras mais conspícuas e reconhecidas pela notável riqueza de formas endêmicas (Giulietti & Pirani, 1988). Métodos Dados de distribuição das espécies foram compilados preferencialmente da literatura científica. Informações complementares advêm apenas de coletas e registros efetuados pelo primeiro autor e da coleção de anfíbios do Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (MZUEFS). Para a apresentação da lista de espécies foram consideradas apenas espécies plenas. Espécies com status taxonômico incerto citadas na bibliografia foram excluídas da compilação final dos dados, a menos que se tenha verificado posteriormente a atual identidade das mesmas. Espécies sabidamente novas, mas ainda não descritas, também não foram consideradas. Abordamos a anurofauna associadas às localidades estritamente caracterizadas como pertences à cadeia do Espinhaço e a seus ambientes adjacentes. Quando uma espécie foi registrada na literatura mais de uma vez no mesmo município, foi indicado como fonte bibliográfica apenas o seu primeiro registro cronológico. Quando as coordenadas geográficas do registro não estavam disponíveis, essas foram consideradas como o centróide da área do município inserido nos limites do Espinhaço. Os registros de ocorrência apresentados em Nascimento et al. (2005b) não foram discriminados por localidade ou município, tão pouco foram apresentadas suas fontes, dessa forma optou-se por não incluí-los. A localidade Serra do Cipó, quando mencionada sem o respectivo município, foi considerada como pertencente ao município de Santana do Riacho, já que a grande maioria das coletas realizadas nessa localidade se deu na área atual deste município. Da mesma forma, os registros efetuados na Serra do Cipó e referidos como pertencentes ao município de Jaboticatubas, estão hoje inseridos no município de Santana do Riacho devido à emancipação do mesmo, dada no ano de 1962. A riqueza de espécies de anuros por unidade geográfica pode ser, até certo ponto, principalmente em regiões pouco amostradas, função do esforço amostral ali empregado e, portanto, pode ser utilizada como um indicador grosseiro deste parâmetro. Para avaliar a variação da riqueza de espécies de anuros ao longo do

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Espinhaço foi calculado o número de espécies registrado por quadrícula de um gride dividido em quadrículas de 75 X 75km, sobreposto ao mapa da região. Este número provavelmente reflete esforço amostral mais do que diferenças reais de riqueza de espécies, pois apesar de ambos contribuírem para os números registrados, nenhuma quadrícula pode ser considerada como exaustivamente amostrada, sendo esperados registros de novas espécies em toda a extensão do Espinhaço uma vez que se intensifiquem os esforços de amostragem. O termo “endemismo restrito” foi utilizado para designar situações em que uma espécie é conhecida de apenas uma única localidade. Ênfase foi dada à apresentação e discussão de aspectos biogeográficos e conservacionistas da anurofauna. Além disto, informações biológicas básicas sobre o ambiente de reprodução das espécies endêmicas do Espinhaço são apresentadas sob forma de tabela. A classificação taxonômica utilizada segue as propostas apresentadas por Faivovich et al. (2005), Frost et al. (2006) e Grant et al. (2006), Ghaparro et al. (2007), Heinicke et al. (2007) e Hedges et al. (2008). O gênero Rupirana foi classificado como Cycloramphinae assim como proposto por Dubois (2005), e provisoriamente indicado em Frost (2007).

Resultados Riqueza de espécies e endemismos Conhecem-se, hoje, de localidades inseridas na Serra do Espinhaço, 105 espécies de anfíbios anuros (Anexo). A família com o maior número de espécies é Hylidae, representando cerca de 48% (50 espécies) do total de espécies assinaladas para a região. Leiuperidae, Cycloramphidae e Leptodactylidae estão representadas respectivamente por 13, 12 e 12 espécies, constituindo, cada, cerca de 12% do total. Cerca de 68% (71 espécies) do total de espécies apresentam registro apenas para o estado de Minas Gerais e 16% (17 espécies) para o estado da Bahia; 16% (17 espécies) ocorrem em ambos os estados. Devido à desigualdade existente no esforço amostral despendido nos estados de Minas Gerais e Bahia (ver tópico sobre as lacunas do conhecimento), é esperado, no presente momento, que a riqueza de espécies, inclusive endêmicas, do Espinhaço mineiro seja maior que a da porção baiana. Segundo estimativa preliminar, o estado de Minas Gerais abriga cerca de 200 espécies de anfíbios (Drummond et al., 2005). O número de espécies assinaladas para a porção mineira do Espinhaço corresponde a cerca de 35% desse total.

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Foram registradas 28 espécies que apresentam distribuição restrita à cadeia do Espinhaço (Tabela 1), o que representa cerca de 27% da anurofauna regional. Essas espécies estão incluídas em 15 gêneros, sendo que Rupirana é endêmico da região norte da cadeia (Chapada Diamantina). Do total de espécies endêmicas, 23 ocorrem apenas na porção mineira da cadeia. Apenas cinco, Rupirana cardosoi, Strabomantis aramunha Bokermannohyla itapoty, B. diamantina e B. oxente são exclusivas da porção baiana (Heyer, 1999; Napoli & Juncá, 2006; Lugli & Haddad, 2006a; Lugli & Haddad, 2006b, Cassimiro et al., 2008). O gênero Bokermannohyla é o gênero com o maior número de espécies com ocorrência restrita à cadeia, com 7 espécies descritas (Tabela 1). O Espinhaço destaca-se por abrigar uma grande diversidade de espécies do grupo de Leptodactylus fuscus (Heyer, 1978), do qual 8 espécies foram registradas (Anexo), ainda que apenas L. camaquara seja o único endêmico da região (Tabela 1). A grande riqueza de espécies de anfíbios associadas ao Espinhaço deve-se não só à sua extensa área e grande amplitude longitudinal e altitudinal, mas certamente à existência de uma complexa e intricada relação histórica e ecológica entre esta formação e os biomas a ela adjacentes. Dessa forma, além de apresentar formas típicas, possui também elementos característicos do Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.

Padrões de distribuição geográfica Diante do conhecimento atual, a discriminação refinada de diferentes unidades zoogeográficas ao longo do Espinhaço seria uma tarefa precipitada. Contudo, a partir da distribuição das espécies endêmicas de anuros, algumas segregações faunísticas parecem evidentes, sendo possível reconhecer três principais unidades de relevo que abrigam espécies endêmicas exclusivas, são elas: (A) a região do Quadrilátero Ferrífero, extremo sul da cadeia, Minas Gerais; (B) a região que se inicia na Serra do Cipó (logo ao norte do Quadrilátero Ferrífero) e se estende até as serras do norte de Minas Gerais e (C) a região da Chapada Diamantina, no estado da Bahia. A ocorrência geográfica por unidade de relevo (A, B, C) das espécies endêmicas do Espinhaço é apresentada na Tabela 1. A segregação existente entre a Chapada Diamantina e a porção sul da cadeia é evidente. Essas regiões não compartilham sequer uma espécie de anfíbio endêmica

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do Espinhaço. A existência de espécies distintas, porém aparentemente próximas filogeneticamente (i.e., Bokermannohyla alvarengai/B. itapoty e B. saxicola/ B. oxente (Lugli & Haddad, 2006a; Lugli & Haddad, 2006b) e com distribuição disjunta entre a porção mineira do Espinhaço e a Chapada Diamantina, sugere a existência de uma conexão histórica entre essas porções da cadeia e um posterior evento vicariante, que teria levado ao isolamento geográfico de populações ancestrais, seguido de eventos de especiação alopátrica. Atualmente essas distintas unidades de relevo são separadas por uma região árida, com altitudes menores e dominadas por uma vegetação xérica de caatinga. Essa região foi e é provavelmente uma barreira para a dispersão de espécies de anfíbios relacionadas, como já foi sugerido para B. alvarengai e B. itapoty (Lugli & Haddad, 2006a) e para B. saxicola e B. oxente (Lugli & Haddad, 2006b). Esse mesmo padrão de distribuição pode também ser observado para Augastes scutatus e A. lumachella (Aves: Trochilidae) (Vasconcelos et al., neste volume), reforçando ainda mais a proximidade filogeográfica entre o Espinhaço mineiro e baiano. Mecanismos de especiação similares seriam os responsáveis pela existência de espécies de Physalaemus filogeneticamente relacionadas, de distribuição restrita e ocupando a mesma fisionomia ambiental em diferentes unidades de relevo nas Serras do Espinhaço e Mantiqueira (Cruz & Feio, 2007). Considerando tal proximidade histórica entre o Espinhaço mineiro e baiano, não seria surpreendente se outras espécies de anuros filogeneticamente próximas daquelas da porção mineira fossem, ainda, descobertas na Chapada Diamantina. Outros instigantes padrões de distribuição geográfica disjunta envolvem espécies de ocorrência restrita ao Espinhaço. Os pares de espécies Scinax uruguayus/ S. pinima e Bokermannohyla langei/B. martinsi são os únicos integrantes de seus respectivos grupos de espécies (Faivovich et al., 2005). Esses pares de espécies apresentam distribuição disjunta sendo que B. martinsi e S. pinima ocorrem apenas em áreas de altitude do sul do Espinhaço, B. langei apenas no estado do Paraná e S. uruguayus em áreas do sul do Brasil, Argentina e Uruguai (Frost, 2007). Esses curiosos padrões de ocorrência levantam questões sobre a evolução geomorfológica e a influência do clima nos processos que moldaram a atual distribuição dessas espécies. A influência dos biomas adjacentes ao Espinhaço é também um importante fator delineador da atual distribuição observada das espécies de anfíbios na cadeia. Ao atuar como divisor não apenas de bacias


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Tabela 1 – Ocorrência geográfica por unidade de relevo, ambiente de reprodução e status de conservação das espécies endêmicas de anfíbios anuros endêmicas da Serra do Espinhaço, Minas Gerais e Bahia, Brasil. Parte dos dados referentes aos ambientes de reprodução de espécies que ocorrem na Serra do Cipó, Minas Gerais, foi extraída de Feio et al. (no prelo).

Ambientes de reprodução

Taxa

Ocorrência geográfica

Brachycephalidae Ischnocnema izecksohni

Áreas abertas

Status de Conservação

Matas lista de lista de galeria minas gerais Brasileira

A

FL

LC

LC

Cycloramphidae Proceratophrys cururu

B RT, rp

DD

LC

Rupirana cardosoi

C AT, RT, RP

LC

LC

LC

Thoropa megatympanum

A+B

PM

Hylidae LC

LC

Bokermannohyla diamantina*

C RP

Bokermannohyla itapoty

C RP

Bokermannohyla martinsi

A+B RP

LC

LC

Bokermannohyla nanuzae

A+B RP

LC

LC

Bokermannohyla oxente

C RP, RT RP

Bokermannohyla saxicola

B RP RP

LC

LC

Hypsiboas cipoensis

B RP, lp

rp

LC

LC

A+B RP

LC

LC

Bokermannohyla alvarengai

Phasmahyla jandaia

A+B RT, rp

Phyllomedusa itacolomi

A RT

Phyllomedusa megacephala

B RT

DD

LC

Scinax cabralensis

B RP, RT, LP, LT

Scinax curicica

A+B

LT, LP, rp, rt

LC

Scinax machadoi

A+B RP

LC

LC

DD

DD

Scinax pinima*

B

LT

Hylodidae rp RP

LC

LC

Hylodes otavioi

B RP

DD

DD

Hylodes uai

A RP

LC

LC

Crossodactylus bokermanni

A+B

Leiuperidae Physalaemus deimaticus*

B

?

?

DD

DD

Physalaemus erythros*

A

LT

DD

A+B

LT

LC

DD

B AT

LC

LC

Physalaemus evangelistai Pseudopaludicola mineira

Leptodactylidae Leptodactylus camaquara

B AT, rt

LC

LC

Strabomantidae Strabomantis aramunha*

C

?

Categoria de ocorrência geográfica: A = Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais; B = Espinhaço mineiro, excluindo A; C = Chapada Diamantina, Bahia. Ambientes de reprodução: RP = riachos permanentes; RT = riachos temporários; LP = lagoas, poças e brejos permanentes; LT = lagoas, poças e brejos temporários; AT = alagadiços rasos e temporários; PM = superfície de pedras temporariamente molhadas; FL = folhiço/serrapilheira; ? = desconhecido. Letras minúsculas indicam ambientes utilizados com menor frequência para a reprodução. * espécies conhecidas apenas de sua localidade tipo. Status de conservação: DD = dados deficientes; LC = não ameaçadas; — = espécie não contemplada por não ocorrer em Minas Gerais, ou porque ainda não havia sido descrita na ocasião da elaboração das listas.

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hidrográficas costeiras e interioranas, mas também de biomas (Cerrado a oeste e Mata Atlântica a leste/ sudeste), o Espinhaço funciona como uma barreira para muitas espécies típicas dessas distintas formações fitogeográficas. Dessa forma, espécies ou até mesmo gêneros (e.g. Phasmahyla, Thoropa, Crossodactylus, Hylodes e Cycloramphus) que possuem o centro de suas áreas de ocorrência na Mata Atlântica, apresentam no Espinhaço seus limites ocidentais de ocorrência, dentro do intervalo latitudinal entre 20oS e 10oS, (limite sulnorte da cadeia). O mesmo pode ser observado para espécies típicas do Cerrado (i.e Ameerega flavopicta, Hypsiboas lundii, Physalaemus centralis e Chiasmocleis albopunctata) cujas distribuições geográficas não ultrapassam a encosta oeste do Espinhaço. A ocorrência de táxons possivelmente provenientes de linhagens tipicamente atlânticas na cadeia do Espinhaço pode ser considerada relictual. Em períodos mais mésicos, na metade do Oligoceno, a região do Espinhaço esteve inserida no domínio da Mata Atlântica e teria sido coberta por extensas matas (Maxson & Heyer, 1982; Heyer, 1999). Dessa forma, algumas espécies do bioma atlântico teriam expandido suas distribuições até áreas mais altas da serra, hoje ocupadas por ambientes campestres. Após a retração dessas matas as populações remanescentes teriam se especiado, tornando-se aptas para a vida nos campos rupestres e em suas matas de galeria. Essas espécies podem ser consideradas ilhadas (“stranded species” Vanzolini & Ramos, 1977) como já comentado por Feio et al. (no prelo) para Phasmahyla jandaia, Hylodes otavioi e Thoropa megatympanum. Portanto, parte da fauna de anfíbios adaptados a córregos de montanha do Espinhaço possuiria uma origem ancestral atlântica, como sugerido por Heyer (1999). Cruz & Feio (2007) ressaltam que o fato de nenhum desses táxons ocorrerem em áreas nucleares das formações abertas do Brasil central reforça essa hipótese. Entretanto, análises filogeográficas são ainda necessárias para que se possa refutar ou embasar esta proposição. Colli (2005) sugere ainda que as endêmicas Bokermannohyla saxicola e Hypsiboas cipoensis podem ter se originado em relictos campestres formados durante máximos de umidade, quando essas áreas presumivelmente foram isoladas por florestas (Harley, 1988). A proporção entre o número de endemismos e o número de endemismos restritos (espécies conhecidas apenas de uma única localidade) para anfíbios das serras do Mar e Mantiqueira na Mata Atlântica do sudeste brasileiro excede os 50% (Cruz & Feio, 2007). Apesar

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do considerável número de endemismos, apenas 4 espécies podem hoje ser consideradas endêmicas restritas de alguma localidade do Espinhaço (Tabela 1), representando apenas cerca de 15% do total de espécies endêmicas. É possível que tal diferença possa ser um artefato de amostragem. Porém, a maior taxa de endemismo restrito pode ser uma característica inerente às áreas de altitude integralmente inseridas no domínio da Mata Atlântica (Serra do Mar e Mantiqueira), em contraposição às áreas abertas do Espinhaço, que apesar de sofrerem influência atlântica, são também influenciadas por biomas savânicos e/ou semi-áridos, reconhecidamente menos ricos em número de espécies e endemismos. A compreensão dos padrões atuais de distribuição geográfica da fauna de anfíbios da Serra do Espinhaço, auxiliada por estudos filogeográficos, é fundamental para se compreender a história evolutiva deste peculiar ecossistema brasileiro.

As lacunas do conhecimento Amplitude da cobertura geográfica Constatou-se a existência de coletas e/ou registros de espécies de anuros em 20 quadrículas sobrepostas ao mapa do Espinhaço (Figura 1). Contudo, ao analisar mais detalhadamente o número de espécies registrado por quadrícula, observa-se que poucas contam com amostragens que possam ser consideradas representativas. Em apenas 10 quadrículas foram registradas mais de 15 espécies. No mapa da Figura 1, observa-se o número de espécies por quadrícula, como indicativo grosseiro do esforço amostral, salientando a desigualdade entre os estados de Minas Gerais e Bahia. É nítida a concentração desses esforços no extremo sul da cadeia, mais especificamente nas quadrículas correspondentes às regiões do Quadrilátero Ferrífero e da Serra do Cipó, que devido à maior proximidade a um grande centro urbano, no caso, o município de Belo Horizonte, e à relativa facilidade de acesso, foram melhor amostradas do que as demais áreas do Espinhaço. Especialmente as regiões do extremo norte de Minas Gerais e da Chapada Diamantina, na Bahia, permanecem ainda pouco exploradas e o conhecimento sobre as suas anurofaunas baseia-se em amostragens pontuais e pouco representativas (Figura 1). Em muitas regiões não há sequer registro de qualquer espécie de anuro, dando uma idéia do quão pouco conhecemos a fauna da região.


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Dentro dessa enorme área ainda pouco ou não amostrada do Espinhaço (Figura 1), algumas localidades se destacam pelo seu bom estado de conservação, isolamento geográfico ou devido à presença de fitofisionomias (i.e. matas nebulares) ou condições (i.e. grandes altitudes) ímpares no contexto regional. A Serra do Cabral, na face oeste da cadeia, centro de Minas Gerais, é um exemplo de região sub-amostrada e interessante do ponto de vista biogeográfico, por tratar-se de uma unidade de relevo isolada e disjunta do espigão central da cadeia. Amostragens fortuitas na região mostraram a presença de espécies típicas do tronco principal do Espinhaço (i.e. Bokermannohyla saxicola), além de outras possivelmente novas (F. S. F. Leite, obs. pess.). A investigação científica em serras inexploradas com altitudes superiores a 1.700m deve ainda nos surpreender com a existência de novas espécies de distribuição restrita. Entre alguns promissores picos do Espinhaço de Minas Gerais estão os picos da Serra do Caraça e Serra da Piedade, no Quadrilátero Ferrífero, e o Pico do Itambé, na região central do estado. Na Bahia, destacam-se os ainda pouco explorados Pico do Barbado e Pico das Almas. Muitas vezes a pouca diversidade ou inexistência de espécies de anfíbios em altitudes mais elevadas deve-se a pouca ou nenhuma disponibilidade de habitats aquáticos para a reprodução. Contudo, não se pode desprezar a possibilidade de ocorrência de fauna bromelícola (i.e. Flectonotus), visto a abundância e diversidade desta família de plantas na cadeia (Versieux et al., neste volume), além de espécies que não necessitam de corpos d’água para a reprodução (i.e. Ischnocnema, Haddadus). A suposição de que muitas espécies antes consideradas endêmicas da porção sul do Espinhaço apresentariam distribuição mais ampla na cadeia, aventada por Vanzolini (1982) e Feio & Caramaschi (1995), vem se confirmando à medida que coletas, mesmo que esporádicas, vêm sendo feitas, principalmente na região norte de Minas Gerais. Leite et al. (2006) ampliaram até o Parque Estadual do Rio Preto, Município de São Gonçalo do Rio Preto, Minas Gerias, a distribuição geográfica em direção norte de cinco espécies (Bokermannohyla nanuzae, Scinax curicica, Leptodactylus camaquara, Physalaemus evangelistai e Proceratophrys cururu), até então conhecidas apenas para as suas localidades tipo, na Serra do Cipó, salvo S. curicica, também conhecida para a vizinha Serra do Caraça, Minas Gerais. Recentes coletas em áreas de altitude do município de Serranópolis de Minas, Minas Gerais, revelaram ainda que as endêmicas Bokermannohyla alvarengai, B. saxicola, Hypsiboas cipoensis, S. curicica, L. camaquara e Thoropa megatympanum

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também ocorrem no extremo norte do estado, as ocorrências mais setentrionais conhecidas para estas espécies (Anexo). Acredita-se que, à medida que novas áreas ainda não inventariadas forem amostradas, algumas espécies consideradas endêmicas restritas (ver Tabela 1) venham a ter suas distribuições geográficas ampliadas, demonstrando que alguns padrões atuais de endemismo restrito são apenas reflexos do pequeno esforço de coleta e da sua cobertura geográfica fragmentada. O refinamento da informação sistemática e taxonômica A insuficiência do conhecimento sistemático, agravada pela fragmentação geográfica do esforço de amostragem, é um dos problemas mais sérios enfrentados na elaboração de listas de espécies regionais (Rodrigues, 2003). Um reflexo desta limitação pode ser observado em inventários realizados no Espinhaço que apresentam um grande número de espécies com determinações taxonômicas incertas (ver Juncá, 2005; Nascimento et al., 2005b; Canelas & Bertolucci, 2007). Se considerados esses táxons, o número de espécies e os padrões de endemismos da cadeia se modificariam consideravelmente. Padrões de riqueza e endemismo, utilizados como base para medidas conservacionistas, podem mudar significativamente quando mais dados são coletados e incorporados nas análises (Brown & Brown, 1993; Heyer, 1988; Silva, 1995). Assim, a realização de revisões taxonômicas e a descrição de novas espécies são também importantes etapas a serem cumpridas para que possamos preencher parte das lacunas existentes sobre a fauna do Espinhaço e assim melhorar a abrangência das suas estratégias de conservação. Áreas prioritárias para a conservação Cinco áreas inseridas no complexo do Espinhaço foram reconhecidas como prioritárias para a conservação de répteis e anfíbios em Minas Gerais (Drummond et al., 2005). Devido ao grande número de endemismos e alta riqueza de espécies, é indiscutível a importância desta formação para a conservação de anfíbios no estado. É interessante dizer, porém, que dentro do Espinhaço certamente existem áreas de prioridade máxima para a conservação de anfíbios e que devem ser preservadas em detrimento de outras menos importantes. Contudo, a qualidade da informação sobre a ocorrência e distribuição das espécies de anfíbios atualmente disponível e utilizada na definição dessas áreas não nos oferece a precisão necessária para determiná-las com segurança. Acredita-se que a delimitação de áreas

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prioritárias para a conservação de anfíbios no estado de Minas Gerais (ver Drummond et al., 2005) só alcançará refinamento apropriado, do ponto de vista técnico, caso sejam previamente realizados inventários faunísticos em todo o estado e seja compilada a informação existente nos principais acervos de coleções e museus do país. A falta de conhecimento sobre a distribuição geográfica das espécies constitui certamente o problema mais importante a ser resolvido para que áreas prioritárias para conservação possam ser definidas de forma adequada. Rodrigues (2003) expõe a inviabilidade de se optar adequadamente por alternativas de conservação na ausência de uma base de dados proveniente de amostragens representativas e com ampla cobertura geográfica. É sempre bom alertar pessoas envolvidas com assuntos ambientais de que nenhuma estratégia de conservação pode ser melhor do que a qualidade do inventário biológico no qual ela é baseada (Silva, 1995). O cenário acima exposto, somado ao atual ritmo de degradação das paisagens naturais em áreas do Espinhaço (Drummond et al., 2005; Juncá, 2005), alerta para a urgente necessidade de criação de programas que subsidiem prioritariamente o preenchimento das lacunas do conhecimento. Outro ponto a ser discutido é o tratamento conjunto dado ao grupo dos répteis e anfíbios e utilizado na delimitação das áreas prioritárias de Minas Gerais, o que obviamente toca o Espinhaço. Visto que anfíbios e répteis possuem necessidades muito distintas no uso de habitats e recursos, é possível que as áreas prioritárias para conservação destes dois grupos sejam distintas. Este tratamento equivocado foi também utilizado em diversas análises conservacionistas de âmbito nacional (MMA, 1999; MMA, 2000a; MMA 2000b; MMA, 2003a) e carece de sentido biológico, o que diminui consideravelmente a aplicabilidade de suas conclusões para fins de conservação específicos. Por exemplo, pode-se considerar que uma dada localidade seja de extrema importância para anfíbios, no entanto seu valor será subestimado se ela não apresentar prioridade para a conservação de répteis (e vice-versa).

Espécies ameaçadas A primeira lista oficial de espécies ameaçadas de extinção a contemplar espécies de anfíbios do Espinhaço foi a Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Estado de Minas Gerais (COPAM, 1995; Machado et al., 1998). As endêmicas Phasmahyla jandaia, Scinax pinina, Physalaemus deimaticus e Crossodactylus bokermanni foram então

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classificadas como vulneráveis (VU) de acordo com os critérios e categorias da IUCN (1996), também expostos em Lins et al. (1997). Na ocasião da publicação essas espécies eram conhecidas apenas para suas localidades tipo, na Serra do Cipó (Bernardes, 1998; Caramaschi, 1998a; Caramaschi, 1998b; Nascimento, 1998). Na última revisão da lista de Minas Gerais essas espécies foram retiradas de suas categorias de ameaça por diferentes razões (COPAM, 2008). Para Scinax pinima e Physalaemus deimaticus, foi julgado que o esforço amostral na região não teria sido grande e geograficamente abrangente o suficiente para assumir que essas espécies estariam de fato sofrendo algum tipo de declínio populacional. Desta forma, essas espécies foram inseridas na categoria DD (dados insuficientes) (Feio et al., 2008). Por outro lado, Phasmahyla jandaia foi excluída da lista por ter sido encontrada em diversas outras localidades e unidades de conservação (Caramaschi et al., 2000; Canelas & Bertolucci, 2007; F.S.F. Leite, obs. pess.). O mesmo ocorreu com Crossodactylus bokermanni, que foi também registrado em outras áreas do Espinhaço mineiro (Afonso & Eterovick, 2007; Pimenta et al., 2008). Por esses mesmos motivos essas espécies também não foram classificadas em categorias de ameaça na Lista Vermelha das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MMA, 2003b). O status de conservação das espécies endêmicas do Espinhaço segundo as listagens oficiais de Minas Gerais e do Brasil é apresentado na Tabela 1. A escassez de dados sobre a ocorrência e distribuição de espécies de anfíbios, agravada pela falta de resolução taxonômica, dificulta tentativas de determinação de seus status de conservação. Os critérios da IUCN enfocam parâmetros como tamanho populacional e área de distribuição (IUCN, 2001), os quais não estão disponíveis para a grande maioria das espécies do grupo. Além disto, esses parâmetros foram criados para aves e mamíferos e a sua aplicabilidade para os anfíbios neotropicais gera controvérsia (ver Pimenta et al., 2005; Stuart et al., 2004; Stuart et al., 2005). Todos estes fatores, muitas vezes, resultam em um alto grau de subjetividade nas análises, opiniões divididas e resultados não comparáveis entre os grupos taxonômicos analisados. Sendo assim, o número relativamente baixo de espécies de anfíbios colocadas em categorias de ameaça, se comparado ao número de espécies alocadas na categoria de dados insuficientes (DD) em escalas nacional (ver Anexo II em Machado et al., 2005) e estadual (Feio et al., 2008) reflete mais a falta de informação sobre o grupo do que um resultado tranquilizador para a sua conservação.


Leite, Juncá & Eterovick |

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170 | Status do conhecimento, endemismo e conservação de anfíbios anuros da Cadeia do Espinhaço, Brasil

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Leite, Juncá & Eterovick |

171

Anexo – Lista das espécies de anfíbios anuros da Serra do Espinhaço, Minas Gerais e Bahia, Brasil, provida dos municípios de ocorrência e respectivas fontes dos registros.

Táxon

Município e fonte

Anuros Brachycephalidae Ischnocnema izecksohni (Caramaschi & Kisteumacher, 1989) MG: Belo Horizonte 14; Nova Lima 53; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas 12; Campo e Ouro Branco 37 Ischnocnema juipoca (Sazima & Cardoso, 1978)

MG: Santana do Riacho 35; Catas Altas 12; Belo Horizonte, Nova Lima, Rio Vermelho e São Gonçalo do Rio Preto 37

Bufonidae Rhinella crucifer (Wied-Neuwied, 1821)

BA: Lençóis 42

Rhinella granulosa (Spix, 1824)

MG: Serranópolis de Minas 37; BA: Lençóis 42; Morro do Chapéu 51

Rhinella jimi (Stevaux, 2002) BA: Juciape, Lençóis, Morro do Chapéu, Mucugê e Rio de Contas 42 Rhinella ornata (Spix, 1824)

MG: Catas Altas 12

Rhinella pombali (Baldissera, Caramaschi & Haddad, 2004)

MG: Nova Lima 53; Ouro Preto 56; Belo Horizonte 27; Caeté, Conceição do Mato Dentro, Grão Mogol, Mariana e São Gonçalo do Rio Abaixo 3; Rio Acima 38; Catas Altas ; Brumadinho, Diamantina, Ouro Branco e Rio Vermelho 37

Rhinella rubescens (Lutz, 1925) MG: Santana do Riacho 32; Cristália e Grão Mogol 36; Catas Altas 28; Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Congonhas, Diamantina, Nova Lima, Santana do Pirapama e ' Santo Antônio do Itambé 37; BA: Rio de Contas 42 Rhinella schneideri (Werner, 1894) MG: Santana do Riacho 35; Cristália e Grão Mogol 36; Belo Horizonte, Buenópolis, Congonhas, Diamantina, Francisco Sá, Nova Lima, Santana do Pirapama e Serranópolis de Minas 37 Centrolenidae Hyalinobatrachium eurygnathum (Lutz, 1925)

MG: Nova Lima 53

Hyalinobatrachium uranoscopum (Müller, 1924)

MG: Ouro Preto 56; Catas Altas 12; Congonhas, Nova Lima, e Ouro Branco 37

Craugastoridae Haddadus binotatus (Spix, 1824)

MG: Ouro Preto 56; Belo Horizonte, Brumadinho, Congonhas, Nova Lima e Ouro Branco 37

Cycloramphidae Cycloramphus eleutherodactylus (Miranda-Ribeiro, 1920)

MG: Ouro Preto 40

Odontophrynus americanus (Duméril & Bibron, 1841) MG: Santana do Riacho 34; Conceição do Mato Dentro e Diamantina 37 Odontophrynus carvalhoi Savage & Cei, 1965

MG: Cristália 36

Odontophrynus cultripes Reinhardt & Lütken, 1862

MG: Nova Lima 53; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas 12; Belo Horizonte e Congonhas 37

Proceratophrys boiei (Wied-Neuwied, 1824)

MG: Cristália 36; Ouro Preto 56; Catas Altas 28; Belo Horizonte, Congonhas, Nova Lima, Ouro Branco 37

Proceratophrys cristiceps (Müller, 1883)

BA: Morro do Chapéu 51

Proceratophrys cururu Eterovick & Sazima, 1998 MG: Santana do Riacho 31; Conceição do Mato Dentro e São Gonçalo do Rio Preto 44 Rupirana cardosoi Heyer, 1999

BA: Andaraí, Morro do Chapéu e Mucugê 41; Lençóis 42 continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


172 | Status do conhecimento, endemismo e conservação de anfíbios anuros da Serra do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

Táxon

Município e fonte

Thoropa megatympanum Caramaschi & Sazima, 1984 MG: Santana do Riacho 17; Botumirim 36; Catas Altas 12; Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, São Gonçalo do Rio Preto e Serranópolis de Minas 37 Thoropa miliaris (Spix, 1824)

MG: Botumirim, Cristália e Grão Mogol 36; Catas Altas 12

Dendrobatidae Ameerega flavopicta (Lutz, 1925)

MG: Belo Horizonte 49; Jaboticatubas e Santana do Riacho 39

Hylidae Aplastodiscus arildae (Cruz & Peixoto, 1987)

MG: Ouro Preto 56; Catas Altas 12; Belo Horizonte, Nova Lima, Ouro Branco 37

Aplastodiscus cavicola (Cruz & Peixoto, 1985)

MG: Ouro Preto 56; São Gonçalo do Rio Abaixo 24; Congonhas 37

Corythomantis greeningi Boulenger, 1896

MG: Cristália 36; BA: Morro do Chapéu 42

Bokermannohyla alvarengai (Bokermann, 1956) MG: Santa Bárbara 4; Santana do Riacho 5; Botumirim 36; Catas Altas 12; Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Felício dos Santos, Francisco Sá, Ouro Branco, Santo Antônio do Itambé, Serranópolis de Minas e São Gonçalo do Rio Preto 37 Bokermannohyla circumdata (Cope, 1871)

MG: Nova Lima 53; Ouro Preto 56; Catas Altas 12; Brumadinho, Congonhas, Ouro Branco 37

Bokermannohyla diamantina Napoli & Juncá, 2006

BA: Abaíara 52

Bokermannohyla itapoty Lugli & Haddad, 2006

BA: Andaraí, Lençóis, Mucugê e Palmeiras 47

Bokermannohyla martinsi (Bokermann, 1964)

MG: Santana do Riacho e Santa Bárbara 5; Ouro Preto 56; Caeté e Nova Lima 20; Catas Altas 28; Brumadinho, Congonhas, Ouro Branco 37

Bokermannohyla nanuzae (Bokermann & Sazima, 1973) MG: Santana do Riacho 8; Barão de Cocais, Caeté e Nova Lima 20; Catas Altas 28; Conceição do Mato Dentro, Felício dos Santos, Rio Vermelho , Santo Antônio do Itambé e São Gonçalo do Rio Preto 37 Bokermannohyla oxente Lugli & Haddad, 2006

BA: Lençóis, Mucugê, Palmeiras, Rio de Contas 48

Bokermannohyla saxicola (Bokermann, 1964) MG: Santana do Riacho 5; Botumirim 36; Berilo, Botumirim e Santa Luzia 58; Buenópolis, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Felício dos Santos, Grão Mogol, Rio Vermelho, Santana do Pirapama, Santo Antônio do Itambé , São Gonçalo do Rio Preto, Serranópolis de Minas 37; Dendropsophus branneri (Cochran, 1948)

MG: Cristália 36; Santo Antônio do Itambé 44; BA: Bonito, Lençóis e Morro do Chapéu 42; Mucugê 51

Dendropsophus decipiens (Lutz, 1925)

MG: Ouro Preto 56; Catas Altas 37

Dendropsophus elegans (Wied-Neuwied, 1824) MG: Ouro Preto 56; Catas Altas 44; Conceição do Mato Dentro, Itambé do Mato Dentro, Moeda, Ouro Branco, Santo Antônio do Itambé, São Gonçalo do Rio Abaixo, São Gonçalo do Rio Preto 37 Dendropsophus minutus (Peters, 1872) MG: Santana do Riacho 35; Botumirim, Cristália e Grão Mogol 36; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas 45; Belo Horizonte, Buenópolis, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Nova Lima, Ouro Branco, Santo Antônio do Itambé, São Gonçalo do Rio Preto 37; BA: Lençóis, Mucugê e Rio de Contas 42 Dendropsophus oliveirai (Bokermann, 1963)

BA: Morro do Chapéu 42 continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Leite, Juncá & Eterovick |

173

...continuação do Anexo

Táxon

Município e fonte

Dendropsophus rubicundulus (Reinhardt & Lütken, 1862) MG: Buenópolis, Caeté, Joaquim Felício, Santana do Riacho e Serranópolis de Minas 37 Dendropsophus seniculus (Cope, 1868)

MG: Catas Altas 43; Conceição do Mato Dentro 37

Hypsiboas albomarginatus (Spix, 1824)

