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Crítica: Pet Shop Boys mostra bom electro-pop, mas demora a empolgar

Apresentação celebrou os quadris vacilantes e passinhos do começo das pistas de dança
Neil Tennant, do Pet Shop Boys, em show no Palco Mundo Foto: Antonio Scorza / O Globo
Neil Tennant, do Pet Shop Boys, em show no Palco Mundo Foto: Antonio Scorza / O Globo

RIO - Os Pet Shop Boys são o suprassumo da elegância do electro-pop - e a voz estranhamente cool de Neil Tennant não contraria essa percepção, pelo contrário, a potencializa. Isso se afirma ao longo de uma carreira iniciada nos anos 1980 e que segue viva: em seu show no Palco Mundo do Rock in Rio, a dupla (a outra metade é Chris Lowe) tocou 14 canções lançadas entre 1984 ("West end girls") e 2016 ("Inner sanctum"), quase todas impecáveis.

Mas não foi a regularidade, a elegância, tampouco a estranheza cool que marcaram a apresentação. O tom da noite foi dado quando a banda - músicos, backing vocals e, eventualmente, dançarinos, reforçam a formação no palco - tocou "West end girls", primeiro hit da década de 1980 no roteiro - e a plateia reagiu claramente pela primeira vez.

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O show não era, portanto, de uma banda que se mantém ativa (apesar de músicas como "Inner sanctum" e "Vocal", de 2016 e 2013, respectivamente, serem ótimas). O que importava ali - e "Go west", "Domino dancing", "Always on my mind" e a incendiária "It's a sin" - era a volta aos primeiros bailes. Memória afetiva é pouco - o que a plateia celebrou ali foi a memória dos quadris vacilantes e dos passinhos marcados de quem está entrando no mundo da pista de dança pelas festinhas da primeira adolescência.

O capacete de Neil (e dos backing vocals, que o acompanhavam pelo palco), seus ternos (um preto com gola de cristais e um prateado), a impavidez de Chris, a teia de lasers, os novos timbres para velhos sucessos... Tudo parecia 2017, mas isso pouco importou à plateia, que queria um eterno 1987 (que para alguns foi nos anos 1990 e para outros nos 2000, quando eram meninos e meninas).

A simpatia de Neil ao apresentar "E se a vida é" ("É uma música que vocês nos deram, obrigado", disse referindo-se à batida que emula Olodum e o verso em português que batiza a música, do álbum "latinoamericano" da dupla, "Bilingual") e a aparentemente sincera alegria por voltar a tocar no Brasil não garantiram a eles pedidos de bis. Mesmo assim, eles voltaram - ainda bem para a plateia, que ganhou dois hits ("Domino dancing" e "Always on my mind") de brinde.

No balanço final, a qualidade do que o Pet Shop Boys entregou se aproximou do "ótimo", mas a química da noite só funcionou em parte. "Bom" é uma cotação mais justa, se é que existe justiça nesse ofício - apesar das memórias de quadris vacilantes e passinhos marcados pedirem mais.

COTAÇÃO: BOM