MG: São Gonçalo do Rio Preto 37; BA: Bonito e Lençóis 42

Hypsiboas albopunctatus (Spix, 1824) MG: Santana do Riacho 29; Botumirim e Grão Mogol 36; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas 28; Belo Horizonte, Buenópolis, Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Francisco Sá, Nova Lima, Ouro Branco, Santo Antônio do Itambé e São Gonçalo do Rio Preto 37; BA: Jussiape, Mucugê, Palmeiras e Rio de Contas 42 Hypsiboas cipoensis (Lutz, 1968) MG: Santana do Riacho 50; Diamantina 26; Conceição do Mato Dentro, Grão Mogol, São Gonçalo do Rio Preto e Serranópolis de Minas, 37 Hypsiboas crepitans (Wied-Neuwied, 1824) MG: Botumirim e Cristália 36; Joaquim Felício, Diamantina, Santana do Riacho e Santo Antônio do Itambé 37; BA: Jussiape, Lençóis, Morro do Chapéu e Mucugê 42 Hypsiboas faber (Wied-Neuwied, 1821) MG: Grão Mogol 36; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas 28; Belo Horizonte, Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Congonhas, Francisco Sá, Moeda, Nova Lima e Ouro Branco 37; BA: Morro do Chapéu 51; Lençóis e Mucugê 42 Hypsiboas lundii (Burmeister, 1856) MG: Santana do Riacho 8; Botumirim e Cristália 36; Rio Acima 38; Belo Horizonte, Francisco Sá, Nova Lima e Santana do Pirapama 37 Hypsiboas pardalis (Spix, 1824)

MG: Ouro Preto 56; Mariana e Ouro Branco 37

Hypsiboas polytaenius (Cope, 1870) MG: Botumirim 36; Nova Lima 53; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas 28; Belo Horizonte, Conceição do Mato Dentro, Congonhas, Ouro Branco e Santo Antônio do Itambé 37 Hypsiboas semilineatus (Spix, 1824)

MG: Ouro Preto 56

Phasmahyla jandaia (Bokermann & Sazima, 1978) MG: Santana do Riacho 10; Leme do Prado 19; Catas Altas 12; Congonhas; Nova Lima; Ouro Branco e Ouro Preto 37 Phyllomedusa bahiana Lutz, 1925

BA: Morro do Chapéu e Lençóis 42

Phyllomedusa burmeisteri Boulenger, 1882

MG: Cristália 36; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas 28; Brumadinho, Congonhas e Nova Lima 37

Phyllomedusa hypochondrialis (Daudin, 1800)

BA: Morro do Chapéu 42

Phyllomedusa megacephala (Miranda-Ribeiro, 1926) MG: Santana do Riacho 25; Cristália 13; Diamantina e São Gonçalo do Rio Preto 37 Phyllomedusa rohdei Mertens, 1926

MG: Catas Altas 37

Phyllomedusa itacolomi Caramaschi, Cruz & Feio, 2006

MG: Ouro Preto e Ouro Branco 22; Congonhas e Nova Lima 37

Scinax auratus (Wied-Neuwied, 1821)

BA: Morro do Chapéu 42

Scinax cabralensis (Drummond, Baêta e Silvério-Pires, 2007)

MG: Joaquim Felício e Buenópolis 63

Scinax curicica Pugliese, Pombal & Sazima, 2004 MG: Santana do Riacho 7; Serra do Caraça 59; Catas Altas 43; São Gonçalo do Rio Preto 45; Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Ouro Branco, Ouro Preto, Santo Antônio do Itambé e Serranópolis de Minas 37 continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


174 | Status do conhecimento, endemismo e conservação de anfíbios anuros da Serra do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

Táxon

Município e fonte

Scinax eurydice (Bokermann, 1968) MG: Ouro Preto 56; Catas Altas 44; Conceição do Mato Dentro 37; BA: Morro do Chapéu 42 Scinax flavoguttatus (Lutz & Lutz, 1939)

MG: Ouro Preto 56

Scinax fuscomarginatus (Lutz, 1925) MG: Buenópolis, Catas Altas, Diamantina, Santana do Riacho, Santo Antônio do Itambé e São Gonçalo do Rio Preto 37; BA: Lençóis 42 Scinax fuscovarius (Lutz, 1925) MG: Santana do Riacho 35; Botumirim e Cristália 36; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas 12; Belo Horizonte, Buenópolis, Conceição do Mato Dentro, Congonhas, Diamantina, Nova Lima, Ouro Branco, São Gonçalo do Rio Preto e Serranópolis de Minas 37 Scinax longilineus (Lutz, 1968)

MG: Nova Lima 53; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Belo Horizonte, Brumadinho, Congonhas e Ouro Branco 37

Scinax luizotavioi (Caramaschi & Kisteumacher, 1989)

MG: Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo 15; Nova Lima 53; Ouro Preto 56; Catas Altas 28; Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Congonhas e Ouro Branco 37

Scinax machadoi (Bokermann & Sazima, 1973)

MG:: Santana do Riacho 9; Catas Altas 28; Conceição do Mato Dentro 37

Scinax maracaya (Cardoso & Sazima, 1980)

MG: Nova Lima 23

Scinax pachycrus (Miranda-Ribeiro, 1937)

BA: Morro do Chapéu 42

Scinax pinima (Bokermann & Sazima, 1973)

MG: Santana do Riacho 9

Scinax squalirostris (Lutz, 1925) MG: Santana do Riacho 30; Catas Altas 43; Buenópolis, Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Diamantina e Santo Antônio do Itambé 37 Scinax x-signatus (Spix, 1824)

MG: Botumirim e Cristália 36; BA: Lençóis e Morro do Chapéu 42

Trachycephalus venulosus (Laurenti, 1768)

MG: Santana do Riacho 30

Hylodidae Crossodactylus bokermanni Caramaschi & Sazima, 1985

MG: Santana do Riacho 18; Catas Altas 1

Crossodactylus trachystomus (Reinhardt & Lütken, 1862)

MG: Belo Horizonte 16; Catas Altas 12

Hylodes otavioi (Sazima & Bokermann, 1983)

MG: Santana do Riacho 61; Morro do Pilar 11

Hylodes uai (Nascimento, Pombal & Haddad, 2001)

MG: Ouro Preto 56; Belo Horizonte 54; Catas Altas 28; Caeté e Nova Lima 37

Leiuperidae Physalaemus albifrons (Spix, 1824)

MG: Serranópolis de Minas 37

Physalaemus centralis (Bokermann, 1962)

MG: Santana do Riacho e Diamantina 55

Physalaemus cicada (Bokermann, 1966)

BA: Morro do Chapéu 37

Physalaemus cuvieri (Fitzinger, 1826) MG: Botumirim, Cristália e Grão Mogol 36; Santana do Riacho 34; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas, Nova Lima e São Gonçalo do Rio Abaixo 55; Belo Horizonte, Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Joaquim Felício, Nova Lima, Ouro Branco e Santo Antônio do Itambé 37 Physalaemus deimaticus Sazima & Caramaschi, 1988

MG: Santana do Riacho 62

Physalaemus erythros Caramaschi, Feio & Guimarães-Neto, 2003

MG: Ouro Preto 21 continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Leite, Juncá & Eterovick |

175

...continuação do Anexo

Táxon

Município e fonte

Physalaemus evangelistai Bokermann, 1967

MG: Santana do Riacho 6; São Gonçalo do Rio Preto 45; Catas Altas 44; Conceição do Mato Dentro 37

Physalaemus fuscomaculatus (Steindachner, 1864) MG: Diamantina e Santana do Riacho 55; Buenópolis e Rio Vermelho 37 Physalaemus maximus Feio, Pombal & Caramaschi, 1999

MG: Ouro Preto 2

Pleurodema diplolister (Peters, 1870)

MG: Cristália 36; BA: Morro do Chapéu 42

Pseudopaludicola mineira Lobo, 1994

MG: Buenópolis e Santana do Riacho 46; Diamantina, Felício dos Santos e São Gonçalo do Rio Preto 37

Pseudopaludicola saltica (Cope, 1887) MG: Santana do Riacho 46; Brumadinho, Catas Altas, Diamantina, Ouro Branco, Santana do Pirapama e Santo Antônio do Itambé 37 Pseudopaludicola falcipes (Hensel, 1867) MG: Botumirim e Grão Mogol 36; Augusto de Lima e Diamantina 55 Leptodactylidae Leptodactylus bokermanni Heyer, 1973

MG: Santana do Riacho 35; Catas Altas 12; Rio Vermelho 37

Leptodactylus camaquara Sazima & Bokermann, 1978

MG: Santana do Riacho 60; São Gonçalo do Rio Preto 45; Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Santo Antônio do Itambé e Serranópolis de Minas 37

Leptodactylus cunicularius Sazima & Bokermann, 1978 MG: Santana do Riacho 60; Brumadinho, Congonhas, Diamantina, Ouro Branco, Ouro Preto e Santana do Riacho 37 Leptodactylus furnarius Sazima & Bokermann, 1978 MG: Santana do Riacho 60; Botumirim 36; Brumadinho, Catas Altas, Diamantina, Santana do Riacho, São Gonçalo do Rio Preto e Serranópolis de Minas 37; BA: Abaíra e Palmeiras 42; Mucugê 51 Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799)

MG: Botumirim e Cristália 36; Santana do Riacho 33; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Catas Altas 12; Belo Horizonte, Conceição do Mato Dentro, Congonhas, Nova Lima, Ouro Branco e Rio Vermelho 37

Leptodactylus jolyi Sazima & Bokermann, 1978

MG: Santana do Riacho 60; Catas Altas 43; Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Congonhas, Diamantina, Nova Lima, Ouro Branco, São Gonçalo do Rio Preto e Serranópolis de Minas 37

Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824) MG: Botumirim e Grão Mogol 36; Santana do Riacho 33; Ouro Preto 56; Rio Acima 38; Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Nova Lima, Santo Antônio do Itambé e Santana do Pirapama 37; BA: Bonito, Jussiape, Lençóis, Morro do Chapéu e Rio de Contas 42 Leptodactylus mystaceus (Spix, 1824)

BA: Lençóis 42

Leptodactylus mystacinus (Burmeister, 1861)

MG: Cristália 36; Catas Altas 44; BA: Morro do Chapéu 42

Leptodactylus ocellatus (Linnaeus, 1758)

MG: Grão Mogol 36; Nova Lima 53; Santana do Riacho 33; Ouro Preto 56; Catas Altas 43; Buenópolis, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Francisco Sá, Joaquim Felício, Nova Lima, Ouro Branco e Santo Antônio do Itambé 37; BA: Bonito, Lençóis, Morro do Chapéu, Mucugê e Rio de Contas 42

Leptodactylus syphax Bokermann, 1969

MG: Santana do Riacho 33

Leptodactylus troglodytes Lutz, 1926

BA: Lençóis e Morro do Chapéu 42 continua...

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176 | Status do conhecimento, endemismo e conservação de anfíbios anuros da Serra do Espinhaço, Brasil

...continuação do Anexo

Táxon

Município e fonte

Microhylidae BA: Rio de Contas e Morro do Chapéu 42

Dermatonotus muelleri (Boettger, 1885)

Elachistocleis ovalis (Schneider, 1799) MG: Santana do Riacho 35; Botumirim 36; Catas Altas 44; Brumadinho, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Itambé do Mato Dentro e Nova Lima 37 Strabomantidae Strabomantis aramunha (Cassimiro, Verdade & Rodrigues, 2008) Legenda 1 - Afonso & Eterovick, 2007 2 - Baêta et al., 2005 3 - Baldissera-Júnior et al., 2004 4 - Bokermann, 1956 5 - Bokermann, 1964 6 - Bokermann, 1967a 7 - Bokermann, 1967b 8 - Bokermann & Sazima, 1973a 9 - Bokermann & Sazima, 1973b 10 - Bokermann & Sazima, 1978 11 - C. Canedo, comunicação pessoal 12 - Canelas & Bertoluci, 2007 13 - Caramaschi, 2006 14 - Caramaschi & Kisteumacher, 1988 15 - Caramaschi & Kisteumacher, 1989a 16 - Caramaschi & Kisteumacher, 1989b 17 - Caramaschi & Sazima, 1984 18 - Caramaschi & Sazima, 1985 19 - Caramaschi et al., 2000 20 - Caramaschi et al., 2001 21 - Caramaschi et al., 2003

BA: Mucugê 64

22 - Caramaschi et al., 2006 23 - Cardoso & Sazima, 1980 24 - Cassimiro et al., 2006 25 - Cruz, 1982 26 - Cruz & Caramaschi, 1998 27 - Eterovick, 2000 28 - Eterovick & Barata, 2006 29 - Eterovick & Fernandes, 2001 30 - Eterovick & Fernandes, 2002 31 - Eterovick & Sazima, 1998 32 - Eterovick & Sazima, 1999 33 - Eterovick & Sazima, 2000a 34 - Eterovick & Sazima, 2000b 35 - Eterovick & Sazima, 2004 36 - Feio & Caramaschi, 1995 37 - F.S.F. Leite, registros pessoais 38 - Grandinetti & Jacobi, 2005 39 - Haddad & Martins, 1994 40 - Heyer & Maxson, 1983 41 - Heyer, 1999 42 - Juncá, 2005

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

43 - Koop et al., 2006 44 - Kopp & Eterovick, 2006 45 - Leite et al., 2006 46 - Lobo, 1994 47 - Lugli & Haddad, 2006a 48 - Lugli & Haddad, 2006b 49 - Lutz, A., 1925 50 - Lutz, B., 1968 51 - MZUEFS 52 - Napoli & Juncá, 2006 53 - Nascimento et al., 1994 54 - Nascimento et al., 2001 55 - Nascimento et al., 2005a 56 - Pedralli et al., 2001 57 - Pereira & Nascimento, 2004 58 - Pombal-Jr. & Caramaschi, 1995 59 - Pugliese et al., 2004 60 - Sazima & Bokermann, 1978 61 - Sazima & Bokermann, 1982 62 - Sazima & Caramaschi, 1986 63 - Drummond et al., 2007 64 - Cassimiro et al., 2008


................................................................................

Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço Carlos Bernardo Mascarenhas Alves1* Cecília Gontijo Leal2 Marcelo Fulgêncio Guedes de Brito3 Alexandre Clistenes de Alcântara Santos3 Projeto Manuelzão, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil. 3 Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil. * e-mail: curimata@netuno.lcc.ufmg.br 1 2

Resumo A riqueza de espécies da região Neotropical, em especial do Brasil, é relevante em relação à fauna de peixes de água doce atualmente conhecida no mundo. A região do Complexo do Espinhaço é ainda pouco conhecida, mas possui grande potencial de ocorrência de novas espécies de peixes e de endemismos, face às grandes lacunas de levantamentos sistematizados. Este trabalho apresenta um levantamento dos dados disponíveis na literatura que demonstrou a ocorrência de, pelo menos, 162 espécies. Destas, 27 são endêmicas e 12 constam em listas de espécies ameaçadas de extinção. Considerando-se a falta de conhecimento dessa fauna e a crescente expansão da ocupação humana e suas atividades decorrentes, a região do Complexo do Espinhaço merece especial atenção em termos de conservação. A criação de novas Unidades de Conservação, o respeito à legislação vigente no que se refere às áreas de proteção permanente (APP), o controle de potenciais impactos principalmente a introdução de espécies exóticas de peixes e deterioração da qualidade de água, aliadas ao incentivo da pesquisa, poderão garantir melhor conhecimento e a manutenção deste patrimônio em longo prazo.

abstract Species richness in the Neotropical region, especially in Brazil, is significant considering all known freshwater fish species in the World. The Espinhaço Complex is still poorly known but has a great potential regarding to the occurrence of endemic and new fish species occurrence, due to large gaps of surveys. Available data in technical literature showed the presence of, at least, 162 fish species, from which 27 are endemic, 12 are mentioned in endangered species lists. Considering the lack of information about this fauna, and the increasing human occupation and its activities, the Espinhaço Complex region deserves special conservation attention. New Conservation Units establishment, the respect to the present regulations concerning Permanent Protection Areas, the control of potential impacts mainly to avoid alien species introductions and water quality deterioration, allied to research incentive, may guarantee better knowledge and the long term maintenance of this patrimony.

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


178 | Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço

Introdução A região Neotropical possui fauna de peixes das mais diversificadas do mundo. Apesar das disparidades entre as estimativas disponíveis na literatura em relação às espécies de água doce, a ordem de grandeza é superlativa: 2.400 – 4.000 para McAllister et al. (1997), 4.475 para Reis et al. (2003) e até mesmo cerca de 8.000 (Schaefer, 1998). Considerando apenas o Brasil, estimativas apresentadas por Lewinsohn & Prado (2002) demonstraram a ocorrência de 2.657 espécies de peixes ósseos, número atualizado para 3.261 (Lewinsohn & Prado, 2005). Buckup & Menezes (2003, apud Agostinho et al. 2005) apontam a ocorrência de 2.122 espécies, enquanto McAllister et al. (1997) estimam em 3.000 espécies de peixes de água doce exclusivas do país. Apesar de rico, esse patrimônio não está protegido e encontra-se ameaçado por vários fatores. A perda de hábitats, por exemplo, é considerada a principal causa de extinção de peixes de água doce no mundo (Dudgeon et al., 2006), seguida pela introdução de espécies exóticas (Miller et al., 1989; Moyle & Leidy, 1992) e sobreexplotação (Allan et al., 2005.). O ritmo de devastação de ambientes naturais é crescente e acompanha o crescimento da população humana. A ampliação da fronteira agrícola, crescimento da exploração mineral, implantação de projetos para geração de energia elétrica, projetos de irrigação, desmatamento, expansão urbana, descarga de efluentes domésticos e industriais, disposição inadequada de lixo, entre outros, são fatores que levam à deterioração da qualidade das águas e destruição de hábitats aquáticos. Considerando que as águas superficiais continentais representam apenas 0,8% da superfície terrestre e que esses ambientes comportam cerca de 40% da riqueza de peixes conhecida (Nelson, 1994), os ambientes de água doce merecem especial atenção em relação ao esforço de conservação. No Brasil, várias áreas são pouco conhecidas do ponto de vista da riqueza de fauna e possuem altas taxas de endemismos; o Complexo do Espinhaço é uma delas. Situada nos estados de Minas Gerais e Bahia, esta cadeia de montanhas é rica em ambientes aquáticos, cabeceiras de várias bacias hidrográficas e endemismos de espécies animais e vegetais. O difícil acesso a algumas regiões do Complexo do Espinhaço, somado ao interesse reduzido em explorar ambientes de cabeceira, contribuem para a ausência de conhecimento sobre a ictiofauna desta cadeia com características tão peculiares. Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

O presente trabalho tem o objetivo de realizar o levantamento das espécies de peixes atualmente conhecidas para a região do Espinhaço, detectando as lacunas de conhecimento, potenciais riscos para a sua conservação e necessidades de trabalhos futuros que garantam a preservação desse patrimônio, hoje pouco conhecido e ameaçado.

Material e Métodos Área de estudo O Complexo do Espinhaço é um conjunto de serras de aproximadamente 1.000km de extensão, localizado entre o quadrilátero ferrífero, na região centro-sul de Minas Gerais, e a Chapada Diamantina, na porção central da Bahia (Derby, 1906) (Figura 1). Possui orientação no sentido N-S com largura variável, e altitudes superiores a 1.000m, limitando-se à região de cabeceira das drenagens. A vegetação característica das altitudes mais elevadas é de campos rupestres, mas recebe também a influência de outros domínios, como a Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga na cadeia de montanhas, o que propiciou o estabelecimento de diversas fitofisionomias (Derby, 1906). A região é banhada por dois grandes gupos hidrográficos: a bacia do rio São Francisco e as bacias costeiras do Atlântico Leste Brasileiro. Na bacia do rio São Francisco, uma série de sub-bacias da margem direita acompanha toda sua vertente oeste. Nenhum trecho da sua calha principal corta o Complexo, sendo delegado esse papel apenas aos seus tributários. Na face leste do Espinhaço predominam as cabeceiras de cursos d’água das bacias do Leste Brasileiro como Doce, Jequitinhonha, Mucuri, Pardo, Contas, Paraguaçu e Itapicuru, onde nascem e percorrem um caminho mais curto em direção ao Oceano Atlântico. Formação do banco de dados O presente trabalho foi realizado com base na consulta de dados secundários disponíveis na literatura científica, informações contidas na consulta ampla realizada para o Workshop Diagnóstico do Status do Conhecimento da Biodiversidade e de sua Conservação na Cadeia do Espinhaço e na experiência dos autores em levantamentos ictiofaunísticos. Estas informações foram organizadas de acordo com a ocorrência das espécies de peixes, as coordenadas geográficas dos locais amostrados, as bacias hidrográficas, status de conservação e endemismo, para posterior análise do caráter de insubstituibilidade de espécies (Brooks et al., 2006). Essas informações fundamentaram a elaboração de


Alves, Leal, Brito & Santos |

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Figura 1 - Delimitação da área do Complexo do Espinhaço.

mapas, avaliação de áreas importantes para conservação e também de áreas carentes de informação e prioritárias para a realização de estudos. As espécies registradas fora dos limites estabelecidos, mas com mesma faixa de altitude de áreas contíguas ao Complexo do Espinhaço foram consideradas no presente levantamento. Outros taxa que foram identificados até o nível de gênero (p. ex., Gênero sp.), uma ou mais vezes (p. ex., sp.1, sp.2, sp.3 ou sp.A, sp.B, sp.C), ou por se tratar de espécie nova (sp.n), foram mantidas, porém com apenas uma citação. Essa foi uma medida conservadora, tendo em vista que pode haver mais de uma espécie englobada por apenas uma citação. Espécies com identificação incerta, citadas como cf. ou aff. (p. ex: Astyanax cf. scabripinnis e Astyanax aff. scabripinnis) foram ambas consideradas como cf. (Astyanax cf. scabripinnis).

Algumas espécies foram cadastradas no banco de dados sem coordenadas geográficas precisas, mas o registro veio associado a uma localidade ou município. Para essas espécies o local foi determinado como sendo o ponto mais próximo ao rio da localidade descrita. Embora o grupo dos Rivulidae seja expressivo em número de espécies ameaçadas de extinção, o mesmo não foi considerado no presente trabalho em função das informações pouco precisas a respeito da ocorrência das espécies, impossibilitando sua verificação dentro dos limites do Complexo do Espinhaço. A biologia altamente especializada destas espécies e sua ocorrência em áreas extremamente limitadas (ambientes aquáticos temporários) dificultam a determinação de áreas de distribuição precisas. Muitas destas espécies possuem ocorrência limitada à localidade-tipo. Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


180 | Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço

Resultados Riqueza de espécies de peixes No presente levantamento, foram registradas 162 espécies de peixes (Anexo 1), mesmo considerando que nos taxa identificados somente até o nível de gênero pode haver mais de uma espécie. As espécies estão distribuídas em seis ordens e 25 famílias, excetuando-se o pirá (Conorhynchos conirostris) cuja situação é insertae sedis na ordem Siluriformes. Deste total, 27 espécies são endêmicas e 14 exóticas às bacias hidrográficas que compõem o Complexo do Espinhaço (Anexo 2). As espécies listadas estão presentes nas bacias hidrográficas dos rios das Velhas, Paraopeba, Pardo, Doce, Paraguaçu e Jequitinhonha. A Figura 2 apresenta a distribuição espacial dos pontos de ocorrência destas espécies. Na Figura 3 são apresentadas fotografias de algumas espécies mencionadas no texto. À exceção do trabalho de Lütken (1875) no rio das Velhas, importante tributário do rio São Francisco, poucas bacias hidrográficas brasileiras possuem dados históricos que permitam comparar a situação no passado com a atual. Registros históricos são importantes para mostrar o comportamento de populações numa escala temporal (Sheldon, 1988). Assim como em outras regiões do Brasil (Menezes et al., 1990), o conhecimento pretérito da ictiofauna do Complexo do Espinhaço é deficiente. Os poucos registros acerca da diversidade são, em sua maioria, publicações isoladas com descrição de espécies coletadas em expedições científicas pontuais. Recentemente estudos foram conduzidos contemplando comunidades de peixes do Espinhaço (Alves & Pompeu, 2001; Santos, 2003; Santos, 2005; Vieira et al., 2005). A investigação científica de Alves & Pompeu (2001) é uma comparação histórica com os resultados de Lütken (1875). Foi registrado acréscimo no número de espécies, principalmente de pequeno porte, bem como extinções locais nos 150 anos que separam os dois trabalhos (Pompeu & Alves, 2003). Atualmente, inventários globais de biodiversidade (p. ex. All Catfish Species Inventory [Inventário de Todas as Espécies de Bagres]) têm apoiado estudos para ampliar o conhecimento e explorar regiões nunca amostradas ou pouco conhecidas. Os resultados obtidos mostram uma média de descrições de espécies de Siluriformes superior à média histórica (Ferraris-Jr. & Reis, 2005). As lacunas de conhecimento ainda persistem e são necessários trabalhos nestas regiões, não só para determinar a diversidade local, como também os processos a que estas comunidades estão submetidas. Os poucos levantamentos disponíveis estão ou próximos de grandes Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

centros ou associados a pontos isolados em função de projetos de licenciamento ambiental ou mesmo interesse particular. Em função do grande número de bacias isoladas do leste brasileiro que possuem cabeceiras no Espinhaço, há um grande potencial de novas descobertas, ampliação da área de distribuição e eliminação de lacunas geográficas no conhecimento da fauna de peixes da região. Lacunas de conhecimento Demonstrando a grande lacuna de conhecimento sobre os peixes do Complexo do Espinhaço e também o potencial da região para descoberta de novos taxa, somente no final do século passado e início do atual, 25 espécies novas de peixes foram descritas, algo próximo de 15% do total registrado para área de estudo, a saber: os Characiformes Astyanax turmalinensis Triques, Vono & Caiafa 2003, Hyphessobrycon negodagua Lima & Gerhard 2001, Kolpotocheirodon figueiredoi Malabarba, Lima & Weitzman 2004 Moenkhausia diamantina Benine, Castro & Santos 2007, Myxiops aphos Zanata & Akama 2004 e Salminus franciscanus Lima & Britski 2007, os Siluriformes: Aspidoras psammatides Britto, Lima & Santos 2006, Copionodon lianae Campanario & de Pinna, 2000, Copionodon orthiocarinatus de Pinna, 1992, Copionodon pecten de Pinna 1992, Glaphyropoma rodriquesi de Pinna 1992, Harttia garavelloi Oyakawa, 1993, Harttia leiopleura Oyakawa 1993, Harttia novalimensis Oyakawa 1993, Harttia novalimensis Oyakawa 1993, Harttia torrenticola Oyakawa 1993, Hypostomus chrysostiktos Birindelli, Zanata & Lima 2007, Kalyptodoras bahiensis Higuchi, Britski & Garavello 1990, Neoplecostomus franciscoensis Langeani 1990, Pareiorhaphis mutuca Oliveira & Oyakawa 1999, Pareiorhaphis stephanus Oliveira & Oyakawa 1999, Thrichomycterus landinga Triques & Vono 2004, Trichomycterus itacambirussu Triques & Vono 2004, Trichomycterus jequitinhonhae Triques & Vono 2004, Trichomycterus trefauti Wosiacki 2004 e da ordem Cyprinodontiformes Phalloceros uai Lucinda 2008. Ressalte-se que grande parte dos registros presentes na lista ao nível de gênero pode se tratar de espécies novas para a ciência, mais ainda não descritas formalmente. É interessante notar o predomínio de Siluriformes em relação aos Characiformes. Talvez isso se deva ao hábito críptico dessas espécies, que vivem no fundo de rios e riachos, sob pedras, troncos e folhas do substrato. Casatti (2005) credita o predomínio de Siluriformes em trechos superiores à presença de trechos de corredeiras com pouca profundidade e substrato pedregoso. Bizerril & Primo (2001) em bacias hidrográficas do estado do Rio de Janeiro


Alves, Leal, Brito & Santos |

também verificaram este mesmo padrão de domínio de Siluriformes em relação às demais ordens. Conservação da Ictiofauna (espécies ameaçadas, espécies endêmicas) Quatorze registros são mencionados em listas recentes de espécies ameaçadas de extinção, seja ao nível nacional (MMA, 2004) ou estadual (MG - comunicação pessoal Drummond) – Anexo 2. Pelo fato dos esforços para elaboração de listas de espécies ameaçadas serem relativamente recentes (excetuando-se casos isolados), e publicados em trabalhos acadêmicos ou em listas oficiais pelos estados ou nacional, ainda há uma carência de informações sobre biologia, ocorrência e distribuição, e também sobre alterações ao longo do tempo. Certamente as listas seriam maiores e teriam maior base técnica se houvesse um maior esforço para obtenção das informações básicas necessárias para avaliações mais precisas. Estudos realizados na Serra do Cipó por Vieira et al. (2005) mostram que o Parque Nacional da Serra do Cipó protege apenas 16 das 48 espécies registradas nas cabeceiras dos rios Cipó (bacia do rio São Francisco) e Santo Antônio (bacia do Rio Doce). As áreas de entorno do Parque concentram fauna rica e também diversificada (22 espécies), inclusive com ocorrência de espécie ameaçada de extinção (Pareiorhaphis mutuca). Se fossem adicionados os dados de Alves & Pompeu (2001), que recentemente também realizaram coletas imediatamente a jusante do Parque, essa disparidade seria ainda maior, com acréscimo de outras 8 espécies. Esse fato reforça a idéia de que as áreas protegidas brasileiras são baseadas na fisionomia da vegetação ou relacionadas com a ocorrência de fauna terrestre. Geralmente ocupam áreas de cabeceiras, que até possuem ictiofauna característica, mas pecam em não proteger áreas baixas das bacias, que concentram espécies de porte variado, migradoras ou não, mas que estão mais suscetíveis aos impactos da ocupação humana. Master (1990, apud Angermeier, 1995) estima que as taxas que colocam em risco as espécies dentro dos maiores grupos aquáticos, como peixes, caranguejos e moluscos, são de três a oito vezes maiores do que para aves e mamíferos. Há, portanto, a necessidade de levar em consideração a fauna aquática (peixes e outros grupos como bentos, zooplâncton e fitoplâncton) para a criação de reservas naturais com objetivos de conservação do patrimônio ambiental brasileiro. Em nível nacional, áreas prioritárias para conservação de peixes e/ou biota aquática, abrangem os limites do Complexo do Espinhaço. Trechos de cursos d’água são

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relacionados nas seguintes categorias: (1) extrema importância biológica (rio Jequitinhonha e alto rio Santo Antônio); (2) importância biológica muito alta (alto rio Paraguaçu); (3) importância biológica alta (médio rio Paraguaçu); e (4) insuficientemente conhecidas, mas de provável importância biológica (rios Itapicuru, Paraguaçu – em seu trecho em domínio de Mata Atlântica, Contas, Pardo e Jacuípe) (MMA, 2002). Das áreas consideradas prioritárias para conservação da ictiofauna no estado de Minas Gerais (Drummond et al, 2005), seis encontram-se parcial ou totalmente no Complexo do Espinhaço: alto rio Jequitinhonha, bacia do alto rio Pardo, bacia do rio Suaçuí Grande, tributários do rio das Velhas, rio Preto e região do alto rio Santo Antônio. O rio Santo Antônio, bacia do rio Doce, em particular, é um exemplo de descaso com a fauna aquática. Esta é a única sub-bacia na qual o andirá (Henochilus wheatlandii) tem ocorrência no mundo (Vieira et al, 2000; Vieira & Alves, 2001). O fato de figurar na lista de espécies ameaçadas de extinção, e a região ser considerada área de interesse especial para conservação no estado, não impedem que empreendimentos hidrelétricos sejam propostos. A construção e operação de barragens também é um problema nas demais áreas citadas que, apesar de possuírem elevada importância biológica, sofrem ameaças constantes devido à poluição, assoreamento, desmatamento, mineração e introdução de espécies exóticas (Drummond et al, 2005). Outra espécie sob forte ação antrópica é o cascudinho P. mutuca. Seus registros apontam para a área mais populosa do Complexo do Espinhaço que apresenta intensa exploração de jazidas minerais e recentemente muito valorizada comercialmente para expansão imobiliária. A indicação de áreas prioritárias para conservação é apenas o primeiro passo para a definição de medidas de proteção das espécies, que devem abranger diversos segmentos da sociedade. É necessário reunir esforços para eliminar ou reduzir os fatores de impacto ambiental, e sobretudo, investir em estudos de distribuição das espécies, preenchendo lacunas de conhecimento. Tais estudos fornecem as informações que atualmente servem de base para as medidas de conservação no Brasil. Em Minas Gerais, as ações de conservação da ictiofauna são muito modestas, restringindo-se à aplicação de multas por danos ambientais, interdição temporária da pesca e sua fiscalização (Drummond et al, 2005). Em geral as áreas oficialmente definidas como prioritárias para conservação não são consideradas nos processos de licenciamento de novos empreendimentos.

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Figura 2 - Distribuição espacial dos pontos de ocorrência das espécies.

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Figura 3 - Peixes endêmicos das bacias que compõem o Complexo do Espinhaço: (1) Henochilus wheatlandii, (2) Moenkhausia diamantina, (3) Brycon opalinus, (4) Characidium lagossantense, (5) Leporinnus thayeri, (6) Leporinus bahiensis, (7) Franciscodoras marmoratus, (8) Conorhynchos conirostris, (9) Hypostomus chrysostiktos, (10) Kalyptodoras bahiense, (11) Neoplecostomus franciscoensis, (12) Harttia novalimensis, (13) Pareiorhaphis mutuca.

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Impactos ambientais Contrastando com a falta de conhecimento, impactos existentes e potenciais ameaçam essa fauna, mesmo antes de ser suficientemente conhecida. Ao largo do Complexo do Espinhaço diversas regiões padeceram com a exploração de jazidas minerais (p. ex. ouro, diamante, minério de ferro), sendo uma prática ainda comum em várias regiões. Talvez seja este o primeiro grande impacto com ações diretas na fauna aquática. Atualmente, a expansão imobiliária, as queimadas, mineração, o represamento de rios, atividades agropecuárias e a introdução de espécies exóticas figuram entre as principais ameaças para as espécies de peixes do Espinhaço.

Conclusões As informações apresentadas permitem concluir que ainda são insuficientes os esforços realizados até o presente para caracterizar o potencial do Complexo do Espinhaço, apesar do número de registros obtido (162 espécies), tendo em vista as enormes lacunas e completa ausência de informações em certas áreas. A baixa riqueza de espécies dessas áreas pode ser atribuída à falta de estudos. O pouco que está publicado aborda a descrição de espécies novas e não estudos sobre o conjunto de espécies propriamente dito, ou sobre a sua biologia, distribuição, etc. Em alguns casos se conhece apenas a distribuição dos exemplares utilizados para a descrição da espécie. Há, também, um grande volume de dados levantados em estudos de impacto ambiental para licenciamento de empreendimentos que permanecem indisponíveis em relatórios técnicos. Para traçar medidas de conservação das espécies é necessária uma visão do sistema aquático, além de conhecer as peças envolvidas no processo (Sheldon, 1988). Investimentos no mapeamento da biodiversidade devem ser estimulados em função dos impactos cada vez mais frequentes e crescentes. Para espécies com distribuição geográfica restrita, a vulnerabilidade é maximizada pela ameaça de um simples evento catastrófico seja ele natural ou antrópico (Angermeier, 1995). Posteriormente, questões biogeográficas, relação espécie-área e conectividade do sistema passam a ocupar o foco do conhecimento. O conjunto de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção ainda não possui garantia de conservação em Unidades de Conservação formais do Espinhaço. Considerando-se o fato de que as medidas de conservação brasileiras fundamentam-se basicamente em

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informações sobre distribuição e ocorrência de espécies, fica clara a prioridade que deve ser atribuída aos estudos de inventário e descrição de espécies. A deficiência do conhecimento da ictiofauna do Complexo do Espinhaço torna-se uma relevante justificativa para se conservar uma região tão importante no Brasil, incentivando iniciativas que possam reverter o quadro atual. Recomendações Com base nos resultados dessa primeira avaliação sobre a fauna de peixes do Complexo do Espinhaço, recomenda-se: • Incentivo aos inventários nas áreas de lacuna de estudos e investigação sobre a biologia básica das espécies de peixes; • determinação dos principais impactos que atualmente ameaçam as espécies de peixes e implantação de medidas para eliminá-los ou, pelo menos, minimizá-los; • dar-se especial atenção para evitar a introdução de espécies exóticas de peixes, principalmente aquelas de maior porte, híbridos utilizados em piscicultura e espécies de hábito alimentar carnívoro; • exigência de cumprimento da legislação vigente no que concerne às áreas de preservação permanente (APP), principalmente nascentes, encostas de maior declividade, faixa de vegetação ciliar proporcionais à largura dos cursos d’água, etc.; • criação de Unidades de Conservação voltadas para a proteção da biota aquática, principalmente onde haja alta taxa de endemismos e/ou espécies ameaçadas de extinção, ou ainda nas áreas de alta insubstituibilidade decorrente das simulações com os dados disponíveis; • apoio às Unidades de Conservação existentes, com incentivo para os levantamentos biológicos, topográficos, hidrográficos, climáticos, etc., visando a elaboração dos respectivos Planos de Manejo; • apoio às medidas de controle, fiscalização e monitoramento de empreendimentos, cidades e atividades que possam trazer prejuízo à qualidade da água.

Agradecimentos Os autores expressam seus agradecimentos à Conservação Internacional, Instituto Biotrópicos e Fundação Biodiversitas, em especial ao agrônomo Cássio Soares Martins, pela confecção dos mapas apresentados no presente trabalho, e aos pesquisadores de várias instituições que participam da consulta ampla. Agradecem também aos biólogos Fábio Vieira pelo fornecimento


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de fotografias de Henochilus wheatlandii, Brycon opalinus e Leporinus thayeri, Marcelo Melo de Moenkhausia diamantina e Marcelo Britto de Aspidoras psammatides, apresentadas na Figura 3.

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Alves, Leal, Brito & Santos |

187

anexo 1 – Lista das espécies de peixes registradas no Complexo do Espinhaço.

Táxon

Nome Popular

Ordem Characiformes Família Parodontidae 1

Apareiodon ibitiensis Amaral Campos 1944

Canivete

2

Apareiodon itapicuruensis Eigenmann & Henn 1916

Canivete

3

Apareiodon piracicabae (Eigenmann 1907)

Canivete

4

Apareiodon sp.

Canivete

5

Parodon hilarii Reinhardt 1867

Canivete

Família Curimatidae 6

Cyphocharax gilbert (Quoy & Gaimard 1824) Sagüiru

7

Steindachnerina corumbae Pavanelli & Britski 1999 Sagüiru

8

Steindachnerina elegans (Steindachner 1875) Sagüiru

Família Prochilodontidae 9

Prochilodus costatus Valenciennes 1850

Curimatá-pioa

Família Anostomidae 10

Leporellus vittatus (Valenciennes 1850)

Piau-rola, Piancó

11

Leporinus amblyrhynchus Garavello & Britski 1987

Timburé

12

Leporinus bahiensis Steindachner 1875

13

Leporinus cf. thayeri Borodin 1929

14

Leporinus copelandii Steindachner 1875

Piau-vermelho

15

Leporinus crassilabris Borodin 1929

Piapara

16

Leporinus elongatus Valenciennes 1850

Piapara

17

Leporinus garmani Borodin 1919

18

Leporinus marcgravii Lütken 1875

Timburé

19

Leporinus mormyrops Steindachner 1875

Timburé

20

Leporinus obtusidens (Valenciennes 1837)

Piau-verdadeiro

21

Leporinus reinhardti Lütken 1875

Piau-três-pintas

22

Leporinus sp.

23

Leporinus steindachneri Eigenmann 1907

Piau-branco

24

Leporinus taeniatus Lütken 1875

Piau, Timburé

Família Crenuchidae 25

Characidium cf. timbuiense Travassos 1946

26

Characidium cf. zebra Eigenmann 1909

27

Characidium cf. bahiense Almeida 1971

28

Characidium fasciatum Reinhardt 1867

29

Characidium lagosantense Travassos, 1947

30

Characidium sp.

Família Characidae 31

Astyanax cf. scabripinnis (Jenyns 1842)

Lambari

32

Astyanax bimaculatus (Linnaeus 1758)

Lambari-do-rabo-amarelo continua...

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188 | Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço

...continuação do Anexo 1

Táxon

Nome Popular

33

Astyanax cf. taeniatus (Jenyns 1842)

Lambari

34

Astyanax eigenmanniorum (Cope 1894)

Lambari

35

Astyanax fasciatus (Cuvier 1819)

Lambari-do-rabo-vermelho

36

Astyanax sp.

Lambari

37

Astyanax turmalinensis Triques, Vono & Caiafa 2003

38

Brycon nattereri Günther 1864

Pirapitinga

39

Brycon opalinus (Cuvier 1819)

Piabanha

40

Brycon sp. n.

41

Bryconamericus stramineus Eigenmann 1908

42* Colossoma macropomum (Cuvier 1816)

Piaba Tambaqui

43

Compsura heterura Eigenmann 1915

Piaba

44

Deuterodon cf. pedri Eigenmann 1908

Lambari

45

Hasemania nana (Lütken 1875)

Piaba

46

Henochilus wheatlandii Garman 1890 Andirá

47

Hemigrammus marginatus Ellis 1911

Piaba Piaba

48

Hyphessobrycon cf. gracilis (Lütken 1875)

49

Hyphessobrycon negodagua Lima & Gerhard 2001

50

Hyphessobrycon sp.

51

Hysteronotus megalostomus Eigenmann 1911

52

Kolpotocheirodon figueiredoi Malabarba, Lima & Weitzman 2004

53

Moenkhausia diamantina Benine, Castro & Santos 2007

54

Myleus micans (Lütken 1875)

55

Myxiops aphos Zanata & Akama 2004

56

Oligosarcus argenteus Günther 1864

57

Oligosarcus macrolepis (Steindachner, 1876)

58

Oligosarcus sp.

Piaba

Pacu Lambari-bocarra

59

Phenacogaster franciscoensis Eigenmann 1911

Piaba

60

Piabina argentea Reinhardt 1867

Piaba

61

Tetragonopterus chalceus Spix & Agassiz 1829

Piaba-rapadura, Zoiúda

62

Triportheus guentheri (Garman 1890)

Piaba-rapadura

63

Salminus franciscanus Lima & Britski 2007 Dourado

64

Salminus hilarii Valenciennes 1850

Tabarana, Dourado-branco

65

Serrapinnus heterodon (Eigenmann 1915)

Piaba

66

Serrapinnus piaba (Lütken 1875)

Piaba

67

Serrasalmus brandtii Lütken 1875

Pirambeba

Família Acestrorhynchidae 68

Acestrorhynchus lacustris (Lütken 1875)

Peixe-cachorro

Família Erythrinidae 69

Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix & Agassiz 1829)

Jeju continua...

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Alves, Leal, Brito & Santos |

189

...continuação do Anexo 1

Táxon

Nome Popular

70* Hoplias cf. lacerdae Miranda Ribeiro 1908

Trairão

71

Traíra

Hoplias malabaricus (Bloch 1794)

Ordem Siluriformes Incertae Sedis 72

Conorhynchos conirostris (Valenciennes 1840)

Pirá

Família Aspredinidae 73

Bunocephalus sp.

Família Trichomycteridae 74

Copionodon lianae Campanario & de Pinna 2000

75

Copionodon orthiocarinatus de Pinna 1992

76

Copionodon pecten de Pinna 1992

77

Homodiaetus sp.

78

Ituglanis sp.

79

Glaphyropoma rodriquesi de Pinna 1992

Candiru

80

Stegophilus insidiosus Reinhardt 1859

Candiru

81

Trichomycterus cf. alternatus (Eigenmann 1917)

Cambeva

82

Trichomycterus cf. brasiliensis Lütken 1874

Cambeva

83

Trichomycterus cf. immaculatus (Eigenmann & Eigenmann 1889)

Cambeva

84

Trichomycterus itacambirussu Triques & Vono 2004

Cambeva

85

Trichomycterus jequitinhonhae Triques & Vono 2004

Cambeva

86

Trichomycterus landinga Triques & Vono 2004

Cambeva

87

Trichomycterus sp.

88

Trichomycterus trefauti Wosiacki 2004

Cambeva

89

Trichomycterus vermiculatus (Eigenmann 1917)

Cambeva

Família Callichthyidae 90

Aspidoras psammatides Britto, Lima & Santos 2005

91

Aspidoras sp.

92

Corydoras cf. garbei Ihering 1911

Família Loricariidae 93

Delturus brevis Reis & Pereira, 2006

94

Harttia garavelloi Oyakawa 1993

95

Harttia leiopleura Oyakawa 1993

96

Harttia novalimensis Oyakawa 1993

97

Harttia sp.

98

Harttia torrenticola Oyakawa 1993

99

Hemipsilichthys sp.

Cascudinho

100

Hisonotus sp.

Cascudinho

101

Hypostomus affinis (Steindachner 1877)

Cascudo

continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


190 | Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço

...continuação do Anexo 1

Táxon

Nome Popular

102

Hypostomus cf. commersonii Valenciennes 1836

Cascudo

103

Hypostomus chrysostiktos Birindelli, Zanata & Lima 2007

104

Hypostomus garmani (Regan 1904)

Cascudo

105

Hypostomus macrops (Eigenmann & Eigenmann 1888)

Cascudo Cascudo

106

Hypostomus margaritifer (Regan 1908)

107

Hypostomus sp.

108

Neoplecostomus franciscoensis Langeani 1990

109

Neoplecostomus sp.

110

Otocinclus sp.

111

Pareiorhaphis mutuca (Oliveira & Oyakawa 1999)

112

Pareiorhaphis stephanus (Oliveira & Oyakawa 1999)

113

Pareiorhina sp.

114

Parotocinclus bahiensis (Miranda-Riberio 1918)

115

Parotocinclus sp.

116

Rineloricaria sp.

Cascudinho

Cascudinho

Família Pseudopimelodidae 117

Cephalosilurus fowleri Haseman 1911

Bagre-sapo, pacamã

Família Heptapteridae 118

Cetopsorhamdia cf. iheringi Schubart & Gomes 1959

Bagrinho

119

Cetopsorhamdia sp.

120

Heptapteridae gen. n.

121

Heptapterus sp.

122

Imparfinis sp.

123

Imparfinnis minutus (Lütken 1875)

Mandizinho

124

Phenacorhamdia cf. somnians (Mees 1974)

Bagrinho

125

Pimelodella itapicuruensis Eigenmann 1917

126

Pimelodella lateristriga (Lichtenstein 1823)

127

Pimelodella sp.

Chorão

128

Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard 1824)

Bagre

129

Rhamdia jequitinhonha Silfvergrip, 1996

Bagre

Família Pimelodidae 130

Duopalatinus emarginatus (Valenciennes 1840)

Mandiaçu

131

Pimelodus fur (Lütken 1874)

Mandi-prata

132

Pimelodus maculatus Lacepède 1803

Mandi-amarelo

133

Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz 1829) Surubim

Família Doradidae 134

Franciscodoras marmoratus (Reinhardt, 1874)

Mandi-serrudo

135

Kalyptodoras bahiensis Higuchi, Britski & Garavello 1990

Peracuca

136

Wertheimeria maculata Steindachner 1877 Roncador continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Alves, Leal, Brito & Santos |

191

...continuação do Anexo 1

Táxon

Nome Popular

Família Auchenipteridae 137

Trachelyopterus galeatus (Linnaeus 1766)

138

Trachelyopterus sp.

Cangati

Família Clariidae 139* Clarias gariepinus (Burchell 1822)

Bagre-africano

Ordem Gymnotiformes Família Gymnotidae 140

Gymnotus cf. carapo Linnaeus 1758 Sarapó, Tuvira

141

Gymnotus sp. Sarapó

Família Sternopygidae 142

Eigenmannia cf. virescens (Valenciennes 1836)

Peixe-espada

143

Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider 1801) Sarapó

Família Apteronotidae 144

Apteronotus brasiliensis (Reinhardt 1852) Sarapó

Ordem Cyprinodontiformes Família Poeciliidae 145

Pamphorichthys hollandi (Henn 1916)

Barrigudinho

146

Phalloceros uai (Lucinda 2008)

Barrigudinho

147 * Poecilia reticulata Peters 1859 148

Poecilia sp.n.

149

Poecilia vivipara Bloch & Schneider 1801

Lebiste, Barrigudinho Barrigudinho

150* Xiphophorus hellerii Heckel 1848 Espadinha

Ordem Perciformes Família Cichlidae 151* Astronotus ocellatus (Agassiz 1831) Apaiari 152

Australoheros cf. facetus (Jenyns 1842)

Cará-preto

153

Cichlasoma sanctifranciscense Kullander 1983

Cará

154* Cichla cf. temensis

Tucunaré

155* Cichla sp. 156

Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard 1824)

Cará

157* Oreochromis sp.

Tilápia

158* Tilapia rendalli (Boulenger 1897)

Tilápia

159* Tilapia sp. Família Centrarchidae 160* Lepomis gibbosus (Linnaeus 1758)

Perca-do-sol

161* Micropterus salmoides (Lacepède 1802)

Black-bass

Ordem Cypriniformes Família Cyprinidae 162* Cyprinus carpio Linnaeus 1758

Carpa

* Espécies exóticas aos rios do Complexo do Espinhaço.

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


192 | Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço

Anexo 2 – Locais de ocorrência e características das espécies registradas na área do Complexo do Espinhaço.

Espécie

Localidade UC

END AM

SEL REF

Acestrorhynchus lacustris

Rio Cipó1

Apareiodon ibitiensis

Rio Cipó

Apareiodon itapicuruensis

Rio Itapicuru5

Apareiodon piracicabae

Rio Cipó1

1

x

x

19 1 23 1

3

26

Apteronotus brasiliensis

Rio Cipó1

19

Apareiodon sp. Rio Pardo Aspidoras psammatides

Rio Caldeirão , rio Paraguaçu

Aspidoras sp.

Córrego do Cabral6, ribeirão de Trás6

Astronotus ocellatus

Marimbus do rio Santo Antônio5

20

Astyanax bimaculatus Rio Cipó1, rio das Velhas1

1, 19

Astyanax cf. scabripinnis Afluentes do rio Santo Antônio4, rio Cipó1, córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6, córrego Laranjeiras6, córrego do Morro Redondo6, rio das Velhas1, rio Piabas5, córrego Prazeres4, rio Paraguaçu5

1, 7, 16, 19, 20, 22, 23, 24

Astyanax cf. taeniatus

5

5

x

x

Córrego Prazeres4

2 16

22

1

19

Astyanax fasciatus Córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6, córrego Laranjeiras6, córrego do Morro Redondo6, rio Cipó1

7, 16, 19

Astyanax sp. Córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6, córrego do Cabral6, ribeirão de Trás6, córrego Laranjeiras6, córrego do Morro Redondo6, ribeirão Cristais1, córrego Taquaras1, córrego Fechos1, rio Pardo3

7, 16, 25, 26

Astyanax eigenmanniorum Rio Cipó

Astyanax turmalinensis

Córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6

x

7

Australoheros cf. facetus Rio Cipó1, córrego Prazeres4

x

1, 22, 24

Brycon nattereri Rio Cipó1 Brycon opalinus Afluentes do rio Santo Antônio

4

TH-BR

x

TH-BR, CR

x

1 1

Brycon sp. n. Rio Pardo3

26

Bryconamericus stramineus Rio Cipó1

19

Bunocephalus sp. Rio Cipó1

19

1

19

Cetopsorhamdia cf. iheringi Rio Cipó1

1, 19

Cephalosilurus fowleri Rio Cipó Cetopsorhamdia sp.

Córrego Fechos1

Characidium cf. bahiense

Marimbus do rio Santo Antônio5

x

x

25 20

Characidium cf. timbuiense Afluentes do rio Santo Antônio4

1

Córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6, rio Cipó1, rio das Velhas1

7, 19

Characidium fasciatum Rio das Velhas1

19

Characidium cf. zebra

x

1, 19

Characidium sp. Córrego Laranjeiras6, córrego do Morro Redondo6, córrego do Cabral6, ribeirão de Trás6, rio Cipó1, rio Pardo3

1, 16, 19, 26

Characidium lagosantense Rio Cipó

1

Cichla cf. temensis

x

TH-BR

Marimbus do rio Santo Antônio5

Cichla sp. Aflluentes do rio Doce

4

20 24 continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Alves, Leal, Brito & Santos |

193

...continuação do Anexo 2

Espécie

Localidade UC

END AM

SEL REF

Cichlasoma sanctifranciscense

Marimbus do rio Santo Antônio5

20

4

Clarias gariepinus Aflluentes do rio Doce

24

Colossoma macropomum Aflluentes do rio Doce4

24

Compsura heterura Rio da Lajinha

DD

23

Conorhynchos conirostris Rio Paraguaçu5

VU

x

23

5

Copionodon lianae Rio Grisante5

x

x

5

Copionodon orthiocarinatus Rio Mucujê5

x

x

6

Copionodon pecten Rio Mucujê , rio Lençóis

x

x

6, 10

5

Corydoras cf. garbei

5

Marimbus do rio Santo Antônio

5

20

Cyphocharax gilbert Rio Cipó1, rio Pardo3

1, 19, 26

Cyprinus carpio Rio das Velhas1, aflluentes do rio Doce4

19, 24

Deuterodon cf. pedri

Afluentes do rio Santo Antônio4

DD

1

6

Delturus brevis Rio Araçuaí

27

Duopalatinus emarginatus Rio Cipó1

19

Eigenmannia cf. virescens Rio Cipó

1

Franciscodoras marmoratus

Geophagus brasiliensis Afluentes do rio Santo Antônio4, aflluentes do rio Doce4, rio Pardo3 Glaphyropoma rodriquesi Rio Mucujê5, rio Cumbuca5

1, 19

x

x

6, 20

Gymnotus cf. carapo Rio Cipó , afluentes do rio Santo Antônio , córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6, aflluentes do rio Doce4

1, 7,19, 24

1

x

1, 24, 26

4

Gymnotus sp. Aflluentes do rio Doce4

24

Harttia garavelloi Rio Araçuaí6, ribeirão das Pedras6

x DD

x

8, 17

Harttia leiopleura Ribeirão Mutuca1, rio Cipó1, rio das Velhas1

x VU

x

8, 19

Harttia novalimensis Rio Cipó1, ribeirão Mutuca1

x VU

x

1, 8

Harttia sp. Rio Cipó , córrego Caetezinho , ribeirão Cristais1

19, 25

1

1

Harttia torrenticola Afluentes do rio Paraopeba2

x VU

x

Hasemania nana Rio Cipó Hemigrammus marginatus

19

Marimbus do rio Santo Antônio5

20

Hemipsilichthys sp. Rio Ribeirão

5

Henochilus wheatlandii Rio Preto do Itambé4 Heptapteridae gen. n.

8

1

x

CR

x

20 14

Cavernas Poço Encantado, Lapa Doce, Canoa Quebrada

9

Heptapterus sp. Rio Caldeirão5

20

Hisonotus sp. Rio Cipó1

1

Homodiaetus sp. Rio Cipó1

1

Hoplerythrinus unitaeniatus

Marimbus do rio Santo Antônio

5

20

Hoplias cf. lacerdae Rio Cipó1, córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6, rio das Velhas1, rio Pardo3

1, 7, 19, 26

Hoplias malabaricus

Córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6, rio Cipó1, afluentes do rio Doce4, rio Pardo3

Hyphessobrycon cf. gracilis Rio Cipó1

7, 19, 24, 26 1 continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


194 | Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço

...continuação do Anexo 2

Espécie

Localidade UC

Hyphessobrycon negodagua Rio Pratinha5

END AM x

SEL REF x

3

1

25

Hypostomus affinis Afluentes do rio Santo Antônio4

1

Hyphessobrycon sp.

Córrego Caetezinho

1

19

Marimbus do rio Santo Antônio5

20

Hypostomus garmani Rio Cipó1

19

1

Hypostomus macrops Rio Cipó

19

Hypostomus margaritifer Rio Cipó1

19

Córrego Divisão , ribeirão do Gigante , córrego do Cabral6, ribeirão de Trás6, rio Cipó1, rio Pardo3

7, 16, 19, 26

Hysteronotus megalostomus Rio Cipó1

1, 19

Córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6

7

Hypostomus cf. commersonii Rio Cipó Hypostomus chrysostiktos

Hypostomus sp. Imparfinis sp.

6

6

1

1, 19

Ituglanis sp. Rio Utinga5

20

Imparfinnis minutus Rio Cipó

Kalyptodoras bahiensis Rio Paraguaçu

x

Kolpotocheirodon figueiredoi Rio Olaria5

x

5

TH-BR

x

23

x

4

4

Lepomis gibbosus Represa do Custódio , córrego Prazeres

13, 22, 24

Leporellus vittatus Rio Cipó1

19

4

Leporinus amblyrhynchus Rio Cipó

1

Leporinus bahiensis

Marimbus do rio Santo Antônio5

Leporinus cf. thayeri Afluentes do rio Santo Antônio4 Leporinus copelandii Afluentes do rio Santo Antônio Leporinus crassilabris

TH-BR, CR

20

x

1

4

Córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6

NT

19

x

x

Leporinus elongatus Rio Pardo3

1 7 26

Leporinus garmani Rio Pardo3

x

26

Leporinus marcgravii Rio Cipó1

x

19

Leporinus mormyrops Afluentes do rio Santo Antônio4

1, 19

Rio Cipó1

1, 19

Leporinus obtusidens Rio Cipó Leporinus reinhardti

1

1

Leporinus sp. Rio Cipó

1

Leporinus steindachneri Rio Pardo3

x

26 26

Leporinus taeniatus

Tareco5, rio Cipó1

18, 19

Micropterus salmoides

Córrego Prazeres4, Represa do Custódio4

22, 24

Moenkhausia diamantina

Marimbus do rio Santo Antônio5

20

Myleus micans Rio Cipó

1

x

1, 19

x

10

x Neoplecostomus franciscoensis Afluentes do rio Paraopeba , rio das VU Velhas1, ribeirão Mutuca1, córrego Fechos1, ribeirão Cristais1, córrego Caetezinho1

15, 17, 19, 21, 25

Myxiops aphos Rio Lençóis5 2

Neoplecostomus sp. Afluentes do rio Cipó1

1, 10

Oligosarcus argenteus Afluentes do rio Santo Antônio4, afluentes do rio Doce4

1, 24

Afluentes do rio Jequitinhonha6

28

Oligosarcus macrolepis

continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Alves, Leal, Brito & Santos |

195

...continuação do Anexo 2

Espécie

Localidade UC

END AM

SEL REF

Oligosarcus sp. Rio Pardo3

26

5

18

Otocinclus sp. Rio Cipó1

1, 19

Oreochromis sp. Vereda Pamphorichthys hollandi

Marimbus do rio Santo Antônio5

Pareiorhaphis mutuca Rio Cipó1, ribeirão Mutuca1

x

TH-BR, CR

Pareiorhaphis stephanus Ribeirão das Pedras6

x DD

x

20 1, 17, 19

x

17

Pareiorhina sp. Ribeirão Mutuca1, afluentes do rio Doce4, córrego Gambá2, ribeirão Cristais1

17, 24, 25

Parodon hilarii Rio Cipó1

19

5

23

Parotocinclus sp. Rio Cipó1, córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6, córrego Laranjeiras6, córrego do Morro Redondo6, rio Pardo3

1, 7, 16, 19, 26

Phalloceros uai Rio Cipó1

19

1

Phenacogaster franciscoensis Rio Cipó

19

Phenacorhamdia cf. somnians Rio Cipó1

19

Parotocinclus bahiensis Rio da Lajinha

Piabina argentea Rio Cipó

1

Pimelodella itapicuruensis Rio da Lajinha5

x

x

Pimelodella lateristriga Rio Cipó

1, 19 23

1

19

Pimelodella sp. Rio Pardo3

26

5

Pimelodus fur Rio Cipó , rio Itapicuru

19, 23

Pimelodus maculatus Rio Cipó1

1, 19

1

4

24, 25

Poecilia sp.n. Rio Utinga5

20

Poecilia reticulata

Córrego Fechos , Represa do Custódio 1

5

Poecilia vivipara Rio Paraguaçu

23

Prochilodus costatus Rio Cipó1, afluentes do rio Santo Antônio4

1, 19, 20

NT

19

Rio Araçuaí6

28

Rhamdia quelen Rio Cipó1, afluentes do rio Santo Antônio4, rio das Velhas1, córrego Taquaras1, rio Pardo3

1, 19, 25, 26

Pseudoplatystoma corruscans Rio Cipó1 Rhamdia jequitinhonha

Rineloricaria sp.

Rio Cipó1

1, 19

Salminus hilarii Rio Cipó1

1

1

1

Serrapinnus heterodon Rio Cipó1

1, 19

Salminus franciscanus Rio Cipó

Serrapinnus piaba Rio Cipó1

1

Marimbus do rio Santo Antônio5

20

Stegophilus insidiosus Rio Cipó1

19

Steindachnerina corumbae Rio Cipó1

19

Steindachnerina elegans Rio Cipó1

19

Serrasalmus brandtii

1

1, 19

Marimbus do rio Santo Antônio5

20

Tilapia rendalli Rio Cipó , córrego Prazeres , aflluentes do rio Doce4

19, 22, 24

Sternopygus macrurus Rio Cipó Tetragonopterus chalceus

1

4

continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


196 | Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço

...continuação do Anexo 2

Espécie

Localidade UC

END AM

SEL REF

Tilapia sp. Vereda, ribeirão Cristais1

18, 25

Trachelyopterus galeatus

5

Marimbus do rio Santo Antônio

20

Trachelyopterus sp.

Córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6

7

Trichomycterus cf. alternatus Afluentes do rio Santo Antônio , córrego Moquém6, córrego Prazeres4, ribeirão Tripuí4, aflluentes do rio Doce4

1, 16, 22, 24

Trichomycterus cf. brasiliensis Rio Cipó1, córrego Prazeres4, aflluentes do rio Doce4

1, 22, 24

Trichomycterus cf. immaculatus Afluentes do rio Santo Antônio4, córrego Prazeres4, aflluentes do rio Doce4

1, 22, 24

4

Trichomycterus itacambirussu

Córrego do Cabral6, ribeirão de Trás6

x

x

16

Trichomycterus jequitinhonhae

Córrego Laranjeiras6, córrego do Morro Redondo6

x

x

16

Trichomycterus landinga

Córrego Moquém6

x

x

16

Trichomycterus sp.

Córrego Divisão6, ribeirão do Gigante6, córrego Gambá2, ribeirão Mutuca1, córrego Fechos1, ribeirão Cristais1, córrego Caetezinho1

7, 17, 25

Trichomycterus trefauti Riacho Andrequicé1

x

x

11

Trichomycterus vermiculatus Aflluentes do rio Doce4

24

Triportheus guentheri

20

Marimbus do rio Santo Antônio5

Wertheimeria maculata Rio Pardo

3

x

Xiphophorus hellerii Aflluentes do rio Doce4 Localidade - Bacias hidrográficas: Velhas1, Paraopeba2, Pardo3, Doce4, Paraguaçu5, Jequitinhonha6 UC = Ocorrência em Unidade de Conservação; END = Espécie endêmica; AM = Categoria de ameaça (TH-BR = ameaçada – Lista do Ibama; VU = vulnerável, CR = criticamente ameaçada, NT = quase ameaçada e DD = dados deficientes – com. pess. Gláucia Drummond); SEL = Espécies selecionadas para análises e simulações;

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

26 24

REF = Referências de onde foram retiradas as informações: 1 – Vieira et al. (2005) 2 – Britto et al. (2005) 3 – Lima & Gerhard (2001) 4 – Malabarba et al. (2004) 5 – Campanario & de Pinna (2000) 6 – de Pinna (1992) 7 – Triques et al. (2003) 8 – Oyakawa (1993) 9 – Trajano et al. (2005) 10 – Zanata & Akama (2004) 11 – Wosiacki et al. (2004) 12 – Castro et al. (2004) 13 – Magalhães & Silveira (2001) 14 – Vieira et al. (2000) 15 – Langeani (1990)

16 – Triques & Vono (2004) 17 – Oliveira & Oyakawa (1999) 18 – Santos (2005) 19 – Alves & Pompeu (2001) 20 – Santos (2003) 21 – Neodat (1999) 22 – Vieira, Pompeu & Corrêa (com. pess.) 23 – Santos (com. pess.) 24 – Magalhães (com. pess.) 25 – Nogueira & Pereira (com. pess.) 26 – Nogueira & Brito (com. pess.) 27 – Reis et al. (2006) 28 – Reis et al. (2003) 29 – Benine et al. (2007) 30 – Birindelli et al. (2007)


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As aves dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço: diversidade, endemismo e conservação Marcelo Ferreira de Vasconcelos1* Leonardo Esteves Lopes1 Caio Graco Machado2 Marcos Rodrigues3 Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. 2 Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil. 3 Departamento de Zoologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. * e-mail: mfvasconcelos@gmail.com 1

Resumo Este artigo apresenta um breve histórico dos estudos ornitológicos conduzidos na região da Cadeia do Espinhaço, abordando a diversidade, o endemismo e a conservação de suas aves. A avifauna da Cadeia do Espinhaço foi primeiramente amostrada pelos naturalistas europeus no século XIX, sendo várias as instituições que abrigam espécimes. Mais recentemente, destacam-se estudos conduzidos nos campos rupestres sobre distribuição geográfica de diversas espécies, levantamentos regionais, taxonomia, biologia reprodutiva, comportamento e interação entre aves e plantas. A maior parte das espécies registradas nos campos rupestres da região possui ampla distribuição geográfica. Ocorrem também espécies típicas da Mata Atlântica e do Cerrado. Apenas quatro espécies (Augastes lumachella, A. scutatus, Asthenes luizae e Formicivora grantsaui) podem ser consideradas endêmicas da Cadeia do Espinhaço. Toda a Cadeia do Espinhaço pode ser considerada como uma área de endemismo de aves. Duas sub-áreas de endemismo também podem ser reconhecidas: as porções centro-meridional (abrigando A. scutatus e A. luizae) e setentrional do Espinhaço (A. lumachella e F. grantsaui). Os campos rupestres abrigam espécies ameaçadas, quase ameaçadas de extinção e pouco conhecidas. Entretanto, estes campos vêm sofrendo diversos impactos ambientais que afetam direta ou indiretamente sua avifauna. Dentre eles, destacam-se a mineração, a expansão urbana, o turismo descontrolado, a criação de gado e as queimadas. Levantamentos documentados ainda mostram-se extremamente necessários nesta região, com a possibilidade de serem encontrados novos táxons. A partir destes levantamentos e de estudos sobre a biologia das diversas espécies, será possível elaborar planos de manejo para a conservação da avifauna e de seus hábitats.

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ABSTRACT We present a review of ornithological studies carried out at Espinhaço Range, its bird diversity, endemism and conservation status. The birds of Espinhaço Range were surveyed by XIX century naturalists, and a handful of scientific museums harbor several specimens. Recently, many studies were conducted on geographic distribution, regional surveys, taxonomy, breeding biology, behavior and bird-plant interactions. Most of the bird species that occurs in the ‘campos rupestres’ (rocky fields) are widely distributed. Also, there are species of the Atlantic Forest of eastern Brazil and from the Cerrado region of central South America. Only four species can be considered truly endemics: the hummingbirds Augastes lumachella and A. scutatus, the ovenbird Asthenes luizae and the antwren Formicivora grantsaui. Considering that an endemic area is represented by the occurrence of at least two endemic taxa, the whole Espinhaço Range can be assigned as an ‘endemic bird area’. Two sub-areas of endemism can also be recognized for birds: the southern-central (with A. scutatus and A. luizae) and the northern portions of the Espinhaço Range (A. lumachella and F. grantsaui). The rocky fields hold threatened, near-threatened, and poorly known species. These fields nevertheless have been suffering significant environmental pressures such as mining, urban expansion, uncontrolled tourism, cattle growing and human-induced burns. The region still needs documented bird surveys, since new taxa can be found yet. These surveys, allied to studies of basic biology of the species will form a database for future management plans and conservation for the region.

Introdução Os campos rupestres da Cadeia do Espinhaço são reconhecidos como um importante centro de endemismo e de diversidade vegetal (Menezes & Giulietti, 1986; 2000; Giulietti & Pirani, 1988; Harley, 1995; Eiten, 1992; Alves & Kolbek, 1994; Giulietti et al., 1997; Gottsberger & Silberbauer-Gottsberger, 2006; Jacobi et al., 2007). Apesar de esta região ser considerada como área de endemismo de aves (Stattersfield et al., 1998) e uma sub-área de endemismo da avifauna no Cerrado (Silva, 1997; Silva & Bates, 2002), poucos foram os estudos conduzidos sobre as aves da Cadeia do Espinhaço. Assim, os objetivos deste artigo são apresentar um breve histórico dos estudos ornitológicos realizados na região, além de comentar sobre a diversidade, o endemismo e a conservação de suas aves.

Breve histórico das explorações e estudos ornitológicos conduzidos nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço

A avifauna da Cadeia do Espinhaço foi primeiramente amostrada pelos naturalistas europeus no século XIX. Dentre eles, destacam-se G.H. von Langsdorff, J.B. von Spix, Maximilian Prinz zu Wied-Neuwied, F. Sellow, E. Ménétriès, P.W. Lund e J.T. Reinhardt, que reuniram importantes coleções de aves provenientes Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

de diversas regiões do Espinhaço e áreas adjacentes (Wied-Neuwied, 1830-1832; Reinhardt, 1870; Pinto, 1950; 1952; Spix, 1825; Spix & Martius, 1981a; b; Silva, 1997). No início do século XX, a região foi visitada por ornitólogos e naturalistas-colecionadores como E. Gounelle, J.B. Godoy, J.P. Fonseca, E. Snethlage e E. Kaempfer, que amostraram algumas áreas da Cadeia do Espinhaço (Gounelle, 1909; Naumburg, 1935; Pinto, 1952; Sick, 1997). A partir do material coletado por E. Kaempfer nos campos rupestres do setor setentrional da Cadeia do Espinhaço (Morro do Chapéu), o naturalista A. Ruschi iniciou uma série de expedições pela região, na busca por beija-flores endêmicos, o que resultou na descrição de novos táxons (Ruschi, 1962a; b; 1963a; b; c; 1975), seguido por R. Grantsau (Grantsau, 1967; 1968; 1988), com interesse semelhante. A Tabela 1 apresenta as instituições que abrigam espécimes de aves provenientes da Cadeia do Espinhaço e os seus respectivos coletores, baseando-se em uma revisão histórica e bibliográfica (Gounelle, 1909; Naumburg, 1935; Ruschi, 1951; Pinto, 1952; Vielliard, 1994; Sick, 1997; Parrini et al., 1999; Melo-Júnior et al., 2001; Vasconcelos & Melo-Júnior, 2001; Straube & Machado, 2002; Roselaar, 2003; Pacheco, 2004; Raposo et al., 2006; Vasconcelos et al., 2006; SpeciesLink, 2006), além de uma análise dos relatos de viagens de naturalistas (Saint-Hilaire, 1975; Spix & Martius, 1981a; b; Silva, 1997; Gomes et al., 2006) e de checagem de espécimes nos seguintes museus e coleções ornitológicas:


Vasconcelos, Lopes, Machado & Rodrigues |

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TABELA 1 – Instituições que abrigam espécimes de aves coletados nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço e áreas adjacentes e seus respectivos coletores.

Instituição

Cidade

País

Coletores

MZUSP São Paulo Brasil E. Gounelle, J.B. Godoy, J.P. Fonseca, E. Dente, R. Grantsau, W. Loehken, F. Lencioni-Neto, L.F. Silveira, M.F. Vasconcelos, M.R. Bornschein, R.B. Lopes, M.O.G. Lopes, L.P. Gonzaga, A.M.P. Carvalhaes MNRJ Rio de Janeiro Brasil E. Snethlage, A. Ruschi, F.M. Oliveira, D.M. Teixeira, G.T. Mattos, M.A. Raposo, C.R.M. Abreu, L.P. Gonzaga, A.M.P. Carvalhaes MPEG

Belém

Brasil R. Grantsau, J.M.C. Silva, L.P. Gonzaga, A.M.P. Carvalhaes

DZUFMG Belo Horizonte Brasil G.T. Mattos, N.E.D. Carnevalli, J. Jacintho, E. Dente, M.F. Vasconcelos, S. D’Angelo Neto, L.E. Lopes, M. Rodrigues, H.B. Gomes, M.Â. Marini, L. Carrara, L.M. Costa, M.R. Bornschein, R.B. Lopes UNICAMP Campinas Brasil I. Sazima, J. Vielliard, M. Sazima, A. Correa Filho, O. Froehlich, O.C. Oliveira, J.P. Pombal Júnior, L.O.M. Machado UFPE Recife

Brasil

MBML Santa Teresa

Brasil A. Ruschi

M.F. Vasconcelos

MCP

Porto Alegre

Brasil

M.F. Vasconcelos, G.N. Maurício

MCN

Belo Horizonte

Brasil

B. Garzon, M.V.G. Andrade, G.B. Maheca

MHNT

Taubaté

Brasil

L.F. Silveira, M.F. Vasconcelos

SG São Bernardo do Campo

Brasil R. Grantsau, W. Loehken

UFRJ Rio de Janeiro

Brasil

L.P. Gonzaga, A.M.P. Carvalhaes

MZUEFS

Brasil

C.G. Machado, C.E.C. Nunes

Feira de Santana

AMNH Nova York Estados Unidos Maximilian Prinz zu Wied-Neuwied, E. Gounelle, E. Kaempfer, A. Ruschi, R. Grantsau ZMB

Berlim Alemanha G.H. von Langsdorff, F. Sellow

ZSM

Munique Alemanha

J.B. von Spix

NKMBA

Bamberg Alemanha

J.B. von Spix

UMB

Bremen Alemanha

Maximilian Prinz zu Wied-Neuwied

LMJ Graz

Áustria

J.B. von Spix

NMW Viena

Áustria

F. Sellow

ZMUC

Copenhagen Dinamarca

MNHN

Paris

P.W. Lund, J.T. Reinhardt, E. Warming

BMNH

Tring Inglaterra R.A. Becker, E. Snethlage

França A.F.C. Saint-Hilaire, E. Gounelle

ZISP São Petersburgo Rússia G.H. von Langsdorff, E. Ménétriès, J. Riedel ZMMU

Moscou Rússia G.H. von Langsdorff

Acrônimos das instituições: AMNH = American Museum of Natural History; BMNH = The Natural History Museum; DZUFMG = Coleção Ornitológica do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais; LMJ = Steiermärkisches Landesmuseum Joanneum; MBML = Museu de Biologia Prof. Mello Leitão; MCN = Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; MCP = Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; MHNT = Museu de História Natural de Taubaté; MNHN = Muséum National d’Histoire Naturelle; MNRJ = Museu Nacional do Rio de Janeiro; MPEG = Museu Paraense Emílio Goeldi; MZUEFS = Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Feira de Santana;

MZUSP = Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo; NKMBA = Naturkunde-Museum Bamberg; NMW = Naturshistorisches Museum; SG = Coleção Rolf Grantsau; UFPE = Coleção Ornitológica do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco; UFRJ = Coleção Ornitológica do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; UMB = Überseemuseum; UNICAMP = Coleção Ornitológica do Departamento de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas; ZISP = Zoologicheskii Institut St. Petersburg; ZMB = Museum für Naturkinde; ZMMU = Zoological Museum Moscow; ZMUC = Zoologisk Museum University of Copenhagen; ZSM = Zoologische Staatssammlung.

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American Museum of Natural History (AMNH), Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Coleção Ornitológica do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (DZUFMG), Coleção Ornitológica do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (MBML), Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (MZUEFS), Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (MCP), Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (MCN), Museu de História Natural de Taubaté (MHNT) e Coleção Rolf Grantsau (SG). Entretanto, grande parte do material ornitológico coletado no século XIX e enviado à Europa não possui dados confiáveis ou precisos em suas etiquetas (Pinto, 1952; Pacheco, 2001; 2004; Vasconcelos et al., 2006) e muitos espécimes foram perdidos ao longo dos anos, principalmente durante guerras (K.–L. Schuchmann, com. pess.). Assim, ainda é necessária uma checagem detalhada desse material em diversos museus ao redor do mundo para um maior conhecimento da avifauna dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço. Mais recentemente, destacam-se estudos conduzidos nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço sobre distribuição geográfica de diversas espécies (Carnevalli 1982; Mattos & Sick, 1985; Ribeiro, 1997; Andrade et al., 1998; Cordeiro et al., 1998; R.B. Machado et al., 1998; Melo-Júnior et al., 1998; Vasconcelos, 1999a; 2000a; 2001c; 2002; Vasconcelos et al., 1999b; 2002; 2003a; 2006), levantamentos regionais (Carnevalli, 1980; Willis & Oniki, 1991; Andrade, 1998; Vasconcelos & Brandt, 1998; Parrini et al., 1999; Carvalhaes, 2001a; b; Melo-Júnior et al., 2001; Vasconcelos 2001a; b; 2007, Vasconcelos & Melo-Júnior, 2001; Vasconcelos et al., 2003b; Machado, 2005; 2006; Gomes & Guerra, 2006; Carvalhaes & Machado, 2007; Vasconcelos & D’Angelo Neto, 2007), taxonomia (Vielliard, 1990; 1994; LencioniNeto, 1996; Brammer, 2002; Vasconcelos & Silva, 2003; Abreu, 2006; Raposo et al., 2006; Gonzaga et al., 2007), biogeografia (Vielliard, 1983; Silva, 1995a; Vasconcelos, 2001a; Silva & Bates, 2002); biologia reprodutiva (Studer & Teixeira, 1993; Vasconcelos & Lombardi, 1996; Vasconcelos & Ferreira, 2001; Vasconcelos et al., 2001; Machado et al., 2003b; Costa & Rodrigues, 2006a; 2007; Gomes, 2006; Hoffmann, 2006; Hoffmann & Rodrigues, 2006a; b), comportamento (Pearman, 1990; Vasconcelos et al., 1998; 1999a; Almeida & Raposo, 1999; Ribeiro et al., 2002; Machado et al., 2003a; Hoffmann & Rodrigues,

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2005; 2006c; Alves et al., 2006; 2007; Costa & Rodrigues, 2006b; Domingues & Rodrigues, 2006; Gomes, 2006; Gomes & Rodrigues, 2006b; Guerra et al., 2006; Hoffmann, 2006; Ribon et al., 2006; Hoffmann et al., 2007; Vasconcelos et al., 2007), interação entre aves e plantas (Sazima, 1977; Sazima & Sazima, 1990; Vasconcelos & Lombardi 1999; 2001; Romão et al., 2001; Coelho & Machado, 2003; Faustino & Machado, 2003; 2006; Faustino et al., 2003; Machado, 2003; Santana & Machado, 2003; 2006; Guerra, 2005; Coelho et al., 2006; Colaço et al., 2006; Guerra & Alves, 2006; Machado et al., 2006; 2007a; b; c; Bastos & Machado, no prelo) e conservação (Vasconcelos, 1999a; 2000b; Silva, 1997; 1998; Silva & Bates, 2002; Gomes & Rodrigues, 2006a).

Diversidade da avifauna dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço Um estudo da avifauna dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço, baseado em amostragens conduzidas em oito serras distintas, levantou 108 espécies (Vasconcelos, 2001a). Este número é relativamente baixo se o compararmos com levantamentos conduzidos em outros tipos de hábitats, a exemplo de localidades da Amazônia e da Mata Atlântica. Entretanto, este número está subestimado, já que várias localidades da Cadeia do Espinhaço foram pouco ou nunca amostradas por ornitólogos (Vasconcelos, 2001a). A maior parte das espécies registradas nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço possui ampla distribuição geográfica (Vasconcelos, 2001a). Algumas espécies de aves endêmicas da região da Mata Atlântica (Brooks et al., 1999) ocorrem em certas localidades de campos rupestres da porção meridional da Cadeia do Espinhaço. Exemplos são: a borralharaassobiadora Mackenziaena leachii (Such, 1825), a tesoura-cinzenta Muscipipra vetula (Lichtenstein, 1823) e a saíra-lagarta Tangara desmaresti (Vieillot, 1819). Além disso, a garrincha-chorona Oreophylax moreirae (MirandaRibeiro, 1906), espécie anteriormente considerada endêmica dos campos de altitude das altas montanhas litorâneas (Miranda-Ribeiro, 1906; 1923; Peixoto-Velho, 1923; Holt, 1928; Sick, 1970; 1985; 1997), foi recentemente encontrada nos picos mais elevados da Serra do Caraça, no Espinhaço meridional (Melo-Júnior et al., 1998; Vasconcelos, 2000b; Vasconcelos & Melo-Júnior, 2001; Vasconcelos et al., 2007). A ocorrência destas espécies Atlânticas na porção sul da Cadeia do Espinhaço pode ser explicada pela proximidade geográfica desta região com as serras da Mantiqueira e do Caparaó.


Vasconcelos, Lopes, Machado & Rodrigues |

Já na porção baiana do Espinhaço, na Chapada Diamantina, a presença de espécies de aves típicas de Mata Atlântica pode ser explicada por um antigo corredor contínuo de vegetação, hoje inexistente, ao longo dos rios Paraguaçu e de Contas, que conectava as matas litorâneas às interioranas (Machado, 2005). As espécies: beija-flor-de-gravata-verde Augastes scutatus (Temminck, 1824), lenheiro-da-serra-do-cipó Asthenes luizae Vielliard, 1990, tapaculo-de-colarinho Melanopareia torquata (Wied, 1831), gralha-do-campo Cyanocorax cristatellus (Temminck, 1823), bico-depimenta Saltator atricollis Vieillot, 1817, campainha-azul Porphyrospiza caerulescens (Wied, 1830) e capacetinhodo-oco-do-pau Poospiza cinerea Bonaparte, 1850, registradas nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Vasconcelos, 2001a; Costa & Rodrigues, 2006b; Gomes & Guerra, 2006; Guerra et al., 2006), são consideradas endêmicas do Cerrado (conforme Silva, 1995a; b; 1997; Silva & Bates, 2002). O papa-moscas-de-costas-cinzentas Polystictus superciliaris (Wied, 1831) e o rabo-mole-daserra Embernagra longicauda Strickland, 1844, anteriormente consideradas espécies endêmicas do Cerrado (Silva 1995a; b; 1997; Silva & Bates, 2002), também ocorrem nos campos de altitude da região da Mata Atlântica (ver abaixo a discussão sobre os endemismos dos campos rupestres).

A Cadeia do Espinhaço de aves – uma revisão

como área de endemismo

J.M.C. Silva (1997, 1998), seguido por Silva & Bates (2002), foram os primeiros a considerar os campos rupestres da Cadeia do Espinhaço como uma área de endemismo de aves (‘Espinhaço Plateau’) sem, entretanto, delimitar quais seriam seus limites precisos ao norte e ao sul. É importante salientar que a área de estudo destes autores foi restrita a porção centro-meridional da Cadeia do Espinhaço (Figura 1), localizada na região ‘core’ do Cerrado (conforme Ab’Sáber, 1977). Estes autores consideraram as espécies Augastes scutatus, Asthenes luizae, Polystictus superciliaris e Embernagra longicauda como restritas a esta região. Posteriormente, Stattersfield et al. (1998) consideraram toda a Cadeia do Espinhaço (Figura 1) como uma área de endemismo (‘Central Brazilian hills and tablelands’, código EBA073), adicionando o beijaflor-de-gravata-vermelha Augastes lumachella (Lesson, 1838), restrita à porção setentrional do Espinhaço, não analisada por Silva (1995a, 1997) e Silva & Bates (2002). Polystictus superciliaris, apesar de citado por

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Stattersfield et al. (1998) para a Cadeia do Espinhaço, é mencionado como ocorrendo também em outra área de endemismo representada pelas montanhas costeiras do Brasil (‘Atlantic forest mountains’, código EBA076). Causa estranheza o reconhecimento por Silva (1995a, 1997) e Silva & Bates (2002) das espécies Polystictus superciliaris e Embernagra longicauda como endêmicas da porção centro-meridional da Cadeia do Espinhaço, pois as mesmas já eram conhecidas como atingindo a porção setentrional deste sistema orográfico (Zimmer, 1955; O’Brien, 1968; Mattos & Sick, 1985; Sick, 1997; Parrini et al., 1999), fora da área de estudo delimitada pelos referidos autores (Figuras 1, 2 e 3). Os critérios adotados por Silva (1995a, b, 1997) e Silva & Bates (2002) só foram explicitados recentemente em Silva & Santos (2005). De acordo com esta recente publicação, os dois critérios utilizados para se considerar uma dada espécie como endêmica do Cerrado são: 1) o grau de sobreposição entre a distribuição geográfica conhecida da espécie e a região nuclear do domínio morfoclimático do Cerrado deve ser no mínimo de 95% e 2) populações isoladas em manchas de savana inseridas em outros biomas não podem distar mais de 430 km em relação à borda do Cerrado. Essa distância corresponderia à “largura máxima da zona de transição entre o domínio do Cerrado e os domínios da Amazônia e Floresta Atlântica”. Silva & Santos (2005), exemplificando a aplicação dos critérios adotados, citam a ocorrência de Polystictus superciliaris em ilhas de vegetação aberta situadas na Serra da Mantiqueira, alegando que estas populações estariam a menos de 430 km das bordas do Cerrado e que, portanto, a espécie deva ser considerada endêmica do Cerrado. De fato, as “ilhas de vegetação aberta na Mantiqueira” são recobertas por campos de altitude, estando situadas a pouco mais de 200 km ao sul dos limites do Cerrado. Entretanto Silva & Santos (2005) omitem a bem conhecida ocorrência de Polystictus superciliaris e Embernagra longicauda na região do Morro do Chapéu (Zimmer, 1955; O’Brien, 1968; Mattos & Sick, 1985; Sick, 1997), na porção setentrional da Cadeia do Espinhaço, em distâncias superiores a 500km da borda da área “core” do Cerrado delimitada por Ab’Sáber (1977) e utilizada nas análises de Silva (1995a, b). Portanto, Polystictus superciliaris e Embernagra longicauda não atendem às exigências para serem consideradas endêmicas do Cerrado. Uma vez que estas espécies também ocorrem nos campos de altitude das serras do Mar, da Mantiqueira, do Caparaó e nos campos rupestres da Serra da Canastra (Ridgely & Tudor, 1994; Sick, 1997; R.B. Machado et al., 1998;

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FIGURA 1 – Áreas de endemismo reconhecidas para a avifauna dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço. Tracejado: Cadeia do Espinhaço, conforme Stattersfield et al. (1998). Pontilhado: porção centro-meridional, conforme Silva (1997), Silva & Bates (2002) e o presente estudo. Linha-contínua: porção setentrional, conforme o presente estudo. As áreas acima de 1.000 m estão em cinza-escuro na Cadeia do Espinhaço e em cinzaclaro em outras montanhas.

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FIGURA 2 – Localidades de ocorrência do papa-moscas-de-costas-cinzentas Polystictus superciliaris (Wied, 1831). As áreas acima de 1.000 m estão em cinza-escuro na Cadeia do Espinhaço e em cinza-claro em outras montanhas.

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FIGURA 3 – Localidades de ocorrência do rabo-mole-da-serra Embernagra longicauda Strickland, 1844. As áreas acima de 1.000 m estão em cinza-escuro na Cadeia do Espinhaço e em cinza-claro em outras montanhas.

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FIGURA 4 – Localidades de ocorrência do beija-flor-de-gravata-vermelha Augastes lumachella (Lesson, 1838). As áreas acima de 1.000 m estão em cinza-escuro na Cadeia do Espinhaço e em cinza-claro em outras montanhas.

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FIGURA 5 – Localidades de ocorrência do beija-flor-de-gravata-verde Augastes scutatus (Temminck, 1824). As áreas acima de 1.000 m estão em cinza-escuro na Cadeia do Espinhaço e em cinza-claro em outras montanhas.

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FIGURA 6 – Localidades de ocorrência do lenheiro-da-serra-do-cipó Asthenes luizae Vielliard, 1990. As áreas acima de 1.000 m estão em cinza-escuro na Cadeia do Espinhaço e em cinza-claro em outras montanhas.

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FIGURA 7 – Localidades de ocorrência do papa-formigas-do-Sincorá Formicivora grantsaui Gonzaga, Carvalhaes & Buzzetti, 2007. As áreas acima de 1.000 m estão em cinza-escuro na Cadeia do Espinhaço e em cinza-claro em outras montanhas.

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Silveira, 1998; Vasconcelos, 1999a; b; 2003; Vasconcelos et al., 2003a), este estudo seguirá a recomendação de Vasconcelos (2001a) e Vasconcelos et al. (2003a) de considerá-las como endêmicas dos topos de montanha do Sudeste do Brasil. Em recente estudo taxonômico, Raposo et al. (2006) consideraram o tapaculo Scytalopus speluncae (Ménétriès, 1835) como uma espécie endêmica da Cadeia do Espinhaço. Estes autores alertaram para o correto uso do nome S. speluncae, que até recentemente vinha sendo empregado para nomear uma outra espécie do gênero, que foi então denominada S. notorius. Segundo Raposo et al. (2006), S. speluncae teria sua distribuição restrita à Cadeia do Espinhaço, na região compreendida entre São João del Rei e a Chapada Diamantina. Entretanto, o próprio tipo (original de Ménétriès) e os topótipos coletados pelos autores são provenientes de São João Del Rei, região não pertencente à Cadeia do Espinhaço (Derby, 1966). Ademais, G.N. Maurício, M.R. Bornschein, M.F. Vasconcelos e L.E. Lopes encontraram a espécie e coletaram espécimes em outras localidades fora da Cadeia do Espinhaço, no sul do estado de Minas Gerais (Serra da Mantiqueira), de modo que S. speluncae não pode ser considerado um endemismo do Espinhaço. Portanto, apenas quatro espécies (Augastes lumachella, Augastes scutatus, Asthenes luizae e Formicivora grantsaui) podem ser consideradas endêmicas da Cadeia do Espinhaço. As duas espécies de Augastes possivelmente representam aloespécies de um mesmo estoque ancestral no Espinhaço (Silva, 1995a; Sick, 1997). Augastes lumachella ocorre nos campos rupestres do setor baiano da Cadeia do Espinhaço (Figura 4), a exemplo do Morro do Chapéu e da Chapada Diamantina (Ruschi, 1962a; 1963a; b; Grantsau, 1967; 1988; Sick, 1997; Parrini et al., 1999; Machado, 2005). Augastes scutatus ocorre desde as serras meridionais do Espinhaço mineiro (Quadrilátero Ferrífero), ao longo da Serra do Cipó, até a região de Grão Mogol (Figura 5), no norte de Minas Gerais (Ruschi, 1962a; 1963a; b; Grantsau, 1967; 1988; Sick, 1997; Vasconcelos et al., 2006). Asthenes luizae tem uma distribuição semelhante à de Augastes scutatus, sendo conhecido da região da Serra do Cipó até Botumirim, no norte de Minas Gerais (Figura 6), não ocorrendo, entretanto, nas montanhas do Quadrilátero Ferrífero (Vielliard, 1990; Andrade et al., 1998; Cordeiro et al., 1998; Vasconcelos, 2002; Vasconcelos et al., 2002). Formicivora grantsaui foi recentemente descrita dos campos rupestres da Chapada Diamantina (Gonzaga et al., 2007), apresentando uma área de distribuição geográfica coincidente com a de A. lumachella (Figura 7).

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Além das espécies endêmicas, duas subespécies de aves são reconhecidas como restritas aos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço: o beija-flor-marrom Colibri delphinae greenewalti Ruschi, 1962 e a mariapreta-de-garganta-vermelha Knipolegus nigerrimus hoflingi Lencioni-Neto, 1996. Uma terceira subespécie, o beijaflor Phaethornis pretrei schwarti Ruschi, 1975, teria sua distribuição restrita aos municípios de Mucugê e Andaraí, na Chapada Diamantina, sem que sejam conhecidos detalhes sobre o hábitat desta forma (Ruschi, 1975). É importante ressaltar que na mais recente revisão sobre a família Trochilidae, Stiles (1999) invalidou C.d. greenewalti, pois as características diagnósticas apontadas por Ruschi (1962b) também poderiam ser encontradas em alguns indivíduos da forma nominal, representando, portanto, apenas extremos na variação morfológica individual da espécie. Entretanto Vielliard (1994) e Brammer (2002) consideraram que esta subespécie deva ser reconhecida com base nos caracteres apresentados por Ruschi (1962b) em sua descrição original. Brammer (2002) sugeriu, inclusive, que esta subespécie poderia ser aceita como uma boa espécie filogenética. Brammer (2002) não analisou o holótipo de K. n. hoflingi, mas considera que esta subespécie não deva ser aceita como uma boa espécie filogenética. Farnsworth & Langham (2004) consideraram K. n. hoflingi como uma subespécie válida em recente revisão sobre a família Tyrannidae. Grantsau (1988) relatou que, mesmo após quatro expedições conduzidas na localidade-tipo de P. p. schwarti, nenhum exemplar desta forma foi encontrado, sendo, no entanto, P. p. pretrei relativamente freqüente. Vielliard (1994) considerou que P. p. schwarti seria uma simples variação individual de coloração mais escura. Uma quarta subespécie, o beija-flor-asa-de-sabrecinza Campylopterus largipennis diamantinensis Ruschi, 1963, descrita da região de Diamantina (Ruschi, 1963c), foi recentemente coletada por J.M.C. Silva e colaboradores nas matas decíduas dos vales dos rios Paranã e São Francisco (Silva, 1990; 1995b), não podendo mais ser considerada endêmica do Espinhaço. Considerando-se que uma área de endemismo é representada por uma região que abriga pelo menos dois táxons endêmicos (Cracraft, 1985; Platnick, 1991), toda a Cadeia do Espinhaço pode ser considerada como uma área de endemismo de aves, conforme proposto por Stattersfield et al. (1998). Dentro desta área, duas sub-áreas de endemismo podem ser delimitadas. Uma delas é representada pela porção centro-meridional deste sistema de montanhas, abrigando Augastes scutatus e Asthenes luizae (Figura 1). A outra seria a

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porção setentrional da Cadeia do Espinhaço (região da Chapada Diamantina e montanhas adjacentes), que abriga Augastes lumachella e Formicivora grantsaui (Figura 1). Além dessas duas espécies, a porção setentrional da Cadeia do Espinhaço abriga três subespécies endêmicas (Phaethornis pretrei schwarti, Colibri delphinae greenewalti e Knipolegus nigerrimus hoflingi). Entretanto, a validade dessas subespécies é questionável e novos estudos taxonômicos ainda são necessários.

Espécies ameaçadas e conservação da avifauna nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço Os campos rupestres da Cadeia do Espinhaço abrigam espécies ameaçadas, quase-ameaçadas de extinção e pouco conhecidas. Dentre elas, destaca-se a codornamineira Nothura minor (Spix, 1825), espécie ameaçada de extinção em nível global (BirdLife International, 2000), no Brasil (Machado et al., 2005) e no estado de Minas Gerais (Machado et al., 1998). Essa espécie fora descrita a partir de material coletado por Spix (1825) em Diamantina, Minas Gerais e nunca mais foi registrada na Cadeia do Espinhaço. Um possível registro visual da espécie para a Serra do Cipó apresentado por Willis & Oniki (1991) trata-se, provavelmente, de um erro de identificação (Vasconcelos, 2001a; Willis, 2003). A águia-cinzenta Harpyhaliaetus coronatus (Vieillot, 1817), também ameaçada de extinção em nível global (BirdLife International, 2000), no Brasil (Machado et al., 2005) e no estado de Minas Gerais (Machado et al., 1998), foi encontrada nos campos rupestres da região de Itambé do Mato Dentro e do Parque Estadual do RolaMoça, Minas Gerais (Ribeiro, 1997; Zorzin et al., 2006). Outros registros para a espécie na região do Espinhaço foram efetuados na Estação Ecológica do Tripuí, na Serra do Caraça, na Chapada de São Domingos e na Chapada Diamantina (Andrade & Andrade, 1998; Parrini et al., 1999; Bencke et al., 2006). Asthenes luizae, espécie recentemente descrita da região da Serra do Cipó (Vielliard, 1990), ficou conhecida por alguns anos como restrita a sua localidade-tipo. Este fato, associado à falta de conhecimento sobre a biologia e a distribuição geográfica da espécie, levou alguns autores a incluí-la em listas de espécies ameaçadas de extinção (Collar et al., 1992; 1994; Lins et al., 1997; Machado et al., 1998; BirdLife International, 2000). Entretanto, com a realização de subseqüentes trabalhos de campo, A. luizae foi encontrado em diversas localidades de campos rupestres ao longo da Cadeia do

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Espinhaço, incluindo três unidades de conservação: o Parque Nacional da Serra do Cipó, o Parque Estadual do Pico do Itambé e o Parque Estadual do Rio Preto (Andrade et al., 1998; Cordeiro et al., 1998; Vasconcelos, 2002; Vasconcelos et al., 2002; Bencke et al., 2006), de modo que a espécie não foi incluída na última revisão da fauna ameaçada de extinção do Brasil (Machado et al., 2005). Entretanto, em recente estudo sobre a biologia de A. luizae, Gomes & Rodrigues (2006a) sugeriram que a espécie deva ser novamente considerada ameaçada de extinção, embora a área de estudo destes autores estivesse restrita a uma região bastante impactada, sendo necessários estudos mais aprofundados com populações que ocorrem em áreas de campos rupestres mais preservadas para se ter uma noção mais apropriada do real estado de conservação da espécie. Poospiza cinerea, espécie também ameaçada de extinção em Minas Gerais (Machado et al., 1998) e globalmente (BirdLife International, 2000), foi considerada como deficiente em dados na última revisão conduzida sobre espécies ameaçadas no Brasil (Machado et al., 2005). A espécie tem sido recentemente registrada nos campos rupestres da Serra do Cipó (Machado et al., 1998; Bencke et al., 2006; Costa & Rodrigues, 2006b; Gomes & Guerra, 2006; Guerra et al., 2006). Outras áreas de registro para a espécie ao longo da Cadeia do Espinhaço são: Serra do Caraça, Parque das Mangabeiras, Serra do Curral, Parque Estadual do Rio Preto e Chapada do Catuni (Carnevalli, 1980; Melo-Júnior, 1996; D’Angelo Neto & Queiroz, 2001; Bencke et al., 2006; Vasconcelos, 2007). As espécies: Augastes lumachella, Augastes scutatus, Polystictus superciliaris, Porphyrospiza caerulescens e Embernagra longicauda são quase-ameaçadas globalmente (BirdLife International, 2000). Embora relativamente bem conservados em comparação com outras regiões do Brasil, os campos rupestres do Espinhaço vêm sofrendo diversos impactos ambientais que afetam direta ou indiretamente sua avifauna. Dentre eles, destacam-se a mineração, a expansão urbana, o turismo descontrolado, a criação de gado e as queimadas. Recentemente foram identificadas 11 áreas importantes para a conservação das aves no Brasil ao longo da Cadeia do Espinhaço (Bencke et al., 2006), sendo elas: Parque Estadual do Morro do Chapéu (código BA05), Serra de Bonito (BA07), Ibiquera/Ruy Barbosa (BA10), Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA12), Chapada do Catuni (MG06), Botumirim (MG07), Parque Estadual do Rio Preto (MG09), Parque Estadual do Pico do Itambé/Serra do Gavião (MG10), Serra do Cipó (MG11), Serra do Caraça (MG14)


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e Ouro Preto/Mariana (MG16). Por ser uma importante região que abriga espécies de aves endêmicas e ameaçadas de extinção, estas e outras áreas de campos rupestres ao longo da Cadeia do Espinhaço devem ser prioritárias para a conservação. Nesse sentido, destacase que a Cadeia do Espinhaço já foi indicada como área de importância especial para conservação da biodiversidade em Minas Gerais (Drummond et al., 2005), área de importância biológica extrema para conservação da biodiversidade do Cerrado (MMA et al., 1999) e da Mata Atlântica (Conservation International et al., 2000). Ademais, a UNESCO reconheceu, em 27 de junho de 2005, a sétima Reserva da Biosfera brasileira. Tratase da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, que foi solicitada pelo Governo de Minas Gerais e pelo Governo Federal. A Cadeia do Espinhaço foi escolhida pelo programa “O Homem e a Biosfera/MAB” por ser um divisor de águas de extrema importância do Brasil Central, por abrigar espécies endêmicas da fauna e da flora e por ser uma das maiores formações de campos rupestres do Brasil (www.unesco. org.br). Além disso, maiores inventários avifaunísticos devem ser conduzidos na região para um melhor conhecimento de sua avifauna. As recentes descobertas e descrições de Asthenes luizae e Formicivora grantsaui são bons exemplos de como a avifauna dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço ainda é pouco conhecida. Levantamentos documentados com a coleta de espécimestestemunhos (Vuilleumier, 1988; 2000; Remsen, 1995; Winker, 1996; Peterson et al., 1998; Rojas-Soto et al., 2002) mostram-se extremamente necessários nesta região, com a possibilidade de serem encontrados novos táxons. A partir destes levantamentos e de estudos sobre a biologia das diversas espécies, será possível elaborar planos de manejo para a conservação da avifauna e de seus hábitats.

Agradecimentos M.F.V. e L.E.L agradecem à CAPES, à FAPEMIG e à Brehm Foundation pelo apoio financeiro durante seus cursos de doutorado. C.G.M. agradece ao CNPq (processo 474217/2004-3). M.R. agradece à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e ao CNPq (processo 473428/2004-0) pelo apoio ao Laboratório de Ornitologia da UFMG. Agradecemos às seguintes pessoas que facilitaram o estudo de exemplares nos museus consultados: L.F. Silveira e E. Machado (MZUSP), M. Raposo e J.B. Nacinovic (MNRJ), A. Aleixo, D.C. Oren e J.M.C.

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Silva (MPEG), J.M.C. Silva (UFPE), H.Q.B. Fernandes e M. Hoffmann (MBML), J. Cracraft, P. Sweet, P. Hart, C. Ribas e M. Okada (AMNH), C.S. Fontana (MCP), B. Garzon e L. Guimarães (MCN), H.M.F. Alvarenga (MHNT) e R. Grantsau (SG). M.F.V. agradece ao AMNH pela concessão de uma ‘collection study grant’ para o estudo de exemplares coletados na Cadeia do Espinhaço que se encontram depositados nesta instituição.

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Mamíferos da Cadeia do Espinhaço: riqueza, ameaças e estratégias para conservação Leonardo Guimarães Lessa1* Bárbara Maria de Andrade Costa2 Daniela Munhoz Rossoni3 Valéria Cunha Tavares4 Luis Gustavo Dias5 Edsel Amorim Moraes Júnior5 Joaquim de Araújo Silva5 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, Brasil. Pós-graduação em Biologia Animal, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil. 3 Escola Superior São Francisco de Assis, Santa Tereza, Brasil. 4 Department of Mammalogy, American Museum of Natural History, New York, USA. 5 Biotrópicos – Instituto de Pesquisa em Vida Silvestre, Diamantina, Brasil. * e-mail: leoglessa@hotmail.com 1

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Resumo Desde o século XIX a Cadeia do Espinhaço tem sido foco do estudo de naturalistas, entretanto informações básicas, relativas à riqueza e distribuição de espécies de mamíferos são ainda escassas. Com o intuito de estimar o número de espécies conhecidas até o momento para a região foram compilados dados da literatura e registros de ocorrência em coleções científicas. Foram registrados 141 táxons de mamíferos dos quais cerca de 20% estão incluídos em alguma categoria de ameaça segundo critérios da IUCN. Os maiores números de espécies ameaçadas estão entre os grandes mamíferos como primatas, carnívoros, artiodáctilos e perissodáctilos. No entanto, aspectos sobre sistemática, distribuição geográfica e ecologia dos pequenos mamíferos (roedores, marsupiais e morcegos) do Espinhaço são pobremente conhecidos, sendo estudos básicos amplamente necessários para uma avaliação mais precisa do status de conservação destas espécies. Dentre os principais fatores antrópicos relacionados à intensa e ainda subestimada perda de diversidade de mamíferos na região estão a fragmentação e a destruição de habitats associados à prática de queimadas, desmatamento de áreas nativas e a histórica degradação produzida pelas atividades mineradoras. Iniciativas como a criação de novas unidades de conservação e a regulamentação das unidades existentes são apontadas como soluções imediatas, em curto prazo, para a conservação da diversidade de mamíferos do Espinhaço. Entretanto ações prioritárias compreendem a realização urgente de programas de inventários com formação de coleções científicas e o estabelecimento de estudos de monitoramento da fauna com resultados a médio e a longo prazo. Essas medidas são vitais para a compreensão da diversidade da fauna de mamíferos do Espinhaço, um mosaico de ecossistemas único e que demanda atenção imediata para sua conservação. Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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abstract Despite the fact that the Espinhaço mountain range has been the focus of studies of naturalists over the last two centuries, basic information about the richness and distribution of mammals in this region is still largely missing. In this study, we compiled what is known about the mammalian fauna associated to the Espinhaço range through the investigation of the literature available and museum collection data. A total of 141 mammal species is known to occur in the Espinhaço mountain range to date, and of those approximately 20% are included in threat categories according to the IUCN criteria. The larger numbers of threatened species in the Espinhaço are among the large mammals such as primates, carnivorous, perissodactylous and artiodactylous. On the other hand, aspects on the systematics, geographic distribution and ecology of small mammals of the Espinhaço range (rodents, marsupials and bats) are poorly known and basic studies are largely needed to a more precise evaluation of the conservation status of these taxa. Human pressure through urbanization, slash and burn, fragmentation, timber, livestock, and mining activities historically developed in the region have contributed to an intense and yet unmeasured erosion of the diversity in the Espinhaço. We point out the creation of new reserves and the expansion and improvement of conditions in those already existent as immediate, short term solutions to the conservation of mammals in the Espinhaço region. We however suggest as likewise priority, the establishment of programs of inventories with formation of scientific collections and of faunal monitoring programs. Those actions are crucial to understanding the diversity of mammals associated to the Espinhaço complex, a unique mosaic of ecosystems that demands immediate attention for conservation.

Introdução A Cadeia do Espinhaço ou Serra do Espinhaço segundo denominação proposta por Eschwege (1832) é a faixa orogênica contínua de maior extensão do território brasileiro (Almeida-Abreu & Renger, 2002). Compreende um conjunto de serras interrompidas por vales de rios que se estende por cerca de 1.200km em direção Norte-Sul, com altitudes que variam entre 800 e 2.000m, desde a porção central de Minas Gerais (Serra de Ouro Branco) até maciços isolados no extremo norte da Bahia (Serra do Tombador) (Vitta, 2002; Almeida-Abreu et al., 2005). O Espinhaço delimita uma zona de contato entre o Cerrado e a Floresta Atlântica ao sul e uma zona de transição entre o Cerrado a Floresta Atlântica e a Caatinga ao norte (Giulietti et al. 1997). Desde o século XIX o Espinhaço tem sido foco de estudos de naturalistas como Auguste Glaziou, August Saint-Hilaire, Eschwege, George Gardner, Ludwig Riedel, Karl Friedrich von Martius, atraídos principalmente pela riqueza de sua composição florística (Costa, 2005) e pelos elevados graus de endemismo vegetal (Viana & Mota, 2004). Uma grande diversidade de espécies e um alto índice de endemismos são também registrados para alguns grupos faunísticos como anfíbios anuros e aves (Pugliese et al., 2004; Eterovick et al., 2005; Nascimento

et al., 2005; Rodrigues et al., 2005). Com relação aos mamíferos, entretanto, informações básicas relativas à ecologia, distribuição geográfica e biologia das espécies são ainda escassas (Lessa, 2005; Oliveira & Pessôa, 2005). As poucas informações disponíveis estão concentradas em sua maior parte em resumos de congressos ou relatórios técnicos para viabilização de empreendimentos como usinas hidrelétricas e minerações, dissertações ou teses (e.g. Carmignotto, 2004; Melo, 2004; Martins, 2005; Souza, 2005; Curi, 2005; Pereira, 2006), livros ou capítulos de livro (Câmara & Murta, 2003; Gardner, 2007; Lessa, 2005; Oliveira & Pessôa, 2005). Apenas uma pequena parcela das informações está disponível na forma de artigos indexados (e.g. Sazima & Sazima, 1975; Sazima et al., 1978, 1989; Câmara & Lessa, 1994; Câmara et al., 1999; Carmignotto & Monford, 2006; Costa et al., 2007; Falcão et al., 2003; Pereira & Geise, 2007; Talamoni et al., 2007; Tavares et al., no prelo). No intuito de contribuir com o conhecimento científico referente à fauna de mamíferos da Cadeia do Espinhaço, é apresentada neste estudo a relação das espécies de mamíferos conhecidas atualmente para a região. São discutidas ainda, as principais ameaças à conservação dos mamíferos da Cadeia do Espinhaço e apresentado um panorama geral de sugestões das principais estratégias de conservação diante do quadro atual encontrado. Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


220 | Mamíferos da Cadeia do Espinhaço: riqueza, ameaças e estratégias para conservação

Metodologia Com o objetivo de estimar o número de espécies de mamíferos conhecidas (descritas ou registradas) para a Cadeia do Espinhaço até o presente momento, foram compilados dados com base na literatura (Sazima & Sazima, 1975; Sazima et al., 1978; Sazima et al., 1989; Taddei et al., 1983; Fonseca et al., 1989; Câmara & Lessa, 1994; Isaac-Júnior & Sábato, 1994; Tavares & Cesari, 1996; Fonseca et al., 1996; Câmara et al., 1999; Câmara & Murta, 2003; Perini et al., 2003; Falcão et al., 2003; Leite,2003; Carmignotto, 2004; Carmignotto & Monford, 2006; Costa et al., 2005a; Costa et al., 2007; Curi, 2005; Lessa, 2005; Oliveira et al., 2003; Oliveira & Pessoa, 2005; Souza, 2005; Pereira, 2006; Tavares et al., no prelo). A nomenclatura adotada seguiu o Wilson & Reeder (2005), observando as atualizações devidas em Bonvicino et al. (2008) para roedores e Gardner (2007) para marsupiais. Os nomes comuns, quando disponíveis, seguiram Fonseca et al. (1996). Para Oryzomys foi adotada a revisão de Weksler et al. (2006) e para Trychomys, Bragio & Bonvicino (2004). A taxonomia de quirópteros está de acordo com Simmons (2005), com exceção do táxon Artibeus planirostris, considerado uma espécie distinta de Artibeus jamaicensis (Lim et al. 2004), a distribuição dos táxons seguiu Tavares et al. (no prelo). Para os primatas foi utilizada a base de dados BDGEOPRIM (Hirsch, 2003). Foram também consultados os registros da base de dados decorrente do projeto “Espinhaço Sempre Vivo” (Instituto Biotrópicos: dados não publicados). Os táxons ameaçados foram definidos com base na lista da fauna brasileira ameaçada de extinção (Ibama, 2003) e na base de dados decorrente da revisão da lista vermelha da fauna de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007).

Estimativas da diversidade de mamíferos na cadeia do espinhaço

O Brasil abriga uma fauna de mamíferos diversa, com o número estimado em mais de 650 espécies descritas (Reis et al., 2006), entretanto, é provável que diversas espécies estejam ainda por ser descobertas e catalogadas, especialmente para as ordens Rodentia, Chiroptera, Didelphimorphia e Primates (Costa et al., 2005b; Reis et al., 2006). No anexo, estão relacionadas todas as espécies de mamíferos compiladas neste estudo para a Cadeia do Espinhaço.

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Marsupiais e roedores Ao todo foram registradas 16 espécies de marsupiais distribuídas em 10 gêneros e uma família (Didelphidae) e 48 espécies de roedores distribuídas em oito famílias (Sciuridae, Muridae, Cricetidae, Erethizontidae, Caviidae, Agoutidae, Dasyproctidae e Echimyidae) (Anexo). Os dados obtidos demonstram que 71% das espécies de marsupiais e 52% das espécies de roedores reconhecidas para o estado de Minas Gerais estão representadas no Espinhaço (ver Machado et al., 1998). Estes números, a priori, apesar de ressaltarem a importância do Espinhaço na manutenção da diversidade de pequenos mamíferos (< 2Kg) nos estados de Minas Gerais e Bahia refletem ainda uma grande lacuna de conhecimentos relacionados à inventários, sistemática, distribuição geográfica e ecologia destes grupos. Para esses estados as poucas informações disponíveis em artigos indexados encontram-se nos trabalhos de Câmara & Lessa (1994), Lessa, et al., (1998), Câmara et al. (1999), Talamoni et al., (1999), Cordeiro - Jr. & Talamoni (2006), Pereira & Geise (2007); Talamoni et al. (2007). Uma fauna de mamíferos diversificada, com influência dos três biomas presentes na Cadeia do Espinhaço – Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga – foi encontrada por Oliveira & Pessoa (2005) e Pereira & Geise (2007) na região da Chapada Diamantina e por Costa et al. (2005a) para a porção meridional da Cadeia do Espinhaço. Pereira (2006) cita registros de espécies típicas de vegetação aberta (Cerrado-Caatinga) como Thrichomys inermis (rabudo) e Oligoryzomys rupestris (rato-do-mato) e também de ambientes florestais como Akodon cursor (rato-de-chão) e Marmosops incanus (cuíca) para as áreas da Chapada Diamantina. Espécies endêmicas dos três biomas foram também registradas no Espinhaço. Para a Mata Atlântica: Thaptomys nigrita (rato-do-chão) e Didelphis aurita (gambá); para o Cerrado: Euryoryzomys lamia (rato-do-mato) e para a Caatinga: Wiedomys pyrrhorhinos (rato-de-fava). Até o momento uma única espécie foi registrada com ocorrência restrita aos domínios do Espinhaço: Trinomys moojeni (rato-de-espinho) (Câmara & Murta 2003; Cordeiro - Jr. & Talamoni, 2006), classificada como “vulnerável” na revisão da lista vermelha da fauna de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007). Quirópteros No total, 32 espécies de morcegos, pertencentes a cinco famílias foram registradas nos limites do complexo do Espinhaço, o que representa cerca de 20% das espécies com ocorrência confirmada para o Brasil (Tavares et al., no prelo) e menos de 40% das espécies já registradas em


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Minas Gerais (V. Tavares e colaboradores, in litt.). Listas de espécies e registros esparsos ao longo da porção do Espinhaço localizada no estado de Minas Gerais se encontram nos trabalhos de Lima (1926), Vieira (1942), Sazima & Sazima (1975), Sazima et al. (1978), Taddei et al. (1983), Isaac-Júnior & Sábato (1994), Fonseca et al. (1989), Tavares & Césari (1995), Grelle et al. (1997), Perini et al. (2003), Falcão et al. (2003), Paglia et al. (2005). Com relação à porção do Espinhaço no estado da Bahia, apenas os estudos de Gregorin & Mendes (1999) e Oliveira & Pessôa (2005) informam sobre a riqueza de morcegos desta região. Dentre os táxons cuja ocorrência já foi registrada para a região do Espinhaço, três encontram-se na categoria vulnerável (VU) de acordo com os critérios da IUCN (Anexo). A presença de uma zona de contato entre o Cerrado e a Floresta Atlântica ao sul e uma zona de transição entre o Cerrado a Floresta Atlântica e a Caatinga ao norte da Cadeia (Giulietti et al. 1997), configura um conjunto de ecossistemas e interações ecológicas muito pouco estudadas para a fauna de quirópteros. Dado o elevado grau de endemismos vegetais da região pode se esperar um alto índice de interações exclusivas entre a flora do Espinhaço e agentes polinizadores, tais como morcegos nectarívoros. Este é o caso do morcego beija-flor da Serra, Lonchophylla bokermanni (Chiroptera: Phyllostomidae), endêmico da região da Serra do Cipó que parece ser o polinizador exclusivo da bromélia Encholirium glaziovii (Bromeliaceae), também endêmica da Serra do Cipó (Sazima et al., 1989). Dentre as poucas espécies de morcegos nectarívoros conhecidas até o momento para a Cadeia do Espinhaço Lonchophylla bokermanni Sazima et al., (1978) e seu congenérico, o também nectarívoro L. dekeyseri (endêmico do bioma Cerrado) foram categorizados como “em perigo” na revisão da lista de espécies ameaçadas de extinção em Minas Gerais além de vulneráveis mundialmente (Anexo). Primatas Ao longo da Cadeia do Espinhaço foram registrados, até o momento, 14 táxons de primatas, distribuídos em quatro famílias (Atelidae, Piteciidae, Callitrichidae e Cebidae), diversidade considerada alta para esse grupo taxonômico (Anexo). A família Callitrichidae está representada por três espécies Callithrix geoffroyi (sagui-da-cara-branca), C. penicillata (mico-estrela) e C. kuhlii (sagui-de-wied). Callithrix geoffroyi ocorre ao sul do Rio Jequitinhonha e C. penicillata, na região oeste da Cadeia do Espinhaço (Rylands, 1993). A terceira espécie, C. kuhlii, foi registrada nas proximidades do município de Almenara (MG).

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A Família Piteciidae é representada pelo gênero Callicebus (sauás ou guigós) e conta com quatro espécies na região, das quais duas, C. melanochir e C. personatus, têm distribuição restrita ao vale do Jequitinhonha. Callicebus melanochir, foi registrada apenas em uma localidade a leste de Almenara (Oliver & Santos, 1991) e C. nigrifrons, apresenta ampla distribuição em Minas Gerais. Callicebus barbarabrownae restringe-se à porção norte da Cadeia, no estado da Bahia (Marinho-Filho & Veríssimo, 1997). Dois gêneros, Alouatta e Brachyteles, representam a Família Atelidae na Cadeia do Espinhaço. O gênero Alouatta (bugio) contribui para a riqueza da Cadeia com duas espécies: A. caraya, restrita às áreas de Cerrado na região oeste, e A. guariba, endêmica da Mata Atlântica. Esta última é representada por duas sub-espécies: A. g. clamitans, ao sul, e A. g. guariba, na região nordeste da Cadeia (Vale do Jequitinhonha). O gênero Brachyteles é representado por Brachyteles hypoxanthus (muriqui-donorte). A ocorrência da espécie, atualmente, é confirmada apenas por uma pequena população no município de Peçanha (<20 indivíduos), isolada em um fragmento menor que 500ha (Hirsch et al., 2002). Contudo, relatos imprecisos da ocorrência da espécie na região de Almenara foram obtidos por Melo (2004). Na família Cebidae, as três espécies que ocorrem na Cadeia são representantes da Mata Atlântica. Cebus nigritus (macaco-prego) ocorre na porção sul do Espinhaço, C. robustos (macaco-prego-de-cristas) possui distribuição restrita ao nordeste de Minas Gerais e norte do Espírito Santo e C. xanthosternos (macaco-prego-dopeito-amarelo) restringe-se ao norte de Minas Gerias e sul da Bahia. Grandes mamíferos Foram registrados para a Cadeia do Espinhaço 31 espécies de grandes mamíferos (> 2kg) representadas pelas ordens Pilosa, Cingulata, Carnivora, Perissodactyla, Artiodactyla, Lagomorpha e Rodentia (Anexo). As espécies incluídas neste grupo apresentam enorme variação quanto ao tamanho, comportamento e hábitos alimentares (Macdonalds, 2001), podendo assim ser encontradas em todos os ambientes ao longo da Cadeia. Entretanto é relevante destacar que, dentre as espécies registradas e que estão incluídas na lista de espécies ameaçadas para o estado de Minas Gerais, apenas sete foram registradas em Unidades de Conservação de Proteção Integral (Anexo). Para a ordem carnívora, um único registro foi confirmado para Leopardus wiedii (gato-maracajá) na região de Belo Horizonte (MG) e a espécie com maior número de

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222 | Mamíferos da Cadeia do Espinhaço: riqueza, ameaças e estratégias para conservação

registros foi Puma concolor (onça-parda). Panthera onca (onça-pintada) foi registrada apenas na região da APA Sul e seu entorno (Quadrilátero Ferrífero/MG) (SantosSilva, com. pess.), sempre associada a remanescentes de Mata Atlântica. Dentre os canídeos, destaca-se a ocorrência de Chrysocyon brachyurus (lobo-guará), aparentemente frequente em toda porção centro-sul e em regiões de transição entre campos de altitude e cerrados, ao longo da vertente oeste da Cadeia (Moreira, com. pess.). Entre os representantes das ordens Artiodactyla e Perissodactyla, os poucos registros disponíveis referem-se à porção meridional do Espinhaço, sendo eles, Mazama americana (veado-mateiro), Mazama gouazoupira (veado-catingueiro) e Pecari tajacu (cateto). Tapirus terrestris (anta) tem sido registrado com frequência ao longo da Cadeia e em diferentes gradientes altitudinais, acredita-se que a Cadeia do Espinhaço seja uma área importante para a conservação da espécie (Moraes Jr. et al. 2003). Da ordem Rodentia, Hydrochoeruss hydrochaeris (capivara), apresentou registros apenas na região centro sul da Cadeia. Em algumas localidades, como na Serra do Cipó, sua população parece estar aumentando, talvez favorecida pela ausência de predadores naturais, somado ao fato de adaptarem-se muito bem aos ambientes alterados providos de pastagens artificiais (Ferraz et al., 2003).

Principais ameaças A situação da Cadeia do Espinhaço, no que tange à conservação da diversidade de mamíferos, pode ser considerada como extremamente grave. Dados concretos referentes à redução da cobertura vegetal, desde o início do histórico processo de ocupação humana da região com a implantação das primeiras lavras de ouro e diamantes em meados do século XVII e seus impactos diretos e indiretos sobre a fauna de mamíferos são desconhecidos. Atualmente, a principal ameaça à conservação de mamíferos no Espinhaço é a destruição e a fragmentação de hábitats (Lessa, 2005; Oliveira & Pessoa, 2005), processo que ameaça os ecossistemas terrestres em todo o mundo (Vitta, 2002) e reconhecido como a principal ameaça à conservação de mamíferos terrestres no Brasil (Costa et al., 2005b). Dentre os principais fatores antropogênicos relacionados à perda de diversidade de mamíferos na Cadeia do Espinhaço (vide Vitta, 2002; Drumond et al., 2005; Lessa, 2005; Rocha et al., 2005) destacam-se:

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(1) as frequentes queimadas, geralmente relacionadas ao manejo inadequado do solo para ampliação de áreas de plantio ou de pastagens; (2) a presença de gado; (3) o turismo desordenado; (4) a caça predatória e a perseguição a espécies nativas p. ex., Puma concolor (sussuarana), Chrysocyon brachyurus (lobo-guará), Kerodon rupestris (mocó) e diversas espécies de primatas; (5) a crescente especulação imobiliária próximo aos grandes centros, atrelada à expansão urbana não planejada; (6) a pavimentação de estradas já existentes e a abertura de novas vias de acesso local; (7) a ação dos mineradores na destruição de grandes afloramentos rochosos (“inselbergs”) e remanescentes de mata de galeria; (8) a invasão por espécies exóticas (p. ex., Mus musculus) que podem agravar os efeitos da fragmentação através da competição, predação ou introdução de doenças; (9) o desmatamento de áreas nativas para a ampliação das áreas de monocultura florestal a fim de atender ao consumo de lenha e carvão vegetal; (10) o desmatamento e o corte seletivo, com destaque para a destruição total ou parcial das matas de galeria e capões de mata, ambientes-chave na manutenção da diversidade de mamíferos (Redford & Fonseca, 1986). Em Minas Gerais, embora a Cadeia do Espinhaço tenha sido indicada como área prioritária para a conservação de diversos grupos biológicos, foi considerada como “insuficientemente conhecida” para o grupo de mamíferos (Drummond et al., 2005), o que demonstra o vazio de informações científicas sobre a mastofauna do Espinhaço. Diversos critérios têm sido propostos para a seleção de áreas prioritárias para a conservação, como o número de espécies endêmicas, riqueza de espécies e a presença de espécies raras ou ameaçadas (Silva & Bates, 2002). Entretanto, uma limitação à aplicação desses critérios é a falta de informações adequadas documentando a distribuição das espécies, problema grave em diversas áreas do Espinhaço, como a porção meridional e o maciço norte da Cadeia, em Minas Gerais, e a região da Chapada Diamantina, na Bahia. A lista de mamíferos para Cadeia do Espinhaço totalizou 141 táxons (considerando-se as subespécies) dos quais cerca de 20% apresentam algum grau de ameaça e aproximadamente 10% apresentam deficiência de dados para análise de seu status de conservação (Anexo). Os maiores números de espécies ameaçadas estão concentrados no grupo de mamíferos de médio e grande porte (primatas, carnívoros, artiodáctilos e perissodáctilos). Apesar do carisma de determinados grupos, como os primatas, algumas espécies são ainda precariamente conhecidas quanto a aspectos de sua biologia e táxons como o Allouata guariba guariba (bugio), Cebus robustus


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(Macaco-prego) e C. xanthosternos (macaco-prego-dopeito-amarelo) começaram a ser estudados apenas nesta década (Kierullf, et al., 2004; Martins, 2005). Dos 14 táxons de primatas identificados no Espinhaço, oito foram relacionados na recente revisão da lista de espécies ameaçadas de Minas Gerais (Fundação Biodiversitas, 2007) e apenas seis possuem ocorrência registrada em Unidades de Conservação de Proteção Integral (Anexo). Para os pequenos mamíferos (roedores, marsupiais e quirópteros) a maior ameaça é ainda a escassez de conhecimentos científicos básicos referentes à taxonomia, sistemática, ecologia e distribuição geográfica. O que prejudica tanto as atividades de campo quanto as inferências sobre o estado de conservação das espécies (Costa et al., 2005b) e a tomada de decisões no estabelecimento de medidas para a conservação das espécies. Identificações inadequadas de espécies e a ausência de revisões sistemáticas atuam mascarando a diversidade real presente (Vivo, 1996; Tavares, 2003) o que certamente dificulta o estabelecimento de iniciativas para a conservação e manejo, assim como a realização de análises regionais (Brito, 2004).

Estratégias para conservação A área ocupada pela Cadeia do Espinhaço é de aproximadamente 150.000Km2 ou 15.000.000ha. Entretanto, até o momento, foram delimitadas apenas 35 Unidades de Conservação (UCs) de Proteção Integral na região, sendo 29 em Minas Gerais, o equivalente a menos de 2% da área do Espinhaço, e apenas seis na Bahia. Apesar de regulamentadas, muitas dessas UCs encontram-se ameaçadas por ações antrópicas severas e apenas 13% das Unidades são suficientemente grandes (> 20.000ha) para manter populações viáveis de mamíferos de médio e grande porte, normalmente, as mais afetadas pelo processo de fragmentação (Chiarello, 2000 a e b). A criação de novas UCs e a implementação das Unidades já decretadas podem ser apontadas como soluções de longo prazo para a conservação da diversidade de mamíferos no Espinhaço, uma vez que a área coberta por Unidades de Conservação de Proteção Integral na região é considerada insuficiente para proteger sua biodiversidade (Rocha et al., 2005). Um sistema eficiente de conservação para a fauna de mamíferos do Espinhaço deve contemplar a heterogeneidade paisagística existente, priorizando a criação de UCs a partir de critérios biológicos tangíveis, como a análise de lacunas (Costa et al., 2005b), de forma a garantir a conservação da maior parcela possível da diversidade biológica. Recentemente

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(julho de 2005) as porções sul e central do Espinhaço em Minas Gerais foram aprovadas pela Unesco como uma das sete Reservas da Biosfera no Brasil (programa homem e Biosfera-UNESCO), dada sua importância biológica, geomorfológica e histórica. É relevante também reforçar a necessidade de estudos taxonômicos associados ao estabelecimento de um programa de inventários, de curto e longo prazo, e o incentivo à formação e aumento de coleções científicas regionais, instrumentos essenciais para o desenvolvimento de estudos sobre a biodiversidade (Costa et al., 2005b). No intervalo de 12 anos entre a publicação da segunda e terceira edição do livro “Mammals Species of the World”, por exemplo, o número de espécies reconhecidas entre os roedores sigmondontíneos aumentou em 18% (Wilson & Reeder, 2005). Patton (com. pess.) indica que das 298 espécies de mamíferos novas que foram acrescidas entre as duas publicações, 125 ocorrem na América do Sul. Nos últimos 10 anos, alguns estados brasileiros compilaram suas listas vermelhas estaduais de espécies, gerando valiosos instrumentos legais para a conservação da biodiversidade e direcionando incentivos para a pesquisa e medidas de conservação (Marini & Garcia, 2005). A recente revisão da lista das espécies ameaçadas em Minas Gerais (Fundação Biodiversitas, 2007) permitiu a identificação de 45 táxons de mamíferos (incluindo as subespécies) ameaçados no Estado, dos quais 25 (56%) têm ocorrência registrada na área do Espinhaço (Anexo). Podemos identificar quais espécies, à luz do conhecimento atual, encontram-se ameaçadas e quais são suas principais ameaças, entretanto, o conhecimento e as medidas de conservação são ainda incipientes e estão desigualmente distribuídos ao longo do Espinhaço. Apesar do progresso obtido nos últimos anos com relação à conservação de mamíferos no Brasil (Costa et al., 2005b), as ameaças à fauna de mamíferos na Cadeia do Espinhaço não diminuíram na mesma proporção.

Agradecimentos Agradecemos a Alexsander Araújo Azevedo (Instituto Biotrópicos), a Ricardo Bonfim Machado (Conservação Internacional) e Gláucia Moreira Drumond (Fundação Biodiversitas) pelo convite para a redação do artigo. A Cristiane Freitas de Azevedo pela revisão do texto e a um revisor anônimo por seus comentários. Ao apoio financeiro da Conservação Internacional – CBC e ao Professor Gustavo Fonseca que nos cedeu espaço e logística para realização de atividades através do

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224 | Mamíferos da Cadeia do Espinhaço: riqueza, ameaças e estratégias para conservação

Laboratório de Mastozoologia e Manejo da Fauna da Universidade Federal de Minas Gerais e pelo acesso à coleção. A Adriano Paglia, Leonora Pires Costa, Yuri Leite e Cecília Kierulff por participarem da primeira fase de aprovação do projeto piloto “Mamíferos da Serra do Espinhaço como subsídio para definição de outcomes para conservação dos campos rupestres”. Aos colegas Ludmilla Aguiar, Fernando Perini, Renato Gregorin e Fábio Falcão por compartilharem o esforço de compilar informações sobre morcegos em MG. À Fundação de Amparo a Pesquisa do estado de Minas Gerais (FAPEMIGCRA 133/03) que concedeu auxílio para coleta de parte dos dados apresentados.

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anexo – Espécies de mamíferos registradas na Cadeia do Espinhaço e ocorrências em Unidades de Conservaçãoa nos estados de Minas Gerais e Bahia. Os táxons ameaçados seguem a lista oficial da fauna brasileira ameaçada de extinção (IBAMA, 2003) e a lista vermelha da fauna de Minas Gerais (Fundação Biodiversitas, 2007)b.

TÁXONS AMEAÇADOSb TÁXON NOME COMUM OCORRÊNCIA EM UCsa Brasil MG Didelphimorphia Didelphidae Caluromys philander (Linnaeus, 1758) Cuíca-lanosa PERM, PERP, PNSC, APE-Mutuca, EPDA-Peti Caluromys lanatus (Olfers, 1818)

Cuíca-lanosa

Chironectes minimus (Zimmermann, 1780)

Cuíca-d’água VU

Didelphis albiventris Lund, 1840 Gambá PMM, PERM, PERP, PEB, PEPI, PNSC, EEF, PMMU, APE-Mutuca, EPDA-Peti, RPPN-Jambreiro. Didelphis aurita Wied-Neuwied, 1826 Gambá EEF, APE-Mutuca, EPDA-Peti Gracilinanus agilis (Burmeinster, 1854) Catita PMM, PERM, PERP, PEPI, PNSC, APE-Mutuca Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842)

Catita

PMMU, EPDA-Peti, RPPN-Caraça

Marmosops incanus (Lund, 1840) Cuíca PMM, PERM, PERP, PEB, PNSC, EEF, EPDA-Peti, RPPN-Jambreiro, RPPN-Caraça Metachirus nudicaudatus (Desmarest, 1817)

Cuíca-de-quatro-olhos

PERP, EEF

Micoureus paraguayanus (Thomas, 1905)

Catita

PERP

Monodelphis americana (Müller, 1776)

Cuíca-de-três-listras EEF, EPDA-Peti DD

Monodelphis domestica (Wagner, 1852) Catita Monodelphis iheringi (Thomas, 1888)

PEB, PERP, PEPI, PERM, PMMU, PEL, PNSC, MNCF, APE-Mutuca

Catita RPPN-Caraça DD

Philander frenatus (Olfers, 1818) Cuíca PMM, PERM, EEF, APE-Mutuca, EPDA-Peti, RPPN-Caraça Thylamys velutinus (Wagner, 1842)

Cuíca DD

Thylamys karimii (Petter, 1968)

Cuíca DD

PILOSA Bradypodidae Bradypus variegatus Schinz, 1825

Preguiça

Myrmecophagidae Tamandua tetractyla (Linnaeus, 1758)

Meleto

PERP, PEB, PNSC, EEF, PEL, MNCF

Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758

Tamanduá-bandeira

PERP VU VU

CINGULATA Dasypodidae Cabassous tatouay (Desmarest, 1804)

Tatu DD

Cabassous unicinctus (Linnaeus, 1758)

Tatu-de-rabo-mole

Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 Tatu-galinha

PERP PMM, PERP, PEB, PEPI, PNSV, PNCD, EEF, PMMU, PEL, MNCF, PNSC, APE-Mutuca continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


228 | Mamíferos da Cadeia do Espinhaço: riqueza, ameaças e estratégias para conservação

...continuação do Anexo

TÁXONS AMEAÇADOSb TÁXON NOME COMUM OCORRÊNCIA EM UCsa Brasil MG Dasypus septemcinctus Linnaeus, 1758

Tatuí EEF, APE-Mutuca DD DD

Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758)

Tatu-peba

PEB, PEPI, EEF, PNCD

Priodontes maximus (Kerr, 1792)

Tatu-canastra

PERP, PNSV VU EN

CHIROPTERA Embalonuridae Peropteryx macrotis (Wagner, 1843)

Morcego

PNCD, EPDA-Peti

Noctilionidae Noctilio leporinus (Linnaeus, 1758)

Morcego-pescador

PEL, MNCF

Mormoopidae Pteronotus gymnonotus Natterer, 1843

Morcego

PEL, MNCF

Phyllostomidae Desmodontinae Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810) Morcego-vampiro PMMU, PNCD, RPPN -Caraça, EPDA-Peti Glossophaginae Anoura caudifer (E. Geoffroy, 1818) Morcego-beija-flor PEL, MNCF, RPPN -Caraça, EPDA-Peti Anoura geoffroyi Gray, 1838 Morcego-beija-flor PEL, MNCF, RPPN -Caraça, EPDA-Peti Glossophaga soricina (Pallas, 1766) Morcego-beija-flor PMMU, PEL, MNCF PEL, MNCF, RPPN-Caraça, EPDA-Peti, PNSC Lonchophylla bokermanni Sazima, Vizotto & Taddei, 1978

Morcego-beija-flor da Serra

PNSC VU EN

Lonchophylla dekeyseri Taddei, Vizotto & Sazima, 1983

Morcego-beija-flor do Cerrado

PNSC VU EN

Phillostominae Chrotopterus auritus (Peters, 1856)

Morcego

PNCD, RPPN-Caraça, EPDA-Peti

Phyllostomus discolor Wagner, 1843

Morcego

PMMU, PEL, MNCF

Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767)

Morcego

PMMU, PEL, MNCF, EPDA-Peti

Carollinae Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) Morcego Stenodermatinae

PNCD, EEF, PMMU, PEL, PEI, MNCF, APE-Mutuca, RPPN-Caraça, EPDA-Peti

Artibeus fimbriatus Gray, 1838

Morcego EPDA-Peti

Artibeus lituratus (Olfers, 1818)

Morcego

Artibeus obscurus Schinz, 1821

Morcego EPDA-Peti DD

Artibeus planirostris (Spix, 1823)

Morcego

PEL, MNCF, PNSC, RPPN-Caraça PMMU, PEL, MNCF

PMMU, RPPN-Caraça

Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810)

Morcego

Platyrrhinus recifinus (Thomas, 1901)

Morcego EPDA-Peti VU

Pygoderma bilabiatum (Wagner, 1843)

Morcego EPDA-Peti continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Lessa, Costa, Rossoni, Tavares, Dias, Moraes Jr. & Silva |

229

...continuação do Anexo

TÁXONS AMEAÇADOSb TÁXON NOME COMUM OCORRÊNCIA EM UCsa Brasil MG Vampyressa pusilla (Wagner, 1843)

Morcego

EPDA-Peti

Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810)

Morcego EEF, EPDA-Peti, RPPN-Caraça

Molossidae Eumops perotis (Schinz, 1821)

Morcego RPPN-Caraça

Molossus molossus (Pallas, 1766)

Morcego EPDA-Peti

Nyctinomops laticaudatus (E. Geoffroy, 1805)

Morcego EPDA-Peti

Tadarida brasiliensis (I. Geoffroy, 1824)

Morcego RPPN-Caraça

Vespertilionidae Eptesicus brasiliensis (Desmarest, 1819)

Morcego EEF, RPPN-Caraça

Histiotus velatus (I. Geoffroy, 1824)

Morcego EEF, APE-Mutuca

Lasiurus blossevilli (Lesson & Garnot, 1826)

Morcego

Lasiurus cinereus (Beauvois, 1796)

Morcego DD

Myotis nigricans (Schinz, 1821)

Morcego

Myotis ruber (E. Geoffroy, 1806)

Morcego VU

PMM, RPPN-Caraça PMMU

PRIMATES Atelidae Alouatta caraya (Humboldt, 1812)

Bugio

Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940

Bugio

Alouatta guariba guariba (Humboldt, 1812)

Bugio

CR

Brachyteles hypoxanthus (Kuhl, 1820)

Muriqui-do-norte

CR EN

PEI, RPPN-Caraça VU CR

Callitrichidae Callithrix geoffroyi Sagui-da-cara-branca PERP, PNSC (É. Geoffroy in Humboldt, 1821) Callithrix penicillata (É. Geoffroy in Humboldt, 1821)

Mico-estrela

PMM, PNSC, EEF

Callithrix kuhlii Coimbra-Filho, 1985 Sagüi-de-Wied EN Cebidae Cebus nigritus Goldfuss, 1809

Macaco-prego RPPN-Caraça

Cebus robustus (Kuhl, 1820)

Macaco-prego- VU EN de-cristas

Cebus xanthosternus Wied-Neuwied, 1826

Macaco-prego-do- peito-amarelo

CR

CR

Pitheciidae Callicebus barbarabrownae Hershkovitz, 1990 Sauá

CR

Callicebus melanochir Wied-Neuwied, 1820 Sauá VU EN Callicebus personatus (É. Geoffroy, 1812) Sauá EEF VU EN Callicebus nigrifrons (Spix, 1823) Sauá PNSC, PEI, PERM, EET, RPPN-Caraça, EPDA-Peti continua...

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230 | Mamíferos da Cadeia do Espinhaço: riqueza, ameaças e estratégias para conservação

...continuação do Anexo

TÁXONS AMEAÇADOSb TÁXON NOME COMUM OCORRÊNCIA EM UCsa Brasil MG CARNIVORA

Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Raposa

PERP, PEB, PEPI, EEF, PMMU

Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815)

PERP, PEB, PEPI, PNSC, EEF VU VU

Lobo-guará

Lycalopex vetulus (Lund, 1842) Raposinha

PERP, PEB, PNSC

Procyonidae Nasua nasua (Linnaeus, 1766)

Quati

PMM, PEB, EEF

Procyon cancrivorus (G. Cuvier, 1798)

Mão-pelada

PERP, PEB, PEPI, EEF

Mustelidae Conepatus semistriatus (Boddaert, 1784)

Jaritataca

PERP, PEB, PEPI

Eira barbara (Linnaeus, 1758) Irara

PERP, EEF

Galictis cuja (Molina, 1782)

Furão

PNSC, EPDA-Peti

Galictis vittata (Schreber, 1776)

Furão

PEL, MNCF, PNSC

Lontra longicaudis (Olfers, 1818)

Lontra

PERP, PEI, PNSC, RPPN-Caraça VU

Felidae Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758)

Jaguatirica

Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Gato-do-mato

PERP, PEB, PEPI, PNSC, EEF VU VU PERP, PNSC VU VU

Leopardus wiedii (Schinz, 1821) Gato-maracajá VU EN Puma yaguaroundi (Lacépède, 1809) Gato-mourisco EEF DD Puma concolor (Linnaeus, 1771) Sussuarana Panthera onca (Linnaeus, 1758)

PERP, PEB, PEPI, PNSC VU VU

Onça VU

CR

PERISSODACTYLA Tapiridae Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758) Anta

PERP, PNSV EN

ARTYODACTYLA Tayassuidae Pecari tajacu (Linnaeus, 1758)

Cateto

PERP, EEF, PEL, MNCF VU

Cervidae Mazama americana (Erxleben, 1777) Veado-mateiro

PNSC

Mazama gouazoupira (G. Fisher, 1814) Veado-catingueiro

PERP, EEF

Ozotocerus bezoarticus (Linnaeus, 1758) Veado-campeiro EN RODENTIA Sciuridae Guerlinguetus aestuans Linnaeus, 1766 Caxinguelê PMM, PERP, PEB, PNSC, EEF, APE-Mutuca, RPPN-Jambreiro Muridae Mus musculus (Linnaeus, 1758) Rato-de-casa

APE-Fechos, APE-Mutuca continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


Lessa, Costa, Rossoni, Tavares, Dias, Moraes Jr. & Silva |

231

...continuação do Anexo

TÁXONS AMEAÇADOSb TÁXON NOME COMUM OCORRÊNCIA EM UCsa Brasil MG Cricetidae

Sigmodontinae Akodon cursor (Winge, 1887) Rato-de-chão PMM, PERM, PERP, PEPI, EEF, PEL, PNSC, MNCF, APE-Mutuca, APE-Fechos, RPPN-Jambreiro, EPDA-Peti Akodon montensis Thomas, 1913 Rato-de-chão APE-Mutuca Blarinomys breviceps (Winge, 1887) EPDA-Peti Calomys expulsus (Lund, 1841) Rato-do-mato Calomys tener (Winge, 1887) Rato-do-mato

PESM, PNSC, EEF, APE-Mutuca

Cerradomys subflavus (Wagner, 1842) Rato-de-cana

PERP, PNSC, EEF, PMMU, PEL, MNCF

Delomys dorsalis (Hensel, 1872) Rato-do-mato Delomys sublineatus (Thomas, 1903) Rato-do-mato Euryoryzomys lamia (Thomas, 1901) Rato-do-mato DD Euryoryzomys russatus (Wagner, 1848) Rato-do-mato

CR

PNSC

Holochilus sciureus Wagner, 1842 DD Juliomys pictipes (Osgood, 1933) Rato-do-mato EPDA-Peti Necromys lasiurus (Lund, 1841) Rato-do-mato

PMMU

Nectomys squamipes (Brants, 1827) Rato-d’água PERP, PEB, PNSC, EEF, APE-Mutuca, EPDA-Peti Nectomys rattus (Pelzen, 1883) Rato-d’água Oecomys catherinae (Allen & Chapman, 1893) Rato-do-mato EPDA-Peti Oligoryzomys fornesi Massoia, 1973 Rato-do-mato Oligoryzomys nigripes (Olfers, 1818) Rato-do-mato

PMMU, PNSC, PERM, EEF

Oligoryzomys rupestris (Weksler & Bonvicino, 2005) Rato-do-mato Oxymycterus delator Thomas, 1903 Rato-do-brejo

PMMU, APE-Mutuca

Oxymycterus dasytrichus (Schinz, 1821) Rato-do-brejo

PNSC, EEF , PMMU

Rhipidomys mastacalis (Lund, 1840) Rato-de-árvore

PMM, PERM, PERP, PEB PNSC, EEF

Rhipidomys macrurus (Gervais, 1855) Rato-de-árvore Sooretamys angouya (Fischer, 1814) Thalpomys lasiotis (Thomas, 1916) Rato-do-mato

PERP, PNSC

Thaptomys nigrita (Lichtenstein, 1829) Rato-do-chão Wiedomys pyrrhorhinos (Wied-Neuwied, 1821) Rato-de-fava Erethizontidae

Coendou prehensilis (Linnaeus, 1758)

Ouriço-cacheiro

Sphigurus villosus (F. Cuvier, 1823)

Ouriço-cacheiro

PMM, PNSC

Caviidae Cavia aperea Erxleben, 1777

Preá

PERP, PEB, PNSC, EEF continua...

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


232 | Mamíferos da Cadeia do Espinhaço: riqueza, ameaças e estratégias para conservação

...continuação do Anexo

TÁXONS AMEAÇADOSb TÁXON NOME COMUM OCORRÊNCIA EM UCsa Brasil MG Galea spixii (Wagler, 1831)

Preá

Hydrochoerus hydrochaeris (Linnaeus, 1766)

Capivara EEF, PERP, PNSC, RPPN-Jambreiro

Kerodon rupestris (Wied, 1820)

Mocó

PERP, PEB, PEPI, PMMU, PEL, MNCF

Agoutidae Cuniculus paca (Linnaeus, 1766)

Paca

PERP, PEB, PNSC, EEF

Dasyproctidae Dasyprocta azarae Lichtenstein, 1823

Cutia

PERP

Dasyprocta aguti

Cutia

Echimyidae Euryzygomatomys spinosus (G. Fisher, 1814) Guirá RPPN-Caraça Kannabaetomys amblyonys (Wagner, 1845) Rato-do-bambu EPDA-Peti Phyllomys blainvilli (Jourdan, 1837) Rato-de-espinho DD Phyllomys lamarum (Thomas, 1916) Rato EEA Thrichomys apereoides (Lund, 1839) Rabudo

PERP, PEB, PNSC, PNSV

Thrichomys inermis (Pictet, 1843) Rabudo

PMMU, PEL, MNCF

Trynomys albispinus (I. Geoffroy, 1838) Rato-de-espinho

PEL, MNCF DD

Trynomys moojeni Pessôa, Oliveira & Reis, 1992 Rato-de-espinho

PNSC, RPPN-Caraça VU

Trynomys paratus (Trinomys, 1948) Rato-de-espinho RPPN-Caraça DD Trynomys setosus (Desmarest, 1817) Rato-de-espinho EPDA-Peti DD LAGOMORPHA Leporidae Sylvilagus brasilienses (Linnaeus, 1758) Tapiti

PERM, PERP, PEB, PEPI, PNSC, PNSV, EEF, PMMU, EPDA-Peti, RPPN-Caraça, RPPN-Jambreiro

a Unidades de Conservação:

b Categorias (IUCN, 2003):

Minas Gerais PMM = Parque Municipal das Mangabeiras; PERM = Parque Estadual do Rola Moça; PERP = Parque Estadual do Rio Preto; PEB = Parque Estadual do Biribiri; PEI = Parque Estadual do Itacolomi; PEPI = Parque Estadual do Pico do Itambé; PNSC = Parque Nacional da Serra do Cipó; PNSV = Parque Nacional das Sempre Vivas; EEA = Estação Ecológica de Acauã; EEF = Estação Ecológica de Fechos; APE-Mutuca = Área de Proteção Especial da Mutuca; EPDA-Peti = Estação de Proteção e Desenvolvimento Ambiental Peti; RPPN-Caraça = Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caraça; RPPN-Jambreiro = Reserva Particular do Patrimônio Natural Jambreiro.

Bahia PEL = Parque Estadual de Lages; PMMU = Parque Municipal de Mucugê; PNCD = Parque Nacional da Chapada Diamantina; MNCF = Monumento Natural da Cachoeira do Ferro Doido.

Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

CR = Criticamente em perigo; EN = Em perigo; VU = Vulnerável; DD = Dados deficientes.


................................................................................

Distribuição espacial do esforço de pesquisa biológica na Serra do Cipó, Minas Gerais: subsídios ao manejo das unidades de conservação da região João Augusto Madeira1 Kátia Torres Ribeiro1 Marcelo Juliano Rabelo Oliveira2 Jaqueline Serafim do Nascimento3 Celso do Lago Paiva1 Parque Nacional da Serra do Cipó, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Brasil. Bolsista Conservação Internacional do Brasil. 3 Bolsista Instituto Biotrópicos. * email: joao.madeira@icmbio.gov.br 1 2

Resumo Em regiões de interesse conservacionista, o diagnóstico acerca da distribução espacial do esforço de pesquisa e sua relação com a distribuição conhecida e presumida de ambientes tem múltiplos propósitos. Primeiro, subsidiar conclusões das próprias pesquisas, considerando seu alcance e contexto; segundo, apoiar a definição de prioridades de conservação, com base numa visão crítica sobre extensão e lacunas do conhecimento; finalmente, apoiar estratégias de manejo e fomento à pesquisa, com apoios e mecanismos para redução de lacunas espaciais e temáticas numa certa região. A Serra do Cipó, na porção sul da Serra do Espinhaço, é famosa pela diversidade e endemismo de seus campos rupestres, e cada novo levantamento resulta em miríade de espécies, ocorrências e interações novas. Ocorre então um deslumbramento que pode mascarar a concentração espacial do esforço de pesquisa, o não (re)conhecimento de ambientes extremamente variados, e portanto sua não inserção em prioridades de conservação. Fizemos um diagnóstico da distribuição espacial dos esforços de pesquisa biológica na Serra do Cipó, com base em amplo levantamento bibliográfico, com “serra do cipo” como indexador. A análise de 544 dos 1.011 títulos encontrados entre 1831 e 2005 mostra uma ênfase nos estudos botânicos; baixa, mas crescente precisão na descrição da localização dos pontos de estudo e; entre os registros que puderam ser georreferenciados, tendo a espécie como unidade de análise, 75% tratavam de organismos amostrados à beira de estradas, enquanto apenas 17% deles foram obtidos dentro do Parque Nacional. Há grande concentração nos campos rupestres e na vertente ocidental da Serra do Cipó, sendo as várias fisionomias do Cerrado e da Mata Atlântica sub-amostrados. Com base nestas informações, o plano de manejo Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


234 | Distribuição espacial do esforço de pesquisa biológica na Serra do Cipó, Minas Gerais:...

do Parque Nacional preverá estratégias para reduzir as lacunas existentes e melhorar a forma de registro da informação biológica, considerando as novas tecnologias disponíveis.

abstract The description of spatial and thematic distribution of research effort in a region of high biological conservation interest such as Serra do Cipó, located at southern Serra do Espinhaço, central Brazil, has many purposes: underlying research conclusions, since sampling bias and gaps are evidenced as well as under- and super-sampled habitats; conferring a better analysis about the landscape and research context; subsidizing the development of management strategies intended to narrow knowledge gaps by means of better logistics and specific stimuli, such as finantial support for definition and development of prioritary research lines. It is also important for conservation purposes and planning, considering that less studied sites should be protected considering precaution principles, and their characteristics may be sometimes inferred considering similarities at other levels. We analysed the spatial distribution of biological research effort at Serra do Cipó, a place with two federal conservation units – Serra do Cipó National Park and Morro da Pedreira Environmental Protection Area – recognised by high diversity and endemism, specially of plants associated to rupestrian fields, a vegetation growing on nutrient poor and shallow sandy soils. This vegetation is neighbored by diverse and still bad studied Cerrado and Atlantic Forest phytophysiognomies. Hitorically, studies were concentrated on botanics, with a clear thematic diversification in the last two decades. Considering 544 analysed publications from a group of 1,011 known works, and 10,100 species citations (with repetitions), it became evident the concentration of species records along roads (75%) and the relative scarcity of studies from the Park (17% of records). This diagnostic will underly the research and management plan for the federal conservation units, discussed further with the scientific community, with already sensible results.

Introdução É certamente impossível distribuir de forma equânime o esforço de pesquisa sobre um certo território, ainda mais o esforço para conhecimento de um país enorme e tão diverso como o Brasil. Existem regiões em que se concentram as investigações bem como a quantidade de informação acumulada e articulada, seja em função da proximidade de pólos econômicos e de centros de pesquisa, seja pelo surgimento de interesse específico e estímulos à pesquisa na forma de editais e linhas de financiamento. No primeiro caso, destaca-se o conhecimento em vasta temática nas áreas vizinhas às grandes capitais – São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, e mesmo Manaus e Belém do Pará. No segundo caso, buscas pioneiras de pesquisadores, e editais específicos que estimulam a pesquisa em locais de difícil acesso e distantes de centros de pesquisa, como áreas ermas da Amazônia que recebem recursos de programas como o ARPA, ou ainda a integração de instituições para estímulo à formação de grupos de pesquisa, como recentemente no estado do Amapá (Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical – parceria EMBRAPA, UNIFAP, IEPA, CI-Brasil, CAPES). Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

Mesmo localmente o conhecimento é fragmentado e por vezes surpreendentemente concentrado em certos ambientes, percursos, temas. A proposição de temas e áreas de pesquisa também sofre de formas de contágio – tende-se a voltar em áreas previamente visitadas, de modo a dar continuidade e/ou profundidade e diversificação a investigações, aproveitar a estrutura logística já conhecida e estabelecida; tende-se a percorrer os mesmos caminhos, tende-se a aprofundar e detalhar perguntas já feitas. Intrinsecamente, não há mal algum neste procedimento, uma vez que a pesquisa sempre é permeada por dilemas entre generalidade versus especificidade, detalhamento local versus abrangência espacial, dentre outros. No entanto, uma vez que a tendenciosidade na amostragem afeta conclusões, inferências e visões de mundo, é essencial que tenhamos discernimento sobre a ênfase e tendências do conjunto de pesquisas (Gutzwiller, 2002). Como destaca Wiens (2002), é fácil ver mapas e imagens como “verdades” e esquecer que qualquer conclusão é contingenciada pelas classificações propostas e pelos procedimentos de delimitação de fronteiras necessários para a produção de mapas e outras formas de representação. A experiência do pesquisador e o conhecimento


Madeira, Ribeiro, Oliveira, Nascimento & Paiva |

acumulado são determinantes para a definição de categorias e classificações. Extensas listas de espécies nem sempre culminam em representações adequadas da distribuição da diversidade em uma certa região. Criar longas listas de espécies pode ser extremamente caro, mas a questão central para a conservação da diversidade, como aponta Sutherland (2000), está em como usar a informação e os recursos disponíveis de modo a fornecer o melhor embasamento para a definição de prioridades entre áreas, e esta necessidade deve ser contemplada antes da realização de novos inventários. Protege-se aquilo que se conhece. Ao se questionar pesquisadores acerca de áreas e organismos essenciais a serem protegidos, com elevada probabilidade eles apontarão aqueles que conhecem bem, pois poderão descrever detalhadamente uma série de motivos justos e pertinentes que recomendariam esta proteção. A contextualização do grau de conhecimento sobre uma região, sobre os diversos grupos taxonômicos e sobre o status de conservação de ambos necessita de uma análise deste conhecimento que inclua a avaliação dos esforços de pesquisa já realizados, auxiliando o direcionamento de pesquisas futuras e eventuais tomadas de decisão pelos gestores de áreas protegidas (Burke, 2007). A ciência tem suas próprias questões, sua própria dinâmica e suas limitações, inclusive orçamentárias e de pessoal, e não se espera que o conjunto dos pesquisadores e dos órgãos de fomento tenham como preocupação básica dispersar seu esforço de pesquisa de modo a abarcar a maior diversidade de ambientes ou situações, em termos espaciais. No entanto, todos se beneficiam com um maior entendimento do contexto em que se realiza um esforço de pesquisa. Por mais concentrados que sejam os inventários em uma certa região, as conclusões de estudo certamente se enriquecerão se o pesquisador tiver acesso a informações tais como grau de concentração espacial/ temporal do esforço, quantidade e representatividade dos habitats e estações amostrados em relação ao todo a que se pretende estender as conclusões. E estas informações tornam-se mais acessíveis a partir da disponibilização de imagens e ambientes SIG e de séries de dados meteorológicos. Em uma área protegida extensa e diversa, a análise da distribuição dos esforços de pesquisa beneficia ao menos três conjuntos de profissionais/ atividades – os próprios pesquisadores, que contextualizam seus esforços e podem encontrar novas fronteiras e novas explicações para os padrões descritos; os gestores da

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área, que podem envidar esforços para melhor distribuir as pesquisas futuras no território, por meio de análise de lacunas, busca de estímulos financeiros e logísticos, e proposição de questões; e por fim os esforços conservacionistas, ao se apontar áreas desconhecidas mas não necessariamente menos importantes, e viabilizar inferências a partir dos dados já existentes. Neste estudo apresentamos uma análise da distribuição espacial e temática dos esforços de pesquisa na Serra do Cipó, bem como novas tendências e decisões de gestão e conservação decorrentes desta análise. Não se trata de uma investigação acerca da distribuição dos organismos e da biodiversidade em si – esta é uma questão extremamente complexa, que demanda estratégias de amostragem e de estratificação da informação e análises estatísticas que não são o propósito deste trabalho (Rich & Smith, 1996, Sutherland, 2000). Apresentamos um mapeamento do esforço de pesquisa passado e uma análise dos ambientes mais favorecidos, tendo como base o material cartográfico elaborado para os planos de manejo do Parque Nacional da Serra do Cipó e Área de Proteção Ambiental Morro da Pedreira. Estas são unidades de conservação federais que visam a proteção da porção sul da Serra do Espinhaço, próxima à região metropolitana de Belo Horizonte, já com 5 milhões de habitantes, fortemente pressionada pelo parcelamento do solo, turismo desordenado e novas áreas de mineração.

Materiais e Métodos Área de estudo A Serra do Cipó localiza-se ao sul da Serra do Espinhaço, bordejando a região metropolitana de Belo Horizonte. Dista apenas 100km da capital do estado, por estrada que segue até a cidade de Diamantina, em caminhos que em parte coincidem com os da antiga Estrada Real. As serras dividem as águas que drenam para o rio das Velhas, afluente do rio São Francisco, a oeste, das que vertem para o rio Doce, a leste. As montanhas são edificadas por formações rochosas quartzíticas, em sua maioria incluídas no Supergrupo Espinhaço (Almeida-Abreu, 1995), solos pobres em nutrientes que sustentam os campos rupestres, ricos em espécies e com elevado grau de endemismo (Giulietti et al., 1987, Pirani et al., 2003). A oeste predominam as diversas fitofisionomias do cerrado, nesta região com ampla ocorrência de ambientes cársticos, relacionados à formação Bambuí, que favorece a formação de latossolos Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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profundos, que por sua vez sustentam cerradões e matas mesófilas, bem como as matas secas sobre os afloramentos rochosos. A leste encontram-se fitofisionomias da Mata Atlântica, seja na forma de uma transição para os campos rupestres, sobre solos quartzosos, sejam formações arbóreas e mais fechadas, nos solos profundos derivados do embasamento cristalino. Em resumo, formações vegetacionais com composição e fisionomia muito variadas são encontradas em curtos espaços, onde a elevada biodiversidade tem relação também com a diversidade de solos, topografia e clima. O relevo varia de cerca de 750 metros de altitude a oeste e 650 a leste a 1670 metros, havendo extensos planaltos com altitudes entre 1.000-1.300m. O clima é estacional, com verões úmidos e invernos bastante secos, com cerca de 7 meses secos a oeste, e precipitação anual em torno de 1.500mm, em média (Madeira & Fernandes, 1999). Há concentração de nebulosidade nas vertentes orientais e portanto maior umidade, que favorece a formação de matas de neblina. O acesso à região era feito exclusivamente por estrada de terra até meados da década de 1980, e no presente século houve a pavimentação da rodovia MG-010 em todo o trecho que atravessa a Serra do Cipó, até a cidade de Conceição do Mato Dentro. Os acessos às demais sedes de municípios da região não foram ainda pavimentados. O Parque Nacional da Serra do Cipó foi criado em 1984, correspondendo aproximadamente à área do parque estadual de mesmo nome, criado em 1975. São 31.618 hectares que abarcam ecossistemas representativos de três complexos vegetacionais, aqui chamados de biomas: Campos Rupestres (84%), Cerrado (8%) e Mata Atlântica (8%). Abrange terras dos municípios de Jaboticatubas, Santana do Riacho, Morro do Pilar e Itambé do Mato Dentro. O Parque é inteiramente circundado pela Área de Proteção Ambiental (APA) Morro da Pedreira, criada em 1990, já com o propósito de funcionar como zona de amortecimento do parque, com 100 mil hectares, também distribuídos em fitofisionomias de Cerrado (14%), Campo Rupestre (56%) e Mata Atlântica (30%) (Ribeiro et al., 2009). A APA abrange, além dos citados acima, os municípios de Itabira, Nova União e Taquaraçu de Minas. As duas unidades estão incluídas na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, declarada pela UNESCO em 2006. Entendemos como região da “Serra do Cipó” os sete municípios citados e mais Conceição do Mato Dentro, limítrofe à APA, como também entendido pela Secretaria de Turismo do estado de Minas Gerais (municípios que compõem o Circuito Turístico do Parque Nacional da Serra do Cipó).

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Levantamento bibliográfico e georreferenciamento Fez-se um primeiro levantamento das publicações existentes sobre a Serra do Cipó, em todas as áreas das ciências, utilizando o Portal Capes (www.periodicos. capes.gov.br), tendo “serra do cipo” como indexador. O nome Serra do Cipó tem se estendido a mais áreas em função do turismo e divulgação do nome como uma marca, e há décadas atrás muitos dos municípios citados não seriam considerados pertencentes à Serra do Cipó. Assim, por segurança, as buscas bibliográficas incluiram também os nomes dos municípios. A partir do acervo do Parque Nacional foram triadas publicações a partir também das referências bibliográficas, com que se conseguiu acesso aos trabalhos mais antigos, muitos não indexados. Fez-se o máximo esforço para obtenção dos trabalhos existentes, muitos deles não disponíveis em meio digital. À época de análise dos dados para este trabalho, o banco de dados continha 1.011 títulos (Tabela 1), dos quais 544 foram obtidos e lidos. Os trabalhos lidos foram então classificados de acordo com o grau de acurácia com que foram descritos os pontos de coleta ou observação dos espécimens (registros). Os critérios utilizados nesta classificação estão na Tabela 2.

Tabela 1 – Total de publicações levantadas e ano da primeira publicação encontrada em cada área do conhecimento. Trabalhos envolvendo espécies animais ou vegetais foram enquadrados nas categorias “Ecologia” ou “Conservação” quando se considerou que seus objetivos se encaixavam melhor nestas categorias, não sendo, neste caso, incluídos nas categorias “Zoologia” ou “Botânica”.

Área do conhecimento Arqueologia Botânica

Total de publicações Ano da levantadas primeira até 2004 publicação 43

1975

635

1831

Conservação

30

1982

Ecologia

65

1846

Geografia

19

1869

Geologia

41

1931

História

24

1904

Limnologia

16

1999

Turismo

12

1991

Zoologia

126

1875

1.011

1831

Total


Madeira, Ribeiro, Oliveira, Nascimento & Paiva |

237

Tabela 2 – Critérios utilizados para a classificação dos registros quanto à acurácia da descrição dos pontos de coleta.

Descrição da localização do registro Acurácia Coordenadas fornecidas pelo autor ou ponto de referência conhecido e preciso, passível de ser Alta georreferenciado (p. ex. ponte sobre o rio Indequicé). Localização descrita de forma suficientemente precisa para circunscrever a coleta em uma área conhecida e não muito ampla (p. ex. Capão dos Palmitos).

Média

Localização descrita de forma vaga ou circunscrita a uma área excessivamente ampla (p. ex. Baixada do Mascates; Alto Palácio).

Baixa

Ausência de informação suficiente para a localização do ponto de coleta. Sem informação

Embora a partir da década de 1990 tenha havido crescente acesso aos aparelhos de localização por satélite, permitindo precisão cada vez maior na localização dos pontos de coleta, ainda hoje não são todos os estudos que descrevem os registros com boa acurácia. Para plotar em sistema de informação georáfica os registros de várias épocas, enfrentamos desafios comuns aos estudos biogeográficos – mudanças em toponímias e nomes de fazendas, mudanças no traçado das estradas e na quilometragem, e equívocos mesmo nas citações, como referência a um município incompatível com o rio em que se fez a coleta. Para identificar as referências geográficas foram úteis entrevistas com moradores antigos para localização de sedes de fazendas e toponímias em desuso, identificação dos leitos anteriores da rodovia MG-010 e quilometragem correspondente. Em geral, a informação sobre o município ou sobre estar ou não no Parque Nacional não foi útil, dado o alto grau de erro dos pesquisadores ao reportar este tipo de informação, em função da dificuldade de se reconhecer tais limites em campo. Foram considerados como de acurácia baixa os dados que se referiam a municípios, amplas regiões, ou simplesmente à Serra do Cipó. Tais informações não puderam ser incorporadas nos mapas, mas entraram nas demais análises, tais como distribuição das pesquisas nas diversas áreas do conhecimento ou mudança no grau de acurácia ao longo do tempo. Dos 544 trabalhos lidos, foram utilizados 513, os demais foram descartados por não haver sequer a certeza dos registros mencionados terem sido efetivamente provenientes da Serra do Cipó. Gerouse um banco de dados, com atualização periódica. A unidade utilizada para as análises foi a espécie. Assim, como muitos trabalhos lidam com várias espécies, o número de registros é bem superior ao número de trabalhos lidos. Não houve uma preocupação em resolver sinonímias, mas verificou-se a existência dos nomes em bancos de dados confiáveis, como o do Missouri Botanical Garden (MBG: W3Tropics).

Os registros com acurácia alta geram pontos precisos em mapa. Para os registros com acurácia média foram atribuídas coordenadas correspondentes ao centróide da região com o nome fornecido – por exemplo, Capão dos Palmitos, Fazenda Palácio, suficiente para mapeamento considerando a área de 130 mil hectares das duas unidades de conservação somadas. Em muitos casos (principalmente nos de acurácia média, com localização atribuída) houve sobreposição de pontos. Para representar esta situação em mapa, os pontos foram divididos em 6 classes, de acordo com a quantidade de registros que representam, pelos seguintes critérios: 1) 1 registro; 2) de 2 a 5 registros; 3) de 6 a 15 registros; 4) de 16 a 40 registros; 5) de 41 a 80 registros; 6) 81 ou mais registros. Para a elaboração dos mapas foi usado o programa ArcGIS 9.0. Foram elaborados mapas com cruzamentos de diversas das informações constantes do banco de dados e com as demais informações levantadas para a elaboração dos planos de manejo do Parque e da APA, como limites entre biomas e entre bacias hidrográficas. As informações serão disponibilizadas para quem deseje utilizá-las para fins científicos ou didáticos e prevê-se atualização períódica.

Resultados O primeiro registro científico obtido sobre a Serra do Cipó é do ano de 1831. Há trabalhos esporádicos ao longo do século XIX, todos com baixa acurácia quanto à localização dos pontos de coleta. Tais trabalhos trazem importantes informações acerca da situação da região há mais de 150 anos, que permitem algumas inferências quanto ao estado de conservação atual, e as mudanças na vegetação em função dos ciclos econômicos e de ocupação. Há, por exemplo, testemunhos enfáticos sobre a vertente leste da Serra do Cipó, que abrigava no século XIX uma luxuriante vegetação de Mata Atlântica, Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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comparada por Gardner (1841, citado por Guimarães, 1991) àquela da Serra dos Órgãos, hoje reduzida a extensos candeais, inseridos formal e equivocadamente no bioma Cerrado (Ribeiro et al., 2009). O número de registros de espécies por ano cresceu lentamente até a década de 1970, acelerando-se o ritmo (Figura 1) sobretudo por conta dos estudos botânicos, coordenados pelo Instituto de Botânica da USP. No total, foram computados 10.100 registros de espécies, sendo 4.485 (44,4%) de acurácia baixa, 4.982 (49,3%) de acurácia média e 633 (6,3%) de acurácia alta. Os registros com acurácia baixa foram maioria até a década de 1980. A partir da década de 1990 houve um aumento na preocupação com a localização dos registros, mas aqueles com acurácia alta só aparecem em proporção significativa na década de 2000, sendo atualmente maioria os registros com acurácia média (Figura 1). Para o simples registro da ocorrência das espécies, foram incluídos todos os registros, independentemente da acurácia, eliminando-se as repetições. Chegou-se a um total de 3.032 espécies, sendo 2.157 (71,1%) de plantas, 769 (25,4%) de animais e 106 (3,5%) de algas, sem considerar sinonímias. Entre as plantas, 1.465 (67,9%) das espécies registradas foram de Dicotiledôneas,

609 (28,2%) de Monocotiledôneas, 56 (2,6%) de Pteridófitas e 27 (1,3%) de outras classes (Figura 2). Entre os animais, foram registradas 69 espécies de Mamíferos (9,0%), 309 de Aves (40,2%), 51 de Répteis (6,6%), 59 de Anfíbios (7,7%), 30 de Peixes (3,9%), 251 de invertebrados (32,6%) (Figura 3). Foram registradas 376 famílias, considerando todos os grupos taxonômicos, sendo 156 de plantas (41,5%), 21 de algas (5,6%), 97 de invertebrados (25,8%), 7 de peixes (1,9%), 6 de anfíbios (1,6%), 10 de répteis (2,6%), 54 de aves (14,4%) e 25 de mamíferos (6,6%) (Figuras 2 e 3). Trata-se claramente de uma amostragem com tendência ao privilégio de plantas, em função, em parte, do destacado esforço coordenado de pesquisa durante décadas. Mas os números encontrados para a flora refletem, também, o inegável destaque das plantas em termos de diversidade e endemismos neste tipo de ecossistema, como ocorre em situações similares, como nos fynbos, na África do Sul (Cowling & Hilton-Taylor, 1994). Quanto ao grau de ameaça, de acordo com o Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas da Fauna de Minas Gerais (Machado et al., 1998) e com a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da Flora de Minas Gerais (Mendonça & Lins 2000), foram registradas 134 espécies ameaçadas, sendo 73 dicotiledôneas, 40 monocotiledôneas,

Figura 1 – Quantidades (barras) e porcentagem (linhas) de registros de espécies com acurácia baixa, média e alta por década na Serra do Cipó, entre 513 títulos. Entre parênteses o número total de registros para cada década, independentemente da acurácia.

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Figura 2 – Número de espécies da flora registradas por grupo taxonômico, de um total de 2.263 espécies registradas em todos os trabalhos lidos, incluídos os de baixa acurácia, excluídas repetições e espécies exóticas. Entre parênteses o número de famílias registradas para cada taxon, que totalizaram 177.

Figura 3 – Número de espécies da fauna registradas por grupo taxonômico, de um total de 769 espécies registradas em todos os trabalhos lidos, incluindo registros de baixa acurácia, excluídas repetições. Entre parênteses o número de famílias registradas para cada taxon, que totalizaram 199.

4 anfíbios, 7 aves, 1 invertebrado, 7 mamíferos, 1 peixe e 1 réptil (Tabela 4); Pela lista nacional, há apenas 6 espécies ameaçadas: 2 dicotiledôneas, 1 invertebrado, 1 mamífero e 2 répteis (Tabela 4). Quanto ao endemismo, 209 das espécies registradas são classificadas como endêmicas, divididas em duas categorias: endêmicas à Serra do Espinhaço (102) e endêmicas à Serra do Cipó (107) (Tabela 4). Deste total, 158 (75,6%) são plantas (86 endêmicas ao Espinhaço e 72 à Serra do Cipó). Portanto, tanto no que se refere a grau de ameaça quanto a grau de endemismo, há um grande destaque na Serra do Cipó para a flora, considerando o panorama atual. Deve-se destacar também os anfíbios, com proporção considerável de espécies endêmicas (11 das 59 espécies) e também que o grau de conhecimento sobre a flora é muito maior do que sobre os demais grupos taxonômicos, exceto mamíferos e aves cujas

Tabela 3 – Descritores mais frequentemente utilizados para os pontos de coleta pelos autores dos trabalhos de pesquisa, considerando os 3.122 registros de espécies com acurácia média ou alta.

Categorias

Rodovia MG-010 Outras estradas Parque Nacional* Outras referências Total

Número de registros

% do total

2.303

73,76

63

2,02

541

17,33

215

6,89

3.122 100

* Incluindo todos os pontos efetivamente localizados dentro do Parque, independentemente de o fato ser mencionado ou não pelo pesquisador. A ressalva é pertinente já que há uma certa confusão por parte de alguns pesquisadores que nem sempre conhecem os limites da unidades de conservação e julgam estar no Parque quando não estão, ou desconhecem estar no Parque quando estão.

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Tabela 4 – Número de espécies ameaçadas (pelas listas estadual [MG] e nacional [BR]) e endêmicas (à Serra do Cipó ou à Serra do Espinhaço) por grupo taxonômico. QA: “quase ameaçada”; VU: “vulnerável”; EP: “em perigo”; CP: “criticamente em perigo”; PE: “provavelmente extinta”; RA: “rara”; EE: “endêmica à Serra do Espinhaço”; EC: “endêmica à Serra do Cipó”. grupo Total de Taxonômico espécies Algae Bryopsida Coniferopsida Dicotyledoneae Lycopsida Monocotiledoneae Pteropsida Amphibia

Status de Ameaça MG Status de Ameaça BR QA

VU

EP

CP

106

0

0

0

0

0

20

0

0

0

0

0

PE RA

Endemismo

VU

EP

CP

PE EE

EC

0

0

0

0

0

2

17

0

0

0

0

0

0

0

2

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1.465

0

35

23

12

3

1

1

0

0

0

55

20

5

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

609

0

15

9

4

12

0

0

0

0

0

30

51

56

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

1

59

0

4

0

0

0

0

0

0

0

0

3

8

Ave

309

6

1

0

0

0

0

0

0

0

0

3

0

Invertebrata

251

0

1

0

0

0

0

0

0

1

0

6

7

Mammalia

69

0

3

3

1

0

0

1

0

0

0

0

1

Pisces

30

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

Reptilia

51

0

1

0

0

0 0

1

1

0

0 2

2

listas não devem crescer significativamente com mais esforço de pesquisa. É de se esperar um grande aumento na quantidade de espécies classificadas como ameaçadas e endêmicas entre os invertebrados, à medida que aumente a quantidade de espécies conhecidas. Quanto à distribuição espacial dos dados existentes, evidencia-se a concentração das coletas nas proximidades da rodovia que atravessa a Serra do Cipó (MG-010). A Tabela 3 lista como os pesquisadores descrevem seus locais de coleta, mostrando que cerca de 75% dos registros foram obtidos próximo a estradas, enquanto apenas cerca de 17% foram obtidos no Parque Nacional. Destes últimos, grande parte provêm das proximidades das sedes do Parque, onde há estrutura de alojamento para pesquisadores. As Figuras 4 a 7 mostram mapas da região, com os limites das unidades de conservação federais e os pontos de registro de espécies. Na Figura 4 estão os pontos de registros de espécies de plantas e invertebrados. Percebe-se uma grande concentração nos Campos Rupestres, sobretudo ao longo da rodovia MG-010. Os registros de fauna mostram maior dispersão, e um número bem menor de pontos (Figura 5). A Figura 6 mostra a distribuição espacial dos registros nas bacias hidrográficas dos rios São Francisco (a oeste) e Doce (a leste). Há um claro desequilíbrio no esforço de pesquisa, com 73,5% dos registros sendo provenientes da bacia do São Francisco, contra 26,5% da bacia do Doce (Figura 6). A única exceção a este

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padrão são os registros de invertebrados, provenientes em sua maioria (94,6%) da bacia do rio Doce. Estes dados, entretanto, resultam quase exclusivamente de estudos de um único grupo de pesquisa, que levantou invertebrados bentônicos em rios e córregos da região leste da Serra (Galdean et al. 2001 e outros trabalhos da equipe coordenada pelo Dr. Marcos Callisto). O conhecimento sobre invertebrados terrestres é muito pequeno, correspondendo certamente ao grupo com maior quantidade de espécies por registrar na região. A análise da distribuição dos registros entre os 3 biomas da região mostra uma grande concentração (80,2%) nos Campos Rupestres, contra 11,2% provenientes do Cerrado e 8,6% da Mata Atrlântica (Figura 7). A única exceção a esta tendência são os registros de aves, que provêm em sua maioria do Cerrado (91,7%). Mais uma vez, a maioria dos registros resultam da atuação de um único grupo de pesquisa que publicou um artigo com uma lista das aves do vale do rio Mascates (Rodrigues et al., 2005). A maior parte dos estudos, portanto, concentra-se nas fitofisionomias inseridas no complexo dos Campos Rupestres, e na vertente oeste da Serra (bacia do São Francisco). São ambientes sub-inventariados as matas de outras formações de neblina a leste, as fisionomias de mata atlântica associadas a solos mais férteis a leste e as fitofisionomias de cerrado, incluindo as vastas extensões de campos sujos.


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Figura 4 – Localização dos registros de ocorrência de plantas e invertebrados na região da Serra do Cipó. Apenas registros com acurácia alta (ponto exato) e média (localização atribuída) foram utilizados. Em muitos casos há sobreposição de pontos. Os diferentes símbolos indicam classes de quantidades de registros localizados no mesmo ponto:  = 1 registro;  = 2 a 5 registros; • = 6 a 15 registros;  = 16 a 40 registros;  = 41 a 80 registros;  = 81 ou mais registros.

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Figura 5 – Localização dos registros de ocorrência de vertebrados terrestres na região da Serra do Cipó. Apenas registros com acurácia alta (ponto exato) e média (localização atribuída) foram utilizados. Em muitos casos há sobreposição de pontos. Os diferentes símbolos indicam classes de quantidades de registros localizados no mesmo ponto:  = 1 registro;  = 2 a 5 registros; • = 6 a 15 registros;  = 16 a 40 registros;  = 41 a 80 registros;  = 81 ou mais registros.

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(B)

(A)

Figura 6 – A) Localização dos registros de ocorrência de espécies por bacia hidrográfica (São Francisco e Doce) na região da Serra do Cipó. Apenas registros com acurácia alta (ponto exato) e média (localização atribuída) foram utilizados. Em muitos casos há sobreposição de pontos. Os diferentes símbolos indicam classes de quantidades de registros localizados no mesmo ponto:  = 1 registro;  = 2 a 5 registros; • = 6 a 15 registros;  = 16 a 40 registros;  = 41 a 80 registros;  = 81 ou mais registros. B) O gráfico indica a porcentagem do total de registros de cada grupo taxonômico que foi verificada na bacia em questão. Pte: pteridófitas; Mon: monocotiledôneas; Dic: dicotiledôneas; Inv: invertebrados; Anf: anfíbios; Rep: répteis; Ave: aves; Mam: mamíferos.

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(B)

(A)

Figura 7 – A) Localização dos registros de ocorrência de espécies por bioma (Cerrado, Campos Rupestres e Mata Atlântica) na região da Serra do Cipó. Apenas registros com acurácia alta (ponto exato) e média (localização atribuída) foram utilizados. Em muitos casos há sobreposição de pontos. Os diferentes símbolos indicam classes de quantidades de registros localizados no mesmo ponto:  = 1 registro;  = 2 a 5 registros; • = 6 a 15 registros;  = 16 a 40 registros;  = 41 a 80 registros;  = 81 ou mais registros. B) O gráfico indica a porcentagem do total de registros de cada grupo taxonômico que foi verificada no bioma em questão. Pte: pteridófitas; Mon: monocotiledôneas; Dic: dicotiledôneas; Inv: invertebrados; Anf: anfíbios; Rep: répteis; Ave: aves; Mam: mamíferos.

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Discussão O interesse científico pela Serra do Cipó é antigo e remonta, pelo menos, às observações dos naturalistas europeus que passaram pela região a partir do século XIX. São cheios de surpresa os relatos de Saint-Hilaire (citado em Guimarães, 1991), Langsdorff (Silva et al., 1997), Spix e Martius (citados em Guimarães, 1991) entre outros, com a exuberância e diversidade da natureza da região. A Serra do Cipó era uma região muito pobre, periférica em relação aos centros de mineração, pela ausência de ouro ou outros minérios valiosos, à qual se deve a preservação até os dias atuais de parcelas consideráveis de seus ecossistemas, vizinhos a pequenos povoados com economia de subsistência. Mas as questões que mais lhes chamavam atenção permanecem atuais: como era possível tamanha quantidade de espécies diferentes com formas similares em tão pequenas distâncias? Como era possível a existência de tantas espécies de plantas de um mesmo gênero em simpatria? A Serra do Cipó concentrou os primeiros estudos sistemáticos sobre a vegetação dos campos rupestres, desde as primeiras expedições das equipes de botânicos da USP no início da segunda metade do século XX até a organização, na década de 1980, de levantamentos organizados da flora, que resultaram em monografias sobre as diversas famílias botânicas que vêm sendo publicadas desde então, com seguidas novidades surgindo até hoje, sendo publicadas principalmente no Boletim de Botânica da USP, a partir do seu número 9. Desde então os inventários detalhados da vegetação de campos rupestres se estenderam a diversas outras regiões notáveis, como Chapada Diamantina (Giulietti et al., 1997) e Grão-Mogol (Pirani et al., 2003), sempre se destacando a elevada taxa de endemismo restrito ao nível específico e a grande diversificação de alguns gêneros e famílias, tais como Eriocaulaceae, Velloziaceae, Xyridaceae. A expansão do conhecimento sobre campos rupestres vem reforçando a necessidade de criação e efetivação dos mecanismos de proteção, e confirmando as idiossincrasias e especificidades desta vegetação, que levaram Prance (1994) a defender que os campos rupestres sejam considerados como fitocória autônoma. Os campos rupestres são encontrados em numerosas e extensas áreas de afloramentos quartzíticos sobre o escudo brasileiro, nas porções centrais do Brasil, alcançando pelo menos os estados das regiões sudeste, centro-oeste e nordeste. Enfocando-se apenas a Serra

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do Espinhaço, trata-se de uma vegetação que recobre uma cadeia montanhosa com cerca de 1.000km de extensão, na direção norte sul, conectando a porção central do estado da Bahia à porção central do estado de Minas Gerais, sendo conhecida antigamente como Serra Geral, justamente em função de sua posição e ubiquidade. Considerando tamanha extensão territorial, proporcional à nossa ignorância acerca da real dimensão e distribuição espacial da diversidade nos campos rupestres, é de se desejar que estudos sobre sua flora, fauna, ecologia e conservação, dentre outros, focalizem áreas bem distribuídas na ampla extensão dos campos rupestres, de modo a responder a questões de caráter teórico e também a embasar estratégias de conservação eficazes. Esta tendência de dispersão, apesar de todas as dificuldades logísticas, vem sendo verificada. No entanto, ao fazermos uma análise mais detalhada de uma única região – a Serra do Cipó – percebemos uma elevada concentração de pesquisas que se deve, em parte, a questões logísticas – o deslocamento a partir das capitais não é trivial, principalmente até um passado recente quando poucas estradas eram pavimentadas, e se deve, em parte, a uma certa “saciedade” dos pesquisadores, que sempre encontraram diversidade e desafios imensos em áreas próximas às estradas. No entanto, a elevada diversidade de tipos de solos e climas existente na Serra do Cipó e a antiguidade dos usos do solo, exigem que certas questões sejam investigadas. Por exemplo, neste momento em que diversos empreendimentos estão sendo planejados e propostos para as imediações do Parque Nacional da Serra do Cipó, incluindo alguns de grande porte na área da mineração, quais são as áreas fora dos limites do Parque que devem ser priorizadas para a conservação? Qual a importância biológica e o grau de endemismo das áreas de campos rupestres distantes das estradas, como na vertente oriental da Serra, que claramente tem elementos de mata atlântica, como mencionado por Giulietti et al. (1987) e detalhado por Ribeiro et al. (2009). Qual a relação entre a heterogeneidade espacial da vegetação de campos rupestres e as características do substrato rochoso – que varia de quartzitos puros a formações com forte influência calcária ou anfibolitos? O mesmo deve ser pensado em relação à fauna, em grande parte associada ao Cerrado, mas que pode revelar grandes surpresas ao se aprimorarem os estudos na vertente oriental, inserida no vale do rio Doce, como vem sendo mostrado pela equipe do Dr. Marcos Rodrigues, que em relação a aves vem caracterizando quatro grandes Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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ambientes na região – Cerrados, Campos Rupestres, Campos de Altitute e Mata Atlântica, com seus grupos característicos. Tais questões podem ser pontos-chave na definição de decisões imediatas, como o zoneamento da APA Morro da Pedreira e a delimitação da zona de amortecimento do Parque Nacional da Serra do Cipó. Para que a ampliação das fronteiras locais dos trabalhos de campo seja viável, considerando a evidente pressão para que as pesquisas sejam realizadas dentro de prazos cada vez mais curtos, principalmente ao nível das pós-graduações, de onde vêm a maioria dos pesquisadores que frequentam a Serra do Cipó, é fundamental que os responsáveis pelas unidades de conservação e pela gestão dos recursos naturais de uma certa região favoreçam a interiorização das pesquisas, seja pela implantação de infra-estruturas e auxílio logístico, seja pela organização do conhecimento e proposição de perguntas, a partir da experiência local e desafios de manejo, que sirvam de estímulo e irresistível convite aos pesquisadores. No caso da Serra do Cipó, conseguiu-se recursos para a realização de três estudos que julgamos de extrema importância para que as futuras pesquisas tragam à tona uma compreensão mais aprofundada dos campos rupestres, quais sejam: 1) monitoramento das variáveis climáticas em duas estações meteorológicas localizadas nas sedes do Parque, uma a 750m de altitude e outra a 1.350 metros, em que são obtidos dados de temperatura, umidade relativa do ar e precipitação; 2) mapeamento anual das áreas queimadas desde a criação do Parque Nacional (1984), com uso de imagens LandSat, a cargo da Dra. Helena França e 3) mapeamento dos solos na escala 1:100.000, a cargo da equipe do Dr. Carlos Schaefer, do Departamento de Solos da UFV. Estes dados permitirão uma melhor compreensão do uso atual e histórico do solo, da vegetação potencial de cada região da Serra do Cipó, bem como de alguns dos mecanismos envolvidos na moldagem da paisagem e na evolução da vegetação e da fauna. Esperamos que estas informações provoquem novas linhas de pesquisa, que questionem a relação do fogo com a diversidade e estrutura da vegetação e que busquem maior compreensão em relação à influência da Mata Atlântica sobre a vegetação dos campos rupestres, dentre outras. A organização, sistematização e divulgação do conhecimento existente sobre as unidades de conservação, na sua própria região de influência, é outro grande desafio para todos os gestores. A manutenção de Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008

acervos tem um custo e uma demanda operacional que em muitos casos excede as possibilidades locais das unidades de conservação e das localidades onde ficam suas sedes. Disponibilizá-los ao público com responsabilidade é tarefa que estará acima das possibilidades de quase todas as unidades de conservação, no estágio atual de seus processos de implantação. No I Encontro Nacional de Parques de Montanha, realizado no Parque Nacional da Serra dos Órgãos em novembro de 2006, uma demanda geral, dos gestores, pesquisadores e usuários foi por apoio à implantação de meios de concentração da informação – publicações específicas, revisões, tótens com informação digitalizada, portais eletrônicos, por exemplo. Todos concordaram também com a necessidade de se criar estímulos e apoios para a realização de expedições e pesquisas no interior das unidades, evidenciando que a concentração dos estudos em regiões de mais fácil acesso é um problema geral. Também muito importante é o diálogo entre pesquisadores e técnicos das unidades de conservação e moradores de áreas vizinhas, de modo a se criar uma sinergia entre todos os atores deste processo, do qual fazem parte a preservação dos ecossistemas, a viabilização do acesso e permanência dos visitantes (incluindo pesquisadores) e a potencialização dos efeitos da visita, gerando uma experiência rica e marcante. Dois exemplos evidenciam a importância desta proposição: Sutherland (2000) descreve o caso de três mamíferos de grande porte localizados nas florestas mais ermas do Vietnã já na última década do século XX após grande esforço em campo, mas viabilizado concretamente em função de depoimentos e testemunhos da população local, principalmente caçadores. Tais descobertas fomentaram a ampliação e implementação de uma unidade de conservação. Na Serra do Cipó, a canela de ema gigante (Vellozia gigantea), planta tida como endêmica restrita, com cerca de 1ha de distribuição, foi mapeada em detalhe e sua distribuição elevada a cerca de 2.200ha, estudo estimulado por testemunhos de guias de montanha locais (Ribeiro et al., dados não publicados). Em função da ampliação da área conhecida de distribuição desta planta, a população primeiramente conhecida, que ocorre em afloramentos quartzíticos de grande beleza que concentram muitos dos estudos botânicos da USP, deixou de ser vista como prioritária para estrita conservação. No I Seminário Interdisciplinar de Pesquisadores da Serra do Cipó, realizada em 2007, apoiou-se a proposição de estabelecer naquela região uma trilha suspensa, interpretativa, que traga ao conhecimento público dados dos 40 anos de investigações botânicas.


Madeira, Ribeiro, Oliveira, Nascimento & Paiva |

Agradecimentos Agradecemos à Conservação Internacional pelo apoio oferecido na forma de bolsa para M.R. Juliano e J.S. Nascimento e equipamentos para geoprocessamento; ao Instituto Biotrópicos de Pesquisa em Vida Silvestre pela parceria, ao IBAMA pelos recursos e estrutura disponibilizados, aos colegas do IBAMA André Miranda, Sérgio Machado, Wagner Queiroga e Rafael Belmiro pela cooperação nos trabalhos de aferição em campo, à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza pelo financiamento das excursões à face leste do Parque Nacional da Serra do Cipó, no mapeamento da distribuição da “canela-de-ema gigante” (Vellozia gigantea).

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Identificação de áreas insubstituíveis para conservação da Cadeia do Espinhaço, estados de Minas Gerais e Bahia, Brasil Joaquim de Araújo Silva1,2 Ricardo Bomfim Machado3 Alexsander Araújo Azevedo1,2 Gláucia Moreira Drumond4 Rafael Luis Fonseca3 Maíra Figueiredo Goulart1,2 Edsel Amorim Moraes Júnior1 Cássio Soares Martins4 Mário Barroso Ramos Neto3 Biotrópicos – Instituto de Pesquisa em Vida Silvestre, Diamantina, Brasil. Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. 3 Conservação Internacional, Brasília, Brasil. 4 Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte, Brasil. * e-mail: quincas@biotropicos.org.br 1 2

Resumo A cadeia do Espinhaço é uma região montanhosa localizada no sudeste brasileiro, entre os estados de Minas Gerais e Bahia. A região é um divisor dos domínios do Cerrado e da Mata Atlântica em sua porção centro-sul e também um divisor do Cerrado e Caatinga em sua porção norte. O Espinhaço é também considerado um dos mais importantes centros de endemismos do Brasil, pois inúmeras espécies de diferentes grupos taxonômicos somente são encontradas nessa região. Devido à sua importância, realizamos um exercício de avaliação sobre o desempenho de um conjunto de áreas protegidas da região (31 unidades de conservação que somam pouco mais de 520.000 hectares) para a proteção de 648 objetos de conservação, sendo 607 espécies da fauna e da flora, 41 diferentes tipos de ecossistemas e um mapa representativo de serviços ambientais. Utilizamos a abordagem do planejamento sistemático para a conservação, onde estabelecemos metas explícitas de conservação para cada um dos alvos considerados. Dessa maneira, foi possível avaliar o desempenho do conjunto de áreas protegidas na conservação dos objetos selecionados, bem como identificar eventuais lacunas de conservação e apontar outras áreas complementares necessárias para assegurar a representatividade das unidades de conservação do Espinhaço. A análise de lacunas revelou que 271 objetos de conservação (41,8% do total) não estão adequadamente protegidos na região (considerando uma representação da meta de conservação abaixo de 10%) e para que houvesse uma proteção minimamente adequada, seria necessário incluir outras 27 áreas no sistema de áreas protegidas do Espinhaço. Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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abstract Espinhaço is the name for a mountain chain located on Southeasten Brazil, between the states of Minas Gerais and Bahia. The region, with 1,200km from north to south, is a natural division for the Brazilian Cerrado (woodland savanna) and the Atlantic Forest, and also a divisor for the Cerrado and Caatinga (tropical xerophytic forest) on the north. The Espinhaço is also an important endemism center, because many species from different taxonomic groups occurs only on this region. Due to its biological importance, we evaluate the performance of the protected areas set (a total of 31 protected areas that cover close to 520,000 hectares) on the protection of 648 conservation targets, being 607 species of fauna and flora, and 41 different ecosystems types. We used the approach of the systematic conservation planning and defined specific conservation goals for each considered target. So, it was possible to evaluate the performance of the protected areas on the protections of the selected targets, identify conservation gaps and highlight complementing areas needed to ensure the representativeness of Espinhaço’s system of protected areas. The gap analysis shows that 271 conservation targets (41.8% of total) weren’t properly protected on the region (i.e., targets with less then 10% of protection for the proposed goal). To build a representative system, additional 27 areas should be considered as new protected areas on the region.

Introdução A criação de áreas protegidas, conhecidas no Brasil como unidades de conservação, é considerada como uma das mais eficientes estratégias para a conservação da biodiversidade (Bruner et al., 2001; Hockings, 2003). Na última década houve um aumento bastante significativo no número de unidades e no tamanho das áreas protegidas ao redor do planeta. Até 2003 existiam pouco mais de 102.000 áreas protegidas ou uma área de 18,2 milhões de km2, o que corresponde a 11,5% da superfície terrestre do planeta (Brooks et al., 2004; Chape et al., 2003). A despeito desse enorme esforço, alguns estudos apontam para a necessidade de se adotar uma abordagem mais lógica para a inclusão de novas áreas nos sistemas regionais de áreas protegidas, pois mesmo considerando o total protegido no planeta, várias lacunas de conservação ainda existem (Rodrigues et al., 2004; Rodrigues et al., 2003). Parte dessa situação está relacionada ao fato de que a criação de unidades de conservação tem sido oportunista e muitas foram estabelecidas para atender objetivos diversos aos da conservação da biodiversidade (Pressey et al., 1993). Na tentativa de se evitar a proteção inadequada ou pouco representativa da biodiversidade nas áreas protegidas, situação observada em várias regiões (Armenteras et al., 2003; Fearnside & Ferraz, 1995; Oldfield et al., 2004; Paglia et al., 2004; Pressey et al., 2002), sugere-se a adoção de uma abordagem mais sistematizada para a conservação (Margules & Pressey, 2000;

Pressey et al., 1993). Conjuntos de áreas protegidas devem, dessa maneira, ser avaliados e diagnosticados em função do papel que desempenham na proteção da biodiversidade. Tal avaliação foi indicada como necessária pela Sétima Conferência das Partes (COP7) da Convenção sobre Diversidade Biológica. De acordo com o programa de trabalho com áreas protegidas, cada país deve realizar uma análise para estabelecer um conjunto de áreas que seja “compreensivo, efetivamente manejado e ecologicamente representativo e que sistemas nacionais e regionais ... contribuam para o cumprimento dos três objetivos da Convenção...” (UNEP-CDB, 2004). A necessidade de desenho de sistemas representativos de áreas protegidos é ainda maior nas regiões que apresentam grandes concentrações de espécies endêmicas, concentração essa resultante de longos processos evolutivos. A região da Cadeia do Espinhaço, localizada no leste brasileiro é um dos centros de endemismo reconhecidos no Brasil (Silva & Bates, 2002; Simon & Proença, 2000) que possui um baixo número de áreas protegidas. Se considerarmos somente as unidades de conservação de proteção integral (senso Brasil 2000), verifica-se que no Espinhaço o percentual de proteção é de apenas 2,6% para uma área de mais de 18 milhões de hectares. O trabalho apresentado faz parte do projeto Espinhaço Sempre Vivo, que é desenvolvido pelas organizações não governamentais Instituto Biotrópicos, Fundação Biodiversitas e Conservação Internacional e Megadiversidade | Volume 4 | Nº 1-2 | Dezembro 2008


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representa uma das primeiras etapas de planejamento e identificação de áreas prioritárias para a conservação na Cadeia do Espinhaço. Os objetivos desse estudo foram avaliar o desempenho das unidades de conservação existentes na proteção da biodiversidade e identificar áreas complementares, necessárias para a criação de um sistema representativo para a conservação da biota regional.

Materiais e Métodos Área de estudo A área considerada neste estudo abrangeu a cadeia do Espinhaço, uma formação montanhosa existente no leste brasileiro que se estende desde Minas Gerais até o estado da Bahia (Figura 1). O Espinhaço caracteriza-se por ser um conjunto de montanhas bastante antigas, do Paleo/Mesoproterozóico (Martins-Neto, 1998) que possuem uma alternância de formações quartzíticas e de filitos (Dossin et al., 1990). Do ponto de vista biogeográfico, o platô do Espinhaço representa uma das poucas áreas do Cerrado que se mantiveram estáveis durante mudanças climáticas do passado, inclusive as recentes alterações observadas no Pleistoceno. Com isto, é bem provável que tal estabilidade ecológica tenha permitido o surgimento de endemismos para vários grupos taxonômicos, como aves (Silva, 1997) ou plantas (Simon & Proença, 2000). A região é coberta por formações típicas do Cerrado, embora existam fitofisionomias de transição com outros biomas (IBGE 1993). Em sua porção centro-meridional, as encostas são recobertas por matas semideciduais que fazem a transição para a Mata Atlântica. Já na porção norte, há a presença de formações de transição com a Caatinga, na altura do Parque Nacional da Chapada de Diamantina. Ao longo de todo Espinhaço, nas regiões de maior altitude, predominam as formações campestres, em especial os campos rupestres, áreas de grande diversidade biológica que ocupam regiões disjuntas ao longo da Serra (Rapini et al., 2008). Nos campos rupestres predominam as canelas de ema, cactáceas, bromélias e sempre-vivas. As bromélias do Espinhaço, por exemplo, estão representadas por 221 espécies, sendo que 49% delas são endêmicas à região (Versiex et al., 2008). Para este estudo, consideramos como área de Espinhaço todas as regiões localizadas acima da cota de 800 metros de altitude, tendo-se como base o modelo digital de terreno elaborado pela Agência Espacial Americana – NASA (CGIAR-CIS 2004).

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Compilação de informações A primeira iniciativa do projeto Espinhaço Sempre Vivo foi a elaboração de um banco de dados sobre a biodiversidade da Cadeia do Espinhaço. Como se tratou de um banco de dados colaborativo, houve a sua disponibilização on line com o intuito de para receber contribuições de especialistas convidados. Inicialmente o banco de dados foi alimentado com informações disponíveis na literatura e, posteriormente, seguiu-se a fase de consulta ampla realizada de outubro de 2005 a fevereiro de 2006 (acesso http://www.biotropicos. org.br para ver a relação dos contribuintes do banco de dados). Os resultados compilados no banco de dados embasaram a segunda iniciativa do Projeto Espinhaço Sempre Vivo: a organização do seminário “Diagnóstico do status do conhecimento da biodiversidade e da conservação do Espinhaço”, realizado de 13 a 15 de março de 2006, na Fazenda Monjolos, Serra do Cipó, Minas Gerais, com a participação de pesquisadores de várias áreas do conhecimento biológico que atuam em Minas Gerais e na Bahia. Durante o evento foi aplicado um exercício de planejamento da conservação da Cadeia do Espinhaço. Identificação de áreas insubstituíveis De acordo com os princípios do planejamento sistemático para a conservação (Balmford, 2003; Cowling & Pressey, 2003; Margules & Pressey, 2000), o desenho de um sistema representativo de áreas protegidas deve ser elaborado a partir da revisão do conjunto de unidades de conservação existentes para proteção de objetos de conservação previamente selecionados. Para cada objeto selecionado devem ser estabelecidas metas explícitas de conservação que possam ser utilizadas para avaliar a performance do conjunto de unidades de conservação na proteção dos objetos considerados. O grau de importância das regiões que devem ser adicionadas ao sistema de áreas protegidas para complementar a conservação dos objetos selecionados é medido por sua insubstituibilidade. Assim, a insubstituibilidade é a medida da contribuição de uma determinada unidade de planejamento para a consecução das metas estabelecidas (Pressey et al., 1994). Para a determinação do valor da insubstituibilidade e o desenho de cenários de conservação, utilizamos o programa MARXAN (Marine Reserve Design Using Spatially Explicit Annealing) (Ball & Possingham, 2000). O programa requer, além da indicação dos objetos de conservação e respectivas metas, a definição de um indicativo do custo associado a cada unidade de planejamento (as subdivisões da região de análise). A solução final, que define um sistema representativo de áreas


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protegidas, representa o cenário de menor custo dentro de um conjunto de soluções possíveis. O programa MARXAN possui uma função objetivo que busca soluções de menor custo para a proteção total dos objetos e metas estabelecidas. Isso vale dizer que o programa busca selecionar as unidades de planejamento que mais contribuem (alta insubstituibilidade) ao menor custo possível. Com indicador da variável ‘custo’, elaboramos uma análise multivariada que combinou 12 diferentes variáveis representativas da maior ou menor pressão antrópica no Espinhaço (vide abaixo). Unidades de planejamento Com o uso do programa Patch Analyst 3.0 (Rempel, 2006), dividimos a região de estudos em hexágonos regulares (denominadas ‘unidades de planejamento’) com o tamanho de 5.000 hectares cada. O mapa das unidades de planejamento foi então cruzado com o mapa das áreas protegidas existentes na região para a criação do mapa básico das análises (Figura 1). Utilizamos o programa CLUZ (Conservation Land-Use Zonning) (Smith, 2004) para elaborar três tabelas básicas: uma com a disponibilidade das unidades de planejamento para cenários de conservação, uma com a distribuição dos objetos de conservação dentro da área de estudo e uma com as metas de conservação associadas com cada objeto de conservação (http://www.conservacao. org/publicacoes/mega4_tab2.pdf). Objetos e metas de conservação Para a avaliação da efetividade do conjunto de áreas protegidas existentes na Serra do Espinhaço (Tabela 1) na proteção de espécies e ecossistemas, levantamos informações sobre a ocorrência de 607 espécies de aves, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes, invertebrados e plantas vasculares (http://www.conservacao. org/publicacoes/mega4_tab2.pdf). Tais espécies foram selecionadas ou por serem espécies ameaçadas de extinção (segundo a Lista da União Internacional para Conservação – IUCN de 2004 e da Lista Brasileira de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção) (IUCN, 2004; MMA, 2003) ou por serem espécies endêmicas do Brasil. As informações sobre a distribuição das espécies foram obtidas nas bases de dados da Fundação Biodiversitas, Conservação Internacional e também por meio da colaboração dos pesquisadores envolvidos no projeto ‘Espinhaço Sempre Vivo’. Mesmo considerando que a base de dados utilizada possui mais de 11.000 registros de quase 6.000 espécies, ainda podem ser encontradas grandes lacunas geográficas sobre o conhecimento científico. Grande parte dos estudos sobre

251

inventários e ocorrências de espécies está concentrada em áreas como a proximidade de centros urbanos ou determinadas unidades de conservação, como é o caso do Parque Nacional da Serra do Cipó (Figura 2). Por esse motivo, utilizamos um conjunto de objetos de conservação que pudesse representar a biodiversidade nas regiões com ausência de dados. Elaboramos um mapa com diferentes tipos de ecossistemas e o utilizamos como um ‘substituto’ da biodiversidade para a região (ver abaixo). Por fim e com o intuito de incorporar parte dos serviços ambientais em um esquema de planejamento, elaboramos um mapa representativo das nascentes dos rios da região. Detalhes sobre a criação de cada um desses mapas encontram-se a seguir. Espécies – Selecionamos, entre os grupos de vertebrados (mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes), invertebrados e plantas vasculares superiores, um total de 607 espécies consideradas ameaçadas, endêmicas ou raras com ocorrência para a Cadeia do Espinhaço. As ocorrências foram representadas por pontos que foram cruzados com o mapa de unidades de planejamento para indicar a presença de cada espécie nas unidades de consideradas. Para os casos onde houve mais de um registro de ocorrência das espécies em uma mesma célula, consideramos somente um dos registros. Dessa maneira, a matriz de ocorrências das espécies nas unidades de planejamento reflete apenas a presença ou ausência das mesmas. Para efeitos de avaliação do desempenho do conjunto de unidades de conservação na proteção das espécies, consideramos as seguintes metas: para espécies com menos de cinco ocorrências a meta estabelecida foi de 100% dos pontos; para espécies com ocorrências entre cinco e dez registros, a meta estabelecida foi de 80% e para espécies com mais de 10 ocorrências a meta estabelecida foi de 50% dos registros. Além da meta de conservação e observando as exigências dos programas utilizados, estabelecemos diferentes pesos para os objetos de conservação. Tais pesos são considerados pelo MARXAN como uma penalidade a ser atribuída a um cenário de conservação, caso algum objeto de conservação não seja incluído na solução final (Ball & Possingham, 2000). Os pesos estabelecidos variaram de acordo com o status de conservação das espécies, sendo maiores valores para espécies ameaçadas, valores intermediários para espécies endêmicas e valores mais baixos para as demais espécies (Tabela 2). Ecossistemas – Considerando que os registros de espécies são espacialmente muito agrupados (Figura 2), criamos um mapa de tipos de ecossistemas, que foi utilizado como ‘substituto’ espacial das informações

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Figura 1 – Localização da área de estudo ao longo da Cadeia do Espinhaço, entre os estados de Minas Gerais e Bahia. Os polígonos em verde indicam as unidades de conservação avaliadas. O restante da área que está na cor laranja indica as unidades de planejamento ‘disponíveis’ para conservação.

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Figura 2 – Distribuição dos registros de ocorrências de espécies endêmicas, raras ou ameaçadas de extinção ao longo da Cadeia do Espinhaço. Os polígonos em verde indicam as unidades de conservação avaliadas. O restante da área que está na cor laranja indica as unidades de planejamento ‘disponíveis’ para conservação.

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Tabela 1 – Relação das áreas protegidas avaliadas durante o processo de identificação de lacunas de proteção e mapeamento das áreas insubstituíveis para a conservação na Cadeia do Espinhaço entre os estados de Minas Gerais e Bahia.

categoria categoria Ano de abrev. IUCN snuc Nome criação Objetos* PN II

Parque Nacional

1985

11

151.116

PN II PE II

Parque Nacional Sempre Vivas

2002

4

124.210

Parque Estadual

1998

8

52.859

PE II

Parque Estadual Grão-Mogol

PN II

Parque Nacional Serra do Cipó

1998

24

34.861

1987

244

APEE VI

31.782

Área de Proteção Especial Soberbo

1989

2

24.087

PE II

Parque Estadual

1998

13

17.382

PE II

Parque Estadual Serra Negra

1998

3

13.965

PE II

Parque Estadual Serra Nova

2003

3

12.656

1994

85

12.509

RPPN IV Res. Part. do Patrimônio Natural PE II

Chapada Diamantina

Área (ha)

Morro do Chapéu

Biribiri

Caraça

1993

31

10.070

EEE Ib Estação Ecológica Estadual Acauã

Parque Estadual Rio Preto

1974

2

6.455

PE II

Parque Estadual Itacolomi

1967

22

6.142

PE II

Parque Estadual

1998

8

4.733

PE II

Parque Estadual Serra da Candonga

1998

2

4.656

PE II

Parque Estadual Rola Moça II

1994

24

3.978

MNE III

Monumento Natural Estadual

Cachoeira Ferro Doido

1998

1

1.987

APEE VI

Área de Proteção Especial

Taboão

1982

2

1.408

EEE Ib Estação Ecológica Estadual

Mata dos Ausentes

1974

1

976

RPPN IV Res. Part. do Patrimônio Natural

Jambreiro

1998

5

933

RPPN IV Res. Part. do Patrimônio Natural

Capitão do Mato

1990

4

885

RBM Ia Reserva Biológica Municipal

Mata do Bispo

1999

1

698

EEE Ib Estação Ecológica Estadual

Córregos dos Fechos

1994

22

549

EEE Ib Estação Ecológica Estadual

Tripuí

1978

3

445

PM II

Mangabeiras

1982

7

337

Parque Municipal Natural

RPPN IV Res. Part. do Patrimônio Natural

Pico do Itambé

1993

1

308

RPPN IV Res. Part. do Patrimônio Natural Andaime

Belgo Mineira I

1988

1

250

APEE Ib Estação Ecológica Estadual

Cercadinho

2006

1

247

RPPN IV Res. Part. do Patrimônio Natural

Belgo Mineira II

1993

1

216

RPPN IV Res. Part. do Patrimônio Natural

Mata Samuel de Paula

2000

1

147

PE II

Parque Estadual

Baleia

1988

1

137

APAE** V

Área de Prot. Ambiental Estadual

Águas Vertentes

1998

76.310

APA** V

Área de Proteção Ambiental

Carste de Lagoa Santa

1996

35.600

APA** V

Área de Proteção Ambiental

Cavernas do Peruaçu

1989

143.866

APA** V

Área de Proteção Ambiental

Morro da Pedreira

1990

66.200

TI**

Terra Indígena

Luiza do Valle

1979

10.116

* A coluna Objetos indica o número de objetos de conservação (espécies, ecossistemas ou serviços ambientais) registrados nas áreas protegidas. ** Áreas consideradas somente na análise de custos (vide Metodologia).

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Tabela 2 – Relação das variáveis utilizadas para a definição do custo associado com as unidades de planejamento da Cadeia do Espinhaço.

Variável

Descrição

Peso

Fonte Mapa DNPM

Variáveis Positivas LAVRA

Área de lavras ativas na região

0.3787

POP

Número total de habitantes por município em 2000

0.3237 Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - UNESCO

DESMAT

Proximidade de áreas desmatadas 0.1508 Imagens MODIS (MOD13QA) considerando o período de 2000 a 2005

ESTRA

Proximidade de estradas de rodagem pavimentadas

0.0810

Mapas IBGE (Brasil ao Milionésimo)

FOCOS

Frequência de focos de calor entre 2001 a 2005

0.0509

Banco de Queimandas - INPE

CRESC

Taxa de crescimento populacional entre 1991 e 2000

0.0147 Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - UNESCO

Variáveis Negativas NATIV

Porcentagem de áreas nativas remanescentes em 2005

0.4637 Imagens MODIS (MOD13QA)

APP Densidade de áreas de preservação permanente

0.2130

Mapas IBGE (Brasil ao Milionésimo)

UCPI

0.1323

Base CI-Brasil

GOVER Estrutura de governança nos municípios considerados

0.1302

Base ‘Perfil do Municípios Brasileiros’ - IBGE

UCUS

Proximidade de unidades de conservação de uso sustentável

0.0330

Base CI-Brasil

APA

Proximidade de áreas de proteção ambiental

0.0277

Base CI-Brasil

Proximidade de unidades de conservação de proteção integral

MODIS – Moderate Resolution Image Spectroradiometer DNPM – Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (www.dnpm.gov.br) INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (http://paraguay.cptec.inpe.br/produto/queimadas/) Atlas de Desenvolvimento Ambiental – (PNUD 2003) IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Base ‘Perfil dos Municípios Brasileiros’ disponível em http://www.ibge.gov.br/munic2005/index.php

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256 | Identificação de áreas insubstituíveis para conservação da Cadeia do Espinhaço, estados de Minas Gerais e Bahia, Brasil

ECOSSISTEMAS Floresta decidual montana-baixa Floresta decidual-alta Floresta decidual-baixa Floresta decidual-média Floresta semidecidual montana-baixa Floresta semidecidual montana-média Floresta semidecidual-alta Floresta semidecidual-baixa Floresta semidecidual-média Floresta ombr densa-baixa Floresta ombr densa-média Refúgio ecológico-alta Refúgio ecológico-baixa Refúgio ecológico-média Savana arborizada-alta Savana arborizada-baixa Savana arborizada-média Savana estépica arborizada-baixa Savana estépica arborizada-média Savana estépica floresta-alta Savana estépica floresta-baixa Savana estépica floresta-média Savana floresta-alta Savana floresta-baixa Savana floresta-média Savana gramíneo lenhosa-alta Savana gramíneo lenhosa-baixa Savana gramíneo lenhosa-média Savana parque-alta Savana parque-baixa Savana parque-média Trans savana estépica-floresta estacional-alta Trans savana estépica-floresta estacional-baixa Trans savana estépica-floresta estacional-média Trans savana-savana estépica-floresta estacional-baixa Trans savana-savana estépica-floresta estacional-média Trans savana-savana estépica-floresta estacional-alta Trans savana-floresta estacional-baixa Trans savana-floresta estacional-média Trans savana-savana estépica-baixa

Albers Equal Area Conic Meridiano central: 45 Graus DATUM: SAD69

Figura 3 – Mapeamento dos diferentes tipos de ecossistemas considerados para as análises de priorização de conservação para a Cadeia do Espinhaço.

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257

DENSIDADES NASCENTES

1-4 5-7 8 - 10 11 - 15 16 - 21

Albers Equal Area Conic Meridiano central: 45 Graus DATUM: SAD69

Figura 4 – Mapeamento das nascentes dos principais rios que se originam na Cadeia do Espinhaço. As cores indicam o número de nascentes existente em cada unidade de planejamento considerada. Os polígonos em verde indicam as áreas protegidas avaliadas.

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258 | Identificação de áreas insubstituíveis para conservação da Cadeia do Espinhaço, estados de Minas Gerais e Bahia, Brasil

Figura 5 – Conjunto de variáveis utilizadas para a elaboração do mapa de esforço de conservação. Estas variáveis foram denominadas como ‘positivas’, pois contribuem para aumentar o esforço que deve ser empreendido para promover a conservação da região.

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Figura 6 – Conjunto de variáveis utilizadas para a elaboração do mapa de esforço de conservação. Estas variáveis foram denominadas como ‘negativas’, pois contribuem para diminuir o esforço que deve ser empreendido para promover a conservação da região.

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260 | Identificação de áreas insubstituíveis para conservação da Cadeia do Espinhaço, estados de Minas Gerais e Bahia, Brasil

UNIDADES DE PLANEJAMENTO

- 33.53 – 11.31 11.32 – 37.10 37.11 – 70.19 70.20 – 111.86 111.87 – 182.58 Unidades de conservação

Albers Equal Area Conic Meridiano central: 45 Graus DATUM: SAD69

Figura 7 – Mapa do esforço de conservação resultante da combinação de variáveis positivas (vide Figura 5) e variáveis negativas (vide Figura 6). As regiões em vermelho representam aquelas onde a conservação da biodiversidade é dificultada pela co-ocorrência de um conjunto de fatores que aumentam a pressão antrópica sobre o ambiente. De modo contrário, em verde encontram-se as áreas onde há uma menor pressão antrópica e, dessa maneira, a conservação da biodiversidade seria facilitada.

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sobre biodiversidade. Esse mapa foi gerado a partir do mapa de vegetação do Brasil (IBGE, 1993), sendo que os tipos vegetais coincidentes com a região de estudo foram divididos segundo três faixas de altitude: até 800 metros, entre 800 e 1.000 metros e acima de 1.000 metros. O mapa com as faixas de altitudes consideradas foi elaborado a partir de uma reclassificação do modelo digital de terreno criado pela NASA (CGIAR-CIS, 2004). Com isso, foi gerado um mapa com 40 diferentes tipos de ecossistemas (Figura 3), sendo que cada um dos ‘ecossistemas’ foi considerado um objeto de conservação distinto. Para esse conjunto de objetos de conservação foi estabelecida uma meta geral de 20% da área de cada tipo de ecossistema (http://www. conservacao. org/publicacoes/mega4_tab2.pdf). O valor da meta não se refere a nenhum critério biológico, mas corresponde a uma exigência legal prevista no Brasil. De acordo com o Código Florestal Brasileiro (Brasil, 1965), cada propriedade particular localizada no Cerrado deve manter um mínimo de 20% de sua área sob a forma de uma reserva legal, sendo que esse percentual foi extrapolado para toda a região. Serviços ambientais – Além das espécies e dos ecossistemas, dois importantes componentes da biodiversidade de qualquer região, incluímos também outro tipo de objeto de conservação: os serviços ambientais. De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica, processos ecológicos e serviços ambientais devem fazer parte de esquemas nacionais ou regionais de conservação, conforme previsto no Programa de Trabalho com Áreas Protegidas (Objetivo 1.1, atividade sugerida 1.1.5) (UNEP-CDB, 2004). Como serviço ambiental básico ou essencial, consideramos as nascentes de rios da região do Espinhaço. Mapeamos todas as cabeceiras dos rios representados no mapa da hidrografia da região, representado na escala 1:1.000.000 (IBGE, 2003). As nascentes foram então cruzadas com o mapa das unidades de planejamento para gerar um mapa que representasse o número de nascentes por unidade de planejamento na região (Figura 4). Para esse tipo de objeto de conservação consideramos uma meta de 10% do total de nascentes mapeadas. Custos e oportunidades de conservação Como requisito básico do programa MARXAN, cada unidade de planejamento deve ter um custo associado para consideração da mesma nas soluções espaciais geradas. Unidades de planejamento com alto custo e baixa insubstituibilidade geralmente não são consideradas nas soluções espaciais. Elaboramos 12 mapas temáticos referentes a dois conjuntos de variáveis associadas com

261

o custo das unidades de planejamento: seis variáveis que diminuem o custo de conservação e seis variáveis que aumentam o custo de conservação. As variáveis utilizadas constam na Tabela 2 e as mesmas foram combinadas de acordo com a seguinte fórmula: Custo = (L*p+P*p+D*p+E*p+F*p+C*p) – (N*p+AP*p+Us*p+G*p+U*p+A*p) Onde, as letras maiúsculas representam as variáveis conforme a ordem e a descrição que consta na Tabela 2 (L=Lavra, P=Pop, D=Desmat e assim sucessivamente). Cada variável foi multiplicada por um peso específico (representado pela letra ‘p’ na fórmula) para indicar a sua importância na composição final do custo. Os pesos foram definidos por meio de uma avaliação por critérios múltiplos (ver abaixo). A representação espacial das variáveis positivas consta na Figura 5 e a representação das variáveis negativas consta na Figura 6. O produto final dessa equação está representado na Figura 7, que demonstra desde unidades de planejamento com baixo custo de conservação (áreas representadas em verde) até unidades com alto custo de conservação (áreas representadas em vermelho). Para efeitos da combinação das variáveis na fórmula acima, cada uma delas foi padronizada para representar os valores correspondentes em uma escala variando de 0 a 100. Todas as variáveis trabalhadas, descritas à sequência, foram representadas em mapas matriciais com resolução espacial de 250 metros. Tal resolução foi escolhida por ser a mesma das imagens MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) utilizadas em parte das análises. Preparação das variáveis utilizadas LAVRA – Informações sobre lavras ativas (áreas de mineração em plena atividade na região da Cadeia do Espinhaço ou em fase de licenciamento) foram obtidas no Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM (http://www.dnpm.gov.br). O arquivo vetorial (no formato shape) foi convertido para o formato matricial com o uso do programa Idrisi (Eastman, 2003) e com o uso dos comandos Distance e Fuzzy, foi gerado um mapa de distâncias a partir das lavras ativas. A influência das lavras ativas foi considerada importante até uma distância de 5km e a partir da daí decaía gradativamente até 10km, quando então deixava de influenciar as unidades de planejamento. Para cada unidade de planejamento da região foi representada a percentagem (escala de 0 a 100) da área ocupada pelos pixels do mapa gerado a partir das distâncias de lavras ativas. O resultado dessa análise está representado na Figura 5.

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262 | Identificação de áreas insubstituíveis para conservação da Cadeia do Espinhaço, estados de Minas Gerais e Bahia, Brasil

POP – O número de habitantes em cada município da região de análise (325 municípios) para o ano de 2000 (PNUD, 2003) foi representado em um mapa de pontos referentes às sedes municipais. A partir de uma interpolação, foi gerada uma superfície de valores para a região de análise, sendo que a faixa de valores obtida foi dividida em 100 classes. O mapa com as unidades de planejamento foi sobreposto ao mapa do número de habitantes e calculamos o valor médio do número de habitantes para cada unidade. O resultado dessa análise está representado na Figura 5. DESMAT – Para o mapeamento das áreas potencialmente desmatadas entre os anos de 2000 e 2005 utilizamos duas imagens do satélite Terra (sensor MODIS, produto MOD13Q), obtidas gratuitamente na página da NASA – Agência Espacial Americana (http:// edcimswww. cr.usgs.gov/pub/imswelcome/). As imagens foram reprojetadas para a projeção Cônica de Albers (Equal Area), sendo mantida a resolução original dos dados (250 metros). Selecionamos a banda EVI (Enhanced Vegetation Index) do MOD13Q para a realização de uma análise de variação dos valores do índice de vegetação entre os períodos considerados. Os procedimentos adotados foram semelhantes àqueles utilizados por (Ferreira et al., 2003; Gomes et al., 2005). Entretanto, consideramos como áreas desmatadas todos os conjuntos de pixels com área superior a 100 hectares e cujos valores tenham sido inferior à média e mais um desvio padrão da diferença entre as imagens das datas selecionadas. A partir da localização dos desmatamentos, elaboramos um novo mapa de distâncias dos desmatamentos. Usamos a opção Fuzzy do programa Idrisi para estabelecer a influência dos desmatamentos, sendo considerada uma faixa de influência máxima até 5km com queda gradativa dos 5 aos 10km de distância. Representamos o valor médio das distâncias nas unidades de planejamento da região, sendo que os valores foram padronizados em uma escada de 0 (nenhuma influência) até 100 (influência total). O resultado dessa análise está representado na Figura 5. ESTRA – Com base no mapa de estradas pavimentadas existentes para a região (IBGE, 2003), criamos uma imagem matricial representativa das distâncias a partir das estradas. De maneira semelhante ao mapa dos desmatamentos e das áreas de lavras, usamos a opção Fuzzy do programa Idrisi para limitar a influência das estradas até uma faixa de 5km com queda gradativa até os 10km. Os valores desse mapa foram representados em uma escala de 0 a 100. Cruzamos o mapa com as unidades de planejamento e representamos o valor médio da distância a partir das estradas em cada uma das unidades. O resultado dessa análise está representado na Figura 5.

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FOCOS – A partir da obtenção dos focos de calor registrados pelo INPE (http://www.inpe.br/queimadas), selecionamos aqueles ocorridos entre 2001 e 2005 e que foram captados pelo sensor MODIS tarde. A frequência de focos de calor foi representada para cada uma das unidades de planejamento trabalhadas, sendo que os registros foram padronizados em uma escala de 0 a 100. O resultado dessa análise está representado na Figura 5. CRESC – De maneira semelhante ao mapa de número de habitantes (POP), representamos a taxa de crescimento populacional registrada nos municípios da região para o período 1990 a 2000 (PNUD, 2003). O valor da taxa de crescimento foi atribuído ao mapa com as sedes municipais e a partir deste foi feita uma interpolação dos valores para a representação de uma ‘superfície’ de crescimento. Os valores da interpolação foram padronizados de -100 a +100, para os casos onde foram registrados crescimentos negativos (perda de população) e crescimentos positivos (aumento da população). Para cada unidade de planejamento da região representamos o valor médio da taxa de crescimento calculada. O resultado dessa análise está representado na Figura 5. NATIV – A partir da classificação de imagens do sensor MODIS (produto MOD13Q obtida em 25 de maio de 2005) geramos um mapa com as áreas nativas remanescentes para a região. Os procedimentos para a classificação das imagens foram, resumidamente, os seguintes: importação e reprojeção das bandas MIR (middle-infrared), NIR (near-infrared), RED (red) e EVI (enhanced vegetation index) com o uso do programa MODIS Reprojection Tools versão 3.3 (http://edcdaac. usgs.gov/landdaac/tools/modis); aplicação de um filtro de mediana 3x3 para atenuar os efeitos dos pixels isolados, conforme procedimentos sugeridos por (Richards, 1993); realização de classificação não supervisionada (Isocluster) com as quatro bandas selecionadas, da qual foram geradas 30 classes e que posteriormente foram manualmente agrupadas em três níveis (nativas, antrópicas e ‘sombras’). Após a produção do mapa de áreas nativas, calculamos o percentual de remanescentes em cada unidade de planejamento, sendo que essas foram representadas em uma escala de 0 (sem remanescentes) a 100 (cobertura total da unidade de planejamento por áreas nativas). O resultado dessa análise está representado na Figura 6. APP – A partir do mapa de hidrografia da região (IBGE, 2003) geramos um mapa com as áreas de preservação permanente previstas no Código Florestal Brasileiro (Brasil, 1965). Mapeamos os rios da região e nascentes e geramos um buffer de 50 metros para a maioria dos rios


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e nascentes e um buffer de 100 metros para os principais rios (rio Jequitinhonha e rio das Velhas). Além disto, geramos um mapa de declividades a partir do processamento do modelo digital de terreno disponibilizado pela NASA (http://srtm.csi.cgiar.org/) e identificamos as regiões com mais de 45% de declividade. Após esses procedimentos, representamos em cada unidade de planejamento a área ocupada por áreas de preservação permanente e reescalonamos os valores em uma faixa de 0 a 100. O resultado dessa análise está representado na Figura 6. UCPI – Com base em um mapa contendo as unidades de conservação de proteção integral (Tabela 1), conforme definição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Brasil, 2000), criamos um mapa de distâncias a partir dessas. Os procedimentos foram semelhantes à produção dos mapas de estradas (ESTRA) ou de mineração (LAVRA), onde aplicamos o comando Fuzzy do Idrisi para gerar um mapa de influência das unidades de conservação, sendo que a influência das mesmas era grande até 10km e depois decaía gradativamente entre 10 e 20km. O resultado dessa análise está representado na Figura 6. GOVER – Para representar a estrutura de governança dos 325 municípios abrangidos pela área de estudo, selecionamos sete variáveis a partir da base de dados ‘Perfil dos Municípios Brasileiros (disponível em http:// www.ibge.gov.br). As variáveis utilizadas foram existência de plano diretor, existência de lei de parcelamento do solo, existência de zoneamento do município, existência de conselho municipal de meio ambiente, realização de reuniões regulares do conselho municipal de meio ambiente e existência de fundo municipal de meio ambiente. Cada variável foi classificada em três níveis: 0 (ausência), 10 (existência) ou 20 (existência, frequência ou disponibilidade). Os valores foram somados para a determinação de um escore para cada município, sendo que os municípios com baixos valores são aqueles com pequena estrutura de governança e os com altos valores são aqueles com boa estrutura de governança. Após essa estimativa, calculamos o valor médio da governança para cada unidade de planejamento da região. O resultado dessa análise está representado na Figura 6. UCUS – De maneira semelhante à variável UCPI, criamos um mapa de influência das unidades de uso sustentável e das terras indígenas (Tabela 1). Criamos um mapa de distâncias a partir dessas UC’s e utilizamos o comando Fuzzy do Idrisi para limitar a influência dessas áreas para uma faixa de 10km com gradativa redução até 20km. O resultado dessa análise está representado na Figura 6.

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APA – As áreas de proteção ambiental (APA) foram consideradas separadamente em relação às demais unidades de conservação, pois tais unidades são muito heterogêneas e frequentemente incluem áreas urbanas em seus limites. De maneira semelhante aos demais mapas de unidades de conservação, geramos uma superfície de distâncias a partir das APAs e reclassificamos o mapa com o uso do comando Fuzzy do Idrisi para limitar a influência dessas unidades. Os parâmetros utilizados foram os mesmos, sendo 10km para uma influência direta e caimento gradativo até os 20km. O resultado dessa análise está representado na Figura 6. Definição dos pesos das variáveis As 12 variáveis descritas acima foram combinadas por meio de uma avaliação por critério múltiplo (multicriteria evaluation ou MCE). O procedimento consiste na definição de uma matriz de importância relativa de uma variável em relação às demais para o cálculo de seu peso. Conforme procedimentos dados por (Eastman, 2003). Essa avaliação foi feita pelos participantes do seminário do Espinhaço, que foram divididos em três grupos. Cada grupo estimou o peso de cada variável e posteriormente calculamos o valor médio sugeridos pelos grupos. O peso final de cada variável, utilizado para o cálculo do custo ou oportunidade de conservação das unidades de planejamento consta na Tabela 2. O resultado dessa combinação está representado na Figura 7. Simulações com o programa MARXAN Utilizamos o programa MARXAN para identificar as áreas complementares para a conservação de todos os objetos selecionados (espécies, ecossistemas e serviços ambientais) na região da Cadeia do Espinhaço. No MARXAN utilizamos alguns parâmetros básicos nas simulações, sendo que esses incluem o uso da opção ‘simulated annealing’ (utilizada para restringir alterações nos cenários à medida que soluções espaciais de menor custo vão sendo encontradas), opção heuristic e algoritmo ‘heuristic’ com a opção ‘max rarity’ (para a inclusão prioritária de unidades de planejamento que possuam objetos de conservação mais raros) e o uso da opção ‘boundary length’ (utilizada para agrupar unidades de planejamento mais próximas). Instruímos que o programa realizasse 300 simulações para a determinação do cenário ideal para a identificação de áreas complementares que assegurassem a representatividade do conjunto de áreas protegidas no Espinhaço. Após a realização dessas simulações, geramos um mapa com a frequência de seleção das unidades de planejamento

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pelas simulações realizadas (opção Summed Solution do MARXAN). Esse mapa foi utilizado pelos participantes do seminário para o desenho final das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade da Cadeia do Espinhaço. Estimamos o valor da insubstituibilidade dividindo a frequência de seleção pelo número total de iterações estabelecidas no programa MARXAN. A avaliação do papel das áreas insubstituíveis na conservação dos objetos selecionados foi realizada por meio de uma análise de acréscimo gradativo de tais áreas no cumprimento das metas.

Resultados De acordo com a avaliação realizada, o conjunto de unidades de conservação avaliadas na Cadeia do Espinhaço protege satisfatoriamente apenas 377 (58,2%) dos objetos de conservação considerados (Figura 8). Nesse conjunto estão incluídos todos os objetos cuja meta de conservação foi totalmente alcançada pelas unidades de conservação existentes. Proporcionalmente as aves são o grupo em melhor estado de proteção, pois 79% das espécies consideradas (54 no total) estão adequadamente protegidas pelas unidades de conservação da região. Entre os animais, os invertebrados são o grupo com menor estado de proteção (apenas 10% das 41 espécies consideradas estão adequadamente protegidas) e proporcionalmente o maior número de lacunas (61% das espécies consideradas) (Figura 8). As plantas são o grupo com o maior número de lacunas (126 espécies), seguida dos invertebrados (28 espécies) e dos mamíferos (16 espécies) (Figura 8). Os ecossistemas terrestres estão pobremente representados no conjunto das unidades de conservação, sendo que apenas um tipo de ecossistema (o refúgio ecológico de média altitude) (http://www.conservacao.org/publicacoes/mega4_ tab2. pdf) pode ser considerado bem protegido na região. O conjunto das 31 áreas protegidas existentes (Tabela 1), que totalizam uma superfície de pouco mais de 520.000 hectares, não é capaz de fornecer uma proteção adequada (mais de 10% de cumprimento das metas de conservação) para 271 objetos de conservação considerados neste exercício. Em virtude da ausência de grandes lacunas espaciais de conhecimento científico e do pequeno número de inventários biológicos nas unidades de conservação, as espécies (animais e plantas) representam 90% das lacunas de conservação do Espinhaço. Para a proteção adequada das espécies e dos demais objetos de conservação (26 ecossistemas e as áreas de serviços ambientais), as simulações do

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MARXAN indicaram que 531 unidades de planejamento seriam necessárias para que todos os objetos de conservação selecionados fossem adequadamente protegidos. Essas unidades de planejamento ocupam uma área estimada em 950.000 hectares, ou seja, seria necessário que o total de áreas protegidas praticamente triplicasse de tamanho para o sistema fosse representativo. Mesmo considerando esses valores, as áreas insubstituíveis indicadas e mais o conjunto das unidades de conservação existentes não chegariam a 30% das áreas remanescentes estimadas para o Espinhaço (cerca de 5 milhões de hectares). Entre as 531 unidades de planejamento indicadas como complementares, a grande maioria refere-se às áreas de insubstituibilidade total. Tais áreas, que totalizam 222 unidades onde a insubstituibilidade foi igual a um, ajudam a proteger a maior parte das lacunas de conservação identificadas. Com o acréscimo dessas áreas, que totalizam cerca de 260.000 hectares (praticamente a metade da área atualmente protegida), o número de lacunas de conservação cai de 271 para apenas 11 objetos sem proteção (Figura 9). Mesmo considerando tal inclusão, as 11 lacunas restantes somente serão preenchidas caso outras 308 unidades de planejamento, cuja insubstituibilidade varia de 0,6 a 0,9, sejam acrescidas ao conjunto de áreas protegidas. Tais áreas perfazem os restantes 690.000 hectares necessários para o desenho de um sistema representativo de unidades de conservação na região. Com base no mapa de áreas insubstituíveis (Figura 10), os participantes do seminário indicaram conjuntos de unidades de planejamento que poderiam formar regiões prioritárias. Ao todo foram indicados 27 conjuntos de áreas prioritárias que englobam tanto unidades de alta insubstituibilidade quanto outras unidades de menor insubstituibilidade. No total são 1.285 unidades de planejamento englobadas no desenho final das áreas prioritárias para a conservação. Mesmo considerando que 57% dessas unidades possuem uma insubstituibilidade menor que 0,5, a solução final criada apresenta boa margem de negociação para uma posterior negociação de criação de áreas protegidas na região (Figura 11). Os resultados também indicam que as unidades de conservação existentes desempenham papéis muito distintos na proteção da biodiversidade. Enquanto algumas unidades possuem uma elevada riqueza de objetos de conservação, como o Parque Nacional da Serra do Cipó que possui 224 objetos (Tabela 1), outras possuem somente um objeto de conservação. Aparentemente essa variação é mais influenciada pelo histórico de pesquisas


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Figura 8 – Estado de proteção e lacunas de conservação dos objetos de conservação selecionados para a região da Cadeia do Espinhaço. Cada barra representa um conjunto de objetos específicos e as cores indicam o estado de conservação. O termo ‘lacuna’ refere-se aos objetos que não estão representados nas unidades de conservação consideradas (a meta prevista está abaixo de 10%). O termo ‘inadequado’ indica os objetos cuja meta de conservação não é plenamente alcançada pelas unidades de conservação (abaixo de 100% mas acima de 10%) e ‘satisfatório’ refere-se aos objetos cuja meta de conservação (100% ou mais) foi atingida pelas unidades de conservação.

Figura 9 – Variação no número de lacunas de conservação (objetos com menos de 10% da meta de conservação alcançados pelas unidades de conservação existentes) à medida que áreas insubstituíveis são consideradas nos cenários de conservação. Todos os objetos de conservação estariam contemplados caso fossem acrescentadas 530 unidades de planejamento com insubstituibilidade superior a 0.6.

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UNIDADES DE PLANEJAMENTO MARXAN

0 – 35 36 – 102 103 – 177 178 – 254 255 – 300

Albers Equal Area Conic Meridiano central: 45 Graus DATUM: SAD69

Figura 10 – Áreas insubstituíveis mapeadas para a Cadeia do Espinhaço. Os valores representam a frequência de seleção das unidades de planejamento ao longo das simulações realizadas com o programa MARXAN. Quanto maior for o valor, mais importante é a unidade de planejamento para compor cenários de conservação representativos, ou seja, maior será a insubstituibilidade da unidade.

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Albers Equal Area Conic Meridiano central: 45 Graus DATUM: SAD69

Figura 11 – Áreas consideradas prioritárias para a conservação da biodiversidade na Cadeia do Espinhaço (E 1-27), conforme resultado da análise de complementaridade e insubstituibilidade.

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do que pelo tamanho da área ou por sua idade. A riqueza de objetos não está relacionada nem com o tamanho da área (R2 = 0,307; p > 0,05) e nem com o tempo de criação (R2 = 0,049; p > 0,05).

Discussão Iniciativas de priorização de áreas destinadas para a conservação no Brasil vêm ocorrendo desde 1990, quando foram definidas regiões importantes para a conservação de diversos grupos faunísticos e florísticos na Amazônia (Rylands, 1990). Outros exercícios surgiram desde então no âmbito nacional (MMA, 2002) ou no âmbito estadual (Drummond et al., 2005) e todos eles seguiram os mesmos procedimentos básicos: seleção de alvos e consulta aos especialistas para a identificação das regiões prioritárias. No caso do exercício da Cadeia do Espinhaço, esses dois aspectos básicos foram também observados, mas os procedimentos incluíram ainda a priorização de áreas com base na complementaridade e o cálculo da insubstituibilidade como forma de representar a importância biológica das unidades de planejamento. Tal cálculo foi realizado com o auxílio de sistemas de apoio à tomada de decisão, como os programas CLUZ e MARXAN. Embora o emprego desses sistemas reduza expressivamente a influência do especialista na escolha das áreas prioritárias, uma constante nos exercícios anteriores, a qualidade dos dados ainda é uma questão básica na conservação da biodiversidade. Existem diversas formas de representar a biodiversidade, sendo que esta pode ser entendida como o conjunto de todos os seres, seus diferentes níveis de organização e as interações que acontecem entre suas entidades (Margules et al., 2002; Wilson, 1999). Diferentes abordagens sugerem um ou outro componente da biodiversidade para a identificação de prioridades. Eken e colaboradores (2004) sugerem o uso de espécies globalmente ameaçadas, espécies de distribuição restrita, espécies congregarias e espécies restritas aos biomas como forma de identificação de áreas prioritárias, embora existam críticas à abordagem (Knight et al., 2007; Pressey, 2004). Por outro lado, unidades de paisagens (‘ecoregiões’) também são utilizadas como elementos de priorização de ações de conservação, conforme sugerido por (Olson & Dinerstein, 1998). Alguns estudos (Pressey et al., 2003) sugerem a inclusão de espécies, ecossistemas e também processos ecológicos em exercícios de priorização. Na Cadeia do Espinhaço a priorização de áreas para a conservação foi promovida com a inclusão de diversos

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componentes da biodiversidade, desde espécies até substitutos de serviços ambientais (áreas de nascentes de rios). Os resultados indicaram que a maior parte das lacunas refere-se às espécies, mas esse fato não é devido somente ao maior número de objetos selecionados. Parte da situação é reflexo da grande concentração de estudos e registros em poucas áreas. O uso de um mapa com diferentes tipos de ecossistemas serviu para contornar em parte esse problema, mas sabe-se que tal abordagem não é válida para todos os tipos de organismos (Lombard et al., 2003). Mesmo que os dados ainda não estejam completos, pois vários grupos de invertebrados não puderam ser considerados, a abordagem utilizada trouxe uma nova perspectiva para o planejamento da região, pois a base de dados criada para o exercício poderá ser atualizada a qualquer tempo e novos cenários de conservação podem ser traçados. Esse último ponto deve ser ressaltado, pois várias das decisões tomadas para a identificação das áreas insubstituíveis no Espinhaço devem ser revistas e refinadas. As metas de conservação, por exemplo, foram estabelecidas com base no pequeno conhecimento científico que se tem sobre a região. Uma nova revisão do conjunto de dados deverá ser promovida em um futuro próximo, especialmente se considerarmos que revisões é parte importante do processo de planejamento sistemático para a conservação.

Agradecimentos O desenvolvimento deste trabalho foi possível graças ao apoio da Fundação Gordon e Betty Moore. Agradecemos também aos participantes do seminário de definição de áreas prioritárias para o Espinhaço e todos aqueles que contribuíram com informações na etapa de consulta ampla e ao apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais – IEF-MG, Curso de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais e Fazenda Monjolos os quais forneceram apoio logístico para a realização do evento.

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INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA “MEGADIVERSIDADE” Megadiversidade é uma publicação semestral editada pela Conservação Internacional e tem como objetivo principal publicar artigos relacionados com a conservação da biodiversidade no Brasil e no mundo. Cada número da revista trata de temas específicos, previamente selecionados pelo Conselho Editorial. De modo geral, os artigos serão convidados, mas todos passarão por um processo de revisão tanto por revisores externos como pelo Conselho Editorial.

Orientação para a preparação dos manuscritos Título: deve ser conciso e informativo. O mais curto possível. Deve ser em negrito e centralizado. Autores: nomes completos dos autores alinhados a esquerda. No final de cada capítulo, cada autor deve apresentar um resumo (até 6 linhas) do seu curriculum-vitae, enfatizando local de nascimento, titulação, posição quando escreveu o capítulo, instituição e experiência. Acrescentar também o endereço institucional. Texto: o(s) autor(es) devem organizar os artigos de forma mais apropriada, estabelecendo seções compatíveis com o desenvolvimento do texto. As seções não devem ser enumeradas. O texto deve ser corrido e as tabelas e figuras mostradas depois dele. Todo o texto deve ser escrito em Times New Roman 12, alinhado à esquerda e com espaçamento duplo. Usar o papel A4. O título das seções (introdução, material e métodos, etc...) deve ser em negrito e alinhado a esquerda. As sub-seções (quando for o caso!) devem ser em itálico e alinhadas à esquerda. Resumo: esta seção deve conter de forma resumida os principais objetivos, metodologia, resultados e conclusões do estudo. Não exceder 300 palavras. Abstract: esta seção deve conter de forma resumida e em inglês os principais objetivos, resultados e conclusões do capítulo. Não exceder 300 palavras. Referências bibliográficas: a acurácia das referências é de responsabilidade dos autores. As referências deverão ser checadas no texto para assegurar (a) a correta grafia dos nomes dos autores e as datas, (b) que todos autores mencionados no texto são dados na lista de referências e vice versa. O título inteiro da referência deve ser citado assim como o nome completo do periódico. Os títulos dos livros devem ser seguidos da editora e do local de publicação. No texto, as referências devem ser organizadas cronologicamente por autor seguido da data. Deve ser utilizado a, b ou c após o ano para distinguir entre publicações do mesmo autor no mesmo ano. No decorrer do texto a forma de citação da referência deve ser: i – Dois autores: usar ambos os nomes seguidos do ano ii – Três ou mais autores: Fornecer o nome do primeiro autor seguido de et al. e data. Na lista, as referências devem ser organizadas, primeiro, em ordem alfabética dos autores, e, em seguida, por ordem cronológica para autores que são citados repetidamente. Exemplos: Andrew, D. 2001. Post fire vertebrate fauna survey: Royal and Heathcote national parks Garawarra State Recreation Area. New South Wales National Parks and Wildlife Service, Hurstville, Austrália. Baker, J. R. 2000. The Eastern Bristlebird: cover depedent and fire sensitive. Emu 100: 286-298. Keith, D. A., W. L. McCaw & R.J. Whelan. 2001. Fire regimes in Australian heathlands and their effects on plants and animals. In: R.A. Bradstock, J. Willians & A.M. Gills (eds). Flammable Australia: the fire regimes and biodiversity of a continent. pp 199237. Cambridge University Press, Cambridge, Reino Unido.

Tabelas e figuras: os manuscritos podem conter figuras e tabelas. No corpo do manuscrito cada figura deve ser apresentada em página separada com os créditos e a indicação do número da figura. O local de inserção deve estar indicado no decorrer do texto. As figuras deverão ser preferencialmente em preto e branco. Serão publicadas em cores somente quando a compreensão da informação estiver comprometida. Iniciar cada tabela e figura em uma nova página. As legendas devem ser claras e auto-explicativas, ou seja, devem conter todas as informações necessárias para o leitor entendê-las sem necessitar do texto. Primeiro são mostradas todas as tabelas, depois as figuras. As legendas das tabelas são em cima e das figuras embaixo. Fotos e ilustrações são consideradas figuras. Não mostrar o mesmo dado em forma de tabela e figura. Tanto as tabelas como as figuras devem ser numeradas por números arábicos (e.g., Tabela 1, Figura 1, etc.). Apêndices: só utilizar no caso de tabelas muito grandes, com informações relevantes mais não necessárias para o entendimento do capítulo. Nomes científicos: dar o nome latino completo de cada espécie, seguido da autoridade que a descreveu (quando a tradição no respectivo grupo taxonômico assim exigir) e a família a que pertence na primeira citação. Citar o nome popular da espécie, quando existir, na primeira vez que a espécie é mencionada. Unidades, símbolos e números: usar o sistema internacional. Em expressões matemáticas usar símbolos e não abreviações. Escrever os números de um a nove por extenso e de 10 em diante usar algarismos. Provas: um conjunto de provas será enviado ao primeiro autor, que deverá retorná-las em um prazo de 7 dias. As correções deverão se limitar àquelas sugeridas pelos revisores e a erros tipográficos. Direitos autorais: é condição para a publicação que o autor assine de o termo de cessão de direitos autorais à Conservação Internacional. Ao assinar o termo de cessão o autor tem o direito de usar seu próprio material indicado que a revista é o local original de publicação do artigo. A Conservação Internacional se comprometerá a ceder 25 separatas de cada artigo, as quais serão enviadas somente ao primeiro autor. Cópias adicionais serão enviadas com um custo adicional. Os autores também receberão uma cópia do artigo no formato pdf. Submissão: os artigos deverão ser submetidos à Megadiversidade no seguinte endereço: Av. Getúlio Vargas, 1300 – 7º andar, Belo Horizonte – MG – Cep: 30112-021. E-mail: megadiversidade@conservacao.org. Os autores deverão enviar 3 cópias em papel A4 e uma em formato eletrônico (de preferência Word 2000) do manuscrito em português ou inglês, em espaçamento duplo. Os manuscritos serão submetidos a revisores selecionados pelo Conselho Editorial.

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) na Cade111 Diversidade e endemismo das Cactaceae na Cadeia do Espinhaço

Daniela Zappi & Nigel Taylor

Diversidade florística de Leguminosae Adans. em áreas de campos rupestres

117

Valquíria Ferreira Dutra, Flávia Cristina Pinto Garcia, Haroldo Cavalcante de Lima & Luciano Paganucci de Queiroz

126

Fauna de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia, Brasil): riqueza de espécies, padrões de distribuição e ameaças para conservação

Alexsander Araújo Azevedo, Fernando A. Silveira, Cândida Maria Lima Aguiar & Viviane Silva Pereira

158

Status do conhecimento, endemismo e conservação de anfíbios anuros da Cadeia do Espinhaço, Brasil

Felipe S. F. Leite, Flora A. Juncá & Paula C. Eterovick

Biodiversidade e conservação de peixes do Complexo do Espinhaço

177

Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, Cecília Gontijo Leal, Marcelo Fulgêncio Guedes de Brito & Alexandre Clistenes de Alcântara Santos

197

As aves dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço: diversidade, endemismo e conservação

Marcelo Ferreira de Vasconcelos, Leonardo Esteves Lopes, Caio Graco Machado & Marcos Rodrigues

218

Mamíferos da Cadeia do Espinhaço: riqueza, ameaças e estratégias para conservação

leonardo guimarães lessa, bárbara maria de andrade costa, daniela munhoz rossoni, valéria cunha tavares, Luis gustavo dias, edsel amorim moraes júnior & joaquim de araújo silva

233

Distribuição espacial do esforço de pesquisa biológica na Serra do Cipó, Minas Gerais: subsídios ao manejo das unidades de conservação da região

joão augusto madeira, kátia torres ribeiro, marcelo juliano rabelo oliveira, jaqueline serafim do nascimento & celso do lago paiva

248

Identificação de áreas insubstituíveis para conservação da Cadeia do Espinhaço, estados de Minas Gerais e Bahia, Brasil

Joaquim de Araújo Silva, Ricardo Bomfim Machado, Alexsander Araújo Azevedo, sGláucia Moreira Drumond, Rafael Luis Fonseca, Maíra Figueiredo Goulart, Edsel Amorim Moraes Júnior, Cássio Soares Martins & Mário Barroso Ramos Neto


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Cadeia do Espinhaço: avaliação do conhecimento científico e prioridades de conservação

Sumário 3 5

Editorial

7

Uma geografia para a Cadeia do Espinhaço

A flora dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço

16

alexsander araújo azevedo & ricardo bomfim machado

Apresentação josé carlos carvalho

Bernardo machado gontijo

Alessandro Rapini, Patrícia Luz Ribeiro, Sabrina Lambert & José Rubens Pirani

25

Diversidade dos campos rupestres ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, MG

Claudia Maria Jacobi & Flávio Fonseca do Carmo

34

Fitofisionomia da Caatinga associada à Cadeia do Espinhaço

Daniela Zappi

39

Relações florísticas entre as fitofisionomias florestais da Cadeia do Espinhaço, Brasil

Luciana Hiromi Yoshino Kamino, Ary Teixeira de Oliveira-Filho & João Renato Stehmann

50

Diversidade e conservação das pteridófitas na Cadeia do Espinhaço, Brasil

Alexandre Salino & Thaís Elias Almeida

71

Inventário e distribuição geográfica das gramíneas (Poaceae) na Cadeia do Espinhaço, Brasil

Pedro Lage Viana & Tarciso Souza Filgueiras

89

Eriocaulaceae na Cadeia do Espinhaço: riqueza, endemismo e ameaças

Fabiane Nepomuceno Costa, Marcelo Trovó & Paulo Takeo Sano

98

Bromeliaceae da Cadeia do Espinhaço

Leonardo M. Versieux, Tânia Wendt, Rafael Batista Louzada & Maria das Graças Lapa Wanderley

...continua na página interna.


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